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Patriarcado
de Lisboa
Instituto
Diocesano da
Formação Cristã
JUAN AMBROSIO / PAULO PAIVA
TEOLOGIA FUNDAMENTAL
Revelação | Tradição | Fé | TEOLOGIA
2º SEMESTRE
ANO LETIVO 2013 | 2014
TEMA DA SESSÃO
1. INTRODUÇÃO
2. O ACONTECER DA REVELAÇÃO
3. CONSEQUÊNCIAS
4. TPC
www.teologiafundamental.weebly.com
Introdução
PATRIARCADO DE LISBOA
ESCOLA DE LEIGOS
TEOLOGIA FUNDAMENTAL
Revelação | Tradição | Fé | TEOLOGIA
O que é que acontece nesse instante originário e
misterioso no qual Deus se revela ao ser humano?
O que é que verdadeiramente se quer significar com
essa expressão?
O acontecer da revelação (1)
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Nesta linha, podemos partir de um dado universalmente
testemunhado:
Partindo da fé religiosa mais elementar no Deus criador e
salvador podemos afirmar que aquilo que sabemos de Deus - precisamente graças àquilo que ele nos revela – é que ele é amor e que nos cria por amor, vivendo por isso como um «Pai/Mãe» debruçado sobre a nossa história, para a todos
ajudar e a todos salvar sem discriminação de nenhum tipo.
Se de alguma coisa podemos estar verdadeiramente seguros, é
justamente desta amor universal, incondicional e irrestrito.
O acontecer da revelação (2)
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Assim, se Deus cria por amor – e só por amor – a todas as
pessoas, torna-se bastante óbvio que a sua vontade é de dar-se a
conhecer:
A todos!
Sempre!
E em todos os lugares!
O acontecer da revelação (3)
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Mas como é que essa vontade se pode tornar realidade?
No imaginário de muitos crentes a resposta surge com toda a facilidade: aparecendo, falando, mostrando-se.
Contudo, quando analisamos criticamente esta ideia ela deixa de parecer tão consistente quanto à primeira vista poderia parecer.
Se sabemos que é em Deus que a nossa existência tem fundamento é porque o descobrimos justamente como diferença qualitativa de nós. Ele é o outro, infinito e transcendente.
Por isso, identificar a Deus com algo, por mais grandioso e espetacular que pudesse ser, equivale automaticamente a vê-lo, ouvi-lo ou pensá-lo como o que por definição não é.
Uma manifestação direta e evidente de Deus seria claramente auto contraditória porque o situaria ao nível do mundano, do finito e do relativo.
O acontecer da revelação (4)
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Com isto não se pretende afirmar a impossibilidade da
comunicação de Deus, mas repensar criticamente a ideia de uma
intervenção que rompe o decurso natural das coisas, o que
converteria Deus numa coisa ao lado das coisas.
Aqui o fundamental está em assumir a união radicalíssima –
prévia a tudo e mais profunda que tudo – que existe entre a
criatura e o criador.
No fundo, a intuição que está na base de toda esta reflexão é que
a manifestação da vontade de Deus e do seu projeto, acontece
pelo próprio ser da criatura e que ela mesma é a sua palavra.
O acontecer da revelação (5)
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Trata-se pois de uma relação existente entre Deus e as suas criaturas, de uma relação que constitui um acontecimento real entre Deus e o ser humano, acontecimento realizado na natureza, na história e na própria existência individual.
Na natureza, Porque o homem religioso ao olhar para o mundo como criação é remetido para uma outra presença que através dele aparece e que surge ‘como um mais’, como ‘um para além disso’;
Na história, Porque toda a sua dinâmica está constantemente sendo incentivada e interpelada pela ação do criador através da liberdade do ser humano;
Na existência individual, Porque o ser humano experimenta a presença de Deus no seu núcleo mais íntimo do estar sendo pessoa.
