tcc breve análise da história dos batistas
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HISTÓRIA DOS BATISTASTRANSCRIPT
CENTRO DE EDUCAÇÃO TEOLOGICA BATISTA DO ESPÍRITO SANTO
CETEBES
BACHAREL LIVRE EM TEOLOGIA
LARYSSA DA SILVA MACHADO
BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS:
DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
2014
LARYSSA DA SILVA MACHADO
BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS:
DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO
Trabalho apresentado na Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do 4 º ano, do Curso Livre de Teologia do CETEBES - Centro de Educação Teológica Batista do ES, campus Sul.
Professor: Leonardo Ferreira dos Santos
Orientador de Conteúdo:
Professor: Sandro Zanoteli Koppe
Orientador de Forma:
Professor: Leonardo Ferreira dos Santos
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
2014
LARYSSA
BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS:
DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO
Aprovada por todos os orientadores foi aceita pelo Curso Livre Superior em Teologia
do Seminário CETEBES SUL como requisito e exigência acadêmica para obtenção
do título em TEOLOGIA.
Cachoeiro de Itapemirim, 25 de novembro de 2014.
ORITENTADOR DO CONTEÚDO:
___________________________________
Professor: Sandro Zanoteli Koppe
ORIENTADOR DE FORMA:
___________________________________
Professor: Leonardo Ferreira dos Santos
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os batistas
espalhados pelo mundo, principalmente
aqueles que iniciaram a denominação,
sofreram por ela, consolidando este trabalho.
“Posso não concordar com nenhuma das
palavras que você disser, mas defenderei
até a morte o direito de você dizê-las.”
(Volataire)
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a Deus, primeiramente,
aos orientadores, Pr. Sandro e Prof.
Leonardo, a minha família pela paciência e a
todos os autores, vivos e mortos, que
escreveram sobre os batistas.
RESUMO
O presente trabalho apresentará uma breve história dos batistas, desde sua origem
até a chegada dos mesmos no sul do Espírito Santo. É importante ressaltar que, a
denominação batista tem se perdido ao longo de sua história. Poucos conhecem sua
origem e os principais acontecimentos sobre a denominação. Não existe interesse
em descobrir e remontar a história dos batistas. Porém, um povo sem história é um
povo sem identidade. Por isso veem-se tantas crises envolvendo as igrejas batistas,
principalmente crises quanto à personalidade e identidade das mesmas. Descobrir
de onde viemos e o que defendemos é importante para tentar recuperar o brio
perdido da denominação. Assim, neste trabalho serão apresentadas as teorias que
explicam a origem dos batistas, sendo estas: JJJ (Jerusalém-Jordão-João); ligação
espiritual com os Anabatistas do século XVI; e separatistas ingleses do século XVII.
Esta última é a mais aceita, pois a partir dela tem-se uma linha ininterrupta até os
batistas atuais. Esse grupo que se espalhou pelo mundo, consolidou o trabalho nos
Estados Unidos alcançado o Brasil. Aqui, espalhou-se por vários estados, chegando
ao Espírito Santo no final do século XIX. No Espírito Santo, o trabalho foi
desenvolvido por missionários estadunidenses e brasileiros, alcançando vários
municípios. Hoje, os batistas estão presentes em todos os municípios do estado do
Espírito Santo, somando mais de 70 mil fiéis.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................
2 O BATISMO E A ORIGEM DOS BATISTAS ..................................................
2.1 Sobre o Batismo .........................................................................................
2.1.1 O Batismo no Antigo Testamento ..............................................................
2.1.2 O Batismo no Novo Testamento ................................................................
2.1.3. O Batismo de João e a Igreja de Cristo ....................................................
2.2 As teorias sobre a origem dos Batistas ...................................................
2.2.1 Teoria JJJ (Jerusalém-Jordão-João) .........................................................
2.2.2 Teoria da Ligação Espiritual com os Anabatistas ......................................
2.2.3 Teoria dos Separatistas Ingleses do século XVI .......................................
2.2.4 Os Primeiros Batistas ................................................................................
3 OS BATISTAS CHEGAM A AMÉRICA: ESTADOS UNIDOS E BRASIL ......
3.1 Os Batistas nos Estados Unidos ..............................................................
3.2 Os Batistas no Brasil ..................................................................................
4 OS BATISTAS NO ESPÍRITO SANTO ...........................................................
4.1 Os Batistas no Sul do Espírito Santo .......................................................
4.1.1 Contexto Histórico da Região Sul ..............................................................
4.1.2 Rio Novo do Sul: a Primeira Igreja do Sul do Estado ................................
CONCLUSÃO .....................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................
