tese rio
TRANSCRIPT
-
i
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
ASTROLOGIA E PERSONALIDADE:
O EFEITO DO CONHECIMENTO DAS
CARACTERSTICAS DO SIGNO SOLAR
EM VARIVEIS MEDIDAS PELO 16 PF
PAULO ROBERTO GRANGEIRO RODRIGUES
SO PAULO 2004
-
ii
PAULO ROBERTO GRANGEIRO RODRIGUES
ASTROLOGIA E PERSONALIDADE:
O EFEITO DO CONHECIMENTO DAS
CARACTERSTICAS DO SIGNO SOLAR EM
VARIVEIS MEDIDAS PELO 16 PF
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, como parte dos requisitos para obteno do grau de Doutor em Psicologia rea de concentrao: Psicologia Social Orientadora: Dra. Anna Mathilde Pacheco e Chaves Nagelschmidt
SO PAULO
2004
-
iii
Ficha Catalogrfica preparada pelo Servio de Biblioteca
e Documentao do Instituto de Psicologia da USP
Rodrigues, P. R. G. Astrologia e personalidade: o efeito do conhecimento das caractersticas do signo solar em variveis medidas pelo 16 PF./ Paulo Roberto Grangeiro Rodrigues. So Paulo: s.n., 2004. 160p. Tese (doutorado) Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo. Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Orientadora: Anna Mathilde Pacheco e Chaves Nagelschmidt. 1. Astrologia 2. Atribuio de causalidade 3. Personalidade 4.
Questionrio de dezesseis fatores de personalidade I. Ttulo.
-
iv
ASTROLOGIA E PERSONALIDADE: O EFEITO DO
CONHECIMENTO DAS CARACTERSTICAS DO SIGNO SOLAR
EM VARIVEIS MEDIDAS PELO 16 PF
PAULO ROBERTO GRANGEIRO RODRIGUES
BANCA EXAMINADORA ___________________________________
(Nome e Assinatura)
___________________________________ (Nome e Assinatura)
___________________________________ (Nome e Assinatura)
___________________________________ (Nome e Assinatura)
___________________________________ (Nome e Assinatura)
Tese defendida e aprovada em ___ / ___ / ______
-
v
AGRADECIMENTOS
Gostaria de ser mais efusivo, mas minha tendncia de ser conciso. Meu signo,
Escorpio, prev uma introverso e uma concentrao que no meu caso so facilmente
constatveis. Mas tenho muito a agradecer, de muita gente amiga e companheira. No se
faz cincia sozinho, diz minha orientadora, e o percebi muito bem com esta Tese. Houve
muitos colaboradores: Mais uma vez a orientadora conduziu com firmeza meu pensamento
e minha produo. Ficam mais lies, sobre honestidade cientfica, clareza mental e
atualizao de conhecimentos. Mais ainda, sua Mandala de Palavras me iluminou numa
fase crucial da anlise dos dados. Minha me Antnia continuou com seu apoio, seu
incentivo e suas bnos, conduzindo meus sentimentos e minha autoconfiana de modo
sutil. Meus filhos sis e Tiago, cada um a seu modo participando desta empreitada longa e
difcil, compreendendo minhas ausncias. Minha companheira Ana, que deu tanto apoio e
suportou muitas vezes minhas angstias e ansiedades. Os amigos Amrico Rufino (meu pai
espiritual), Gilberto Sandonato (cientista do INPE, de longas conversas sobre Similaridade
e interfaces entre Fsica e Psicologia); Jos Luis da Silva, do CTA, sugerindo e apoiando.
O casal de amigos pesquisadores Rose Mary e Marcelo Lopes. Os colegas professores
Elias Boainain, da UNITAU; Walter Dias, Danielle Corga, Antnio Carlos Peixoto,
Patrcia Accacio, Orlete de Lima, da UNIP, que ajudaram tanto por dilogos
esclarecedores quanto por colaborarem gentilmente na coleta dos dados. Os alunos, que
desde 1999 tm colaborado para meu crescimento profissional, especialmente aqueles
alunos cujos resultados de testes foram usados nesta pesquisa. A amiga Dra. Augusta
Soares Correa, na traduo do resumo para o francs. A todos estes e mais aqueles que
colaboraram de alguma forma para a realizao prtica do Doutorado e a publicao dessa
Tese, minha gratido eterna, e que a felicidade da realizao possa ser compartilhada.
-
vi
SUMRIO
RESUMO ...............................................................................................................................x SUMMARY ..........................................................................................................................xii RSUM..............................................................................................................................xii 1. INTRODUO.......................................................................................................................1 1.1. ASTROLOGIA E SUA IMPORTNCIA NA CULTURA OCIDENTAL.............................................1 1.2. A SOMATRIA DE TODO O CONHECIMENTO PSICOLGICO DA ANTIGUIDADE...........16 1.3. O CRCULO ZODIACAL E A HARMONIA DOS ELEMENTOS .....................................................21 1.4. TESTANDO OS SIGNOS, OS ELEMENTOS E AS DIMENSES DE PERSONALIDADE............34 2. O PROBLEMA: ........................................................................................................................................50 A AUTO-ATRIBUIO VERSUS OS QUATRO ELEMENTOS .............................................................50 2.1. O PODER DA AUTO-ATRIBUIO? ................................................................................................50 2.2. O PODER DOS ELEMENTOS? ...........................................................................................................56 2.2.1. O CIRCUMPLEXO INTERPESSOAL ..............................................................................................56 3. OBJETIVOS DA PESQUISA...................................................................................................................61 3.1. OBJETIVO GERAL ..............................................................................................................................61 3.2. OBJETIVOS ESPECFICOS.................................................................................................................62 4. HIPTESES..............................................................................................................................................63 5. METODOLOGIA .....................................................................................................................................65 5.1. SUJEITOS..............................................................................................................................................65 5.2. INSTRUMENTOS .................................................................................................................................69 5.3. PROCEDIMENTOS ..............................................................................................................................74 6. RESULTADOS.........................................................................................................................................76 6.1. AMOSTRA DIVIDIDA ENTRE NO CONHECEDORES E CONHECEDORES DA ASTROLOGIA.......................................................................................................................................................................76 6.1.1. EXTROVERSO NO GRUPO DE NO CONHECEDORES DA ASTROLOGIA ........................77 6.1.2. EXTROVERSO NO GRUPO DE CONHECEDORES DA ASTROLOGIA..................................78 6.1.3. EXPANSIVIDADE PARA GRUPO DE NO CONHECEDORES.................................................81 6.1.4. EXPANSIVIDADE PARA GRUPO DE CONHECEDORES ..........................................................82 6.1.6. DESPREOCUPAO PARA GRUPO DE CONHECEDORES.......................................................84 6.1.7. INTELIGNCIA NO GRUPO DE NO CONHECEDORES DA ASTROLOGIA..........................86 6.1.8. INTELIGNCIA NO GRUPO DE CONHECEDORES DA ASTROLOGIA ...................................87 6.1.9. AUTODISCIPLINA NO GRUPO DE NO CONHECEDORES ....................................................88 6.1.10. AUTODISCIPLINA NO GRUPO DE CONHECEDORES .............................................................90 6.1.11. ANSIEDADE NO GRUPO DE NO CONHECEDORES.............................................................92 6.1.12. ANSIEDADE NO GRUPO DE CONHECEDORES........................................................................94 6.1.13. ESTABILIDADE EMOCIONAL NO GRUPO DE NO CONHECEDORES ..............................96 6.1.14. ESTABILIDADE EMOCIONAL NO GRUPO DE CONHECEDORES.........................................97 6.1.15. DESCONFIANA NO GRUPO DE NO CONHECEDORES....................................................98 6.1.16. DESCONFIANA NO GRUPO DE CONHECEDORES................................................................99 6.1.17. TENSO NO GRUPO DE NO CONHECEDORES...................................................................102 6.1.18. TENSO NO GRUPO DE CONHECEDORES.............................................................................103 6.2. O GRUPO DE CONHECEDORES DA ASTROLOGIA E O EFEITO DA SUGESTO .................107 6.2.1. INTELIGNCIA NO GRUPO COM SUGESTO PSICOLOGIA .................................................107 6.2.2. INTELIGNCIA NO GRUPO COM SUGESTO ASTROLOGIA ...............................................108 6.2.3. DESPREOCUPAO NO GRUPO COM SUGESTO PSICOLOGIA ........................................109 6.2.4. DESPREOCUPAO NO GRUPO COM SUGESTO ASTROLOGIA ......................................110 7. DISCUSSO E CONCLUSES ............................................................................................................111 7.1. AVALIAO DA 1 DA 2 HIPTESES ..........................................................................................111 7.2. 3 HIPTESE: EXTROVERSO E CONHECIMENTO ASTROLGICO ......................................113 7.3. 4 HIPTESE: ANSIEDADE E CONHECIMENTO ASTROLGICO.............................................114 7.4. A 5 HIPTESE: INTERAO ENTRE DIMENSES ....................................................................122 7.4. CONSIDERAES E RECOMENDAS FINAIS..........................................................................141 ANEXO I: DESCRIES DOS SIGNOS POR TRAOS.....................................................................147 ANEXO II: CONSENTIMENTO ...............................................................................................................148 ANEXO III: FATORES DE PERSONALIDADE NO 16 PF.....................................................................150 8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................................152
-
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: INTELIGNCIA...........................................................................................................................47 Tabela 2: ANOVA .......................................................................................................................................48 Tabela 3: AUTODISCIPLINA.....................................................................................................................53 Tabela 4: ANOVA ........................................................................................................................................53 Tabela 5: COMPOSIO DA AMOSTRA ...............................................................................................65 Tabela 6: DISTRIBUIO DA AMOSTRA .............................................................................................67 Tabela 7: EXTROVERSO para grupo de no conhecedores....................................................................77 Tabela 8: ANOVA ........................................................................................................................................77 Tabela 9: EXTROVERSO para grupo de conhecedores ..........................................................................78 Tabela 10: ANOVA ......................................................................................................................................78 Tabela 11: EXPANSIVIDADE para grupo de no conhecedores...............................................................81 Tabela 12: ANOVA ......................................................................................................................................81 Tabela 13: EXPANSIVIDADE no grupo de conhecedores .........................................................................82 Tabela 14: ANOVA ......................................................................................................................................82 Tabela 15: DESPREOCUPAO para grupo de no conhecedores ..........................................................83 Tabela 16: ANOVA ......................................................................................................................................83 Tabela 17: DESPREOCUPAO no grupo de conhecedores ....................................................................84 Tabela 18: ANOVA ......................................................................................................................................84 Tabela 19: INTELIGNCIA para grupo de no conhecedores ...................................................................86 Tabela 20: ANOVA ......................................................................................................................................86 Tabela 21: INTELIGNCIA para grupo de conhecedores ..........................................................................87 Tabela 22: ANOVA ......................................................................................................................................87 Tabela 23: AUTODISCIPLINA para grupo de no conhecedores..............................................................88 