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Thiago Amparo FerreiraJulia Magarão CostaCelso Tavares Sodré
Cláudia Regina Pimenta Setta
Esporotricose conjuntival primária: uma apresentação atípica da doença
Serviço de Dermatologia, Curso de Graduação e Pós-Graduação HUCFF-UFRJ,Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ausência de conflito de interesse
Esporotricose conjuntival primária: uma apresentação atípica da doença
RELATO DO CASO
• Paciente, do sexo feminino, 78 anos, admitida no hospital com quadro de edema, eritema, dor e calor em região periorbitária esquerda com início há 15 dias, tendo evoluído com prurido, lacrimejamento, exsudação amarelada e redução da acuidade visual
• Referia contato domiciliar com gato. Negava trauma local, febre ou outros sintomas
• Como comorbidades apresentava: psoríase; obesidade; história de tabagismo; hipertensão; diabetes; insuficiência cardíaca leve e doença renal crônica
• As Figuras 1 e 2 mostram a paciente no momento da admissão. Notava-se, à esquerda, edema periorbital, com intensa infiltração avermelhada, distribuída por toda conjuntiva bulbar, sem comprometimento da conjuntiva palpebral
• Não havia linfonodos palpáveis, nem nódulos na pele local ou à distância
Figura 1:
Aspecto clínico à
admissão.
Edema periorbital
à esquerda com
infiltração de
conjuntiva bulbar
Figura 2:
Aspecto clínico à
admissão.
Infiltração de
conjuntiva bulbar
em detalhe
Esporotricose conjuntival primária: uma apresentação atípica da doença
RELATO DO CASO
• Exames laboratoriais evidenciavam: hiperglicemia (glicose 329 mg/dL); discreta anemia (Hb 12,8 g/dL; Ht 37,8%); Leucócitos 6.300/mm³; Plaquetas 225.000 /mm³ e função renal alterada (Ur 59 mg/dL; Cr 1,5 mg/dL; Na 131 mEq /L; K 4 mEq/L)
• A ressonância magnética do crânio (Figura 3) revelou infiltração de partes moles superficiais periorbitárias e de conjuntiva do olho afetado
• Aventou-se a hipótese de celulite peri-orbitária tendo sido realizado antibioticoterapia com amoxilina + sulbactam por 7 dias, sem melhora (Figura 4)
• Foram então realizadas biópsias de pálpebra e de conjuntiva bulbar sendo enviado material para histopatológico e cultura. Em 4 dias, houve o crescimento do Sporothrix schenckii apenas no material da conjuntiva
• Iniciado tratamento por via oral com itraconazol 100 mg ao dia• Após um mês de tratamento foi possível observar melhora importante das lesões
(Figuras 5 e 6)• Pouco depois, a paciente faleceu de causa diversa a motivada pela internação –
infarto agudo do miocárdio
Figura 3:
RM de crânio –
Infiltração de
partes moles de
região
periorbitária
esquerda.
Ausência de
lesões
intraoculares
Figura 4:
Infiltração em
conjuntiva bulbar
após 7 dias de
amoxicilina +
sulbactam.
Ausência de
resposta ao
tratamento
Figura 5:
Aspecto clínico
após 1 mês de
itraconazol
100 mg/dia
Figura 6:
Aspecto clínico
após 1 mês de
itraconazol 100
mg/dia.
Detalhe de
melhora em
conjuntiva bulbar
Esporotricose conjuntival primária: uma apresentação atípica da doença
DISCUSSÃO
• Nos escassos casos relatados de esporotricose conjuntival primária, o acometimento da conjuntiva palpebral é a forma mais comum, sendo o acometimento da conjuntiva bulbar um aspecto raro, tendo sido descrito em apenas dois casos na literatura.3,4
• O acometimento da conjuntiva ocular frequentemente ocorre por trauma local, embora alguns poucos casos tenham sido relatados sem antecedentes de trauma.4,5
• Hipóteses sugerem inoculação primária, a partir do simples contato do agente com a mucosa, outras sugerem inalação do fungo e posterior disseminação hematogênica.1,4
• No caso relatado, o acometimento exuberante da conjuntiva, sem outros sinais sistêmicos, sugere transmissão através de inoculação primária do fungo. Além disso, a localização em conjuntiva bulbar, região de difícil acesso à lambedura de animal ou contato com feridas do felino infectado, pode sugerir inoculação do parasita mediada pelas mãos da paciente.
Esporotricose conjuntival primária: uma apresentação atípica da doença
DISCUSSÃO
• O diagnóstico definitivo da doença é feito com o isolamento do fungo em cultura.1
• Na análise histopatológica poderá ser observado processo piogênico e granulomas.
• Em alguns casos, é possível identificar o Sporothrix schenckii no tecido. • Testes sorológicos mais modernos mostraram-se com boa acurácia,
embora ainda pouco disponibilizados.1 • O iodeto de potássio é a terapia tradicional para a doença com alto
índice de sucesso, mas com efeitos colaterais gastrointestinais frequentes e com possíveis repercussões na função tireoideana.1
• O Itraconazol tem sido usado com boa resposta e baixa incidência de efeitos colaterais, tanto na forma linfocutânea, quanto na extracutânea.1
Esporotricose conjuntival primária: uma apresentação atípica da doença
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Barros MB, de Almeida Paes R, Schubach AO. Sporothrix schenckii and Sporotrichosis. Clin Microbiol Rev. 2011; 24: 633-54.
2. Ribeiro AS, Bisol T, Menezes MS. Síndrome oculoglandular de Parinaud causada por esporotricose. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (5):317-2 .
3. Schubach AO, Barros MB, Schubach TM, Francesconi-do-Valle AC, Gutierrez-Galhardo MC, Sued M, et al. Primary conjunctival sporotrichosis: two cases from a zoonotic epidemic in Rio de Janeiro, Brazil. Cornea. 2005; 24:491-3.
4. Kashima T, Honma R, Kishi S, Hirato J. Bulbar conjunctival sporotrichosis presenting as a salmon-pink tumor. Cornea. 2010; 29:573-6.
5. Hampton DE, Adesina A, Chodosh J. Conjunctival sporotrichosis in the absence of antecedent trauma. Cornea. 2002 Nov; 21(8):831-3.