tese academia scp.pdf

253
Um percurso de sucesso na formação de jogadores em Futebol. Estudo realizado no Sporting Clube de Portugal Academia Sporting/Puma. MIGUEL RIBEIRO MOITA PORTO, 2008

Upload: marco-fonseca

Post on 17-Aug-2015

230 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Um percurso de sucesso na formao de jogadoresemFutebol.Estudorealizadono SportingClubedePortugalAcademia Sporting/Puma.MIGUEL RIBEIRO MOITAPORTO, 2008Umpercursodesucessonaformaodejogadoresem Futebol. EstudorealizadonoSportingClubedePortugalAcademia Sporting/Puma.Monografiarealizadanombitoda disciplinadeSeminriodo5anoda licenciaturaemDesportoeEducao Fsica,nareadeAltoRendimento opodeFutebol,daFaculdadede Desporto da Universidade do Porto.Orientador: Prof. Doutor J lio GargantaMiguel Ribeiro MoitaPorto, 2008Provas de Licenciatura Moita,M.(2008).Umpercursodesucessonaformaodejogadoresem Futebol. EstudorealizadonoSportingClubedePortugalAcademia Sporting/Puma. MonografiaapresentadaFaculdadedeDesportoda Universidade do Porto.PALAVRAS-CHAVE: FORMAO, FUTEBOL, ACADEMIA, SPORTING, SUCESSO.DEDICATRIAQuem tem pressa pouco v e pouco senteAtodosaquelesquecomoeu, tentam pensarnaformaodejovensdeuma forma racional e pacienteAgradecimentosVAGRADECIMENTOS AoProfessorJ lioGarganta,pelapaixoquedemonstracadavezque conversa sobre Futebol. Nos momentos em que pensava estar sem ideias, umaconversaconsigofuncionavacomoumalanternanaescuridofacilitando e impulsionando novamente a caminhada. Acima de tudo, muito obrigadopornuncame ter dadoreceitas, eporter levantadoproblemas pertinentes para que eu encontrasse a minha soluo; Ao Professor Vtor Frade, por me ter feito ver que afinal, no Futebol, ainda nem tudo est inventado, nem nunca estar; Aosentrevistados:PedroLuz,LusGonalves,LusDias,J osLima, AurlioPereira,DiogoMatos,J eanPaul,CarlosBrunoCharrua,Paulo Bento e Pereirinha. Obrigado pela disponibilidade e interesse demonstrado na realizao das entrevistas; Um agradecimento especial ao Pedro Luz e ao J ean Paul pela simplicidade de processos e comunicao, pela humildade e simpatia. Obrigado por toda a disponibilidade que me foi presenteada na Academia; AosmeusPais,pelosvaloresquemetransmitirameportodasas experinciasquemeproporcionaram.Demonstraramsempreuma sensibilidadeforadocomumparamecolocarnotrilho certoaconselhandoe nunca impondo nada. Nunca esquecerei isso; Ao meu mano, pela sua existncia e pelas nossas (ainda) brincadeiras de midos. Pelasrecentesmemriasdenostlgicasvivnciasconjuntasno futebol de rua no jardim e pela sua adorao por Futebol (e pelo Benfica); HELOSINHA da minha alma, por ter aparecido na minha vida. Tens sido fundamental neste ltimo ano da minha vida e tenho a certeza que sem ti estetrabalhonoestariaaindaterminado.Aformacomoteenvolvesem AgradecimentosVItudooquefazes,apaixocomquevivesoteudia-a-diaeaginstica espao-temporalquerealizasparaestarespertodemim,levam-mea acreditar que s a mulher da minha vida. Obrigado por tudo. s a Maior; AoGabi.Nosportermosconcludojuntosestaltimafasedanossa licenciatura,partilhandoediscutindoopinies,masacimadetudopelo verdadeiro amigo que s. (Ah! E porque uma monografia no se faz sozinho lol); TunaMusicattaContractile,porconsiderarqueumgruponicode verdadeiros amigos, sendo a msica amgica fronteira quenos une. Por funcionar como um Caos Organizado pois s dessa forma teremos uma identidade diferente das tunas demais. Por verificar que depois de algumasexperinciasvividasenquantoTuno,forammuitososensinamentosque retireiparaaminhavidapessoaleprofissional.Esempresemesquecer que: Uma vez Tuno, Tuno para Sempre; Maltinhapelosbons e maus momentos partilhados ao longo destes cinco anos.Obrigado por enriquecerem o tempo partilhado!ndiceVIINDICEAGRADECIMENTOS... VNDICE DE FIGURAS. XINDICE DE QUADROS XIIILISTA DE ABREVIATURAS XVRESUMO... XVIIABSTRACTXIXRSUMXXI1. INTRODUO..12. REVISO DA LITERATURA..72.1. Formao: conceito e pesquisa..92.2. Formao desportiva.................112.3. Formao de jogadores em futebol...132.3.1. A importncia do futebol de rua......132.3.2. Um meio de desenvolvimento e de garantia do futebol no futuro......172.3.3. Uma soluo de viabilidade econmica nos clubes de futebol... 182.3.4. Academia de Futebol: uma escola dentro do clube....... 212.3.4.1. Da formao futebolstica formao holstica....222.3.4.2. Um processo a longo prazo.....292.3.5. A importncia dos resultados desportivos na formaode jogadores.....30ndiceVIII2.3.6. O perfil do treinador na formao de jogadores...322.3.7. O papel da famlia na formao de jogadores..342.4. Modelo de formao o orientador de todo o processo de formao de jogadores num clube...372.4.1. Modelo de jogo, modelo de treino, modelo de treinador e modelo de jogador quatro imperativos de referncia para todo o processo de formao de um clube.....382.4.1.1. Modelo de jogo.. 392.4.1.2. Modelo de treino.402.4.1.3. Modelo de treinador......422.4.1.4. Modelo de jogador.432.4.2. Deteco, seleco, recrutamento e desenvolvimento de talentos...............................................................................442.4.3. Desenvolvimento do talento: o papel da prtica deliberada na melhoria da performance472.4.4.Aformadejogardaequipaprincipalcomorefernciaparaos escales de formao..492.4.5. Coordenador/director tcnico o regulador do processo de formao....503. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS533.1. Metodologia de pesquisa553.2. Condies de aplicao da recolha de informao/ Recolha dos dados553.3. Caracterizao da amostra.564. ANLISE E DISCUSSO DAS ENTREVISTAS...594.1. Academia Sporting/Puma o acentuar de uma qualidade jevidenciada anteriormente.614.1.1. Funcionamento da academia nas reas extra-futebol ...654.1.2. Entre a formao futebolstica e a formao holstica734.1.3. Formao entendida como um processo contnuo e a longo prazo: a competio e os resultados desportivos como factor de progresso...764.2. O modelo de formao do Sporting Clube de Portugal.79ndiceIX4.2.1. Ponto de partida: que modelo de jogador?...................................794.2.2. O processo pr Academia ...814.2.2.1. Futebol de Rua: uma realidade a no descurarna procura de qualidade futebolstica natural......814.2.2.2. Deteco, seleco e recrutamento de talentos os indicadores padro de recrutamento864.2.2.3. As Escolas Academia Sporting/Puma: um espao privilegiado para o recrutamento de talentos...884.2.3. O processo de formao na Academia.934.2.3.1. A sintonia existente entre todos os escalesdo departamento de formao e entre estes e odepartamento de futebol snior.....934.2.3.2. Modelo de jogo das equipas de formao.....954.2.3.3. Modelo de treino as dimenses privilegiadas e a importncia do treino como catalizador do talento j evidenciado...964.2.3.4. O departamento de treino fsico aresponsabilidade complementar de optimizar, reabilitare monitorizar a performance dos jogadores..... 1004.2.3.5. Modelo de treinador a formao interna de treinadores...1064.2.3.6. A famlia parte integrante do processo de formao..1094.2.4. O processo ps Academia: as causas da facilidade na integrao e adaptao equipa profissional e at a outras equipasde top...1125. CONCLUSES.....1156. SUGESTES PARA A FORMAO E FUTUROS ESTUDOS...1217. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..1258. ANEXOS I (APRESENTAO DAS ENTREVISTAS). Indice de FigurasXINDICE DE FIGURASFigura 1 Currculo Padro de uma Academia de Futebol(Adaptado de Stratton, 2004).25Figura 2 Tringulo Desportivo: Inter-relaes entre a criana, pais etreinador (adaptado de Byrne, 1993)34ndice de QuadrosXIIINDICE DE QUADROSQuadro 1 e 2 Funcionamento do sistema de educao e treinos dosjovens dos diferentes escales da formao do SCP (dentro e fora da Academia).66Quadro 3 Horrio semanal dos atletas do Escalo dos sub-14 at sub-16com treinos na Academia67Quadro 4 Horrio semanal dos atletas do Escalo sub-17 com treinosna Academia.68Quadro 5 Horrio semanal dos atletas do Escalo sub-18/19 com treinos na Academia68Lista de AbreviaturasXVLISTA DE ABREVIATURASSCP Sporting Clube de PortugalSLB Sport Lisboa e BenficaFCP Futebol Clube do PortoResumoXVIIRESUMOO Sporting Clube de Portugal (SCP) tem vindo a ser reconhecido, h vrios anos, como um dos clubes que mais e melhor investem na formao de jogadores de Futebol. Este facto torna-seaindamaisevidentequandoseprocedeaumaretrospectivadopercursodevrios jogadoresdequalidadeinternacionalmentereconhecidaeseverificaquemuitosdeles passarampelaformaodoSCPtaiscomo,PauloFutre,LusFigo,HugoViana,Simo Sabrosa,RicardoQuaresma, Cristiano Ronaldo, J ooMoutinho,Nani,YannickDjal e, mais recentemente,Pereirinha,MiguelVelosoeRuiPatrcio.Ultimamenteestesucessoganhou ainda mais visibilidade com a criao da Academia Sporting/Puma.Nopresenteestudoprocura-seincidirsobreaimportnciadaboaformaoem Futebol,ilustrandoconcepeseprticasdeumclubedereferncia.Faceaoenunciado, pretende-se responder aos seguintes objectivos: (i) ilustrar, atravs duma reviso da literatura, a importncia que o processo de formao tem na criao de jogadores de sucesso no futebol actual; (ii) identificar e verificar a partir da observao e anlise do processo de formao do SCP,nasuaAcademiadeFutebol,quaisasvariveisqueorientamorespectivoModelode Formao; (iii) identificar os objectivos da formao do SCP; (iv) indagar as vantagens que o espaoAcademia do SCP proporciona formao de jogadores;(v) averiguara importncia queaformaodesportivaepessoaltemparaosresponsveisdaformaodoSCP;(vi)demarcar apercepodosresponsveisacercadosfactores-chavequecondicionam favoravelmente a adaptao eficaz dos jogadores dos escalesde formao do Sporting, ao futebol de alto nvel.Paraesteefeito,paraalmdeumarevisobibliogrfica,foramtambmrealizadasentrevistasadezintervenientesnaformaodoSCP AcademiaSporting/Puma. Do cruzamento da informao entre a reviso bibliogrfica e as entrevistas foi possvel retirar as seguintesilaes:a)aadministraodoSCPtemcomoprincpioprioritrioaintegraode jogadores provenientes dos escales de formao na equipa profissional; b) os dois objectivos pretendidosso,emprimeirolugar,aformaodejogadorescomqualidadeparaaequipa principaleemsegundolugar,aformaodehomens;c)anfasenaformaoest direccionada para um desenvolvimento holstico; d) a criao da Academia Sporting/Puma, fez comquepassasseahaver,paraalmdemagnficasinfra-estruturas,ummaior acompanhamento e apoio a toda a formao dos jovens; e) o sucesso da formao do SCP consideradocomoconsequnciadainteracodofuncionamentoconjuntodasvrias componentes existentes na Academia. No entanto, parece ser dada alguma nfase qualidade j demonstrada pelos jovens jogadores quando so recrutados para os escales de formao doSCP,etambmpreparaomentalaqueosmesmossosujeitosdurantetodoo processo de formao levado a cabo na Academia Sporting/Puma.PALAVRAS-CHAVE: FORMAO, FUTEBOL, ACADEMIA, SPORTING, SUCESSOAbstracXIXABSTRACTThe Sporting Club of Portugal (SCP) has being recognized, since several years, as one of the clubs that invest more and better in football players formation. This fact becomes more evidentwhenweproceedtoaretrospectofthecarrierofsomeplayersofrecognized internationalqualityandweverifythatmanyofthem,suchasPauloFutre,LuisFigo,Hugo Viana,SimoSabrosa,RicardoQuaresma, CristianoRonaldo,MoutinhoJ oo,Nani,Yannick Djaland,morerecently,Pereirinha,MiguelVelosoandRuiPatricio,hadgrowintheSCP formation,.Lately,thissuccesshasacquiredmorevisibilitywiththecreationofthe