tecnologia e psicopedagogia - por felipe rocha
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Trabalho com uma reflexão crítica sobre o uso das tecnologias da informação na pedagogia e psicopedagogia em geral.TRANSCRIPT
FACULDADE SÃO BENTO DA BAHIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA
CLÍNICA E INSTITUCIONAL
FELIPE ROCHA LIMA SANTOS
AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E A PSICOPEDAGOGIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA
Salvador
2008
FELIPE ROCHA LIMA SANTOS
AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E A PSICOPEDAGOGIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA
Trabalho monográfico apresentado ao Curso de Pós-graduação lato sensu em
Psicopedagogia Clínica e Institucional, da Faculdade São Bento da Bahia,
como requisito parcial para obtenção do título de Especialista.
Orientador: Prof. Drª. Rita de Cássia Maskell Rapold
Salvador
2008
RESUMO
Este trabalho visa realizar uma ref lexão e análise crít ica sobre a ut il ização
das Tecnologias de Informação e Comunicação na prática psicopedagógica,
realizando, para isso, uma ref lexão sobre como se encontra atualmente a
educação, dentro do contexto de seu envolvimento com o uso de
tecnologias para atingir resultados, uma análise sobre os conceitos atuais
que envolvem estas tecnologias e comparando os mesmos com a teoria do
construt ivismo para por f im, observar como é possível uti l izar de maneira
ef iciente e contextualizada com o momento atual da sociedade
contemporânea as tecnologias para uma práti ca de psicopedagogia.
Palavras-chave : Tecnologias de Informação e Comunicação,
Psicopedagogia, Informática, Construt ivismo, Web 2.0
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5 2. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ....................................................................... 7 3. CONSTRUTIVISMO, WEB 2.0 E PEERING ........................................................ 12 4. A PSICOPEDAGOGIA E A TECNOLOGIA ......................................................... 18 5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 22 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 24 ANEXO I ................................................................................................................... 25
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1. INTRODUÇÃO
Desde o início da humanidade, quando o homem, diante das
circunstâncias históricas da época, sentiu a necessidade de se unir para
conviver em sociedades, existe a necessidade de criar ferramentas que
automatizem ou facil item o trabalho do ser humano. Esta necessidade fez
com que durante o desenvolvimento e evolução do ser humano, diversas
ciências tenham surgido. A matemática, uma das primeir as, devido à
necessidade de se contar animais ou produtos vegetais para a realização
das trocas. E devido a uma necessidade matemática, o Ábaco surgiu para
automatizar o trabalho humano.
Já no início do século XX, iniciou -se o surgimento das máquinas que
inicialmente apenas realizavam grandes cálculos, porém, passaram a
realizar diversas funções, sendo que hoje, essas máquinas, chamadas de
computadores, cada vez mais substitui e auxilia o homem nas diversas
funções existentes.
Mas a Informática não se fecha mais apenas na existência ou mesmo
no estudo dos sistemas computacionais. Hoje, pode -se dizer que a
informática se refere a todas as Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC). Ou seja, celulares, transmissões de rádio e tv, inteligência artif icial,
analise e mineração de dados, robótica, realidade virtual, Internet, entre
outros são exemplos de TIC´s.
Este paradigma da informática é algo que se iniciou e aos poucos vem
dominando todas as áreas da humanidade, de modo a f icar muitas vezes
confuso saber o que é e o que não é mais informatizado. Na realidade, é
praticamente dif íci l encontrar uma prof issão que não trabalhe, direta ou
indiretamente, com a informática.
A realidade é que as tecnologias cada vez mas tomam conta de todo o
mundo existente. E esse é um paradigma no qual não se pode negar nem
tentar lutar contra. Para perceber a importância desta realidade, fazendo
uma analogia com outros eventos históricos da humanidade, pode -se
perceber por exemplo, que nos tempos antigos, o surgimento da escrita
permitiu o armazenamento do conhecimento geração após geração de modo
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que a tradição oral não deturpasse ou apagasse a informação. A escrita
revolucionou as sociedades, e o incêndio da biblioteca de Alexandria foi um
fato que permitiu certo atraso e perda de muito conhecimento existente.
Mas ainda assim, a escrita era manual e trabalhosa, onde a leitura também
era para poucos, para uma elite. Mas com a criação da máquina de
imprensa, de Gutemberg, l ivros e textos de todos os tipos puderam ser
reproduzidos com mais facil idade, permitindo um acesso da informação a
grande parte das pessoas. A criação da escrita e da imprensa foram dois
momentos importantes para a história do estudo da ciência da informação,
pois representam paradigmas que marcaram e mudaram o mundo.
Mas apesar de a tecnologia fazer parte essencial do paradigma atual,
como será que a pedagogia, as escolas e principalmente a psicopedagogia
se encontram e convivem com este paradigma? Existe uma convivência
proveitosa entre a psicopedagogia e o mundo tecnológico?
Este trabalho tem o objetivo de fazer uma análise crít ica sobre este
tema, seguindo a seguinte divisão: inicialmente, para contextualizar a
importância das tecnologias no mundo educacional, será feita uma
exposição ref lexiva sobre a informática e a educação. Após isso, será
analisado o que signif ica a Web 2.0, peering e qual a relação destes
conceitos tecnológicos com o construt ivismo, para por f im, a
psicopedagogia ser analisada, em sua forma clínica e em sua forma
inst itucional, de modo a entender como se dá o diálogo entre esta prof issão
inserida no mundo atual, informatizado.
