tecnologias na educação de professores a distância

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4.TECNOLOGIAS NA EDUCAO

DE PROFESSORES A DISTNCIA

Neste captulo, os autores Alberto Tornaghi, Alvana Maria Bof, Bernardete Gatti,Carmen Neves, Jos Manuel Moran, Ktia Morosov, Leda Fiorentini, Maria Cristina Tavares, Maria Umbelina Salgado, Oresti Preti e Sandra Azzi abordam algumas questes importantes da educao a distncia (EAD) na formao e na atuao dos professores em servio; entre eles, os critrios de qualidade da EAD, a gesto de programas de EAD, os materiais e as tecnologias de comunicao para EAD, o apoio ao aluno e a avaliao de aprendizagem nesta modalidade. Carmen Neves, no texto A educao a distncia e a formao de professores, apresenta aspectos que sustentam a qualidade de um curso de formao de professores a distncia, comentando a concepo educacional do curso, o desenho do projeto, o sistema de tutoria, o sistema de comunicao, os recursos educacionais, a infra-estrutura de apoio, o sistema de avaliao, a tica na informao e a capacidade financeira de manuteno do curso. Bernardete Gatti, no texto Critrios de qualidade, faz uma reflexo sobre as condies em que ocorre a aprendizagem a distncia e os cuidados que os educadores devem ter para garantir uma boa qualidade formativa. A autora procura tambm sintetizar algumas das caractersticas e dos fatores que se tm evidenciado por propiciar um nvel qualitativo de alto diferencial para a formao a distncia de professores. Jos Manuel Moran, em seu texto O que um bom curso a distncia?, comenta os elementos que fazem parte de um bom curso a distncia, chamando a ateno para os educadores, os alunos, os ambientes de aprendizagem, a interao entre os participantes, o planejamento, a flexibilidade e a qualidade pedaggica e tecnolgica. Alvana Maria Bof, no texto Gesto de sistemas de educao a distncia, apresenta algumas caractersticas de sistemas de EAD, discutindo, a seguir, questes relacionadas sua gesto e sua estreita relao com a qualidade e a eficincia de cursos ou programas de EAD. Maria Umbelina Caiafa Salgado, no texto Caractersticas de um bom material impresso para a educao a distncia, discute os requisitos de um bom material impresso para EAD, apresentando, em linhas gerais, a estrutura de um texto para EAD e orientaes para sua elaborao. Leda Maria R. Fiorentini, no texto Materiais escritos nos processos formativos a distncia, trava uma discusso sobre o que cabe ao professor autor de materiais didticos e como promover a compreenso de textos. Alberto Tornaghi, no texto Computadores, Internet e educao a distncia, complementa a discusso sobre materiais e meios de suporte educao a distncia, introduzindo explicaes e reflexes sobre as chamadas tecnologias de comunicao e de informao: computadores, Internet, computadores em rede, hipertextos, correio eletrnico (e-mail), frum e bate-papo ou chat.

4.1. A educao a distncia e a formao de professores

Carmen Moreira de Castro Neves 1 A Lei de Diretrizes e Bases no 9.394/96 valoriza a qualificao dos profissionais da educao e estabelece um prazo 2006 a partir do qual s podero ser admitidos professores formados em nvel superior. Alm disso, no artigo 87, refora a necessidade de elevar o nvel de formao dos profissionais, determinando que "cada Municpio e, supletivamente, o Estado e a Unio, dever (...) realizar programas de capacitao para todos os professores em exerccio, utilizando tambm, para isto, os recursos da educao a distncia". Em vrios artigos, a lei fala dos profissionais da educao, destacando, entre outros, seu papel na construo do projeto pedaggico da escola, na gesto democrtica, no estabelecimento de estratgias didticas e no prprio desenvolvimento profissional, inclusive mediante a capacitao em servio. A preocupao do legislador em realar os profissionais da educao reflete o mundo em que vivemos, marcado por um contnuo processo de mudana, por avanos cientficos e tecnolgicos, pela valorizao do conhecimento, das competncias, da autonomia, da iniciativa e da criatividade. Nesse cenrio, crescem as presses por maior qualidade no processo de ensino-aprendizagem e por uma educao que acontea ao longo de toda a vida. A escola contempornea deve ser um espao de aprender a aprender; de criao de ambientes que favoream o conhecimento multidimensional, interdisciplinar; um local de trabalho cooperativo/solidrio, crtico, criativo, aberto pluralidade cultural, ao aperfeioamento constante e comprometido com o ambiente fsico e social em que estamos inseridos. Se a escola deve mudar, certamente os cursos de formao de professores precisam tambm passar por uma mudana profunda e radical. Todas as caractersticas da escola contempornea antes apresentadas devem estar presentes nos cursos que formam os profissionais da educao. O cotidiano da formao dos educadores deve ser marcado por um dilogo interativo entre cincia, cultura, teorias de aprendizagem, gesto da sala de aula e da escola, atividades pedaggicas e domnio das tecnologias que facilitam o acesso informao e pesquisa. O documento que trata dos Referenciais para a formao dos professores lembra a homologia dos processos, que significa que o educador tende a reproduzir mtodos, tcnicas e estratgias que foram utilizados durante seu processo de formao. Assim, um curso pedagogicamente pobre pode levar o educador a trabalhar com seus alunos de uma forma tambm pobre. Ou a exigir desse educador um enorme esforo para vencer as deficincias que enfrentou.

Essa reflexo leva-nos a pensar a educao a distncia sob uma nova ticaA educao a distncia no um modismo: parte de um amplo e contnuo processo de mudana, que inclui no s a democratizao do acesso a nveis crescentes de escolaridade e atualizao permanente como tambm a adoo de novos paradigmas educacionais, em cuja base esto os conceitos de totalidade, de aprendizagem como fenmeno pessoal e social, de formao de sujeitos autnomos, capazes de buscar, criar e aprender ao longo de toda a vida e de intervir no mundo em que vivem. Assim, cursos oferecidos a distncia destinados a formar e a aperfeioar professores podem chegar aos mais longnquos lugares do Brasil (80% dos 27 mil alunos do Proformao eram da zona rural), o que demonstra seu potencial de democratizar a educao. E podem, tambm, ser uma excelente estratgia de ao mesmo tempo construir conhecimento, dominar tecnologias, desenvolver competncias e habilidades e discutir padres ticos que beneficiaro, mais tarde, os alunos desses professores. Ou seja, um bom curso a distncia oferece aos seus cursistas no s autonomia para aprender sempre, como deixa o profissional preparado para trabalhar com seus alunos de uma forma mais rica, moderna, dinmica. Isso, no entanto, s acontece com uma educao a distncia comprometida com qualidade. E qualidade em educao a distncia como uma rede de pesca: vrios ns que se unem para alcanar um objetivo. A fragilidade em um dos ns pode comprometer o resultado final. A seguir, vamos apresentar quais os principais "ns" que sustentam a qualidade de um curso de formao de professores a distncia.2

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Tecnologias na educao de professores a distncia

Concepo educacional do cursoUm curso de formao de professores a distncia est inserido nos propsitos da educao do pas, com ela entrelaa seus objetivos, contedos, currculos, estudos e reflexes. Deve ser elaborado a partir de princpios filosficos e pedaggicos explicitados nos guias e nos manuais e postos em prtica ao longo de todo o processo. Se o curso apenas um conjunto de materiais xerocados, sem atividades que levem o professor a aplicar o que est aprendendo no seu cotidiano, se h pobreza de recursos e estratgias didticas, se no provoca no cursista o interesse de interferir no seu meio, se pode ser realizado na metade do tempo de uma graduao presencial, preciso cuidado: pode ser um projeto sem qualidade. Do ponto de vista legal, um curso de graduao precisa ser autorizado por Parecer do Conselho Nacional de Educao (CNE), homologado pelo ministro da Educao e publicado no Dirio Oficial da Unio. (Para facilitar, a Seed vem colocando em sua pgina na Internet os cursos j autorizados.) preciso cautela com instituies desconhecidas. Se for estrangeira, necessrio procurar informaes sobre ela na embaixada do pas de origem; se for de outro estado, importante se informar sobre os resultados alcanados pela instituio nas avaliaes nacionais feitas pelo MEC.

Desenho do projeto: a identidade da educao a distnciaProgramas, cursos, disciplinas ou mesmo contedos oferecidos a distncia exigem administrao, desenho, lgica, linguagem, acompanhamento, avaliao, recursos tcnicos, tecnolgicos e pedaggicos que no so mera transposio do presencial. Ou seja, a educao a distncia tem sua identidade prpria. No h, porm, um modelo nico de educao a distncia. Os programas podem apresentar diferentes desenhos e mltiplas combinaes de linguagens e recursos educacionais e tecnolgicos. A natureza do curso e as reais condies do cotidiano dos alunos que vo definir a melhor tecnologia, a necessidade de momentos presenciais em estgios supervisionados, laboratrios e salas de aula, a existncia de plos descentralizados e outras estratgias.

Sistema de tutoria: cursos a distncia tm professores, sim engano considerar que programas a distncia podem dispensar o trabalho e a mediao do professor. Nos cursos a distncia, os professores vem suas funes se expandirem. Segundo Authier (1998), "so produtores quando elaboram suas propostas de cursos; conselheiros, quando acompanham os alunos; parceiros, quando constroem com os especialistas em tecnologia abordagens inovadoras de aprendizagem". Num programa a distncia, portanto, eleva-se o nvel de exigncia dos recursos humanos envolvidos: alm de professores-especialistas nas disciplinas, deve-se contar com tutores, avaliadores, especialistas em comunicao e no suporte de informao escolhido, entre outros. A improvisao, infelizmente comum numa relao face a face, no pode acontecer num curso a distncia: a definio dos objetivos, dos contedos, da bibliografia bsica e complementar, a elaborao do material, a escolha da mdia, todos esses aspectos so definidos a priori e devem estar sob responsabilidade de profissionais altamente competentes para garantir o alcance dos resultados educacionais e o custo-efetividade do programa. A responsabilidade desses profissionais compartilhada. Assim sendo, uma poltica de integrao de equipes e de educao permanente para esse grupo absolutamente necessria. Pessoal de apoio tcnico-administrativo, que cuide de matrculas, expedio de materiais, registro do histrico escolar, apoio com tecnologia (especialmente em cursos on-line) e outras questes tcnico-administrativas, tambm deve estar envolvido no projeto. essencial saber quem so os docentes responsveis pela elaborao dos materiais, pela tutoria, pela coordenao do curso.

