tipolologia das unidades familiares de produção agricola

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1 TIPOLOLOGIA DAS UNIDADES FAMILIARES DE PRODUÇÃO AGRICOLA DA REGIÃO DO COREDE-CENTRO (RS) Silveira, Paulo R. da (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil) Neumann, Pedro S. (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil) ABSTRACT This work presents a typology of the farming/cattle raising production units that compose the conventionally called category “family farmers”. The study and understanding of the differences among family farmers had as goal the establishment of conditions for unleashing development of different family production units, as well as the conditions for unleashing the processes needed for sustainable rural development in the region. The Administrative Subdivision for Development of the Central Region, Rio Grande do Sul State (COREDE-Centro) is composed of 33 municipalities, whose area represents 11.61% of the total area of the state of Rio Grande do Sul. The region forms part of the southern half of the state, a priority region in government programs, due to its underdevelopment in relation to rest of the State. As a methodological procedure, a zoning of the region was first carried out, with three homogeneous agricultural/ecological zones identified. Zone I, a mountainous region with a strong presence of German and Italian immigrants, is predominately small, diversified family farming. Zone II, a flat region located in the low-lying area in central part of the State, is dominated by irrigated rice growing and more intensive cattle raising, with a significant presence of larger production units. Zone III, a traditional country region, where modernized agriculture coexists with a significant number of large cattle-raising estates.

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AGRICULTURA FAMILIAR

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  • 1TIPOLOLOGIA DAS UNIDADES FAMILIARES DE PRODUO AGRICOLA

    DA REGIO DO COREDE-CENTRO (RS)

    Silveira, Paulo R. da (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil)Neumann, Pedro S. (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil)

    ABSTRACT

    This work presents a typology of the farming/cattle raising production units that

    compose the conventionally called category family farmers. The study and

    understanding of the differences among family farmers had as goal the establishment of

    conditions for unleashing development of different family production units, as well as

    the conditions for unleashing the processes needed for sustainable rural development in

    the region.

    The Administrative Subdivision for Development of the Central Region, Rio Grande do

    Sul State (COREDE-Centro) is composed of 33 municipalities, whose area represents

    11.61% of the total area of the state of Rio Grande do Sul.

    The region forms part of the southern half of the state, a priority region in government

    programs, due to its underdevelopment in relation to rest of the State. As a

    methodological procedure, a zoning of the region was first carried out, with three

    homogeneous agricultural/ecological zones identified.

    Zone I, a mountainous region with a strong presence of German and Italian immigrants,

    is predominately small, diversified family farming. Zone II, a flat region located in the

    low-lying area in central part of the State, is dominated by irrigated rice growing and

    more intensive cattle raising, with a significant presence of larger production units.

    Zone III, a traditional country region, where modernized agriculture coexists with a

    significant number of large cattle-raising estates.

  • 2After establishing the zones, a representative municipality for each zone was selected,

    with a registration (census) made of all the production units existing in the municipality.

    When establishing typologies of the production units, the following criteria were

    adopted: economic rationality, predominant system of production, quantity and quality

    of existing means of production.

    Introduo

    O presente trabalho um recorte da experincia e dos trabalhos desenvolvidos

    pelo grupo de pesquisa em Sistemas de Produo Agrcola e Desenvolvimento

    Regional Sustentvel, formado por uma equipe de professores vinculados ao Curso de

    Ps-Graduao em Extenso Rural do Centro de Cincias Rurais da UFSM. O principal

    objetivo do grupo instrumentalizar as diferentes agncias e agentes que atuam no

    desenvolvimento rural da regio do COREDE-Centro1

    A experincia aqui relatada deve ser compreendida como oriunda de um grupo

    de pesquisa em formao e em uma rea de conhecimento de pouca tradio no Brasil,

    sobretudo no mbito da universidade pblica. Duas questes influenciaram de maneira

    especial o surgimento do grupo. De um lado, as reflexes no mbito do Mestrado de

    Extenso Rural acerca do modelo de difuso de tecnologia e do prprio modelo de

    desenvolvimento rural adotado no pas; e, de outro lado, um conjunto de estudos sobre

    a agricultura desenvolvidos por algumas instituies brasileiras dentro do enfoque

    sistmico.

