texto sobre o jovem eo mercado de trabalho

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POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E O ACESSO DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO Alessandra Helena Wiederkehr Pontifícia Universidade Católica Do Paraná – PUC-PR Programa de Mestrado e Doutorado em Educação RESUMO Um dos desafios da sociedade atual é manter níveis aceitáveis de emprego e de desenvolvimento em bases sustentáveis e possibilitar a inclusão da população em padrões de vida e de cidadania característicos dos países desenvolvidos. A partir deste contexto, realizou-se o presente estudo, que teve o intuito de abordar o acesso ao mercado de trabalho por meio das políticas públicas educacionais. Teve como objetivo geral analisar os fatores educacionais que dificultam e/ou impedem a inserção do jovem no mercado de trabalho. A pesquisa, de cunho qualitativo, teve como instrumento de coleta de dados a entrevista semi- estruturada aplicada a quatro jovens que foram encaminhados ao mercado de trabalho formal (e que tiveram 10 ou mais entrevistas negadas), a seus pais e a cinco empresários ou seus representantes. O estudo demonstrou que a parceria entre as famílias e a escola tem ações diferenciadas para cada entrevistado, mas que a trajetória escolar revela um descompasso entre as expectativas dos pais e o resultado obtido. Chama-se a atenção para a necessidade de uma revalorização epistemológica do espaço escolar, de sua natureza e de suas transformações por meio das experiências educativas e seus movimentos sociais, a fim de que o jovem conheça a origem social de seu sofrimento de não conseguir adentrar o mercado de trabalho. Foi possível constatar que, no Brasil, o acesso à educação e ao trabalho por meio das políticas públicas educacionais acompanha a história política do país e que se faz essencial a elaboração de novas ações educativas que tragam respostas às dificuldades que as políticas educacionais enfrentam, sobretudo no que se refere ao acesso ao mercado de trabalho. Palavras-chave: Políticas públicas educacionais. Educação. Trabalho. Um dos desafios que as sociedades enfrentam no início do século XXI é manter níveis aceitáveis de emprego e de desenvolvimento em bases sustentáveis. Da mesma forma, também é um desafio possibilitar a inclusão da população em padrões de vida e de cidadania característicos dos países desenvolvidos. Neste momento histórico, é intenso o debate sobre as possibilidades e limites da ação do Estado no desenvolvimento econômico e sobre a efetividade das políticas de inclusão social e de outras políticas que possibilitem que indivíduos tenham acesso a trabalho e escapem da pobreza e da marginalização.

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  • POLTICAS PBLICAS EDUCACIONAIS E O ACESSO DO JOVEM

    AO MERCADO DE TRABALHO

    Alessandra Helena Wiederkehr Pontifcia Universidade Catlica Do Paran PUC-PR

    Programa de Mestrado e Doutorado em Educao

    RESUMO Um dos desafios da sociedade atual manter nveis aceitveis de emprego e de desenvolvimento em bases sustentveis e possibilitar a incluso da populao em padres de vida e de cidadania caractersticos dos pases desenvolvidos. A partir deste contexto, realizou-se o presente estudo, que teve o intuito de abordar o acesso ao mercado de trabalho por meio das polticas pblicas educacionais. Teve como objetivo geral analisar os fatores educacionais que dificultam e/ou impedem a insero do jovem no mercado de trabalho. A pesquisa, de cunho qualitativo, teve como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada aplicada a quatro jovens que foram encaminhados ao mercado de trabalho formal (e que tiveram 10 ou mais entrevistas negadas), a seus pais e a cinco empresrios ou seus representantes. O estudo demonstrou que a parceria entre as famlias e a escola tem aes diferenciadas para cada entrevistado, mas que a trajetria escolar revela um descompasso entre as expectativas dos pais e o resultado obtido. Chama-se a ateno para a necessidade de uma revalorizao epistemolgica do espao escolar, de sua natureza e de suas transformaes por meio das experincias educativas e seus movimentos sociais, a fim de que o jovem conhea a origem social de seu sofrimento de no conseguir adentrar o mercado de trabalho. Foi possvel constatar que, no Brasil, o acesso educao e ao trabalho por meio das polticas pblicas educacionais acompanha a histria poltica do pas e que se faz essencial a elaborao de novas aes educativas que tragam respostas s dificuldades que as polticas educacionais enfrentam, sobretudo no que se refere ao acesso ao mercado de trabalho. Palavras-chave: Polticas pblicas educacionais. Educao. Trabalho.

    Um dos desafios que as sociedades enfrentam no incio do sculo XXI manter nveis aceitveis de emprego e de desenvolvimento em bases sustentveis. Da mesma forma, tambm um desafio possibilitar a incluso da populao em padres de vida e de cidadania caractersticos dos pases desenvolvidos. Neste momento histrico, intenso o debate sobre as possibilidades e limites da ao do Estado no desenvolvimento econmico e sobre a efetividade das polticas de incluso social e de outras polticas que possibilitem que indivduos tenham acesso a trabalho e escapem da pobreza e da marginalizao.

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    Neste contexto, abordar o acesso ao mercado de trabalho por meio das

    polticas pblicas educacionais requer detalhar o campo terico e de anlise

    prprio desta poltica pblica. Isto porque se verifica que o processo educativo

    est situado geogrfica e historicamente, o que significa que se realiza de

    formatos diferentes em cada espao social e em cada espao de tempo. Sob esta

    tica, se faz necessrio, primeiramente, esclarecer o significado de alguns termos

    utilizados, como educao, polticas pblicas, polticas educacionais e trabalho.

    Para Pimenta (2001, p. 53), A educao enquanto prtica social humana

    um fenmeno mvel, histrico, inconcluso, que no pode ser captado na sua

    integralidade, seno na sua dialeticidade. Neste sentido, a educao ocorre por

    meio das relaes do ser humano com o Estado, com a famlia e com o meio

    social em que est inserido e um processo contnuo e construdo

    progressivamente. A educao no seria reduzida a uma mera transmisso do

    contedo cultural, mas seria a apropriao da realidade em que se est inserida.

    Para Saviani (1991, p. 94), A educao tambm interfere sobre a sociedade,

    podendo contribuir para a sua prpria transformao, fato que a torna histrica.

    Por polticas pblicas, Boneti (2008, p. 36) compreende

    [...] a ao que nasce do contexto social, mas que passa pela esfera estatal como uma interveno pblica numa realidade social, quer seja para fazer investimentos ou uma mera regulamentao administrativa. [...] o resultado da dinmica do jogo de foras que se estabelecem no mbito das relaes de poder, relaes essas constitudas pelos grupos econmicos e polticas, classes sociais e demais organizaes da sociedade civil.

    Assim, tanto as polticas pblicas como as educacionais determinam as

    aes no que se refere educao e definem o direcionamento do Estado. Sob

    esta tica, necessrio pensar no trabalho se refletindo sobre modificaes da

    base produtiva, bem como nas exigncias do capital de acordo com o sistema.

    Para Antunes (1999, p. 139),

    O trabalho, entendido em seu sentido mais genrico e abstrato como produto de valores de uso expresso de uma relao metablica entre o ser social e a natureza. Mais tarde nas formas mais desenvolvidas da prxis social, paralelamente a essa relao homem-natureza desenvolvem-se inter-relaes com outros seres sociais, tambm com vistas produo de valores de uso.