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1 INTRODUÇÃO
Escrever sobre a história da Igreja Batista é um grande desafio, pois há uma falta de
interesse dos batistas em conhecer sua própria história. Segundo Oliveira (1997,
p.13), "a grande maioria do nosso povo quase nada sabe sobre a nossa história, e
isto incluindo os próprios pastores e líderes da denominação".
Outro problema encontrado é a falta de fontes históricas fiéis. Isso por que, a grande
maioria dos trabalhos relacionados à história dos batistas, desde os mais antigos até
os mais atuais, não demonstram uma preocupação com a cientificidade. A grande
maioria prende-se a um orgulho exagerado de ser batista e se esquece de que o
que realmente importa em um registro histórico é se comprometer com a verdade
dos fatos.
Em 1948, Bretones já mencionava este problema em seu livro "Roteiro dos Batistas".
Segundo ele, os trabalhos sobre a história dos batistas "perdem-se no emaranhado
das citações que sofrem do mal muito comum na história, seja ela secular ou
eclesiástica, e que pode ser resumido numa palavra: desonestidade, ausência quase
completa de método científico." (BRETONES, 1948, p.11-12)
Desde este período, obviamente, muito se melhorou nas pesquisas relacionadas ao
assunto. Porém, ainda não é o suficiente para que haja uma separação entre o
orgulho batista, sua tradição inestimável e a escrita histórica científica.
O fato é que a história da Igreja Batista, enquanto denominação, precisa ser
explorada a fim de se criar uma identidade legítima entre os batistas. O filósofo
alemão Hegel disse que "quem não conhece a história está condenado a viver sem
a direção e perspectiva que ela pode oferecer." (apud OLIVEIRA, 1997, p.17).
Conhecer a história dos batistas mostra-se de fundamental importância, pois, muito
mais que lembranças do passado, a história serve como um ponto norteador de
caminhos. Em tempos de tantas divergências doutrinárias entre os batistas,
relembrar sua história pode ser um aspecto fundamental para a recuperação de uma
identidade.
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2 O BATISMO E A ORIGEM DOS BATISTAS
A Reforma Protestante ocorrida no século XVI marcou o desenvolvimento de várias
denominações dentro da religião cristã. A discordância com as doutrinas católicas
fizeram com que reformadores como Lutero e Calvino protestassem contra os erros
da Santa Igreja e propusessem mudanças ao cristianismo.
A partir daí, vão surgir denominações que, apesar de serem denominadas cristãs,
apresentam práticas e costumes diferentes. Cada uma criará para si um conjunto de
regras doutrinárias, com base bíblica, para justificar suas crenças. Essas diferenças
vão caracterizar as denominações, fazendo com que as pessoas escolham uma ou
outra de acordo com essas características.
Os Católicos têm sua tradição histórica1 e seus sacramentos2 como ponto principal
de sua doutrina. Já os Calvinistas (Presbiterianos e Puritanos) defendem a doutrina
da "Predestinação Absoluta3" e essa é a principal característica dos seguidores de
Calvino. Os Neopentecostais dão ênfase aos dons espirituais, os adventistas zelam
por guardar o sábado, enfim, todos cristãos, mas cada denominação com uma
doutrina diferente.
Assim também acontece com os batistas. A ênfase desta religião é o rebatizar, ou o
batizar novamente. Entender essa prática que é uma ordenança cristã e a principal
característica dos batistas é fundamental para a compreensão do surgimento da
denominação Batista, bem como para a criação de uma identidade da mesma.