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A educao a distncia e a formao de professores

Sistema de comunicao: a interao fundamentalO aluno sempre o foco de um programa educacional. E um dos pilares para garantir a qualidade de um curso de graduao a distncia a interao entre professores e alunos, hoje bastante simplificada pelo avano das tecnologias da informao e da comunicao. Para permitir o contato entre o tutor e o aluno, deve haver espao fsico disponvel, horrios para atendimento personalizado, facilidade de contato por telefone, fax, e-mail, correio, teleconferncia, frum de debate em rede e outros. Biblioteca, laboratrios, computadores, vdeos e outros recursos, postos disposio na sede ou nos plos descentralizados abrem ao aluno que pode freqentar esses espaos oportunidades de maior aproveitamento. Sempre que necessrio, os cursos a distncia devem prever momentos presenciais, cuja periodicidade e obrigatoriedade devem ser determinadas pela natureza do curso oferecido. Facilitar a interao dos alunos entre si tambm deve ser uma preocupao da instituio que oferece o curso. Para isso, necessrio saber quais os recursos que permitem dialogar com o professor ou tutor.

Recursos educacionaisNo basta ter experincia com cursos presenciais para assegurar a qualidade da educao a distncia. A produo de material impresso, vdeos, programas televisivos, radiofnicos, teleconferncias, pginas Web atende a uma outra lgica de concepo, de produo, de linguagem, de estudo e de controle de tempo. O uso da tecnologia na educao a distncia tem freqentemente repetido mtodos ineficazes de instruo ao vivo. Por exemplo: quando uma tecnologia interativa como a teleconferncia utilizada para apresentao de palestras, nenhuma inovao foi apresentada. E falha grave quando uma instituio considera que presena virtual o mesmo que presena real: normalmente o aluno corre o risco de no receber o apoio didtico necessrio. Os materiais didticos devem traduzir os objetivos do curso, cobrir todos os contedos e levar aos resultados esperados, em termos de conhecimentos, habilidades, hbitos e atitudes. A relao teoria prtica dever ser pano de fundo dos materiais, como estratgia para evitar uma certa centralizao que caracteriza cursos a distncia. aconselhvel que indiquem o tempo mdio de estudo exigido, a bibliografia bsica e complementar e forneam elementos para o aluno refletir e avaliar-se durante o processo. Sua linguagem deve ser adequada, e a apresentao grfica deve atrair e motivar o aluno. No caso de serem utilizadas diferentes mdias, elas devero estar articuladas.

Infra-estrutura de apoioAlm de mobilizar recursos humanos e educacionais, um curso a distncia exige a montagem de infraestrutura material proporcional ao nmero de alunos, aos recursos tecnolgicos envolvidos e extenso de territrio a ser alcanada, o que representa um significativo investimento para a instituio. necessrio ficar atento quanto: 1) infra-estrutura material equipamentos de televiso, videocassetes, audiocassetes, fotografias, impressoras, linhas telefnicas, inclusive dedicadas Internet e a servios 0800, fax, equipamentos para produo audiovisual e para videoconferncia, computadores ligados em rede e/ou stand alone e outros, dependendo da proposta do curso; 2) possibilidade de dispor de centros de documentao e informao ou midiatecas (que articulam bibliotecas, videotecas, audiotecas, hemerotecas e infotecas, etc.); 3) aos locais de atividades prticas em laboratrios e aos estgios supervisionados, inclusive para alunos fora da localidade, sempre que a natureza e o currculo do curso exigirem.

Sistema de avaliao contnuo e abrangenteNos cursos de graduao a distncia, a avaliao tem duas vertentes importantssimas: a do aluno e a do curso como um todo.

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Tecnologias na educao de professores a distnciaMais que uma formalidade legal, a avaliao deve permitir ao aluno sentir-se seguro quanto aos resultados que vai alcanando ao longo do processo de ensino-aprendizagem. A avaliao do aluno feita pelo professor deve somar-se auto-avaliao, que auxilia o estudante a tornar-se mais autnomo, responsvel, crtico, capaz de desenvolver sua independncia intelectual. Por seu carter diferenciado e pelos desafios que enfrentam, cursos a distncia devem ser acompanhados e avaliados em todos os seus aspectos, de forma sistemtica. Assim, deve-se desenhar um processo contnuo de avaliao quanto: s prticas educacionais dos professores; ao material; ao currculo; ao sistema de orientao docente ou tutoria; infra-estrutura material que d suporte tecnolgico, cientfico e instrumental ao curso e quanto prpria avaliao.

tica na informao, publicidade e marketingA instituio que oferece o curso deve informar previamente: documentos legais que autorizam o funcionamento do curso; direitos que o curso confere; pr-requisitos exigidos; objetivos e contedos; preo e condies de pagamento; custos que os alunos devero assumir durante o programa (tais como deslocamentos para participao em momentos presenciais, provas, estgios, etc.); profissionais responsveis pelo desenvolvimento do curso; equipamentos, bibliografia, videoteca, software e outros recursos que estaro disponveis aos alunos; local e horrios de atendimento personalizado; meios de comunicao oferecidos para contato com o tutor; o tempo limite para completar os estudos e condies para interromp-los temporariamente. Os cursos de atualizao, aperfeioamento, educao aberta em geral que no conferem direito a crditos em outros cursos nem a exerccio profissional precisam deixar claro, desde a publicidade, seus propsitos, para no gerar expectativas vs. Em suma, vale o Cdigo do Consumidor.

Capacidade financeira de manuteno do cursoO investimento em educao a distncia em profissionais, materiais educacionais, equipamentos, tempo, conhecimento, sistemas de gesto e operacionalizao dos cursos alto e deve ser cuidadosamente planejado e projetado de modo que um curso no tenha de ser interrompido antes de finalizado, prejudicando a instituio e, principalmente, os estudantes. Antes de matricular-se, o aluno deve informar-se sobre a solidez da instituio que oferece o curso.

Consideraes finaisO que essencial observar ao se inscrever em um curso a distncia? Como se viu de uma forma bastante resumida ao longo destas pginas, preparar um curso a distncia um trabalho ousado, abrangente e que exige muita competncia profissional. Nem todas as instituies esto preparadas para isso. A rea de pedagogia uma das mais atraentes para as instituies ofertantes, seja porque h muitos professores motivados para adquirirem um diploma superior, seja porque muitas instituies consideram esse um curso "barato". Assim, ao escolher um curso, investigue a instituio, veja como so avaliados seus cursos presenciais (no a mesma coisa, mas se ela no bem avaliada nos presenciais, certamente ter muita dificuldade em um curso a distncia). Procure saber quem so os docentes que respondem pelo curso, enfim, faa uma anlise do projeto com base nesses referenciais bsicos. Como profissional da educao, voc deve ser muito exigente com sua prpria formao. E lembre-se: para muitos, parece ser fcil estudar a distncia. Na verdade no . Estudar a distncia exige perseverana, autonomia, capacidade de organizar o prprio tempo, habilidade de leitura, escrita e interpretao (mesmo pela Internet) e, cada vez mais freqente, domnio de tecnologia. Mas, do ponto de vista de formao de professores, um curso a distncia de qualidade concretiza as orientaes da moderna pedagogia e ajuda a formar sujeitos ativos, cidados comprometidos, pessoas autnomas, independentes, capazes de buscar, criar, aprender ao longo de toda a vida e intervir no mundo em que vivem. muito bom que os professores possam vivenciar isso na sua formao e educao continuada. Bom para eles prprios, bom para seus alunos, bom para a melhoria de qualidade da educao.

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A educao a distncia e a formao de professores

Referncias bibliogrficasAUTHIER, Michel. Le bel avenir du parent pauvre. Apprendre distance. Le Monde de L'ducation, de la Culture et de la Formation Hors-srie France, Septembre, 1998. CASTRO NEVES, Carmen Moreira de. Critrios de qualidade para a educao a distncia. Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, v. 26, n. 141, abr./jun., 1998. _________. Tecnologias na educao a distncia ou presencial: seis lies bsicas. Ptio - revista pedaggica, v. 5, n. 18 ago./out.2001. Porto Alegre: Artmed Editora. EM ABERTO Educao a distncia. Braslia: Inep v. 16, n.70, abr./jun. 1996. SERRES, Michel. La socit pdagogique. Apprendre distance. Le Monde de L'ducation, de la Culture et de la Formation. Hors-srie - France, Septembre, 1998.

NotasEspecialista em Polticas Pblicas e Gesto Governamental, mestre em Educao, diretora do Departamento de Poltica de Educao a Distncia da Secretaria de Educao a Distncia/MEC.1

Conhea mais sobre referenciais para cursos de graduao a distncia no site do MEC: http://www.mec.gov.br - links: Educao a distncia pgina inicial indicadores de qualidade.

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4.2. Critrios de qualidade

Bernardete A. Gatti * A necessidade de oferecer a professores em servio, ou pr-servio, uma qualificao compatvel com as exigncias sociais e profissionais para seu nvel de atuao foi bem analisada por vrios pesquisadores durante a dcada de 90, no sculo XX. Esses estudos mostraram as necessidades, tanto em termos numricos, como em termos qualitativos, de currculos e condies bsicas de formao (Alves, 1992,1998; Brzezinski, 1994; Cunha,1992; Gatti, 2000; Ludke, 1994; Pimenta, 1994, dentre outros). Ao lado desses estudos, foram surgindo alternativas de formao que foram desenvolvidas em vrias instituies pblicas de ensino superior em diversos pontos do pas. Algumas dessas iniciativas passaram a incorporar a educao a distncia como forma de poder atingir, sobretudo, os professores em exerccio nas escolas pblicas que no possussem uma formao escolar condizente com as exigncias para o exerccio profissional da docncia. Foram implementadas com base em princpios discutidos e consensuados por vrios grupos, buscando no s diminuir as estatsticas de carncias na formao dos docentes da educao bsica mas, sobretudo, buscando uma nova qualidade para essa formao. Essas iniciativas foram acompanhadas e geraram vrias reflexes sobre os caminhos tomados (Gatti, 2000), permitindo avanos em concepes e prticas. As propostas de formao de professores na modalidade educao a distncia, por exemplo as desenvolvidas no Estado de Mato Grosso, envolvendo as Universidades Federal e Estadual e a Secretaria de Educao, o programa Salto para o Futuro, o Proformao, o PEC-Universidade, em So Paulo, o Programa desenvolvido pela Universidade Federal do Paran, trouxeram condies para se sair de discusses sobre "o que aconteceria se ..." para o plano das reflexes sobre prticas concretas e seus desdobramentos. Com isso, a questo da qualidade desejvel para essa modalidade formativa, postulada teoricamente, pode enriquecer-se do confronto com as prticas. Educar e educar-se a distncia requer condies muito diferentes da escolarizao presencial. Os alunos em processos de educao a distncia no contam com a presena cotidiana e continuada de professores, nem com o contato constante com seus colegas. Embora possam lidar com os temas de estudo disponibilizados em diferentes suportes, no tempo e no local mais adequados para seus estudos, num ritmo mais pessoal, isso exige determinao, perseverana, novos hbitos de estudo, novas atitudes em face da aprendizagem, novas maneiras de lidar com suas dificuldades. Por outro lado, os educadores envolvidos com os processos de ensino a distncia tm de redobrar seus cuidados com as linguagens, aprender a trabalhar com multimdia e equipamentos especiais, maximizar o uso dos momentos presenciais, desenvolver melhor sua interlocuo via diferentes canais de comunicao, criando nova sensibilidade para perceber o desenvolvimento dos alunos com quem mantm interatividade por diferentes meios e diferentes condies. Nessas condies, algumas caractersticas devem ser garantidas nesse processo para que uma boa qualidade formativa, que os alunos tm direito de usufruir em seus processos educativos, esteja contemplada. Neste texto, tentarei apenas sintetizar algumas das caractersticas e dos fatores que se tm evidenciado como propiciadores de um nvel qualitativo de alto diferencial para a formao a distncia de professores. Em processos acompanhados e avaliados por pesquisadores de diferentes instituies e formao, verificase que importante que programas de educao a distncia, e de modo muito especial aqueles que daro certificaes ( Ensino Mdio, graduao, etc.), desenvolvam em seu incio um trabalho interativo de esclarecimento sobre seus pressupostos pedaggicos, seu eixo curricular, os conhecimentos que sero envolvidos e o porqu, sua estrutura de funcionamento, materiais e suportes a serem utilizados e processos de acompanhamento e avaliao. O programa no pode ser um salto no escuro para os participantes. O trabalho interativo entre educadores e alunos, neste momento, que pode ou no ser presencial, vital para que os alunos avaliem suas possibilidades de envolvimento, o esforo que deles ser exigido, as condies de apoio com que contaro, o tipo de material com que lidaro, as formas de avaliao. um momento importante para elevar a motivao, uma vez que os participantes estaro se envolvendo em um processo de aprendizagem que ser em grande parte solitrio, em que pesem os recursos e os momentos interativos. Os participantes de programas a distncia que recebem apenas um pacote instrucional entendido como totalmente autodidtico tendem a apresentar grandes dificuldades de dominar os contedos e a desistir do programa. Alm disso, esse tipo de programa dificilmente poderia ser identificado como educacional, pois no so propiciadas ao aluno nessa metodologia condies de