    No sentido apontado por Antunes (1999), define-se trabalho como toda

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    atividade que, realizada pelo ser humano, transforma a natureza. Ao realizar essa

    atividade, os seres humanos se transformam e, ao se relacionarem com outros

    seres humanos na realizao dessas atividades, estabelecem as bases das

    relaes sociais.

    Com efeito, o acesso ao trabalho, neste momento histrico, revela o

    movimento das diferentes formas de acumulao e as mudanas que se firmaram

    na formatao do mesmo por meio das relaes sociais das quais ele faz parte.

    Para Boneti e Gisi (2007, p. 60), isto acontece porque, nos dias atuais, a

    excluso entendida como uma problemtica derivada do aguamento das

    desigualdades sociais e, por outro lado, o acesso entendido como mecanismo

    de incluso.

    No que se refere ao primeiro emprego, a insero ocupacional dos jovens,

    ou seja, a passagem da fase estudantil para a de atividade profissional, , por si,

    marcada por incertezas e experimentaes, e os jovens, dependendo das

    condies de cada pas, tendem a ocupar empregos mais instveis e precrios. No

    entanto, o que tem chamado a ateno a crescente participao, de uma forma

    generalizada, dos jovens nas taxas de desemprego nas diversas economias.

    No Brasil, segundo Pochmann (2000), existem razes para que o jovem

    perca a esperana de ter um trabalho que propicie a ele uma vida com melhores

    condies de viver do que seus pais tinham. Para o autor,

    De um lado, a estrutura social do pas, movida por enorme desigualdade econmica e marcada pelos indicadores de pobreza, analfabetismo e violncia, transforma-se numa das fontes principais do enfraquecimento das expectativas de sucesso dos jovens do Brasil. De outro lado, o caminho seguido pela economia nacional tem colocado mais dificuldades que facilidades ao conjunto dos jovens brasileiros, mesmo para os mais ricos. (POCHMANN, 2000, p. 06)

    Independente das causas, a situao do jovem brasileiro, no que se

    refere s suas expectativas de ingresso no mercado de trabalho formal so

    preocupantes.

    Neste sentido, Bourdieu e Passeron (1992) vem ao encontro dessa

    preocupao ao afirmarem que a escola oportuniza, por meio da aprendizagem, a

    aceitao das relaes hierrquicas do capitalismo, reproduzindo, no

    relacionamento com os alunos, a socializao fracionada entre indivduos, grupos

    ou classes sociais.

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    O presente estudo realizou incurses tericas sobre questes que

    discutem as perspectivas para o trabalho juvenil neste incio de sculo, visto que

    os jovens tm o direito de se profissionalizarem e trabalharem em condies que

    respeitem sua personalidade em desenvolvimento.

    Este trabalho aborda as questes dos reflexos provocados pelo novo

    contexto econmico relativos s dificuldades de insero dos jovens no mercado

    de trabalho, enfatizando, sobretudo, o papel e a contribuio das prticas

    educativas por meio das polticas pblicas no tocante capacitao dos jovens

    para as demandas do mercado.

    Neste texto, definiu-se como objetivo geral compreender a relao existente entre as trajetrias escolares no-lineares e a empregabilidade negativa, ou seja, como as trajetrias escolares no-lineares dificultam a entrada dos jovens no mercado de trabalho.

    Utilizou-se, como instrumento de coleta de dados, a entrevista que, segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 134), varia quanto ao grau de estruturao e [...] utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do prprio sujeito, permitindo aos investigados desenvolver intuitivamente uma idia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo. Com base nesses autores, tomou-se o cuidado, em relao entrevista, para no controlar o contedo de forma demasiadamente rgida para que se pudesse levantar uma srie de tpicos sobre os jovens, seus pais e os empresrios ou representantes das empresas. Por esse motivo, optou-se pela entrevista semi-estruturada, que, de acordo com Trivins (1987), um dos principais meios que tem o investigador para realizar busca de dados. No desmerecendo o valor dos outros tipos de entrevista, Trivins (1987, p. 146) entende que

    a entrevista semi-estruturada, ao mesmo tempo em que valoriza a presena do investigador, oferece as perspectivas possveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessrias, enriquecendo a investigao.

    Na direo apontada pelos autores mencionados Bogdan e Biklen

    (1994) e Trivins (1987) , procurou-se deixar os entrevistados vontade para

    falarem sobre esse momento de insero do jovem no mercado de trabalho, sem,

    entretanto, perder de vista o mbito qualitativo da entrevista.

    As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas e submetidas

    anlise sociolgica.

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    Tomou-se como base para a realizao desta pesquisa o socilogo

    Bourdieu (1997, p. 708), para quem

    A sociologia sabe que ela deve ter os meios de questionar primeiro em seu prprio questionamento, todas as preconstrues, todos os pressupostos que existem tanto no pesquisador como no pesquisado e que fazem com que a relao de pesquisa freqentemente s se instaure na base de um acordo dos inconscientes.

    Ainda no que se refere s entrevistas, entende-se que se deve ter cuidado

    com as falas espontneas dos entrevistados, pois o que se deseja saber est

    ligado aos efeitos de toda a vivncia social dos mesmos, desde a sua infncia.

    A passagem da fase estudantil para a fase profissional traz dvidas,

    novas experincias e preocupaes no somente para os jovens, como tambm

    para os adultos que com eles convivem e para a sociedade. Exemplo disso que,

    desde que a histria vem sendo registrada, pais, pedagogos, filsofos, cientistas

    sociais e socilogos tm se preocupado com os problemas da juventude.

    Assinalam-se, por exemplo, Shakespeare, com Hamlet e Romeu e Julieta;

    Rousseau, com Emlio e Virgnia; Goethe, com Werther, entre outros. Somente no

    decorrer dos sculos XVIII e XIX que a juventude comeou a ser ressaltada

    como uma passagem para a vida adulta e, a partir da, que as diferenas

    comearam a ser percebidas e estudadas cientificamente.

    A passagem do sculo XIX para o sculo XX marcou um perodo histrico

    que intensificou a necessidade de o homem adaptar-se ao ritmo das mquinas.

    Nesse perodo, ocorreu a evoluo tecnolgica, em decorrncia da qual o indivduo

    j no mais conseguiu acompanhar o ritmo desejado da produo. Nesse contexto,

    desde que a escola surgiu, o papel desta passou a ser enfatizado na produo de

    indivduos com a finalidade de servir s necessidades do setor econmico da

    sociedade capitalista. Neste sentido, Enguita (1989, p. 199) explica que

    A mais elementar destas formas, embora no a mais importante, a sua prpria diviso interna. A quase totalidade dos sistemas escolares apresenta, durante o perodo obrigatrio, algum tipo de diviso entre ensino acadmico e profissional, planejados, grosso modo, para conduzir os jovens, respectivamente, a postos de trabalho de gravata ou de macaco.

    Com base em Enguita (1989), se entende que a escola reproduz, sob

    mltiplas formas, a diviso do trabalho predominante na sociedade e que a

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    educao tende a estar associada, como requisito bsico, para que o jovem

    consiga, efetivamente, se inserir no mercado de trabalho. Nesta conjuntura que

    envolve mercado de trabalho, insero ocupacional e contexto escolar, encontra-

    se uma palavra-chave: capitalismo.