A importância desta ref lexão realizada neste trabalho é observar que
atualmente existe algo, que é o mundo totalmente digital, onde todos estão
inseridos, e é preciso estar atento e saber aproveitar e util izar as coisas
que surgem, pois as novas gerações já nascem neste mundo digital, e a
psicopedagogia, que trabalha com seres humanos, precisa estar no mesmo
mundo em que estas novas crianças nascem, para compreendê -las melhor.
Evitar isso é um risco, é provavelmente evitar o avanço científ ico desta
prof issão. E esta ref lexão realizada aqui pretende saber em que situação o
dialogo da psicopedagogia com as tecnologias se encontra, de modo a
ajudar os futuros psicopedagogos a agirem e trabalharem atualizados.
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2. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Existe um texto que circula na internet 1 que diz que um velho mestre
entrou em coma em 1947 e só acordou em 2007, após 60 anos. Tudo para
ele pareceu diferente: os meios de transporte, de pesquisa, de
comunicação. Nada era como antes. Apenas um lugar este velho mestre
reconheceu intacto, igual ao seu tempo: a escola. E ele agradece pela
educação não ter mudado nada nos 60 anos que se passaram.
O que esta história parece sugerir é que por um lado, a educaçào não
precisa evoluir, pois se encontra em vigor um modelo que parece funcionar
e que não precisa ser mexido. Mas por outro lado, se existe um novo
paradigma em vigor, se as novas geraçòes nascem inseridas em um
contexto tecnológico, será que não deveria a educação acompanhar este
percurso?
Valente (1999, apud GALVÃO FILHO, 2004, p.45) sugere uma análise
comparativa entre a evolução educacional e os modelos de produção na
história humana.
Basicamente pode-se observar três grandes modelos de produção,
sendo o primeiro o modelo artesanal, onde os artesãos realizavam uma
produção individualizada, personalizada, alta qualidade e valor elevado.
Este modelo de produção é o modelo que foi substituido pela revolução
industrial. O modelo educaciona l que se assemelha ao modelo de produção
artesanal é o mentoreado, onde exist iam os mentores, mestres particulares
que educavam individualmente uma minoria privilegiada. As famílias que
tinham acesso a estes mestres, mentores, eram famíl ias r icas, da el ite da
época.
A revolução industrial substituiu a produção artesanal. O novo modelo
de produção instaurado foi o modelo de produção em massa. Para Valente
(1999, apud GALVÃO FILHO, 2004), este novo modelo é um modelo onde o
“planejamento da produção é 'empurrado' para os operários, que 'empurram'
as subpartes na linha de montagem e o produto f inal é 'empurrado' para o
cliente, que deve ser convencido de consumi -lo" (p.32). Neste modelo de
1 O texto completo se encontra no Anexo I deste trabalho
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produção, os produtos oferecidos são todos muito iguais, de baixo custo,
pois a produção é em massa, sendo que o cliente não tem escolha ou poder
de mudança na produção do produto f inal. Se a montadora dita que a cor de
carro do momento é azul claro, então o cliente tem que comprar a cor da
moda, que é o azul claro produzido em massa.
Por analogia, o modelo educacional que substituiu o mentoreado
assim como a revolução industrial de produção em massa substituiu a
produção artesanal foi a educação em massa, com escolas que se parecem
com fábricas, l inhas de produção, empurrando aos alunos informações,
sendo que durante suas diversas fases educacionais o aluno vai sendo
montado pelos educadores.
Um terceiro modelo de produção é o modelo que procura mixar a
personalização do modelo artesanal com a produção em massa do modelo
industrial. Aqui, o consumidor tem poder de escolha, de ditar novas modas,
e as empresas então ao invés de empurrar, puxa, recebe do consumidor a
demanta. Todas estas mudanças puderam ocorrer devido ao avanço
tecnológico, como reposição automática de estoque, compras on-line ,
postos self-service , etc. O consumidor nem mesmo precisa sair de casa
para adquirir o produto que quer, do jeito que deseja. Esse modelo pode ser
chamado de modelo enxuto.
Mas haveria uma evolução na educação que pudesse substituir o
modelo de educação em massa? O que parece é que a educação se
manteve f ixa e está, até os dias atuais, presa a este modelo de educação
de fábrica, que procura atrof iar toda a vontade e desejo de aprender do
indivíduo.
Para Paulo Freire (2006, p.28):
O necessár io é que, subordinado, embora, à prát ica 'bancár ia' , o
educando mantenha vivo em si o gosto da rebeld ia que,
aguçando sua cur ios idade e est imulando sua capac idade de
arr iscar -se, de aventurar -se, de cer ta forma o ' imuniza ' contra o
poder apass ivador do 'bancar ismo'.
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É preciso manter pelo menos a vontade e o desejo de aprender, sendo
que esta vontade e desejo é em parte prejudicada pelo bancarismo .
A analogia da educação com o método de produção não mostra uma
relação direta entre a educação e a produção capitalista. Mas serve como
exemplo para ilustrar que a educação precisa mudar e não f icar estagnada.
O mundo está em constante mudança. Será que não haveriam meios de
auxil iar na evolução da educação?