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Tecnologias na educao de professores a distnciainsero consciente num processo, com viso de totalidade, de metas, de processos envolvidos, de modo que ele possa fazer escolhas no sentido de investir em seu prprio desenvolvimento, de se sentir verdadeiramente inserido num processo educacional valorizado por ele. Esses pacotes instrucionais, em geral, tambm no propiciam o desenvolvimento de algumas atividades coletivas, participao de discusses, contatos, trocas, em que aspectos socializadores so desenvolvidos e valores, atitudes e formas de argumentao podem ser construdos e tomar sentido. No criam condies para a construo de um sentimento de pertencimento, de cooperao, de partilha, de ser ajudado e de ajudar. Processos educacionais no se atm apenas instruo, mas tambm criam oportunidades de desenvolvimento da comunicao, de valores sociais e ticos, de formas de pensar. Programas de educao a distncia precisam incorporar essas qualidades sob pena de no serem educativos. mais rico o processo educativo a distncia para formao de professores quando se adota uma postura sobre a aquisio de conhecimentos, tratada e concebida como busca permanente, como reflexo vinculada s prticas sociais e pedaggicas, constituindo-se pela atividade das pessoas em seus contextos. Essa postura propicia uma articulao mais adequada das diferentes reas de conhecimento num processo de interdisciplinaridade e de redes disciplinares. Outro ponto a ressaltar diz respeito ao material didtico e de apoio. Seu impacto sobre as aprendizagens e a motivao dos participantes est vinculado a uma produo extremamente cuidadosa, envolvendo um delicado trabalho com os contedos, com a didtica, com as linguagens das mdias, com a organizao visual, com os processos interativos (a distncia ou em momentos presenciais). O material didtico e de apoio para educao a distncia tem caractersticas bem diferentes do material usual para cursos presenciais. Precisa, por exemplo, ser muito mais bem cuidado no sentido de ser ao mximo auto-explicativo, oferecendo informaes decodificveis pelos participantes, sem intrpretes, porm criando ao mesmo tempo oportunidades de extrapolaes, pesquisa, reconstruo de fatos do conhecimento humano, situaes-problema, etc. No podem ser materiais informativos simples, textos corridos. A par da informao bsica necessria, devem ocorrer problematizaes sobre o tema tratado, instigando o participante a encontrar caminhos que lhe permitam avanar no assunto, buscar informaes e construir conhecimento. Bem dosados quanto ao contedo, construdos com um bom planejamento didtico-pedaggico, utilizando de recursos diversos, utilizando solues de linguagem visuais, auditivas ou grficas adequadas e atraentes, servem criao de condies para uma aprendizagem estimulante, um desenvolvimento mais integral do participante, desenvolvimento de hbitos de estudo, crescente melhoria nas habilidades de leitura e outras e desenvolvimento de comportamentos de iniciativa, entre outros. Materiais qualitativamente superiores incorporam aspectos heursticos em sua concepo, sem deixar de ser acessveis. Um desafio e tanto! Sabemos que nos processos de educao a distncia um dos grandes problemas o abandono dos estudos, em alto percentual, pelos participantes dos programas. Isso s vezes vem associado baixa qualidade dos materiais didticos, mas verifica-se tambm que os programas de educao a distncia para professores, se mostram mais adequados, e com baixa evaso, quando a implementao curricular pensada intercalando momentos a distncia e atividades presenciais, com sistema bem estruturado de tutoria dos alunos e apoio presencial e a distncia de especialistas, tanto para os alunos quanto para os tutores. Contatos humanos mostram-se significantes. A ao sistemtica, continuada e planejada de um modo de tutoria mostra boa eficcia no atingimento das metas do programa pelos participantes. Outra caracterstica com diferencial qualitativo para melhor est associada a processos avaliativos, quando estes so variados em suas formas (provas, trabalhos, memoriais, elaborao de textos refletindo sobre suas prticas, elaborao de textos mais tericos, grupos de discusso, observao das prticas, etc.). E ainda, quando so bem programados e os critrios de valorao dos diferentes meios avaliativos so claros e utilizados como meio constante na direo de ajudar o participante a avanar em seus estudos. A avaliao em processo, integrada aos trabalhos educacionais do programa, dialogada, utilizada pedagogicamente para a progresso dos participantes mostra-se como fator importante na formao que se est construindo interativamente. E a est colocada uma das principais qualidades de programas de educao a distncia: a interatividade. Interatividade constante, continuada, atenciosa, cuidada. Ela deve ser propiciada por diferentes meios no mesmo programa: momentos presenciais coletivos, Internet, telefone, videoconferncias, telessalas, teleconferncias, etc. Dilogo, trocas, vivncias, relatos: o humano humanizando o tecnolgico, pondo este a servio do humano, e no vice-versa. Processos educacionais so processos de socializao, portanto a interatividade com

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Critrios de qualidadeparticipao igualitria qualidade indispensvel a qualquer programa de educao a distncia de professores, numa perspectiva de sociedade democrtica. Eles sero os profissionais mais diretamente envolvidos na preservao e na possibilidade de transformao qualitativamente superior de nossos processos civilizatrios: os formadores das novas geraes de homens e mulheres. Esses programas tambm devem ser uma resposta questo: que civilizao queremos?

Referncias bibliogrficasALVES, N. Trajetrias e redes na formao de professores. Rio de Janeiro: DPA Editora, 1998. . Formao de professores: pensar e fazer. So Paulo: Cortez, 1992. ANDR, M. E. de A. Avaliao externa: Proformao Estudos de caso, relatrio tcnico. So Paulo: PUC-SP, 2001. BARRETO, E. S. S. O programa Um Salto para o Futuro Avaliao Externa. So Paulo: FCC, 1993. BRZEZINKI, I. A formao do profissional da escola. Revista Ande. So Paulo: Cortez, v. 13, n. 20, p. 21-29, 1994. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prtica. 2. ed. Campinas: Papirus, 1992. GATTI, B. A. Formao de professores e carreira: problemas e movimentos de renovao. 2. ed., Campinas: Autores Associados, 2000. LUDKE, M. Avaliao institucional: formao de docentes para o ensino fundamental e mdio (As licenciaturas). Srie Cadernos Crub, v. 1, n. 4, Braslia, 1994. PIMENTA, S. G. O estgio na formao de professores: unidade teoria e prtica. So Paulo: Cortez, 1994. PLACCO, V. N. Avaliao externa: Proformao Pesquisa de opinio Relatrio Tcnico. So Paulo: PUC-SP, 2002. UEMAT. Projeto de formao em servio e continuada para professores em exerccio no magistrio: licenciaturas plenas parceladas. Cceres, MT,1996. UFMT/SEE/UEMAT. Licenciatura Plena em Educao Bsica: 1 a 4 srie do 1 grau. mimeo., 1995. UNESP. Textos geradores e resumos. IV Congresso Estadual Paulista sobre Formao de Educadores, guas de So Pedro, 1996. USP. Frum das Licenciaturas. So Paulo, 1992, v. 1, 2 e 3.

NOTAS* Fundao Carlos Chagas/PUC-SP.

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4.3. O que um bom curso a distncia?

Jos Manuel Moran * Quando olhamos para nossa experincia em sala de aula, um bom curso aquele que nos empolga, que nos surpreende, que nos faz pensar, que nos envolve ativamente, que traz contribuies significativas e que nos pe em contato com pessoas, experincias e idias interessantes. s vezes, um curso promete muito, tem tudo para dar certo e nada acontece. Em contraposio, outro que parecia servir s para preencher uma lacuna torna-se decisivo. Um curso considerado "bom" depende de um conjunto de fatores previsveis e de uma "qumica", ou seja, de uma forma de juntar os ingredientes de um modo especial, que faz a diferena. No fundamental, tanto um curso presencial quanto um curso a distncia de qualidade possuem os mesmos ingredientes: Ambos dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros, intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque vamos sair enriquecidos. O grande educador atrai no s pelas suas idias, mas pelo contato pessoal. H sempre algo surpreendente, diferente no que diz, nas relaes que estabelece, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. Ambos dependem tambm dos alunos. Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lcidos e parceiros de caminhada do professor-educador. Para termos cursos presenciais ou a distncia de boa qualidade, necessrio termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimenses que esto envolvidas no processo pedaggico, alm das empresariais ligadas ao lucro; que apiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, o tecnolgico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovao, intercmbio e comunicao. Um bom curso no presencial ou a distncia no depende, finalmente, de ambientes ricos de aprendizagem, de ter uma boa infra-estrutura fsica: salas, tecnologias, bibliotecas... A aprendizagem no se faz s na sala de aula, mas nos inmeros espaos de encontro, de pesquisa e de produo que as grandes instituies propiciam aos seus professores e alunos. Em educao a distncia, um dos grandes problemas o ambiente, ainda reduzido a um lugar onde se procuram textos, contedos. Um bom curso mais do que contedo, pesquisa, troca, produo conjunta. Para suprir a menor disponibilidade ao vivo do professor, importante ter materiais mais elaborados, mais autoexplicativos, com mais desdobramentos (links, textos de apoio, glossrio, atividades...). Isso implica montar uma equipe interdisciplinar, com pessoas da rea tcnica e pedaggica que saibam trabalhar juntas, cumprir prazos, dar contribuies significativas. Um curso de qualidade depende muito da possibilidade de uma boa interao entre seus participantes, do estabelecimento de vnculos, de fomentar aes de intercmbio. Quanto mais interao, mais horas de atendimento so necessrias. Uma interao efetiva precisa ter monitores capacitados, com um nmero equilibrado de alunos. Em educao a distncia no se pode s "passar" uma aula pela TV ou disponibiliz-la num site na Internet e dar alguns exerccios. Um bom curso de educao a distncia procura ter um planejamento bem elaborado, mas sem rigidez excessiva. Permite menos improvisaes do que uma aula presencial, mas tambm deve evitar a execuo totalmente hermtica, sem possibilidade de mudanas, sem prever a interao dos alunos. Precisamos aprender a equilibrar o planejamento e a flexibilidade (que est ligada ao conceito de liberdade, de criatividade). Nem planejamento fechado, nem criatividade desorganizada, que vira s improvisao. Avanaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos s necessidades dos alunos, criando conexes com o cotidiano, com o inesperado, se conseguirmos transformar o curso em uma comunidade viva de investigao, com atividades de pesquisa e de comunicao. Com a flexibilidade, procuramos adaptar-nos s diferenas individuais, respeitar os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenas locais e os contextos culturais. Com a organizao, buscamos gerenciar as divergncias, os tempos, os contedos, os custos, estabelecemos os parmetros fundamentais.