Sporting/Puma Academy. In the present study it is wanted to show the importance of good Soccer formation, by illustratingexperiencesandconceptionsofaremarkableteam.Therefore,itisintendedto answer to the following objectives: (i) to illustrate, through literature research, the importance of formation processinthecreation ofsuccess playersinthecurrentsoccer;(ii)to identify and verify,throwcommentandanalysisofSCPformationprocess,initsSoccerAcademy,the componentpartsthatguidetheirownFormation Model;(iii)toidentifytheobjectivesofSCP formation; (iv) to inquire the advantages that a space like SCP Academy provides to the players formation; (v) to understand the importance of sportive and personal formation to the masters of SCP formation; (vi) to demarcate the perception that responsible ones have about keys factors that lead to an efficient integration of young players formed by Sporting into high level soccer. For this purpose, besides a bibliographical research, we have also realised interviews to ten agents of SCP formation - Sporting/Puma Academy. By confronting the information decurrently of the bibliographical revision with the content oftheinterviews,weacquiredthefollowingresults:a)SCPadministrationhasasapriority principletheintegrationofplayersproceedingfromtheformationstepsintotheprofessional team;b) the two intendedobjectivesare the formation ofplayerswith quality tointegrate the main team,infirstplace,andtheformation ofmen,insecondplace;c)theemphasisofthe formationisputontheholisticdevelopment;d)thecreationoftheSporting/PumaAcademy, besides magnificent infrastructures, has leaded to a bigger accompaniment and support to all young formation; e) the success of SCP formation is considered a consequence of the conjoint functioningofsomecomponentsthatexistintheAcademy.However,itseemstobegiven someemphasistothequalityalreadydemonstratedbytheyoungplayerswhentheyare enlisted for the stepsof SCP formation, and also tothe mental preparation that they develop during all the Sporting/Puma Academy formation process. KEY WORDS: FORMATION, SOCCER, ACADEMY, SPORTING, SUCCESSRsumXXIRsumDepuis plusieurs annes que Le Sporting Club du Portugal (SCP) est devenu reconnu commelundesclubsquiinvestissentleplusetlemieuxdanslaformationdejoueursde Football.Cefaitdevientencoreplusvidentquandonfaitunertrospectiveduparcoursde plusieurs joueurs de qualit internationalement reconnue et on vrifie que nombreux, tels que PauloFutre,LusFigo,HugoViana,SimoSabrosa,RicardoQuaresma,CristianoRonaldo, J ooMoutinho,Nani,YannickDjalet,plusrcemment,Pereirinha,MiguelVelosoetRui Patricio,ontpassparlaformationdeSCP.Rcemment,cesuccsagagnencoreplus visibilit avec la cration de l'Acadmie Sporting/Puma. Danslaprsentetude,onprtendrflchirproposdel'importancedelabonne formation dans le Football, en illustrant des conceptions et des pratiques d'un club de rfrence. Faceacequonadit,onpostulerpondreauxobjectifssuivants:(i)illustrer,traversune rvisiondelalittrature,l'importancequeleprocessusdeformationadanslacrationdes joueurs de succs dans le football actuel ; (ii) identifier et vrifier partir de lobservation et de l'analyse du processusde formation de SCP, dans son Acadmie de Football,quels sont les variables qui guident son Modle de Formation ; (iii) identifier les objectifs de la formation de SCP ; (iv) rechercher les avantages que l'espace Acadmie de SCP fournit la formation des joueurs;(v)enquterl'importancequelaformationsportiveetpersonnelleapourles responsables de la formation de SCP ; (vi) dlimiter la perception des responsables concernant les facteurs cl qui conditionnent favorablement l'adaptation efficace des joueurs des tapes de formation du Sporting, dans le football de haut niveau. Pour en trouver des rponses, outre une rvision bibliographique, on a aussi ralis des entrevuesdixintervenantesdanslaformationdeSCP-AcadmieSporting/Puma.Le croisementdesinformationsentrelarvisionbibliographiqueetlesentrevuesapermis d'enleverlesconclusionssuivantes:l')administrationdeSCPacommeprincipeprioritaire l'intgration de joueurs provenant des tapes de formation dans l'quipe professionnelle ; b) les deux objectifs prtendus sont la formation des joueurs avec qualit pour l'quipe principale, en premier,etlaformationd'hommesensecondeplace;c)danslaformation,onmetl'accent dans le dveloppement holistique; d) la crationdel'Acadmie Sporting/Puma a produit des magnifiquesinfrastructures,maisaussiunplusgrandaccompagnementetaideencequi concernetoutela formation des jeunes; et) le succsde la formation de SCP est considr commeuneconsquencedel'interactiondesplusieurscomposantesexistantesdans l'Acadmie. Nanmoins, on accorde de limportance la qualit dj dmontre par les jeunes joueurs quand ils sont enrls pour les tapes de formation de SCP, et aussi la prparation mentale laquelle les joueurs sont suomis pendant tout le processus de formation dvelopp dans l'Acadmie Sporting/Puma. MOTS CL : FORMATION, FOOTBALL, ACADMIE, SPORTING, SUCCS1. Introduo Introduo3Com a implementao da livre circulao de jogadores na Comunidade Europeia, aquando da instituio da Lei Bosman em 1995, a mentalidade dos clubesmodificou-se.SegundooDirectorExecutivodaUEFA,Lars-Christer Olsson (2005), desde que a Lei Bosman foi instituda as transferncias tm-se multiplicadoeasquantiasmonetriasquecirculamnomundodofuteboltm acentuado tal tendncia, deixando os clubes quase sem identidade.Oaparecimentodestaleifezcomqueovalordosjogadores inflacionasseeastransfernciasatingissemvaloresastronmicos(Coelho, 2004).Gerou-se entoumadiferenaenormeentreosclubesmaise menos fortes,verificando-seumanaturalvantagemdosclubesdemaiorpoder econmico na compra de jogadores.Um dos clubes ilustrativos dos efeitos negativos desta lei foi o Ajax, quedesde1996,anoemquefoifinaldaLigadosCampees,nuncamais conseguiu atingir tal meta por ser incapaz de competir a nvel financeiro com os clubes mais fortes da Europa (UEFAc, 2005).No nossopas, essa diferenatambm foisentida,na medida em que Portugalpassou a ser um viveirodejovens jogadores estrangeiros e baratos (Coelho, 2004), fechando as portas a vrios jovens provenientes dos escales de formao dos clubes.No entanto, esse panorama tem vindo a mudar e o Futebol de Formao parece assumir nos dias de hoje cada vez mais importncia, pois tem sido alvo de interesse crescente por parte de vrios clubes (Franks et al., 1999).Nodia21deAbrilde2005aUEFA,comoobjectivodefomentarodesenvolvimentodaFormaoeareduodomercadodetransferncias exagerado que surgiu com a Lei Bosman, aprovou uma proposta que obriga os clubes a criar metas de formao(DN Desporto, 2005). Esta medida prev queem2008/2009cadaequipapossuanosseusquadrosquatrojogadores formados pela prpria academia do clube e outros quatro formados em clubes nacionais (UEFAe, 2005). A mesma entidade reafirmou toda a importncia da FormaonaconfernciadoFuteboldeFormaorealizadaem2006,onde referiu que o futebol de alto nvel pode apenas desenvolver-se em comunho Introduo4comumcuidadosoacompanhamentodos escalesjovens(UEFA,2006),o queconcedeespecialatenospessoasqueorientamoprocessode Formao.Noquedizrespeitoaotreinador,atravsdetudoaquiloquefaz, educando e formando seres humanos, constitui um modelo para todos aqueles com quem trabalha no dia-a-dia (Pacheco, 2001) no podendo nunca ser uma pessoa sem sensibilidade para lidar com jovens. Nesta tarefa s opedagogo podesatisfazer.Nobastaaemotividadeouaboavontade.Precisosso tambm o engenho e a especializao (Srgio, 1974).Em Portugal existe um clube que se destaca dos outros relativamente formao de jogadores, o Sporting Clube de Portugal (SCP).Desde h algum tempo a esta data que o S. C. P. reconhecido como o clube portugus que mais e melhor investe na formao de jogadores e aqueleque mais sucesso tem alcanado neste domnio. Este facto torna-se ainda mais evidentequandoseprocedeaumaretrospectivadopercursodevrios jogadoresdequalidadeinternacionalmentereconhecidaeseverificaque muitosdelespassarampelaformaodoSCPRecentementeestesucesso ganhou ainda mais visibilidade com a criao da Academia Sporting/Puma.Trata-se, pois, de um clube que mantm uma regularidade invejvel na formaodejogadorescomqualidade,anoapsano.Salientemosalguns exemplosdejogadores que,aolongodevriasgeraes,aliseformarame atingiram o mais alto patamar da performance futebolstica: Paulo Futre, Lus Figo, Hugo Viana, Simo Sabrosa, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, J oo Moutinho, Nani, Yannick Djal e, mais recentemente, Pereirinha, Miguel Veloso e Rui Patrcio.Nonosreferimosapenasnaturalintegraoeadaptaodestes jogadores ao plantel snior do SCP, mas sobretudo extraordinria adaptao que alguns daqueles jogadores tm conseguido noutras equipas, algumas detop mundial.Paraque se tenha umaideia dagrandiosidade existente na Formao do SCP,noltimoMundialdeFutebolestiverampresentesdezjogadores formados no SCP Apenas um clube conseguiu igualar este nmero, o Ajax de Amsterdo,tambmeleumclubecommarcadatradionaformaode jogadores.Introduo5Aindanaesteiradasactividadesqueconvergemparaosucessoda formaodoSCPdestaca-seumprojectoqueteveincionoanopassado, denominado Escolas Academia Sporting/Puma, o qual consiste numa rede de Escolas de Futebol espalhadas por todo pas e visa captar mais jovens para o Clubeeaumentararespectivacapacidadederecrutamentonoquereferea atletas mais jovens.SeanalisarmosbemtodoesteinvestimentodoSCPnaformaode jogadores,surgemalgumasinterrogaesqueparecempertinentes, nomeadamente: Dequeformaseconseguealcanarestepadrode qualidade?Quetipodetrabalhodesenvolvido?Comoeemqueidades levado a cabo?No fundo, e tendo em conta a supremacia nacional e europeia do SCPao nvel da formao de jogadores, o que pretendemos com este trabalho de investigao prende-se com os seguintes objectivos:Objectivos gerais:- Ilustrar, atravs duma reviso da literatura, a importncia que o processo de formao tem na criao de jogadores de sucesso no futebol actual;- Identificareverificarapartirdaobservaoeanlisedoprocessode formaodoSCP,nasuaAcademiadeFutebol,quaisasvariveisque orientam o respectivo Modelo de Formao;Objectivos especficos:- Identificar os objectivos da formao do SCP;- IndagarasvantagensqueoespaoAcademiadoSCPproporciona formao de jogadores;- Averiguaraimportnciaqueaformaodesportivaepessoaltemparaos responsveis da formao do SCP;Introduo6- Demarcarapercepodosresponsveisacercadosfactores-chaveque condicionamfavoravelmenteaadaptaoeficazdosjogadoresdosescales de formao do Sporting, ao futebol de alto nvel;Nointentodecumprirosobjectivosdelineados,recorreu-seauma metodologiaqueconsistiunumarevisobibliogrfica,atravsdaqualse procurou enquadrar o tema e evidenciar o estado actual do conhecimento que o sustenta. Posteriormente,foramefectuadasentrevistasabertasaintervenientes do processo de formao do SCP cujos campos de interesse se ligam com a problemtica em questo. Assim, o presente estudo est estruturado de acordo com os seguintes pontos: 1. O primeiro, a introduo, tem como objectivos: apresentar e justificar a pertinncia do estudo, delimitar o problema e definir os objectivos;2. O segundo ponto consiste numa reviso da literatura relacionada com o tema em apreo;3.Oterceiropontotemquevercomadescriodomaterialeda metodologia adoptada;4. No quarto ponto, anlise e discusso das entrevistas, estabelece-se uma relao entre a literatura e o que os entrevistados pronunciaram;5. No quinto ponto, apresentar-se-o as concluses;6.Nosextoponto,serodadasassugestesparaaformaoefuturos estudos;7.Nostimoponto,seroindexadastodasasrefernciasbibliogrficas mencionadas no texto dos pontos anteriores;8. No oitavo ponto, sero anexadas todas as entrevistas efectuadas. 