    Inicialmente, pretendia-se estudar de maneira integrada toda regio abrangida

    pela regio do COREDE-Centro, isto , a totalidade dos 32 municpios que compem o

    conselho. No entanto, em funo da no liberao de recursos previstos inicialmente

  • 3para o projeto, optou-se por fazer uma caracterizao geral da regio a partir de dados

    secundrios e iniciar estudos em cada municpio isoladamente. At o momento, os

    estudos foram realizados em 5 municpios da regio, sendo que cada municpio teve

    suas particularidades metodolgicas, desde municpios onde se capacitou uma equipe de

    tcnicos locais para a coleta de informaes a municpios onde toda atividade foi

    realizada pela universidade.

    1- Procedimento Metodolgico

    O procedimento metodolgico utilizado o proposto pelo que se denomina de

    Anlise Diagnstico do Sistema Agrrio, sendo que foram realizadas algumas

    adaptaes pela equipe, expressas no quadro abaixo.

    Etapas Objetivos Escala Procedimentos Adaptaes1

    Diagnstico doSistema Agrrio

    Regio- Compilao de dados Secundrios.-Zonificao-Percorridas do Terreno

    Seminrios deDiagnstico eSensibilizao.

    2 Diagnstico doSistema Agrrio

    Micro-regio -Entrevistas semi-estruturadas a InformantesQualificados

    Cadastramento detodos osEstabelecimentos

    3 Diagnstico dosSistemas deProduo

    Unidades deProduo

    -Enquetes Informatizao doinstrumento

    Como princpios metodolgicos gerais importante destacar: A utilizao de

    passos progressivos, do geral ao particular, com o aumento progressivo de escala; a

    estratificao em cada nvel de anlise, pois a situao mdia no tem interesse prtico;

    as categorias de estudo so grupos homogneos (Zoneamento, Tipologia de Produtores,

    Tipologia de Sistemas de Produo); explicao, no apenas descrio. para a

    explicao dos fenmenos, utiliza-se a compreenso sistemtica de sua historicidade e

    1 O Conselho de Desenvolvimento da Regio Centro do Estado do Rio Grande do Sul foi criado pelodecreto N 35.764 de 28 de dezembro de 1994, que regulamenta a lei de N 10.283 de 17 de outubro de1994, abrangendo 32 municpios, inseridos na rea de ao da UFSM.

  • 4da avaliao tcnico-econmica; anlise em termos de sistema: o sistema agrrio,

    sistema de produo, sistema de cultivo, sistema de criao

    O Diagnstico do Sistema Agrrio da Regio: Esta etapa compreende: a) a

    caracterizao agro-ecolgica e scio-econmica da regio em estudo; b) o estudo da

    evoluo do sistema agrrio da regio; b) a caracterizao e tipificao dos

    estabelecimentos no espao agrrio em questo.

    Os dados e informaes so obtidos atravs dos seguintes procedimentos:

    consulta aos estudos j realizados sobre a regio; sobreposio e anlise de mapas

    temticos, fotografias areas e imagens de satlite da regio; percorridas no terreno para

    o levantamento sumrio dos tipos de paisagem agrcola.

    A modificao recentemente introduzida nesta etapa (no estudo realizado no

    municpio de Dilermando de Aguiar, ainda em andamento) foram os seminrios

    realizados em determinados pontos do municpio, buscando abranger toda populao.

    Estes seminrios atendem fundamentalmente a dois propsitos. Primeiro, de envolver a

    comunidade no diagnstico; assim, os seminrios so um espao onde a comunidade,

    atravs de tcnicas de participao (tcnicas de visualizao mvel e moderao), faz a

    leitura de sua prpria situao e aponta as possveis aes de desenvolvimento. O

    segundo propsito do seminrio a sensibilizao da comunidade envolvida para o

    diagnstico, principalmente para o cadastramento de todos estabelecimentos que ser

    realizado na segunda etapa e para a fase de discusso do resultado do diagnstico.