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Tecnologias na educao de professores a distnciaUm bom curso a distncia no valoriza s os materiais feitos com antecedncia, mas como eles so pesquisados, trabalhados, apropriados, avaliados. Traa linhas de ao pedaggica maiores (gerais) que norteiam as aes individuais, sem sufoc-las. Respeita os estilos de aprendizagem e as diferenas de estilo de professores e alunos. Personaliza os processos de ensino-aprendizagem, sem descuidar do coletivo. Permite que cada professor, monitor, encontre seu estilo pessoal de dar aula, em que ele se sinta confortvel e consiga realizar melhor os objetivos, com avaliao contnua, aberta e coerente. Um curso presencial ou um curso a distncia que sejam eficientes e produtivos certamente sempre sero dispendiosos, porque envolvem a necessidade de qualidade pedaggica e tecnolgica. E a qualidade no se improvisa. Ela tem um alto custo, direto ou indireto. Mas vale a pena. S assim podemos avanar de verdade. Um bom curso aquele que nos entristece quando est terminando e nos motiva para encontrarmos formas de manter os vnculos criados. aquele que termina academicamente, mas continua na lista de discusso, com trocas posteriores, colegas se ajudando, enviando novos materiais, informaes, apoios. aquele que guardamos no corao e na nossa memria, como um tesouro precioso. Professores e alunos, todos precisamos estar atentos para valorizar as oportunidades que vamos tendo de participar de experincias significativas de ensino aprendizagem presenciais e virtuais. Elas nos mostram que estamos no caminho certo e contribuem para nossa maior realizao profissional e pessoal.

Referncias bibliogrficasMORAN, Jos Manuel; MASETTO, Marcos; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e mediao pedaggica. 3. ed. Campinas: Papirus, 2001. www.eca.usp.br/prof/moran

Notas* Professor da PUC-SP. Assessor do MEC para avaliao de cursos a distncia.

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O que um bom curso a distncia?

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4.4. Gesto de sistemas de educao a distncia

Alvana Maria Bof *

IntroduoCada vez mais, torna-se evidente a importncia da gesto em programas educacionais. Idias boas podem se perder ou resultar em programas pobres e ineficazes quando no se d a devida ateno a este requisito. No caso da educao a distncia, isso no diferente. Sistemas de EAD so complexos e exigem uma gesto eficiente para que os resultados educacionais possam ser alcanados. Uma vez definidos os objetivos educacionais, o desenho instrucional, as etapas e as atividades, os mecanismos de apoio aprendizagem, as tecnologias a serem utilizadas, a avaliao, os procedimentos formais acadmicos e o funcionamento do sistema como um todo, fundamental que se estabeleam as estratgias e os mecanismos pelos quais se pode assegurar que esse sistema v efetivamente funcionar conforme o previsto. Este trabalho visa apresentar e discutir aspectos relacionados gesto de sistemas de EAD, considerando a gesto como um fator-chave para assegurar a qualidade e o sucesso de programas e cursos nesta modalidade. Apresentam-se, primeiramente, algumas caractersticas de sistemas de EAD, passando, em seguida, para aspectos relacionados gesto destes. Espera-se, com esta anlise, contribuir com o debate em torno da viabilidade e da qualidade de sistemas de EAD, bem como oferecer alguns subsdios aos que esto envolvidos no planejamento ou na implementao desta modalidade de ensino.

Sistemas de educao a distnciaUm primeiro aspecto a ser abordado na discusso sobre a gesto de sistemas de EAD refere-se natureza dos sistemas de EAD. Ao contrrio do que muitos pensam, trata-se de um sistema complexo, que exige da instituio que o promove no s uma infra-estrutura adequada, mas a definio e a operacionalizao de todos os processos que permitem o alcance dos objetivos educacionais propostos. Os bons sistemas de EAD so compostos por uma srie de componentes que devem funcionar integrados. Trata-se da formalizao de uma estrutura operacional que envolve desde o desenvolvimento da concepo do curso, a produo dos materiais didticos ou fontes de informao e a definio do sistema de avaliao at o estabelecimento dos mecanismos operacionais de distribuio de matrias, a disponibilizao de servios de apoio aprendizagem e o estabelecimento de procedimentos acadmicos. Obviamente, dependendo da instituio, da abrangncia de sua rea de atuao, dos objetivos educacionais propostos, da natureza dos cursos oferecidos, essa estrutura pode ser mais ou menos complexa. De modo geral, pode-se dizer que sistemas de EAD apresentam: 1. estrutura/mecanismos de planejamento e preparao/disponibilizao de materiais instrucionais (sejam eles escritos, audiovisuais, ou on-line); 2. estrutura/mecanismos para a proviso de servios de apoio aprendizagem aos cursistas (tutoria, servios de comunicao, momentos presencias); 3. servios de comunicao que possibilitam o acesso do cursista s informaes necessrias ao desenvolvimento de suas atividades no curso; 4. sistemtica de avaliao definida e operacional; 5. estrutura fsica, tecnolgica e de pessoal compatvel com a abrangncia da atuao da instituio e o tipo de desenho instrucional dos cursos oferecidos; 6. estrutura e mecanismos de monitoramento e avaliao do sistema. Vejamos o exemplo de sistemas de EAD nas universidades abertas, como as da Inglaterra e da Espanha. Essas instituies, que so na verdade universidades que funcionam a distncia, possuem toda uma estrutura que lhes garante o funcionamento sistemtico. Possuem equipes que elaboram os materiais didticos, mecanismos para que os alunos os recebam, uma equipe de tutoria que atua no acompanhamento do trabalho dos alunos, um sistema formalizado de avaliao, servios de comunicao, uma infra-estrutura fsica, tecnolgica e de

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Tecnologias na educao de professores a distnciapessoal central e tambm organizada em centros regionais, secretarias e mecanismos institucionalizados para os servios acadmicos, mecanismos de monitoramento e avaliao dos servios prestados, enfim, constituem sistemas completos. Outro exemplo o do Proformao, um curso em nvel mdio com a habilitao no magistrio que oferece a formao a distncia para aproximadamente 25 mil professores, promovido, em parceria, pelo Ministrio da Educao, estados e municpios. O Proformao no desenvolvido por uma instituio, mas sim por um conjunto de atores: houve uma equipe que elaborou a proposta do curso e produziu os materiais, uma equipe que responsvel por todo o processo de implementao, incluindo a definio da estratgia de implementao e sistema operacional, monitoramento e avaliao, e foi estabelecida uma estrutura operacional que viabiliza a consecuo do curso. Nessa estrutura, os cursistas tm o apoio dos tutores e das Agncias Formadoras (AGF); as AGF so apoiadas pelas equipes estaduais de gerenciamento e por assessores tcnicos, e as equipes estaduais contam com o apoio da Coordenao Nacional. Formou-se, assim, um sistema ou uma rede de formao que permite que o curso se desenvolva e atinja seus objetivos educacionais. Assim como os sistemas apresentados, existem outros, como os que se organizam nas instituies chamadas duais, ou seja, universidades que oferecem cursos presenciais e tambm a distncia. De qualquer forma, os elementos apresentados devem estar formalizados.

A gesto de sistemas de educao a distnciaQuando falamos em gesto, estamos falando da maneira como se organizam e gerenciam as partes que compem um sistema, com vistas ao alcance dos objetivos propostos. Por exemplo, quando falamos em gesto escolar, estamos falando de como a escola organiza sua estrutura, sua proposta pedaggica, seus servios, seu pessoal, etc. para que a aprendizagem do aluno ocorra com qualidade, de acordo com sua proposta educacional. No caso da educao a distncia no diferente. A gesto importantssima, uma vez que ela que garante o perfeito funcionamento do sistema e, conseqentemente, sua qualidade, eficincia e eficcia. Para fins de ilustrao, podemos separar a gesto de sistemas de EAD em dois grupos: a) gesto pedaggica e b) gesto de sistema. a) Gesto pedaggica Na gesto pedaggica, encontra-se o gerenciamento das etapas e das atividades do curso, bem como do sistema de apoio aprendizagem e avaliao. preciso que as etapas e as atividades estejam claramente definidas e que tudo seja planejado e coordenado de tal maneira que elas ocorram eficientemente, da maneira programada e no tempo previsto. Tambm preciso que, qualquer que seja o sistema de apoio aprendizagem do aluno previsto no sistema, este funcione eficientemente. Assim, se o sistema estabelece uma tutoria para o acompanhamento dos alunos, esta deve estar claramente definida, com as funes e as atividades do tutor estabelecidas e todos os procedimentos para o exerccio desta funo formalizados. Mais do que isso: preciso estabelecer mecanismos gerenciais para o acompanhamento do trabalho dos tutores. Se o sistema estabelece um sistema de comunicao, preciso garantir que ele efetivamente esteja servindo ao seu objetivo: possibilitar a comunicao efetiva entre os participantes. Se, de um lado, temos de garantir a possibilidade real de o aluno se comunicar com uma instncia do sistema para obter informaes ou esclarecer dvidas, por outro, preciso garantir que, da parte da instituio, haja um atendimento eficiente, com respostas precisas e em tempo hbil. No Proformao, por exemplo, foi criada toda uma rede de tutores, articulados com as AGF, e estabelecidos plantes pedaggicos (telefnicos e presenciais) nas AGF para que este apoio aprendizagem pudesse ocorrer. Todos esses elementos tiveram suas funes bem como seus mecanismos de atuao definidos. Mais do que saber o que fazer, preciso que todos os elementos do sistema saibam "como fazer", quais os procedimentos a serem empregados no desenvolvimento de suas atividades. Para uma boa gesto pedaggica, preciso ainda que o sistema de avaliao esteja claramente definido e seja conhecido por todos. Assim, alm de determinar qual a sistemtica de avaliao formativa/somativa adotada na proposta pedaggica, preciso que se definam indicadores e instrumentos que possibilitem o desenvolvimento dessa avaliao na prtica e quem sero os agentes encarregados desse processo. Assim, em sua gesto, todo sistema de EAD deve prever a definio, a estruturao, o funcionamento sistemtico de

