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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS E OS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS 1 André Loiola, Flavia Diniz, Girléia Santos, Maria Aparecida, Marina Mafra, Rejane Faria, Valéria Oliveira. 2 Ana Maria Passos Collares. 3 Resumo: Este artigo investiga como, na prática, através de seus programas de ação social, as organizações estão trabalhando o conceito da cidadania empresarial. Mais especificamente estudou-se a questão da inclusão efetiva, no ambiente de trabalho, de pessoas portadoras de necessidades especiais, no que se refere à valorização e qualificação desses profissionais. Verificou-se o grau de eficiência de projetos orientados neste sentido e, para tanto, foram consideradas, como referência, as políticas de duas importantes empresas, que operam em Belo Horizonte. Diante do resultado encontrado, propõem-se ações alternativas que incentivem os empresários bem como toda a sociedade, à participação de programas desta natureza, tendo em vista sua contribuição para o crescimento e desenvolvimento do nosso país. 1 Trabalho apresentado como requisito de avaliação à disciplina Trabalho Interdisciplinar do curso de Administração de Empresas do Centro Universitário Una. 2 Alunos graduandos do 2º período. 3 Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (2002). Atualmente é professora assistente do Centro Universitário Una e da Faculdade Pitágoras de Administração Superior.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS E OS PORTADORES DE

NECESSIDADES ESPECIAIS 1

André Loiola, Flavia Diniz, Girléia Santos, Maria Aparecida, Marina Mafra, Rejane

Faria, Valéria Oliveira. 2 Ana Maria Passos Collares. 3

Resumo:

Este artigo investiga como, na prática, através de seus programas de ação social, as

organizações estão trabalhando o conceito da cidadania empresarial. Mais

especificamente estudou-se a questão da inclusão efetiva, no ambiente de trabalho, de

pessoas portadoras de necessidades especiais, no que se refere à valorização e

qualificação desses profissionais. Verificou-se o grau de eficiência de projetos

orientados neste sentido e, para tanto, foram consideradas, como referência, as políticas

de duas importantes empresas, que operam em Belo Horizonte. Diante do resultado

encontrado, propõem-se ações alternativas que incentivem os empresários bem como

toda a sociedade, à participação de programas desta natureza, tendo em vista sua

contribuição para o crescimento e desenvolvimento do nosso país.

Analisar a atuação de ações sociais que empreguem o conceito de cidadania

empresarial em soluções pertinentes à valorização e qualificação de profissionais

portadores de necessidades especiais, medindo a eficiência dos projetos estudados, a

partir da inclusão efetiva dos beneficiados, no mercado de trabalho, observando a

perspectiva das empresas. Para tanto serão analisadas duas empresas que desenvolvem

algum tipo de projeto voltado para a inclusão dessas pessoas e, diante do resultado da

análise, propor soluções e incentivar, tanto empresários como toda a sociedade, a

participar de programas desta natureza uma vez que contribuem para o crescimento e

desenvolvimento do nosso país.

Palavras – chave: Inclusão, deficiência, preconceito, oportunidade.

1 INTRODUÇÃO

1 Trabalho apresentado como requisito de avaliação à disciplina Trabalho Interdisciplinar do curso de Administração de Empresas do Centro Universitário Una.2 Alunos graduandos do 2º período.3 Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (2002). Atualmente é professora assistente do Centro Universitário Una e da Faculdade Pitágoras de Administração Superior.

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A responsabilidade social empresarial tornou-se hoje um fator de competitividade nos

negócios. Neste cenário é importante analisar se, de fato, as empresas atuam com

responsabilidade social ou simplesmente a usam como uma manobra de marketing para

alcançar seus objetivos, ou ainda, apenas cumprem com suas obrigações legais. Neste

sentido, a importância do estudo é proporcionar ao leitor uma análise crítica sobre o

tema e incentivar os empresários a agirem com ética e transparência perante a

sociedade.

A falta de informação ainda é um dos principais obstáculos para os empresários não

incluírem profissionais com deficiências no quadro de funcionários. Muitas vezes o

empresário até possui uma série de ações que destacam sua empresa como uma entidade

comprometida com o social, mas quando o assunto é incluir pessoas com deficiência

surgem às dúvidas: Em qual função ou setor incluir? Será que a pessoa com deficiência

vai conseguir interagir bem com o grupo? Muitas vezes, a deficiência física é encarada

como um fator limitador do desempenho dessas pessoas no trabalho, o que é um grande

erro.