As tecnologias de informação e comunicação (TIC‟s) são tecnologias
computacionais que começaram a evoluir em meados da década de 50, e
atualmente, no século XXI, se encontram em todas as áreas de atuação,
sendo que no mundo contemporâneo, quando se fala em futuro, avanço,
evolução, a primeira coisa que se tem em mente é tecnologia de informação
e comunicação, como celulares, internet, realidade virtual, intel igência
artif icial, entre outros. Mas como estas tecnologias podem ser ut i l izadas na
educação?
Sabe-se que a educação uti l iza das mais diversas ferramentas para
atingir seus objet ivos: atividades lúdicas, jogos, lápis, papel, massas de
modelar, quadros negros, giz, cadernos, l ivros, trabalhos em grupos,
leituras, discussões em sala de aula. E uma das maneiras que a informática
pode ser util izada para participar da educação é trazendo novas
ferramentas que tornem a dinâmica educacional mais prát ica, moderna e
ef icaz.
Algumas das ferramentas que podem ser previamente citadas são os
projetores de datashow , lousas eletrônicas, grandes enciclopédias digitais,
weblogs (blogs) e sites de pesquisa, jogos, grupos de discussão online ,
emtre outras coisas. Mas parece não bastar computadores nas escolas.
Diversas reportagens mostram que o governo atual do Brasil está
trabalhando para levar a todas as escolas públicas a te cnologia. Porém,
existem escolas que possuem laboratórios de informática, possuem
computadores, mas que não são uti l izados.
É possível imaginar a seguinte situação hipotética, apenas ilustrat iva ,
para compreender melhor onde pode estar o problema: em uma sala de
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aula, a professora ensina matemática. A professora coloca no quadro os
números de 1 a 9 multipl icados por 2 e o resultado. Então pergunta à turma:
“2 vezes 1? - Dois!” responde a turma. “2 vezes 2? – Quatro!”, responde a
turma. E assim por diante, numa metodologia de repetição, até que o aluno
decore. Nesta mesma escola, o diretor resolve informatizar, colocando
computadores e materiais tecnológicos a serviço dos professores. E esta
professora então resolve ut i l izar a tecnologia em sala de aula. Colo ca um
datashow , cria alguns slides no PowerPoint , e inicia a aula, projetando na
parede, novamente, os números de 1 a 9 multipl icados por 2 e os
resultados. E com isso, repete a sua metodologia de pergunta e resposta,
repetidamente, até que os alunos decorem.
Qual foi o papel da tecnologia neste exemplo acima? Nenhum. Paulo
Freire (2006) coloca como tópico de alguns de seus textos que ensinar
exige pesquisa e que ensinar exige crít ica sobre a prática. Ou seja, não
basta apenas mudar as ferramentas, colocando ferramentas mais modernas,
mas não ser capaz de pesquisar, ref letir sobre a prática educativa,
ampliando o poder do ensino descobrindo novas metodologias para novas
ferramentas.
Em notícia publicada para no site Ultimo Segundo2, o secretário de
Educação à Distância do Ministério da Educação (MEC), Carlos Eduardo
Bielshowsky, diz que em 2008 o governo federal investirá R$ 300 milhões
para equipar as escolas de 5ª a 8ª série com mais de cem alunos e
atualizar os laboratórios do ensino médio.
Além disso, no dia 08 de Abril de 2008, o Governo Federal anunciou3
uma parceir ia com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para a
instalação de conexão rápida de acesso à internet (conexão de banda larga)
em 56,9 mil escolas públicas de educação básica do país até 2010,
beneficiando mais de 37 milhões de estudantes, algo em torno de 86% dos
alunos da rede pública.
2 A reportagem pode ser acessada em:
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo_virtual/2008/03/19/investimentos_dos_governos_mantem_foco_em_laboratorio
_1236073.html 3 A reportagem pode ser acessada em:
http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2008/04/08/governo_lanca_programa_que_levara_internet_em_banda_larga_es
colas_publicas_ate_2010-426743505.asp
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Todas estas tendências levam a crer que a realidade de um ambiente
educacional informatizado, inserido em alta tecnologia, é uma realidade
próxima. Mas não é dif ícil encontrar escolas que possuem laboratório de
informática que nunca são util izados. Isto talvez aconteça porque o mundo
parece mudar rapidamente, mas a metodologia não deseja mudar. Os
professores não acreditam que precisem mudar, pois o sistema “bancario”
foi o sistema que os ensinaram a tornar -se professores hoje.
Desse modo, nota-se que uma outra maneira de mudar a educação
através da informatização não se dá apenas na subisti tuição e adição de
novas ferramentas. Trata-se de uma mudança de metodologia, uma
mudança de paradigma educacional. O Brasil é um país que vem crescendo
tecnologicamente, no sentido que consegue atingir com a tecnologia quase
todas as pessoas. Mesmo em favelas é possível encontrar lan houses ,
laboratórios de informática, incluindo digitalmente quase toda a população.
Se o Brasil está dando condições para se mudar as ferramentas
educacionais, então porque não mudar a metodologia?
O próximo capítulo irá apresentar a proximidade de conceitos e
atitudes existentes no mundo virtual da internet, como a Web 2.0 e o
peering, com o construt ivismo de Piaget, na tentativa de ilustrar que novas
metodologias podem ser metodologias já existentes na l iteratura apenas em
novos ambientes tecnológicos.