Tabela 24: ANOVA ......................................................................................................................................89 Tabela 25: AUTODISCIPLINA para grupo de conhecedores .....................................................................90 Tabela 26: ANOVA ......................................................................................................................................90 Tabela 27: ANSIEDADE para grupo de no conhecedores ........................................................................93 Tabela 28: ANOVA ......................................................................................................................................93 Tabela 29: ANSIEDADE para grupo de conhecedores ...............................................................................95 Tabela 30: ANOVA ......................................................................................................................................95 Tabela 31: ESTABILIDADE EMOCIONAL no grupo de no conhecedores ............................................96 Tabela 32: ANOVA ......................................................................................................................................96 Tabela 33: ESTABILIDADE EMOCIONAL para grupo de conhecedores ................................................97 Tabela 34: ANOVA ......................................................................................................................................97 Tabela 35: DESCONFIANA para grupo de no conhecedores ................................................................98 Tabela 36: ANOVA ......................................................................................................................................98 Tabela 37: DESCONFIANA no grupo de conhecedores ..........................................................................99 Tabela 38: ANOVA ......................................................................................................................................99 Tabela 39: DESCONFIANA & CONHECIMENTO DE ASTROLOGIA ..............................................101 Tabela 40: ANOVA ....................................................................................................................................101 Tabela 41: TENSO para grupo de no conhecedores .............................................................................102 Tabela 42: ANOVA ....................................................................................................................................102 Tabela 43: TENSO para grupo de conhecedores ....................................................................................103 Tabela 44: ANOVA ....................................................................................................................................103 Tabela 45: TENSO & CONHECIMENTO DE ASTROLOGIA ............................................................105 Tabela 46: ANOVA ....................................................................................................................................105 Tabela 47: DESPREOCUPAO & Conhecimento & Sugesto Psicologia.............................................109 Tabela 48: ANOVA ....................................................................................................................................109 Tabela 49: DESPREOCUPAO & Conhecimento & Sugesto Astrologia.............................................110 Tabela 50: ANOVA ....................................................................................................................................110
-
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Qualidades e Elementos.................................................................................................................22 Figura 2: Triplicidades e Quadruplicidades no Zodaco ...............................................................................31 Figura 3: Elementos e fases das estaes do ano ..........................................................................................32 Figura 4: Elementos e estaes do ano no Hemisfrio Sul............................................................................33 Figura 5: O padro dente-de-serra .............................................................................................................35 Figura 6: O Circumplexo Interpessoal e os Quatro Elementos .....................................................................58
-
ix
LISTA DE GRFICOS
GRFICO I ...................................................................................................................................................41 GRFICO II..................................................................................................................................................44 GRFICO III ................................................................................................................................................52 GRFICO IV ................................................................................................................................................77 GRFICO V .................................................................................................................................................78 GRFICO VI ................................................................................................................................................79 GRFICO VII...............................................................................................................................................81 GRFICO VIII .............................................................................................................................................82 GRFICO IX ................................................................................................................................................83 GRFICO X .................................................................................................................................................84 GRFICO XI ................................................................................................................................................86 GRFICO XII...............................................................................................................................................87 GRFICO XIII .............................................................................................................................................88 GRFICO XIV .............................................................................................................................................90 GRFICO XV...............................................................................................................................................91 GRFICO XVI .............................................................................................................................................92 GRFICO XVII............................................................................................................................................94 GRFICO XVIII...........................................................................................................................................95 GRFICO XIX .............................................................................................................................................96 GRFICO XX...............................................................................................................................................97 GRFICO XXI .............................................................................................................................................98 GRFICO XXII............................................................................................................................................99 GRFICO XXIII.........................................................................................................................................100 GRFICO XXIV ........................................................................................................................................102 GRFICO XXV..........................................................................................................................................103 GRFICO XXVI ........................................................................................................................................104 GRFICO XXVII .......................................................................................................................................107 GRFICO XXVIII......................................................................................................................................108 GRFICO XXIX ........................................................................................................................................109 GRFICO XXX..........................................................................................................................................110 GRFICO XXXI ........................................................................................................................................120 GRFICO XXXII .......................................................................................................................................123 GRFICO XXXIII......................................................................................................................................124 GRFICO XXXIV .....................................................................................................................................126 GRFICO XXXV.......................................................................................................................................130 GRFICO XXXVI .....................................................................................................................................132 GRFICO XXXVII ....................................................................................................................................133
-
x
RODRIGUES, Paulo Roberto Grangeiro. Astrologia e personalidade: O efeito do conhecimento das caractersticas do signo solar em variveis medidas pelo 16 PF. So Paulo, 2004, 160 p.. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo.
RESUMO
Nesta Tese replicamos por constructo uma pesquisa europia que encontrou para conhecedores da astrologia mdias mais altas em Extroverso entre sujeitos dos signos de Fogo e Ar comparados com sujeitos de Terra e gua, formando um padro dente-de-serra previsto em funo da alternncia zodiacal entre signos de Elementos Quentes (Fogo e Ar) e Frios (Terra e gua), como sendo efeito da auto-atribuio, j que a mesma variao no se deu para sujeitos no conhecedores. Tambm se encontrou, no entanto, maior suscetibilidade informao vinda de fora sobre sua personalidade para os Quentes, o que no invalidou totalmente a teoria astrolgica. Encontrou-se l, alm disso, maior mdia geral em Extroverso para os conhecedores. Usamos o 16 PF Questionrio dos 16 Fatores de Personalidade com 589 sujeitos brasileiros de ambos os sexos, diferenciando entre conhecedores (208) e no conhecedores (381) da astrologia, sendo o conhecimento constitudo da crena na astrologia mais a descrio de trs caractersticas do signo solar. Para estimular a influncia da auto-atribuio, foi dada a parte do grupo (266) a sugesto Esta uma pesquisa sobre astrologia, enquanto para a outra parte (323) foi dito que seria uma pesquisa sobre personalidade. Investigamos variaes em funo dos Elementos astrolgicos, atravs da Anlise de Varincia (ANOVA), em todos os fatores do 16 PF, mais Extroverso, Ansiedade e Controle. No aparecem diferenas significativas para a Extroverso isoladamente, mesmo entre os conhecedores. Os conhecedores se descreveram como tendo significativamente maior Extroverso e maior Ansiedade, comparados aos no conhecedores, sugerindo um locus de controle externo. Confirmou-se no grupo dos conhecedores que a maior mdia geral em Extroverso devida aos sujeitos do subgrupo dos signos Quentes, e a maior mdia em Ansiedade devida aos sujeitos do subgrupo dos signos Frios, indicando a confirmao da maior suscetibilidade informao vinda de fora sobre suas personalidades para os Quentes. Investigamos, alm disso, se a auto-atribuio de origem astrolgica afeta no apenas o autoconceito, mas as habilidades da pessoa, atravs dos 13 itens da Inteligncia do 16 PF. Para o grupo de no conhecedores a Ansiedade foi maior para os Quentes do que para os Frios, segundo seus componentes Estabilidade Emocional e Tenso. Este resultado apontou que a Ansiedade, como fator no intelectivo, induziu uma variao de base astrolgica na Inteligncia. Sugere-se um fator de suscetibilidade diferenciada ao mundo externo segundo a escala Frio-Quente. So analisadas as possveis explicaes tericas e implicaes desses achados.
-
xi
RODRIGUES, Paulo Roberto Grangeiro. Astrology and personality: The effect of the knowledge of solar signss characteristics on variables measured by the 16PF. So Paulo, 2004, 160 p.. Doctorate dissertation presented at the Institute of Psychology of the University of So Paulo.
