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Condillac

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  • C

    LGICA E TEORIA DA LINGUAGEM DE CONDILLAC

    Mariluze Ferreira de Andrade e Silva Universidade Federal de So Joo del-Rei -UFSJ Departamento das Filosofias e Mtodos

    Resumo: A Lgica de Condillac est dividida em duas partes: na primeira ele se ocupa de mos- trar que a anlise um mtodo natural porque a natureza que procura as analogias, semelhanas e diferenas entre as coisas e por esse mtodo so explicadas as origens e as geraes das idias e das faculdades da alma. A segunda parte, considera a anlise em si mesma e os seus efeitos em relao linguagem, demonstrando que a "arte de raciocinar" se reduz a uma "linguagem bem feita". Desse modo a Lgica de Condillac se concilia com uma teoria da linguagem porque ela faz, ao mesmo tempo, uma anlise lgica da origem da lngua e tambm uma anlise das vias do co- nhecimento mostrando que a lngua gerada a partir do conhecimento sensvel, mas a linguagem, que tem funo de comunicar, s se realiza a partir do conhecimento racional. Esta a razo pela qual ele defende a "arte de raciocinar" como um instrumento capaz de criar uma "lngua bem feita" para cada cincia.

    Palavras-chave : Lgica da linguagem, Teoria da linguagem, Mtodo analtico.

    Abstract: : The Logic of Condillac is divided in two parts: in the first he is in charge of showing that the analysis is a natural method because it is the nature that seeks the analogies, likeness and differences among the things and for that method the origins and the generations of the ideas are explained and of the universities of the soul. The second leave, it considers the analysis in herself and your effects in relation to the language, demonstrating that the art of ratiocinating " if it reduces her/it well a " language done ". in that way the Logic of Condillac reconciles with a theory of the language because she does, at the same time, a logical analysis of the origin of the language and also an analysis of the roads of the knowledge showing that the language is generated starting from the sensitive knowledge, but the language, that has function of communicating, only takes place starting from the rational knowledge. This is the reason for the he defends the art of ratiocinating " as an instrument capable to create a " language well done " for each science.

    Key word: Logic of the language, Theory of the language, analytic Method.

    1. Introduo

    ondillac, Etinne Bonnot de, (1715-1780) foi um colaborador decisivo para o desenvolvi-

    mento da teoria empirista do conhe- cimento. Vivendo o esprito do ilumi- nismo francs, Condillac procurou conciliar o empirismo com o raciona- lismo entendendo o racionalismo como uma "fora" que tem origem na experincia sensvel e se desenvolve junto com ela. Assim, Condillac en- tendia que a aceitao do racionalis- mo no exclua a do empirismo, sen- do mesmo necessrio entender-se a

    interdependncia entre as duas vias do conhecimento. Apesar de Condillac ter escrito vrias obras, este assunto foi tratado na sua Lgica publicada em 1780 e dela que nos ocuparemos. A nossa refe- rncia, para este comentrio, ser a traduo francesa de 1980 feita pela Abril Cultural. Segundo Condillac so os nossos desejos e as nossas necessidades que nos motivam buscar o conheci-

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    mento e os meios para satisfaz-los os quais surgem de acordo com as necessidades dos nossos rgos e suas relaes com as coisas. Por exemplo: de todos os produtos do solo s servem para nos alimentar aqueles que esto em conformidade com a nossa natureza humana. e quem nos ensina isso a experincia e o uso das coisas necessrias sobrevivncia do nosso organismo. Assim, a natureza ensina que, se h no sujeito necessidades e desejos, h fora dele objetos destinados a satisfaz-lo e nele, a faculdade para conhece-los e us-los. Segundo Condillac, portanto, a relao entre as necessidades do sujeito e a satis- fao das necessidades depende dos objetos que o sujeito escolhe. O su- jeito se lana procura do conheci- mento das coisas medida que pre- cisa delas para o seu uso, porque ele s se interessa em conhecer aquilo que da sua necessidade e utilidade.

