tecnologia e psicopedagogia - por felipe rocha

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FACULDADE SÃO BENTO DA BAHIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL FELIPE ROCHA LIMA SANTOS AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E A PSICOPEDAGOGIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA Salvador 2008

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Trabalho com uma reflexão crítica sobre o uso das tecnologias da informação na pedagogia e psicopedagogia em geral.

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FACULDADE SÃO BENTO DA BAHIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA

CLÍNICA E INSTITUCIONAL

FELIPE ROCHA LIMA SANTOS

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E A PSICOPEDAGOGIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA

Salvador

2008

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FELIPE ROCHA LIMA SANTOS

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E A PSICOPEDAGOGIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de Pós-graduação lato sensu em

Psicopedagogia Clínica e Institucional, da Faculdade São Bento da Bahia,

como requisito parcial para obtenção do título de Especialista.

Orientador: Prof. Drª. Rita de Cássia Maskell Rapold

Salvador

2008

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RESUMO

Este trabalho visa realizar uma ref lexão e análise crít ica sobre a ut il ização

das Tecnologias de Informação e Comunicação na prática psicopedagógica,

realizando, para isso, uma ref lexão sobre como se encontra atualmente a

educação, dentro do contexto de seu envolvimento com o uso de

tecnologias para atingir resultados, uma análise sobre os conceitos atuais

que envolvem estas tecnologias e comparando os mesmos com a teoria do

construt ivismo para por f im, observar como é possível uti l izar de maneira

ef iciente e contextualizada com o momento atual da sociedade

contemporânea as tecnologias para uma práti ca de psicopedagogia.

Palavras-chave : Tecnologias de Informação e Comunicação,

Psicopedagogia, Informática, Construt ivismo, Web 2.0

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5 2. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ....................................................................... 7 3. CONSTRUTIVISMO, WEB 2.0 E PEERING ........................................................ 12 4. A PSICOPEDAGOGIA E A TECNOLOGIA ......................................................... 18 5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 22 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 24 ANEXO I ................................................................................................................... 25

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1. INTRODUÇÃO

Desde o início da humanidade, quando o homem, diante das

circunstâncias históricas da época, sentiu a necessidade de se unir para

conviver em sociedades, existe a necessidade de criar ferramentas que

automatizem ou facil item o trabalho do ser humano. Esta necessidade fez

com que durante o desenvolvimento e evolução do ser humano, diversas

ciências tenham surgido. A matemática, uma das primeir as, devido à

necessidade de se contar animais ou produtos vegetais para a realização

das trocas. E devido a uma necessidade matemática, o Ábaco surgiu para

automatizar o trabalho humano.

Já no início do século XX, iniciou -se o surgimento das máquinas que

inicialmente apenas realizavam grandes cálculos, porém, passaram a

realizar diversas funções, sendo que hoje, essas máquinas, chamadas de

computadores, cada vez mais substitui e auxilia o homem nas diversas

funções existentes.

Mas a Informática não se fecha mais apenas na existência ou mesmo

no estudo dos sistemas computacionais. Hoje, pode -se dizer que a

informática se refere a todas as Tecnologias de Informação e Comunicação

(TIC). Ou seja, celulares, transmissões de rádio e tv, inteligência artif icial,

analise e mineração de dados, robótica, realidade virtual, Internet, entre

outros são exemplos de TIC´s.

Este paradigma da informática é algo que se iniciou e aos poucos vem

dominando todas as áreas da humanidade, de modo a f icar muitas vezes

confuso saber o que é e o que não é mais informatizado. Na realidade, é

praticamente dif íci l encontrar uma prof issão que não trabalhe, direta ou

indiretamente, com a informática.

A realidade é que as tecnologias cada vez mas tomam conta de todo o

mundo existente. E esse é um paradigma no qual não se pode negar nem

tentar lutar contra. Para perceber a importância desta realidade, fazendo

uma analogia com outros eventos históricos da humanidade, pode -se

perceber por exemplo, que nos tempos antigos, o surgimento da escrita

permitiu o armazenamento do conhecimento geração após geração de modo

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que a tradição oral não deturpasse ou apagasse a informação. A escrita

revolucionou as sociedades, e o incêndio da biblioteca de Alexandria foi um

fato que permitiu certo atraso e perda de muito conhecimento existente.

Mas ainda assim, a escrita era manual e trabalhosa, onde a leitura também

era para poucos, para uma elite. Mas com a criação da máquina de

imprensa, de Gutemberg, l ivros e textos de todos os tipos puderam ser

reproduzidos com mais facil idade, permitindo um acesso da informação a

grande parte das pessoas. A criação da escrita e da imprensa foram dois

momentos importantes para a história do estudo da ciência da informação,

pois representam paradigmas que marcaram e mudaram o mundo.

Mas apesar de a tecnologia fazer parte essencial do paradigma atual,

como será que a pedagogia, as escolas e principalmente a psicopedagogia

se encontram e convivem com este paradigma? Existe uma convivência

proveitosa entre a psicopedagogia e o mundo tecnológico?

Este trabalho tem o objetivo de fazer uma análise crít ica sobre este

tema, seguindo a seguinte divisão: inicialmente, para contextualizar a

importância das tecnologias no mundo educacional, será feita uma

exposição ref lexiva sobre a informática e a educação. Após isso, será

analisado o que signif ica a Web 2.0, peering e qual a relação destes

conceitos tecnológicos com o construt ivismo, para por f im, a

psicopedagogia ser analisada, em sua forma clínica e em sua forma

inst itucional, de modo a entender como se dá o diálogo entre esta prof issão

inserida no mundo atual, informatizado.