SUMMARY
In this thesis we constructively replicate an european research that found for astrology knowledgeable subjects higher means on Extraversion among subjects of Fire and Air signs, compared with subjects of Earth and Water, compound a saw-tooth pattern due the zodiacal alternation between signs of Hot (Fire and Air) and Cold (Earth and Water) Elements, as an effect of the self-attribution, since the same variation was not found for no knowledgeable subjets. Also was found, however, a difference on susceptibility to information about their personality from outside for the Hots, what didnt invalidate totally the astrological theory. That research found, furthermore, higher mean in Extraversion for that knowledgeable subjects. We applied the 16PF Test Sixteen Personality Factor Questionnaire to 589 brazilian subjects of both sexes, classifying between knowledgeable (208) and no knowledgeable (381) of astrology, being this knowledge constituted by the believe in astrology and by the naming of three characteristics that go with the sunsign. In order to trigger the self-attribution effect, part of the group (266) was given the cue This is a research into astrology, while to the other part was given research into personality. We investigate variations by dependence on the astrological Elements, by the Analysis of Variance (ANOVA), on all the 16 PF factors, more Extraversion, Anxiety and Control. Didnt appear significant differences to the Extraversion alone, yet among the knowledgeable. The knowledgeable subjects describe theirselves significantly as having higher Extraversion and Anxiety, suggesting an external locus of control, by comparision with the no knowledgeable. It was confirmed that for the knowledgeable the higher general mean in Extraversion is due to the subjects pertaining to the subgroup of the Hot signs, and the higher general mean in Anxiety is due to the subjects pertaining to the subgroup of the Cold signs, indicating a confirmation of the higher susceptibility to information about their personality from outside among the Hots. We investigate, furthermore, if the astrological self-attribution affects not only the self-concept, but also the actual performance, with the 13 items of Intelligence in the 16PF. For the no knowledgeable group the Anxiety was higher for the Hots than to the Colds due to their components Emotional Estability and Tension. This finding pointed to that Anxiety, as a non-intellective factor, induced the astrologically based variation for Intelligence. It is suggested, as much to knowledgeable as to no knowledgeable subjects, a factor of differenciated susceptibility to the outer world due the Cold-Hot scale. Are analysed the possble theoretical explanations and implications of these findings.
-
xii
RODRIGUES, Paulo Roberto Grangeiro. Astrologie et Personnalit: Leffet de la conaissance des caractristiques du signe solaire sur variables mesur par le 16PF. So Paulo, 2004, 160 p.. Thse de Doctorat prsente lInstitut de Psychologie de lUniversit de So Paulo.
RSUM
Dans cette Thse nous rpliquons par constructe une recherche europene qui a rencontr pour des connaisseurs dastrologie des moyennes plus hautes en Extraversion entre sujets des signes de Feu at Air compars avec de sujets de Terre e Eau, formant un modle dent de scie prvu en fonction de lalternance zodiacale entre des signes dlments Chauds (Feu et Air) et Froids (Terre et Eau), comme tant leffet de lauto-attribution, dj que la mme variation na pas t donne pour des sujets non connaisseurs. Cependant on a recontr aussi, une plus grande susceptibilit linformation venue de dehors sur leur personalit pour les Chauds, ce qui na pas invadid totalement la thorie astrologique. On a trouv l-bas, en plus de cela, une plus grande moyenne en Extraversion pour les connaisseurs. Nous utilisons le 16PF Questionnaire des 16 Facteurs de Personnalit avec 589 sujets brsiliens des deus sexes, diffrenciant entre connaisseurs (208) et non connaisseurs (381) de lastrologie, la connaissance tant constitue de croyance en lastrologie en plus de la description de trois caractristiques du signe solaire. Pour stimuler linfluence de lauto-attribution, il a et donn la partie du groupe (266) la suggestion Ceci est une recherche sur lastrologie, tandis que pour lautre partie (323) il a et dit que ce serait ume recherche sur la personnalit. Nous avons investigu des variations en fonction des lments Astrologiques, travers lAnalyse de variance (ANOVA), dans tous les facteurs de 16 PF, en plus de lExtraversion, lAnxit et le Contrle. Il napparat pas de diffrences significatives pour lExtraversion isolment, mme entre les connaisseurs. Les connaisseurs de sont dcrits significativement comme ayant une plus grande Extraversion et aussi Anxit, si compars avec les non connaisseurs, suggernt un locus de contrle externe. Il est confirm, dans le groupe des connaisseurs, que la plus grande moyenne en Extraversion est de aux sujets du sousgroupe des signes Chauds, et que la plus grande moyenne en Anxit est de aux sujets du sousgroupe des signes Froids, indiquant la confirmation de la plus grande susceptibilit linformation venue de dehors sur leurs personnalits pour les Chauds. Nous investigons, en plus de ceci, si lauto-attribution dorigine astrologique affecte non seulement lauto-concept, mais aussi les habilits de la personne, travers des 13 articles de lIntelligence du 16PF. Pour le groupe des non connaisseurs lAnxit a t plus grande pour les Chauds que pour les Froids, selon leurs composants Stabilit Emotionnele et Tension. Ce rsultat a dmontr que lAnxit, comme facteur non intellectuel, unduit une variation de base astrologique dans lIntelligence. On suggre un facteur de susceptibilit differenci au monde externe selon lechelle Froid-Chaud. Les explications thoriques possibles et implications de ces dcouvertes sont analyses.
-
1
ASTROLOGIA E PERSONALIDADE: O EFEITO DO CONHECIMENTO DAS CARACTERSTICAS DO SIGNO
SOLAR EM VARIVEIS MEDIDAS PELO 16 PF
1. INTRODUO
1.1. ASTROLOGIA E SUA IMPORTNCIA NA CULTURA OCIDENTAL
Onde quer que tenha nascido uma civilizao havia uma forma de astrologia, como
um conhecimento da ligao entre as coisas do Cu e da Terra. Era uma forma de se
compreender e se prever acontecimentos, dado que se entendia que tudo que acontecia
na Terra era resultado de uma influncia do Cu. Para isto, antes mesmo de surgir a escrita,
surgiram os primeiros observatrios astronmicos, sendo os mais antigos feitos com
marcos de pedra, que eram templos ao mesmo tempo. Estudos com monumentos
megalticos tm mostrado que sua funo religiosa era antes de tudo relacionada com
marcar os movimentos do sol, da lua e das estrelas, prevendo ento eventos astronmicos
importantes, como mximos e mnimos de afastamentos, e eclipses (PARKER, PARKER,
1982). Um pesquisador da histria das idias, o ingls Peter Marshall (2004), estudou as
principais tradies astrolgicas em diversos centros de civilizao do mundo: China,
ndia, Mesopotmia, Egito, Oriente Mdio e Europa. Conclui que, por detrs das
-
2
diferenas das imagens, h a mesma busca da compreenso das relaes entre os seres
humanos, o tempo e o cosmos.1
Foi no Oriente Mdio que se originou a astrologia que conhecemos hoje no mundo
ocidental. Seus primeiros civilizadores construram observatrios na forma de pirmides
com andares os zigurates que permitiam medir e prever os movimentos do sol, da lua e
dos planetas, dando-se sempre sobre o mesmo fundo de estrelas, com o que foi possvel a
criao da faixa circular celeste chamada Zodaco, por volta de 700 a.C., e dividi-lo em 12
partes os signos por volta de 600 a.C.
O Zodaco atualmente usado no ocidente preserva muito de sua histria, suas
imagens expressam a necessidade fundamental de determinar as atividades agrcolas e,
portanto, as estaes do ano, para aqueles povos que ali se fixaram. Desde 3.000 a.C. havia
uma diviso na Prsia do cu em quatro partes, pelas quatro estrelas Reais: Aldebaran,
ligada posteriormente constelao Taurus, Regulus, ligada a Leo, Antares, ligada a
Scorpius, e Fomalhaut, ligada ao Piscis Austrinus (Peixe Austral), logo abaixo de
Aquarius. Estas indicavam o incio das estaes do ano, quando o sol as alcanava.
As primeiras constelaes zodiacais, antes da diviso em doze, foram: Taurus
(Touro), Gemini (Gmeos), Leo (Leo), Virgo (Virgem), Scorpius (Escorpio), Sagittarius
(Sagitrio) e Pisces (Peixes), estabelecidas pelos caldeus na Mesopotmia, com seus
nomes depois latinizados por Claudius Ptolomeu (Claudius Ptolemaeus) em 140 d.C.
Gemini representava a germinao das plantas na primavera. Virgo simbolizava a deusa
Istar, filha do cu e rainha das estrelas, coincidindo com a poca de colheitas ao fim do
vero. Sagittarius representava na Babilnia o deus arqueiro da guerra Nergal. No Egito
1 At the centre of astrology lies the unfathomable mystery of the correspondence between heaven and earth, of the
relationship between ourselses, time and the cosmos (MARSHALL, 2004, p. 377)
-
3
representado como um centauro alado, pronto a flechar o escorpio. Entre os gregos
considerado Quron, o imortal.
Taurus iniciava o Zodaco e o ano, h aproximadamente 4.000 anos, entre os
babilnios. Com a "precesso dos equincios", resultado do movimento do eixo terrestre, o
equincio da Primavera desloca-se para trs nas constelaes e ento Aries ou Carneiro
passou a ser a constelao inicial criada pelos babilnios por volta de 2.500 a.C. Foram
criadas ento outras imagens nas constelaes para os incios das estaes: Cancer, o
caranguejo, foi criado para representar o fato de que no Solstcio de Junho o Sol anda
como aquele animal, de lado ou seja, de Norte para Sul. Libra, a Balana, foi criada a
partir das antigas garras do escorpio, para representar a igualdade do dia e da noite no
equincio do Outono, e tambm o incio da segunda metade do ano que vai equilibrar a
primeira. Capricornus, o Capricrnio, criado por caldeus, talvez represente o fato de que
as cabras descem as montanhas com a chegada do inverno, e talvez seu rabo de peixe
represente esta necessidade de descer para alcanar os vales e rios, ou seja, o Sol que ia
cada vez mais longe, com dias cada vez mais curtos no Hemisfrio Norte, representado
por um bode que sobe as montanhas, mas seu rabo de peixe uma "garantia" de que vai
voltar ao vale, como o Sol passa a retornar a partir do Solstcio de Inverno.
Aquarius, o Aguadeiro, representa as chuvas do ms de Fevereiro, e em antigos
monumentos da Babilnia representado por um homem que entorna gua sobre o Peixe
Austral (MOURO, 1986).
E as imagens do Zodaco que conhecemos hoje so um fruto final de uma
interpretao do ciclo anual naquelas culturas do Mediterrneo. Os signos expressam,
antes de tudo, uma sntese do ciclo das estaes do ano conforme simbolizadas em suas
etapas, com contribuies das culturas da Babilnia, do Egito e da Grcia, unificadas sob
Roma.