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3. CONSTRUTIVISMO, WEB 2.0 E PEERING
Qual a relação direta entre a educação e o mundo virtual? Existe esta
relação? Este capítulo pretende mostrar como as definições do
construt ivismo se adequam perfeitamente ao novo modo de enxergar e se
comunicar através do mundo virtual e da interne t.
3.1. Construtivismo
O que é o construtivismo? O construt ivismo foi uma teoria da
educação que surgiu no início do século XX, paralelamente sendo
desenvolvida tanto por Jean Piaget como por Lev V ygotsky4. Segundo
Becker (1994, p.88):
Construt iv ismo s igni f ica isto: a idéia de que nada, a r igor, es tá
pronto, acabado, e de que, especif icamente, o conhec imento não é
dado, em nenhuma instânc ia, como algo terminado. Ele se const i tu i
pela interação do indivíduo com o meio f ís ico e soc ia l, com o
s imbol ismo humano, com o mundo das re lações soc iais ; e se
const i tu i por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia,
na bagagem heredi tár ia ou no meio, de ta l modo que podemos
af irmar que antes da ação não há psiquismo nem consciênc ia e,
muito menos, pensamento.
Assim, uma das característ icas fundamentais do construtivismo é que
todo o conhecimento deve ser construído pelos diversos atores envolvidos
na relação ensino-aprendizagem. O professor deixa de ter o papel de dono
do objeto de conhecimento e único capaz de t ransmití-lo e passa a fazer
parte de um processo de construção coletiva entre ele e os demais
aprendentes envolvidos na criação e construção do conhecimento.
Macedo (2002), na tentativa de criar um pequeno contraste entre a
educação construt ivista e não-construtivista, elenca 5 característ icas típicas
do construt ivismo, a saber:
1 – O construtivismo valoriza as ações, enquanto operações do su jeito
cognoscente (que conhece) – isso signif ica que não importa apenas s
4 Não é intenção deste trabalho identificar as diferenças e semelhanças dos diversos pensadores construtivistas, mas
apenas ter uma visão geral do construtivismo, que seria o que há, de certo modo, em comum entre os pensadores
construtivistas.
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transmissão de conhecimento, mas as ações envolvidas no aprendizado que
podem mesmo não envolver l inguagem, como o estabelecimento de
relações, classif icações, etc.
2 – O construt ivismo produz conhecimento apenas formalizante – ou
seja, não produz um conhecimento formalizado, pronto, como definiçõe s de
dicionários ou enciclopédias, mas conhecimento formalizante, signif icativo.
3 – No construt ivismo o conhecimento é concebido como um tornar-se
antes de um ser – o conhecimento não é um objeto, um ser, que passa de
um indivíduo para outro, mas algo que vai se tornando, se transformando,
durante o processo da aprendizagem.
4 – Ao construtivismo o conhecimento só tem sentido enquanto uma
teoria da ação e não enquanto uma teoria da representação – esta
característica tem uma relação íntima com a primeira característ ica, sendo
importante perceber a relevância que o construt ivismo dá a ação, e não a
representações prontas e passadas.
5 – O construt ivismo é produto de uma ação espontânea ou apenas
desencadeada, mas nunca induzida – essa talvez seja a característ ica mais
importante, pois a ação do aprendente no construtivismo deve ser
espontânea, ou no máximo faci l itada, e nunca totalmente induzida, como
ocorre no ensino formal. A ação deve part ir do que aprende, part ir das
ferramentas que ele possui, em busca da construção do conhecimento.
Desse modo, pode-se perceber que o construt ivismo está desligado
do modo tradicional de percepção educacional onde o conteúdo a ser
ensinado é um objeto transmitido ao que aprende. O educando deve, com o
auxílio do educador e através de sua ação espontânea e de sua motivação
pelo aprendizado, construir o conhecimento, conhecimento este que forma,
que signif ica, pois:
“para Piaget , o conhecimento não é uma qual idade estát ica e s im
uma re lação d inâmica. A forma de um indivíduo a bordar a real idade
é sempre uma forma construt iva e portanto tem a ver com a sua
d ispos ição, com o seu conhec imento anter ior e com as
caracterís t icas do objeto” (GOULART, 1995)
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A construção do conhecimento se dá não só na relação educador -
educando, mas também na relação com o sujeito que aprende e sua
história, e o ambiente social, biológico, familiar. Se dá nas relações com os
outros, na signif icação do que é encontrado, na discussão e confronto,
criando novos esquemas sobre o mundo e sobre as coisas conh ecidas.
3.2. WEB 2.0
O termo Web 2.0 é um termo que surgiu na revolução tecnológica
atual para designar o momento atual da internet, ou seja, para conceituar
definindo quais propriedades se encontram na internet atual que não
exist iam no seu surgimento e no seu momento inicial. Este termo foi
cunhado durante uma conferência onde se analisavam as tendências da
internet, por Tim O‟Reil ly, responsável por uma das principais editoras de
l ivros de tecnologia.
A internet, quando surgiu, era apenas uma nova mídia eletrônica onde
algumas poucas pessoas, normalmente as pessoas com o domínio técnico
adequado, colocavam a informação estática, para que o grande público
pudesse acessar. Funcionava analogamente a um Jornal impresso: os
jornalistas escrevem as reportagens, que são impressas e distr ibuídas para
a massa de leitores, que apenas absorvem passivamente o que foi escrito
pelos jornalistas.