2. Reviso da LiteraturaReviso da Literatura92.1. Formao: conceito e pesquisaS deixando de lado a ignorncia possvel promovera qualidade e a excelncia, a inovao e a qualidade. Bento (2006)ApesardoconceitoFormaoseralvodevriasreflexes,oseu significado difcil de delimitar. De facto, a palavra formao no tem apenasumsentido,podendoseraplicadaemvrioscontextosemomentosda existncia do ser humano.Com efeito, tanto se pode encontrar a palavra formao(1) associada aos conhecimentos recebidos durante o percurso escolar, como transmisso de valores acerca de determinado assunto.Reconhece-se, assim, que a ideia base subjacente a esta palavra a de algo que , ou pretende ser, organizado, ordenado e com uma finalidade bem definida,nosentidodatransformaopositiva decomportamentoseatitudes do ser humano.Porseuturno,oactodeformar definidonoDicionriodeLngua Portuguesa (2004) como a aco de dar origem a, fazer existir, conceber algo, organizar e/ou dispor numa dada ordem, transmitir valores a algum ou educar.Noqueconcernetransmissoerecepodeconhecimentos,a formao,actualmente,essencialemqualqueractividadehumanaesocial(Neves,2003). Omesmoautorreferequeosaspectosrelacionadoscoma formao,nasmaisdiversasreas,sofundamentaisnacriaodenovas sociedades,poisosdesafiosquehojesedeparamsocadavezmais complexos.Bento(2006)menciona dezelementosestruturantesdoconceitode formao, no obstante, no que diz respeito perspectiva pedaggica, faremos apenasrefernciaquelesqueseafigurammaispertinentesparaotrabalhoem questo.(1)De uma maneira global, segundo o Dicionrio de Lngua Portuguesa (2004), formao definida como: disposio ou organizao, grupo de pessoas com objectivos comuns, conjunto de conhecimentos adquiridos referentes a uma reaouexigidosparaexercer umadadaactividade,transmissodeconhecimentosvaloresouregras, conjuntode valores morais e intelectuais.Reviso da Literatura10Emprimeirolugar,esteautordiscorreacercadateoriadeconotao antropolgicaelaboradaporHumboldt,quetemcomopontodepartidaa seguintequestolanadaporestepensador:Qualofimsupremodo homem?Aoqueresponde:Ofimsupremodohomemformar-se,isto, reforar,elevar,espiritualizaretranscenderasuanaturezaanimaleoseu aparato fsico.. Assim podemos concluir que o ser humano nasce para formar a sua identidade.Em segundo lugar, a formao referenciada segundo uma perspectiva histrico-social-cultural, em que a sociedade e sua cultura so uma base para potenciaraliberdadedeaco,ouseja,nesseconfrontoscio-cultural constanteaolongodanossavidaqueasforasdapessoaseformame desenvolvem..Nestesentido,omesmoautorrefereaindaqueomundose apresentacomooespaohistricoeculturalondeohomemconstriasua identidade..OutrodoselementosquereferidoporHumboldtrelaciona-secomo carcter dinmico e sem possibilidade de concluso que a formao possui. A formao tem obrigatoriamente que ser um processo permanente e contnuo, comnecessidadedeumreajustamentoconstante..Defactonopodeser adquirida toda de uma s vez, mas sim atravs de um esforo dirio de cada um. Do exposto conclui-se que a criao e o desenvolvimento da sociedade esto,portanto,ligadascriaodeestratgiasestabelecidascombaseno saber,ouseja,trata-sedeuminvestimentonofuturoquepressupeum investimento na inteligncia, na educao e formao (Bento, 2004, p. 140).Reviso da Literatura112.2. Formao desportivaAaquisiodeumahabilidadenodepende,da instruo ouiniciaoprecoce,massimdasua aprendizagem no momento oportuno.Tani (2007)A prtica desportiva fundamental na formao do indivduo, enquanto atleta e pessoa. No obstante, no basta praticar desporto para que exista uma garantia de que o processo de formao desse indivduo promova tambm o seu desenvolvimento (Mesquita, 1997). Hvinteanos atrsassistiu-seaumaenormecontrovrsianoque diz respeitoformaodesportivadosmaisjovens,travando-seumabatalha entredoistiposdeformao:umamaisespecializada(unilateral)eoutrade carcter mais global (multilateral) (Barbanti e Guedes, 2004, pp. 208-211). Os mesmosautoresreferemqueaformaomaisespecializadatransformao treinodosjovensnumaprticarepetitivadashabilidadesespecficasda modalidade em questo, descurando o desenvolvimento mais amplo das suas capacidadesque seriam necessrias para posterioresrendimentos. Por outro lado,numaformaoglobalotreinomaisdiversificado,tentandoirao encontro do estgio de desenvolvimento da criana e fazendo com que sejam desenvolvidas,paraalmdehabilidadesespecficasdeumdeterminado desporto, habilidades consideradas fundamentais para a coordenao geral. Lima (1988) diz que a formao desportiva das crianas e jovens tem a responsabilidade de se opor simples reproduo do desporto adulto, devendo caracterizar-seporumprocessoquecontribuaparaaformaoglobaldos mesmos, atravs de actividades fsicas e desportivas que sejam favorveis ao desenvolvimento das capacidades e qualidades fsicas, como factor necessrio realizao individual do ser humano.Namesmalinhadepensamento,Constantino(2002)referequeo trabalhodeformaodesportivanosomenteumatarefacentradana aprendizagem das habilidades tcnicas de uma modalidade, mas tambmno desenvolvimento das condies fsico-desportivas que permitam ao jovem, na idadeadulta,aexpressomximaderendimentonodomniodessas Reviso da Literatura12tcnicas.. No entanto, a vontade de ganhar faz com que variadssimas vezes se utilizem formas de ensinar e treinar incorrectas, favorecendo a assimilao de erros tcnico-tcticos que posteriormente custam muito a corrigir e que se vo reflectir na competio, onde se procuram objectivos imediatos (Pacheco, 2001).Paracontrariarestatendncia,necessriocompreenderquea formao dever anteceder a especializao, a qual, para ser bem sucedida no futuro,pressupea existncia dealicerces adquiridosduranteo perodode formaodoatleta(Mesquita,1997).Estesalicercesdevemsercriadoso mais cedo possvel, tendo como base a qualidade do processo de treino e da interveno das pessoas que orientam a formao. Por outro lado, iniciar cedo apreparaodesportivanonecessariamentesinnimodeespecializao precoce (Marques, 1991), desde que sejam respeitadas as leis do treino e o processodedesenvolvimentodoatleta.(Mesquita,1997).Ofactodeem todas as modalidades desportivas se iniciar a preparao desportiva cada vez mais cedo revela-se positivo, constituindo um processo permanente de vrios anos, com objectivos claros e distintos para cada uma das fases do processo. (Marques, 1991).Emsuma,ficaclaroquea formaodesportivadojovemconstitui um aspecto fundamental na globalidade da sua preparao desportiva, revelando-semuitoimportanteadefiniodeobjectivosemcadaumadasetapasdo processo de formao, para que o seu desenvolvimento ocorra assim de forma harmoniosa (Mesquita, 1997).Reviso da Literatura132.3. Formao de jogadores em FutebolO Futebol de Formao a base e se nofizer parte de uma cultura enraizada, todoo Futebol vai sofrer com isso.Lennart J ohansson (2005)2.3.1. A importncia do Futebol de RuaUma das coisas que mais me fascinam pensar que o melhor jogador do mundo em 2014, estar, neste momento, descalo, a correr sobre terra e a passar fome num qualquer bairro de Buenos Aires ou Favela doRiodeJaneiro.Bastapensarnasorigensde Maradona,Romrio,PelouEusbio,nohipntico contexto africano.Lobo (2007)AnalisandoestacitaodeLusFreitasLobo,nosentidodereflectir acerca da formao de jogadores no futebol, parece-nos importante questionar onde jogaram Maradona, Romrio, Pel e Eusbio antes de ingressarem nos respectivos clubes?Ramos(2003)realaqueesseperodoqueantecedeaentradados jogadoresnosclubesessencialmentevividonarua,localondemuitosdos jogadoresiniciamasuaprticadeformacompletamenteespontneaesem nenhumabasetericanaorientaodasuaaprendizagem.Naverdade,se pensarmosnaorigemdosmelhoresjogadores domundo,nelesnoexistem grandesacademias,camposrelvadosebotasfantsticas.Existem,issosim,bairros de lata, baldios de terra revolta e ps descalos.(Lobo, 2007).AprticadoFuteboldeRuaefectuadaemterrenosbaldiose irregulares, com bolas de diferentes texturas e dimenses e sem a presena de qualquertreinador,atravsdepequenosjogosde3x3,4x4,consoanteo nmerodeparticipantesexistentes,emespaosvariados(largosou compridos)ecomdimensesreduzidas (Pacheco,2001).Noobstanteo mesmoautordefendequefoicomoFuteboldeRua,eatravsdeuma aprendizagem no organizada, que apareceram muitos jogadores dotados de um grande virtuosismo tcnico..Reviso da Literatura14De facto, esta realidade comum a grandes estrelas actuais do Futebol Mundial,senovejamososexemplosqueseseguem:AndriyShevchenko, campeo europeu pelo A.C. Milo, jogou nas ruas de Kiev at aos seus 9 anos, antesdeterdespontadoparaofutebolfederadonoF.C.Dynamo.Michael Owen, ex-jogador do Liverpool e da seleco inglesa, enquanto criana jogava futebolcomoseupaieirmonoparquedacidadetodososdomingosde manh. George Hagi, um dos maiores talentos romenos, jogou na rua com os seusamigosataos14anos,semnoentantopertenceraqualquerequipa federada at essa data (Roxbourgh, 2004).Michels (2001) refora a importncia do Futebol de Rua quando escreve: oFutebolderuaosistemaeducacionalmaisnaturalquepodeser encontrado.Se analisarmos oFuteboldeRua, concluiremos que asua fora resideno factodesejogardiariamentedeumaformacompetitiva, comuma preferncia para se jogar em todos os tipos de terreno, fazendo-o normalmente em grupos pequenos. No Futebol de Rua raramente vimos os midos a praticar gestos tcnicos ou tcticos de uma forma isolada..No sentido de confirmar o que referimos anteriormente, passamos a citar alguns jogadores e treinadores reconhecidos internacionalmente:Foi sempre muito importante jogar com os meus amigos nas ruas. Estvamos sempre a aprender algo e jogvamos por puro prazer, para nos entretermos. Aprendi muito nesse perodo da minha vida emuitodoqueaprendilevoagoracomigoparaofutebol profissionalJ oo Moutinho (in BBC, 2007)Nunca fui de exigir muito. S precisava mesmo era de uma bola e de autorizao dos meus pais para andar na rua. Adorava jogar na rua, de preferncia descalo!Deco (in Alves 2003:15)Quandoramoscrianasnemsequerbrincvamossguerras comomuitosmidosfaziam.OFuteboleocricketocupavam todos os nossos temposlivres.Nas paredes desenhvamos a giz osposteseasbarrasdasnossasbalizas,enohaviaumnico carronasruasqueincomodasseasnossaspartidas.Ascrianas de hoje perdem muito por no poderem jogar bola nas ruas.Bobby Robson (2006:20)Reviso da Literatura15Acho que a minha gerao estava cheia de jogadores de rua, pois o Futebol no organizado, ou seja, fora dos clubes era ultra-importante.A gente ia todo o dia para um campinho ou um relvado, ou aonde quer que fosse,s para passar o tempo com Futebol. Acho que ao Futebol de rua que eu devo o meu talento e, afinal de contas, a minha carreira profissional Klinsmann (2006)Osmeusprimeirosjogostiveramlugarnoprestigiadoestdiodarua Rubens Arredo: balizas feitas com sapatos velhos, em cada uma das extremidadesumaondearuaterminassenumbeco semsadaea outraondesecruzavacomaruaSetedeSetembro;aslinhaslaterais erammaisoumenosondeascasascomeavamdecadalado.Mas para mimeracomosefosse oMaracan, e foiolocalondecomeceia desenvolver as minhas aptides. Pel (2006:36,37)Jogvamos sempre volta da minha casa, em Las Siete Canchitas. Era um descampado enorme