-
4
Podemos entender claramente que foram os signos que deram nome s constelaes
zodiacais, e no o contrrio (MOURO, 1989), ainda que algumas delas, com Gemini e
principalmente Scorpius, possam ter sugerido uma imagem. Porm a atitude religiosa em
relao s estrelas fez com que fossem consideradas portadoras do poder de modulao da
fora ou influncia dos planetas que passavam pelas 12 constelaes.
A astrologia tambm passou a ser uma maneira de conhecer as intenes dos
deuses. Desde os seus primrdios a astrologia era ligada religio, e segundo o
movimento dos astros errantes poderia haver sofrimentos ou benefcios, o que orientava
rituais propiciatrios. Com o tempo, as astrologias ao redor do mundo foram sendo levadas
de uma aplicao para o uso religioso de uma civilizao para a previso de destinos
individuais, e no apenas dos governantes2 (MARSHALL, 2004).
Desde a poca das religies politestas dominando o Oriente Mdio, a astrologia
era praticada dentro de uma atividade ritualizada no decorrer do ano. J no fim do Imprio
Babilnico, os caldeus chamavam os planetas de intrpretes, porque manifestavam aos
homens os propsitos dos deuses, segundo Franz Cumont, arquelogo e historiador na rea
das religies clssicas (1989).
Cumont investigou a astrologia sob o aspecto religioso. Fez uma srie de
Conferncias em 1912 que foram publicadas com o ttulo de Astrologia e Religio Entre
os Gregos e Romanos 3 onde se baseia em textos e monumentos antigos para retirar dali
suas aplicaes naquelas civilizaes, e suas idias bsicas. Afirmou ali que ... depois de
haver reinado soberana na Babilnia, a astrologia conseguiu fazer sombra aos cultos da
Sria e do Egito, e sob o Imprio referindo-se ao ocidente chegou a transformar
2 In the majors traditions of astrology in China, India, Mesopotamia, Egypt, the Middle East and Europe there was
an early move from predicting the fate of nations to divining the course of individual lives. (MARSHALL, 2004, p. xxxiv)
3 CUMONT, Franz ( 1912 ): Astrology and religion among the greeks and romans. 1989.
-
5
inclusive o antigo paganismo da Grcia e de Roma. (CUMONT, 1989, p. 9) Deste
modo, o nome dos planetas que empregamos hoje em dia so uma traduo de uma
traduo latina, de uma traduo grega, de uma nomenclatura babilnica (CUMONT,
1989, p. 46). (em todos os trechos fizemos uma traduo livre)
Logo de incio percebe-se tambm a busca de uma vinculao da alma humana com
os astros:
Os caldeus admitiam, ao que parece, que o princpio da vida, que d calor e anima o corpo humano, era da mesma essncia que a dos fogos do Cu. Destes, a alma ao nascer recebe suas qualidades, e neste momento as estrelas determinam seu destino na Terra. (CUMONT, 1989, p. 37)
Na poca em que Alexandre Magno conquistou a Mesopotmia (331-330 a.C.),
encontrou l ...sobre um profundo substrato de mitologia, uma teologia esotrica, baseada
em pacientes observaes astronmicas, que professavam revelar a natureza do mundo -
considerado divino, os segredos do futuro e o destino do homem. (CUMONT, 1989, p.
37)
Da Babilnia a astrologia foi levada Grcia, por filsofos que l estudaram, e que
acrescentaram sofisticaes segundo sua abordagem racional:
Para muitos dos filsofos gregos, no porm certamente para todos, o movimento regular dos cus no apenas o padro e a medida do tempo (quando no identificado com o prprio tempo); serve, tambm de argumento provando a boa ordem do cosmos, da qual uma manifestao.
...sempre verdade que o sentimento do nexo existente entre a ordem temporal e a ordem moral continua sendo um dos principais temas da concepo grega do tempo e do mundo. (LLOYD,1982)
Plato e Aristteles afirmam a divindade das estrelas (estrelas so para eles tanto os
planetas quanto as estrelas fixas), sendo que Plato chama explicitamente os planetas de
-
6
deuses visveis que estariam abaixo do supremo Ser eterno e perfeito, o qual os anima
com sua prpria vida. Assim como Pitgoras v os corpos celestes como ...movidos pela
alma etrea que anima o universo e que semelhante prpria alma humana. (CUMONT,
1989, p. 41)
Estas doutrinas, que deste modo propagaram-se gradualmente
sobre a Grcia clssica, seriam tomadas e transformadas pelos Esticos. Para os discpulos de Zenon a alma do homem uma poro do fogo divino em que seu naturalismo pantesta via a fora produtiva e a inteligncia do mundo. A razo humana, partcula da razo universal, era concebida como alento, como emanao ardente. As estrelas so a mais brilhante manifestao do fogo csmico. A filosofia do Prtico favorecia a crena de que a alma era unida com os corpos celestes mediante uma relao especial, e deste modo o Estoicismo conseguiu ser prontamente reconciliado com a astrologia. (CUMONT, 1989, p. 134)
Tanto os sacerdotes quanto os sbios da poca abraavam as mesmas
doutrinas:
notvel que no sc. II antes da nossa era, esta doutrina foi defendida especialmente por Hiparco, que no era apenas um dos astrnomos mais clebres, mas um adepto convicto das teorias astrolgicas,..., foi aplaudido calorosamente por Plnio por ter demonstrado melhor que qualquer um que o homem est relacionado com as estrelas e que nossas almas so parte do cu (CUMONT, 1989, p. 134).
Da surge a astrologia individual, chamada de Natal ou Genetilica. (CUMONT,
1989). O Mapa astrolgico individual mais antigo que se preservou foi feito em 410 a.C.,
entre os babilnios, e consiste numa lista da posio no zodaco da lua e dos cinco planetas
para um nascimento. (DEAN & MATHER, 1977). H indicaes de que se dava
importncia maior ao signo lunar do que ao solar, e isto esperado, dado que fcil
localizar em qual constelao a lua est passando no perodo do nascimento de uma
pessoa, enquanto a posio solar s pode ser inferida, devido ao prprio brilho do sol. A
-
7
tradio do signo da pessoa ser o lunar foi mantida entre os gregos, ao absorverem o
conhecimento astrolgico da Babilnia, e foi levada cultura romana: O Imperador
Augustus mandou cunhar moedas de prata com o Capricornus, seu signo lunar conforme o
horscopo que tambm publicou (DEAN, MATTER, 1977).
Podemos perceber a astrologia daquela poca como relacionada a uma astronomia
que ficava a servio da religio, e ainda que Claudius Ptolomeu no seu Tetrabiblos (140
d.C.) descrevesse a influncia fsica dos planetas como causa de seus efeitos baseando-se
na fsica aristotlica, havia uma religiosidade que via os planetas como deuses em si, e era
esta a cosmoviso popular.
Assim, pois, todas estas doutrinas, apesar de suas diferenas em detalhes, pregavam que as almas, descendentes da luz das alturas, reascendiam regio das estrelas, onde moravam para sempre com estas divindades radiantes. (CUMONT, 1989, p. 149)
A astrologia em Roma ganha uma forma final atravs dos escritos de Ptolomeu e
da religiosidade popular que se preserva atravs da Idade Mdia na Europa, apesar do
monotesmo difundido pela Igreja Catlica.
A imortalidade sideral provavelmente a doutrina mais elevada concebida pela Antiguidade. Foi nesta frmula definitiva onde deteve-se o paganismo. Esta crena no pereceria para sempre com ele; e inclusive depois de que as estrelas foram despojadas de sua divindade, chegou a sobreviver em certa medida teologia que a havia originado. (CUMONT, 1989, p. 149)
Tambm Ptolomeu conservou os deuses planetrios, apenas que ficavam
subordinados ao Pai celestial Criador. Isto foi expresso por Marcus Malinus, poeta
romano, no sculo I de nossa era:
-
8
Pode-se conceber uma mquina mais perfeita em suas atividades, mais uniforme
em seus efeitos? Na minha opinio, no penso que seja possvel demonstrar com maior
evidncia que o mundo governado por um poder divino, que ele prprio Deus...4
Ptolomeu situava Deus alm do PRIMUM MOBILE o primeiro mvel para
que pudesse ter dado o impulso inicial nas Esferas (ocas e cristalinas) das Estrelas Fixas e
dos Planetas abaixo desta, centradas no centro imvel da Terra. Depois, preservou-se
naquele lugar externo um Cu, morada do Altssimo dentro da Teologia crist. Mas
Ptolomeu tambm coloca o sol como o mais importante dos planetas, o corao do
mundo, e talvez tenha sido quem iniciou a tradio de se considerar como o signo da
pessoa o solar, ou seja, aquele onde o sol estava em seu nascimento:
O Sol se transformar no condutor da harmonia csmica, no mestre dos quatro elementos e das quatro estaes... Plnio j o reconhecia como a divindade soberana que governava a natureza,.... Ele ser visto por telogos pagos como a razo que controla o mundo, mens mundi et temperatio. (CUMONT, 1989, p. 72-73)
Sob a influncia de telogos cristos, no entanto, a astrologia na Europa foi cada
vez mais tornada um conhecimento hertico; conservando-se, porm, como uma atividade
secreta, e praticamente solitria, tanto quanto a alquimia.
Havia no mundo catlico uma tentativa de subjugao dos deuses astrolgicos a um
grande Deus que estava at mesmo alm de Zeus - Jpiter, e que se colocava alm da
ltima esfera do mundo. No mximo, tolerava-se a idia da utilidade da astrologia explicar
acontecimentos no mundo fsico. Mas ento, segundo certas filosofias no referendadas
pela doutrina catlica, apenas se reconhecia o universo fsico observvel como efetivo, e se
Deus existisse alm das Estrelas Fixas era um deus ocioso, que deixara a Criao pronta
e se retirara. Houve muitas controvrsias entre a religio e a astrologia na Idade Mdia.
