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Título:
Autor:
Ano:
Páginas:
Obs:
O imperativo categórico: três casos concretos
Immanuel Kant
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03
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Problema central: Em que consiste a lei moral? Como determinar o valor ético do compor-tamento?
Tese central: A doutrina do imperativo categórico, tese importante em Kant, a�rma que um comportamento só pode ser
considerado moral quando é universalizável. Existem comporta-mentos que a consciência, ao universalizar a vontade individual,
pode reconhecer como certo.
Se eu penso em um imperativo hipotético não sei o que acontecerá até que ele se a-presente a mim. Se, ao contrário,
penso em um imperativo categórico sei imediatamente o que convém.
De fato, o imperativo, além da lei, não contém senão a necessidade, em princípio, de ser conforme a tal lei, sem que a lei
se submeta a nenhuma condição.
Conseqüentemente, o que resta não é senão a universalidade de uma lei em geral, à qual a máxima da ação deve se
conformar, e é somente esta conformidade que o imperativo apresenta propriamente como necessidade <sollen>...
Primeiro caso
Um homem, que uma séria de males acabou por levar ao desespero, sente um grande desprazer pela vida, mas, todavia,
ainda esta de posse de sua razão para poder perguntar-se se não haveria uma violação do dever para consigo mesmo, mas tirar a
própria vida.
Ele procura, então, saber se a máxima da sua ação poderia tornar-se uma lei universal. A sua máxima seria esta: por amor a mim
mesmo, eu estabeleço o princípio de encurtar a própria vida a partir do momento em que, prolongando-a, tenho mais males a
temer do que satisfações a esperar. A questão agora é somente saber se esse princípio do amor a si poderia tornar-se uma lei
universal.
Porém, logo percebe que uma natureza cuja lei fosse destruir a própria vida, apoiando-se justamente naquele sentido cuja função
especial é iniciar o desenvolvimento da vida, esta-ria em contradição consigo mesma e não poderia subsistir.
Conseqüentemente, essa máxima não poderia absolutamente ocupar o lugar de uma lei universal, portanto, contrária ao princípio
supremo do dever <sollen>.
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Immanuel Kant
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Segundo caso
Um outro homem é levado pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Ele sabe que não poderá devolvê-lo, mas
sabe também que nada lhe será emprestado, se ele não se empe-nhar seriamente em devolvê-lo na época determinada. Ele tem
vontade de fazer esta promes-sa, mas tem a consciência su�ciente para se perguntar: não é proibido e contrário ao dever <sollen>
se livrar da necessidade deste modo?
Supondo, porém, que ele tomasse essa decisão, a máxima da ação signi�caria: quando eu acredito precisar de dinheiro
logo peço emprestado, prometendo devolvê-lo, mesmo sa-bendo que não farei nunca. Ora, é certamente possível que esse
princípio do amor a mim mesmo, ou da utilidade própria se conecte com todo o meu bem-estar futuro. Mas no momen-to isto é
justo? Transformo, portanto, este problema em caráter universal. O que aconteceria se minha máxima se tornar-se uma lei
universal?
Ora, ela nunca poderia valer como lei universal... Porque admitir como lei universal que todo homem que pensa em se
encontrar em necessidade possa prometer tudo o que lhe passa pela cabeça com o propósito de não cumprir; nada tornaria
impossível qualquer promes-sa. Ninguém mais acreditaria mais naquilo que lhe é prometido.
Quarto caso
Finalmente, um homem que é bem sucedido em tudo, vendo que os outros (a quem poderia muito bem ajudar) estão
vivendo com grandes di�culdades, assim raciocina: O que me importa? Que cada um seja feliz com o que o Céu manda, ou seja
feliz por si mesmo... não estou disposto a contribuir para o seu bem-estar ou ajudá-lo na necessidade.
Ora, se um tal modo de pensar se tornasse uma lei universal, a espécie humana poderia sem dúvida subsistir em
melhores condições do que quando todos falam continuamente de simpatia e benevolência, e até se empenham em praticá-las
eventualmente, mas depois, ao contrário, assim que possível, os prejudicando de alguma outra maneira.
Mas, apesar de ser possível que subsista uma lei universal conforme esta máxima, é por outro lado impossível querer
que tal princípio valha universalmente como lei universal. Porque a intenção de tomar esse partido contradiria a si mesma, uma
vez que podem existir casos em que esse homem possa precisar do amor e da simpatia de outrem, então ele mesmo seria privado
de esperar obter a assistência desejada, por força da mesma lei instituída por sua vontade.
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Esses são somente alguns dos numerosos deveres reais, ou ao menos assim por nós considerados, cuja derivação do
único princípio que expusemos salta evidentemente aos o-lhos. É preciso querer que aquilo que é a máxima de nossa ação se
torne lei universal: este é o cânone que permite a avaliação moral da nossa ação em geral. (KANT, 1980)
É plausível buscar a felicidade e a moralidade através do prazer?
Na constituição natural de um ser organizado para a vida, admitimos, por princípio, que nele não haja nenhum órgão destinado à
realização de um �m que não seja o mais adequado e adaptado a este �m. Ora, se num ser dotado de razão e de vontade a
natureza tivesse por �na-lidade última sua conservação, seu bem-estar ou, em uma palavra, sua felicidade, ela teria se equivocado
ao escolher a razão para alcançá-la. Isto porque, todas as ações que este ser deverá realizar nesse sentido, bem como a regra
completa de sua conduta, ser-lhe-iam indicadas com muito maior precisão pelo instinto. (KANT, 1980)
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980
NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filoso�a. São Paulo: Editora Globo, 2005