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Gesto de Sistemas de Educao a Distnciatudo aquilo que compe a proposta pedaggica desse sistema, bem como prever, como veremos a seguir, a preparao, o acompanhamento, o monitoramento e a avaliao das equipes para assegurar seu bom funcionamento. b) Gesto de sistema Na gesto de sistema, podemos situar todas as outras necessidades de gerenciamento: de recursos financeiros, de pessoal, de treinamentos, de produo e distribuio de materiais, da tecnologia empregada, dos processos acadmicos, de monitoramento e avaliao. Trata-se do gerenciamento de processos que so inerentes ao funcionamento eficiente do sistema. Normalmente, os sistemas envolvem o gerenciamento dos recursos financeiros disponveis (que so finitos) e a prestao de contas s entidades ou rgos associados a eles. Um sistema de EAD exige recursos, e estes devem ser gerenciados com o processo de garantir a eficincia e a eficcia desse sistema. Do mesmo modo, os sistemas envolvem um quadro de pessoal, e, dependendo de sua estrutura, a capacitao tcnica especfica desse quadro e/ou treinamentos sistemticos. Como j salientamos, todos os envolvidos devem saber claramente "o que fazer" e "como fazer". Por outro lado, a boa gesto acompanha o trabalho dos envolvidos para identificar pontos que ainda no foram bem compreendidos e que devem ser reforados. A gesto deve preocupar-se, ainda, com a preparao de bons materiais instrucionais e o funcionamento das tecnologias empregadas. Se, por exemplo, optou-se pela utilizao de materiais impressos, h toda uma organizao necessria para a definio de tais materiais, das pessoas ou equipes que trabalharo nessa elaborao, dos prazos para a elaborao, a produo e a distribuio destes. Se, por outro lado, optou-se por tutoria "on-line", deve-se assegurar que a rede de computadores esteja disponvel e em funcionamento, mantendo um sistema de manuteno constante. Alm disso, como ocorre nos sistemas de educao presencial, cursos a distncia geralmente demandam mecanismos especiais ligados ao registro da vida acadmica do aluno. Isso pode incluir desde o modo como o aluno se inscreve nos cursos oferecidos e o registro de sua efetiva participao at a avaliao e a certificao. Finalmente, no podemos deixar de salientar a necessidade que todo sistema tem de estabelecer e operar uma sistemtica contnua de monitoramento e avaliao. Somente estabelecendo mecanismos para obter dados e acompanhar o funcionamento do sistema, tanto no que se refere ao alcance dos objetivos propostos quanto no desenvolvimento dos processos, que o gestor pode buscar seu aperfeioamento. Lembremos sempre que estamos falando de sistemas complexos, que envolvem uma srie de partes que devem funcionar articuladamente. No momento em que uma dessas partes apresenta problemas, o todo pode ser comprometido. Assim, melhor estabelecer, desde o incio, alguns mecanismos que possibilitem a identificao de problemas, de modo que estratgias possam ser definidas para a sua imediata resoluo.

Consideraes finaisPercebe-se, assim, que h muitas variveis envolvidas num sistema de EAD e sua complexidade no deve ser subestimada. Necessita-se, sim, pensar em todas essas variveis, estabelecer mecanismos que permitam seu gerenciamento e a efetividade nos processos, sempre com vistas concretizao dos objetivos educacionais traados. Torna-se bastante claro tambm que no basta o desenvolvimento de uma boa proposta pedaggica ou a produo de bons materiais instrucionais para garantir o sucesso de um curso ou programa de EAD. Embora essas condies sejam absolutamente necessrias ao desenvolvimento de um programa ou curso, no so suficientes para propiciar que o aluno possa se engajar num processo de aprendizagem efetivo. A formalizao de estruturas, de mecanismos e de procedimentos que viabilizem tanto a gesto pedaggica quanto a gesto de sistema fundamental qualidade e ao sucesso de qualquer sistema de EAD.

Notas* Coordenadora Nacional do Proformao/Secretaria de Educao a Distncia Ministrio da Educao. Consultora desta srie.

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4.5. Caractersticas de um bom material impresso para a educao a distncia

Maria Umbelina Caiafa Salgado1 Nos ltimos anos, vem crescendo o reconhecimento da importncia da EAD como alternativa para a formao de professores e outros profissionais. A prpria Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) incentiva esse tipo de estratgia, e a recente abertura trazida pela Portaria Ministerial no 2.253 de 18/10/01 estimulou a apresentao de inmeros projetos por diferentes instituies de ensino superior e outros rgos como secretarias de Educao e o prprio MEC. Nesse contexto, importante atentar para alguns pontos que, se no forem adequadamente tratados, podero resultar em problemas, dificuldades e mesmo no insucesso de um programa de EAD. Um desses pontos o material instrucional, que, sob a forma de textos impressos, vdeos, programas de TV ou de rdio, CD-ROM, hipertextos, etc. , pode ser veiculado por diferentes meios para chegar ao aluno: correios, fax, telefone, rdio, televiso, Internet. Algumas vezes, ouve-se dizer que um curso a distncia, para ser atual, deve ser veiculado por TV, Internet ou ambas. Esse um equvoco que deve ser esclarecido. Nenhum meio para chegar ao aluno desprezvel, todos tm suas vantagens e limitaes, sendo, muitas vezes, aconselhvel combinar vrios deles, de acordo com alguns critrios que permitem julgar sua adequao s condies da populao que se quer atingir e aos objetivos visados. Esses critrios so a sincronia/assincronia de recepo, a disponibilidade de acesso pela populao envolvida, a organizao possvel da recepo na situao considerada; a existncia de um esquema eficiente e rpido de manuteno dos equipamentos e o custo. No se trata aqui de discutir tais critrios, bastando dizer que o material impresso, enviado pelo correio ou distribudo de outra forma, apresenta muitas vantagens: permite utilizao sncrona ou assncrona (ou seja, permite trabalhar simultaneamente com grupos de alunos ou com cada aluno em tempos distintos), facilmente acessvel s diferentes regies do pas, independentemente da existncia de provedores, energia eltrica, telessalas ou esquemas de manuteno. Seu custo relativamente baixo e tende a pesar menos no conjunto do curso na proporo em que cresce o nmero de alunos. Alm disso, o material impresso um complemento importante de outros, tais como os vdeos e os programas de TV. Mesmo no caso de cursos pela Internet, a observao tem mostrado que os alunos tendem a imprimir qualquer texto que ultrapasse quatro ou cinco pginas. Podemos, assim, concluir que os materiais impressos tm um lugar prprio quando se trata da educao a distncia. Contudo, tem sido comum encontrarmos instituies e profissionais que julgam possvel utilizar textos tradicionais na EAD apenas mudando o meio de apresentao ao aluno ou acrescentando algumas atividades soltas ao final. preciso notar que um bom material para educao a distncia tem caractersticas especficas, decorrentes das peculiaridades do processo de ensino e aprendizagem mediado por qualquer tipo de dispositivo que substitua a interao face a face. Assim, para compreender os requisitos de um bom material impresso para EAD, necessrio partir da anlise do processo de ensino e aprendizagem tal como ele ocorre na educao presencial, em que o calor humano e a possibilidade de observao direta facilitam: a sensibilizao dos alunos para o que vai ser ensinado/aprendido; a apresentao do contedo e sua organizao lgica; a percepo imediata pelo professor de qualquer problema quanto compreenso do que est sendo focalizado; a pronta correo de enganos e erros; a informao ao aluno sobre seus acertos e dificuldades; a proposio de atividades complementares ou de reforo. Alm disso, devemos notar que, na educao presencial, o aluno permanece na escola por um tempo bastante longo e contnuo, entrando em contato com os elementos da cultura escolar que constituem o currculo oculto.

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Tecnologias na educao de professores a distnciaNa educao a distncia, as aes acima no ficam automaticamente garantidas, o tempo do aluno geralmente parcelado, e a cultura da escola no diretamente acessvel, devendo haver cuidados especiais para incorporar esses elementos ao processo de ensino e aprendizagem, o que, em grande parte, se faz por meio dos materiais instrucionais, com estratgias variveis, segundo o tipo de mdia envolvida. Na televiso e na Internet, a imagem e o movimento favorecem aspectos como a visualizao de processos e seqncias, o desenvolvimento de aspectos afetivos e sociais. J no material impresso, o uso de signos no verbais restrito, e a imagem desempenha um papel complementar ao texto. Entretanto, esse material permite o aprofundamento do raciocnio e cria boas oportunidades para o desenvolvimento da capacidade de produo de textos pelo aluno. A partir dessas consideraes, podemos analisar as caractersticas de um bom material impresso para EAD, partindo da idia geral de que ele deve suprir a ausncia do professor, possibilitando uma adequada interao do aluno com o conhecimento. Os textos didticos ou acadmicos tradicionais, mesmo quando so de boa qualidade, adotam geralmente um estilo expositivo, impessoal, mantendo oculta sua estrutura lgica e organizando o contedo em grandes blocos ou captulos. As atividades de estudo, quando existem, ficam no final do captulo. A avaliao fica transferida para uma prova posterior. Nesse contexto, no se estimula diretamente a aprendizagem ativa e autodirigida e no se oferecem ao aluno as informaes sobre seu desempenho necessrias para a auto-avaliao e o redirecionamento de esforos. O suposto que tudo isso seja suprido pelo professor na interao face a face com os alunos. No material impresso especificamente destinado educao a distncia, fundamental que se consiga estabelecer uma comunicao de mo dupla. Para isso, o estilo do texto deve ser dialgico e amigvel: o autor tem de "conversar" com o aluno, criar espaos para que ele expresse sua prpria maneira o que leu, reflita sobre as informaes patentes no texto e as das entrelinhas, exercite a operacionalizao e o uso dos conceitos e das relaes aprendidas e avalie a cada momento como est seu desempenho. Isso significa dar nfase mais aprendizagem do que ao ensino, buscando desenvolver um aprendiz ativo e seguro em relao ao caminho percorrido. Entretanto, preciso alertar para o fato de que um material impresso, por ser dialgico, no deixa de utilizar a modalidade escrita da lngua. Muitas vezes a preocupao com a dialogicidade leva a uma superexplorao de processos indutivos, resultando em textos confusos e repetitivos, com excesso vocativos e construes prprias da modalidade oral da lngua, o que certamente prejudica a compreenso do leitor. O material para ensino a distncia pode adotar um estilo mais coloquial, mas deve ser claro e enxuto, tomando-se grande cuidado para apresentar as informaes de modo controlado, articulando-as com atividades e exerccios que devem permear o texto e no ficar soltos no final. necessrio incluir casos e exemplos do cotidiano, no intuito de mobilizar os conhecimentos prvios dos alunos e facilitar a incorporao das novas informaes aos esquemas mentais preexistentes. As atividades de estudo, bem como os casos e exemplos, devem integrar organicamente o texto, funcionando como recursos de tessitura e no como apndices dispensveis. Isso significa que o aluno levado a raciocinar e a refletir com base nos exemplos, nos casos e nas atividades de estudo, de tal maneira que esses elementos se tornam essenciais para a compreenso do texto. Contudo, a clareza e a conciso de um material para educao a distncia dependem fundamentalmente de um bom projeto pedaggico para o curso considerado. indispensvel que se tenha uma clara viso do profissional ou cidado que se deseja formar, das competncias bsicas que se deseja alcanar para que se possa formular claramente os objetivos desejados, expressando-os como conhecimentos ou desempenhos dos alunos. O tratamento adequado dos objetivos que garante a qualidade do material, oferecendo critrios seguros para a seleo e a organizao dos contedos socialmente relevantes e atualizados, a elaborao das atividades de estudo e a construo das atividades de verificao da aprendizagem. Quando bem elaboradas e vinculadas aos objetivos, essas atividades oferecem ao aluno um feedback constante do seu desempenho, indicando-lhe os pontos que necessitam de maior ateno, de esforo e de estudo. Com base nessas consideraes, podemos esquematizar em linhas gerais a estrutura de um texto para educao a distncia, ressaltando, contudo, que se trata de uma possibilidade entre outras. Desde que se atenda aos requisitos essenciais, os elementos da estrutura podem variar infinitamente, mas importante que os textos impressos para educao a distncia contenham: uma introduo que apresente o tema a ser tratado, explicitando-o e delimitando-o com clareza; procurando sensibilizar o cursista para a relevncia do assunto tratado; situando-o no conjunto do curso (relao com outras