4 in Os astrolgicos, citado em Vilhena, R., 1990.
-
9
So Toms de Aquino, no sc. XIII a aceitava somente enquanto aplicada a fenmenos
naturais (PARKER, PARKER, 1986), j ento considerando a alma como metafsica: os
corpos celestes podiam influenciar apenas indiretamente a condio do entendimento.
No entanto no era vivido assim entre os alquimistas e os astrlogos5: havia um propsito
espiritual em suas atividades. Se de um lado a astrologia tratava da encarnao do
esprito, passando pelas foras dos cus planetrios at entrar num corpo, a alquimia
tratava da espiritualizao da matria ou do corpo, libertando o esprito, atravs da
relao adequada com os metais planetrios (JUNG, 1986; 1991).
Com o Renascimento a astrologia tambm retomada como toda cultura dita
Clssica. Ela era uma das formaes oferecidas nas primeiras Universidades europias, e
assim permaneceu durante todo o perodo do Renascimento. Foi uma cadeira universitria,
por exemplo, desde 1125 em Bolonha, e desde 1250 em Cambridge.
Com a criao da imprensa, a astrologia passou a ser popularizada atravs de
Almanaques, cujos calendrios orientavam quanto s pocas de atividades agrcolas,
mas, alm disso, recomendavam sobre as pocas mais indicadas para atividades sociais.
H um renascimento tambm de seu aspecto religioso, mais alm de sua expresso
como estudo da astronomia e suas conseqncias na natureza. Filsofos como Marsilio
Ficino deram novamente vida astrologia no sc. XV, na Itlia, e praticavam com esta um
politesmo da imaginao, como denota esta sua passagem em O livro da Vida: No h
Saturno mais insensvel do que aquele para os homens que s fingem levar uma vida
contemplativa, sem na verdade viv-la. Pois Saturno no os reconhece como seus (...)
Certifique-se de no negligenciar o poder de Saturno.6.
5 cujas publicaes foram analisadas por Mircea Eliade e Carl Gustav Jung. 6 The book of life , Dallas, Texas: Spring Publications, 1980, pp.165-6 . Citado por SULLIVAN, 1992.
-
10
Com o acmulo do conhecimento cientfico na Europa, diversas descobertas
fizeram a astrologia ser gradualmente considerada no cientfica e acabar por ser banida
das Universidades. O geocentrismo de Coprnico em 1543; o surgimento de uma nova
estrela em 1572 que motivou Johannes Kepler a escrever um livro sobre ela; a inveno
do telescpio em 1610 e seu uso sistemtico por Galileu Galilei com a descoberta de novas
estrelas e finalmente de um cosmos infinito, ou ao menos no restrito Esfera das Estrelas
Fixas (KOYR, 1979).
Tycho Brahe e seu sucessor Johannes Kepler foram ao mesmo tempo astrnomos e
astrlogos, nesta poca de transio, no qual um novo paradigma cientfico ainda
convivia com o antigo (KUHN, 1962). Kepler chegou a escrever que a astrologia era:
...filha tola e infame da astronomia, sem a qual a velha e sbia me morreria mngua.
(PARKER, PARKER, 1986, p.188)
Ainda houve tentativas de se fazer uma astrologia cientfica, e o autor mais
conhecido deste perodo Jean-Baptiste Morin, astrlogo da corte francesa e autor de uma
enorme obra intitulada Astrologia Gallica. Morin tentou fazer da astrologia uma cincia
exata, estabelecendo regras para a interpretao dos Mapas Astrolgicos individuais
atravs das quais seriam previstos acontecimentos concretos. Parece que estas tentativas
propiciaram ainda mais sua rejeio pelos astrnomos.
A partir de 1666, na Frana, a astrologia passou a ser banida das Universidades. Foi
por mo dos cientistas que a astrologia acabou sendo descartada das Universidades, no
devido ao politesmo implcito, mas por adotar o geocentrismo derrubado por Nicolau
Coprnico e Johannes Kepler. Quando a Astronomia superou o geocentrismo, houve uma
grande oposio astrologia, pois esta s poderia continuar adotando a Terra como centro
para as medidas astronmicas, pois o que o centro ali o indivduo nascente, ou o lugar
para onde se quer enfocar as influncias astrais.
-
11
Somente mais de dois sculos depois ressurgiu valorizada no Ocidente,
principalmente por mo dos Teosofistas, que mesclando conceitos religiosos orientais com
os ocidentais, buscavam uma unidade da qual a astrologia fazia parte, pois, por exemplo,
na ndia nunca fora banida dos centros cultos, como no Ocidente. Resgataram
principalmente seus aspectos esotricos, relacionando suas influncias principalmente com
o plano astral onde habitaramos com nosso corpo astral. Assim desde esta poca a
astrologia est relacionada ao esoterismo e suas diversas correntes no Ocidente. Houve
uma certa revivescncia da astrologia nos anos 60 e 70 do sculo XX, muito em funo da
Contracultura, que fomentou tanto os esoterismos quanto as doutrinas e religies
orientais.
Com o desenvolvimento da Psicologia h no sculo XX um relacionamento entre
astrlogos e psiclogos que denota rejeies e influncias mtuas. Temos por exemplo um
filsofo e astrlogo franco-americano, Dane Rudhyar, que iniciou sua obra teorizando
sobre astrologia dentro da viso teosfica e acaba por relacion-la com a psicologia da
personalidade (1989). Temos Andr Barbault, astrlogo francs, que relaciona a teoria
astrolgica do carter com a Psicanlise (1975). E Carl Gustav Jung, psiquiatra e terico da
psicologia do inconsciente, que v na astrologia a somatria do todo o conhecimento
psicolgico da antiguidade (1983, p. 143), e em seu simbolismo uma maneira de
expressar o que conceituou como o inconsciente coletivo (1968). Conforme resumiu:
Como sabido, a cincia comeou com os astros, nos quais a humanidade descobriu seus dominantes do inconsciente, ou seja as chamadas divindades, do mesmo modo as singulares qualidades psicolgicas do Zodaco constituem toda uma teoria projetada de caracteres (1986).
-
12
Jung foi um dos pioneiros na pesquisa psicolgica da astrologia, avaliando
estatisticamente as relaes entre os Mapas astrolgicos de 483 casais na dcada de 1950,
com resultados favorveis astrologia, porm inconclusivos (JUNG, 1952).
A maioria dos astrlogos ocidentais contemporneos pratica uma astrologia
psicolgica, iniciada por astrlogos como Andr Barbault (1975), Dane Rudhyar (1989,
1985b), e Stephen Arroyo (1986), que considera o mapa astrolgico do nascimento como
um smbolo da psique, com sua diviso entre consciente e inconsciente. Foram
influenciados principalmente por Jung. Consideram que h uma sincronicidade (JUNG
(1952), 1985) entre os eventos celestes e os estados psquicos, assim o simbolismo
astrolgico pode ser usado para interpretar e ordenar a experincia cotidiana.7
Temos at hoje no mundo ocidental a astrologia sendo ensinada em cursos livres,
em geral ligados a associaes astrolgicas. Os astrlogos ocupam espao na MIDIA, e
temos uma vasta publicao livros e softwares no s divulgando a astrologia como
ensinando suas tcnicas bsicas de clculo e interpretao de Mapas Astrolgicos. Uma
pesquisa do Instituto Gallup, feita com adolescentes norte-americanos entre 13 e 18 anos
em 1983, mostrou que 55% deles acreditam que a astrologia funciona. No h razes para
crermos que isto tenha mudado muito neste incio do terceiro milnio.
Houve tambm uma intensificao das pesquisas das correlaes com Psicologia
que vem at nossos dias. Um pesquisador que fez histria foi Michel Gauquelin, psiclogo
e estatstico francs que desde a dcada de 50 fez amplos levantamentos (dados de mais de
100.000 pessoas) e estudos de correlao. Vamos nos deter um tanto em suas pesquisas,
porque algumas confirmaes que obteve deram alento considerao
contemporaneamente dada astrologia por parte da comunidade cientfica, e nos inclumos 7 The modern psychological approach to astrology sees the correlations in a birthchart between the planets and
personality traits as being mainly symbolic. From this perspective, astrology offers a rich symbolic language which can be used to interpret human experience and to order and understand our feelings. (MARSHALL, 2004, p. 361)
-
13
nesta linha de investigao. Suas pesquisas demonstram, na maior parte dos casos, que a
astrologia conforme praticada pelos astrlogos contemporneos no funciona (1983). No
entanto Gauquelin ficou conhecido pelo chamado Efeito Marte (Mars Effect), ao
demonstrar que a eminncia nos esportes se relacionava a Marte colocado em posies
especficas, ou logo aps levantar no leste ou logo aps culminar, quando do nascimento
dos futuros campees esportivos. Isto independentemente do Zodaco, o qual rejeitou como
sendo fico. Do mesmo modo demonstrou estas relaes para outros planetas com
profisses astrologicamente relacionadas: Marte tambm com militares (marciais), Jpiter
com atores e polticos (pessoas extrovertidas), Saturno com cientistas (pessoas reflexivas),
e tambm da Lua com escritores (imaginativos), numa amostra total de 46.485 casos8.
Neste nterim foi publicado em 1977 o livro Recent advances in natal astrology: a
critical review 1900-1976, de Geoffrey Dean e Arthur Mather, com mais 52 colaboradores.
L se comentaram, analisaram e replicaram amplamente tambm esta e outras pesquisas de
Gauquelin. Em 1981, Dean e Mather, entre outros cientistas, lanaram a revista
CORRELATION - Journal of Research into Astrology, tendo Michel Gauquelin e Hans
Eysenck iniciador da linha de pesquisa em que adentramos com esta Tese entre seus
colaboradores.