    Para Condillac, existe, portanto, uma relao de ordem do conhecimento das coisas entre a necessidade e o uso medida que existe uma relao lgica entre as necessidades e a busca dos meios para satisfaz-las e esta relao inata no homem. O conhecimento surge por uma neces- sidade de conhecer o objeto que lhe satisfaz. Assim, os rgos, as sensa- es que o sujeito experimenta, os juzos e a experincia constituem um sistema para a conservao do su- jeito e este sistema que se deve estudar para aprender a raciocinar. Isto , o homem deve procurar co- nhecer a sua natureza e buscar o conhecimento que garante a sua pre- servao.

    Segundo Condillac, no h necessi-

    dade de se conhecer a essncia das coisas, mas as relaes que as coi- sas tm com o sujeito e o critrio para julgar as relaes sujeito-objeto , neste caso, observar as sensaes que os objetos causam no sujeito. Observar relaes, confirmar juzos por novas observaes ou corrigi-los a isto que Condillac chama "arte de raciocinar" (op. cit. p.100-101) e a natureza quem ensina esta arte. Segundo Condillac, o sujeito tem o mau hbito de imaginar as coisas ao invs de observ-las, e por causa disso cria suposies falsas dando origem a uma infinidade de erros porque se habitua a raciocinar so- mente atravs das suposies. Este mau hbito, para Condillac, deve ser corrigido porque leva a cair nos se- guintes erros: idias falsas, contradi- trias, valorizao mais do erro do que da verdade, busca de solues dos problemas nas supersties, pre- conceitos, desordens no raciocnio, criao de seitas com carter domi- nador, gosto pelas questes polmi- cas frvolas, pouco interesse pela observao, crena nos sonhos como capazes de interpretarem a natureza. H, portanto, uma seqncia de erros que se fortificam e se justificam mu- tuamente. Para Condillac seria preci- so, portanto, mudar os hbitos do esprito humano porque eles so conservados pelas paixes cegas. 2 A importncia de pensar segundo um mtodo Todos os erros relacionados por Condillac, no entanto, tm como ori- gem comum o hbito de "nos servir- mos de palavras antes de determinar seu significado e ter sentido a neces- sidade de determin-lo" (op.cit.,

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    p.102). Diz Condillac que no temos o hbito de observar e no achamos necessrio observar. Acreditamos que o aprendizado seja eficaz apren- dendo to-somente atravs do mto- do "palavras-palavras" que em outras palavras significa dizer atravs da "metalinguagem". Assim, segundo Conndillac, aprendemos duas vezes porque na infncia aprendemos o que os outros nos ensinam e quando crescemos continuamos pensando segundo o pensamento dos outros, embora acreditemos o contrrio (p.103). Assim, continuamos nos en- ganando pensando que estamos fa- zendo progressos, mas na verdade estamos acumulando erros de gera- o em gerao. Para recolocar or- dem na faculdade de pensar deve- mos "esquecer tudo o que aprende- mos e retomar nossas idias em sua origem, seguir a gerao e refazer o entendimento humano" (op.cit., p.103).

    Segundo Condillac, uma criana analista e observadora por natureza, mas perde esta capacidade medida que so conduzidas pelo adulto por- que ele passa os seus erros e pen- samentos para ela. Algumas conse- guem vencer os obstculos que os adultos colocam ao desenvolvimento de seus talentos, mas, outras "so plantas que mutiladas at a raiz mor- rem estreis" (op.cet, p.103).

    3 A linguagem de ao e a lngua .

    Vimos, assim, que segundo Condillac os erros esto no hbito de julgar usando palavras sem sentido deter- minado. Vimos tambm que as pala- vras no so descobertas, necessari- amente, para formar idias de todas

    as coisas. A seguir, veremos um ou- tro ponto importante em Condillac que a questo das idias abstratas e gerais entendidas como apenas denominaes. Segundo Condillac, s podemos pen- sar com a ajuda das palavras e isto suficiente para compreender que a "arte de raciocinar" comea com a lngua, por isso importante observ- la. Convm, tambm, observar a lin- guagem de ao segundo a qual as lnguas foram feitas. Para Condillac, os elementos da lin- guagem de ao so inatos. Eles nasceram com o homem. Esses ele- mentos so os rgos que fazem parte da nossa natureza. Assim, h uma linguagem inata e carente de signos para analisar nossos pensa- mentos e sem os quais seria impos- svel darmos conta do que pensa- mos.