    Neste contexto, falar em polticas educacionais requer que se tragam

    informaes sobre o que j ocorreu e vem ocorrendo em nosso pas e, com estas

    informaes, entender o presente. Assim, sem ter a inteno de fazer um resgate

    detalhadamente histrico, faz-se, a seguir, um relato de alguns fatos que foram

    significativos na trajetria das polticas educacionais brasileiras.

    Inicialmente, cabe mencionar o movimento da Escola Nova, que se

    iniciou, no Brasil, na dcada de 1920 e se fortaleceu na dcada de 1930,

    sobretudo em 1932, com o Manifesto da Escola Nova, que incorporou os

    princpios trazidos pelas leis orgnicas, ou seja, a formao do homem para agir

    na sociedade brasileira. Nessa poca, o desenvolvimento do Brasil urgia modificar

    o formato da educao, pois o aumento da indstria requeria maior preparao

    dos trabalhadores. (ROMANELLI, 1998).

    Outro marco na trajetria da educao brasileira foi a Constituio

    Federal de 1937 que, em seu artigo 129, preceitua que

    O ensino pr-vocacional e profissional destinado s classes menos favorecidas em matria de educao o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execuo a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando-os de iniciativa dos Estados, dos Municpios e dos indivduos ou associaes particulares e profissionais. (BRASIL, 1994, site).

    No que concerne profissionalizao dos jovens, no Brasil, a primeira

    preocupao surgiu na dcada de 1940. Em outras palavras, em atendimento ao

    dispositivo constitucional federal de 1934 que delegou, em seu art. 5, inciso

    XIV, Unio a competncia de traar as diretrizes da educao nacional

    (BRASIL, 1994, site) , o Ministro da Educao Gustavo Capanema redigiu as

    Leis Orgnicas de Ensino, as quais foram implantadas por meio de decretos-leis

    sancionados entre os anos de 1942 e 1946.

    As Leis Orgnicas do Ensino a Lei Orgnica do Ensino Industrial, em

    1942; a Lei Orgnica do Ensino Comercial, em 1943; e a Lei Orgnica do Ensino

    Agrcola, em 1946 , materializaram as reformas e as mudanas conduzidas pelo

    Ministro da Educao:

  • 7

    Esses trs decretos-leis organizaram o ensino tcnico profissional nas trs reas da economia, de forma que ele contivesse dois ciclos um fundamental, geralmente de quatro anos, e outro tcnico, de 3 a 4 anos. [...] alm do industrial bsico de 4 anos, existia, no mesmo ciclo, o curso de mestria, de 2 anos. J o 2 ciclo possua, alm dos cursos tcnicos de 3 a 4 anos, o curso de formao de professores (pedaggico) de 1 ano. (ROMANELLI, 1998, p. 154).

    Alm dos cursos de formao mencionados, Romanelli (1998) ainda

    aponta que os trs decretos-leis previam cursos artesanais, de curta durao

    varivel e os cursos de aprendizagem.

    Cabe mencionar que a Lei Orgnica do Ensino Industrial, assinada em

    30/01/42, trouxe, em seu bojo, o deslocamento de todo o ensino profissional para

    o nvel mdio, o que fez com que ocorresse um processo gradual de valorizao

    do ensino profissional, principalmente do industrial, em razo das exigncias

    propostas pelas mudanas tecnolgicas daquela poca. (ROMANELLI, 1998).

    Outro aspecto a ser destacado que, em 1942, o presidente Getlio

    Vargas assinou o Decreto-Lei n 4.048, instituindo o Servio Nacional de

    Aprendizagem dos Industririos (SENAI), rgo subordinado Confederao

    Nacional da Indstria (CNI). Entre as competncias imputadas ao SENAI, se

    encontravam: organizar e administrar, em todo o pas, escolas de aprendizagem

    para capacitao de trabalhadores e ministrar ensino continuado de

    aprendizagem, aperfeioamento e especializao de mo-de-obra. A criao do

    SENAI foi de suma importncia, pois sua implementao colaborou com o

    desenvolvimento da indstria nacional, tornando-se, assim, uma vitria das

    lideranas empresariais brasileiras. (ROMANELLI, 1998).

    Ainda nessa poca, para o desenvolvimento do Brasil, era necessrio

    modificar a formatao da educao, pois o aumento da indstria requeria a maior

    preparao dos trabalhadores, dado as turbulncias poltico-econmicas geradas

    pela Segunda Guerra (1939-1945). Tais turbulncias se refletiram no pas e

    comprometeram o ritmo das importaes e a disponibilidade de mo-de-obra

    qualificada. Assim, com o objetivo de promover o crescimento nacional, era

    necessrio suprir as lacunas da indstria de base e da deficincia de

    especializao profissional.

    Com a promulgao das Leis Orgnicas do Ensino, ficou clara a

    ocorrncia de duas estratgias para a formao da fora de trabalho: uma seria o

    sistema federal de ensino, sob o controle do Ministrio da Educao; a outra seria

  • 8

    o controle das classes empresariais sobre os cursos de aprendizagem industrial.

    (ROMANELLI, 1998). Segundo o mesmo autor, instalou-se, no pas, um dualismo

    que dividia a educao escolar em duas: das camadas populares e das elites.

    Neste sentido, as camadas mais populares buscavam as escolas de

    aprendizagem que, em sua maioria, eram mantidas pelo SENAI e pelo SENAC,

    instituies que pagavam para os alunos estudarem, funcionando, assim, como

    um atrativo para essas populaes mais pobres.

    Outro aspecto apontado por Romanelli (1998, p. 168) que Em se

    tratando de pr-adolescentes, a populao que procurava as escolas de

    aprendizagem era a populao que precisava comear a trabalhar mais cedo,

    portanto no podia freqentar as escolas do sistema oficial. O sistema oficial de

    elite era, ento, procurado pelas classes mdias e altas, as quais buscavam o

    ensino de formao, considerado, na poca, um ramo que classificava socialmente.

    No contexto exposto, foi adotada uma nova constituio a de 1946

    que, descentralizou, administrativa e pedagogicamente, o sistema educacional

    brasileiro, sem que a Unio deixasse de assumir o seu papel, quanto

    proposio de linhas gerais pelas quais deveria organizar-se a educao

    nacional. (ROMANELLI, 1998, p. 170). Essa constituio tambm previu, em seu

    art. 169, recursos mnimos destinados educao: Anualmente, a Unio aplicar

    nunca menos de dez por cento, e os Estados, O Distrito Federal e os Municpios

    nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manuteno

    e desenvolvimento do ensino. (BRASIL, 1946, site).

    Com base na constituio de 1946, foi constituda, pelo Ministro da

    Educao da poca, uma comisso de educadores, cujos estudos culminaram

    com a Lei n 4.024/61, primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    (LDB), sancionada em 20/12/1961, pelo ento presidente Joo Goulart, quase

    trinta anos aps ser prevista pela Constituio de 1934. (SAVIANI, 2003)

    A Lei n 4.024/61 manteve a competncia da Unio para legislar sobre a

    matria, bem como contemplava, em seu artigo 104, a organizao de cursos ou

    escolas experimentais, com currculos, mtodos e perodos escolares prprios.