Diante desta situação surge o interesse de analisar o problema e levantar qual a

dimensão das políticas de responsabilidade social praticadas pelas organizações na vida

do portador de necessidades especiais. Definindo assim o atual conceito de cidadania

empresarial.

Uma análise do real mercado de trabalho para os portadores de necessidades especiais

será pertinente, bem como investigar as ações praticadas por duas empresas que atuam

com programas de inclusão de portadores de necessidades especiais no mercado de

trabalho. Será analisado o processo de construção dos projetos avaliando os recursos

utilizados, as características da visão e da gestão social de cada projeto e por fim,

analisar os impactos financeiros dessa inserção no resultado da empresa.

A pesquisa sobre o tema responsabilidade social empresarial foi realizada através da

internet e levantamento de dados de bibliografias específicas. Realizou-se também uma

pesquisa exploratória onde foi possível a análise de projetos de inclusão e os métodos de

colocação dos portadores de necessidades deficiência no mercado de trabalho. Por fim,

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realizou-se uma pesquisa de campo, de entrevista, visando à utilização desta pesquisa

em forma de depoimentos na produção do blog.

Para melhor entendimento dos questionamentos abordados neste estudo, tornou-se

imprescindível a definição de alguns conceitos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Responsabilidade Social Empresarial

O Instituto Ethos avalia Responsabilidade Social Empresarial, como a forma de gestão

que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os

quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o

desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais

para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das

desigualdades sociais.

Entretanto, estudar a atuação social das empresas, envolve perceber não somente o

conceito de Responsabilidade Social, mas também as diferentes vertentes que seu

desenvolvimento gerou. O crescimento desse conceito definiu modelos de gestão social

diferentes e essa diversidade, por sua vez, consegue mensurar o nível de envolvimento

da empresa com as questões da comunidade.

Ao decidir participar diretamente das ações comunitárias a empresa absorve o espírito

de Responsabilidade Social, mas é o tipo de ação adotada que irá graduar a abrangência

do DNA social.

Tenório (2006) cita três termos que expressam a ação social: A filantropia, a

responsabilidade Social Coorporativa e a Cidadania Empresarial.

2.1.1 Filantropia

Na ação filantrópica a empresa intervém apenas de maneira beneficente, limitando-se à

contribuição material, desvinculando sua responsabilidade com a administração da

intenção social.

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Segundo Melo Neto e Froes (2001), as ações de filantropia correspondem à dimensão

inicial do exercício da responsabilidade social. Sua característica principal é a

benemerência do empresário, que se reflete nas doações que faz para entidades

assistenciais e filantrópicas.

A ação filantrópica empresarial, segundo Tenório (2008) é uma ação social de natureza

assistencialista, caridosa e predominantemente temporária. Para o autor a filantropia

empresarial é a realizada por meio de recursos financeiros ou materiais à comunidade

ou às instituições sociais.

2.1.2 Responsabilidade Social Coorporativa

A visão deste conceito está ligada à ética empresarial, aos valores adotados pelas

empresas no tratamento à sociedade. Para Almeida (apud Melo Neto e Froes, 2001, p.

90), a responsabilidade social coorporativa é o comprometimento permanente dos

empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento

econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de

suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.

A responsabilidade coorporativa valoriza o perfil moral das empresas, e compreende

considerar os direitos de todas as partes.

Tenório (2006) também fala da responsabilidade social coorporativa nessa perspectiva:

o conceito de responsabilidade social coorporativa é entendido como um compromisso

da empresa com a sociedade na busca da melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Empresas que buscam credibilidade no mercado, não somente na imagem transmitida

aos seus clientes, mas também em seus relacionamentos de interesse, devem adotar os

princípios que norteiam a responsabilidade social coorporativa.

2.1.3 Cidadania Empresarial

Enquanto a filantropia e a responsabilidade social coorporativa passam pelo conceito de

responsabilidade social, a cidadania empresarial reflete a real preocupação da empresa

com a comunidade em que está inserida.