Este movimento da internet durou bastante tempo, e mesmo
crescendo rapidamente o número de informação disponível, ainda eram
pessoas com conhecimento técnico (ou empresas que contratavam tais
pessoas) que eram capazes de colocar o conteúdo disponível.
Porém, com a evolução tecnológica e social, novas ferramentas foram
surgindo demonstrando novas tendências, e este comportamento, estas
novas características que surgiram deram nome a esta nova internet, a Web
2.0. Em seu artigo “O que é a Web 2.0” 5, O‟Reil ly elenca as características
fundamentais desta nova Web, onde serão algumas destacadas abaixo:
5 O artigo completo se encontra em:
http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html
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1. A rede como plataforma;
2. Aproveitamento da intel igência coletiva;
3. Os dados são o que importa;
4. Valorizar as ricas experiências do usuário;
Quando O‟Reil ly afirma que a rede é a plataforma, ele quer dizer que
os computadores não precisam mais ter softwares instalados. A rede, a
internet, está sendo capaz de se colocar como plataforma de uso de
programas, ou seja, digitar um texto, fazer uma apresentação de slides,
entre outras coisas, podem ser feitas na internet, sem a necessidade da
instalação de qualquer software que seja. Isto signif ica um movimento de
centralização, onde, ao invés de cada computador possuir seus softwares
privados, todos usam o mesmo ambiente, a internet.
A outra característ ica destacada foi o aproveitamento da intel igência
coletiva. LEVY, P. (1993), antes mesmo de imaginar que um dia surgir ia o
termo Web 2.0, disse que:
“a l inguagem é um bom exemplo da d imensão soc ia l, t ranspessoal,
da cognição. Já v imos que um grande número de processos e de
e lementos intervêm em um pensamento. Mais uma vez, não há mais
paradoxo em pensar que um grupo, uma inst i tu ição, uma rede
soc ia l ou uma cul tura, em seu conjunto, „pensem‟ ou conheçam. O
pensamento já é sempre a real ização de um colet ivo ” (p.169)
A inteligência colet iva é justamente a intel igência que l iga as milhares
de pessoas no mundo, na qual cada uma é parte de um grande cérebro
coletivo e com a facil idade e disseminação do uso da internet, é neste
ambiente em que a intel igência colet iva deve ser aproveitada, est imulada,
desenvolvida. Quem desenvolve o conteúdo disponível na internet não são
mais pessoas isoladas e privilegiadas por conhecimentos técnicos. É
qualquer pessoa que queira participar e colaborar com o desenvolvimento
da intel igência coletiva.
A ênfase na valorização dos dados e na experiência dos usuários es tá
pelo fato de que tudo que qualquer pessoa disponibi l ize na Web é
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importante, pois por mais irrelevante que seja, inicialmente, ela é parte do
processo de construção e desenvolvimento da inteligência coletiva.
3.3. PEERING
Com o advento da Web 2.0 pode-se perceber uma mudança na criação
de novos conhecimentos assim como na própria economia empresarial. E a
mudança mais signif icativa é o peering , que é uma “descrição do que
acontece quando grupos de pessoas e empresas colaboram de forma aberta
para impulsionar a inovação e o crescimento em seus ramos” (TAPSCOTT,
2006, p.36). Em outras palavras, é quando um grupo de pessoas se unem
para uma colaboração mutua e auto-organizada para produzir novos
conhecimentos, novas informações, novos produtos. O peering nada mais é
do que uma colaboração em massa, uma mega construção colet iva de
conhecimento.
Um exemplo clássico desta colaboração em massa foi a criação da
maior enciclopédia existente, a Wikipédia 6, onde todos os verbetes são
criados por qualquer pessoa espa lhada pelo mundo. Em média são escritos
apenas em língua inglesa 730 mil artigos por ano, sendo que atualmente
consta com mais de quatro milhões de artigos em mais de 200 idiomas
(TAPSCOTT, 2006). E por ser construída toda em cima de uma colaboração
espontânea das pessoas que querem comparti lhar o que sabe, a
monitoração de erros e correção é feita também pela comunidade, de modo
que após uma investigação em art igos científ icos, identif icou -se que a
Wikipédia possuía 4 imprecisões por verbetes, contra 3 da enciclopédia
britânica7. Ou seja, a colaboração espontânea é ef iciente.
Para que a colaboração funcione, é preciso que ela seja espontânea,
e que funcione como uma peça para a construção da informação. Esta
construção é constante, ou seja, não f inaliza com uma ultima colaboração,
de modo que ela está sempre em formação. Além de ser espontânea, a
ação da participação é o que importa, ou seja, pessoas que colaboram com
a intenção de lucrar não são normalmente bem vistas no meio digital.