com vrios campos. Uns tinham balizas e outros no. Las Siete Canchitas era como um desses centros desportivos com relva sinttica e tudo! No tinha relva nem sintticos, mas era para ns uma maravilha. Era de terra, de terra bem pura. Quando comevamos a correr, levantava-se tanto p que parecia que estvamos a jogar em Wembley e com neblina. Diego Maradona (2001: 18)ApelidadoporPereira(2007)eLobo(2007)comoUniversidadede Craques, o Futebol de Rua tem vindo a desaparecer nos ltimos anos.TalcomorefereGarganta(2006),actualmente,resultadodo desenvolvimentodascidades,dadiminuiodosespaosedotempo disponveis,difcilencontrarespaosnosquaissepossajogarlivremente, verificando-seumatendnciacrescenteparaadiminuiodaprticado Futebol de Rua.Pacheco(s/d)alertatambmparaessarealidadequandorefereque hojeemdiaosjovens jnojogamFutebol narua, ouporfalta deespaos apropriados, devido ao desenfreado desenvolvimento das cidades, ou por no poderemjogarfutebolnasescolas,poisquandoosprofessoresfaltamos alunos so encaminhados para as salas de aula, para as denominadas aulas de substituio..No seguimento desta ideia, Roxbourgh (2005) salienta que os jovens de antigamentepraticavamlivrementefutebolnoanonimatodasruas,enquanto actualmenteosjovenstmoseutempotodoorganizadoesovtimasde umaofertaenormssimadevariedadetecnolgica(computador,consola,Tv, etc) que os retira automaticamente das ruas.Reviso da Literatura16Cruyff (2004) partilha da mesma opinio erefere como exemplo asua experinciapessoal:Aminhageraopassavamuitasmaishorasajogar futeboldoqueosmidosdehojeemdia.Actualmente,osjovenssjogam futebol nos seus clubes e, por isso, h que dar muito mais nfase ao trabalho de base..PedroAlmeida,PsiclogodoDesportocomformaoemFutebol,em entrevistanotciasmagazine refereque oque mudouentre as velhas eas novasgeraesforamacimadetudoosestmulospoishojehmaise diferentes- eos espaos nopassadoas crianasbrincavamsobretudo na rua com a bola e o pio.. Hoje, nos espaos urbanos, no seguro brincar na rua e as novas tecnologias invadiram o quotidiano da vida das famlias e das crianas,alterando,dessaforma,osseuscomportamentos.Noentanto,o mesmo autor acrescenta que, actualmente, os rapazes continuam a gostar de jogar bola e por isso as Escolas de Futebol facilmente conquistaram o seu espao.. DepreendemosentoqueofuturodoFuteboldevepassar invariavelmentepelasEscolasdeFutebole/ouAcademiasdeFutebol, acreditando-se que estas podem estreitar a relao das crianas com o jogo, talcomoaconteciahalgunsanosatrscomoFuteboldeRua.(Fonseca, 2006).Noentantonosepodeesquecerqueapassagemparaofutebol organizado se torna muitas vezes num entrave evoluo natural dos jovens, pois caractersticas como a espontaneidade, a independncia e a criatividade no entram nos vocabulrios de muitos treinadores. Frases como no levanta abola!oujogaaum-doistoques!,nofazemsentidonumprocessode formao que se quer, no incio, puramente selvagem e experimental. (Lobo, 2007).J ogarlivrementedeve,pois,fazerpartedoprocessode desenvolvimento de qualquer jovem (Roxbourgh, 2005).Neste sentido, concordamos com Lobo (2007) quando este refere que as Academias ou Escolinhas de Futebol devem procurar isso mesmo, reproduzir emlaboratriooFuteboldeRua()ecruz-lo,depois,commelhores condiesdelapidar o talento,a nvel fsico(nutrio,coordenao corporal, etc). Tudo porm sem beliscar os instintos naturais dos jovens..Reviso da Literatura172.3.2. Um meio de desenvolvimento e de garantia do Futebol no futuroNunca devemos esquecer que as grandes estrelas tambm j foram jovens futebolistas"Andy Roxburgh (2006)Falar de futebol juvenil fundamentalmente falar do futebol de amanhCarlos Queiroz (1989)Decorria o ano de 2004 quando no Frum de Clubes Europeus todos os presentesconcordaramqueofomentoglobaldofuteboldeformao fundamentaltantoparaodesenvolvimentodosjogadores,comopara salvaguardar o futuro do futebol (Roseiro, 2004, p.19).O presidente da UEFA, Lennart J ohansson, e o Director-Executivo, Lars-ChristerOlsson,referiramtambm,emMarode2006,naConfernciado FuteboldeFormaodaUEFAsubordinadaaotema-FutebolPresentee Futuro, que o futebol de formao uma rea-chave para a UEFA e para as suas federaes nacionais, sendo que o programa da UEFA para o Futebol de Formao visa auxiliar as federaes a aumentar o nmero de jogadores nos escales jovens. Para alcanar estes objectivos a UEFA oferece assistncia ao desenvolvimentodasinfra-estruturasdofuteboljuvenileformaode treinadores.Como se pode ento constatar, a temtica relacionada com a Formao no Futebol est sem sombra de dvidas em voga e parece ser hoje em dia uma aposta sria em grande parte dos clubes. Franks et al. (1999) confirmam isso mesmoquandoreferemquehcadavezmaispreocupaoeempenhono desenvolvimento de jovens jogadores..Noentanto,epartindodoprincpioqueoobjectivoprincipalda Formao no Futebol, em todos os clubes, deve prende-se com o facto de se conseguir uma integrao harmoniosa dos jovens jogadores na equipa principal doclube,norentvelosclubescontemplaremescalesdeformaona suaorganizaoedepoisnoapostaremnosjogadoresporelesformados, sendo o aproveitamento do trabalho realizado a esse nvel praticamente nulo. (Leal & Quinta, 2001). Reviso da Literatura18O futebol, os treinadores e os jogadores evoluem, mas existe um grande entrave a essa evoluo que so os clubes, porque fazem as coisas estagnar, uma vez que no possuem uma identidade, uma filosofia (Anto, 2006).Sabendoqueaformaodojogadortememvistaatingiroalto rendimento(principalmenteintegrandoaequipasnior),nonosparece possvel isso acontecer se no existir uma racionalizao de todo o processo, bem como se esse processo no tiver como referncia a equipa snior (Leal & Quinta, 2001).Hojeemdiaentofundamentalquesecompreendadeumaforma claraqueoFuteboldeFormaoumaescoladejogadoresdeFutebol. Assimcomoaescolatradicionalpretendedarumaformaoculturale acadmica aos cidados para que mais tarde possam vir a ser integrados na vidaactiva,aescoladefutebolpretendedarumaformaoadequadaaos jovens futebolistas, para que mais tarde possam vir a integrar as suas equipas seniores. (Pacheco, 2001).Destaforma,paraqueaformaodejogadorestenhaumacoerncia lgicatorna-seimportante,acimadetudo,quetodoesseprocessoseja balizadoporobjectivosbemdefinidosquesirvamdemodeloparatodasas equipasdoclube.precisotransformaraformaodejogadoresnum processoajustadoecomobjectivosadequados sdiferentesfasesdo desenvolvimento do jovem jogador (Leal & Quinta, 2001).2.3.3. Uma soluo de viabilidade econmica nos clubes de futebolSou acrrimo defensor da formao e o meu trabalho sempre foi conduzido nessa base (). O futebol tem de assumir a sua autonomia numa altura em que esta asfixiar em termos financeiros. Esta pode ser a soluo,at para devolver o carcter populista ao prprio jogo.Nelo Vingada (2004)Com a implementao da livre circulao de jogadores na Comunidade Europeia,aquandodainstituiodaLeiBosmanem1995,arealidade futebolstica alterou-se por completo.Reviso da Literatura19Nodia15deOutubrode2004,noJ ornaldeNegcios,ojornalista Sobral(2004)refere,numartigointituladoAclassemdiadofutebol,que num topo esto cada vez mais os grandes clubes e os jogadores galcticos e, no outro canto, aqueles que s procuram sobreviver. A importao de mo-de-obrafutebolsticafoiarrasandoasescolasdosclubesecomissoas hiptesesdejogadoresquenosogniossingraremnosclubes,como antigamente..Constantino(2002)damesmaopinioqueojornalistacitado anteriormente, afirmando que a livre circulao dos praticantes num mercado aberto introduziu uma dinmica em que a lgica dos pases economicamente maisfortesprevalecesobreosmaisfracos,criandoumasituaoonde tendencialmenteosmelhorespraticantesseconcentramnosmercadoscom maior poder aquisitivo..Recentemente,SoaresFranco(2007),PresidentedoSCPcitadopela agnciaLusa,referiuqueatransfernciadeNaniparaoManchesterUnited mostraopodereconmicoqueexistenosoutrospases,quepodemvirc pagartodasasclusulasderescisoqueosclubesportuguesesfixam..Acrescentouaindaqueoseucavalo-de-batalhatemsidotentarexplicaro difcilqueaumaequipaportuguesasercompetitivaanveleuropeu, apostandona formao paraoconseguir, faceaestasupremacia financeira dos colossos europeus.Apesar do panorama desfavorvel, todos os esforos esto a ser feitos para que este cenrio de crise econmica nos clubes europeus seja alterado. Nodia21deAbrilde2005aUEFAaprovouumapropostaqueobrigaos clubesacriarmetasdeformao. (DNDesporto,2005).Estamedidaprev queem2008/2009cadaequipapossuanosseusquadrosquatrojogadores formados pela prpria academia do clube e outros quatro formados em clubes nacionais(UEFAe,2005),etemcomoobjectivoodesenvolvimentoda Formaoeareduodomercadodetransfernciasexageradoquesurgiu com a Lei Bosman (DN Desporto, 2005).Estaapostasriaeorganizadana formaodejovensjogadorespor partedosclubesdefutebolpoderepresentarumaspectodecisivoparao sucessodosmesmosnosnoplanodesportivo,mastambmnoplano financeiro,pois,tendoemcontaapossibilidadedesepoderemviratornar Reviso da Literatura20futurosjogadoresdoplantelsnior,issoresultarnumapoupanaaonvel financeiro por parte do clube, que no precisar de contratar jogadores a outros clubes.Poroutrolado,avendafuturadestesjogadorespoderproporcionar ganhos financeiros para o clube.Constata-se, ento, que a conjuntura actual da formao no futebol leva-nosapensarmuitoalmdodesenvolvimentodesportivodosclubes.A formaodesportivadeixoudeserapenasumprocessoquetinhacomo objectivoasseguraraqualidadedesportivadosclubes,parasertambmum meio ideal para optimizar os recursos humanos (Constantino, 2002)Oliveira (2001, p.12) da mesma opinio quando refere que a aposta na formao uma das grandes solues para resolver os problemas econmicos dosclubes.Paraesseefeito,oautorsugereacriaodeestruturas,a alteraodeconceitosemetodologias,de formaaqueo nmerodejovens com talento seja maior do que o da realidade actual..Veja-se ento o que dizem alguns dirigentes e treinadores acerca deste assunto.Carraa(2003,p.82)referequenecessrioperceberqueneste momentoosjovensjogadoresdeumclubesoactivosetmumgrande potencial de rentabilizao futura.J oo Cardoso, coordenador geral do departamento de formao do S. C. Braga vai ao encontro da opinio de Carraa, quando, em entrevista revista Futebolista(2008),afirmaqueavendade1a2jogadoresporano,que tenhamsidoformadosnaescola,permitirosubsidiarafuturaacademia durante vrias pocas. A continuidade das vendas de jogadores ir justificar o investimento realizado nesta importante infra-estrutura, durante dcadas.. TambmCamacho(inAlves,2004,p.84)partilhadamesmaviso, mencionandoqueolanamentodejovensfutebolistasestmuitasvezes relacionado com os condicionalismos econmicos de cada clube. Equipas que no tm grande capacidade financeira a nvel internacional tm nos jogadores formadosnassuasescolasaoportunidade dereforaremosseus planteise de, ocasionalmente, venderem jogadores, o que lhes podem trazer importantes contrapartidas financeiras..NumaentrevistarealizadapeloJornalPblicoem1993,Co-Adriaanse referequeantigamente,noAjax,quandoasequipasestrangeirasvinham buscar os nossos jogadores, pagavam muito pouco (), no entanto estamos a Reviso da Literatura21mudar essa realidade e agora quando compram os nossos jogadores, tm que pagar um preo justo.. Acrescenta ainda que as transferncias de Bergkamp eJ onkrenderamaoclube12,5milhesdeeuros,queseroinvestidos totalmente na formao..OFulhamF.C.tambmumbomexemplodecomoaAcademiado clubesepodetransformarnumafontederecursosfinanceirosbastante