Foi nesta mesma revista que todo o trabalho de Gauquelin foi revisto, com um forte
questionamento atravs de explicaes alternativas para seus achados. O Efeito Marte
passou a ser visto como resultado possvel de uma profecia auto-realizadora associada a
uma construo social (BERGER, LUCKMANN, 1974) da eminncia, j que Gauquelin
baseou sua medida de eminncia nas citaes biogrficas. (KELLY, DEAN,
SAKLOFSKE, 1990).
8 Estas pesquisas foram extensamente comentadas em nossa Dissertao (RODRIGUES, 1997)
-
14
No entanto h algo demonstrado por Michel e Franoise Gauquelin, sua esposa e
colaboradora, que no foi refutado, ainda que no tenha sido totalmente explicado: A
chamada hereditariedade planetria, que j havia sido apontada por Kepler, ao publicar
que H um argumento perfeitamente claro alm de toda exceo em favor da
autenticidade da astrologia. a conexo horoscpica comum entre pais e filhos.9
Gauquelin demonstrou com 35.907 pares de pais e filhos que os filhos tendem a nascer
naturalmente em horrios que permitam repetir dos pais as posies angulares dos
planetas lua, Vnus, Marte, Jpiter e Saturno, ou seja, prximos aos eixos horizontal e
vertical, mais fortemente logo aps ter passado por eles10.
Gauquelin conclui pela diferena de sensibilidade biolgica aos planetas, cada
pessoa teria diferentes sensibilidades s influncias dos planetas, e isto passaria
geneticamente de pais para filhos. Gauquelin reinterpreta ento a relao planetas-
eminncia no como uma causalidade planetas - profisses, mas como uma influncia
planetas - traos de personalidade relevantes, os quais por sua vez levariam a escolhas
profissionais afins com estes. Deste modo fica compreensvel a relao com a possvel
eminncia, a sim um caso de um tipo de profecia auto-realizadora (EDEN, KINNAR,
1991) que cresceria num campo frtil de uma predisposio biolgica. Porm isto s
ocorreria nos partos naturais, demonstrando no haver uma relao direta de causalidade,
mas sim uma espcie de sincronia entre ritmos biolgicos e movimentos planetrios do
ponto de vista geocntrico. Veremos adiante com esta assuno crucial, pois esta
correlao poderia ser um resultado evolucionrio da espcie em funo da forma de
funcionamento emocional e das crenas dos antepassados humanos. claro que estas
proposies j no se relacionam com as da astrologia conforme divulgada e praticada 9 There is one perfectly clear argument beyond all exception in favour of the authenticity of astrology. This is the
common horoscopic connection between parents and children. In EYSENCK, NIAS, 1982, p. 191. 10 Em nossa Dissertao (1997, p. 30-46) descrevemos detalhadamente estas pesquisas.
-
15
hoje. Ainda hoje no ocidente a astrologia com base em Ptolomeu amplamente divulgada
e consumida dentro da cultura de massa, a despeito de que at agora a avaliao cientfica
de suas proposies tradicionais tenha demonstrado amplamente que no tm validade
(CROWE, 1990; KELLY, 1998). Torna-se ento um fenmeno a ser estudado sob a tica
de sua utilidade social e psicolgica, ou seja, saber porque grande parte das pessoas
acredita na astrologia e a utiliza.
-
16
1.2. A SOMATRIA DE TODO O CONHECIMENTO PSICOLGICO DA
ANTIGUIDADE
evidente que a astrologia respondia antes de tudo a um anseio religioso de
harmonia entre terra e Cu, cumprindo tambm uma funo de ordenao da vida
comunitria, permitindo a previso do futuro csmico, e do futuro social por conseqncia.
A astrologia buscava desde seu incio apreender a ordem celeste para criar rituais
cclicos em consonncia com os ritmos observados. Mais ainda, serviu para criar uma
forma de prever os movimentos dos deuses, e assim de uma certa forma prever problemas
ou facilidades.
No mbito da conscincia coletiva de uma tribo, de um povo ou de uma nao,
h sempre um sistema mgico-classificatrio compartilhado, como sistema explicativo
do mundo, (um mapa de realidade), que til porque funcional para a sobrevivncia do
grupo. Segundo o antroplogo Lvi-Strauss, estes sistemas sempre caminham paralelos, no
conhecimento da natureza, ao que seria uma viso propriamente cientfica nos moldes
modernos. O pensamento selvagem, tambm chamado de pensamento mgico, prope
sistemas classificatrios baseados na natureza, e, no caso, os astros so bons para pensar,
pois propem ao homem um mtodo de pensamento. (VILHENA, 1990)
H uma ordem, regularidade e ciclicidade nos movimentos do cu, somados ao seu
carter de abrangncia em relao Terra, que foram sempre e em todos os lugares
relacionados com a organizao humana coletiva, notadamente a diviso das atividades
coletivas segundo o dia , o ms e o ano, ligados respectivamente com a Terra, a lua e o sol.
Estas classificaes passam a estruturar a vida coletiva em seus rituais dirios,
mensais, anuais e outros maiores, relativos a planetas alm do sol. Assim atuando, o
pensamento mgico elabora estruturas organizando acontecimentos.
-
17
H ento na astrologia uma proposta de ser um conhecimento fundamental e
permitir uma viso totalizadora. Tericos em astrologia sustentam que seu princpio de
atuao a ANALOGIA, semelhana ou correspondncia, desde o sc. III a.C.:
O QUE EST EMBAIXO COMO O QUE EST EM CIMA, O QUE EST
EM CIMA COMO O QUE EST EMBAIXO, um dos seus principais aforismos,
atribudo ao mtico Hermes Trimegistus, autor presumido da Tabula Smaragdina (JUNG,
1991).
Este carter religioso da astrologia o que lhe causa as maiores crticas advindas
dos cientistas contemporneos, quanto s pretenses de ser cincia ou ser um meio de
previso de acontecimentos. H uma confuso entre sua funcionalidade social e sua
verdade como sistema explicativo da realidade.
Para a Psicologia social podemos entender a astrologia como um sistema que
interpreta o mundo segundo necessidades psicolgicas humanas, fornecendo os astros
ordem e regularidade, atravs das quais se pode predizer, e da tentar controlar. O ser
humano primitivo divide o mundo entre guiado por deuses bondosos e desviado por
deuses malficos. Ora, nos cultos h um carter de troca com os deuses, na busca de
evitar malefcios e obter benefcios, em geral a partir de sacrifcios. Numa teoria
psicolgica contempornea, estes rituais de base astrolgica defendem o grupo social
contra ansiedades depressivas e ansiedades paranides, ou seja, esconjuram,
apaziguam ou propiciam foras fora do controle imediato do ser humano, representadas
nas divindades astrais portadoras de foras destrutivas ou protetoras para o ser humano
(JACQUES, 1969).
compreensvel que no mundo contemporneo tenha havido uma revivescncia da
astrologia, dado a incerteza e a confuso da vida social, e a solido a que o individualismo
predominante leva. Uma pesquisa sobre o perfil psicolgico de pessoas que consultam
-
18
astrlogos delineou o maior fator em comum como sendo o estresse, mais especificamente
relativo aos papis sociais e aos relacionamentos (TYSON, 1982).
Hoje, esta relao com os astros j se d de forma mais individualizada, atravs dos
mapas astrolgicos e suas derivaes. A astrologia uma formao profissional alternativa
e livre, com seus clientes advindos de diversas classes sociais e denominaes religiosas,
conforme demonstrado no estudo antropolgico de Lus Rodolfo Vilhena com astrlogos e
estudantes de astrologia no Rio de Janeiro (1990).
Cabe perguntar se a astrologia hoje apenas um sistema de crenas que ajudam
parte da populao a suportar melhor as contingncias da vida urbana, ou se no haveria de
algum modo uma verdade em suas afirmaes sobre as diferenas de personalidade e
destino determinadas pelos signos e planetas ao nascer. Como vimos, a primeira idia de
destinao celeste individual era que isto se dava principalmente atravs do chamado signo
lunar, mas logo mudou para o signo solar, provavelmente em funo da cultura romana que
promovia nos cidados uma afirmao individualista, o que encontra evidentemente
melhor analogia no sol do que na lua. E assim divulgada, atraentemente, at hoje.
Ao afirmar a unidade da alma com os astros, a astrologia permitia (e permite hoje
para os seus crentes) uma relao humana com a divindade e a conseqente possvel
imortalidade, pela idia da relao do sol com o esprito. E esta a forma mais popular e
contempornea da astrologia no mundo ocidental, aquela relativa ao signo solar do
nascimento.
No haveria alguma verdade oculta na idia de predestinao astral, j que tantos
que tomam contato com isso continuam sendo adeptos? No ser que a astrologia natal
funciona de algum modo, e isto seja o fator preservador da crena? Ou mesmo a crena
de nossos antepassados, de to forte, no se tornou de algum modo predisponente da
realidade das diferenas individuais?
-
19
Uma pesquisa de 1997 sobre correlaes entre signos e dados biogrficos (SACHS,
GUNTER, citado in KNIGHT, LOMAS, 2004), realizada com a amostra de praticamente
toda a populao sua contada pelo censo de 1990, revelou algumas diferenas
estatisticamente significantes em dez critrios: Numa amostra de 771.226 pessoas casadas,
encontrou 25 pares mais freqentes do que os 144 possveis (p < 0,00002). J entre
109.030 pares de divorciados, encontrou outros 25 pares mais freqentes (p < 0,04). Entre
2.731.766 pessoas entre 18 e 40 anos de idade, encontrou sete signos mais solteiros (p <
0,0001). Nas escolhas de dez cursos universitrios, isolou 27 desvios muito significativos
(p < 0,0000001). Entre os 4.045.170 trabalhadores da Sua em 1990, avaliou a colocao
em 47 categorias de trabalho, encontrando 77 desvios significativos (p < 0,0000001).