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A cidadania empresarial corresponde ao exercício pleno da responsabilidade social pela

empresa. Esta se torna cidadã quando contribui para o desenvolvimento da sociedade

através de ações sociais direcionadas para suprimir ou atenuar as principais carências

dela em termos de serviço e infra-estrutura de caráter social. Melo Neto e Froes (2001).

Fischer e Schommer (apud TENÓRIO, 2006, p.30):

Cidadania empresarial pode ser entendida, então, como uma relação de direitos e deveres entre empresas e seu âmbito de relações e participação ativa empresarial na vida de suas cidades e comunidade, participando das decisões e ações relativas ao espaço público em que se inserem.

Neste nível, a empresa torna a promoção social parte de sua marca, incorporando o

dever para com a sociedade.

Como se pode constatar, esse é um conceito mais intimista do ideal inclusivo, e é

através do conceito de Cidadania Empresarial que analisaremos a intenção social dos

projetos estudados. Visto que a potencialidade dos projetos sociais inclusivos está

diretamente ligada ao envolvimento efetivo da empresa e seus empregados.

2.2 Conceito de Portador de Deficiência

Para efeito deste trabalho adotaremos o conceito disposto pela convenção 159 da OIT

(Organização Internacional do Trabalho), de 1983:

[...] entende-se por “pessoa deficiente” todas as pessoas cujas possibilidades de obter e conservar um emprego adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas devido a uma deficiência de caráter físico ou mental devidamente comprovada. (OIT, 1983)

E ainda, o Decreto 3.298/1999, artigo 3° que considera: “I – Deficiência – toda perda ou

anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere

incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal

para o ser humano” (BRASIL, 1999), e suas alterações dispostas pelo Decreto n°

5296/2004.

2.3 Amparo Legal

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Existe, tanto no âmbito nacional como no internacional, extensa legislação sobre os

deveres da sociedade perante a pessoa portadora de deficiência, principalmente no

campo do trabalho, no qual a situação parece mais grave devido ao preconceito,

desconhecimento da mão-de-obra, medo e preocupação em relação à segurança no

trabalho e à falta de Pessoas Portadoras de Deficiência preparadas para exercer uma

profissão.

Em 9 de dezembro de 1975, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a

Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, defendendo o direito

inerente das pessoas com deficiência ao respeito por sua dignidade e o de ter suas

necessidades levadas em consideração em todos os estágios do planejamento

socioeconômico.

Nos anos que se seguiram foram elaboradas várias diretrizes e recomendações com o

intuito de garantir à pessoa com deficiência o mesmo tratamento dispensado a qualquer

outro cidadão. Também foram estabelecidas datas simbólicas referentes à questão, o que

impulsionou o surgimento de muitos movimentos.

Nesse período foram fundadas organizações e entidades de pessoas com deficiência, que

passaram a ter voz própria, e não mais a serem representadas apenas por profissionais

como médicos ou fisioterapeutas. No campo do trabalho, a legislação avançou a partir

da Convenção 159 da OIT, que estabeleceu definições mais precisas sobre a deficiência

nesse âmbito.

Em relação à legislação brasileira, o Brasil dispõe de uma das mais avançadas

legislações mundiais de proteção e apoio à pessoa com deficiência, apesar de ainda

haver lacunas entre aplicação e prática.

Em 1988, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) incorporou garantias às pessoas

portadoras de deficiência, proibindo a discriminação de salários e de critérios de

admissão, assumindo como responsabilidade do Estado a saúde, a assistência social e o

atendimento educacional especializado. Além disso, garante, em seu inciso VIII do

artigo 37, a reserva de um percentual de cargos públicos para essas pessoas, o que foi

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regulado pelo Regime Jurídico dos Servidores Civis da União, Lei no 8.112, de 11 de

dezembro de 1990, que previu: “Art. 5 [...]: §2º - Às pessoas portadoras de deficiência é

assegurado direito de se inscreverem em concurso público para provimento de cargos

cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais

pessoas serão reservadas até 20% das vagas oferecidas no concurso” (BRASIL, 1988).