preciosa(Stratton,Reilly,Williams,&Richardson,2004).Osresponsveis deste clube acreditam que a sua Academia tem o potencial de poupar milhes delibras devidoao facto dereduzir (teoricamente)as suas transfernciasde jogadores.Emsuma,ficabemclaroquerealmenteimperativo,osclubes apostarem na formao para que assim rentabilizem melhor os seus recursos humanos e financeiros e, ao mesmo tempo, se mantenham competitivos.2.3.4. Academia de Futebol: uma escola dentro do clubeNo se trata apenas de treinar. mais que isso: educar, acompanhar o crescimento e maturao, sentir os problemas dos atletas, participar, viver e acompanhar a escola, o namoro ou a discoteca.Leal & Quinta (2001)EstounaAcademiadesdequefoiconstruda e posso dizer que uma Escola de HomensAdrien Silva (2008) A formao da pessoa acontece sempre em determinados espaos ou locaisenocasoconcretodoFutebol,oclubedesportivoumdoslocais clssicos onde a formao acontece, pelo que importa entend-lo quanto antes comoentidadeculturalinsubstituvelnopapeldeagregadordasdiferenas, comolocaldecultivodevaloreshumanosesociais,educativae pedagogicamente relevantes. (Bento, Graa, & Garcia, 1999).Deacordocomesteentendimento,emergeactualmenteumnovo conceitonosclubesdefutebolespalhadospelomundofora:aAcademiade Futebol.Reviso da Literatura22ApalavraAcademia,segundoowebsiteWikipdia,onomedadoa vriasinstituiesvocacionadasparaoensinoepromoodeactividadesartsticas, literrias, cientficas e fsicas, sobretudo universidades.Actualmente, as Academias deFutebol fazemj parte da realidade de muitosclubesdetopeuropeuemundialtaiscomooAjaxFC,Manchester United FC, Sporting CP, Fulham FC, AC Bilbao, FC Barcelona, Manchester City FC.Deseguida,tentar-se-mostrarquaissoosprincipaisobjectivose finalidadesdemuitasdestasacademias,partindodopressupostoquea formaodoindivduodeveserumprocessopensadoalongoprazoede formaintegral(Mesquita,1997).Nestecontexto,gostaramos,emprimeiro lugar, de realar a ideia base lanada por Pedro Mil-Homens e Lee Kershaw, respectivamente os responsveis da Academia de Futebol do Sporting C.P. e ManchesterUnitedF.C.,no5.CongressoMundialdeCinciaeFutebol, realizadoem2003:UmaAcademianoservesparadescobrirtalentos, precisa de ser essencialmente uma preparao para a vida..2.3.4.1. Da formao futebolstica formao holsticaDesporto e pedagogia se os juntassem como irmos,esse conjunto daria verdadeiros cidados! Assim, sem darem as mos, o que um faz, outro atrofiaAntnio Aleixo (1979)O corpo contm, tanto como o crebro, a histria da vida.Edna Obrien (2007)Oqueactualmentereconhecidocomoessencialnaformaodos jovens o desporto como um modelo de educao e formao foi, no sculo passado,vtimadeumasriaresistnciaporpartedemuitospedagogos (Marques,2004),poiseraentendidocomoumaformadedegeneraoda moralformativa.Felizmente,asrazesdessacrticatransformam-seaos poucos em razes de defesa (Constantino, 2007).Reviso da Literatura23Naformaodesportiva,ocuidadoeaatenoatribudosformao ticasonageneralidademuitoreduzidos.Asociedadeaponta,como referncia quase exclusiva, para modelos de sucesso com resultados prticos imediatos, relegando para segundo plano outras questes menos palpveis de carcter moral, social, etc(Ramos, 2006). No entanto, os valores do desporto no se situam no plano de um corpo motor, mas sim, de um corpo que, ao realizardeterminadosmovimentos,suscitaoaparecimentodeatitudese condutas que reivindicam uma certa dimenso cultural, com consequncias no plano educativo e formativo (Ramos, 2006).SegundoPacheco(2001),aformaodesportivadeveserencarada comoumprocessoglobalizante,quevisanos,odesenvolvimentodas capacidades especficas (fsicas, tctico-tcnicas e psquicas) do futebol, como tambm, a criao de hbitos desportivos, a melhoria da sade e a aquisio de um conjunto de valores tais como a responsabilidade, a solidariedade e a cooperao, contribuindo desta forma para uma formao integral dos jovens..LeeKershawreferequemuitosdosjovensquepassampelanossa escola nunca iro jogar no Manchester United. A grande parte deles no ir, de certeza. No tenho nmeros certos, mas provavelmente s 10 a 15 por cento dos nossos midos chegam ao plantel do Manchester. Por isso, temos que os obrigaraseguiremosestudos,porqueomaisimportantequetenham sucesso na vida.. Enquanto os potenciais talentos de uma academia sonham emserestrelasdefuteboldofuturo,-lhesmuitofcildescurarosestudos. DestaformaaAcademiatemaresponsabilidadedeenfatizarnososeu desenvolvimentofutebolstico,mastambmasuaformaoacadmica (Stratton et al., 2004).TambmaAcademiadoManchesterCityFCfoiestabelecidacomo intuito de preparar o futuro dos jovens do clube e de lhes dar a possibilidade de progredirem tanto a nvel futebolstico como a nvel pessoal (Manchester City Football Club, 2008). No site deste clube pode ler-se ainda o seguinte: a nossa meta ver cada vez mais jogadores da formao a transitarem para a equipa principaletambmajudarmosoutrosjogadoresaestabelecerem-secom sucesso noutras equipas.(Manchester City Football Club, 2008).Atravs destas ideias percebe-se ento, que uma Academia de Futebol um local onde, para alm do desenvolvimento desportivo, existe tambm um Reviso da Literatura24grandeapoioedesenvolvimentonoquedizrespeitoparteacadmicae formaoindividual.Deacordocomesteentendimento,concordamoscom PedroMil-Homensquando,noCongressodeDesportoemJ aneirode2005, referiu que uma Academia de Futebol uma Escola dentro de um Clube.. Na opiniodoautor a missodaAcademiade Futeboldo SportingCP formar jogadoresaptosaintegraraequipaAesimultaneamente,promovero desenvolvimentopessoalesocialdosjovenspertencentesaosescalesde formao.Damesmaforma,naAcademiadoFCBarcelonaLaMasia,o objectivoacolhertodososjovensjogadoresquevivemlongedassuas famlias(espanhisouestrangeiros)edesenvolv-lostantonosentido desportivo, como no sentido acadmico. No vigsimo aniversrio da Academia erealizou-seumaretrospectivadoseupercurso,eobtiveram-sefeedbacks bastante favorveis, pois chegou-se concluso de que grandes nomes como Amor, Guardiola, Sergi, De la Pea, Puyol, Xavi, Reina, Vctor Valds, Gabri ou MessiviveramecresceramemLaMasiaetransitaramcomsucessoparaa equipa profissional (Fc Barcelona, 2003).Na Academia de Futebol do Fulham FC os objectivos traados passam por realizar um desenvolvimento tcnico, acadmico, pessoal e social de cada indivduo.Aeducaodetodososseusjovensjogadoresuma responsabilidadedoprprioclubeefeitaatravsdeumaabordagem holstica,emqueodesenvolvimentodotodo(doindivduo)tidoem consideraoenocomprometidopelomaiornfasedadoao desenvolvimento da tcnica (Fulham Football Club, 2003). Noseguimentodestaideia,parecetambmimportantereferiras preocupaes que o SCP tem no que concerne s relaes com os pais e savaliaesespecficasquefazemaosseusjovens.SegundoMil-Homens(2003),trata-sedeumpercursoacompanhadoemqueospaistmuma palavraimportanteadizer.Oproblemaquandosoosprpriospaisa incentivarem-nos a tirar os midos da escola, porque o que querem ver o filho numclubedefutebol.Porvezes,esquecem-sedeprecaverofuturoede pensar que se o filho parte uma perna, perde o futebol e pode perder-se para a vida.. Esse acompanhamento realizado no SCP tem tambm que ver com as avaliaesperidicasrealizadasaosseusjovensjogadoresnoNatal,na Reviso da Literatura25Componente TcticaComponente TcnicaComponente NutricionalCurrculo Padro de uma AcademiaComponente Fsica:Desenvolvimento fisiolgicoComponente emocional/psicolgica:- Reflexo da prtica;- Lidar com o dia-a-dia (estilo de vida);Componente vocacional e/ou acadmicaCompetnciasComportamentais:- Modelos comportamentais;- Lidar com o pblico (pessoas);- Conduta e comportamento;- Competncias sociais;- Competncias na conduo;- Visualizao do J ogo;- Consciencializao das drogas;- Planeamento financeiro;- Relaes;- Primeiros SocorrosPscoaenofinaldapoca.Procuramosinformaessobreoquedevem melhorar e qual tem sido a evoluo deles refere ainda.Emsuma,hojeemdiaosjovensqueintegramumaAcademiade Futebolestoexpostosaumriqussimocurrculoquelhesproporcionauma variadaformao.Estecurrculoconsistesobretudoemconsideraes relacionadascomodesenvolvimentodasseguintescategorias:tcnicas, tcticas,fsicas,sociais,comportamentais,psicolgicas,nutricionais, educacionais e de qualidade de vida (Stratton et al., 2004).Afiguraseguinte(fig.1)representaumpotencialcurrculopadro disponibilizadonasAcademias.Noentanto,importantereferirqueeste currculopoderteralgumasvariantesconsoanteosobjectivos,valores, aspiraes e finanas de cada clube (Stratton et al., 2004).Fig. 1 Currculo Padro de uma Academia de Futebol (Adaptado de Stratton, 2004)Reviso da Literatura26Componentes tctico-tcnicasO desenvolvimento tcnico de um jogador fundamental para alcanar performanceselevadasnofuturoerecentementeestaserdadocadavez maisnfaseaessedesenvolvimento.Porisso,nasAcademiascomeama existirtreinadoresquetrabalhamessacapacidadeemidadesmaisbaixas (Stratton et al., 2004).Paraalmdisso,existemj clubesque adoptamuma filosofiadejogo igual para todas as equipas da Academia e por vezes para todo o clube (ex: Sistema de 4-3-3 do Ajax), no entanto isto nem sempre acontece, muito devido formadegerir oclube porparte dosseus responsveismximos.Deuma maneiraoudeoutraosjovensjogadorespertencentesaumaAcademia recebem cada vez mais cedo ensinamentos relativamente conscincia tctica (posicionamentoemcampo,sistemasdejogo)emedidaqueavanamde escaloanfasenaconscinciatcticaaumentagradualmentetentando conciliaraevoluodasperformances,individualecolectiva(Strattonetal., 2004).Componente nutricionalEm primeiro lugar necessrio que os jovens jogadores entendam que parateremboasperformances,necessitamtambmderealizaruma alimentao equilibrada e apropriada.Algumas Academias j educam os seus jovens jogadores e ainda mais importante,osseuspais,relativamenteaosalimentosquedevemingerir.O volume de treinos e jogos a que os jovens de uma Academia esto sujeitos faz comquenecessitemdesealimentardeformaregradaparaassim, aumentarem a sua performance (Stratton et al., 2004).Componente fsicaA componente fsica existente numa Academia tem que ver, regra geral, comodesenvolvimentoeoptimizaofisiolgicadosjovensjogadores, Reviso da Literatura27incluindoodesenvolvimentodaflexibilidade,fora,potncia,velocidade (Stratton et al., 2004).Normalmenteostestesrealizados(ex:VO2mx,testesaerbios, anaerbiosetestesdeagilidade),sorigorososerealizadosemtodosos jovens da Academia de forma a transmitirem informao acerca da capacidade fsicadecadajovememvriosaspectosedessaformarealizarplanos individualizadosdemelhoriaoureabilitaodaperformance(Strattonetal., 2004).Componente psicolgicaAospoucos,osclubescomeamareconheceraimportnciado desenvolvimento psicolgico e emocional em jovens jogadores. Sabe-se que o desenvolvimento desta capacidade est muito relacionado com a nfase dada reflexo e consolidao pelo jovem e por isso, os jovens so encorajados a sermaisresponsveiscomoseuprpriodesenvolvimento(Strattonetal., 2004).Numa formao recente jovens jogadores foram encorajados a reflectir noseudesenvolvimento,nassuashabilidades,nasuatcnicae consequentementenasuaperformance(PremierLeagueLearning,2003). Kees Zwamborn (AjaxUSA, 2001) refere que no entanto, o lado psicolgico e emocionalomaiscomplexonodesenvolvimentodojovemjogador:A personalidade um problema. Para alm de ser difcil de descrever, tambm de difcil desenvolvimento..Devidocomplexidadeexistentenodesenvolvimentodacapacidade emocionalepsicolgica,necessrioento,dar-lhesmaisateno.Desta