    (BRASIL, 1961). Isto significa, segundo Romanelli (1998, p. 181), que no

    prescreveu um currculo fixo e rgido para todo o territrio nacional, em cada nvel

    e ramo, quebrando, de certa forma, a rigidez e conferindo certo grau de

    descentralizao. Esta lei manteve a estrutura tradicional do ensino, composta

  • 9

    pelo ensino pr-primrio (escolas maternais e jardins de infncia); ensino primrio

    de 4 anos; ensino mdio (formado pelo ginasial, de 4 anos e o colegial de 3 anos,

    que compreendiam os ensinos secundrio e tcnico (industrial, agrcola, comercial

    e de formao de professores); e o ensino superior. (ROMANELLI, 1998).

    A exemplo da ocorrncia de um processo de modificaes que originou a

    LDB (Lei n 4.024/61), teve-se a Lei n 5.692/71, que fez a juno dos ramos

    profissionais do ensino mdio ao secundrio e desses todos ao curso primrio.

    A Lei n 5.692/71, que fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1 e 2

    graus (BRASIL, 1971, site), proporcionou ao ensino profissional a formalizao

    da obrigatoriedade da profissionalizao do ensino mdio no segundo grau, mas

    por dificuldades esta obrigatoriedade no aconteceu. (SAVIANI, 2003) Ainda em

    1971, foi firmado um acordo de emprstimo internacional entre o Banco Mundial e

    o governo brasileiro, o qual se transformou no primeiro acordo oficializado para a

    rea da educao, tendo sido chamado de Acordo MEC/BIRD I. (ROMANELLI,

    1998).

    Por meio do Acordo MEC-BIRD I, continuava a interferncia externa que

    j vinha ocorrendo no Brasil, sendo exemplo disso vrios acordos assinados em

    1966, entre o Brasil e o United States Agency International for Development

    (USAID): o acordo entre o Ministrio da Agricultura, o Conselho de Cooperao

    Tcnica da Aliana para o Progresso (CONTAP) e USAID, que firmaram acordo

    para treinamento de tcnicos rurais; o Acordo MEC/CONTAP/USAID, visando

    expanso e ao aperfeioamento de professores de ensino mdio no Brasil; o

    Acordo MEC/USAID, objetivando modernizao administrativa universitria; o

    Acordo MEC/INEP/CONTAP/USAID, sob a forma de aditivo aos acordos

    anteriores para aperfeioamento do ensino primrio. (HISTRIA DA EDUCAO

    NO BRASIL, 2009, site).

    Os acordos mencionados mostram que se fazia presente uma influncia

    externa nos destinos das polticas educacionais brasileiras, seja no ento ensino

    primrio, no ensino mdio, em cursos tcnicos. Silva (2003, p. 286), a respeito,

    afirma que,

    Durante a gesto Robert McNmara (1968-1981) o Banco Mundial assumiu a poltica estratgica de diversificao setorial de emprstimos, redimensionando-os de acordo com os seus interesses polticos, ideolgicos e econmicos para alcanar a economia dos pases capitalistas devedores.

  • 10

    O Banco Mundial, ainda na gesto McNamara, aprimorou sua poltica

    econmica e suas estratgias para alcanar e modificar a economia dos governos

    devedores (SILVA, 2003, p. 286), o que fez com que essa instituio financeira

    se apresentasse como a nica com os instrumentos capazes de reduzir a

    pobreza, combater o analfabetismo e com capacidade para aplicar polticas

    econmicas rentveis e compatveis. (SILVA, 2003, p. 286)

    Para Saviani (2007, p. 400), [...] a dcada de 1980 uma das mais

    fecundas da nossa histria, rivalizando apenas com a dcada de 1920 [...].

    Saviani (2003, p. 34) relata a tentativa de vrios estados de implementar a poltica

    educacional vigente durante a dcada de 1980. Assim, Em nvel estadual,

    diversos governos de oposio ao regime militar, eleitos em 1982, ensaiaram

    medidas de poltica educacional de interesse popular. Neste sentido, ocorria a

    exigncia de modificar a Lei de Diretrizes e Bases da Educao brasileira, o que

    implicou modificaes nos anos que se seguiram. A oportunidade surgiu com a

    instalao da Nova Repblica e a aprovao de uma nova Constituio Federal

    (SAVIANI, 2003).

    Assim, em 20/12/1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases foi sancionada,

    trazendo mudanas significativas em todos os nveis de ensino escolar, as quais

    perduram at os dias atuais. Uma das mudanas significativas foi quanto

    preparao para o trabalho, estabelecida pelo seu pargrafo 2 do artigo 36,

    segundo o qual O ensino mdio, atendida a formao geral do educando, poder

    prepar-lo para o exerccio de profisses tcnicas (BRASIL, 1997, site), e pelos

    artigos de 39 a 42.

    Conforme especificam esses artigos da Lei n 9.394/96, as diretrizes para

    a educao profissional devero tornar o indivduo apto para a vida produtiva. A

    escola fornece conhecimentos que tenham alguma utilidade para que o aluno

    possa engajar-se profissionalmente e participar da comunidade. Assim a LDB

    incorpora trabalho de forma restrita e universal; o corolrio do incentivo

    integrao da escola comunidade. (SAVIANI, 2003)

    Com relao ao Ensino Mdio, a grade curricular contm as disciplinas

    que so comuns e as que so obrigatrias em toda a base nacional. Porm,

    existe a flexibilidade, explcita nos artigos da LDB, dada a diversidade de cada

    escola.

    Em referncia Educao Profissional, ou preparo para o ingresso no

  • 11

    mercado de trabalho, com base na LDB, em seus artigos de 39 a 42, do Captulo

    III, entende-se que a funo da escola preparar os alunos com conhecimentos

    bsicos sobre as profisses e sobre as perspectivas para o ingresso no mercado

    de trabalho. Tem-se, tambm, a concepo de que dever ocorrer a preparao

    para o exerccio da cidadania, para a autonomia e para o pensamento de forma

    tica.

    Saviani (2003, p. 216), no que tange ao Ensino Profissional, se manifesta

    da seguinte forma em relao ao Captulo III da LDB:

    Esse captulo parece mais uma carta de interveno do que um documento legal, j que no define instncias, competncias e responsabilidades. Alm disso, esse projeto traz como conseqncia o descumprimento do MEC em relao s escolas tcnicas federais, provavelmente a experincia mais bem-sucedida de organizao do nvel mdio a qual contm os germens de uma concepo que articula formao geral de base cientfica com o trabalho produtivo, de onde poderia se originar um novo modelo de ensino mdio unificado e suscetvel de ser generalizado para todo o pas.

    O Decreto n 2.208, de 17/04/1997, regulamentou o 2 do art. 36 e os

    artigos de 39 a 42 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Segundo Souza

    (2006, p. 478),

    Em lugar de constituir uma unidade interativa entre a escola e trabalho, a proporo contida no Decreto n. 2.208/97 restringe-se mera diviso do trabalho educacional, onde educao profissional cabe o papel de fornecer a qualificao social na forma de conhecimento e habilidades gerais para o exerccio de atividades produtivas necessria para jovens e adultos se adaptarem s novas demandas de produtividade e competitividade.