O Decreto 3.298 regulamentou, ainda, a Lei nº 7.853 de 24 de outubro de 1989, que

fixou a Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência no

mercado de trabalho e na sociedade. Este pode ser considerado um dos mais importantes

decretos a favor da inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência (PPD), pois define os

diversos tipos de deficiência, apresenta 34 competências do CONADE (Conselho

Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência) e CORDE (Coordenadoria

Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), estabelecem estratégias

de reabilitação baseada na comunidade e define a educação especial e sua aplicação,

garante acesso à educação profissional, define como finalidade primordial da política de

emprego a inserção da PPD.

Em 1991 foi criada a Lei 8.213 (BRASIL, 1991), que estabeleceu cotas de contratação

para as empresas privadas e dispôs sobre os planos de benefícios da Previdência Social.

Esta somente passou a ter eficácia em 1999, com a criação do Decreto no 3.298, que

regulamentou que as empresas com mais de 100 funcionários contratassem pessoas com

deficiência, segundo as seguintes cotas:

De 100 a 200 empregados, 2%;

De 201 a 500 empregados, 3%;

De 501 a 1.000, 4%;

Acima de 1.000 funcionários, 5% (BRASIL, 1991).

Em 1994, a CORDE, em seu documento "Subsídios para Planos de Ação dos Governos

Federal e Estaduais na Área de Atenção ao portador de deficiência", recomendou "a

criação, no Ministério do Trabalho, de Núcleo para implementação de programas de

formação profissional e de inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de

trabalho". Propôs, também, a "garantia, à pessoa portadora de deficiência, de acesso ao

ensino pré - escolar, de 1.º 2.º e 3.º graus e profissionalizante, no sistema regular e

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centros de educação especial, reconhecendo o princípio de igualdade de oportunidades

educativas" e "o incentivo

de ações que fomentem o trabalho apoiado voltado para a preparação profissional do

portador de deficiência" (V, 2.2).

Fonte: www.ethos.gov.br

Contudo, observa-se a seguinte declaração feita pelo Ministério do Trabalho e Emprego:

Para a empresa socialmente responsável, a contratação das pessoas com deficiência não é vista apenas com uma obrigação legal. A inclusão, para essas empresas, passa a ser um compromisso e um dos itens de sua política de responsabilidade social. Para tanto desenvolve um programa amplo, estruturado, de capacitação, recrutamento, seleção, contratação e desenvolvimento das pessoas portadoras de deficiência. Muitas empresas já entenderam que a inclusão das pessoas com deficiência é um grande

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aprendizado para o desenvolvimento de políticas de promoção e respeito à diversidade no ambiente de trabalho. Além disso, elas estão descobrindo, nesse processo, que há um grande segmento de mercado composto de pessoas com deficiência. E que para atingilo adequadamente precisa ter uma linguagem e uma estrutura a ele acessível.

3. Os Deficientes ao Longo da História

3.1 Na Antiguidade (Estado Teológico)

Podemos encontrar claramente na Bíblia e nas literaturas da época passagens que nos

mostram como eram tratadas e vistas as pessoas com deficiência. Essas pessoas eram

abandonadas ao relento, exterminadas ou viviam à margem da sociedade. Em passagens

bíblicas, os cegos e mancos eram tidos como mendigos ou pedintes. Pensava-se que

eram amaldiçoados pelos deuses, por tanto, não tinham um lugar na sociedade como

mostra em João 9, 1 e 8: “Caminhando Jesus, viu um cego de nascença...” “... Então, os

vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntaram: Não é este

o que estava assentado pedindo esmolas?”.

Os Judeus associavam a cegueira ao pecado: o homem podia ter pecado ainda no ventre;

os pais do cego podiam ter pecado e, com isso, acarretado a cegueira ao filho. Os judeus

acreditavam que os pais podiam ser punidos por seus pecados com o sofrimento dos

filhos.

3.2 Na Idade Média (Estado Metafísico – Fonte de Transição)

Na Idade Média as pessoas com deficiência não eram mais exterminadas da sociedade,

pois, já se consideravam como criaturas de Deus. Muitos desses deficientes eram

abrigados nas igrejas, fato este que podemos ter como exemplo o filme “O Corcunda de

Notre Dame”.

Mas, ainda eram tidos como aberrações e usados como bobos da corte ou materiais de

exposição. A população ignorante, ainda os via como aberrações com poderes especiais

de feiticeiros e bruxos.