6 www.wikipedia.com
7 Jim Giles, “Internet encyclopedias go head to head”. Em :
http://www.nature.com/nature/journal/v438/n7070/full/438900a.html
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O interessante do funcionamento da colaboração em massa na web
2.0 é que em praticamente tudo ela se assemelha com o construtivismo,
pois é através de uma interação entre o meio social, a história dos
envolvidos, uma ação espontânea e formalizante é que novos
conhecimentos são construídos no mundo virtual. LEVY, P. (1999) chama
de aprendizagem cooperativa a perspectiva onde professores e estudantes
aprendem ao mesmo tempo sendo que a competência do professor é a de
incentivar a aprendizagem e o pensamento. Levy escreve ainda que é
preciso:
“ . . .es tabelecer novos paradigmas de aquis ição dos conhec imentos
e de const i tu ição dos saberes. A d ireção mais promissora, que por
s inal traduz a perspect iva da inte l igênc ia colet iva no domínio
educat ivo, é a da aprendizagem cooperat iva”
Parece ser justamente isto que está acontecendo fora do ambiente
educacional. A internet, com a colaboração em massa (peering ) está
colocando em prát ica conceitos que foram imaginados pelos pensadores
construt ivistas já no início do século XX e também pelo f i l ósofo Pierre Levy,
que percebeu a tendência da formação da intel igência humana. A questão
que f ica então é a seguinte: se a tecnologia mudou a ponto de por em
prática conceitos construt ivistas, mostrando resultados positivos tanto na
construção de conhecimentos de cunho científ ico como de cunho
empresarial, porque a educação deve manter o mesmo método e estrutura
da educação formal, bancária, ao invés de se tornar uma educação de
colaboração, peering , ou seja, uma “educação 2.0”?
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4. A PSICOPEDAGOGIA E A TECNOLOGIA
Nos capítulos anteriores foram visto que a tecnologia da informação e
comunicação não é mais uma ferramenta externa ao ser humano, como
seria um seria um martelo ou um garfo, mas é algo que de certo modo faz
parte do ser humano, como uma espécie de extensão do seu ser, uma
projeção do indivíduo no ambiente global.
A psicopedagogia é uma área de atuação que se preocupa com a
questão das dif iculdades e problemas de aprendizado do ser humano, seja
num contexto clínico, escolar ou inst itucional. Mas é possível a tecnologia
também ser inserida no contexto psicopedagógico? Quais os problemas em
se realizar esta tarefa e quais as vantagens? As ferramentas uti l izadas pela
psicopedagogia não são ferramentas que sempre funcionaram e ainda
funcionam? Então porque novas ferramentas devem ser inseridas?
GALVAO FILHO (2004) mostra, em sua pesquisa, como a informática
é útil, como ferramenta da educação, para pessoas com paralisia cerebral.
Ou seja, através das tecnologias da informação e comunicação, pessoas
antes trancadas em um mundo mental próprio e inacessível podem agora ter
sua identidade e inteligência, antes aprisionadas pela doença, l ibertas, e
podem expandir a ponto de se comunicar com o mundo. Neste trabalho
citado, as TIC‟s entram principalmente como hardwares , equipamentos, que
funcionam como meio para a realização da comunicação.
Ou seja, os psicopedagogos devem ser capazes de identif icar os
problemas de aprendizado existentes, principalmente na educação especial,
e ter a consciência, como indica Ga lvão Filho, de que muitas vezes, a única
alternativa para contornar boa parte destes problemas de aprendizado é
através do uso das TIC‟s, e do conhecimento sobre elas, permit indo não só
o aprendizado para os portadores de necessidades especiais como
permit indo um renascimento para estes indivíduos.
Mas e se não estivermos falando de casos de portadores de
necessidades especiais? Por exemplo, na investigação clinica, será que o
uso da TI é de alguma util idade?
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Sabendo que a TI está cada vez mais inserida no contexto social das
crianças e adolescentes do século vinte, em muitos casos pode ser muito
mais produtivo realizar uma investigação diagnóstica util izando testes
através do que os pacientes mais têm costume: a tecnologia. Muitas
crianças hoje nascem e crescem aprendendo a ut il izar o computador,
celulares, jogos, e uma investigação psicopedagógica que ut il ize as
mesmas ferramentas podem auxiliar na investigação e descoberta do
problema de aprendizado, ou problema secundário que esteja interferindo
na aprendizagem da criança.
Seria interessante imaginar o seguinte: Se Piaget estivesse vivendo
em um período como o século XXI, tecnológico, onde as crianças nascem e
crescem envoltas de tecnologias, jogos e aplicativos tecnológicos, será que
ele teria criado os métodos avaliativos de investigação que ele criou? Ou
ele usaria a tecnologia para criar novos métodos? Parece não sobrar
dúvidas para responder que ele iria criar métodos investigativos que
util izasse a tecnologia, supondo o perfi l científ ico deste grande pesquisador
da educação.
Portanto, este pequeno exercício mental parece ser um estímulo para
que o psicopedagogo possa observar o contexto social em que seu paciente
está envolvido e a partir daí conseguir elaborar estratégias para uma
análise clínica com o uso de ferramentas tecnológicas. Entretanto, neste
momento um problema crucial pode surgir: O psicopedagogo não pode ser
um prof issional excluído digitalmente, ou seja, incapaz de compreender o
estado da arte na tecnologia, os diversos conceitos que cir cundam as TIC‟s
e seu uso. O psicopedagogo não pode, por exemplo, achar que o
computador é apenas uma máquina que roda programas e joguinhos. Hoje,
o computador é uma porta que liga a mente do indivíduo ao mundo coletivo,
como foi mostrado ao se falar em W eb 2.0.
Assim, o psicopedagogo, quando na prática clínica, ao util izar -se das
TIC‟s, deve estar preparado, consciente e atualizado sobre o que é e qual o
papel atual das TIC‟s na vida das pessoas, pois a sua l imitação a situação
atual da tecnologia pode acabar prejudicando todo um trabalho clínico. E
esta parece ser uma das maiores dif iculdades ainda não superadas em
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relação ao uso da tecnologia tanto na educação formal como no trabalho
clínico de psicopedagogos, pois de algum modo ocorre um conflito de
gerações que expõe preconceitos e incompreensões, muitas vezes mais
pelos próprios psicopedagogos e pedagogos do que pelas crianças e
estudantes.
