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Título

Arouca.Desenvolvimento, Ambiente e Recursos Naturais.

Autoria

Colectivo PCP – AroucaAgnelo JesusÁlvaro CoutoAntónio AtaídeBenvinda GomesCarlos AlvesFrancisco GonçalvesManuel BrandãoTadeu Saavedra

Independentes CDU – AroucaAntónio Óscar BrandãoCarlos PinhoMário José Ferreira PintoVítor Correia

Edição

PCP – Aroucawww.cduarouca.wordpress.com [email protected]

Junho de 2013

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ÍNDICE

Introdução.................................................1

1 - Uma grande diversidade.......................3 2 - As Montanhas.......................................32.1. Há sempre futuro................................5 3 - Os Vales...............................................93.1. Planear e agir....................................11

4 - Um exemlo concreto - o Rio Paivô......134.1. Planear e agir....................................15Fim...........................................................18

Notas........................................................19

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INTRODUÇÃO

Arouca é a nossa terra. É aqui que queremos viver e ser felizes. Coisa que parece simples, mas que envolve a complexidade de cada um, a diversidade do território que temos e os condicionalismos vários que se nos impõem neste diálogo entre homem e natureza.

Promover desenvolvimento tem de ser, pois, a procura de caminhos que tenham em conta os naturais sonhos de cada um e da comunidade que constituem, e promovam, respeitem e rentabilizem os recursos de que, à partida, dispomos e que, ao fim e ao cabo, condicionaram e moldaram aquilo que hoje somos como território e como pessoas. Dito de outra maneira, promover desenvolvimento passa muito por um binómio essencial, preservar e promover os recursos naturais de que dispomos e, ao mesmo

tempo, conseguir a sua rentabilização, o que, aliás, nos tempos de hoje, é condição da sua preservação.

Arouca apresenta um território diverso em que se afirmam, com mais ou menos significado, recursos naturais, construídos e culturais que são condição de qualquer futuro e de qualquer processo de desenvolvimento integrado. É que o desenvolvimento (1), não confundir com mero crescimento económico,

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pode resultar do somatório de um número significativo de pequenas coisas, coisas essas que estão aí à disposição e que, muitas vezes, são esquecidas ou espezinhadas no altar de sonhos megalómanos e mais ou menos decalcados de outras realidades. Ou de imediatismos que mais não conseguiram que degradar e exaurir o que a natureza nos deu, sempre numa atitude massificadora e sem qualidade que se vislumbre e seja sustentável a longo prazo. Pequenas coisas, muito mais importantes em concelhos do interior como Arouca é, apesar de tão perto do litoral.

O que nos propomos é reflectir, ainda que de forma breve e necessariamente incompleta, sobre o que somos e o que temos, sempre na perspectiva de como se articular ambiente e desenvolvimento, sendo que temos de ambiente não o conceito estreito de qualquer valor pontual, mas a largueza e complexidade de tudo quanto rodeia, integra e informa a actividade humana num determinado território.

Reflectir sobre os recursos naturais de que dispomos, sobre cada um sugerir medidas e aproveitamentos, para, no final, na união integrada de tudo, termos a perspectiva de um Plano de Desenvolvimento que contribua para a nossa felicidade. Aqui, na nossa terra.

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1. UMA GRANDE DIVERSIDADE(2)

Montanhas, um longo e rico vale, patamares de média altitude, rios e ribeiros vários, um povoamento disperso pelo minifúndio dominante, ou concentrado no alto da serra. Encostas e patamares de média altitude, a agricultura de subsistência, o pastoreio e a exploração florestal. Uma economia, uma cultura e uma forma de estar na vida muito próprias e muito ricas.

2. AS MONTANHAS

A serra da Freita domina pela dimensão, pela unidade que constitui e pelos valores que encerra. Mas outras alturas se impõem, desde os contrafortes do Montemuro aos arredondados do Arressaio. E sempre presentes os rios e ribeiros, a floresta e os matorrais, o pastoreio e as aldeias ancestrais. Aqui, os valores naturais são imensos e a sua importância, para o desenvolvimento do concelho, decisiva. É que não está em causa só a economia, mas também e muito uma paisagem extraordinária, uma forma muito própria de estar na vida, a luta contra o despovoamento e o equilíbrio de um território, que só será conseguido se a presença humana aí continuar a ser uma realidade.