    O Diagnstico do Sistema Agrrio em cada Micro Regio Identificada: Os

    objetivos desta etapa so os mesmos da etapa anterior, mas agora ao nvel de cada zona

    homognea identificada. Pretende-se, com esta etapa, definir a problemtica especfica

    que cada zona apresenta, para que seja possvel pensar polticas nos nveis regional e

    municipal, considerando as limitaes e as potencialidades de cada micro-regio.

  • 5Como as informaes geralmente disponveis no consideram as diferenas em

    nvel de micro-regio, faz-se necessrio proceder a uma coleta de dados a campo, o que

    realiza-se atravs de entrevistas semi-diretivas e sucessivas junto a informantes

    qualificados, que geralmente so os moradores mais antigos e com grande

    conhecimento da zona em questo.

    A modificao introduzida pela equipe, nesta etapa , a aplicao de um

    instrumento de cadastramento de todos os estabelecimentos presentes em cada um dos

    municpios em questo. Assim, para os objetivos da caracterizao agro-ecolgica e

    scio-econmica (a) e para o estudo da evoluo do sistema agrrio de cada micro-

    regio (b) so utilizadas as entrevistas a informantes qualificados. J, para o objetivo de

    caracterizar e tipificar os estabelecimentos (c), realizado o cadastramento da totalidade

    dos estabelecimentos, procedimento que vulgarmente denomina-se de pente fino ou

    varredura.

    O instrumento utilizado para cadastro dos estabelecimentos, na verdade uma

    janela que a equipe de pesquisa criou num gerenciador de banco de dados criado pelo

    Departamento de Engenharia Rural da UFSM, denominado Cadastro Tcnico

    Multifinalitrio, que passar a ser utilizado por todos os municpios gachos. A grande

    vantagem do programa a sua agilidade na anlise dos dados, podendo fornecer

    instantaneamente um sem nmero de relatrios com os mltiplos cruzamentos entre as

    variveis. Permite tambm a utilizao de informaes georeferenciadas e o acesso a

    outros bancos de dados (dados da cooperativa, do INCRA, da Secretaria da Fazenda,

    etc) bem como o acompanhamento e atualizao anual dos dados.

    Na primeira parte do instrumento de cadastro so registrados os dados de todos

    os estabelecimentos presentes no meio rural (informaes gerais do estabelecimento e

    de cada um dos moradores); na segunda parte, so registrados os dados do sistema de

  • 6produo, somente daquelas unidades que tem algum tipo de ingresso econmico com a

    atividade agrcola.

    2- Breve Caracterizao Da rea De Estudo.

    Os dados disponveis sobre a regio que conforma o COREDE-Centro so

    bastante escassos. Sua rea de 32.752,53 Km, o que representa 11,61% da rea total

    do estado do RS. Sua populao, segundo levantamento do censo de 1991/1992, de

    602.652 habitantes, representando 6,6% do total do estado do RS. A economia

    baseada principalmente na agropecuria, varejo e beneficiamento, sendo que a

    participao no valor adicionado estadual est na faixa de 3,55%.

    A regio composta por 33 municpios, sendo que Santa Maria pode ser

    considerado como municpio piv, onde se formou um hinterland especfico e dois

    municpios (Santiago e Cachoeira do sul) constiuem-se em sub-pivs regionais. Tais

    municpios atraram fluxos de investimento e populacionais, demonstrando um maior

    crescimento dos setores industrial e de srvios.

    Como caractersticas culturais, associadas ocupao do espao, destaca-se a

    presena da imigrao italiana e alem, localizada na regio da serra; nas reas

    oriundas das antigas estncias, situadas na regio de Campo, a presena da chamada

    cultura do latifndio.

    Os dados referentes ao zoneamento agroecolgico e biogeofsico so tambm

    muito diversificados. Seguem, a princpio, um padro relativamente homogneo para

    toda a regio, desconsiderando as vrias micro-regies dentro do territrio abrangido

    pela regio em estudo. Estes dados sero objeto do prprio processo de pesquisa em

    andamento, no entanto, os estudos empricos at aqui realizados permitem a

    identificao de, no mnimo, quatro zonas de paisagem agrcola .