A importância desta ref lexão realizada neste trabalho é observar que

atualmente existe algo, que é o mundo totalmente digital, onde todos estão

inseridos, e é preciso estar atento e saber aproveitar e util izar as coisas

que surgem, pois as novas gerações já nascem neste mundo digital, e a

psicopedagogia, que trabalha com seres humanos, precisa estar no mesmo

mundo em que estas novas crianças nascem, para compreendê -las melhor.

Evitar isso é um risco, é provavelmente evitar o avanço científ ico desta

prof issão. E esta ref lexão realizada aqui pretende saber em que situação o

dialogo da psicopedagogia com as tecnologias se encontra, de modo a

ajudar os futuros psicopedagogos a agirem e trabalharem atualizados.

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2. A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO

Existe um texto que circula na internet 1 que diz que um velho mestre

entrou em coma em 1947 e só acordou em 2007, após 60 anos. Tudo para

ele pareceu diferente: os meios de transporte, de pesquisa, de

comunicação. Nada era como antes. Apenas um lugar este velho mestre

reconheceu intacto, igual ao seu tempo: a escola. E ele agradece pela

educação não ter mudado nada nos 60 anos que se passaram.

O que esta história parece sugerir é que por um lado, a educaçào não

precisa evoluir, pois se encontra em vigor um modelo que parece funcionar

e que não precisa ser mexido. Mas por outro lado, se existe um novo

paradigma em vigor, se as novas geraçòes nascem inseridas em um

contexto tecnológico, será que não deveria a educação acompanhar este

percurso?

Valente (1999, apud GALVÃO FILHO, 2004, p.45) sugere uma análise

comparativa entre a evolução educacional e os modelos de produção na

história humana.

Basicamente pode-se observar três grandes modelos de produção,

sendo o primeiro o modelo artesanal, onde os artesãos realizavam uma

produção individualizada, personalizada, alta qualidade e valor elevado.

Este modelo de produção é o modelo que foi substituido pela revolução

industrial. O modelo educaciona l que se assemelha ao modelo de produção

artesanal é o mentoreado, onde exist iam os mentores, mestres particulares

que educavam individualmente uma minoria privilegiada. As famílias que

tinham acesso a estes mestres, mentores, eram famíl ias r icas, da el ite da

época.

A revolução industrial substituiu a produção artesanal. O novo modelo

de produção instaurado foi o modelo de produção em massa. Para Valente

(1999, apud GALVÃO FILHO, 2004), este novo modelo é um modelo onde o

“planejamento da produção é 'empurrado' para os operários, que 'empurram'

as subpartes na linha de montagem e o produto f inal é 'empurrado' para o

cliente, que deve ser convencido de consumi -lo" (p.32). Neste modelo de

1 O texto completo se encontra no Anexo I deste trabalho

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produção, os produtos oferecidos são todos muito iguais, de baixo custo,

pois a produção é em massa, sendo que o cliente não tem escolha ou poder

de mudança na produção do produto f inal. Se a montadora dita que a cor de

carro do momento é azul claro, então o cliente tem que comprar a cor da

moda, que é o azul claro produzido em massa.

Por analogia, o modelo educacional que substituiu o mentoreado

assim como a revolução industrial de produção em massa substituiu a

produção artesanal foi a educação em massa, com escolas que se parecem

com fábricas, l inhas de produção, empurrando aos alunos informações,

sendo que durante suas diversas fases educacionais o aluno vai sendo

montado pelos educadores.

Um terceiro modelo de produção é o modelo que procura mixar a

personalização do modelo artesanal com a produção em massa do modelo

industrial. Aqui, o consumidor tem poder de escolha, de ditar novas modas,

e as empresas então ao invés de empurrar, puxa, recebe do consumidor a

demanta. Todas estas mudanças puderam ocorrer devido ao avanço

tecnológico, como reposição automática de estoque, compras on-line ,

postos self-service , etc. O consumidor nem mesmo precisa sair de casa

para adquirir o produto que quer, do jeito que deseja. Esse modelo pode ser

chamado de modelo enxuto.

Mas haveria uma evolução na educação que pudesse substituir o

modelo de educação em massa? O que parece é que a educação se

manteve f ixa e está, até os dias atuais, presa a este modelo de educação

de fábrica, que procura atrof iar toda a vontade e desejo de aprender do

indivíduo.

Para Paulo Freire (2006, p.28):

O necessár io é que, subordinado, embora, à prát ica 'bancár ia' , o

educando mantenha vivo em si o gosto da rebeld ia que,

aguçando sua cur ios idade e est imulando sua capac idade de

arr iscar -se, de aventurar -se, de cer ta forma o ' imuniza ' contra o

poder apass ivador do 'bancar ismo'.

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É preciso manter pelo menos a vontade e o desejo de aprender, sendo

que esta vontade e desejo é em parte prejudicada pelo bancarismo .

A analogia da educação com o método de produção não mostra uma

relação direta entre a educação e a produção capitalista. Mas serve como

exemplo para ilustrar que a educação precisa mudar e não f icar estagnada.

O mundo está em constante mudança. Será que não haveriam meios de

auxil iar na evolução da educação?