Quanto ao tipo de morte por 20 causas naturais, entre 1969 e 1994, isolou uma relao com
cinco desvios significativos (p < 0,004). Suicdios com cinco desvios (p < 0,001). Entre os
problemticos no trnsito, encontrou quatro signos mais freqentes na Inglaterra em 1996
(p < 0,0000001), e os mesmos quatro signos (p < 0,0002) na Sua como infratores de
trnsito! Em 325.866 julgamentos de 25 tipos de crime na Sua, encontrou seis
combinaes significativas (p < 0,0000001). Finalmente, entre 4162 jogadores
profissionais de futebol na Alemanha, encontrou nove signos desviantes (p < 0,0000001).
Ao comparar estes resultados com os de doze signos criados aleatoriamente, as
diferenas se confirmaram. H alguma coisa, entre os signos e os comportamentos, que
pode no depender da pessoa saber sobre seu signo astrolgico, que vale pesquisar.
-
20
As pesquisas que acompanharemos agora so aquelas iniciadas por Eysenck na
dcada de 70 e referem-se a este signo solar, avaliando se de fato as pessoas se diferenciam
em termos de personalidade por terem nascido em diferentes signos. Estas diferenas
seriam advindas basicamente de Elementos e Ritmos a que pertencem estes signos, sendo
isto uma sofisticao adicional da astrologia, como explicaremos em seguida.
Se h de fato determinaes astrolgicas de caractersticas psicolgicas, estas
seriam capturveis por questionrios de personalidade aceitveis segundo critrios
psicomtricos rigorosos (KLINE, BARRETT, 1983), com o criado por Eysenck (1973). E
o que foi inicialmente avaliado, com resultados inesperados tanto para astrlogos como
para psiclogos, como veremos depois.
-
21
1.3. O CRCULO ZODIACAL E A HARMONIA DOS ELEMENTOS
preciso antes para se poder compreender as variveis astrolgicas e as
correlaes entre elas e as variveis de personalidade lembrar que a subdiviso do ano
em 12 partes iguais uma abstrao, indissocivel da teoria dos quatro Elementos: Fogo,
Terra, Ar e gua. So, na teoria aristotlica, elementos fundamentais na constituio de
tudo, substncias resultantes da interao das outras duas fundamentais: Matria e Idia.
Da a relao com a altura do mundo na cosmologia de Aristteles, indo do mais slido, as
rochas da Terra, at o fogo celeste, eterno e intermedirio entre a Divindade e o ser
humano. Mais ainda, como estes extremos compartilham a secura, para a criao da vida e
para a nossa sobrevivncia existem as combinaes entre estes extremos que a umidade
traz, o Ar e a gua. E somos compostos por estes Elementos, pois somos em parte slidos,
em parte lquidos e em parte gasosos, mas mais ainda, com uma alma composta de Fogo,
luminosa ao se desprender do corpo, daquela mesma luz da superfcie do fogo. Isto
colocado sob um ponto de vista da Fsica contempornea levaria concluso de que esta
luz compartilhada com as estrelas nos tornaria radiantes. que esta luz que era a razo
de se compreender uma ligao ntima com o cosmos, pois se entendia que tanto a alma
provinha de Fogo celeste do Sol e das Estrelas quanto para l voltaria, se virtuosa.11
Claro que tambm se pode entender nesta viso de mundo um pensamento
concreto, no qual a observao da natureza leva a perceber regularidades e ciclos. H uma
dependncia estrita das imagens da natureza, relacionando tudo por um princpio bsico,
ou por alguns princpios bsicos que se relacionariam de forma compreensvel
geometricamente, ou seja, com padres qualitativos (DURAND, 1988).
11 CUMONT, Franz ( 1912 ): Astrology and religion among the greeks and romans. 1989.
-
22
Podemos adotar o ponto de vista que vai compreender a teoria dos Elementos como
uma fsica primitiva, que tenta uma primeira generalizao de leis atravs da percepo do
que hoje se entende como sendo quatro estados da matria. Desta forma permite relacionar
tudo com tudo o mais que existe por uma categorizao por analogias, em busca de revelar
uma ordem no mundo. Podemos tambm perceber a o predomnio do pensamento mais
tarde chamado de representativo concreto por Jean Piaget, com a caracterstica
fundamental de egocentrismo, por depender muito da observao concreta feita pelo
prprio sujeito pensador.
Porm tambm podemos compreender a teoria dos Elementos como utilizando-se
das categorias fundamentais da imaginao, no dizer de Gaston Bachelard ((1938),
1990), ao escrever sobre os quatro Elementos ao longo de sua carreira de filsofo. De fato
so, antes de imaginrias, categorias sensoriais combinadas em qualidades diferentes: o
calor e a umidade. A polaridade frio-quente em interao com a polaridade seco-mido
geram quatro combinaes, expressas nos quatro Elementos, como pode ser visto na
Figura 1.
quente
Ar Fogo
mido seco
gua Terra
frio
Figura 1: Qualidades e Elementos
-
23
Os extremos secos se diferenciam entre si pelo fato do Fogo ser quente, tendente a
subir, e a Terra fria, tendente a cair. Esta dimenso se relaciona altura, como j
descrevemos no incio. Portanto a outra dimenso fundamental dada pela umidade, que
na gua compartilha a frieza da terra, e no Ar compartilha o calor do Fogo. Mas no
existe umidade nem no cu nem na Terra pura, que a rocha que se transforma em areia e
p. E como a umidade tambm se espalha pela Terra, expandindo e contraindo, tem seu
predomnio em nosso plano horizontal da vida terrestre.
Podemos perceber por esta teoria que o Fogo e a gua so opostos totalmente por
no compartilharem nenhuma qualidade sensorial: quente e seco contra frio e mido, mas
h dois intermedirios entre eles que tambm so opostos totalmente entre si, o Ar e a
Terra. A gua pode assumir a forma slida, mais prxima da Terra, e a forma gasosa, mais
prxima do Ar. O calor do Fogo realiza isto sobre a gua, ao passo que a gua pode
extinguir o Fogo aqui na Terra, mas o Fogo celeste eterno e imutvel.
Quanto Terra em relao ao Ar: fria e seca contra quente e mido, se opem
por uma tendncia a formas fixas contra formas volteis, de modo que a Terra suporta
tudo, mas no se mistura com nada, enquanto o Ar se envolve tanto com a gua quanto
com o Fogo, at mesmo com a Terra, esculpindo suas formas expostas ao seu contato.
O Cosmos ento o funcionamento harmonioso da interao entre os quatro
Elementos, unificados por um substrato para todos, o ter.
-
24
Mas, ento, como estes quatro Elementos vieram parar no Zodaco?
Esta provavelmente a principal contribuio grega astrologia que receberam dos
caldeus. H uma insero geomtrica dos Elementos no Zodaco, assim transcende-se as
imagens das constelaes e cria-se um Zodaco matemtico, chamado noet zodia: um
zodaco mental. Inicialmente este Zodaco utilizado pelos gregos estabelece uma relao
diacrnica entre os Elementos, j que este expressa o ciclo do ano dividido em doze
etapas. Portanto h uma relao estrita com o relacionamento Terra - Sol e suas
conseqncias. Este gera as quatro estaes do ano, iniciadas matematicamente: Primavera
e Outono por um dos Equincios nos quais o sol incide diretamente sobre o Equador
igualando o dia e a noite, Vero e Inverno por um Solstcio no qual o sol incide
perpendicularmente num dos dois Trpicos. Cada estao do ano passou a ser subdividida
em trs etapas, muito provavelmente em funo da relao com trs ciclos lunares
completos em mdia em cada uma, mais a idia de cada uma ter Comeo, Meio e Fim.
Assim, a partir dessa idia da subdiviso das estaes em trs etapas, em que cada uma
delas caracteriza um Ritmo astrolgico, passou-se a entender que o signo relativo a cada
uma dessas trs etapas seria respectivamente Cardinal (ou Cardeal), Fixo e Mutvel (ou
Mvel). Ptolomeu em 140 d.C., os descreveu respectivamente como Solsticiais-
Equinociais, Slidos e Bicorpreos, como veremos adiante, formando sincronicamente
quadrados no Zodaco, chamados de Quadruplicidades. Ptolomeu descreve a relao de
domnio do cu sobre a Terra atravs dos Elementos:
-
25
... um certo poder emanando da etrea substncia eterna disperso atravs de, e permeia toda a regio em volta da terra, a qual em toda parte sujeita mudana, uma vez que, elementos sublunares primrios, fogo e ar so envolvidos e mudados pelos movimentos no ter, que por sua vez envolvem e mudam tudo o mais, terra e gua e as plantas e animais ali dentro.12
Para explicar as diferenas entre as quatro estaes, Aristteles utilizou-se das
escalas do calor e da umidade, com cada qualidade do extremo delas predominando numa
estao: o quente no vero, o frio no inverno; o mido na primavera, o seco no outono. A
partir da h uma correlao possvel com a idia dos Elementos. Dado que o Zodaco
expressa a relao Terra Sol fica fcil perceber que s o elemento Fogo do qual o sol
composto pode predominar no meio do vero. Portanto o signo do meio do vero, Leo, s
pode ser do Fogo. Os outros trs Elementos so ento dominantes no meio das outras
estaes. Oposto a Fogo do meio do vero deveria estar gua no meio do inverno, com o
signo Aqurio, poderamos pensar. Mas o que os antigos astrlogos determinaram e
Ptolomeu consolidou para a posteridade que o Ar que se ope ao Fogo no Zodaco. No
entanto Ptolomeu no explica totalmente isto, apenas afirma o que foi dado pela tradio:
... o prximo assunto a ser tratado seria o dos caracteres naturais dos signos zodiacais em si mesmos, como foram passados por tradio. Porque embora seus temperamentos mais gerais so para cada um anlogos s estaes que ocorrem neles, certas qualidades peculiares deles surgem do seu parentesco com o sol, a lua e os planetas...13
12 a certain power emanating from the eternal ethereal substance is dispersed through and permeates the whole region
about the earth, which throughout is subject to change, since, of the primary sublunar elements, fire and air are encompassed and changed by the motions in the ether, and in turn encompass and change all else, earth and water and the plants and animals therein.