    Entende-se que o Decreto n 2.208 permitiu uma educao profissional

    interligada aos interesses dos empresrios. Na compreenso de Souza (2006, p. 481),

    A proposta de governo propunha um modelo de desenvolvimento economicamente sustentado, de participao ativa na vida internacional, de abertura para o mundo, modelo de justia social em que o direito vida com dignidade fosse garantido, assegurando a insero da economia brasileira no mercado globalizado.

    Entretanto, conforme Harvey (1992), a globalizao deixa marcas nas

    relaes do trabalho, no modo de regulamentar a vida social e poltica. Neste

    sentido, o fenmeno da globalizao , ao mesmo tempo, gerador de riquezas e

    responsvel pelo aumento dos excludos do processo social, aumentando o

  • 12

    agravamento das desigualdades sociais e, consequentemente, da excluso social.

    Com relao ao agravamento das desigualdades sociais, pode-se pensar na poltica pblica educacional implantada na dcada do ano 2000, que foi o Plano Nacional de Educao, o qual se concretiza com duas perspectivas para a poltica educacional. Segundo Valente e Romano (2002, p. 99), essas duas perspectivas traduziam dois projetos conflitantes do pas: o projeto democrtico e popular, expresso na proposta da sociedade, e o plano que expressava a poltica do capital financeiro-internacional e a ideologia das classes dominantes, devidamente refletido nas diretrizes e nas metas do governo. Para Valente e Romano (2002), esse plano deveria ser mais bem articulado com a sociedade brasileira, pois, mesmo sendo aprovado pelo congresso, transparece o desejo do Banco Mundial para pases subdesenvolvidos.

    Outra poltica, implementada , com relao profissionalizao, foi a Lei

    n 10097/2000, que regulamenta o trabalho de sujeitos abaixo dos 18 anos de

    idade. Como uma lei recente, dever passar por estudos e avaliaes.

    Props-se este estudo como um esboo para um futuro aprofundamento

    das questes apontadas. Considera-se relevante ressaltar alguns tpicos que, de

    modo resumido, podem revelar as primeiras reflexes sobre o tema das polticas

    pblicas educacionais.

    Para Boneti (2008, p. 58),

    Os diferentes momentos histricos da sociedade nos mostraram que a questo social aparece evidenciando uma relao de diferenciao entre as diferentes camadas sociais, que formam a totalidade social, tendo o espao produtivo como insero.

    Com efeito, acredita-se que a efetividade das polticas pblicas

    educacionais ocorrer no intuito de possibilitar que mais indivduos tenham

    acesso ao trabalho e escapem da pobreza e da marginalizao.

    Mesmo compreendendo que o trabalho o elemento que integra os

    indivduos sociedade, para Boneti (2008, p. 85),

    a partir desta tica, no mais da garantia do emprego, mas do trabalho conquistado no mbito da competitividade do mercado, que atuam as instituies de repasse a diferentes segmentos sociais do conhecimento socialmente produzido. Trata-se de instrumentalizar os sujeitos sociais de um conhecimento til, mas exige-se deles uma homogeneidade de afinada racionalidade instrumental.

    Outra importante dimenso a destacar que se deve considerar, na

    execuo da educao, a participao decisria de instituies que financiam

  • 13

    projetos, como, por exemplo, o Banco Mundial. Exemplo disso dado por Deitos

    (2006), que menciona o financiamento, por meio do Banco Mundial, para o Ensino

    Mdio e para o Ensino Profissional. Segundo Deitos (2006, p. 104), ao se verificar

    as despesas financeiras produzidas pelos programas, constatar-se- que os recursos oriundos do financiamento externo no acrescentaram quase nada, sob o aspecto das necessidades geradas pelos problemas educacionais nacionais, e pouco serviram para minimiz-los.

    Desse modo, compreende-se a poltica pblica educacional como uma

    poltica social que aflora no processo histrico pelo Estado Capitalista. De acordo

    com Boneti e Gisi (2007, p. 68),

    Atualmente esta questo se agrava devido ao prprio avano das relaes capitalistas, quando o acesso ao conhecimento tcnico no garantido igualitariamente a todas as camadas sociais. O conhecimento tcnico para um pas capitalista globalizado passa a ser um bem de capital. Mesmo o conhecimento supostamente garantido pelo Estado, a forma como se d a sua distribuio, beneficia segmentos sociais mais abastados que os outros.

    A permanncia da escola de forma linear, anos a fio, permite a sutil incorporao das regras do mundo social, que recheado de smbolos de poder, como, por exemplo, o corpo tcnico, como orientadores, supervisores e administradores, e o diretor, fazendo com que o aluno tome conscincia das relaes de fora e poder que existem na sociedade.

    Assim, a ao de todo o corpo tcnico da escola vai sendo reconhecido e legitimado pelos alunos de forma sutil e no arbitrria, fortalecendo as relaes de poder. bem verdade que as relaes de poder esto propensas a se reproduzirem, estabelecendo as hierarquias, nas quais os sistemas simblicos teriam, em si mesmos, a sustentao para se constituir o poder na sociedade. Em relao aos jovens desta pesquisa, aqueles que so capazes de produzir textos com uma letra legvel e de calcular com base nas operaes matemticas, teriam sua produo considerada superior aos que ainda no tm este esquema mental. Este esquema de pensamento, comparando um jovem que tem uma trajetria linear que possibilitou a sua educao para o trabalho, nem sempre percebida, o que transcorre nas entrevistas com os sujeitos desta pesquisa de forma sutil.

    Para Bourdieu (2004, p. 164), um ttulo, como o ttulo escolar, capital

    simblico universalmente reconhecido e garantido, vlido em todos os mercados.

    Enquanto definio oficial de uma identidade oficial, ele liberta seu detentor da

  • 14

    luta simblica de todos contra todos, impondo a perspectiva universalmente

    aprovada. O capital simblico, segundo Bourdieu (1996b, p.107), uma

    propriedade qualquer (de qualquer tipo de capital fsico, econmico, cultural,

    social), percebida pelos agentes sociais cujas categorias de percepo so tais

    que eles podem entend-las e reconhec-las atribuindo-lhes valor.

    Parece que o jovem, por querer ingressar no trabalho e conseguir a sua

    legitimidade perante a sociedade, encontra respaldo nas instrues que recebeu

    ao longo dos anos na escola. nesse sentido que a sua aprovao ou no diante

    de uma entrevista tem a correspondncia em sua carreira escolar que, para

    alguns, foi positiva e, para outros, foi dolorosa e negativa. O aluno, diante de uma

    srie de fatores, teve que representar ou atuar em um campo escolar e se utilizar

    desses conhecimentos para enfrentar a sua insero na sociedade laborativa.

    Sendo assim, no apenas nas ltimas sries da escola, os alunos

    deveriam ser preparados para o trabalho, mas esse processo deveria ter incio j

    no jardim de infncia; desta maneira, os jovens comeariam a visualizar seu

    prprio papel e a funo na sociedade em que vivem.