As tecnologias de informação e comunicação (TIC‟s) são tecnologias

computacionais que começaram a evoluir em meados da década de 50, e

atualmente, no século XXI, se encontram em todas as áreas de atuação,

sendo que no mundo contemporâneo, quando se fala em futuro, avanço,

evolução, a primeira coisa que se tem em mente é tecnologia de informação

e comunicação, como celulares, internet, realidade virtual, intel igência

artif icial, entre outros. Mas como estas tecnologias podem ser ut i l izadas na

educação?

Sabe-se que a educação uti l iza das mais diversas ferramentas para

atingir seus objet ivos: atividades lúdicas, jogos, lápis, papel, massas de

modelar, quadros negros, giz, cadernos, l ivros, trabalhos em grupos,

leituras, discussões em sala de aula. E uma das maneiras que a informática

pode ser util izada para participar da educação é trazendo novas

ferramentas que tornem a dinâmica educacional mais prát ica, moderna e

ef icaz.

Algumas das ferramentas que podem ser previamente citadas são os

projetores de datashow , lousas eletrônicas, grandes enciclopédias digitais,

weblogs (blogs) e sites de pesquisa, jogos, grupos de discussão online ,

emtre outras coisas. Mas parece não bastar computadores nas escolas.

Diversas reportagens mostram que o governo atual do Brasil está

trabalhando para levar a todas as escolas públicas a te cnologia. Porém,

existem escolas que possuem laboratórios de informática, possuem

computadores, mas que não são uti l izados.

É possível imaginar a seguinte situação hipotética, apenas ilustrat iva ,

para compreender melhor onde pode estar o problema: em uma sala de

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aula, a professora ensina matemática. A professora coloca no quadro os

números de 1 a 9 multipl icados por 2 e o resultado. Então pergunta à turma:

“2 vezes 1? - Dois!” responde a turma. “2 vezes 2? – Quatro!”, responde a

turma. E assim por diante, numa metodologia de repetição, até que o aluno

decore. Nesta mesma escola, o diretor resolve informatizar, colocando

computadores e materiais tecnológicos a serviço dos professores. E esta

professora então resolve ut i l izar a tecnologia em sala de aula. Colo ca um

datashow , cria alguns slides no PowerPoint , e inicia a aula, projetando na

parede, novamente, os números de 1 a 9 multipl icados por 2 e os

resultados. E com isso, repete a sua metodologia de pergunta e resposta,

repetidamente, até que os alunos decorem.

Qual foi o papel da tecnologia neste exemplo acima? Nenhum. Paulo

Freire (2006) coloca como tópico de alguns de seus textos que ensinar

exige pesquisa e que ensinar exige crít ica sobre a prática. Ou seja, não

basta apenas mudar as ferramentas, colocando ferramentas mais modernas,

mas não ser capaz de pesquisar, ref letir sobre a prática educativa,

ampliando o poder do ensino descobrindo novas metodologias para novas

ferramentas.

Em notícia publicada para no site Ultimo Segundo2, o secretário de

Educação à Distância do Ministério da Educação (MEC), Carlos Eduardo

Bielshowsky, diz que em 2008 o governo federal investirá R$ 300 milhões

para equipar as escolas de 5ª a 8ª série com mais de cem alunos e

atualizar os laboratórios do ensino médio.

Além disso, no dia 08 de Abril de 2008, o Governo Federal anunciou3

uma parceir ia com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para a

instalação de conexão rápida de acesso à internet (conexão de banda larga)

em 56,9 mil escolas públicas de educação básica do país até 2010,

beneficiando mais de 37 milhões de estudantes, algo em torno de 86% dos

alunos da rede pública.

2 A reportagem pode ser acessada em:

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo_virtual/2008/03/19/investimentos_dos_governos_mantem_foco_em_laboratorio

_1236073.html 3 A reportagem pode ser acessada em:

http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2008/04/08/governo_lanca_programa_que_levara_internet_em_banda_larga_es

colas_publicas_ate_2010-426743505.asp

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Todas estas tendências levam a crer que a realidade de um ambiente

educacional informatizado, inserido em alta tecnologia, é uma realidade

próxima. Mas não é dif ícil encontrar escolas que possuem laboratório de

informática que nunca são util izados. Isto talvez aconteça porque o mundo

parece mudar rapidamente, mas a metodologia não deseja mudar. Os

professores não acreditam que precisem mudar, pois o sistema “bancario”

foi o sistema que os ensinaram a tornar -se professores hoje.

Desse modo, nota-se que uma outra maneira de mudar a educação

através da informatização não se dá apenas na subisti tuição e adição de

novas ferramentas. Trata-se de uma mudança de metodologia, uma

mudança de paradigma educacional. O Brasil é um país que vem crescendo

tecnologicamente, no sentido que consegue atingir com a tecnologia quase

todas as pessoas. Mesmo em favelas é possível encontrar lan houses ,

laboratórios de informática, incluindo digitalmente quase toda a população.

Se o Brasil está dando condições para se mudar as ferramentas

educacionais, então porque não mudar a metodologia?

O próximo capítulo irá apresentar a proximidade de conceitos e

atitudes existentes no mundo virtual da internet, como a Web 2.0 e o

peering, com o construt ivismo de Piaget, na tentativa de ilustrar que novas

metodologias podem ser metodologias já existentes na l iteratura apenas em

novos ambientes tecnológicos.