A floresta, sobretudo nas encostas, tem uma importância decisiva para a economia rural e tem de ser entendida não só como o mealheiro a que se recorre quando necessário, mas como um recurso que deve ser explorado de forma racional e permanente. Só que enferma de debilidades e problemas que põem em causa esse objectivo e todo o equilíbrio natural.

A monocultura do eucalipto e do pinheiro, em povoamentos contínuos, extremes ou mistos, tornam-na vulnerável aos incêndios, propiciam a degradação dos solos, erradicam espécies tradicionais, põem em causa rios e ribeiros e contribuem decisivamente para a diminuição da diversidade vegetal e animal.

O planalto da Freita é invadido e agredido sem regras nem ordenamento e a sua degradação, em termos

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paisagísticos e de fauna e flora, é uma realidade que nos confrange.

Em todo este espaço pontuam aldeias onde vivem cada vez menos pessoas(3), importando afirmar e assumir que a paisagem serrana é fruto da natureza, mas também e muito resultado da actividade humana que sempre soube ser agente de um grande equilíbrio, equilíbrio esse que, nas últimas décadas, fruto de políticas erradas, foi criminosamente posto em causa. A sobrevivência das aldeias e o povoamento da serra são imperativos de ordem natural, cultural e económica.

Aqui, nestas montanhas, pastam vacas e cabras que têm de ser vistas como património animal de interesse local e nacional e que podem ser, cada vez mais, condição de sobrevivência do homem da serra, mas também de defesa e manutenção da paisagem como a conhecemos. O planalto da Freita e ouras alturas do concelho não passariam de imensos matagais se o

pastoreio desaparecesse.

As riquezas geológicas, minerais, arqueológicas, paleontológicas e arquitectónicas são recursos que importa conhecer melhor, preservar e rentabilizar, devidamente enquadrados numa política em que as visões científicas e preocupadas com a natureza e as pessoas sejam determinantes.

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2.1.HÁ SEMPRE FUTURO

Medidas há que são indispensáveis à preservação deste património e à sua rentabilização. Destacamos:

• O ordenamento da floresta. É urgenteultrapassar o regime de monocultura extensiva existente. Importa a reflorestação com espécies autóctones, nomeadamente carvalhos e castanheiros, que podem surgir como mancha que interrompam o contínuo de pinheiros e eucaliptos, contribuindo de forma decisiva para o aumento da biodiversidade, nomeadamente da fauna e da flora que lhe estão associadas, assim como para o renascer de uma paisagem que destruímos e que tinha uma importância paisagística, mas também económica, de grande valor.

Neste processo as margens dos rios e dos ribeiros tem de merecer uma atenção especial, preservando-se a

vegetação ripícola e toda a variedade vegetal que lhes estão associadas e que são condição da qualidade das suas águas e da fauna terrestre e piscícola.

O aprofundamento do associativismo e do apoio que lhe é devido são indispensáveis á implementação e aprofundamento destas políticas e também à gestão racional da floresta.

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• Arevitalizaçãodasaldeiaseafixaçãodaspo-pulações, na assumpção plena de que as aldeias só permanecerão vivas, na riqueza do seu património e na defesa dos valores naturais da serra, se formos capazes de promover a sua qualidade de viva. E isso implica, desde logo, o acesso dos residentes aos benefícios e avanços civilizacionais do resto do concelho e do país. Ao contrário do que tem sido feito, com o encerramento de escolas(4) e extinção de freguesias(5) e com o não acesso à saúde(6) e à proximidade à administração, impõe-se devolver serviços à gente das aldeias. O ensino tem de ser próximo, um dos polos escolares, a ser construído, teria de ser na serra, servir as suas aldeias e servir de centro dinamizador das mesmas.

Uma extensão de saúde é imprescindível, a manutenção da actual divisão administrativa, das actuais freguesias é indispensável. Quem quer viver na serra se, para tudo, tem de fazer dezenas de quilómetros, para ter acesso ao ensino, à saúde e à administração? Como é possível fixar os novos e proteger os velhos?

Impõe-se também a instituição de regras claras de urbanismo. A paisagem urbana das aldeias da serra está profundamente degradada e não se podendo, nem devendo, negar o acesso à modernidade e às comodidades que ela traz, há que instituir que isto é possível regulando a utilização de materiais e a matriz essencial dos aspectos arquitectónicos. Com regras claras, com incentivos concretos e com pedagogia esclarecida é possível pôr cobro à descaracterização a que se tem assistido e preservar o que ainda existe. Esta é uma responsabilidade da administração, como também o é todo o investimento necessário em infra-estruturas.