  • 7A micro-regio da serra, que chamaremos de zona I, ocupada pela imigrao

    italiana e alem, caracteriza-se como de agricultura familiar de pequeno porte. Mais se

    40% das propriedades tem menos de 20ha, a agricultura bastante diversificada,

    predominando os sistemas de produo com base no leite, no fumo, na batata inglesa e

    no milho. Na regio plana, localizada depresso central do estado e que chamaremos de

    Zona II, predomina a cultura de arroz irrigado e a pecuria mais intensiva, sendo as

    propriedades de mais de 500ha e tipicamente patronais (que contratam mais de 20% da

    mo de obra total na propriedade) bastante expressivas. A Zona III, a tradicional

    regio de campo, uma zona de transio ente a I e a II. Nesta zona, coexistem uma

    agricultura modernizada com destaque para a cultura da soja e gado de corte e um

    nmero expressivo de latifndios com pecuria extensiva. E por fim, a regio de

    planalto, acima da zona I, ser denominada de Zona IV onde h predomnio de mdias

    e grandes propriedade, que desenvolvem uma agricultura modernizada, com destaque

    para a cultura da soja e do milho, mesclada com a atividade de pecuria de corte.

    Em relao aos municpios a seguir abordados, Santa Maria apresenta a

    particularidade da presena de trs zonas em seu territrio, a zona I, II e III, enquanto

    que Toropi se localiza integralmente na Zona I e Tupanciret na zona IV2.

    O Municpio de Santa Maria: O municpio de Santa Maria localiza-se na regio

    central do Rio Grande do Sul, possuindo a extenso territorial de 1.160 Km2 , sendo a

    populao de 223.351 habitantes (IBGE,1996). Segundo o cadastro realizado pela

    equipe de pesquisa em sistemas de produo e desenvolvimento regional, constatou-se

    uma populao rural de 4.423 habitantes cadastrados, o que corresponde 2 % da

    populao total do municpio. No perodo de 1980-1996, a taxa de crescimento da

    populao urbana foi de 2,06 e da populao rural de - 2,08.. A atividade agropecuria

    2 Realizou-se, tambm o estudo do municpio de Dilermando de Aguiar, localizado na zona III, mas aanlise dos dados no foi concluida at o momento.

  • 8representa apenas 6 % do produto interno bruto agregado fiscal (PIBcf) do municpio.

    Neste predomina o setor tercirio com 84,80 % do PIBcf, sendo o setor industrial

    responsvel por 9,1 % do PIBcf. Desta forma, observa-se tratar-se de um municpio

    atpico em relao aos municpios gachos, onde a agricultura um setor marginal e,

    portanto, sem peso na definio das polticas pblicas.

    O Municpio de Toropi: O municpio emancipou-se em 1996, abrangendo uma

    rea de 180 km2, possuindo 3.170 habitantes, sendo 90% na zona rural. Os dados

    cadastrais indicam que a populao se mantm praticamente constante. O municpio tem

    80 % da rea coberto pelo solo Ciraco-charrua, caracterizado como brunizem

    avermelhado, raso e textura argilosa (no mnimo 35 % de argila), solo frtil e localizado

    no rebordo da serra geral. Apresenta-se, aqui, caracterstica importante de Toropi: a

    existncia de significativa rea topograficamente acidentada, consequentemente, de

    difcil mecanizao. Por ser um municpio tipicamente rural, no se fez uma

    diferenciao entre a zona urbana e rural, portanto foram cadastrados todos os

    estabelecimentos do municpio.

    Municpio de Tupancitet: trata-se de um municpio antigo, emancipado em

    1928, localizado numa regio de transio entre a depresso central e o planalto, onde a

    ocupao do espao ocorreu atravs das grandes estncias de criao de gado. Nos anos

    70, ocorreu uma certa desestruturao destas estncias e a emergncia de uma

    agricultura moderna em grandes unidades de produo patronal. Tais unidades

    produzem, principalmente soja, em regime de monocultura ou integrada com a pecuria

    de corte, atravs das pastagens de inverno. Dentro deste processo de desestruturao do

    latifndio, salienta-se a existncia de um grande numero de assentamentos de reforma

    agrria no municpio.

