texto1

3

Click here to load reader

Upload: lucas-jatoba

Post on 28-Oct-2015

107 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Texto1

CENTRO UNIVERSITÁRIO CARIOCA

FILOSOFIA DO CONHECIMENTO

TEXTO 1 - FILOSOFIA

O homem sempre se questionou sobre temas como a origem e o fim do universo, as causas, a natureza e a relação entre as coisas e entre os fatos. Essa busca de um conhecimento que transcende a realidade imediata constitui a essência do pensamento filosófico, que ao longo da história percorreu os mais variados caminhos, seguiu interesses diversos, elaborou muitos métodos de reflexão e chegou a várias conclusões, em diferentes sistemas filosóficos.

O termo filosofia deriva do grego phílos ("amigo", "amante") e sophía ("conhecimento", "saber") e tem praticamente tantas

definições quantas são as correntes filosóficas. Aristóteles a definiu como a totalidade do saber possível que não tenha de abranger todos os objetos tomados em particular; os estóicos, como uma norma para a ação; Descartes, como o saber que averigua os princípios de todas as ciências; Locke, como uma reflexão crítica sobre a experiência; os positivistas, como um compêndio geral dos resultados da ciência, o que tornaria o filósofo um especialista em idéias gerais. Já se propuseram outras definições mais irreverentes e menos taxativas. Por exemplo, a do britânico Samuel Alexander, para quem a filosofia se ocupa "daqueles temas que a ninguém, a não ser a um filósofo, ocorreria estudar".

Pode-se definir filosofia, sem trair seu sentido etimológico, como uma busca da sabedoria, conceito que aponta para um saber

mais profundo e abrangente do homem e da natureza, que transcende os conhecimentos concretos e orienta o comportamento diante da vida. A filosofia pretende ser também uma busca e uma justificação racional dos princípios primeiros e universais das coisas, das ciências e dos valores, e uma reflexão sobre a origem e a validade das idéias e das concepções que o homem elabora sobre ele mesmo e sobre o que o cerca.

Ao longo de sua evolução histórica, a filosofia foi sempre um campo de luta entre concepções antagônicas -- materialistas e idealistas, empiristas e racionalistas, vitalistas e especulativas. Esse caráter necessariamente antagonista da especulação filosófica decorre da impossibilidade de se alcançar uma visão total das múltiplas facetas da realidade. Entretanto, é justamente no esforço de pensar essa realidade, para alcançar a sabedoria, que o homem vem conquistando ao longo dos séculos uma compreensão mais cabal de si mesmo e do mundo que o cerca, e uma maior compreensão das próprias limitações de seu pensamento.

Foi na Grécia, no século VI a.C, que nasceu a filosofia. Ali, em apenas três séculos, foram propostos os grandes temas de que se ocupou o pensamento filosófico ao longo da história. A figura de Sócrates, cujos ensinamentos só são conhecidos por meio da obra de seus discípulos, Platão e Xenofonte, tem servido tradicionalmente de linha divisória para estabelecer as duas grandes etapas da filosofia grega: o período pré-socrático e o da maturidade, representado este, fundamentalmente, pelas obras de Platão e Aristóteles.

O filósofo grego é de certa forma um “cientista”. A filosofia e ciência se encontram intimamente ligadas na Grécia antiga. Após a revolução científica do século XVII, houve a separação entre filosofia e ciência. Lentamente, até o século XIX, vão se

constituindo os métodos das chamadas ciências particulares: física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia etc. delimitando campos específicos de pesquisa.

As conclusões da ciência têm um caráter de juízos de realidade, já que, de uma forma ou de outra, descrevem como os fenômenos

ocorrem, quais as suas relações constantes e, consequentemente, como prevê-los. Já a filosofia faz juízos de valor, não aborda a realidade apenas como ela é, mas como deveria ser. Julga o valor do conhecimento e da ação, busca o seu significado e, com isso, dá sentido à experiência vivida.

Segundo o professor Dermeval Saviani (2008), a reflexão é filosófica quando é radical, rigorosa e de conjunto:

Radical = vai até as raízes da questão. Rigorosa = dispõe de um método claramente explicitado que permite proceder com rigor, garantindo a coerência e o

exercício da crítica. De conjunto = é globalizante, examina os problemas sob a perspectiva do todo, relacionando os diversos aspectos.