O acontecer da revelação (6)
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Porque é um facto real para nós, a revelação tem que respeitar a
nossa condição de seres corpóreos existentes no mundo;
Porque é também um facto real para Deus, a revelação tem que
respeitar, igualmente, a sua condição.
Pelo que a todo o custo devem ser evitadas as armadilhas da
imaginação que facilmente levam a conceber a revelação como
um direto e imediato falar de Deus, como se Ele falasse
diretamente da ‘sua boca’ ao ‘nosso ouvido’.
O acontecer da revelação (7)
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Daqui resulta o seu carácter necessariamente simbólico, ou seja capaz de unir estas duas dimensões, de tal maneira que o
significado divino se anuncia sempre num significado humano que o transparenta e o torna de certo modo presente, mas sem jamais se identificar com ele, nem o dominar.
Daqui resulta, também, como na inteligibilidade de todo este processo entra em campo toda a subjetividade humana.
Tudo isto pode ajudar facilmente a entender como o processo revelador é difícil e acontece por sucessivas tentativas, no meio de surpresas e esquecimentos, na sensação de presenças e
ausências.
O acontecer da revelação (8)
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Ao falarmos de revelação, estamos, pois a falar de um processo
de discernimento de acontecimentos reais, no qual por vezes se
produzem situações que interpelam, e ‘sacodem’ a consciência
do ser humano, quebrando muitas vezes rotinas e passividades e
abrindo-a ao chamamento divino que sempre a está a solicitar a
partir da profundidade da própria realidade criada.
O acontecer da revelação (9)
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A dimensão divina, a dimensão histórica e a dimensão da subjetividade
humana, surgem aqui como dimensões constitutivas da revelação.
É Deus que verdadeiramente se quer revelar e toma gratuitamente a
iniciativa, ‘tentando’ fazer sentir a sua presença interpelante em todos os
tempos a todos os homens.
É o ser humano que tem de responder a essa iniciativa, deixando-se
interpelar e reconhecendo-a como tal.
É na história concreta da humanidade que esse diálogo acontece.
Faltando um destes elementos podemos estar a falar de coisas muito bonitas
e interessantes, mas certamente não estaremos a falar da revelação de Deus
ao ser humano.
O acontecer da revelação (10)
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A experiência reveladora parte da experiência da presença de Deus na
realidade total (natureza, história, ser humano) como autenticamente
reveladora e como capaz de expressar-se em acontecimentos concretos.
Esta presença não equivale, contudo a um intervencionismo, pois a sua
atividade reveladora é captada pelo ser humano através de um ‘cair na
conta’.
Através de uma ‘experiência de desvelamento’ que se traduz sempre por
uma linguagem simbólica.
É na realidade inteira, e não apenas num ou noutro acontecimento, que Deus
se manifesta mostrando continuamente qual o seu projeto e a sua vontade.
O que acontece é que nem sempre o ser humano percebe essa presença e
se deixa interpelar por ela.
O acontecer da revelação (11)
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Em tudo isto o ser humano faz a experiência de que a iniciativa realmente não
lhe pertence.
É porque Deus lhe sai ao encontro que o ser humano o pode reconhecer.
Aqui desaparece toda a passividade de parte a parte.
Deus não está passivo, porque constantemente interpela e quer fazer notar a sua presença;
O ser humano não pode também estar passivo, pois a sua resposta a esta
presença interpelante é condição para que ela possa ser uma realidade experienciável na sua vida.
E porque ao revelar-se Deus revela o seu projeto de realização e felicidade
para o ser humano, na resposta a essa revelação este pode fazer a experiência de se estar a realizar a si mesmo.
O acontecer da revelação (12)
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Sem romper a sua transcendência, a presença de Deus face à liberdade humana possui uma real eficácia no desenvolvimento da história e no crescimento do ser humano.
Este, como ser que «emerge» de tudo o criado, é o ponto donde a ação divina encontra uma possibilidade de intervenção, sem cair no intervencionismo nem no extrinsecismo.