• Ao mesmo tempo há que dinamizar aeconomia. E ter presente que para além das culturas de subsistência, milho, feijão, legumes e criação, sempre foi o gado a maior fonte de rendimento das aldeias da serra. Hoje, muito mais em Albergaria do que, por exemplo, em Cabreiros, já que nesta freguesia a florestação ocupou boa parte dos baldios existentes.Desde logo, há que manter os baldios enquanto tal, devendo esta ser uma preocupação, já que começam

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a aparecer rumores tendentes à sua privatização, coisa que é inaceitável e que seria a sentença de morte da vida na serra.

O apoio à criação de gado e à sua comercialização são coisas indiscutíveis, mas que precisam de ser potenciadas.

O associativismo, como desenvolvimento das tradições comunitárias, pode ser essencial à rentabilização destas jóias do nosso património, no apoio sanitário, no maneio maximizador das potencialidades dos pastos serranos e da sua melhoria, na transformação e comercialização da carne, na melhoria genética, no aparecimento de novos produtos, de que é exemplo o adiado queijo da arouquesa, na gastronomia típica da serra. Sendo que quaisquer estruturas de transformação a instalar o devem ser na serra, criando aí postos de trabalho. No que ao gado diz respeito é preciso criar, na serra, bem no solar na raça arouquesa, uma Feira Nacional das Raças Autóctones. Será um evento inédito no país, de interesse e impacto nacional, e que constituirá mais um contributo para a preservação e afirmação das raças e para a animação da economia serrana.

O turismo na serra pode e deve ser implementado. Mas com regras claras e sem o carácter massificador e desordenado com que tem existido. A disponibilização de alojamentos em casas tradicionais tem de ser um objectivo e o aproveitamento do património natural a grande oferta a promover. E simultaneamente incentivar o reaparecimento do artesanato serrano, apostando em que, por exemplo, o reaparecimento dos tecidos tradicionais não só é possível como é susceptível de incorporar valores dos tempos de hoje e ser capaz de levar à criação de pequenas indústrias.

Também a caça e a pesca têm potencialidades não só de recuperar a fauna outrora existente, mas de assumir uma relativa importância económica, como, aliás, já acontece em muitos locais do país e muito especialmente da península. Fazer regressar à serra os seus antigos habitantes, veados, corços, lebres, coelhos e perdizes, não só é possível, como é indispensável ao aumento da biodiversidade. E, a acontecer isso, abre-se e enriquece-se um outro vector de dinamização

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económica: a observação da natureza, actividade, hoje, em franco crescimento.

As rochas da nossa serra são coisa, no essencial, por estudar na sua mais-valia comercial e industrial. Há que o fazer, assim como não se pode perder de vista o potencial mineiro ainda existente, parecendo mesmo que o momento é propício a tal desiderato, assim como há que preservar, organizar e promover todo o património ligado às minas.

O Geoparque é uma realidade devidamente institucionalizada, mas só atingirá todo o seu potencial se parte integrante de um enquadramento de qualidade, quer da paisagem natural em que se insere, quer do património construído, que o mesmo é dizer das aldeias que o integram.

Tudo isto tem como condição essencial a participação das populações e o investimento e empenho da

administração, mas as pessoas não serão difíceis de ganhar, assim a administração saiba assumir as suas responsabilidades e promover, com a convicção de depois executar, um Plano de Ordenamento da Serra da Freita e dos outros espaços serranos que o justifiquem, sendo que, em alguns casos, será necessário ter uma visão intermunicipal de toda a problemática em presença.

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3.OS VALES

Sendo o vale do Arda o mais extenso e rico do Concelho, autêntica espinha dorsal de todo o território, outros há de grande importância. Paiva, Moldes, Paivô e muitos outros mais pequenos ajudaram a desenhar a paisagem e condicionaram de forma decisiva a economia e o povoamento existente. A abundância de água, os vales de aluvião e os campos arroteados a braço do homem, nas encostas, determinaram a agricultura do concelho e promoveram uma pai-sagem deslumbrante. Desde o planalto de Alvarenga, aos anfiteatros de Cabreiros ou Souto Redondo, dos campos do vale do Arda aos campos de Fermedo, adivinha-se o esforço do homem e a bênção de rios e ribeiros.