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3. CONSTRUTIVISMO, WEB 2.0 E PEERING

Qual a relação direta entre a educação e o mundo virtual? Existe esta

relação? Este capítulo pretende mostrar como as definições do

construt ivismo se adequam perfeitamente ao novo modo de enxergar e se

comunicar através do mundo virtual e da interne t.

3.1. Construtivismo

O que é o construtivismo? O construt ivismo foi uma teoria da

educação que surgiu no início do século XX, paralelamente sendo

desenvolvida tanto por Jean Piaget como por Lev V ygotsky4. Segundo

Becker (1994, p.88):

Construt iv ismo s igni f ica isto: a idéia de que nada, a r igor, es tá

pronto, acabado, e de que, especif icamente, o conhec imento não é

dado, em nenhuma instânc ia, como algo terminado. Ele se const i tu i

pela interação do indivíduo com o meio f ís ico e soc ia l, com o

s imbol ismo humano, com o mundo das re lações soc iais ; e se

const i tu i por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia,

na bagagem heredi tár ia ou no meio, de ta l modo que podemos

af irmar que antes da ação não há psiquismo nem consciênc ia e,

muito menos, pensamento.

Assim, uma das característ icas fundamentais do construtivismo é que

todo o conhecimento deve ser construído pelos diversos atores envolvidos

na relação ensino-aprendizagem. O professor deixa de ter o papel de dono

do objeto de conhecimento e único capaz de t ransmití-lo e passa a fazer

parte de um processo de construção coletiva entre ele e os demais

aprendentes envolvidos na criação e construção do conhecimento.

Macedo (2002), na tentativa de criar um pequeno contraste entre a

educação construt ivista e não-construtivista, elenca 5 característ icas típicas

do construt ivismo, a saber:

1 – O construtivismo valoriza as ações, enquanto operações do su jeito

cognoscente (que conhece) – isso signif ica que não importa apenas s

4 Não é intenção deste trabalho identificar as diferenças e semelhanças dos diversos pensadores construtivistas, mas

apenas ter uma visão geral do construtivismo, que seria o que há, de certo modo, em comum entre os pensadores

construtivistas.

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transmissão de conhecimento, mas as ações envolvidas no aprendizado que

podem mesmo não envolver l inguagem, como o estabelecimento de

relações, classif icações, etc.

2 – O construt ivismo produz conhecimento apenas formalizante – ou

seja, não produz um conhecimento formalizado, pronto, como definiçõe s de

dicionários ou enciclopédias, mas conhecimento formalizante, signif icativo.

3 – No construt ivismo o conhecimento é concebido como um tornar-se

antes de um ser – o conhecimento não é um objeto, um ser, que passa de

um indivíduo para outro, mas algo que vai se tornando, se transformando,

durante o processo da aprendizagem.

4 – Ao construtivismo o conhecimento só tem sentido enquanto uma

teoria da ação e não enquanto uma teoria da representação – esta

característica tem uma relação íntima com a primeira característ ica, sendo

importante perceber a relevância que o construt ivismo dá a ação, e não a

representações prontas e passadas.

5 – O construt ivismo é produto de uma ação espontânea ou apenas

desencadeada, mas nunca induzida – essa talvez seja a característ ica mais

importante, pois a ação do aprendente no construtivismo deve ser

espontânea, ou no máximo faci l itada, e nunca totalmente induzida, como

ocorre no ensino formal. A ação deve part ir do que aprende, part ir das

ferramentas que ele possui, em busca da construção do conhecimento.

Desse modo, pode-se perceber que o construt ivismo está desligado

do modo tradicional de percepção educacional onde o conteúdo a ser

ensinado é um objeto transmitido ao que aprende. O educando deve, com o

auxílio do educador e através de sua ação espontânea e de sua motivação

pelo aprendizado, construir o conhecimento, conhecimento este que forma,

que signif ica, pois:

“para Piaget , o conhecimento não é uma qual idade estát ica e s im

uma re lação d inâmica. A forma de um indivíduo a bordar a real idade

é sempre uma forma construt iva e portanto tem a ver com a sua

d ispos ição, com o seu conhec imento anter ior e com as

caracterís t icas do objeto” (GOULART, 1995)

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A construção do conhecimento se dá não só na relação educador -

educando, mas também na relação com o sujeito que aprende e sua

história, e o ambiente social, biológico, familiar. Se dá nas relações com os

outros, na signif icação do que é encontrado, na discussão e confronto,

criando novos esquemas sobre o mundo e sobre as coisas conh ecidas.

3.2. WEB 2.0

O termo Web 2.0 é um termo que surgiu na revolução tecnológica

atual para designar o momento atual da internet, ou seja, para conceituar

definindo quais propriedades se encontram na internet atual que não

exist iam no seu surgimento e no seu momento inicial. Este termo foi

cunhado durante uma conferência onde se analisavam as tendências da

internet, por Tim O‟Reil ly, responsável por uma das principais editoras de

l ivros de tecnologia.

A internet, quando surgiu, era apenas uma nova mídia eletrônica onde

algumas poucas pessoas, normalmente as pessoas com o domínio técnico

adequado, colocavam a informação estática, para que o grande público

pudesse acessar. Funcionava analogamente a um Jornal impresso: os

jornalistas escrevem as reportagens, que são impressas e distr ibuídas para

a massa de leitores, que apenas absorvem passivamente o que foi escrito

pelos jornalistas.