3.3 Na Idade Moderna (Estado Científico ou Positivo)

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Começaram a surgir novas idéias referentes à natureza orgânica da deficiência, marcou

a passagem de um período de extrema ignorância, para o nascer de novas idéias. Foi

nesta época que surgiu o primeiro hospital psiquiátrico, mas era um local de

confinamento, perfeita prisão.

Foi somente no século XX, que a pessoa com deficiência foi considerada como cidadã

com direitos e deveres na sociedade. De acordo com artigo publicado por Maria

Aparecida Gurgel4:

O Século XX trouxe avanços importantes para as pessoas com deficiência,

sobretudo em relação às ajudas técnicas ou elementos tecnológicos

assistivos. Os instrumentos que já vinham sendo utilizados - cadeira de

rodas, bengalas, sistema de ensino para surdos e cegos, dentre outros -

foram se aperfeiçoando. A sociedade, não obstante as sucessivas guerras,

organizou-se coletivamente para enfrentar os problemas e para melhor

atender a pessoa com deficiência.

3 DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE DO CASO

3.1 O Estudo de Caso da Empresa A

3.1.1 A Empresa

A Comau do Brasil Ind. e Com. Ltda. é uma empresa do grupo Fiat e se estabeleceu no

Brasil em 1995 atuando em dez estados. Hoje localizada dentro da Fiat em Betim,

oferece sua proficiência como integradora de sistemas de automação industrial e

liderança no mercado brasileiro de manutenção. Suas atividades específicas são:

engenharia, carroceria, powertrain Systems, montagem final, robótica e service.

Possui cerca de 6.000 mil colaboradores, sendo destes 311 portadores de deficiência.

3.1.2 Responsabilidade Social

O envolvimento da Comau do Brasil com as causas sociais já é reconhecido através de

seus vários projetos sociais como o Programa Semear, a ONG Pró-Viver, Culturarte,

4 GUGEL, Maria aparecida Gugel. Pessoas com Deficiência e o Direito ao Trabalho. Florianópolis : Obra Jurídica, 2007.

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voluntariado Comau, linha do saber e o Pró-Jovem em parceria com o governo, além de

incentivo à cultura e nas ações de Páscoa, Dia das Crianças e Natal.

Agora uma nova iniciativa surgiu e está oferecendo a pessoas com deficiência não só

um novo emprego, mas uma nova profissão. O Programa Inclusão Eficiente Comau

promove a diversidade, incentivando e apoiando ações que incluam as pessoas com

deficiência no mercado de trabalho.

Valorizando estas pessoas, estamos incentivando também aquilo que já acreditamos: o respeito, a cultura e a diversidade, atuando com responsabilidade social. Na Comau, onde grande parte da mão de obra deve ser especializada, as pessoas com deficiência não só terão oportunidade de trabalho, mas também de serem valorizadas e reconhecidas profissionalmente. (SOLIS, ALEJANDRO - Superintendente da Comau MERCOSUL)

3.1.3 O que é o Programa Inclusão Eficiente Comau?

O programa já existe desde 2006, mas foi em 2008 com uma nova ação, o curso de

formação profissional básica em eletricista de manutenção industrial, que o plano se

concretizou. Para concretizá-lo, a Comau do Brasil fechou parceria com a Prefeitura de

Betim, que já realizava cursos para a comunidade. A Comau ficou responsável por

contratar os professores e as intérpretes de LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) e

a prefeitura cedeu o espaço para as aulas e o material para o curso.

A divulgação do curso foi feita através de folders e mídia, onde tiveram 48 deficientes

inscritos. O curso compreende 500 horas, com duração de seis meses sendo 400 de

teoria e 100 horas de aulas prática, realizadas dentro da planta da empresa. Os alunos

aprenderam sobre eletrotécnica, motores, comandos e ferramentas elétricas, NR10,

Controlador Lógico Programável (CLP), instrumentação e controle de processos

industriais. Dos 48 inscritos, 43 foram efetivados.