Naqueles momentos em que o desenrolar da história e a sensibilidade humana tornam possível que o ser humano cai na conta de que Deus está aí a revelar-se, então é possível ir mais longe na direção da novidade que Deus quer propor.
Então o ser humano pode fazer a experiência de sentir-se iluminado e capacitado para orientar a sua história no sentido de uma maior realização para todos.
É, pois, através da liberdade humana, que a revelação de Deus se pode concretizar no mundo.
O acontecer da revelação (13)
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A origem da revelação não reside, pois, num milagre, que se ‘acrescente’
à realidade,
Mas no captar o que Deus está constantemente a ‘dizer’ através dela.
A realidade criada por Deus tem esta capacidade expressiva, porque
Deus está sempre presente nela sustentando-a e fazendo-a ser.
Por outro lado o ser humano – também ele sustentado no seu ser pelo
próprio criador – tem também a possibilidade de se aperceber da
presença de Deus na natureza, na história, e na sua própria existência,
‘escutando’ a sua voz e tentando decifrar a sua vontade.
O acontecer da revelação (14)
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A compreensão da relação imanência transcendência, permite
compreender que Deus não precisa de romper através de um
milagre ou de um intervencionismo a autonomia do mundo e do
sujeito para revelar a sua presença. Deus não vem de fora, Deus
está dentro sustentando, promovendo e iluminando a
subjetividade humana, o que permite que possa ser descoberto.
Consequências… (1)
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Uma revelação, evidente e universal, desde o começo da
humanidade acaba por ser impossível, não por parte de Deus, mas por parte do ser humano.
O que não deve, de todo, de estranhar, pois entre Deus e a criatura existe uma grande e inultrapassável diferença:
Ele é transcendência absoluta e nós somos mundaneidade
relativa.
Se já a comunicação entre iguais é algo tão difícil de realizar,
sendo sempre uma conquista fazer ao longo da existência, …
Consequências… (2)
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O estranho, o que verdadeiramente nos deveria espantar, não são as dificuldades desta comunicação entre Deus e o ser humano, mas a sua inquebrantável vontade de dialogar e o seu constante fazer – por todos os modos e em todos os lugares - com que esse diálogo seja uma possibilidade.
Neste contexto podemos perceber que a possibilidade de uma revelação universal e evidente no início da humanidade é um absurdo.
Por muito inteligente que uma mãe seja e por muito que queira o seu filho de um ano de idade, poderá ela ensinar-lhe o Teorema de Pitágoras? E se «não pode» isso não é porque não saiba ou não queira o filho.
Consequências… (3)
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Alguém – fundador, santo, profeta – particularmente sensível ao religioso e,
por isso, capaz de descobrir a presença divina ali, onde os outros ainda não conseguem ver nada, capaz de «cair na conta» de que Deus é muito mais do que aquilo que habitualmente diziam dele.
Este aspeto é realmente importante no momento de pensar a possibilidade de comunicar a revelação:
O «inspirado», o profeta, tem um papel fundamental e indispensável, pois é
o pioneiro, o que descobre e abre caminhos. Sem ele a presença de Deus continuaria desconhecida e não seria ouvida.
E como este iniciador não capta algo que só lhe está a ser revelado a ele,
mas sim algo que é dirigido a todos, acaba por se tornar num mediador que possibilita que essa experiência seja feita por todos.
Consequências…(4)
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E aqui estamos perante algo que é igualmente decisivo.
Justamente porque revela e dá a conhecer aquilo que está a afetar a todos no seu conjunto, os outros podem, então, reconhecer e aceitar, por si mesmos, essa revelação.
Antes ainda não tinham «caído na conta», mas agora podem fazer a experiência, por si mesmos, verificando a sua razoabilidade.
Assim, o ouvinte não fica reduzido a ter que acreditar porque o profeta lhe diz aquilo que Deus lhe disse, sem possibilidade
alguma de verificar, por si mesmo, a verdade ou falsidade do que lhe é transmitido.
TPC
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