  • 9Tupanciret ocupa uma rea de 2253 km2 com uma populao de 19222

    habitantes, sendo 28,55 % rurais. Em relao s caractersticas agroecolgicas, o

    municpio possui uma variao, desde reas planas e solo argiloso, adequado a uma

    produo agrcola intensiva at uma zonas onde predomina a topografia acidentada e

    muita pedregosidade. Com a emancipao do distrito de Jari em 1996, Tupanciret

    perdeu uma rea em torno de 900 km2, onde situavam-se pequenas propriedades

    dedicadas subsistncia em uma grande rea de serra (transio com a zona I).

    3- A Tipologia Dos Estabelecimentos Do Meio Rural.

    Foram cadastradas at o momento 1311 estabelecimentos estabelecimentos no

    municpio de Santa Maria e 591 estabelecimentos do Municpio de Toropi, 559

    estabelecimentos em Tupanciret . A totalidade dos estabelecimentos cadastrados foi

    classificada em 7 classes no caso de Santa Maria e 5 classes para Toropi, 6 classes para

    Tupanciret, considerando como critrio fundamental as diferentes posies ocupados

    pelos estabelecimentos em relao a utilizao do espao agrrio e a propriedade dos

    meios de produo. Considerou-se sempre a dinmica central do estabelecimento, ou

    seja, o que explica a reproduo econmica da famlia.

    Classes dos Estabelecimentos de Santa Maria

    38%

    22%

    6%

    17%

    7%

    5%5%

    Agricultores familiares

    Aposentados

    Agricultores Patronais

    Moradores

    Assalariados rurais

    Unidades de Lazer

    Comerciantes e Industriais

  • 10

    Classes de Estabelecimentos de Toropi

    72%

    15%

    7%

    5%

    1%Agricultura Familiar

    Aposentados

    Agricultura Patronal

    Moradores

    Comerciantes ePrestadores deServio

    Em relao a tipologia dos estabelecimentos no municpio de Toropi, observa-se

    uma menor diversidade, com amplo predomnio da classe dos agricultores familiares.

    No entanto, dentro desta classe, evidencia-se como significativo o elevado nmero de

    estabelecimentos em que as famlias de agricultores exploram a terra em relao de

    parceria. Somente a classe de estabelecimentos denominada de aposentados, segue a

    mesma caracterstica j identificada. Outra particularidade marcante do municpio, o

    amplo predomnio dos estabelecimentos que tem como base para o desenvolvimento das

    atividades agrcolas a trao animal (89%), demonstrando uma realidade completamente

    distinta do municpio de Santa Maria.

    O municpio de Tupanciret caracteriza-se pela forte presena da agricultura

    patronal (26% dos estabelecimentos), o baixo nmero de estabelecimento que utilizam o

    meio rural como espao exclusivo de moradia (1%), e tambm um nmero reduzido de

    estabelecimentos que dependem fundamentalmente da aposentadoria rural (7%).

  • 11

    A Classe dos Moradores: Esta classe representa 17% do total dos

    estabelecimentos do meio rural de Santa Maria e somente 5% em Toropi e 1% em

    Tupanciret. Integram este grupo somente os estabelecimentos que utilizam o espao

    rural como espao de moradia, sendo economicamente dependentes das atividades

    exercidas no centro urbano. Somente alguns desses estabelecimentos desenvolvem

    atividades agrcolas de subsistncia em pequena escala. No caso de Santa Maria a

    grande maioria do contingente de moradores (80%) de trabalhadores urbanos

    estabelecidos nas zonas de transio entre o espao urbano e o rural, e os que fizeram

    esta opo por razes econmicas. Entretanto, uma outra parcela, constitudo pelos

    estabelecimentos ocupados por profissionais liberais e autnomos (20% do total dos

    estabelecimentos), tem no espao rural uma preferncia declarada de moradia.

    A Classe dos Assalariados: Nesta classe ( 7% do total dos estabelecimentos em

    Santa Maria, 13% em Tupanciret e sem a representatividade numrica em Toropi),

    foram classificados somente os estabelecimentos que tem a sua dinmica determinada

    exclusivamente pelo assalariamento agrcola permanente ou temporrio. So

    Classes de Estabelecimentos de Tupanciret

    1% 7%

    13%

    2%

    51%

    26%Moradores

    Aposentados

    Assalariados Rurais

    Comerciantes

    Agricultura Familiar

    Agricultura Patronal

  • 12

    caracterizados como estabelecimentos de moradia e geralmente no possuem rea para

    produo agrcola.