Aqui, a agricultura(7) foi e é essencialmente de subsistência e fica-nos sempre a sensação que algo mais,

em quantidade e qualidade, será possível. Continuamos a não ter uma noção real e cientificamente sustentada da melhor maneira de rentabilizar esta riqueza. A elaboração de uma Carta de Potencialidades, em que claramente se identifiquem as culturas mais rentáveis e aconselhadas é um imperativo para trilhar novos caminhos. Mais uma vez, o associativismo será determinante. A dimensão da propriedade, os custos de produção e as dificuldades de comercialização

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isso mesmo recomendam. A Cooperativa Agrícola é a instituição vocacionada para o efeito, mas isso não exclui toda a administração da sua responsabilidade nesta matéria.

Ao longo dos anos, muitos têm sido os altos e baixos e as experiências levadas a cabo. Com excepção do caso do leite, sempre de forma individual. E talvez tenha sido esta a razão fundamental por que a produção de leite foi um êxito ao contrário de todos os outros casos passageiros, de que a produção de fruta parece o exemplo mais claro. Já produzimos muita fruta e hoje, por falta de organização na comercialização, regredimos claramente. Mesmo o leite deixou de ter a importância de outros tempos, pois, embora a produção bruta seja elevada, com o encerramento dos postos de recolha a pequena exploração desapareceu e acabou a sua importância no equilíbrio da economia familiar. Agora, aparecem novas experiências, com a introdução de novas culturas, ainda que de forma diminuta. Mas sempre de forma individual e sem uma perspectiva de organização associativa virada para a produção e a comercialização, abrindo caminho à possível instalação de agro-indústrias.

3.1. PLANEAR E AGIR

É preciso estudar, planear, organizar, comercializar e transformar os produtos do sector primário. Porque, não tenhamos dúvidas, não há país desenvolvido se não tiver um sector primário forte, e não haverá, em Arouca, qualidade de vida e desenvolvimento se não soubermos preservar e rentabilizar a riqueza que os nossos campos representam.

Mas nenhum sonho será possível, nem a produção, nem o turismo, nem o indispensável associativismo se não formos capazes de preservar o que temos. Impõe-se:

• Despoluir e cuidar dos rios, assim como dopatrimónio a eles associado. Desde logo, completar e tornar eficiente o ainda muito incompleto sistema de recolha e tratamento de efluentes(8). Depois uma política sistemática de limpeza dos leitos e das margens

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e de repovoamento e exploração equilibrada de todos os cursos. Sem esquecermos os moinhos e os sistemas de rega tradicionais, muito em especial os açudes e as levadas. È obra para as autarquias locais, Câmara e Juntas de Freguesia, e para as associações existentes e a constituir. Mas não restam dúvidas de que terão de ser os órgãos do poder local a intervir como agentes dinamizadores de todo o processo;

• Instituirregrasdeboaocupaçãourbana,muitoem especial no referente a espaços, materiais e cores das obras a edificar. Importa também criar condições para a transferência de indústrias disseminadas pelo território para espaços devidamente organizados e infra-estruturados, Zonas Oficinais, retirando-os do meio rural em que desordenadamente se inserem e criando condições para o seu crescimento;

• AelaboraçãodeumaCartadePotencialidadesque estude a terra e o clima e identifique as culturas que, do ponto de vista da produção, transformação e comercialização, mais se recomendam para o território que temos. Organismos oficiais, associações e pessoas singulares que se entenda ser bom participar, terão de ser os agentes deste trabalho, sendo também recomendável e muito útil o contributo das universidades para o efeito vocacionadas;

• Emarticulaçãocomopensadoparaofomentoe preservação da raça arouquesa no espaço serrano, estudar e possivelmente promover o seu regresso às encostas e mesmo a algumas zonas dos vales, agora já não como raça de trabalho, mas como produtora de carne e de leite. Afinal, continuamos a ser um país deficitário na produção de carne e os produtos de qualidade têm um mercado crescente.