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Caractersticas de um bom material impresso para a educao a distnciaunidades e com outros componentes curriculares); anunciando a organizao do texto; dois a trs objetivos especficos, selecionados a partir das competncias que compem o perfil de sada do curso e formulados na perspectiva do cursista, ou seja, focalizando conhecimentos e desempenhos resultantes da aprendizagem, que podem referir-se a processos ou a produtos; um corpo de texto organizado de modo que deixe claramente explcita a estrutura lgica subjacente, com sees vinculadas a objetivos especficos, bem seqenciadas, mas razoavelmente autnomas, de modo que possam ser estudadas em momentos diferentes; um fechamento do tema, retomando a questo inicial e destacando concluses importantes; Para desenvolver um bom texto para EAD aconselhvel: explicitar com clareza o objetivo de cada seo, bem como os temas e os subtemas que sero tratados, e explorar cada subtema, clarificando conceitos difceis, apresentando exemplos, comentando aspectos polmicos, destacando pontos-chave; partir de um caso, problema ou atividade relacionada ao cotidiano do cursista; utilizar diferentes tipos de atividades para mobilizar conhecimentos prvios; promover a recuperao de informaes ou de experincias; inserir atividades de estudo destinadas a auxiliar a compreenso do tema e dos subtemas e atividades prticas e de auto-avaliao, propondo questes com o mesmo formato que ser utilizado nas provas presenciais; estabelecer ligao clara entre as diferentes sees, fornecendo snteses parciais e pontos importantes a serem sublinhados; incluir bibliografia, de preferncia comentada, para orientar o aprofundamento de estudos; usar recursos grficos (cor, fontes, cones) para aumentar a interatividade do material e dar maior visibilidade a: pontos-chave; citaes e indicaes de outras fontes; exemplos e casos; resultados de pesquisas; dados numricos; reflexes; pontos polmicos; detalhamento de aspectos especficos. Esse tipo de material exige alguns cuidados na preparao do respectivo processo de produo, que se configura como um trabalho de equipe, no qual colaboram especialistas em contedos dos componentes curriculares; organizao de materiais didticos; revisores de lngua portuguesa e programadores visuais. A articulao entre essas diferentes categorias de profissionais fundamental para o bom resultado do trabalho. necessrio, inicialmente, organizar um processo de treinamento em redao de materiais para EAD, principalmente quando se trata de especialistas sem experincia nesse tipo de trabalho. Mesmo quando so experientes, uma reunio inicial de planejamento ajuda a direcionar adequadamente os textos. Cada material deve ser objeto de trs tipos de avaliao, considerando: 1) adequao ao projeto pedaggico do curso e ao formato para EAD; 2) correo, relevncia e atualizao dos contedos; 3) sintonia com a populao-alvo. Assim, aconselhvel que os materiais sejam avaliados por meio de especialistas em elaborao de material para educao a distncia; pareceristas externos e pr-teste com uma amostra de usurios que apresentem caractersticas semelhantes s da populao alvo. Alm de passar por esses crivos, os textos para EAD devem ser objeto de cuidadosa diagramao, que, em muitos casos, tem de ser feita ainda durante o processo de avaliao dos contedos e do formato, uma vez que exerce grande influncia na interatividade do material. De qualquer maneira, os autores devem acompanhar e aprovar todo o desenvolvimento do projeto grfico e da ilustrao. Com esses cuidados, o material impresso revela-se uma importante ferramenta que, em muitos casos, ainda representa o principal meio para atingir o aluno situado em regies isoladas e sem acesso a recursos mais sofisticados e que, certamente, no deixou de ser um indispensvel apoio ao uso de meios como a TV e a Internet.

Referncias bibliogrficasBELLONI, M. L. Educao a distncia. Campinas: Autores Associados, 1999. BLOIS, M. Educao a distncia via rdio e TVs educativas: questionamentos e inquietaes. Em Aberto, Braslia, v. 16, n. 70, abr./jun., 1996, p. 42-50. CHAMBERS, E.; NORTHEDGE, A. The arts good study guide. Milton Keynes: Open University, 2000.

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Tecnologias na educao de professores a distnciaGARCIA ARETIO, L. La educacin a distancia hoy. Madrid: Uned, 1996. GOMEZ, R. J. G.; FERNNDEZ, F. S. El trabajo del profesorado en contextos educativos problemticos: Atencin a la diversidad. Madri: Uned, 1997. MARTINS. O. B.; POLAK, I. N. S. Educao a distncia: fundamentos e polticas de educao e seus reflexos na educao a distncia. Curitiba: MEC/Seed, 2000. NORTHEDGE, A. The good study guide. Milton Keynes: Open University, 1994. ______.THOMAS, J.; LANE, A.; PEASGOOD, A. The sciences good study guide. Milton Keynes: Open University, 2000. OPEN UNIVERSITY. Open teaching toolkit. Milton Keynes: Open University, 1994. PEREZ, M. D. F. El diseo curricular en la Uned. Un modelo de anlisis. Madrid: Uned, s.d. PRETTI, O. (Org.) Educao a distncia: incios e indcios de um percurso. Nead/IE/UFMT. Cuiab: UFMT, 1996. SALVADOR, C. C.; GOI, J. O. Observaci i anlisi de les prtiques d'ducaci escolar. Barcelona: Universitat Oberta de Catalunya, 1999. SALGADO, M. U. C. (Coord.) Proposta de reformulao curricular do curso de pedagogia da Faculdade de Cincias Humanas da Fundao Mineira de Educao e Cultura (FCH/Fumec). Belo Horizonte: 1997 (mimeo.). ______. Training, Salaries, and Work Conditions of Teachers of the First Grades of Primary School. In RANDALL, l.; ANDERSON, J. B. Schooling for Success Preventing repetition and dropout in Latin American primary schools. Nova York: M. E. Sharp, 1999 (Columbia University Seminar Series). ________. Um olhar sobre a formao inicial de professores em servio. In: VRIOS AUTORES. Um olhar sobre a escola. Braslia: MEC/Seed, 2000 (Srie de Estudos para Educao a Distncia). ________. Guias de Estudo do Proformao Programa de Formao de Professores em Exerccio (coordenao de todos os volumes e redao das partes A Introduo e C Atividades Integradas). Braslia: MEC/ Seed, 1999/2001 (Coleo Magistrio - 32 volumes). ________; MIRANDA, G. V. (Org.) Guia de Estudo do Veredas Formao Superior de Professores. Belo Horizonte: SEE/MG, 2001/2002 (Coleo Veredas - 28 volumes - em elaborao). SARAIVA, T. Educao a distncia no Brasil: lies da histria. Em Aberto, Braslia, v. 16, n. 70, abr./jun., 1996, p. 28-33. VILLARROEL, A. Reflexiones acerca del uso reciente de educacion a distancia en la Latinoamerica. Em Aberto, Braslia, v. 16, n. 70, abr./jun., 1996, p. 93-99.

NotasCoordenadora pedaggica do Veredas Formao Superior de Professores Curso normal superior da SEE MG e consrcio de 18 IES (2001/2002). Assessora pedaggica do Gestar Programa Gesto da Aprendizagem Escolar MEC/Fundescola e IQE (Instituto Qualidade no Ensino) 2000/2002. Coordenadora pedaggica da equipe de elaborao do material instrucional do Proformao Programa de Formao de Professores em Exerccio MEC/Seed/Fundescola (1998/2000).1

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Caractersticas de um bom material impresso para a educao a distncia

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4.6. Materiais escritos nos processos formativos a distncia

Leda Maria Rangearo Fiorentini * Neste texto, procuramos discutir as possibilidades de interferncia nas estratgias de organizao, anlise e compreenso de textos escritos a partir do aproveitamento de suas caractersticas expressivas e da organizao das mensagens. Procuramos tambm clarificar o papel ativo do sujeito aprendiz e a conseqente responsabilidade docente sobre a aprendizagem de estratgias cognitivas e metacognitivas que favorecem a compreenso e a aquisio de conhecimentos a partir de textos e requerem ao consciente, crtica e teleologicamente orientada. Todos observamos o modo como as tecnologias vm afetando a produo, a energia, as comunicaes, o comrcio, o transporte, o trabalho, a famlia, assim como nossa maneira de viver, de trabalhar, de aprender, de nos comunicar, de sistematizar o que conhecemos e todas as atividades relacionadas com a educao e a formao (Unesco,1998). Nesse contexto, ressalta o fato de que a informao no esttica e est acessvel em mltiplos lugares (open learning) e at mesmo de forma gratuita, obtida por meio de enlaces virtuais (hiperlinks), alm de estar organizada de mltiplas formas: escrita, grfica, audiovisual, o que requer novos perfs pessoais e profissionais, num processo contnuo de aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning), provocando um desafio constante e crescente aos educadores e aos sistemas formativos. As tecnologias da informao e da comunicao (TIC) introduziram importantes possibilidades de interao, intercmbio de idias e materiais, entre alunos e professores, dos alunos entre si e dos professores entre si, o que favorece a formao de comunidades cooperativas de aprendizagem, presenciais ou virtuais, que influem sobre o aprender.