A Comau se destaca como empresa socialmente responsável, pois, muito mais que abrir as portas para pessoas com deficiência, está proporcionando a formação. Mesmo que essas pessoas um dia saiam da empresa, elas estarão aptas para o mercado de trabalho competitivo.(MARTINS, TARCÍSIA - Especialista em Responsabilidade Social)

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Nesse programa pessoas com problemas auditivos tiveram oportunidade de aprimorar as

suas habilidades. Alunos como Hélio Alves aos 47 anos consegui uma oportunidade de

se capacitar profissionalmente. Ele afirma: “Sempre busquei, mas nunca me deram

oportunidade. Entregava currículo, mas nunca era entendido pelas pessoas”. Afirma

ainda “Com essa oportunidade podemos ser bem mais aceitos em nossa

individualidade. O curso vai ajudar até a melhorar a nossa vida pessoal”.

Após o curso, cada concluinte foi encaminhado ao setor que mais tivesse afinidade e

que ao mesmo tempo oferecesse estrutura de acordo com as suas necessidades. As

unidades da Comau, embora nem todas, são adaptados aos PNEs, cadeirantes ou com

alguma dificuldade de locomoção. Esses possuem as chaves que dão acesso aos

elevadores, proporcionando maior conforto ao se locomoverem. Com o tempo notou-se

que, mesmo sem saber LIBRAS, os colegas de trabalho, não portadores, conseguiam

interagir com os novos funcionários e existia interesse em aprender a nova forma de

comunicação. Com o interesse dos funcionários e o incentivo da Comau, é oferecido

gratuitamente e regularmente cursos de libras, a fim de melhorar continuamente a

convivência entre esses portadores e o restante da equipe.

3.1.4 Análise dos Impactos Financeiros

Com a inclusão dos deficientes no mercado de trabalho a empresa do grupo Fiat além de

promover a responsabilidade social, contribui fortemente para o crescimento econômico

do País, uma vez que estes portadores de deficiência, antes não considerados

“população economicamente ativa”, mediante o preconceito e a falta de incentivos por

parte da sociedade, vislumbram agora um novo horizonte, rumo à igualdade social.

Com relação ao seu crescimento, a Comau do Brasil procurar ser transparente e correta

como demonstra em seu código de conduta:

O esforço do Grupo Fiat está voltado a maximizar o valor para os acionistas, em longo prazo. Para poder manter este compromisso o Grupo adota elevados padrões de planejamento financeiro e de controle e sistemas de contabilidade coerentes e adequados aos princípios contábeis a serem aplicados nas empresas doGrupo, respeitando as leis vigentes. No cumprimento desta prática, o Grupo atua com a máxima transparência, em coerência com as melhores práticas nos negócios.

3.2 O Estudo de Caso da Empresa B

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3.2.1 A Empresa

Atendendo à solicitação da empresa seu nome será mantido em sigilo e será

referenciada como empresa XY.

A XY é uma organização que atua no segmento de Contact Center. Em

1992 a organização inicia suas atividades, voltada para a área de licenciamento de

softwares e sob a influência da parceria com a Microsoft começa a operar.

Em 1995 passa a oferecer treinamentos e certificações Microsoft e, em 1996, os líderes

da empresa decidem agrupar todas suas atividades (treinamentos, informações e

soluções), dando início a uma nova fase denominada “Grupo”.

No decorrer dos anos surgem parcerias como o projeto FIAT AUTO e a fabricação de

softwares ABAP - SAP do Sistema Usiminas.

3.2.2 Responsabilidade Social

A terceirização de mão-de-obra qualificada por seus cursos e treinamentos se destaca, e

a empresa arrisca a entrada no setor de prestação de serviço na parte do telemarketing e,

entre seus projetos sociais, a inclusão social dos portadores de necessidades especiais

passou a ser importante.

A empresa oferecia cursos gratuitos para os PNEs, preparando-os para o mercado de

trabalho como atendentes, por ser este o seu seguimento. Até então a empresa não

contratava esses portadores, quando resolve não apenas prepara-los, mas também

integrá-los ao seu quadro de funcionários.

Embora a intenção fosse boa, a empresa não estava preparada para acomodar esses

novos colaboradores, portanto foi acordado que eles receberiam um salário relativo ao

período da carga horária do curso, durante o tempo em que a organização se preparava

para oferecer condições de trabalho.