• Pensando no turismo, é essencial fazerrenascer a gastronomia dos vales e de todo o concelho. De facto, a nossa mesa não se limitava a um ou outro prato de carne arouquesa. Essa era para dias de festa e às mesas do vale e da serra chegava uma grande variedade de pratos, à base de produtos da terra, da capoeira e dos currais, que hoje se encontram parcialmente perdidos e totalmente ausentes da nossa restauração. Um levantamento e fixação rigorosa

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dos pratos tradicionais são inadiáveis. E isso será possível através de um aturado trabalho de campo e a sua promoção deverá ser feita na realização anual de umas Jornadas de Gastronomia, em que a ementa obrigatoriamente contemple algumas dessas iguarias. É um imperativo a preservação deste património, mas também uma exigência de qualidade da oferta que temos para quem nos procura.

4.UM EXEMPLO CONCRETO – O RIO PAIVÔ (9)

Os nossos rios, desde o Paiva ao Caima e ao Paivô, são um dos motivos maiores da procura que o território de Arouca tem. Pela sua natureza selvagem e não pelos artificialismos que lhe são ou pretendem ser introduzidos. Só que a sua utilização é feita de forma quase sempre desordenada e muito mais

prejudicial do que benéfica. Mesmo nos locais onde se introduziram alguns equipamentos, como é o caso das praias fluviais, não se fazem cumprir as regras, nem existe vigilância e manutenção permanentes. Chega-se mesmo ao caricato, cómico e criminosos de se afixar um edital avisando que no local não existe recolha de lixo, deixando à exclusiva consciência do visitante a responsabilidade de não conspurcar o local. O resultado, só visto!

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O abandono dos campos levou à degradação completa das margens de alguns rios e ribeiros, que se encontram completamente obstruídas, sendo que, em alguns casos, é mesmo difícil ver a água que ainda corre. Isto a somar a todo o tipo de detritos que para os rios são lançados, desde os plásticos aos esgotos que, em muitos casos, para lá correm. O sombreamento total e a poluição das águas levam ao inexorável despovoamento dos rios e mesmo, em alguns casos, à absoluta extinção das espécies piscícolas. Impõe-se uma atitude pedagógica de associar as pessoas em torno dos rios e ribeiros e uma intervenção empenhada das autarquias locais. Limpar e preservar este património, ordenar com rigor e racionalizar o acesso aos cursos de água e às suas margens são condição de os pormos ao serviço do desenvolvimento local. E não é introduzindo artificialismos que tal se conse-gue. Um rio atrai pela sua beleza natural e selvagem, pela compreensão da sua diversidade, e deixará de ter qualquer interesse quando não passar de uma

realidade artificializada.

E um rio encerra em si potencialidades que vão muito para além do uso tradicional. A título de exemplo, debrucemo-nos sobre o rio Paivô, incluindo o seu afluente que desce das alturas de Regoufe e o rio de Frades. Vejamos como pode ser uma das “pequenas coisas” que, no somatório de muitas outras, pode contribuir para o desenvolvimento do concelho.

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O Paivô corre num vale muito encaixado, apenas dando lugar a alguma largueza por alturas da aldeia de Covelo. Sempre de pedra em pedra, de cachoeira em cachoeira, lança-se no Paiva, perto da Paradinha. São muitos quilómetros de irreverência selvagem, de águas de um cristalino sem comparação, que fizeram e fazem dele um dos rios com maior potencial truteiro do país. É esse potencial que importa preservar e desenvolver, não só pela sua intrínseca valia de património natural, mas também como factor de desenvolvimento local.

O que propomos? Recuperar e afirmar o seu potencial e do território envolvente como factores de desenvolvimento local, tudo em torno da pesca desportiva e do turismo em espaço natural.

4.1.ORDENAR, PRESERVAR, RENTABILIZAR

Tomem-se primeiro as necessárias medidas de combate aos focos de poluição ainda existentes e parta-se, depois, para o ordenamento de toda a bacia hidrográfica e sua rentabilização. Como segue.Submeta-se o rio e os afluentes referidos ao regime ao Concessão de Pesca Desportiva, cujos titulares devem ser as Juntas de Freguesia envolvidas, ou a Câmara Municipal, ou uma associação criada para o efeito, ou, o ideal, uma estrutura que a todos envolva. Este é um processo que tem, necessariamente, de envolver as populações locais, já que sem a sua participação e a defesa dos seus direitos nada será possível.