    Sendo assim, no primeiro instante, a linguagem confusa porque ela alm de repetir os sentimentos efeito deles. Devemos criar, portanto, se- gundo Condillac, o hbito de diferen- ciar as confuses na linguagem. Por exemplo: um msico distingue na harmonia todas as notas, enquanto os no msicos ouvem todas as no- tas ao mesmo tempo, sem distingui- las. Assim ocorre com o homem. Ele comea a exprimir a linguagem de ao medida que tem sensaes e a exprime sem ter o objetivo de co- municar seus sentimentos. A lingua- gem de ao uma linguagem con- fusa porque o homem no aprendeu a fazer a anlise de seus sentimen- tos. Ele ainda no sabe organizar seus sentimentos. Como existe a necessidade da comunicao, surge,

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    ento, a necessidade de compreen- so de si mesmo. Assim sendo, cada um perceber que s compreender melhor as artes quando demonstrar suas aes e para se comunicar ter que decompor as suas sensaes repetindo os movimentos um aps o outro, enquanto a natureza o obriga a fazer de uma s vez. assim que a linguagem de ao transforma-se em um mtodo analtico. Condillac cha- ma "mtodo" porque h sucesso de movimentos com regras. H, portan- to, uma lngua inata (no idia inata) e uma linguagem inata que no aprendemos porque efeito natural e imediato de nossa compreenso. Ela, apenas, exprime o que sentimos; no mtodo analtico; no decompe nossas sensaes, no fornece idi- as.

    A linguagem se torna um mtodo analtico, segundo Condillac, quando ela decompe as sensaes e forne- ce idias e, como mtodo, se apren- de. Por isso no inata. Se a anli- se que fornece as idias, ento elas so adquiridas uma vez que a prpria anlise se aprende. No h, portanto, idias inatas. As lnguas so, segun- do Condillac, mtodos analticos do mesmo modo que as linguagens de ao. E sem a linguagem de ao os homens no poderiam analisar os seus sentimentos. A anlise no se faz e no se pode fazer, seno, com

    o uso dos signos e da linguagem arti- culada e se no fosse feita com os signos da linguagem de ao tam- bm no seria com os sons articula- dos de nossa lngua. Uma palavra no seria um signo de uma idia se essa idia no pudesse ser exibida na linguagem de ao. Concluso As lnguas nos conduzem a erros porque so construdas a partir de mtodos imperfeitos. Segundo Con- dillac, durante muitos anos o homem vem se esforando para descobrir as regras da "arte de raciocinar", bus- cou-se a resposta no mecanismo do discurso quando na verdade para encontrar a "arte de raciocinar" e a "linguagem bem feita" bastaria "ob- servar nossa maneira de conceber e estud-las nas faculdades que nossa natureza nos dotou" (p.109). Bastaria observar que as lnguas no so se- no mtodos analticos. Muitos mto- dos defeituosos que j foram consi- derados exatos e como as lnguas permaneceram arbitrrias aos gra- mticos e aos filsofos, acreditaram- se que elas s tinham regras para o uso. Ora, no de se admirar que todo mtodo possua regras, por isso no de se admirar, tambm, que ningum duvide que as lnguas so mtodos analticos.

    Referncias Bibliogrficas

    CONDILLAC, E.B. Lgica y extracto razonado del tratado de las sensaciones. Argentina: Aguilar, 1982.

    . Lgica ou os primeiros desenvolvimentos da arte de pensar. So Paulo: Abril Cultural, 1979.

    Revista Eletrnica Print by UFSJ .So Joo del-Rei, n.4, p. 21-24 , 2002