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Cerca de quatro anos depois (2006), tudo estava pronto para que eles entrassem no

mercado de trabalho. Esses colaboradores trabalham cerca de duas vezes por semana e o

espaço destinado a eles é rotativo, funcionando de Segunda à Sábado.

A carga Horária é de 4 horas por dia ou 16 horas semanais. A empresa mantém vagas

abertas, tendo como requisitos básicos ser maior de dezoito anos e ter o segundo grau

completo, como também, noções de informática.

A XY desenvolve ainda o “Speed”, que é um incentivo à prática esportiva e à

valorização da saúde de seus funcionários (disputa da Meia Maratona com categorias

Premiáveis, também com segmentos para portadores de deficiências).

Possui parceria com o Instituto Ethos, organização não-governamental com a missão de

mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente

responsável, além de promover, todos os anos, em comemoração ao Dia do Deficiente

auditivo (26 de setembro), filme em sala de cinema específica, para todos os portadores

de necessidades especiais.

Para o futuro, a empresa cogita a idéia de implementação de um curso interno de libras

para os funcionários interessados, a fim de melhorarem cada vez mais o relacionamento

entre portadores e não portadores.

Em 2008 a Empresa recebeu o prêmio de Responsabilidade Social, categoria Ouro.

Hoje a empresa possui em um todo aproximadamente 4500 funcionários, estando dentro

da cota exigida com cerca de 230 Portadores de deficiência.

3.2.3 Benefícios

A XY oferece além dos benefícios considerados legais, tais como vale-transporte e

salário compatível com mercado (horas trabalhadas), plano de saúde, auxílio creche

para filhos menores de quatro anos, auxílio para filhos excepcionais permanentes e

descontos em Faculdades. A empresa possui pedagogos especializados para atuar em

conjunto, sendo eles os coordenadores das atividades praticadas pelos PNEs. É

importante frisar que os PNEs sempre trabalham com o mesmo grupo de pessoas.

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3.2.4 As Atividades do PNE na XY

Auditoria da qualidade do atendimento humano de atendentes: Monitor de Qualidade.

Os PNEs elaboram um dossiê de qualidade (em formato Braille e Português) que é

encaminhado para os supervisores operacionais. Estes colaboradores são chamados de

“Orientadores de Qualidade”, controlando a quantidade de atendentes em período de

lanche ou realizando outros tipos de atividades no setor de Call Center.

Até o momento estes são os únicos cargos dirigidos aos portadores de necessidades

especiais, não possuindo assim, em futuro próximo, chances de desenvolvimento

profissional para esses funcionários.

4 Considerações Finais

Concluindo, o deficiente vem sofrendo grandes preconceitos e abandono ao longo da

história. Com o passar dos anos e, graças a várias organizações e entidades de pessoas

com deficiência que passaram a ter voz ativa, estes cenários vem diminuindo pouco a

pouco. Mas ainda existe muito que se fazer. As empresas e a sociedade devem abrir os

olhos e enxergarem o deficiente como cidadão comum, com direitos e deveres iguais.

Como pôde-se observar nos estudos de caso A e B, os deficientes são plenamente aptos

ao trabalho, não havendo diferenças das demais pessoas, o que eles precisam é de uma

oportunidade para mostrarem do que são capazes. Cabe a cada empresa se tornar de fato

responsável socialmente para que este preconceito se finde e atue grandemente para o

crescimento do nosso país.

As empresas não devem apenas cumprir com seu papel legal, mas atuar de forma ativa

na sociedade, pois ela é o principal agente de transformação da sociedade.

As empresas devem lutar em busca da ética e da responsabilidade social seja no plano

interno como também na sociedade em que está inserida.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Inclusão de pessoas com deficiência: como vamos? Disponível < http://institutoethos.blogspot.com/2010/05/inclusao-de-pessoas-com-deficiencia.htm > acessado em 08/09/2010.

BRASIL. Manual Pessoas Deficientes. Disponível em < http://www.ethos.org.br/_Uniethos/Documents/manual_pessoas_deficientes.pdf > acessado em 08/09/2010.

TENORIO,Fernando Guilherme. Responsabilidade Social Empresarial. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV,2006. 263 p.MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Responsabilidade social e cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. 2 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. 208p.

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