Page 2: Texto1

Professor Sergio Oliveira (2012) gosta de ressaltar que o reconhecimento da própria ignorância tem uma função essencial para o sujeito que deseja saber. É deste reconhecimento intensamente vivido do que lhe falta que surge este seu desejo. E é nele exatamente que está a diferença entre o filósofo e o sujeito doutrinado – qualquer que seja a fonte de doutrinação que tenha formado o último. Este indivíduo doutrinado crê saber. A ilusão de um falso saber definitivo o domina e o constringe. Ele está possuído de certezas que adormecem sua curiosidade, estagnam seu pensamento e o escravizam ao cacoete das respostas fechadas, acima de qualquer questionamento.

Enfatiza-se, assim, desde já, que não se deve jamais imaginar a Filosofia como algum saber fechado e transmitido de forma

doutrinal. Nunca, em seu nome, pode-se pedir por uma atitude de crença cega nas respostas que venha a apresentar. Um filósofo, são e cônscio da tarefa a que se consagrou, jamais sugeriria a outrem a aceitação dogmática de um discurso seu. A Filosofia se define como uma arte de propor problemas e, em nenhum momento, se pauta pela defesa intransigente de quaisquer que sejam as hipóteses apresentadas para respondê-las.

Gabriel Perissé, no seu pequeno e belo livro de Introdução à Filosofia da Educação, diz isso muito melhor:

Como Sócrates declarou, o filósofo não é aquele que tudo sabe (...). O filósofo sabe que o saber nunca é saber plenamente possuído. O seu saber é sempre esperança de saber melhor, anseio de descobrir e redescobrir. Não existem proprietários do conhecimento, latifundiários do saber, mas apenas peregrinos, amantes carentes de uma sabedoria que sempre nos escapa.1

O pensamento filosófico deve se valer de argumentos e estar aberto à argumentação contrária. Pode, sem dúvida, procurar

convencer, em alguns casos, do valor instrumental de certas ideias, mas terá de apresentar, de forma clara, os motivos para se adotar as mesmas em detrimento das outras. Neste sentido, ela se opõe tanto ao recurso de argumentos de autoridade ou de revelações subjetivas como ao uso de técnicas oportunistas de persuasão e propaganda e à coerção. O filósofo se reconhece sempre no terreno de um discurso humano e deve estar continuamente atento para não se confundir com alguém que diz já portar a Verdade.

A Filosofia, portanto, não é posse de conhecimento seguro. É justamente a perda contínua da ingenuidade da crença na posse de

algum saber definitivo e não passível de ser problematizado ainda uma outra vez. É, enfim, uma abertura para a pergunta, para o problema, por onde todo o conhecimento sempre se inicia. CONCEITOS BÁSICOS EM FILOSOFIA Metafísica � representa o lado especulativo da filosofia. É o estudo sistemático dos fundamentos da realidade e do conhecimento. Com a ascensão da ciência, acreditava-se que a metafísica era perda de tempo. As descobertas da ciência foram consideradas dignas de confiança, já que podiam ser observadas e medidas, enquanto que as noções metafísicas não podiam ser verificadas empiricamente. Hoje, a metafísica e a ciência são duas atividades diferentes, cada uma delas valiosa. Ambas procuram generalizações universais. Os depoimentos científicos submetem-se à previsão estatística, enquanto as generalizações metafísicas tratam de conceitos tais como certeza e eu, que não são estatisticamente mensuráveis. A ciência moderna reconhece que, embora as afirmações metafísicas seja especulativas, não são irresponsáveis nem destituídas de sentido. O homem é, por natureza, um ser metafísico. É dominado por um desordenado anseio de extrair dos diversos materiais de sua experiência vivencial um entendimento da natureza final das coisas. Os problemas metafísicos continuam sendo editados, época após época, porque são problemas humanos universais. Epistemologia � é a teoria do conhecimento. Trata do conhecimento como matéria universal e procura desvendar o que está envolvido no processo de conhecer. O problema epistemológico de maior importância é estabelecer e avaliar as próprias bases em que o conhecimento assenta e sobre as quais se pretende obtê-lo. Há diversos tipos de conhecimento. Axiologia � é o estudo geral dos valores. Um estudo axiológico gira em torno de três questões principais: (1) se os valores são objetivos ou subjetivos (pessoais ou impessoais); (2) se são variáveis ou constantes; e (3) se existem hierarquias de valores. Ontologia � tratado dos seres em geral; parte da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais (que diz respeito à razão pura, ao estudo do subjetivo, que está somente no interior do sujeito, anteriormente a qualquer experiência, observação ou análise). Lógica � é o estudo do pensamento correto. Dedução � é uma forma de raciocínio que parte de uma afirmação geral para um caso particular. Indução � é uma forma de raciocínio que parte de casos particulares para uma conclusão geral. Verdade � a solução de um problema que pode transformar-se em novas questões. A razão de ser da filosofia é a busca da verdade.