    Para um empresrio entrevistado, participante desta pesquisa,

    A escola inclui a todos, mas o adolescente tem que querer; se nosso funcionrio, parou de estudar, ele ser incentivado a voltar aos estudos. E na entrevista, percebemos na trajetria que possvel confiar, que assim que ele for contratado permanecer com seus estudos. Afinal, a empresa incentiva a estudar. Sendo assim, ningum sai ileso. A escola comea a formao, oferecendo horrios, regras, que tudo culmina no mercado de trabalho; ele a continuao da escola. (Grifo nosso)

    Visto o trabalho como uma extenso da escola, de acordo com os dizeres

    do empresrio entrevistado citado, considera-se que as regras do jogo que so

    absorvidas por meio das brincadeiras, ou mesmo durante as aulas, fixam o

    padro para as leis da sociedade.

    Segundo Bourdieu e Passeron (1992, p. 82-83),

    Particularmente manifesta nos primeiros anos de escolaridade em que a compreenso e o manejo da lngua constituem o alvo de ateno principal no julgamento dos mestres, a influncia do capital lingstico no cessa nunca de se exercer: o estilo permanece sempre levado em conta, implcita ou explicitamente, em todos os nveis do ensino mdio e, ainda que em graus diversos, em todas as carreiras universitrias, mesmo cientficas. Mais do que isso, a lngua no apenas um instrumento de comunicao, mas ela fornece, alm de um vocabulrio mais ou menos rico, um sistema de categorias mais ou menos complexo, de sorte que a aptido decifrao e manipulao de estruturas

  • 15

    complexas, quer elas sejam lgicas ou estticas, depende em certa parte da complexidade da lngua transmitida pela famlia.

    H, aqui, uma tendncia que se pode apontar para ocorrncia dessa

    situao, ou seja, se o agente (aluno) aprende o que lhe repassado na escola, isto

    , o manejo da lngua, o capital lingstico da famlia nunca pra de exercer

    influncia. A lngua no seria apenas um elemento de comunicao, mas fornece ao

    interlocutor todo um sistema de estruturas internalizadas desde a infncia. O fato de

    ter dificuldades em se expressar poderia dificultar o aprender a ler e a escrever;

    penetrando na prpria conscientizao de suas atitudes e aspiraes da sociedade.

    As aes desenvolvidas pelos jovens se transformam em aes sociais, se eles atriburem a elas um sentido prprio e se esses se relacionarem com o comportamento de outras pessoas. Seguindo esse raciocnio, outro estudioso das Cincias Sociais, Weber (2003), acreditava que os seres humanos so conscientes de suas aes. O autor distingue formas da ao social: a ao racional em relao a um fim, a ao racional em relao a um valor e a ao objetiva. Weber (2003) compreende a conduta dos seres humanos levando em conta se esta leva em considerao as atitudes ou aes do outro.

    Para entender o trabalho dos jovens, segundo Weber (2003), deve-se

    compreend-lo socialmente, envolvendo a anlise da sua situao social e o

    entendimento das suas intenes no mundo capitalista.

    Para Weber (2003), o ser humano atua racionalmente, visando aos fins,

    comparando racionalmente os meios com os fins, com suas consequncias. Ele

    visa a valores e age conforme sua crena religiosa, conforme sua formao

    anteriormente aprendida socialmente. Essas aes so aprendidas conforme a

    classe social de que faz parte.

    A classe social uma questo de poder para a produo ou para a

    aquisio de bens. Para Weber (2003), dependendo do seu status social, o poder se

    manifestaria socialmente. Diante desta afirmao, parte-se para questionamentos:

    Ser que os jovens que no conseguem adentrar o mercado de trabalho encontram

    em seu status social um entrave? Tem-se o entendimento de que as atitudes dos

    pais ajudam a condicionar as atitudes dos filhos, e que as estratgias em educ-los

    est interligada a sua prpria vivncia social, cultural e educacional.

    evidente que a vivncia de situaes sociais, como a vida na escola,

    diferente para cada um dos envolvidos, existindo uma crena de que todos

  • 16

    deveriam ter as mesmas oportunidades, fazendo com que todos os componentes

    da sociedade fossem iguais.

    Para Weber (2003), a cincia ou os estudos da sociedade deveriam ser

    dedicados a compreender e a explicar os valores nos quais acreditam. Em outras

    palavras, esta pesquisa pretende extrair o contedo simblico da ao que o

    jovem empreende durante a sua insero no mercado de trabalho.

    Na escola, o aluno pratica aes, e Weber (2003) relata que a ao aquela cujo sentido pensado pelo jovem referida ao comportamento dos outros, seja seu colega ou professor, orientando-se por ele o seu comportamento.

    A educao escolar tornou-se destaque nas preocupaes empresariais,

    em vista de aumentar a adaptabilidade do contratado aos imperativos da prtica

    diria do trabalho.

    Concebe-se que, para desempenhar uma funo, se necessita ter as

    noes de limites, regras e reflexos interiorizadas por meio da educao e que o

    jovem tem que colocar em prtica o que foi incorporado ao longo dos anos na

    escola ou com seus pais e ou responsveis.

    Considerando o pensamento dos autores citados, entende-se que se

    esteja utilizando a concepo de habitus de Bourdieu (1996a, p. 21), que a

    enfatiza como um sistema transfervel de disposies socialmente constitudas.

    O habitus revela a ligao entre o pensamento do jovem que se origina dentro de

    sua camada social e a articulao da sociedade dividida em camadas e expressa

    a forma por meio da qual o jovem internaliza as possibilidades definidas pela sua

    camada social, tendo em vista a sua insero laboral.

    Confirma-se, assim, que o importante no somente o resultado escolar, mas se foi resultado de um tempo adequado de dedicao. Esta ser, tambm, a equao pela qual o jovem ser avaliado na empresa: se ele capaz de produzir e se organizar no transcorrer de sua jornada de trabalho.

    Uma das empresas entrevistadas nesta pesquisa repassou a avaliao que ocorre no transcorrer da evoluo do funcionrio contratado, seja jovem ou adulto: a avaliao, com o tempo, adquire formato mais especializado ou detalhado, a fim de medir aspectos como rejeio ao tempo, organizao, empenho, liderana, respeito aos colegas e hierarquia. A prtica cotidiana demonstrou que, a fim de equilibrar a avaliao, verificado se o jovem contratado foi dedicado, igualando-se ao que ocorre no ambiente escolar.

    No incio do sculo XXI, a necessidade da entrada no mundo do trabalho

  • 17

    exige do jovem esperteza suficiente que a ele possibilite utilizar as prticas do tempo na escola no tempo do trabalho. O argumento utilizado pelo empresrio exige que a postura do jovem ajude a empresa a crescer economicamente, o que confirmado por meio das avaliaes escolares.

    A interligao entre trajetria escolar e o tempo dedicado s tarefas e aos

    estudos escolares encontra respaldo na seguinte citao de Enguita (1989, p. 205):

    Quando se eleva a nota de um aluno porque empenhou-se bastante, embora seus resultados sejam ruins, ou se reduz a de outro porque no se esfora, embora seus resultados sejam bons, se est reconhecendo que o que preocupa a escola, nos alunos, o comportamento ou o carter, mais que o conhecimento ou as capacidades.

    As palavras de Enguita (1989) revelam que a escola avalia de acordo com

    a capacidade individual do jovem, preparando-o para atuar competitivamente

    conforme o funcionamento do prprio mundo de trabalho. S ter um nvel de

    estudo j no a certeza de ter um trabalho. Diante das novas exigncias,

    preciso que o jovem seja criativo e, ao mesmo tempo, flexvel para aceitar as

    regras da empresa.