feita, elementos como o estabelecimento e ajuste de objectivos, bem como o ordenamento da performance, esto cada vez mais presentes nas Academias (Stratton et al., 2004).Reviso da Literatura28Componente acadmicaTradicionalmenteedurantemuitosanos,estacomponentedo desenvolvimentodeumjogadordefutebolfoiconsideradairrelevante.No entantoacrescenteinformaodosbenefciosdeproduzirjovensmais completosecomvriascompetnciasporpartedamaioriadosclubes, assegurouqueaeducaotemquefazerpartedetodooprocessode desenvolvimento dos jovens existente numa Academia. O suporte educacional muitasvezesfornecidopelaAcademia,massquandoojovemjogador assinarumcontractoatempointeirocomaAcademia.Atessemomentoa responsabilidade educacional predominante do prprio jogador, dos pais e da escola (Stratton et al., 2004).Competncias comportamentaisJ untando ao programa educacional, os jogadores da Academia deviam estartambmsujeitosaumconjuntodecompetnciasehabilidades comportamentaisdodia-a-dia.Nessesentido,quemficaresponsvelpor instruirosjovensso normalmentepsiclogosdodesporto.Estes programas proporcionamaosjogadoresumadiversidadedecompetncias(sociaise comportamentais) que podem ambas ser utilizadas dentro ou fora da Academia e/ou clube (Stratton et al., 2004).Emsumae analisandooanteriormenteenunciadonestecaptulo apercebemo-nos das preocupaes existentes por parte dos clubes em formar jogadorescadavezmaiscompletos,atravsdeumprocessomaisholstico. Destafeita,esabendoqueactualmenteodesenvolvimentodejovens jogadoresdeeliteatravsdaAcademiaeparaaequipaprincipal,soos objectivosdequalquerAcademiadeFutebol,parece-nosestarematrilharo caminho mais correcto rumo a esses objectivos.Reviso da Literatura292.3.4.2. Um processo a longo prazoA cultura do impacto mede com muito mais generosidade o episdio isolado que o trabalho contnuoJ orge Valdano (2008)Abranda a velocidade com que vivesArranja tempo para brincares com as tuas crianasObserva-as a crescer e regista todos os pormenoresAprecia cada momento e nunca desejes pelo futuroDarrel Erickson (2004)A formao desportiva dos atletas um processo a longo prazo e, como tal, deve ser estruturada e organizada segundo um conjunto de pressupostos e princpios (Raposo, 2006); no entanto, vemos muita gente no saber distinguir as vrias competies e os objectivos associados, afirmando, por exemplo, que ograndeobjectivodeumqualquer programadeformaodesportivaodeformarcampees.Oraestapressaemobtertudo,deumasvez,sem perspectivadepercurso,semsemear,muitoprpriadosnossosdias (Ramos, 2006) e deve ser encarada com cuidado.Queimaretapas,antecipandoalgunscontedosdepreparao, condenaraevoluodoatleta,impedindo-odemanterumamargemde progresso ao longo dos anos (Raposo, 2006) .Stratton,Reilly,Williams&Richardson(2004)referemqueagrande missodeumaAcademiadeFutebolcriarumambientequeprivilegieo desenvolvimentodejogadoresdeelitequesepossamintegrarnaequipa principaldoclube.Ora,paraqueissoaconteanecessriodartempoao tempo, pois qualquer processo de formao no pode ter como preocupao primriaaobtenoderesultadosimediatos.Aaprendizagemnodeveser balizadaporimperativosderendimentoimediato,sobpenadeseestara comprometeraevoluofuturadojovempraticante(Mesquita,1997).A formaodesportivadeve,pois,realizar-sedandopassosenocorrendo, construindoeconstruindo-se,numespaomentalqueacreditamosser indiscutivelmente educativo (Ramos, 2006).Mil-Homens(2003)reforaestaideiaafirmandoque,UmaAcademia como a nossa faz um trabalho de longo prazo. uma construo, um percurso Reviso da Literatura30que se faz passo a passo. Temos a obrigao de cuidar do futuro dos jovens que passam pela nossa casa..Na famosa Academia de Formao do Ajax, o objectivo formar jovens talentostransformando-osemjogadoresdetopmundial,tendosempreem conta que este um processo bastante rduo e prolongado.Segundoestestestemunhosaformaodojogadorconsideradaum processo a longo prazo e temos que concordar com Garganta (1986) quando este refere que um atleta passa por vrias etapas antes de alcanar os mais elevadosnveisdedesempenhodesportivo,sendoque,paraqueisso acontea, imperativo racionalizar e organizar esse percurso desde o incio da formao at aos mais altos nveis de desempenho.Aformaodejovensjogadoresdefuteboldeveentoserassumida pelosclubes,massempretensesderealizarumprocessoinstantneoe repentino.Oprocessodeformaodeveseralgopensadoerealizadola longue, para que, assim se formem jogadores maduros e preparados para o futebol de alto nvel.2.3.5.Aimportnciadosresultadosdesportivosnaformaode jogadores necessrio encontrar um equilbrio entre a ideia de que na formao no interessa ganhar, mas sim competir; e a atitude de fazer depender a formao dos jogadores dos resultados desportivos imediatosPacheco (2001)Sem a competio sempre presente nonosso dia-a-dia, onde iramos buscar o apelo constante superao e necessidade de atingirmos a excelncia J orge Arajo (2001)Ouve-semuitasvezesdizeremvrioscontextosdesportivosfrases como perder ou ganhar desporto, o que interessa participar. Mas ser que as vitrias no so importantes no processo de formao de um jogador? Comoseverificounocaptuloanterior,aformaodojovemjogador requer tempoe pacincia,sem pretenses deresultadosimediatos. Pacheco Reviso da Literatura31(2001), desta opinio quando refere que em idades mais baixas aquilo que deve ser o objectivo principal no processo de ensino a formao adequada do jogador, no entanto o mesmo autor, faz um parte, afirmando que no apologista daquela famosa frase em que se diz que o importante participar, no ganhar. Na opinio de Arajo (2001) ter sucesso muito importante. Na opiniodestemesmoautorbuscarosucessosignificadaronossomelhor, tentarserexcelentequantopossvel,semqueparaissosetenteobter sucessoatodocusto,comobvio.Ouseja,novaletudoparaseobter sucesso. Ainda Arajo (2001) acrescenta que o lado oposto tambm no deve seraceite,isto,quenoimportatersucesso,queganharouperdera mesma coisa porque se assim fosse, ento para qu competirmos?.Almeida (2005) refere que seascrianascompetiremsparaganhar, ento est tudo mal pois significa que a criana vtima de presses negativas por parte do clube, dos treinadores e dos pais, o que cria sempre problemas..NesteseguimentodeideiasArajo(2001)afirmaaexistnciadeum equilbrio:Odesermoscapazesdevalorizaraparticipaonacompetio fazendo ressaltar acima de tudo o esforo que desenvolvemos todos os dias no sentido de alcanarmos o sucesso que almejamos..Em suma, conclui-se ento que o sucesso e o insucesso so duas faces damesmamoeda,representadapelosresultadosdesportivos,equeestes fazem parte do processo de formao de um jogador, tal como outro aspecto qualquer. Portanto, no devemos entender esses resultados como um fim em si, mas sim, como um meio para atingir um fim, sendo este fim a formao do jogador.Reviso da Literatura322.3.6. O perfil do treinador na formao de jogadoresNumtrabalhodeFormaoDesportivaso pedagogo podesatisfazer.Nobastaa emotividadeouaboavontade. Precisosso tambm o engenho e a especializao.Srgio, M. (1974)()formarjogadoresvaiparaalmdoensinodoselementostcnico-tcticosdojogo.Importaaprender,atravsdofutebol,alereentendero mundoeaexerceracidadania. Oqueexige mestresdaeducaoedosaberenomisters da ignorncia e da rotina. Bento (2004a)Como j foi referido anteriormente, a formao de jogadores deve tratar-sedeumprocessoalongoprazoemquesejamdesenvolvidas, simultaneamenteascapacidadesmotoraseascapacidadesintelectuais. Assim, e partindo do pressuposto que as crianas tm especificidades prprias equeoseutreinoemfutebolnopodeserigualaodeumadulto, questionamo-nossobreaformaodostreinadores.Serqueamaioriados treinadorestem formaoparatrabalharcomosescalesjovens deformaa no comprometer o seu crescimento? Pereira (1996) e Almeida (2005) dizem que h ainda muitos treinadores semhabilitaestcnicasepedaggicasparatrabalharnofuteboljuvenil,o que podecomprometer o crescimento harmonioso dos jovens como atletas e pessoas.Emsintoniacomesteautor,Losa(2007)referequeaindaexistem muitos treinadores que, por ambio ou falta de conhecimento, comodidade e atmesmoconfuso,aplicamnascrianasumplaneamentodesportivo concebido para adultos, o que actualmente nos parece inadmissvel. Ora, para conseguir um ensino mais integral e educativo, o treinador de jovensdeverter um perfilparecidocom o deum maestroouumeducador, comformaotcnicaepedaggicaadequadaequeorienteefacilitea formao motora do jovem (Gimnez, 2003).O mesmo autor acrescenta ainda que, como educador, as suas funes so formar jogadores e preparar equipas utilizando uma metodologia que tenha em conta, sobretudo, o atleta. Reviso da Literatura33Partilhando da mesma linha de pensamento, Pacheco (2001) refere que otreinador/educadornopodercontinuaraseroex-praticanteouo praticante em final de carreira, que sem formao especfica convidado para treinaros jovens, como recompensapelos muitosanos dededicao ao seu clube, e que se limita a aplicar a sua experincia de antigo atleta e a organizar eadirigirsessesdetreino..NaopiniodeGarganta(2004)opapeldo treinador no deve, assim, ser entendido nos limites restritos do tcnico, do instrutoroudoadestrador,poisdeleseesperaquesejacapazdelideraro processoglobaldeevoluodosatletasaseucargo,induzindoa transformao e o refinamento dos comportamentos e atitudes, na procura do rendimentodesportivoedodesenvolvimentopessoalecolectivo..Sendo assim,treinadorescommaiorconhecimentoacercadodesenvolvimentoda crianaecomexperincianotreinodejovenstmmaishiptesesdeajudar jovens jogadores de futebol a encontrar o seu potencial (Stratton et al., 2004). Olhando para o treinador como um professor (educador), concordamos comPereira(1996)quandoesteafirmaqueotreinadordejovensdeveser uma pessoa devidamente formada e com habilitaes tcnicas e pedaggicas para o exerccio de um cargo desta natureza ou, por outras palavras, deve ser umindivduoque,simultaneamente,possuaexperinciacomopraticante desportivoetenhaumaformaoprpriaqueohabiliteatreinarjovens futebolistas. (Pacheco, 2001).Mais educadores e menos treinadoresSrgio (1974)Reviso da Literatura342.3.7. O papel da famlia na formao de jogadoresOs Pais tambm jogam, mas no so o nmero um, dois ou trs, dez ou onze, nem esto no banco nem no campo. O papel dos pais passa por no interferir nos papis dos outros adultos relevantes no contexto educativoedesportivodosfilhos,nomeadamente treinadoresedirigentes;apoiarosseusfilhose trabalharamotivao, reforandoaquiloquefazem bemAlmeida (2005)Quandoumacrianainiciaasuaformaodesportivaeintegraum determinado desporto, inevitvel o envolvimento e apoio que existe por parte das suas famlias (Byrne, 1993). De facto, atravs do apoio financeiro e emocional que proporcionam, a presena da famlia fundamental e torna-se sem sombra de dvidas um dos elementos chave para o envolvimento das crianas no desporto (Rowley, 1986 cit.porGilroy,1993).Consequentemente,quantomaiorcomeaasero envolvimento da criana, maior comea a ser, tambm, o envolvimento da sua famlia, em especial os pais (Gilroy, 1993).Nestecontexto,Byrne(1993)chama-nosatenoparaotringulo desportivoexistenteemqualquerdesportopraticadoporcrianas.Este tringulo consiste em inter-relaes entre o treinador e a criana, o treinador e os pais e entre os pais e a criana, tal como mostra a figura 2.Fig. 2 Tringulo Desportivo: Inter-relaes entre a criana, pais e treinador (adaptado de Byrne, 1993) Aindarelativamenteaestetringulodesportivo,omesmoautor