Depois implemente-se um plano de ordenamento que contemple, nomeadamente, o seguinte:

• Adefiniçãodequatrograndestroços:umdeproibição total de pesca, que corresponda às cabeceiras dos rios e funcione como espaço de reprodução; outro de pesca sem morte, em que o pescador, com iscos artificiais, pesque e devolva ao rio todos os exemplares; um terceiro em que seja possível pescar e levar para casa um número limitado de trutas; um último em que seja permitida a pesca intensiva, isto é, em que o pescador possa levar todas as trutas capturadas e por isso pague, sendo este troço continuamente repovoado de exemplares de boa dimensão;

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• Criar um posto de recria e crescimento de trutas destinadas ao repovoamento do troço de pesca intensiva, podendo, mais tarde, evoluir também para um centro de reprodução e ter importância no repovoamento de todos os rios do concelho. Poderá ainda produzir trutas para comercialização e assim contribuir para o financiamento de todo o projecto;

• Criar um centro de interpretação quepromova a informação sobre a biodiversidade do rio, a educação ambiental permanente e as visitas a toda a bacia, a todas as suas riquezas naturais e paisagísticas, assim como a todo o património construído, caso das estruturas mineiras de Rio de Frades e Regoufe, que devem ser objecto de organizada preservação;

• Emcolaboraçãocomosagentesinteressadospromover os desportos de águas bravas, aproveitando e optimizando a tradição que já existe;

• Promover,emCovelodePaivó,arecuperaçãode algumas habitações que possam ser disponibilizadas como alojamento para quem procura o rio;

• Criaro indispensável serviçodeguarda-rios,que faça cumprir as regras definidas e colaborar em tudo o que à gestão do rio diz respeito.

Depois de três ou quatro anos de defeso, que permitam a recuperação da população piscícola, abrir pesca e promover a nível nacional esse recurso e todos os que ao espaço estão associados. E não faltarão interessados em acorrer ao espaço privilegiado que entretanto criamos e a pagar por essa oportunidade. É o que nos mostra a experiência de vários locais do norte da Europa e dos rios da nação nossa vizinha, principalmente nas Astúrias e na Cantábria.

Estaremos perante uma oferta de qualidade, em ligação estreita com uma aldeia concreta, Covelo de Paivó, em que aspectos como o alojamento, a gastronomia e a oferta de produtos tradicionais serão, não diremos decisivos, mas muito importantes na sua recuperação e animação.

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Na fase inicial será decisivo e quase exclusivo o financiamento público, mas isso tem de ser entendido como um investimento do desenvolvimento harmonioso do conce-lho. Numa fase mais avançada do projecto, este passará a gerar receitas, será possível arranjar alguns patrocínios e o financiamento público, embora continue a ser necessário, tenderá a ser muito menos volumoso.

Parece uma utopia! Está aí tão à vista que não o vemos, talvez por ser tão permanente o rio e o seu entorno, mas é a partir destas utopias que se pode desenhar um futuro diferente.

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FIM

Uma reflexão breve e necessariamente incompleta sobre o desenvolvimento do concelho, o ambiente e os recursos naturais é o que aqui deixamos. Isto, num tempo de dominância, que é projecto ideológico, do financeiro e em que o poder instalado não tem qualquer sensibilidade para as pessoas, nem olhos para ver o que temos e para a sua preservação e rentabilização. Tempo de tecnocratas sem alma e sem visão, que o mesmo é também dizer de abandono das pessoas e do que é belo, nos constrói a alma e pode alimentar a vida.

Base para equacionarmos e debatermos o futuro é o que queremos que seja, ligação às populações é o que tem de ser. E, se todos quisermos, um dar de mãos que frutifique em amor. Que, como dissemos, promover desenvolvimento tem de ser procurar a felicidade. E ser feliz é produto de amor. Pelos rios, pelas serras, pelos campos, pelas gentes. Aqui, na nossa terra.

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NOTAS

1. Uma das componentes do desenvolvimento é a condição económica dos cidadãos. Um dos indicadores é o ganho médio mensal dos trabalhadores, que em Arouca, no ano de 2009, era de 698,21€, contra os 882,21€ da região de Entre Douro e Vouga e os 1034,19€ da média nacional ( ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA REGIÃO NORTE - 2011 www.ine.pt )

2. Arouca estende-se por 329,1 km2, tem 118 km de perímetro, 19km de comprimento máximo norte/sul e 29 km este/oeste, é o maior concelho, em termos de área geográfica, da região de Entre Douro e Vouga e da Área Metropolitana do Porto e o segundo maior do distrito de Aveiro. Tem o seu ponto mais elevado a 1220 metros e o mais baixo a 50 metros acima do nível do mar ( ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA REGIÃO NORTE – 2011 www.ine.pt ) .