1 PERISSÉ, Gabriel. Introdução à Filosofia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 16.

Page 3: Texto1

A FILOSOFIA E A BUSCA DA VERDADE

A busca da verdade se constituiu um dos problemas fundamentais da Filosofia. Sua preocupação primeira tem sido situar a vida humana sob o signo da verdade.

Para as pessoas de maneira geral como para a ciência, a verdade é a solução de algum problema. Para o filósofo, no entanto, as

próprias soluções transformam-se em novas questões. No horizonte filosófico, a verdade plena não é monopólio de ninguém. Cada qual vê a realidade sob uma perspectiva pessoal e

particularmente diferente das demais, mas que é sempre uma das infinitas facetas da verdade. A história do pensamento humano é uma constante busca da verdade. Cada pensador tem seu lugar próprio no mundo, sua

própria situação histórica, que é a dele e de nenhum outro. Por isso cada um tem, em certa medida, uma visão própria da verdade. Isto não significa que a verdade de um absolutamente não coincida com a de outro, numa espécie de relativismo. Significa, porém,

que se deve enriquecer, num diálogo autêntico, numa procura comunitária da verdade. Assim, todo o sistema filosófico deve ser inserido no contínuo revelar-se da verdade. Nenhum pode ser o único e definitivo, pois

nenhum esgota a realidade. Na medida em que um sistema se afirma como o único, sem aceitar contribuições originais, é falso. Cada um tem menor ou maior conteúdo de verdade, cada um tem seu valor enquanto é uma perspectiva diferente sobre o universo.

Para o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1833-1955), cada indivíduo – pessoa, povo, época – é um órgão insubstituível

para a conquista da verdade. Esta, que por si mesma é alheia às variações históricas, adquire, através da perspectiva, sua dimensão vital. O filósofo alemão Martin Heidegger, por sua vez, insiste no fato de que a verdade não será um dom absoluto e imediato, mas se

impõe sua busca responsável, na vida concreta e na historicidade. Esta será a tarefa constante da Filosofia em face da verdade. Na finitude não há como repousar sobre a verdade conquistada: ela deve tornar-se constante conquista.

A verdade não é o que se demonstra. Se nesta terra, e não em outra, as laranjeiras lançam sólidas raízes e se carregam de frutas, esta terra é a verdade das laranjeiras. Se esta religião, esta cultura, esta escala de valores, esta forma de atividade, e não outras, favorecem no homem sua plenitude, libertam nele o grande senhor que se ignorava, esta escala de valores, esta cultura, esta forma de atividade são a verdade do homem. E a lógica? Ela que se arranje para tomar conhecimento da vida.

Saint-Exupery. Terra dos Homens. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.

Bibliografia consultada: ARANHA, M. L. de A. História da Educação. São Paulo: Moderna, 2005. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2005. ASTI VERA, Armando. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre, Globo, 1989. CASTRO, Claudio de Moura. Estrutura e apresentação de publicações científicas. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1976. CERVO, Amado Luiz & BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4. Ed. São Paulo: MAKRON BOOKS, 1996. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. GHIRALDELLI Jr., Paulo. Caminhos da Filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 2005. FUNDAÇÃO CECIERJ / Consórcio CEDERJ. Material didático das disciplinas Ciências Naturais na Educação, vol. 1 e 2, 2003. MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia Científica na Era da Informática. São Paulo: Saraiva, 2002. MUNDO DAS CIÊNCIAS. Ciências Humanas – Filosofia. Disponível em: <http://www.mundociencia.com.br/filosofia/ www.educarede.org.br> MUNDO DOS FILÓSOFOS. Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br> OLIVEIRA, Sergio. A Filosofia definida como uma arte da pergunta. Material de aula da disciplina Filosofia do Conhecimento. UniCarioca: 2012. PILETTI, Claudino. Filosofia da educação. São Paulo: Ática, 2008.