    Todavia, os jovens que realizam a interao entre famlia, escola e empresa devem satisfazer a sua exigncia real para sua vida, pois a mscara representar a concepo que ele faz de si mesmo, que ser o papel que se esforar para viver. Esta ser seu verdadeiro eu: aquilo que gostaria de ser. A escola pode ajudar na construo deste papel que, por sua vez, pode ser a parte principal de sua personalidade, pois ele entra na escola como um indivduo e, se aceita as regras, adquire um carter e se torna uma pessoa.

    Assim mesmo, as semelhanas na estrutura da escola e na empresa que,

    aparentemente, so diversas se refletem na igualdade do pensamento dos

    empresrios, funcionrios ou professores e diretores ou corpo pedaggico. Quer

    se trate de uma avaliao escolar ou avaliao do rendimento profissional, os

    dirigentes veem se a representao ocorreu dentro do que esperado para o

    bom funcionamento da empresa ou escola.

    sabido que o certificado de concluso do Ensino Fundamental ou Mdio

    legitima a posio social que o jovem ocupa. Para o senso comum, os certificados

    serviriam para demonstrar que as posies na sociedade se definem pelo nvel de

    estudo, mas a elevao do mnimo de qualificao tcnica exigida para o

    exerccio de algumas funes pretendidas pelos jovens no traz consigo a

  • 18

    igualdade entre a qualificao tcnica que a escola certifica e a qualidade social

    que o certificado chancela. Isto quer dizer que no basta o jovem ter concludo o

    Ensino Mdio ou Fundamental para que as possibilidades do acesso ao mercado

    de trabalho sejam mais positivas.

    Desta forma, o sistema escolar reproduz os contedos como forma de

    inculcao e reproduz, tambm, a estrutura de distribuio cultural por meio das

    regras escolares, pressupondo que os alunos tenham essas regras familiarizadas,

    pois pertencem cultura dominante. Dessa forma, o fato de ter aceito essas

    regras permite que o aluno tenha a sua trajetria escolar de forma linear, salvo

    mudanas de cidade. E, ao final do ano letivo, lhe concedido um prmio, uma

    certificao ou aprovao que so reconhecidos e legitimados socialmente.

    De acordo com o pensamento de Bourdieu e Passeron (1992), os valores

    da famlia so vividos pelos jovens de forma nica e so apreendidos

    naturalmente. Sendo assim, os ensinamentos, a cultura que transmitida pela

    escola so considerados universalmente como vlidos para a obteno do

    certificado da trajetria escolar.

    Apesar de a famlia ter, para seu ncleo, valores e uma seleo de

    significaes, a escola, como instituio, tambm tem impregnados, em sua rede

    de aes, seus valores e significaes que, para muitos, so considerados uma

    forma arbitrria de educao que sustentada pela classe social de que faz parte.

    Os empresrios entrevistados acreditam que alguns jovens tm um dom

    no domnio de uma funo, o que facilita a sua aceitao na entrevista seletiva e

    que outros, com a trajetria no-linear, por no demonstrarem interesse em

    querer aprender ou estudar caso sejam aprovados, so descartados logo no

    incio. Na verdade, no existia o dom, e sim as diferenas nas trajetrias

    escolares dos jovens que passaram na entrevista, as quais decorrem da maior

    proximidade entre a cultura da famlia e a cultura da escola.

    Percebe-se que a socializao primria, ou seja, a apreendida desde a

    primeira infncia no interior da famlia, tem um grande peso na formao da

    personalidade. No pensamento de Bourdieu; Boltanski (1989), a ao pedaggica

    exercida pela famlia permanece nas pessoas de forma duradoura, pois foi

    incorporada na forma de habitus.

    Responder aos imperativos do mercado de trabalho to importante na sociedade contempornea como respirar ou alimentar-se. O jovem impelido a

  • 19

    atender a esses imperativos, visto que a sociedade e a prpria famlia o impulsionam entrada no mundo do trabalho. Para ir em direo a esta impulso social, necessrio lembrar o que Bourdieu (1997) relata, ou seja, a ideologia espontnea do capitalismo, a qual alerta sobre um arbitrrio cultural que est impregnado no campo de atuao desses jovens.

    A dominao social do capitalismo faz com que a fora de trabalho seja

    aceita, pois ele percebe a venda desta fora de trabalho pelos pais, ou seja, quem

    trabalha se sente til e tem um sentido para a sua vida.

    Diante do exposto este artigo procurou lanar reflexes sobre o acesso ao mercado de trabalho por meio das polticas pblicas educacionais, com base, sobretudo, em entrevistas semi-estruturadas com jovens, seus pais e empresrios ou representantes que inserem ou no esses jovens no espao laborativo. A anlise se voltou para a identificao dos fatores que dificultam e/ou impedem, ou facilitam, a insero desses jovens no mercado de trabalho, bem como averiguar se os reflexos das prticas utilizadas no habitus familiar podem exercer influncia sobre a sua insero ou no no mercado de trabalho e verificar os critrios utilizados na seleo de um jovem pelo empresariado.

    No que tange avaliao para a entrada no mercado de trabalho, no

    contexto desta pesquisa, os jovens se submetem aos critrios utilizados pelos

    empresrios ou representantes que os entrevistam. Constatou-se, por meio das

    entrevistas com os empresrios ou seus representantes, que a aparncia do

    jovem, sua expresso verbal e sua demonstrao de interesse no momento da

    entrevista constituem aspectos positivos no processo seletivo. Alm disso, foram

    mencionados, tambm como aspectos positivos, escrever corretamente, ter letra

    legvel, ter uma meta para sua vida, a existncia de compatibilidade entre a idade

    e a srie e ter crena religiosa.

    Como aspectos negativos, a letra legvel e a aparncia foram novamente

    mencionadas, revelando que os empresrios ou responsveis observam o

    descuido com o corpo, a maneira de vestir, o asseio e a higiene corporal. Outro

    aspecto negativo apontado foi o jovem no ter algum responsvel por ele, no

    ter religiosidade e no respeitar os pais, os professores e familiares. Esses

    aspectos revelam que o investimento que os pais empreendem, como, por

    exemplo, o acompanhamento, a valorizao, a aceitao e o respeito disciplina

    escolar favorecem, futuramente, o ingresso no mercado de trabalho.

    Por serem as anlises desta pesquisa baseadas na perspectiva da

  • 20

    construo histrica do conhecimento, este pequeno recorte da comunidade

    blumenauense, no que se refere insero do jovem no mercado de trabalho,

    sinaliza a possibilidade de resistncia em pensar sobre a construo de novas

    relaes sociais, em que a trajetria escolar do jovem possa ter maiores

    possibilidades de entender, de forma profunda, o cotidiano das relaes

    familiares e escolares. Nesse contexto, os dados dos empresrios revelam que

    existe uma uniformidade de fatores na escolha dos jovens e que existe uma

    relao nica desses com a empregabilidade negativa.