Este movimento da internet durou bastante tempo, e mesmo

crescendo rapidamente o número de informação disponível, ainda eram

pessoas com conhecimento técnico (ou empresas que contratavam tais

pessoas) que eram capazes de colocar o conteúdo disponível.

Porém, com a evolução tecnológica e social, novas ferramentas foram

surgindo demonstrando novas tendências, e este comportamento, estas

novas características que surgiram deram nome a esta nova internet, a Web

2.0. Em seu artigo “O que é a Web 2.0” 5, O‟Reil ly elenca as características

fundamentais desta nova Web, onde serão algumas destacadas abaixo:

5 O artigo completo se encontra em:

http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html

Page 15: Tecnologia e Psicopedagogia - Por Felipe Rocha

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1. A rede como plataforma;

2. Aproveitamento da intel igência coletiva;

3. Os dados são o que importa;

4. Valorizar as ricas experiências do usuário;

Quando O‟Reil ly afirma que a rede é a plataforma, ele quer dizer que

os computadores não precisam mais ter softwares instalados. A rede, a

internet, está sendo capaz de se colocar como plataforma de uso de

programas, ou seja, digitar um texto, fazer uma apresentação de slides,

entre outras coisas, podem ser feitas na internet, sem a necessidade da

instalação de qualquer software que seja. Isto signif ica um movimento de

centralização, onde, ao invés de cada computador possuir seus softwares

privados, todos usam o mesmo ambiente, a internet.

A outra característ ica destacada foi o aproveitamento da intel igência

coletiva. LEVY, P. (1993), antes mesmo de imaginar que um dia surgir ia o

termo Web 2.0, disse que:

“a l inguagem é um bom exemplo da d imensão soc ia l, t ranspessoal,

da cognição. Já v imos que um grande número de processos e de

e lementos intervêm em um pensamento. Mais uma vez, não há mais

paradoxo em pensar que um grupo, uma inst i tu ição, uma rede

soc ia l ou uma cul tura, em seu conjunto, „pensem‟ ou conheçam. O

pensamento já é sempre a real ização de um colet ivo ” (p.169)

A inteligência colet iva é justamente a intel igência que l iga as milhares

de pessoas no mundo, na qual cada uma é parte de um grande cérebro

coletivo e com a facil idade e disseminação do uso da internet, é neste

ambiente em que a intel igência colet iva deve ser aproveitada, est imulada,

desenvolvida. Quem desenvolve o conteúdo disponível na internet não são

mais pessoas isoladas e privilegiadas por conhecimentos técnicos. É

qualquer pessoa que queira participar e colaborar com o desenvolvimento

da intel igência coletiva.

A ênfase na valorização dos dados e na experiência dos usuários es tá

pelo fato de que tudo que qualquer pessoa disponibi l ize na Web é

Page 16: Tecnologia e Psicopedagogia - Por Felipe Rocha

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importante, pois por mais irrelevante que seja, inicialmente, ela é parte do

processo de construção e desenvolvimento da inteligência coletiva.

3.3. PEERING

Com o advento da Web 2.0 pode-se perceber uma mudança na criação

de novos conhecimentos assim como na própria economia empresarial. E a

mudança mais signif icativa é o peering , que é uma “descrição do que

acontece quando grupos de pessoas e empresas colaboram de forma aberta

para impulsionar a inovação e o crescimento em seus ramos” (TAPSCOTT,

2006, p.36). Em outras palavras, é quando um grupo de pessoas se unem

para uma colaboração mutua e auto-organizada para produzir novos

conhecimentos, novas informações, novos produtos. O peering nada mais é

do que uma colaboração em massa, uma mega construção colet iva de

conhecimento.

Um exemplo clássico desta colaboração em massa foi a criação da

maior enciclopédia existente, a Wikipédia 6, onde todos os verbetes são

criados por qualquer pessoa espa lhada pelo mundo. Em média são escritos

apenas em língua inglesa 730 mil artigos por ano, sendo que atualmente

consta com mais de quatro milhões de artigos em mais de 200 idiomas

(TAPSCOTT, 2006). E por ser construída toda em cima de uma colaboração

espontânea das pessoas que querem comparti lhar o que sabe, a

monitoração de erros e correção é feita também pela comunidade, de modo

que após uma investigação em art igos científ icos, identif icou -se que a

Wikipédia possuía 4 imprecisões por verbetes, contra 3 da enciclopédia

britânica7. Ou seja, a colaboração espontânea é ef iciente.

Para que a colaboração funcione, é preciso que ela seja espontânea,

e que funcione como uma peça para a construção da informação. Esta

construção é constante, ou seja, não f inaliza com uma ultima colaboração,

de modo que ela está sempre em formação. Além de ser espontânea, a

ação da participação é o que importa, ou seja, pessoas que colaboram com

a intenção de lucrar não são normalmente bem vistas no meio digital.