O que podemos aprender/ensinar?Essa maneira de conceber a prtica social obriga-nos a incluir nos temas de estudo, nos processos de trabalho, na estrutura de apoio pedaggico e nos materiais usados para aprender algumas dimenses importantes, como nossas "inteligncias mltiplas" (Lvy, 1993) e distintos "saberes" (Morin, 1999): o saber (como conhecimento dos fatos, conceitos, teorias, princpios, fundamentos, nomenclaturas, personagens, etc.), o saber fazer (como nvel procedimental relativo construo do conhecimento e ao domnio de habilidades e destrezas), o ser (como ao propriamente dita, que inclui atitudes, valores, acepes), o saber ser (que se configura como nvel de prxis) e o saber fazer junto (que se organiza em termos da construo do conhecimento por meio de interaes cooperativas e colaborativas com outros atores sociais). Na sociedade do conhecimento e da aprendizagem, nada mais significativo que trabalhar com problemas reais, adotar posies variadas de interpretao, estimular a vivncia de mltiplos papis em contextos realistas, articular o conhecimento declarativo, procedimental, atitudinal, fomentar mltiplas formas de representao dos conhecimentos, a conscincia do processo de aprendizagem [metacognio]. Podemos estimular a busca de solues em grupo, por meio do dilogo entre alunos e professores e do estudo sistemtico, promover o desenvolvimento de habilidades e destrezas cognitivas complexas, como projetar, avaliar, analisar, sintetizar, investir nos processos de memria [armazenamento e recuperao de experincias e informaes] que subsidiam a aprendizagem, em vez de estimular a memorizao vazia. Desenvolver flexibilidade cognitiva1 na aprendizagem favorece o pensamento crtico e a metacognio, explorando-se a capacidade espontnea de reestruturar o prprio conhecimento diante de situaes em constante mudana, pela forma de representar o conhecimento ou pelos processos mentais que nela operam, facilitando a participao social e a insero profissional.

O que cabe ao professor autor de materiais didticos?Decidir como interligar as perspectivas do sujeito aprendiz, da sociedade e a sua prpria, no sentido de que as experincias educativas por ele organizadas possam ser significativas e relevantes para os aprendizes. Aproveitar as contribuies cientficas sobre o desenvolvimento humano, o ensino, a aprendizagem, que tm evidenciado a presena de estruturas bsicas no ato de aprender, das quais destacamos duas, a incorporar nos processos e materiais de aprendizagem: a estrutura cognitiva da tarefa a realizar e a estrutura social de participao, nas quais so claramente especificados os modos de atuar recomendados, incentivados, reprimi-

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Tecnologias na educao de professores a distnciados e ou passveis de extino ["as regras do jogo"; "o caminho das pedras"]. E estar consciente de que, subjacente a elas, se desenvolve uma prtica social implcita ou oculta, to ou mais forte que a curricularmente prevista, pela poderosa influncia pedaggica que o vivenciar repetido de determinadas formas de relacionamento entre estudantes, destes com seus professores exerce sobre as relaes com os conhecimentos, o contexto sociocultural, a transmisso do patrimnio cultural e cientfico da humanidade e a construo, a sistematizao, a ressignificao desse mesmo conhecimento por meio de diversas linguagens, meios de comunicao e ambientes tecnolgicos. relevante e significativo que as informaes e os materiais de estudo sejam usados de modo intencional e orientado de acordo com os propsitos e as metas educativas nas atividades de ensino-aprendizagem, pois no possuem um valor de per si. Sua possvel relevncia e significao apresentam-se em funo dos propsitos (intencionalidade), das concepes norteadoras das aes e da influncia que possam exercer para lograr a aprendizagem pretendida, na medida em que mediam os sujeitos (professor alunos comunidade) e o conhecimento, organizando-se num dado contexto.

Como promover a compreenso de textos?Partindo do fato de que a leitura, em particular de textos escritos, no somente tem sido meio de entretenimento mas magnfica ferramenta de transmisso de informaes, construo de conhecimentos e de cultura, os professores autores precisam preocupar-se com a melhora das habilidades para compreender, reter e recuperar a informao contida nos textos concomitantemente sua elaborao. Sabemos que o leitor de um texto elabora uma representao de seu significado articulando seus conhecimentos prvios, a familiaridade com padres organizativos de textos, alm das caractersticas do texto em si, do que nele se descreve e de suas possveis relaes com o mundo e circunstncia de quem o l/estuda. A compreenso de um discurso (texto escrito) pressupe a transformao de smbolos lingsticos, icnicos, pictricos em mentais, num percurso que vai da linguagem ao pensamento, numa evidncia da enorme relevncia dos meios de comunicao e da organizao de um texto sobre a aprendizagem do sujeito que realiza a leitura (Madruga et al., 1994). Cabe ao professor/formador, como leitor da realidade e organizador de seu prprio conhecimento [que corresponde a uma leitura cultural a partir de sua prpria experincia vital, baseada em suas concepes, referncias e teorias explicativas], organizar o processo educativo de forma consciente, crtica e compromissada com o desenvolvimento do aprendiz, de modo que os textos que organiza ou utiliza favoream o ato de ler, a apreenso e a construo do conhecimento e a aprendizagem, alm da participao ativa e compromissada com a democracia na sociedade. Se estudar constitui "um ato de criar e recriar idias" (Freire, 1969), podemos afirmar a dialtica do ato docente: o professor ensina porque aprende e aprende enquanto ensina (Sacristn, 1992). A observao e a anlise dessa mesma prtica pode ajudar a transform-la e a definir consciente e criticamente as estratgias de atuao mediadas por meios de comunicao e ambientes tecnolgicos.

Como os professores autores podem promover a aprendizagem?Fomentando o protagonismo, a interlocuo e o ldico, baseando suas decises pedaggicas em aspectos/ fases distintos de mediao pedaggica: no tema, na aprendizagem e na forma (Gutierrez e Prieto, 1994). Sabemos que o uso de mltiplos esquemas, conceitos e perspectivas temticas na abordagem dos contedos educativos favorece a representao e a apreciao de experincias e a construo de conhecimentos, de sorte que maior variedade de casos melhora a base conceitual sobre a qual se apiam, como contextos de vida real (Jonassen et al., 1997, p. 122). Um dos procedimentos pode ser a incluso de ajudas intratextuais, como, por exemplo: questes para reflexo; atividades exploratrias iniciais; de aplicao, de auto-avaliao; ativar experincias e conhecimentos prvios; usar seqncias dedutivas e ou indutivas; propor atividades concretas para o estudante realizar; usar frase temtica inicial sobre o assunto tratado; apresentar viso panormica do material e do que se vai estudar; indicar como esto estruturados os conhecimentos abordados no material; especificar outros materiais que o estudante precisa para estudar; sugerir o melhor caminho para estudar; especificar os critrios de avaliao do

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Materiais escritos nos processos formativos a distnciadesempenho do estudante; incluir atividades para fomentar a transferncia de aprendizagem; enunciar a informao principal ao incio do pargrafo, apresentando a perspectiva do autor; destacar a informao relevante; orientar como realizar as atividades e como elaborar suas respostas; estimular a organizao de horrios de estudos individuais e coletivos semanais, alm de estimular o uso do que forem aprendendo em sua prtica profissional e/ou pedaggica. Podem ser ajudas extratextuais, como, por exemplo, usar capa contextualizada; apresentar os crditos editoriais; apresentar a equipe; usar fonte tipogrfica variada e sinalizao grfica para indicar e separar atividades; organizar a pgina em uma coluna; usar ttulos e esquemas numerados, objetivos e perguntas; incluir organizadores prvios, esquemas, sumrios, mapas conceituais, grficos, quadros; diagramas, tabelas, ilustraes, cones; utilizar margem direita maior que a usual em cada pgina para que nela os estudantes possam anotar suas idias e observaes, revisando, de tempos, em tempos, as idias que forem surgindo na leitura e no estudo, as dvidas, o que experimentaram em suas atividades, os avanos, as solues encontradas e os comentrios pessoais. Tambm podem contribuir para desenvolver hbitos de estudo recomendando o percurso mais adequado para aprender, que pode ser, por exemplo, iniciar pela introduo geral de cada mdulo; conhecer os objetivos geral e especficos e suas unidades; leitura atenta, procurando compreender o que estiver estudando em cada unidade; realizar todas as atividades solicitadas, se possvel por escrito; fazer resumos sempre que necessitar organizar a informao estudada; sublinhar palavras que no conhecer e procurar seu significado no glossrio, em outras fontes e em um dicionrio, com o que podem ampliar terminologia tcnica, vocabulrio, entre outras atividades. Alm de prever outros materiais includos no curso, como fitas de audiocassete, programas de rdio e televiso, msicas, vdeos, Internet, correio eletrnico, usando cones ou palavras para indicar o momento e o modo adequado de utiliz-los, com o que tambm se fomenta o raciocnio intuitivo e a atividade do aprendiz. O ideal que o prprio professor responsvel pelo curso/disciplina realize a orientao acadmica, seja por meio de sua incluso nos textos didticos do curso ("tutoria em papel")2 seja pelo atendimento individual/ coletivo descentralizado, por meio dos meios de comunicao disponibilizados pela instituio. Se forem necessrios professores tutores, como parceiros no processo de aprendizagem, podero prestar informaes de natureza cientfica, orientaes metodolgicas de como abordar os contedos, de como organizar-se para estudar, estimular o prosseguimento dos trabalhos apesar das dificuldades no caminho, colher informaes sobre o estudante, com o intuito de reduzir a distncia acadmica entre o estudante e os professores-autores.

Referncias bibliogrficasALONSO, Ktia M. Multimdia, organizao do trabalho docente e poltica de formao de professores. In FIORENTINI, L. M. R.; MORAES, Raquel A. (Coords.) et al. Fundamentos polticos da educao e seus reflexos na educao a distncia. Curitiba: UniRede e UFPR. Mdulo 1 do Curso de Formao em EAD. DELORS, J. La educacin encierra un tesoro. Madrid: Santillana/Ediciones Unesco, 1996. FIORENTINI, L. M. R. O professor em construo: retrospectiva e reflexes sobre a concepo de cursos e materiais para o ensino a distncia para professores. Anais do XVII International School Psychology Coloquium e II Congresso de Psicologia Escolar. Campinas: Puccamp/Abrapee, 1994. _________. Educao a distncia e comunicao educativa: questes conceituais e curriculares. Anais do Congresso de Formao do Educador: dever do Estado, tarefa da Universidade. guas de So Pedro-SP: Unesp, 1996. _________. Reflexes sobre a concepo de cursos e materiais para educao a distncia orientaes para professores-autores. Srie Documental: Eventos Seminrio Nacional de Educao a Distncia, n. 3, dez. p. 41-55. Braslia: Inep, 1993. __________. A experincia do curso "TV na Escola e os Desafios de Hoje" na formao continuada de professores a distncia: questes pedaggicas. Braslia: Secretaria de Educao a Distncia-MEC/Seed e UniRede, 2001. Relatrio Tcnico de Avaliao da Coordenao Pedaggica. FIORENTINI, L. M. R.; MORAES, Raquel A. (Coords.) et al. Fundamentos polticos da educao e seus reflexos na educao a distncia. Curitiba: UniRede e UFPR. Mdulo 1 do Curso de Formao em EAD.