3. A quebra demográfica do concelho, constatável na última década, de 24.227 em 2001 para 22.359 em 2011, durante a qual apenas a freguesia de Arouca teve um ligeiro aumento, 87 habitantes, da população residente, é contudo sentida há mais tempo, no caso das freguesias da serranas. A este título ( ATLAS ESTATÍSTICO DE AROUCA www.cm-arouca.pt ) observe-se a

evolução da população nas sete freguesias da área da serra e do Paiva.Do quadro para além da óbvia tendência de quebra demográfica observa-se ainda que, à excepção de Canelas, todas as freguesias analisadas têm hoje menos população do que aquando ao primeiro recenseamento geral da população, em 1864 (de Covelo de Paivó o primeiro registo é de 1940). Aliás, precisando um pouco mais, Albergaria perde população desde 1960, Alvarenga desde 1950, Cabreiros desde 1950, Covelo de Paivó desde 1950, Espiunca desde 1950 e Janarde desde 1960. Cruzado este indicador com a quebra demográfica concelhia da última década e considerada a actual situação económica do país, constata-se que o concelho está, desde 2001, a sofrer o que as freguesias serranas penaram nos últimos cinquenta anos, a desertificação. É a morte lenta a descer as serras!

4. No ano lectivo 2002/2003 existiam 48 escolas do 1ºCEB no concelho, todas as freguesias tinham pelo menos uma escola deste nível de ensino ( O REORDENAMENTO DO PARQUE ESCOLAR DO 1º CICLO – DA ESCOLA PRIMÁRIA AO CENTRO ESCOLAR, Caderno Temático do PCP Arouca, 2010) . No ano lectivo 2012/2013, são apenas 13 as escolas do 1ºCEB existentes ( www.agesc-arouca.pt e www.aeescatiz.com). Já não existem estabelecimentos de educação e ensino em Albergaria da Serra, em Cabreiros, em Covelo de Paivó, da Espiunca, em Janarde, mas também em Urrô, Várzea e

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S. Miguel do Mato e, brevemente, caso não haja inversão da política educativa, em Mansores e Tropeço.

5. O Mapa da Reorganização Administrativa Autárquica, criado em consequência da Lei 22/2012, de 30 de Maio, consagrou a proposta aprovada na Assembleia Municipal de Arouca, de 8 de Outubro de 2012, de extinção das freguesias de Albergaria da Serra, Janarde, Espiunca e Burgo, sob um falso nome, união das freguesias, uma pretensa associação voluntária : União das Freguesias de Albergaria da Serra e de Cabreiros, União das Freguesias de Covelo de Paivó e de Janarde, União das Freguesias de Canelas e Espiunca e União das Freguesias de Arouca e do Burgo. É um bom exemplo do consenso das ditas uniões, a votação desta proposta na Assembleia Municipal – 20 votos a favor, 2 abstenções e 19 votos contra.

6. São apenas cinco as freguesias servidas com serviços de saúde de proximidade (serviço de urgência básico, centro de saúde, extensão de saúde, unidade de saúde familiar): Alvarenga, Arouca, Chave, Escariz e Rossas.

7. Em 2009 14,7 em cada 100 arouquenses dedicavam-se à agricultura, uma mão-de-obra agrícola de 1845 indivíduos. Existiam 1120 explorações agrícolas, as quais produziam em média cada uma 7,9 bovinos, 13,5 vacas leiteiras, 2,2 suínos, 10,1 ovinos e 11,9 caprinos. A produção de vinho cifrava-se nos 984 hl, uma quebra acentuada se comparada com a produção de 2001, 3535 hl. ( ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA REGIÃO NORTE 2002 e ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA REGIÃO NORTE 2011 www.ine.pt )

8. Segundo o ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA REGIÃO NORTE – 2011, em 2009 a percentagem da população servida por estações de tratamento de águas residuais era de apenas 31 p.p., sendo 46% a percentagem da população servida por sistemas de drenagem de águas residuais.

9. Ver artigo OS RIOS DE AROUCA de António Óscar Brandão ( www.cduarouca.wordpress.com )

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