O uso da tecnologia, portanto, deve ser pensada além do uso de
softwares educativos, pois como visto anteriormen te, o conceito de Web 2.0
é, em si mesma, um conceito que envolve a teoria do construt ivismo. Assim,
as ferramentas da Web 2.0, como Orkut, Blogs, Second Life e jogos que
constroem conhecimento podem ser pensados como ferramentas de
investigação clínica e construção do sujeito.
O Orkut , ferramenta de relacionamento social, que é muito uti l izado
pelos jovens brasi leiro, pode, por exemplo, ser usado para a construção de
um sujeito que se relaciona com a sociedade e consigo mesmo. E o
psicopedagogo pode util izar esta ferramenta sem dif iculdades para explorar
os inúmeros aspectos históricos, social e individual do seu paciente, que
pode se sentir l ivre e confortável no ambiente virtual para expor sua sincera
personalidade.
O Second Life é um jogo virtual onde o jogador cria um avatar (uma
personalidade virtual), de acordo com as características físicas que desejar.
A partir daí, entra num mundo virtual onde pode interagir diretamente com
outros avatares, que também serão outras pessoas pelo mundo participando
do mesmo jogo. Com esta atividade, o psicopedagogo pode observar, por
exemplo, as características projetadas do paciente para o seu avatar
virtual, a sua forma de interação social (mesmo que virtualmente social),
entre outras inúmeras possibil idades a serem e xploradas.
Os blogs surgiram como diários virtuais, onde as pessoas poderiam
escrever, diariamente, tudo o que deseja, para que todos possam ler e
comentar. Com isso, muitas pessoas conseguem exprimir sentimentos,
emoções, ref lexões, que não conseguem expr imir de outra maneira. E os
blogs são ferramentas muito interessantes para serem também exploradas
pelos psicopedagogos, dando a oportunidade de fazer com que seu
paciente possa se expressar, interagir com as demais pessoas que se
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expressam, ref letir, projetar virtualmente sua visão de mundo, de sociedade
e de si mesmo, aumentando as ferramentas para o trabalho clínico do
psicopedagogo.
Estes exemplos servem apenas para i lustrar o que foi dito
anteriormente, ou seja, que pensar em informática na psicopedag ogia
apenas como a util ização de softwares educativos é não perceber o real
potencial do uso da tecnologia. O paciente estará acostumado com
tecnologias Web 2.0, com interação, com construção de conhecimento e de
uma rede social de relacionamento, enquanto o psicopedagogo estará
fazendo-o uti l izar ferramentas estát icas que não acompanharão o modo de
pensar e de se expressar do paciente, mas que apenas mostrarão, ao
paciente, o estágio do seu terapeuta, que estará de certo modo impondo o
seu desconhecimento tecnológico ao paciente.
Na psicopedagogia institucional, o psicopedagogo pode sugerir a
util ização de ferramentas Wikis , que são ferramentas de construção de
conhecimento que funciona como o a Wikipédia , assim como a criação de
blogs internos para que os funcionários de uma empresa possam interagir
entre si abertamente, permit indo com que a resolução de problemas
possivelmente l igado ao como a empresa aprende possam ser resolvidos.
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5. CONCLUSÃO
No segundo capítulo deste trabalho, mostrou -se que a educação vive
ainda hoje um paradigma que já deveria ter sido superado, pois parece não
condizer com o momento atual da evolução social humana. E o mundo atual
parece estar vivenciando inúmeras mudanças de paradigmas por conta do
desenvolvimento tecnológico e cien tíf ico, o que indica para o momento
certo de se repensar a educação dentro de novos moldes, dentro de um
contexto que condiz com a sociedade contemporânea.
Ainda neste capítulo foram apresentadas as possibil idades de
inclusão da tecnologia dentro do contexto educacional, não apenas como
uma ferramenta alternativa, mas como parte integral da práxis educativa,
pois a tecnologia não está sendo mais uma ferramenta auxiliar para o ser
humano, mas cada vez mais está se tornando parte do seu cotidiano ou
mesmo parte de sua personalidade.
O terceiro capítulo descreveu um pouco do que é o construtivismo, em
linhas gerais, para poder comparar com o novo conceito de Web 2.0,
conceito este que se relaciona intimamente com a teoria construtivista. Esta
comparação é para indicar e enfatizar a grande aproximação conceitual
entre as inúmeras tecnologias de informação e comunicação existentes no
mundo contemporâneo e as melhores teorias educacionais já pensadas por
grandes educadores. Sem os educadores perceberem, o mundo do peering ,
da colaboração em massa acabou colocando em prática a teoria
construt ivista tanto prezada por inúmeros educadores mas entretanto pouco
vista em prática.
O quarto capítulo é um capítulo que sugere então uma prática dentro
da psicopedagogia que envolva a ut il ização dos conceitos de tecnologia
mais atuais, superando a idéia de que a informática é apenas o uso de
diversos softwares estáticos ut il izados como ferramentas extras e muitas
vezes dispensáveis para a prát ica psicopedagógica.