6 www.wikipedia.com

7 Jim Giles, “Internet encyclopedias go head to head”. Em :

http://www.nature.com/nature/journal/v438/n7070/full/438900a.html

Page 17: Tecnologia e Psicopedagogia - Por Felipe Rocha

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O interessante do funcionamento da colaboração em massa na web

2.0 é que em praticamente tudo ela se assemelha com o construtivismo,

pois é através de uma interação entre o meio social, a história dos

envolvidos, uma ação espontânea e formalizante é que novos

conhecimentos são construídos no mundo virtual. LEVY, P. (1999) chama

de aprendizagem cooperativa a perspectiva onde professores e estudantes

aprendem ao mesmo tempo sendo que a competência do professor é a de

incentivar a aprendizagem e o pensamento. Levy escreve ainda que é

preciso:

“ . . .es tabelecer novos paradigmas de aquis ição dos conhec imentos

e de const i tu ição dos saberes. A d ireção mais promissora, que por

s inal traduz a perspect iva da inte l igênc ia colet iva no domínio

educat ivo, é a da aprendizagem cooperat iva”

Parece ser justamente isto que está acontecendo fora do ambiente

educacional. A internet, com a colaboração em massa (peering ) está

colocando em prát ica conceitos que foram imaginados pelos pensadores

construt ivistas já no início do século XX e também pelo f i l ósofo Pierre Levy,

que percebeu a tendência da formação da intel igência humana. A questão

que f ica então é a seguinte: se a tecnologia mudou a ponto de por em

prática conceitos construt ivistas, mostrando resultados positivos tanto na

construção de conhecimentos de cunho científ ico como de cunho

empresarial, porque a educação deve manter o mesmo método e estrutura

da educação formal, bancária, ao invés de se tornar uma educação de

colaboração, peering , ou seja, uma “educação 2.0”?

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4. A PSICOPEDAGOGIA E A TECNOLOGIA

Nos capítulos anteriores foram visto que a tecnologia da informação e

comunicação não é mais uma ferramenta externa ao ser humano, como

seria um seria um martelo ou um garfo, mas é algo que de certo modo faz

parte do ser humano, como uma espécie de extensão do seu ser, uma

projeção do indivíduo no ambiente global.

A psicopedagogia é uma área de atuação que se preocupa com a

questão das dif iculdades e problemas de aprendizado do ser humano, seja

num contexto clínico, escolar ou inst itucional. Mas é possível a tecnologia

também ser inserida no contexto psicopedagógico? Quais os problemas em

se realizar esta tarefa e quais as vantagens? As ferramentas uti l izadas pela

psicopedagogia não são ferramentas que sempre funcionaram e ainda

funcionam? Então porque novas ferramentas devem ser inseridas?

GALVAO FILHO (2004) mostra, em sua pesquisa, como a informática

é útil, como ferramenta da educação, para pessoas com paralisia cerebral.

Ou seja, através das tecnologias da informação e comunicação, pessoas

antes trancadas em um mundo mental próprio e inacessível podem agora ter

sua identidade e inteligência, antes aprisionadas pela doença, l ibertas, e

podem expandir a ponto de se comunicar com o mundo. Neste trabalho

citado, as TIC‟s entram principalmente como hardwares , equipamentos, que

funcionam como meio para a realização da comunicação.

Ou seja, os psicopedagogos devem ser capazes de identif icar os

problemas de aprendizado existentes, principalmente na educação especial,

e ter a consciência, como indica Ga lvão Filho, de que muitas vezes, a única

alternativa para contornar boa parte destes problemas de aprendizado é

através do uso das TIC‟s, e do conhecimento sobre elas, permit indo não só

o aprendizado para os portadores de necessidades especiais como

permit indo um renascimento para estes indivíduos.

Mas e se não estivermos falando de casos de portadores de

necessidades especiais? Por exemplo, na investigação clinica, será que o

uso da TI é de alguma util idade?

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Sabendo que a TI está cada vez mais inserida no contexto social das

crianças e adolescentes do século vinte, em muitos casos pode ser muito

mais produtivo realizar uma investigação diagnóstica util izando testes

através do que os pacientes mais têm costume: a tecnologia. Muitas

crianças hoje nascem e crescem aprendendo a ut il izar o computador,

celulares, jogos, e uma investigação psicopedagógica que ut il ize as

mesmas ferramentas podem auxiliar na investigação e descoberta do

problema de aprendizado, ou problema secundário que esteja interferindo

na aprendizagem da criança.

Seria interessante imaginar o seguinte: Se Piaget estivesse vivendo

em um período como o século XXI, tecnológico, onde as crianças nascem e

crescem envoltas de tecnologias, jogos e aplicativos tecnológicos, será que

ele teria criado os métodos avaliativos de investigação que ele criou? Ou

ele usaria a tecnologia para criar novos métodos? Parece não sobrar

dúvidas para responder que ele iria criar métodos investigativos que

util izasse a tecnologia, supondo o perfi l científ ico deste grande pesquisador

da educação.

Portanto, este pequeno exercício mental parece ser um estímulo para

que o psicopedagogo possa observar o contexto social em que seu paciente

está envolvido e a partir daí conseguir elaborar estratégias para uma

análise clínica com o uso de ferramentas tecnológicas. Entretanto, neste

momento um problema crucial pode surgir: O psicopedagogo não pode ser

um prof issional excluído digitalmente, ou seja, incapaz de compreender o

estado da arte na tecnologia, os diversos conceitos que cir cundam as TIC‟s

e seu uso. O psicopedagogo não pode, por exemplo, achar que o

computador é apenas uma máquina que roda programas e joguinhos. Hoje,

o computador é uma porta que liga a mente do indivíduo ao mundo coletivo,

como foi mostrado ao se falar em W eb 2.0.