    A Classe dos Aposentados: Nesta classe esto os estabelecimentos com

    caractersticas de unidades de produo agrcola e que tem a sua dinmica determinada

    pela aposentadoria de um ou mais de seus moradores, representam 22% do total dos

    estabelecimentos rurais em Santa Maria e 15% em Toropi, 7% em Tupanciret. Em

    Santa Maria a grande maioria desses estabelecimentos (46%) no desenvolvem nenhum

    tipo de atividade agrcola. Uma parcela desses (36%) desenvolve atividades de

    subsistncia, e somente 18% permanecem desenvolvendo algum tipo de atividade em

    termos comerciais. A maioria dos estabelecimentos so conduzidos por um casal de

    idosos, no tendo seu futuro definido, podendo, na sua grande maioria, tornar-se

    caduco. Em Toropi, 70% no tem produo agrcola comercial contra 30% que tem

    produo comercial em pequena escala.

    A classe dos Agricultores Familiares: Esta classe representada em Santa

    Maria por 38% do total dos estabelecimentos e 72% em Toropi, 52% em Tupnciret.

    Neste conjunto, esto os estabelecimentos cuja dinmica de reproduo est assentada

    na produo agrcola familiar (com mais de 80% da M.O utilizada no ano agrcola

    provindo do grupo familiar). No caso de Santa Maria duas grandes categorias

    constituem esta classe: a categoria de Minifundirios (26 % dos Agricultores

    familiares), so unidades de produo com pequena rea, desenvolvendo atividades

    agrcolas de subsistncia com comercializao dos excedentes e empregando parte dos

    componentes da famlia em outros estabelecimentos (como mo de obra temporria ou

    permanente); a categoria dos Agricultores Familiares Comerciais, composto por uma

    gama variada de unidades de produo que dependem economicamente da explorao

    do estabelecimento como unidade de produo agrcola. J em Tupanciret, 45% dos

  • 13

    estabelecimentos familiares foram considerados como minifundirios e 55% como

    agricultores comerciais. O elevado nmero de minifundirios explicado, em parte,

    devido a presena no municpio de 54 estabelecimentos de assentados, assim

    classificados devido ao pequeno tamanho de seus lotes e suas precrias condies.

    Entretanto, mesmo excluindo os assentamentos, o nmero de minifundirios no

    municpio continua expressivo (38%).

    No caso de Torop identificada uma terceira categoria, a dos agricultores

    parceiros, constitudos de agricultores familiares que realizam o processo produtivo em

    parcela de outro estabelecimento ou unidade de produo, ficando parte do resultado do

    processo produtivo com o dono da terra. Os parceiros dispem de reas pequenas,

    geralmente menores de 5 ha, e praticamente a totalidade trabalha com a cultura do

    Fumo.

    A Classe dos Agricultores Patronais: Foram includos nestas classe todos as

    unidades de produo agrcolas que contratam mais de 20% da mo de obra anual,

    necessria s atividades da unidade; representam 6% do total dos estabelecimentos em

    Santa Maria e 7% em Toropi, 26% em Tupanciret. Em Santa Maria e Tupanciret duas

    categorias compem esta conjunto de unidades: A categoria dos Fazendeiros (9% e

    27% respectivamente dos estabelecimentos patronais), composta por unidades tpicas e

    exclusivamente de pecuria extensiva; A categoria de Empresrios Rurais (91% e 73%

    dos estabelecimentos patronais), caracterizada por estabelecimentos com explorao

    mais intensiva, de parte ou da totalidade, da unidade de produo. Em Toropi verifica-se

    a presena somente dos Empresrios Rurais.

    A Classe dos Comerciantes e Industriais: Este conjunto de estabelecimentos

    presentes no municpio de Santa Maria representam (5 % do total dos

    estabelecimentos), exercem atividades tpicas dos setores de servio (comrcio) ou de

  • 14

    transformao (indstria) nem sempre vinculados as atividades agrcolas. No municpio

    de Torop no se verifica a presena dos industriais e sim de prestadores de servio

    (como na atividade de transporte do fumo). Em Tupanciret tambm no se verifica a

    presena dos industriais, somente dos prestadores de servio e comerciantes.