Portanto, com este trabalho pretende-se fazer com que a educação e
a prática psicopedagógica, que tem antes de tudo como base uma certa
visão de educação, seja repensada junto com a evolução tecnológica, e que
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além disso, os próximos psicopedagogos possam desenvolver e ut i l izar de
modo atual e condizente com a realidade da nova geração de crianças
técnicas que as compreenda como são e auxil iem, assim, no melhor
desenvolvimento da psicopedagogia, realizando esta revolução e melhoria
humana com o apoio da revolução tecnológica.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECKER, Fernando. O que é construtivismo? Revista de Educação AEC, Brasília, v. 21, n. 83, p. 7-15, abr./jun. 1992. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Ed. Paz e Terra, RJ. 1987. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Ed. Paz e Terra, RJ. 1999. GALVÃO FILHO, T. A. Ambientes computacionais e telemáticos no desenvolvimento de projetos pedagógicos com alunos com paralisia cerebral. Dissertação de Mestrado, UFBA. Ano de Obtenção: 2004. GOULART, I.B. (org). A educação na perspective construtivista: reflexões de uma equipe interdisciplinar . Petrópolis: Vozes, 1995. LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência. São Paulo: Editora 34, 1993. LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. MACEDO, L. de. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. TAPSCOTT, D; WILLIAMS, A. Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio. Trad. Marcello Lino. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2006. VALENTE, J. A. (org) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: Unicamp, 1999.
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ANEXO I
(Ret irado de ht tp:/ /webins ider.uol .com.br / index.php/2007/10/1 8/o-velho-mestre-a-
educacao-e-a- internet / )
Um velho mestre, em 1947, entrou em coma. Após 60 anos, ele
acordou, no hospital. Estava em 2007. O professor t inha milhões de
perguntas a fazer, mas eram muitas… Somente uma pergunta pareceu
adequada: “- O que aconteceu com o mundo e com o Brasil nesses anos
todos?”
Várias vozes começaram a repetir frases com palavras que não
conhecia. Então, como um bom professor, perguntou: “ - Há alguma
bibl ioteca onde eu possa pesquisar nos periódicos o que aconteceu?”.
Todos se entreolharam. Os que entenderam o que ele quis dizer sorriram.
Alguém sugere que ele precisa se distrair um pouco e põe na mão
dele o controle remoto da televisão. O professor olha espantado para a
caixinha cheia de botões e não sabe o que fazer. Al guém toma a caixinha e
liga a TV. Ele deu um salto para trás, ao ver a caixa acender e alguém
aparecer de dentro dela, narrando cenas que aconteceram no outro lado do
mundo. A mente treinada a aprender do professor pensou: “Calma, é
apenas um cinema portát i l” . E perguntou: “- Quando ocorreu isso?”. Ao vivo,
naquele mesmo momento, responderam. Ele sentiu um calafrio percorrer a
espinha; se não fosse uma pessoa esclarecida teria deixado escapar a
palavra que veio à mente: mágica!
Perguntou novamente sobre a b iblioteca e disseram para ele procurar
na internet. “ - Internet?”, perguntou. Sim, responderam, a rede mundial de
computadores. Ele arregalou os olhos: “ - Computadores?”
Explicaram e ele f icou meio ressabiado. Pediu para ler um jornal,
mostraram-lhe blogs em um aparelinho aberto com tela colorida. O
professor se assustou ao ouvir que cada um podia escrever o seu jornal. E
que poderia comentar as notícias que lia. E discordar do jornalista e ali
mesmo colocar a sua opinião.
Pediu então uma enciclopédia atual izada. Mostraram a Wikipédia: ”é
só clicar nas palavras sublinhadas”. “ - E quem escreve tudo isso?”,
perguntou. Qualquer um, responderam, atualmente são mais de 290.000
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colaboradores. “ - Mas quem controla tudo isso? Quem comanda o trabalho?
Quem diz o que escrever?”. A resposta foi: ninguém e todo mundo.
O professor pulou da cama. Ou o mundo estava louco ou ele estava.
Saiu correndo, deixou o hospital e chegou à rua. Quase foi atropelado.
Dezenas de carros, mais do que ele já havia visto em toda a vida, tod os ao
mesmo tempo na rua, acelerando, freando, buzinando. Ele correu
desesperado, ainda com a roupa do hospital, um roupão aberto nas costas.
Então reconheceu um prédio algo familiar. Sujo, pichado, mas
reconheceu uma escola, uma escola pública. Dirigiu -se para lá, entrou
esgueirando-se e foi para o últ imo lugar seguro de qual se lembrava, a sala
de aula. Sentiu um certo conforto: a mesma lousa, o mesmo t ipo de
cadeiras, que pelo desgaste deviam ser exatamente as mesmas de seu
tempo. Encolheu-se em um canto e f icou ali, tentando colocar as idéias em
ordem.
De repente entram os alunos, numa algazarra tremenda. O Velho
Mestre enrubesceu. Entra então o professor daquela turma, que tem um
certo trabalho para controlar a classe e começar a aula. O Velho Mestre
parece o único a prestar atenção. Ele percebe que, apesar da falta de
atenção dos alunos, apesar da falta de discipl ina, a aula era exatamente
igual àquela que ele ministrava.
Respira fundo aliviado e pensa: “Graças a Deus alguma coisa não
mudou. Pelo menos a Educação no Brasil continua a mesma de 60 anos
atrás!”.