Assim, o psicopedagogo, quando na prática clínica, ao util izar -se das

TIC‟s, deve estar preparado, consciente e atualizado sobre o que é e qual o

papel atual das TIC‟s na vida das pessoas, pois a sua l imitação a situação

atual da tecnologia pode acabar prejudicando todo um trabalho clínico. E

esta parece ser uma das maiores dif iculdades ainda não superadas em

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relação ao uso da tecnologia tanto na educação formal como no trabalho

clínico de psicopedagogos, pois de algum modo ocorre um conflito de

gerações que expõe preconceitos e incompreensões, muitas vezes mais

pelos próprios psicopedagogos e pedagogos do que pelas crianças e

estudantes.

O uso da tecnologia, portanto, deve ser pensada além do uso de

softwares educativos, pois como visto anteriormen te, o conceito de Web 2.0

é, em si mesma, um conceito que envolve a teoria do construt ivismo. Assim,

as ferramentas da Web 2.0, como Orkut, Blogs, Second Life e jogos que

constroem conhecimento podem ser pensados como ferramentas de

investigação clínica e construção do sujeito.

O Orkut , ferramenta de relacionamento social, que é muito uti l izado

pelos jovens brasi leiro, pode, por exemplo, ser usado para a construção de

um sujeito que se relaciona com a sociedade e consigo mesmo. E o

psicopedagogo pode util izar esta ferramenta sem dif iculdades para explorar

os inúmeros aspectos históricos, social e individual do seu paciente, que

pode se sentir l ivre e confortável no ambiente virtual para expor sua sincera

personalidade.

O Second Life é um jogo virtual onde o jogador cria um avatar (uma

personalidade virtual), de acordo com as características físicas que desejar.

A partir daí, entra num mundo virtual onde pode interagir diretamente com

outros avatares, que também serão outras pessoas pelo mundo participando

do mesmo jogo. Com esta atividade, o psicopedagogo pode observar, por

exemplo, as características projetadas do paciente para o seu avatar

virtual, a sua forma de interação social (mesmo que virtualmente social),

entre outras inúmeras possibil idades a serem e xploradas.

Os blogs surgiram como diários virtuais, onde as pessoas poderiam

escrever, diariamente, tudo o que deseja, para que todos possam ler e

comentar. Com isso, muitas pessoas conseguem exprimir sentimentos,

emoções, ref lexões, que não conseguem expr imir de outra maneira. E os

blogs são ferramentas muito interessantes para serem também exploradas

pelos psicopedagogos, dando a oportunidade de fazer com que seu

paciente possa se expressar, interagir com as demais pessoas que se

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expressam, ref letir, projetar virtualmente sua visão de mundo, de sociedade

e de si mesmo, aumentando as ferramentas para o trabalho clínico do

psicopedagogo.

Estes exemplos servem apenas para i lustrar o que foi dito

anteriormente, ou seja, que pensar em informática na psicopedag ogia

apenas como a util ização de softwares educativos é não perceber o real

potencial do uso da tecnologia. O paciente estará acostumado com

tecnologias Web 2.0, com interação, com construção de conhecimento e de

uma rede social de relacionamento, enquanto o psicopedagogo estará

fazendo-o uti l izar ferramentas estát icas que não acompanharão o modo de

pensar e de se expressar do paciente, mas que apenas mostrarão, ao

paciente, o estágio do seu terapeuta, que estará de certo modo impondo o

seu desconhecimento tecnológico ao paciente.

Na psicopedagogia institucional, o psicopedagogo pode sugerir a

util ização de ferramentas Wikis , que são ferramentas de construção de

conhecimento que funciona como o a Wikipédia , assim como a criação de

blogs internos para que os funcionários de uma empresa possam interagir

entre si abertamente, permit indo com que a resolução de problemas

possivelmente l igado ao como a empresa aprende possam ser resolvidos.

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5. CONCLUSÃO

No segundo capítulo deste trabalho, mostrou -se que a educação vive

ainda hoje um paradigma que já deveria ter sido superado, pois parece não

condizer com o momento atual da evolução social humana. E o mundo atual

parece estar vivenciando inúmeras mudanças de paradigmas por conta do

desenvolvimento tecnológico e cien tíf ico, o que indica para o momento

certo de se repensar a educação dentro de novos moldes, dentro de um

contexto que condiz com a sociedade contemporânea.

Ainda neste capítulo foram apresentadas as possibil idades de

inclusão da tecnologia dentro do contexto educacional, não apenas como

uma ferramenta alternativa, mas como parte integral da práxis educativa,

pois a tecnologia não está sendo mais uma ferramenta auxiliar para o ser

humano, mas cada vez mais está se tornando parte do seu cotidiano ou

mesmo parte de sua personalidade.

O terceiro capítulo descreveu um pouco do que é o construtivismo, em

linhas gerais, para poder comparar com o novo conceito de Web 2.0,

conceito este que se relaciona intimamente com a teoria construtivista. Esta

comparação é para indicar e enfatizar a grande aproximação conceitual

entre as inúmeras tecnologias de informação e comunicação existentes no

mundo contemporâneo e as melhores teorias educacionais já pensadas por

grandes educadores. Sem os educadores perceberem, o mundo do peering ,

da colaboração em massa acabou colocando em prática a teoria

construt ivista tanto prezada por inúmeros educadores mas entretanto pouco

vista em prática.

O quarto capítulo é um capítulo que sugere então uma prática dentro

da psicopedagogia que envolva a ut il ização dos conceitos de tecnologia

mais atuais, superando a idéia de que a informática é apenas o uso de

diversos softwares estáticos ut il izados como ferramentas extras e muitas

vezes dispensáveis para a prát ica psicopedagógica.