acrescenta que para um treinador ser eficaz no seu trabalho precisa de manter excelentesrelaes de trabalhocom osseus atletas.No entanto, noque diz respeito ao envolvimento dos pais no desporto dos seus filhos, a opinio j variada.PaisTreinadorCrianaReviso da Literatura35Segundoomesmoautorpodemosdistinguirtrspontosdevistade treinadoresemrelaoaoenvolvimentodospaisnodesporto.Noprimeiro, esto aqueles treinadores que apoiam e aceitam o envolvimento dos pais como um elemento vital no processo de treino. No segundo ponto de vista inserem-se aqueles que vem o envolvimento dos pais como uma situao inevitvel, mas certamentenoencorajada.Porltimo,eincludosnumaminoria,esto aquelesqueconsideramqueoenvolvimentodospaisdeveriaserexcludo, considerando-os um verdadeiro problema.Estaltimapreocupaoexistenteporpartedealgunstreinadores compreensvel,muitoempartedevidopressoexercidapelospaisnos prpriosfilhos.Estacoisanebulosaaquechamampressopodetermuitas facetas,entreelas,podelevaraquealgunspais(eporvezesalguns treinadores) comecem a ficar obcecados com o sucesso da criana; pode levar a que a criana olhe para a vitria como sendo o mais importante, descurando os meios que ir utilizar para a alcanar, etc. (Gilroy, 1993). Neste seguimento de ideias, Almeida (2005) refere que existe um nmero assustador de pais que tmacapacidadedeinfluenciarnegativamenteosfilhos,sejaprojectando nelesodesejodeviremaserfuturoscraques,quersejaporrazes econmicas,sonhosnorealizadosououtros,etambmdeinterferirno trabalhodostreinadores,fazendo-lhesreparos,dandoinstruesaosfilhos durante os jogos que so contrrias s que as crianas receberam.. O mesmo autoracrescentaaindaquesofrequentesassituaesemqueospais agridemverbalmenterbitros,tcnicos,paiseatletasdeclubesadversrios, havendoaindaaquelesquesezangamcomosfilhosporquenoforam convocados,porquenojogaramatitularesouporqueachamqueelesno jogaramcomosabiamedeviam,desconhecendoquenocompeteaospais subvalorizarem ou sobrevalorizarem a prestao dos filhos. Os pais precisam de saber que os sucessos e os insucessos desportivos dos filhos fazem parte do processo de aprendizagem, tal e qual como acontece na escola, ou noutro qualquer contexto de formao de crianas e jovens. (Almeida, 2005).Noentanto,pareceevidentequeaexperinciadesportivasermuito maisagradveletermuitomaissucessoparatodosseasrelaesentre treinadores,crianasepaisforemcultivadasdeformacuidadosa(Byrne, 1993).Reviso da Literatura36Destafeita,aquelestreinadoresqueescolheremnodarimportncia aospais,iroseguramenteenfrentarmuitosproblemasnofuturo,sendoque muitos desses problemas iro resultar em mensagens inconsistentes tanto dos pais,comodostreinadores,causandoconfusoeincertezascrianas. Aquelestreinadoresquetentamcomunicarcomospaispodemevitarum conflito de ideias entre o tringulo desportivo. Conversar com os pais dos seus jogadorespossibilitarummaiorentendimentodocontextofamiliarem questo,estabelecerrespeitoeaumentarashiptesesdeatingirosseus objectivos (Byrne, 1993).Segundo Almeida (2005), reconhecendo que os pais podem, por vezes, tornar-seumgrandeproblema,urgentequeosclubesassumama responsabilidadedaeducaodospaisdosseusatletas,paraqueo rendimentoeodesenvolvimentodesportivodosseusfilhosnoseja prejudicadopelosseuscomportamentos.Ospaistemqueserinformadose formados acerca de qual deve ser o papel e a responsabilidade da famlia no envolvimento do desporto do seu filho (Byrne, 1993).Formalouinformalmente,considera-sequeocaminhoeste.Seos treinadores gastarem um pouco do seu tempo com os pais e lhes explicarem que no se pode esperar que os seus filhos tomem sempre as decises mais acertadas sob presso em contexto real de jogo, ser com certeza tempo bem gasto.Mais aindaSe os treinadoresconseguirem explicar aospaisque os seuscomentrios,aquandodetomadasdedecisoerradasdosseusfilhos duranteumjogo,lhesaumentamaansiedadeefazem,tambm,comquea sua performance diminua ao longo desse jogo, os pais mais racionais tentaro reagir de maneira a reduzir essa presso sobre as crianas (Thorpe, 1993).Reviso da Literatura372.4. Modelo de formao o orientador de todo o processo deformao de jogadores num clube urgente que os clubes portugueses e os seus dirigentes criem as condies humanas, materiais e apoiem de uma forma efectiva todos os projectos de formao.Leal & Quinta (2001)O ensino/treino do Futebol muitas vezes efectuado sem um programa e metodologia definida (Pereira, 1996) e por isso, ano aps ano negligenciado pelos clubes de Futebol. O que normal encontrar como objectivos na maior parte dos clubes , por exemplo, a classificao a obter nos quadros competitivos ou ento dizer queoobjectivoaformaodejogadoresparaquemaistardeintegrema equipa de seniores. (Pereira, 1996). Carraa (2005) d o exemplo concreto do Benfica, do qual gestor da rea de Formao cujo objectivo organizar um trabalhoestruturado,concertadoequalificadoquepossapotenciar,todosos ano, dois ou trs jovens jogadores para a equipa principal..Concordarmos plenamente com estes objectivos, mas parece-nos tanto ou mais importante saber em que moldes a formao se ir efectuar, para se alcanaremessesobjectivos.Destaforma,necessrioreflectiracercadaimportnciainquestionvelqueoensinodofutebolassumenaactualidade, exigindoporpartedosclubesetodososseusintervenientes,quelheseja prestadaumamaioratenoeumamelhorcoordenao,atravsda implementaodeumModelodeFormao,comprogramas,formaseuma metodologia de treino adequada. (Pacheco, 2001).OsclubestmquedefiniraquiloquerealmentepretendemdoFutebol emidadesjovens,implementando ModelosdeFormaoprprios,comum programa adequado, que contribuam para uma melhor aprendizagem do jogo, que respeitem as vrias fases de desenvolvimento dos jovens, que sirvam de guioparaostreinadoresequecontribuamparaumamelhoremaiseficaz formao dos jovens futebolistas. (Pacheco, 2001).Ficaentoclaroque,paraumclubeobtersucessonaFormaode J ogadores,considerando-secomosucessoaobtenodejogadorescom qualidadee a posterior integrao dos mesmos na equipa principal do clube, Reviso da Literatura38apresenta-se cada vez mais como fundamental a criao de uma filosofia que tenha como ideia base um Modelo de formao.2.4.1. Modelo de jogo, modelo de treino, modelo de treinador e modelo de jogadorquatroimperativosderefernciaparatodooprocessode formao de um clubeOs clubes no podero continuar a viver ao acaso, sobre modelos improvisados, sem uma coerncia lgica dedesenvolvimento,aosabordecritriospessoaisdos vrios treinadores, que ciclicamente porl vo passando ecujosresultadosparecemnoserosmais satisfatrios.Pacheco (2001)ParaqueoModelodeFormaodeumclubesejacoerentee racionalmenteaplicado,parece-nosfundamentalquetodooprocessode formaosejanorteadoporprincpiosbemdefinidosquesejamaplicadosa todososescalesdoclube(Lemos,2005),desdeaequipasniorats escolinhas.Ainexistnciadeumaestruturaduradouranosclubes(sobretudoao nveldetreinadoresedireco)eonoestabelecimentodeobjectivosso alguns dos factores que dificultam a definio de um Modelo de J ogo comum a todos os escales e que norteie o processo de formao (Leal & Quinta, 2001). Destaformaqualquerclubedeverseraliceradonumafilosofiaque contemple a existncia de um Modelo de Jogo, o qual, por sua vez, orientar a concepo de um ModelodeTreino e de um complexo de exerccios, de um ModelodeJogadoremesmodeumModelodeTreinador.(Leal&Quinta, 2001).ConcordamosentocomVale(2003)quandoestereferequetudoo quetenhaavercomoaspectodaformaonumclubedevenortear-sepor princpios bem slidos e que se alguma coisa mudar nunca devem ser esses princpios,masantesaspessoas,poissoessesprincpiosquedouma identidade a um clube. Se tivermos que mudar os princpios por cada vez que Reviso da Literatura39venhaumapessoanova(treinador),vaisermuitodifcilnoseperderessa identidade. Nosentidodeseentendermelhoracapitalimportnciadestesquatro modelosparaatingirosucessonaformaodejogadoresnumclube, explicaremosdeseguidaoqueentendemosporcadaumequalarelao existente entre eles.2.4.1.1. Modelo de jogoOmaisimportantenumaequipaterumdeterminado modelo, determinadosprincpios,conhec-losbem, interpret-losbem, independentementedofactodeser utilizadoesteouaquelejogador. Nofundoaquiloaque eu chamo organizao de jogo.Mourinho (2002b)Hoje em dia, muito se ouve falarem ideiadejogo ou concepode jogo de um treinador e a isso se associa invariavelmente a forma de jogar da equipa em questo. Frases como esta equipa joga imagem do seu treinador so muito usuais nos nossos dias.SegundoFrade(cit.porMartins,2003),aconcepodejogodeum treinador est relacionada com a forma como este entende o prprio jogo, com aformacomopretendequeasuaequipajogue,estandoassimrelacionado com o futuro a que aspira. No basta porm ter uma ideia de jogo, se a mesma no for operacionalizada de acordo com a concepo que se tem. Desta forma torna-se necessrio modelar essa ideia de jogo.SegundoLeMoigne(1990),amodelaopodeserentendidacomoa aco de elaborao e de construo intencional de modelos susceptveis de tornarinteligvelumfenmenocomplexo(ojogo).Assim,sepretendemos entender um sistema complexo devemos model-lo (Garganta & Pinto, 1996).Comefeito,oModelodeJ ogodeveentender-secomoumpontode partidaenuncacomoummodeloaatingiremabsoluto(Garganta&Pinto, 1996), at porque, como diz Frade (2001), o Modelo de J ogo algo que no existe,masquetodaviasepretendeencontrar..tambmalgoquese Reviso da Literatura40constriereconstriconsoanteofuturoaqueseaspira,tratando-sedeum processo que nunca estar concludo (Frade, 1985).Deumaformamaisexplcita,concordamosentocomOliveira(1991) quandoestereferequeoModelodeJ ogodeveconstituir-secomooncleo centraldeideiasqueotreinadorpretendequesejamadoptadaspelasua equipa. Assim, o Modelo de J ogo deve ter como base os princpios dejogo(1)relacionadoscomoscomportamentostcticosdefensivos,ofensivosede transio defensiva e ofensiva que o treinador pretende que sejam realizados pelosseusjogadores,bemcomotodoumconjuntodeatitudes, comportamentosevaloresquepermitemcaracterizaraorganizaodesses processosqueremtermosindividuaisquerfundamentalmenteemtermos colectivos da referida equipa.Em suma, e na ptica de um clube formador, o Modelo de J ogo dever serasustentaodaformao,criandoedesenvolvendojogadorescapazes de,aolongodoseuprocessodeformao,interpretaremevivenciaremas exignciaseparticularidadesencontradas(Leal&Quinta,2001),permitindo-lhes no futuro terem mais possibilidades de sucesso tanto na equipa principal do clube, como noutras equipas.2.4.1.2. Modelo de treinoO Treino fundamenta-se e desenvolve-se a partirdo elemento primrio de todo o processo O Jogo.Queiroz (1986)Partindo do princpio que a tctica aquela que mais parece condicionar osJ ogosDesportivosColectivos(J DC)(Garganta,1996)esendooFutebol consideradoumJ DC,concordamoscomOliveira(1991)quandorefereque treinarconsisteemcriaroutrazerparaotreinosituaestctico-tcnicase tctico-individuais que o jogo requisita.