    A Classe das Unidades de Lazer: o conjunto de estabelecimentos, presentes

    no meio rural de Santa Maria, apresentando sua dinmica definida pela utilizao da

    unidade de produo como uma unidade de lazer, pelo proprietrio e sua famlia. So

    unidades usufrudas pelos donos nos finais de semana ou em determinadas pocas do

    ano e empregam geralmente uma famlia (caseiros ou agregados). Uma parcela dessas

    unidades (13% dos estabelecimentos de lazer) foram denominadas de Fazendas de

    Lazer, caracterizadas por possurem grandes reas e com desenvolvimento de uma

    pecuria extensiva, no se constituindo, no entanto, em uma atividade econmica capaz

    de explicar a dinmica e a racionalidade da unidade. As unidades restantes (87% das

    unidades de Lazer) foram denominadas de Chcaras de Lazer, unidades menores (at

    50 ha) e que geralmente praticam atividades agrcolas variadas, mas sem expresso

    econmica.

    4- Consideraes Finais.

    Os casos analisados demonstram realidades completamente distintas dentro de

    uma mesma regio. O caso de Santa Maria mostra uma realidade rural que no traduz

    unicamente as relaes estabelecidas entre o agricultor e a terra, mas revela a

    coexistncia e a justaposio de vrios grupos sociais. Uma realidade onde funes, at

    ento, tipicamente urbanas, foram incorporadas ou adaptadas ao ambiente rural. Os

    dados levantados demostram que mais de 50% da populao rural do municpio no

    tem vnculo direto com a atividade agrcola. J os demais municpios se caracterizam

  • 15

    pelo domnio absoluto do agrcola sobre o rural.

    Na verdade, o que existem de fato so espaos rurais. Este crescente processo de

    diferenciao entre os espaos rurais e interior deles prprios, faz com que o conceito de

    rural perca progressivamente seu carter de categoria analtica homognea, contraposto

    ao urbano. As atividades paralelas ou integradas atividade agrcola variam muito

    segundo os contextos. Torna-se, assim, necessrio buscar um novo critrio de

    diferenciao espacial, que permita captar esta diversidade crescente. As polticas, os

    instrumentos de gesto e desenvolvimento e a prpria legislao brasileira devem ser

    concebidas com base em uma lgica territorial em vez de setorial. Neste contexto,

    fundamental que tambm sejam repensadas as abordagens e instrumentos de

    diagnstico/anlise da realidade, os quais do suporte aos mesmos.

    necessrio que as polticas de desenvolvimento reconheam e passem a utilizar

    essa diversidade. Isto significa dizer que as receitas comuns, vlidas para todas as zonas,

    no podem ser mais admitidas, e da mesma forma, as abordagens verticais do tipo de

    cima-para-baixo, pois simplificam e ignoram as diferenas contextuais.

    O fato dos agricultores serem minoritrios no espao rural, como em Santa

    Maria (menos de 50 % do total da populao rural), no os impede de serem

    majoritrios na ocupao destes espaos e, portanto, terem uma responsabilidade

    especfica na sua gesto. No os impede, tambm, de exercerem um peso econmico e

    poltico muito maior do que demonstram as estatsticas oficiais. Em Santa Maria,

    apesar de representarem menos de 2 % da populao total do municpio, respondem de

    maneira direta por 6 % do PIBcf, e estima-se que indiretamente por mais de 20 % da

    economia municipal. O fato do espao rural assumir outras funes no significa uma

    perda de importncia do agrcola. Ao invs de negado, esquecido ou desvalorizado, o

    agrcola deve ser reafirmado. Reafirmado, no entanto, no como categoria homognea,

  • 16

    estanque, compartimentada e sem relao com as demais funes do rural. O

    reconhecimento do espao rural como polifuncional, potencializa o agrcola na medida

    que redireciona recursos e mesmo campos profissionais, antes eminentemente urbanos.

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