Portanto, com este trabalho pretende-se fazer com que a educação e

a prática psicopedagógica, que tem antes de tudo como base uma certa

visão de educação, seja repensada junto com a evolução tecnológica, e que

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além disso, os próximos psicopedagogos possam desenvolver e ut i l izar de

modo atual e condizente com a realidade da nova geração de crianças

técnicas que as compreenda como são e auxil iem, assim, no melhor

desenvolvimento da psicopedagogia, realizando esta revolução e melhoria

humana com o apoio da revolução tecnológica.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECKER, Fernando. O que é construtivismo? Revista de Educação AEC, Brasília, v. 21, n. 83, p. 7-15, abr./jun. 1992. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Ed. Paz e Terra, RJ. 1987. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Ed. Paz e Terra, RJ. 1999. GALVÃO FILHO, T. A. Ambientes computacionais e telemáticos no desenvolvimento de projetos pedagógicos com alunos com paralisia cerebral. Dissertação de Mestrado, UFBA. Ano de Obtenção: 2004. GOULART, I.B. (org). A educação na perspective construtivista: reflexões de uma equipe interdisciplinar . Petrópolis: Vozes, 1995. LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência. São Paulo: Editora 34, 1993. LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. MACEDO, L. de. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. TAPSCOTT, D; WILLIAMS, A. Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio. Trad. Marcello Lino. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2006. VALENTE, J. A. (org) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: Unicamp, 1999.

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ANEXO I

(Ret irado de ht tp:/ /webins ider.uol .com.br / index.php/2007/10/1 8/o-velho-mestre-a-

educacao-e-a- internet / )

Um velho mestre, em 1947, entrou em coma. Após 60 anos, ele

acordou, no hospital. Estava em 2007. O professor t inha milhões de

perguntas a fazer, mas eram muitas… Somente uma pergunta pareceu

adequada: “- O que aconteceu com o mundo e com o Brasil nesses anos

todos?”

Várias vozes começaram a repetir frases com palavras que não

conhecia. Então, como um bom professor, perguntou: “ - Há alguma

bibl ioteca onde eu possa pesquisar nos periódicos o que aconteceu?”.

Todos se entreolharam. Os que entenderam o que ele quis dizer sorriram.

Alguém sugere que ele precisa se distrair um pouco e põe na mão

dele o controle remoto da televisão. O professor olha espantado para a

caixinha cheia de botões e não sabe o que fazer. Al guém toma a caixinha e

liga a TV. Ele deu um salto para trás, ao ver a caixa acender e alguém

aparecer de dentro dela, narrando cenas que aconteceram no outro lado do

mundo. A mente treinada a aprender do professor pensou: “Calma, é

apenas um cinema portát i l” . E perguntou: “- Quando ocorreu isso?”. Ao vivo,

naquele mesmo momento, responderam. Ele sentiu um calafrio percorrer a

espinha; se não fosse uma pessoa esclarecida teria deixado escapar a

palavra que veio à mente: mágica!

Perguntou novamente sobre a b iblioteca e disseram para ele procurar

na internet. “ - Internet?”, perguntou. Sim, responderam, a rede mundial de

computadores. Ele arregalou os olhos: “ - Computadores?”

Explicaram e ele f icou meio ressabiado. Pediu para ler um jornal,

mostraram-lhe blogs em um aparelinho aberto com tela colorida. O

professor se assustou ao ouvir que cada um podia escrever o seu jornal. E

que poderia comentar as notícias que lia. E discordar do jornalista e ali

mesmo colocar a sua opinião.

Pediu então uma enciclopédia atual izada. Mostraram a Wikipédia: ”é

só clicar nas palavras sublinhadas”. “ - E quem escreve tudo isso?”,

perguntou. Qualquer um, responderam, atualmente são mais de 290.000

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colaboradores. “ - Mas quem controla tudo isso? Quem comanda o trabalho?

Quem diz o que escrever?”. A resposta foi: ninguém e todo mundo.

O professor pulou da cama. Ou o mundo estava louco ou ele estava.

Saiu correndo, deixou o hospital e chegou à rua. Quase foi atropelado.

Dezenas de carros, mais do que ele já havia visto em toda a vida, tod os ao

mesmo tempo na rua, acelerando, freando, buzinando. Ele correu

desesperado, ainda com a roupa do hospital, um roupão aberto nas costas.

Então reconheceu um prédio algo familiar. Sujo, pichado, mas

reconheceu uma escola, uma escola pública. Dirigiu -se para lá, entrou

esgueirando-se e foi para o últ imo lugar seguro de qual se lembrava, a sala

de aula. Sentiu um certo conforto: a mesma lousa, o mesmo t ipo de

cadeiras, que pelo desgaste deviam ser exatamente as mesmas de seu

tempo. Encolheu-se em um canto e f icou ali, tentando colocar as idéias em

ordem.

De repente entram os alunos, numa algazarra tremenda. O Velho

Mestre enrubesceu. Entra então o professor daquela turma, que tem um

certo trabalho para controlar a classe e começar a aula. O Velho Mestre

parece o único a prestar atenção. Ele percebe que, apesar da falta de

atenção dos alunos, apesar da falta de discipl ina, a aula era exatamente

igual àquela que ele ministrava.

Respira fundo aliviado e pensa: “Graças a Deus alguma coisa não

mudou. Pelo menos a Educação no Brasil continua a mesma de 60 anos

atrás!”.