(1) Por princpios de jogo podemos entender um conjunto de regras que devem coordenar as aces dos jogadores, individual ou colectivamente, na procura das solues mais eficazes de acordo com o momento de jogo em questo (Pacheco, 2001).Reviso da Literatura41Masquejogo?Ojogoqueotreinadorpretendealcanar.Ouseja,o treinodeverserumespaoemqueotreinadorreproduzexercciosqueinduziro a sua equipa a fazer aquilo que ele quer que a mesma faa no jogo.Masqueexerccios?PartindodoprincpioqueoModelodeJ ogoo guiadetodooprocessodetreino,Oliveira(2004)refereque,osexerccios propostosdevemt-locomoreferncia emtodososmomentos.Attulode exemplo, o mesmo autor acrescenta que um exerccio pode ser completamente adequadoaumaequipa,porquerequisitasistematicamentecomportamentos que o respectivo Modelo de J ogo pretende e como tal esto a proporcionar a criaodeadaptaeseconhecimentosespecficos/imagensmentais importantesparaaequipae paraojogador. Poroutrolado, seumexerccio proporcionarrepetidamentecomportamentosnoadequadosaoModelode J ogopretendido,asadaptaescriadasvoserprejudiciaisao desenvolvimentodosconhecimentosespecficos/imagensmentaisdesejados (Oliveira, 2004).Assim,otreinarpassa,emgrandemedida,porfocalizaravivncia consciencializadadosjogadoresnosvriosextractosdejogo,semnunca deixar de realizar a articulao de sentido com o todo (jogo). Durante o treino, osjogadoresdevemserlevadosaentendermelhorojogoeojogarquese pretende (Oliveira, Amieiro, Resende, & Barreto, 2006).Destaforma,torna-sebviaarefernciaimprescindveldoModelode J ogo na construo do processo de treino.No que se refere formao, embora se compreenda que cada escalo tenhaassuascaractersticasesingularidades,jparanofalarnaideiade jogo do treinador, importante que exista um fio condutor comum que oriente o treino e que estabelea a ligao com os restantes escales do clube (Leal & Quinta, 2001).Paraumclubeterapretensodealcanaralgumsucessona implementao de um Modelo de Formao, parece-nos imprescindvel ento a uniformizao de um Modelo de Treino, de uma forma de trabalhar semelhante em todos os escales de formao e at de um Modelo de Exerccios, todos subjugados ao Modelo de jogo implementado (Leal & Quinta, 2001), para que, attulodeexemplo,umjogadorquetransitedoescalodeiniciadosparao escalodejuvenisnosintagrandesdiferenasnametodologiadetrabalho Reviso da Literatura42que vai encontrar, adaptando-se assim mais facilmente forma de jogar desse escalo.2.4.1.3. Modelo de treinadorAcerca do que j foi referido acerca do perfil do treinador na formao de jogadores(captulo2.3.5),parece-nosimportanteacrescentarapreocupao que comea a existir na implementao de um Modelo de Treinador por parte de alguns clubes.De facto, hoje em dia, h j quem defenda que os clubes devem formar os seus prprios treinadores, como pessoas identificadas com o mesmo e com uma determinada forma de trabalhar (Leal & Quinta, 2001).Wein(2000,cit.porLosa,2007)consideramesmoqueumaparte importante do patrimnio de um clube a capacidade de formao dos seus tcnicos.Porestamesmarazorecomendaquesecriemnosclubes formaes para os seus treinadores. No entanto, para que isso acontea tem que existir uma preocupao por parte das pessoas que dirigem os clubes, no sentido de alterar mentalidades (Leal & Quinta, 2001).Ao encontro do que foi dito anteriormente, considera-se essencial que os vriosagentesligadosaumprocessodeformaotenhamamesma concepodejogo,detreinoedejogador,visualizandodestaformaa formao pelo mesmo prisma (Leal & Quinta, 2001). Montn Salvador (2000, cit.porLosa,2007)damesmaopinioquandoafirmaserprimordialque todasasequipasdeumclubesigamumalinhacomumdetrabalho..Salva (s/d, cit. por Losa, 2007) refere que tambm considera benfica a unificao de critriosnotrabalhodostreinadoresdeumclube,permitindoassimqueno existam lacunas importantes na formao dos jogadores.Uniformizaroscritriosdostreinadoresdosdiferentesescalester, portanto, efeitos benficos no processo de formao levado a cabo pelo clube, pois eliminar a possibilidade de conflitos perturbadores da normal evoluo do jovem praticante, optimizar os meios, evitar quebras e descontinuidades na sua evoluo e evitar acima de tudo a introduo de ideias dspares perigosas para o seu desenvolvimento (Leal & Quinta, 2001).Reviso da Literatura43 pblico que o que mais usual encontrar-se nos clubes so as trocas constantes de treinadores e, por conseguinte, a alterao de rotinas, mtodos e ideias de jogo. Segundo Leal & Quinta (2001), a inexistncia de uma estrutura que perdure, nomeadamente a no estabilizao de uma estrutura directiva e a no definio de objectivos a mdio e longo prazo so, tambm aqui, factores fulcrais para a origem desse problema.Assim, torna-se fundamental que os treinadores sintam a serenidade e a estabilidadenecessrias,dapartedequemdirige,deformaasaberemque paraoclubemaisimportanteoprocessodeformaodejogadoresea posterior integrao na equipa snior, do que os resultados desportivos (Leal & Quinta,2001).Dessaforma,tranquilaesempressas,ostreinadoresteroa possibilidadederealizar umtrabalhoplaneadoeorganizado,no tendopara isso, que queimar etapas na formao dos jogadores.2.4.1.4. Modelo de jogadorComo j foi referido, no coerente que cada treinador dos diferentes escalesdeumclubetrabalhedeformaindependenteedeacordocomas suas convices, no havendo uma uniformizao relativamente ao modelo de jogo e modelo de treino. Tambm no coerente se no existir por parte de todos os treinadores do departamento de formao uma unificao do modelo de jogador que se pretende formar (Leal & Quinta, 2001).No havendo uma definio clara, por parte do clube, do tipo de jogador quepretendeformar,vosendoexcludosaolongodetodooprocessode formaojogadorescujoperfilnoseadaptaaomodelodejogodecada treinadoremcadaescalo,jqueumbomjogadorparaumtreinador,pode no o ser para outro (Leal & Quinta, 2001).Destaforma,Oliveira(2003:XXXIII)referequehanecessidadede existirummodelodejogonicoquesejaidentificadoportodosdamesma maneira, para que a formao e o desenvolvimento dos atletas seja sempre o maior possvel e no se verifiquem desvios nessa formao.Noentanto,omesmoautoralerta-nosparaoseguintefacto: actualmente,eprincipalmentenofutebolportugus,otreinadordaequipa Reviso da Literatura44sniornoumtreinadorestvel,implicando,ento,queomodelodejogo esteja sempre a mudar. Tal no favorvel para o processo de formao de um jogador e por isso h a necessidade de o departamento de formao ter um modelodejogodefinidoqueconsidereajustadoevoluodosatletasde forma a potenciar esses mesmos atletas.J eanPaul (2003:XXVIII), actualmente director tcnico da formao do Sporting, da mesma opinio afirmando que no faz sentido que a formao esteja constantemente a adaptar-se ao que se passa na equipa A. O que faz sentidoquenssejamoscapazesdeformarjogadoresaptosparase adaptarem a qualquer modelo de jogo ou sistema, isso sim, faz sentido..Leal & Quinta (2001) acrescentam que os clubes devero formar, acima de tudo, um jogador especfico que se quer inteligente e autnomo e possuidor de cultura tctica evoluda.No mesmo seguimento de ideias, Mourinho (2002a: 22) afirma que cada vezmaisosjogadoresdeprimeiralinhatmquesermultifuncionaise acrescentaaindaquenopodeterumjogadornoseuplantelquessaiba jogarnoseumodelodejogo,porquenofinaldoseuvnculocontratualvem outro treinador que, eventualmente, joga num modelo diferente e o jogador tm que se adaptar a um novo modelo; isto , os jogadores tm que possuir uma cultura tctica cada vez maior que lhes permita desempenhar diversas funes, independentemente do modelo de jogo adoptado..Em suma, parece que o mais importante que o processo de formao consiga alcanar a formao de um jogador inteligente, capaz de agir por ele prprio,utilizandoosseusconhecimentoseassuasexperincias.(Bayer, 1994, in Leandro, 2003:3).2.4.2. Deteco, seleco, recrutamento e desenvolvimento de talentosSegundoGarganta(2006a)umtalentoalgumcapazdeuma performance acima da mdia num dado domnio e em vrios momentos.. Um talentopossuicaractersticasqueodemarcamdeoutrosindivduosno consideradostalentosequepermitem,porvezes,predizerasuapotencial performance no futuro (Franks, Williams, Reilly, & Nevill, 1999).Reviso da Literatura45Destafeita,constata-sequeograndeobjectivodaidentificaode talentos a de aumentar a probabilidade de seleccionar jogadores de elite no futuro, em idades mais baixas (Franks et al., 1999).Segundo Stratton et al. (2004), a maioria dos clubes concorda que sem umprocessodedeteco,selecoerecrutamentodetalentosatos treinadores mais experientes e talentosos tero dificuldades em preparar uma equipa para competir ao mais alto nvel.TambmLeal&Quinta(2001)acreditamqueacriaodeum departamentodeselecoedetecodetalentosnumclubeumadas premissas fundamentais na potenciao de todo o processo de formao.Hoje em dia, o processo de identificao e recrutamento de talentos, na maiorpartedosclubes,incideessencialmenteemjovenscomseteoumais anos de idade (Stratton et al., 2004), o que nos leva a pensar que quanto mais cedo forem recrutados talentos com determinadas caractersticas, maior ser o seu processo de evoluo no clube. Nessa altura, a nfase deve ser colocada na proviso de treinadores e treinos apropriados e, tambm, de estruturas de suporte,quepossibilitaroaosjovensjogadoresumamaiorpotenciaodas suas qualidades (Stratton et al., 2004). Franks et al. (1999) da mesma opinio e refere que identificar e recrutar um potencial jogador em idades mais baixas garante que esse jogador receba posteriormente no clube treino especializado, deformaapoderevoluirprogressivamenteeapotenciarmaisaindaoseu talento.No entanto, para que este processo de identificao e recrutamento de talentosocorradeformaorganizada,essencialqueoclubeemquesto definaelementoschaveparasabermosquaisascaractersticasque pretendemos identificar nos jogadores (Franks et al., 1999).Segundo Garganta (1995, cit. por Pacheco, 2001), de uma forma geral, nadetecodetalentosfundamentalestaratentoapressupostosque indiciem o talento de um jogador de futebol, que podem ser os seguintes:- Habilidade tcnica em velocidade;- Disponibilidade tctica;- Eficincia orgnica e muscular: agilidade, velocidade, reaco rpida, rpidas mudanas de sentido e direco;Reviso da Literatura46-Valormoralelevado:auto-controlo,coragem,auto-confiana, combatividade, carcter.De uma forma mais concreta pode-se fazer referncia ao Ajax, um clube emqueessascaractersticasestobemdefinidasequefuncionamcomo traosfundamentaisdeavaliaoindispensveisparacriarotalmodelode jogador do clube. o chamado sistema TIPV(1): T simboliza tcnica, aquilo que ojogadorpodefazercomabola;Iparainteligncia,entendidaaquicomo cultura tctica; P para personalidade, um aspecto muito importante para os detectores de talentos e formadores do Ajax; V significa velocidade, pois para jogar no Ajax muito importante no s a velocidade simples, mas tambm imperioso ter rapidez com a bola nos ps (Lobo, 2003).Estes critrios de seleco fazem com que os jogadores pertencentes ao Ajaxpossuamlogo,aquandodasuaentradanoclube,estascaractersticas: tcnica elevada, inteligncia, personalidade interessante e uma boa rapidez de execuo(Kormelink&Seeverens,1997),ficandomaisfacilitadaatarefade desenvolvimento desses mesmos jogadores.Osucessodomodelo(TIPV)fezcomquealgunsclubesdaPremier League Inglesa formulassem tambm modelos semelhantes, tais como TAEV(2)(talento,atitude,equilbrioevelocidade)eHIPV(3)(habilidade,inteligncia, personalidadeevelocidade),emergindocomoumamarcaprimordialna identificao de talentos (Stratton et al., 2004).Reconhecendo ento que cada clube dever uniformizar um modelo de jogador epartindodopressupostoqueoidealserformarjogadores inteligentes que sejam facilmente adaptveis a vrios modelos de jogo, parece queesseobjectivoseralcanadomaisrapidamente,seosclubestiverem preocupaesemrecrutarjogadorescadavezmaiscedoequejpossuam caractersticas favorveis para atingir esse modelo.(1)TIPV, em ingls TIPS (Technique, intelligence, personalit