O texto do Tetrabiblos est em www.geocities.com/astrologysources/classicalgreece/tetrabiblos/ , em 25/03/2003. 13 Livro I: ...the next subject to be added would be the natural characters of the zodiacal signs themselves, as they have
been handed down by tradition. For although their more general temperaments are each analogous to the seasons that take place in them, certain peculiar qualities of theirs arise from their kinship to the sun, moon, and planets...
-
26
Ou seja, um signo pode se diferenciar da qualidade dominante da estao por ser
regido por um dado planeta ou um dos luminares, devido a estes tambm terem
qualidades segundo as polaridades Frio-Quente e Seco-mido, algo em parte definido por
sua posio em relao ao sol.
Em seguida Ptolomeu descreve que estes signos do meio das estaes tm seus
Elementos determinados no pelos planetas, mas por uma relao indireta com as estaes.
Os signos slidos, Touro, Leo, Escorpio e Aqurio, so aqueles que seguem os signos solsticiais e equinociais; e so assim chamados porque quando o sol est neles, a umidade, o calor, a secura e o frio das estaes que comeam nos signos precedentes nos tocam mais firmemente; no que o clima seja mais naturalmente um pouco mais destemperado naquele tempo, mas que ns estamos ento acostumados a eles e por esta razo somos mais sensveis ao seu poder.14
No entanto Ptolomeu ainda no explica o porqu de ser o Ar e no a gua, ou
mesmo a Terra, o Elemento do signo Aqurio, devido ao predomnio da frieza quando o
sol est passando nele em pleno inverno, sendo o Ar quente e mido. Esta aparente
incoerncia chegou a levar um dos maiores astrlogos rabes, Albumansur ou Abou-
Mashar (805-885) a propor uma mudana na classificao aristotlica dos Elementos,
fazendo a troca do frio entre a gua e o Ar, o que tornaria ento a gua quente e mida e
o Ar frio e mido, para manter a coerncia do sistema astrolgico.15
J Johannes Kepler, no incio do sculo XVII, passa ao largo disso, vai alm e
questiona totalmente o sistema zodiacal deixado pela tradio, no reconhecendo
inicialmente nenhuma razo para os signos serem coisas estanques, diferenciados
14 The solid signs, Taurus, Leo, Scorpio, and Aquarius, are those which follow the solstitial and equinoctial signs; and
they are so called because when the sun is in them the moisture, heat, dryness, and cold of the seasons that begin in the preceding signs touch us more firmly, not that the weather is naturally any more intemperate at that time, but that we are by then inured to them and for that reason are more sensible of their power.
15 citado em Clefs pour lastrologie, de Jacques Halbronn. Editions Seghers, Paris, 1976, p. 116-117.
-
27
qualitativamente pelos Elementos, j que no h uma diviso assim justificvel
astronomicamente; a no ser no mximo aquela dada pelos Equincios e Solstcios, ou
seja, as estaes do ano:
Parece que esta antiga diviso do zodaco em doze partes iguais se fundamenta antes de tudo numa arbitrariedade humana, e que os signos no esto em realidade ou por natureza to precisamente separados entre si, nem que suas caractersticas, segundo se definem por estes limites, se justaponham... No que diz respeito ao ponto cardeal e ao primeiro ponto de ries, isto realmente algo natural.16 Ainda que o sol, na medida em que avana pelos doze signos, muda as estaes na terra de acordo com as quatro qualidades, isto no se produz nesta seqncia [que foi criada pelos astrlogos]...17
No entanto Kepler aceitava que o lao entre o Criador e a natureza era geomtrico e
dividido em propores harmnicas, conforme denota esta passagem:
O lao mais forte mediante o qual este mundo inferior se conecta com o cu e se unifica com ele consiste em que todos os poderes se forjam de cima de acordo com o ensinamento de Aristteles, a saber, que dentro deste mundo inferior se oculta uma natureza espiritual capaz de operar atravs da geometria, que se vitaliza atravs das relaes geomtricas e harmnicas, originando-se em uma urgncia interior implantada pelo Criador, e que inspira e motiva a utilizao de tais poderes.18
16 Parece que esta antigua divisin del zodaco en doce partes iguales se funda ante todo en una arbitrariedad humana, y
que los signos no estn en realidad o por naturaleza tan precisamente separados entre s, ni que sus caractersticas, segn se definen por estos lmites, se yuxtapongan... En lo que respecta al punto cardinal y al primer punto de Aries, esto es realmente algo natural. (Informe sobre la Triplicidad de Fuego, 1603) Esta e as outras passagens foram traduzidas para o ingls por Kenneth G. Negus, EucopiaPublications, Princeton, Nueva Jersey, 1987, e esto no site http://cura.free.fr/docum/15kep-es.html, em 30/11/2003.
17 Aunque el sol, a medida que avanza por los doce signos, cambia las estaciones en la tierra de acuerdo con las cuatro cualidades, esto no se produce en esa secuencia [que fue creada por los astrlogos]... (Respuesta al Dr. Rslin, 1609)
18 El lazo ms fuerte mediante el cual este mundo inferior se conecta con el cielo y se unifica con l consiste en que todos los poderes se forjan desde arriba de acuerdo con la enseanza de Aristteles, a saber, que dentro de este mundo inferior se oculta una naturaleza espiritual capaz de operar a travs de la geometra, que se vitaliza a travs de las relaciones geomtricas y armnicas, originndose en una urgencia interior implantada por el Creador, y que inspira y motiva la utilizacin de tales poderes. Tertius Interveniens,1610.
-
28
Kepler descrevia a principalmente o reino mineral, cujas formas cristalinas bsicas
relacionou com as rbitas planetrias em seu sistema de mundo astronmico. Manteve uma
dvida se esta geometria poderia ser de fato aplicada s plantas e aos animais, ou seja, se
havia uma geometria da vida tal qual aquela proposta para o zodaco pelos astrlogos:
Em meu livro, recusei de fato o conceito de que a diviso do cu em doze signos e a distribuio destes entre os planetas [ou seja, como regentes] tiveram alguma base na natureza. No obstante, como a raa humana concebeu esta partio desde a poca dos caldeus at nossos tempos, e em todas as naes, ponho em considerao do leitor a possibilidade de que Deus mesmo se conforme a ela, ainda que tal diviso no seja natural, e de que Ele deseje falar aos seres humanos por este meio em uma linguagem ou com um mtodo de comunicao que eles compreendam.19
De fato esta distribuio dos Elementos no Zodaco tem uma origem obscura, mas
revela-se ali a inteno de expressar um perfeito equilbrio entre os Elementos, e Kepler
pondera que Deus poderia aceitar isto.
Parece claro que a distribuio dos Elementos no Zodaco fruto de um desejo
humano de expressar ali uma harmonia e uma geometria perfeitas, como o cu s poderia
ser, da os Elementos serem distribudos sincronicamente em tringulos eqilteros,
formando as chamadas Triplicidades. Possivelmente o Ar e no a gua foi colocada ali
oposta ao Fogo devido diferena parcial entre ambos que a umidade que, alis, torna-
se a nica qualidade diferenciadora dos signos opostos no Zodaco. Fogo e Ar
compartilham o fato de serem quentes, ento os opostos no Zodaco no podem ser
19 En mi libro, recus en efecto el concepto de que las divisiones del cielo en doce signos y la distribucin de stos entre los planetas [es decir, como regentes] tuvieran alguna base en la naturaleza. No obstante, como la raza humana ha concebido esta particin desde la poca de los caldeos hasta nuestros tiempos, y en todas las naciones, pongo a consideracin del lector la posibilidad de que Dios mismo no se conforme a ella, aun cuando tal divisin no sea natural, y de que l desee hablar a los seres humanos por este medio en un lenguaje o con un mtodo de comunicacin que ellos comprendan. (On the Nova in the Foot of Ophiucus, 1606)
-
29
totalmente diferentes, talvez porque se no fosse assim haveria a tendncia a uma
desintegrao deste, j que Fogo e a gua tm tendncias e movimentos opostos: um
sobe, o outro desce. Tambm Ar e Terra tm tendncias e os mesmos movimentos opostos,
e se estivessem opostos no Zodaco levariam sua desintegrao. Portanto gua e Terra
so colocados como opostos no Zodaco, compartilhando serem frios e se diferenciando
tambm apenas pela umidade.
Com o Ar quente e mido no meio do inverno oposto ao Fogo quente e seco
no meio de vero, agora resta colocar gua e Terra respectivamente no meio do outono e
no meio da primavera. Igualmente no aparece uma razo imediata para a Terra dominar o
meio da primavera e no do outono, dado que aquela a estao mida. Novamente
devemos pensar na idia de que o Zodaco expressa uma inteno de equilbrio, para que o
Cu possa exercer controle sobre a terra impondo mudanas com seu movimento. Assim
Touro, um signo da Terra seca e fria est no meio da estao mida, e Escorpio, um
signo da gua mida e fria est no meio da estao seca.
Assim, com os quatro signos Fixos tendo seus Elementos determinados, os outros
ganham por conseqncia seus Elementos, devido idia dominante dos Tringulos dos
Elementos no Zodaco, ou as Triplicidades. Necessariamente haver tambm um signo
cardeal e um Mutvel do me