    O estudo demonstrou que a parceria entre as famlias e a escola tem

    aes diferenciadas para cada entrevistado, mas que a trajetria escolar revela

    um descompasso entre as expectativas dos pais e o resultado obtido. Nesse

    sentido, as expectativas dos pais estavam concretamente interligadas vida

    social que mantinham, revelando que existe uma rede de significados que so

    socialmente compartilhados, sobretudo com os outros filhos e com parentes. O

    jovem tem incorporado o seu mundo social com sua maneira de agir e reagir, de

    certa forma, o seu modo de pensar e sentir. Igualmente evidencia que o papel da

    escola ou da famlia no so as nicas instituies interligadas na insero do

    adolescente no mercado de trabalho, mas tm que ser pensadas, constitudas e

    constituintes das relaes sociais, como revela Frigotto (2003, p. 11).

    Neste incio de terceiro milnio, a sociedade traz ao jovem uma srie de

    interrogaes, cabendo escola, neste novo contexto, trabalhar com outros

    elementos, alm dos tradicionais, pois o jovem de hoje, alm de viver num outro

    universo e ter novas expectativas, precisa fugir da excluso social. Contudo, no s

    os educadores, mas tambm os pais, enfrentam o desafio de contribuir com os

    jovens para que se adaptem ao momento social em que esto inseridos. Este

    desafio pode ser vencido pelo cultivo do hbito do dilogo no qual estejam propostos

    o pensar a resoluo de situaes e a frequncia em momentos culturais.

    A educao somente por meio da escola no mais suficiente para

    garantir ao jovem o sucesso na trajetria escolar. Entretanto, oferece uma

    possibilidade a mais, um quesito que ser avaliado em sua iniciao no mercado

    de trabalho e melhores opes que a marginalidade. Os lugares ou as ocupaes

    que os jovens esto aceitando apontam para o agravamento da situao de

    marginalizao e de desnivelamento social, que so resultantes de uma

    inadequao ao mercado de trabalho. Isso significa compreender que o que est

  • 21

    em discusso a importncia ou no da trajetria ser linear, em que o poder

    perpassou as vrias sries escolares, pois so reconhecidas como o lugar onde

    se aprendem as regras do mundo social. A escola teria seu papel legitimado de

    fazer com que o aluno se reconhea como membro de uma classe na expectativa

    de se inserir no mundo do trabalho.

    Nesta pesquisa, demonstrou-se que sentimentos ocultos no mbito

    familiar foram revelados, sentimentos reprimidos, como a correlao entre o

    sucesso escolar e a certeza da entrada no mundo do trabalho, ligados

    inteligncia e ao bom rendimento do jovem com a sua origem social, ou melhor,

    com o capital cultural herdado da famlia.

    Considera-se que a discusso proposta nesta pesquisa sobre o acesso

    ao mercado de trabalho por meio das polticas pblicas educacionais deveria

    ganhar espao nos debates em todo o Brasil, pois a preocupao com a

    reformulao nos sistemas educacionais se faz necessria, com a introduo do

    currculo de matrias que facilitem ao adolescente conhecer sua aptido e com a

    modernizao dos equipamentos na rea da informtica.

    Apresenta-se como cada vez mais fundamental a solidificao das

    estruturas que permitam ao jovem acessar a escola, por meio da distribuio da

    renda, de melhores condies educacionais e de um crescimento econmico

    distribudo de forma igualitria em todas as camadas sociais.

    Espera-se que se tenha transmitido ao leitor que a complexidade da

    importncia da aceitao da escola est na realidade social, visto que, por todas

    as razes mencionadas, se deve ir alm do senso comum, bem como que real

    e, por analogia estrutural e funcional, que, entre o campo escolar e o campo

    empresarial existe a complementao de ambos.

    As observaes feitas permitem afirmar que o trabalho est se

    modificando e que se est diante de um processo de insero ao trabalho que

    exige o retorno aos determinantes econmicos, escolares e sociais das inmeras

    inferncias liberdade dos jovens.

    Essas mudanas no campo do trabalho exigem que a escola tambm se

    modifique, ou seja, o trabalho intelectual est adquirindo novos contornos, o que

    obriga a escola a assumir outro papel que no seja mais o de mera repassadora

    de informaes que, inclusive, j esto disponveis nos meios eletrnicos de

    comunicao e informao.

  • 22

    A sociedade nutre uma imagem de que existem as mesmas oportunidades para todos os jovens, mas isto no corresponde realidade. Essa sensao gera o efeito de que eles se sentem fracassados e com a perda da auto-estima, e excludos socialmente. Boneti (2003, p. 28) explica que o termo excluso significa mais do que separar, segregar, discriminar grupos sociais por determinadas caractersticas inatas ou desenvolvidas. Para o autor, excluir tem o significado de expulsar do mundo dominante, de literalmente colocar para fora dos parmetros e das normas que regem as relaes sociais; no apenas marginalizar e sim desconsiderar a existncia humana. Excluir significa criar e perpetuar condies sociais que tornam permanente o ato de morrer. (BONETI, 2003, p. 28). Assim, considera-se ser includo nas entrevistas seletivas levanta indcios que podem auxiliar a compreenso dos mecanismos que produziram a trajetria escolar

    Sugere-se que os empresrios assumam compromissos e responsabilidades em uma nova dimenso, que vo muito alm do enfoque puramente financeiro, agregando novos valores empresariais e empreendedores, que considerem a vida social e a conduta tica da empresa, apoiando a implementao das polticas pblicas.

    Para Pochmann (2000, p. 56), quanto mais favorvel o funcionamento do

    mercado de trabalho, quanto mais efetivos os programas de garantia de renda e

    quando maior qualidade tiver o sistema educativo, menor a proporo de pessoas

    que tendem a abandonar a condio de inatividade. O trabalho assume a funo

    educativa e se constitui um fator decisivo em sua vida. um valor, um instrumento

    de realizao humana que se subordina a outros valores, tais como direito ao

    convvio familiar, sade, ao lazer, educao e formao tcnico-profissional.

    Para Gisi (2004, p. 50), so desafios

    que dizem respeito busca da qualidade da educao em todos os nveis de escolarizao. Esta, por sua vez, diz respeito ao financiamento da educao e proposio de projetos pedaggicos que contemplem a diversidade cultural e propiciem uma aprendizagem efetiva, em especial para aqueles que tiveram menores oportunidades educacionais. Os desafios dizem respeito tambm proposio de formas de ingresso que contribuem com a democratizao da educao e com a construo da cidadania.

    Diante do exposto, no que se refere a polticas pblicas educacionais, h

    que se pensar nas estratgias para se garantir uma maior estabilidade social, pois

    volta-se questo que originou a pesquisa: o acesso ao mercado de trabalho por

    meio das polticas pblicas predispe diminuio de chances dos jovens no

  • 23

    mercado de trabalho? Talvez fosse mais prudente falar numa escola e numa

    educao familiar em sintonia com o mundo social, com sua proposta e suas

    modificaes, com seu espao e com seu tempo de ao.

    Neste sentido, chama-se a ateno para a necessidade de uma

    revalorizao epistemolgica do espao escolar, de sua natureza e de suas

    transformaes por meio das experincias educativas e seus movimentos sociais,

    a fim de que o jovem conhea a origem social de seu sofrimento de no conseguir

    adentrar o mercado de trabalho.

    Conclui-se que a educao, como uma poltica social, tem sua relevncia

    no que se refere a sua funo de socializao do conhecimento, acarretando um

    processo de insero que lhe legitimado e favorecendo sua importncia poltica

    de preparar para o acesso ao mercado de trabalho.

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