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Tecnologias na educao de professores a distnciaFREIRE, Paulo. Consideraes em torno do ato de estudar e outros escritos. Educao como prtica da liberdade. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1969. GARCEZ, Lucilia C. A escrita e o outro. Braslia: EDUnB, 1999. GARCIA, C. Marcelo; LAVI, J. M. Formacin y nuevas tecnologas: posibilidades y condiciones de la teleformacin como espacio de aprendizaje. [Documento eletrnico: ] GUTIRREZ, F.; Prieto, D. A mediao pedaggica na educao a distncia alternativa. Campinas: Papirus, 1994. GUTIRREZ, F. A educao como prxis poltica. Petrpolis: Vozes, 1992. JONASSEN, D. A. et al. Cognitive Flexibility Hypertexts on the Web: Engaging Learners in Meaning Making. In KHAN, B. (Edit.) Web-Based Instruction. New Jersey: Englewood Cliffs, 1997, p. 119-133. JONASSEN, D. A. O uso das novas tecnologias na educao a distncia e a aprendizagem construtiva. In: Em Aberto, Braslia, ano 16, n. 70, abr./jun.,1996, p. 70-89. KINTSCH, W.; DIJK, T. A.Van. Strategies of Discourse comprehension. Londres: Academic Press, Inc., 1983. LVY, P. As tecnologias da inteligncia o futuro do pensamento na rea da informtica. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. MADRUGA, J. A. G.; CORDEIRO, J. I. M.; VILASECA, J. L. L. MORENO, C. S. Comprensin y adquisicin de conocimientos a partir de textos. Madri: Siglo Veinteuno Editores, 1994. MARIO, Roberto Aparici. La revolucin de los medios audiovisuales. Madri: Ediciones de la Torre, 1993. MASTERMAN, Len. La enseanza de los medios de comunicacin. Madri: Ediciones de la Torre, 1993. MORIN, Edgar. Los siete saberes necesarios a la educacin del futuro. Paris: Unesco, 1999. [Documento eletrnico: http://www.unesco.org ] N, Javier; ORTEGA, Sergio. La teora de la flexibilidad cognitiva y su aplicacin a los entornos hipermedia. Espanha, 1999. Documento eletrnico: SACRISTN, Jos Gimeno. Comprender y transformar la enseanza. Madri: Morata, 1992. SPIRO, Rand J.; FETOVICH, Jacobson; MICHAEL, J.; COULSON, Richard L. Cognitive flexibility, constructivism and Hypertex: random acces instruction for advanced knowledge acquisition in structured domains. Educational Technology, 1991, 31(5) 24-33. UNESCO. La Educacin Superior en el siglo XXI. Visin y Accin. Documento de trabalho da Conferncia Mundial sobre Educao Superior, 1998.

Notas* Universidade de Braslia Faculdade de Educao, [email protected] http://www.fe.unb.br1 2

Teoria formulada por Spiro e Jehng (1991).

Expresso trabalhada por Derek Rowntree: Cmo escribir una leccin de auto-aprendizaje. In RODRGUEZ, E. M. e QUINTILLN, M. A. La educacin a distancia en tiempos de cambios: nuevas generaciones, viejos conflictos. Madri: Ediciones de la Torre, 1999, p. 85-135.

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Materiais escritos nos processos formativos a distncia

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4.7. Computadores, Internet e educao a distncia

Alberto Tornaghi1 Se somos progressistas (...) devemos nos esforar, com humildade, para diminuir ao mximo a distncia entre o que dizemos e o que fazemos. Paulo Freire, em Pedagogia da indignao

IntroduoPretendo fazer aqui algumas breves reflexes sobre o uso das chamadas "tecnologias de comunicao e de informao - (TCI)" como suporte a aes de educao a distncia (EAD). Sem nenhuma pretenso de esgotar o assunto, gostaria de refletir sobre possibilidades que se abrem quando exploramos bem alguns dos recursos inerentes a estes novos meios de comunicao e de produo intelectual. Este texto foi escrito assumindo que seu leitor pode ter pouca ou nenhuma familiaridade com as tecnologias de comunicao e de informao (computadores, Internet, etc.). Por isso a preocupao em explicar com algum detalhe conceitos cuja exata compreenso considero fundamental para avaliar a contribuio dessas tecnologias para a EAD. Tecnologia, o que nos oferece?

O computadorA Internet, a chamada rede mundial de computadores, permite hoje que cidados dos diversos cantos do mundo se comuniquem de forma rpida, gil e barata. Os requisitos para ter acesso a esse meio de comunicao no so muitos, nem caros. Mas infelizmente eles ainda esto pouco disseminados entre ns. Os recursos necessrios so um computador e uma linha telefnica. O conhecimento necessrio constri-se rapidamente, bastando saber ler e escrever de forma razoavelmente fluente. Computadores so mquinas de produo intelectual. Com computadores so produzidos textos, imagens, desenhos, filmes, sons. Com computadores operam-se clculos em grande quantidade e com rapidez. Com computadores possvel experimentar com nmeros e outras entidades abstratas como nunca se fez antes. E como fazer tudo isso? Com uma planilha de clculos, por exemplo, pode-se mostrar de forma clara e concreta a correlao entre um grfico e as quantidades (representadas por nmeros) que o geram. Usando uma planilha, estudantes podem modificar paulatinamente os coeficientes de uma funo numrica e verificar as modificaes que resultam tanto em seu grfico como no conjunto imagem da funo. Essa experincia pode trazer, digamos, uma certa concretude ao conceito de funo. Chamo a isso experimentar com nmeros. claro que a mesma experincia era possvel antes, mas cada grfico exigia um enorme trabalho de clculo e, em seguida, de desenho (plotagem) dos pontos sobre um papel quadriculado. Isso implicava que o nmero de experimentaes era obrigatoriamente reduzido, restando aos alunos acreditar nas generalizaes propostas pelos professores, nunca descobri-las por si mesmos. Esse apenas um exemplo de como essa mquina de processar informaes pode ser explorada como instrumento de experimentao, de produo intelectual. Poderia enumerar uma enorme lista de exemplos, incluindo simuladores, linguagens de programao, editores de textos, de imagens, de udio, de vdeo, etc. Mas no o propsito deste texto; a idia apenas ressaltar o papel que pode ter o computador como instrumento de pesquisa e experimentao para o aprendiz, indo muito alm da sofisticada mquina de escrever e de imprimir que tambm .

Computadores em redeE a educao a distncia com isso? Se os computadores, como diz Papert, ampliam a inteligncia dos seres humanos, ligados em rede permitem que as inteligncias trabalhem em cooperao. Um pensador francs de nossos dias, Pierre Lvy, criou o conceito de "inteligncia coletiva"2 para se referir ao que ele pensa ser uma ampliao significativa de nossa capacidade de pensar, criar e decidir, em decorrncia de podermos estar conectados em rede.

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Tecnologias na educao de professores a distnciaA ligao em rede mundial, por si s, j indica que essas tecnologias reunidas computadores e redes de comunicao tm grande potencial para a educao, seja ela a distncia ou presencial. Mas vamos pr os ps na terra e ver como essa cooperao pode-se dar concretamente, como se realizam as colaboraes e que ganhos podem trazer para a educao a distncia. J faz tempo que convivemos de forma natural com meios de comunicao de massa. Rdio, jornais, revistas e TVs esto presentes em nosso cotidiano como se existissem desde sempre, fazem parte da vida. So meios que compreendemos e que nos permitem pensar em formas variadas de lhes dar funo educacional ou instrucional. Mas so todos meios de uma via s: a expresso de poucos que chega a muitos. So meios de produo cara, cujo investimento se justifica porque se distribui para muitos. Isso divide o mundo em dois: de um lado os que produzem o material intelectual, os formadores de opinio, e, de outro, os leitores ou espectadores, a quem cabe o papel de receptores. Ainda que possam ser receptores crticos, sua opinio chega a muito poucos. A telefonia, por outro lado, um meio em que todos so receptores e emissores. Mas liga as pessoas uma a uma. um meio de comunicao bidirecional e barato, mas no de massa. Pela primeira vez temos a possibilidade de um meio de comunicao que ao mesmo tempo de massa isto , atinge um enorme nmero de pessoas de uma s vez , de comunicao bidirecional, como a telefonia, e de custo operacional acessvel ao usurio comum. A Internet possibilita que textos, imagens, animaes, etc., produzidos por qualquer pessoa, tenham alcance mundial. Hoje, basta que se saiba como divulg-los. Alm disso, essas produes, quando editadas em pginas na Internet, podem ser atualizadas de forma muito gil e sem quase nenhum custo adicional alm da gerao da informao em si. Em relao s edies em papel, as produes no computador tm a enorme vantagem de poderem ser corrigidas, modificadas e ampliadas a qualquer instante, sem necessidade de produzir uma nova edio. Isso abre para a EAD uma possibilidade mpar: os estudantes, estejam onde estiverem, podem interagir e trocar sua produo, no s com os responsveis diretos pelo curso como com seus pares e com terceiros. Podem ter acesso, a custo muito baixo, a farto material informacional, a fontes de toda ordem e origem. Como decorrncia, fundamental desenvolver estratgias para criticar e avaliar as informaes conseguidas na Internet, este mar infindvel de dados, fatos e verses, alguns bem fundamentados, outros completamente fantasiosos.

HipertextosMas essa apenas a faceta mais visvel das possibilidades que nos trazem as TCI. H outras ainda mais interessantes que contribuem de forma decisiva para uma nova forma de fazer e acessar conhecimento. Entre elas, tendo a acreditar que a maior transformao reside na forma como o conhecimento representado na Internet, na forma de hipertextos. Os hipertextos no nasceram com a Internet, mas se popularizaram com ela. E o que um hipertexto? Vamos por comparao: um texto tradicional uma obra que, tipicamente, deve ser lida comeando-se pela primeira linha e seguindo de forma linear, uma frase aps a outra, at a ltima. Tem-se, em geral, a sensao de se estar lendo na ordem em que foi escrito pelo autor (a maior parte das pessoas que escrevem com regularidade sabe que isso est muito longe da verdade; este texto, por exemplo, comecei a escrever pela bibliografia). Um hipertexto, ao contrrio, no tem uma ordem preferencial para ser lido. Um bom exemplo de hipertexto so os dicionrios; outro, as enciclopdias. Em ambos procuramos diretamente o verbete que nos interessa. E se, ao ler a definio do verbete, encontramos termos que nos so desconhecidos, vamos diretamente a eles. No tenho notcia (mas certamente existem) de pesso