1 A Igreja Católica se considera herdeira histórica da Igreja Primitiva.
2 Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, os sacramentos são "sinais sensíveis e
eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja mediante aos quais é concedida a vida eterna”. São sete os sacramentos adotados pela Igreja Católica: batismo, confirmação do batismo (crisma), confissão (penitência), eucaristia, ordem (sacerdotal), matrimônio e unção dos enfermos. 3 A doutrina da predestinação está particularmente associada ao Calvinismo. Deus predestina previa
e absolutamente a humanidade, escolhendo entre os homens aqueles que irão salvar-se e aqueles que vão ser condenados. Esta doutrina tira ao Homem qualquer possibilidade de rejeitar ou aceitar livremente a graça divina.
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2.1 SOBRE O BATISMO
O batismo cristão é entendido por muitos como um rito de iniciação das
denominações cristãs realizado com água. Representa a morte para o pecado e
ressurreição para Cristo, mas também um ritual de purificação destes pecados.
"Tanto o lavar como a morte e a ressurreição com Cristo são simbolizados no
Batismo" (GRUDEM, 1999, p. 816). Para se compreender de fato o que é o batismo
e seu significado real, é preciso que haja uma análise desta palavra.
A palavra "batismo" faz parte do grupo de praxes relacionadas com o lavar em água.
As palavras-chaves gregas para batismo são bapto/baptizo, que indicam imersão,
mas existem outras palavras relacionadas ao lavar em água que precisam ser
levadas em consideração. Estas são louo e nipto, que estão relacionadas a lavagens
completas e parciais. (BROWN; COENEN, 2000)
O termo batismo não é uma tradição exclusivamente cristã. Outras culturas
realizavam práticas semelhantes, relacionadas a purificação. Porém, o cristianismo
vai adotá-lo como prática importante dentro de seus ritos. "Além do sentido literal de
purificar, já havia, antes do NT4, um emprego figurativo do termo. No início,
significava a providência da pureza cúltica, e, depois, no NT, o termo foi estendido
para expressar uma renovação completa da existência humana." (BROWN;
COENEN, 2000, p.179)
Os termos bapto e baptizo (βάπτω e βαπτίζω) significam "mergulhar", "imergir",
"submergir" e "batizar". Há ainda as palavras baptismos (βαπτισμός) e baptisma
(βαπτισμα) que significam respectivamente "ato de mergulhar ou lavar" e "batismo".
No grego secular, essas palavras significam "mergulhar" e até mesmo "fazer
perecer" no sentido de afogar alguém ou afundar um navio, sendo que baptizo uma
forma intensiva de bapto. (BROWN; COENEN, 2000). Essas palavras são
normalmente reconhecidas como significado padrão na literatura grega antiga para o
termo batismo, tanto na Bíblia como fora dela. (GRUDEM, 1999).
4 NT: Novo Testamento, Bíblia Sagrada.
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Embora haja alguma evidência de que bapto tenha ocasionalmente
sido usado no Gr. secular com respeito a um banho ritual, não há evidência alguma de que baptizo era empregado assim (talvez por causa da sua associação de ideia de perecer). Palavras muito mais comuns para lavagens religiosas eram louo, "lavar" (o corpo inteiro) e nipto, "lavar" ou "enxaguar" (partes do corpo), e rhaino, "aspergir".
(BROWN; COENEN, 2000, p. 180)
Os termos louo e apolouo (λούω e άπολούω) significam "lavar" e "remover com
água". A palavra loutron (λουτρόν) também se relaciona a estes termos e significa
"banho", "lavagem". Esses termos estão relacionados a lavagens de purificação
religiosa, principalmente o termo louo, que era o mais comum relacionado a essas
práticas. (BROWN; COENEN, 2000)
A lavagem para a purificação era comum entre os povos antigos do Oriente. [...] acreditavam que certas águas eram impregnadas com o poder da divindade, e que este poder era comunicado a pessoas e objetos imergidos nelas. Apelava-se ao recurso desta lavagem para salvaguardar uma pessoa que se aproximava de uma divindade, tendo em vista o poder da santidade de destruir um homem, e para buscar proteção naquelas ocasiões nas quais as pessoas eram especialmente expostas a ataques demoníacos, sobretudo nas circunstâncias vinculadas com o nascimento e a morte. Quando foi-se mudando a crença religiosa, as lustrações eram espiritualizadas até certa medida, e estendidas na sua aplicação. Assim, a lavagem era exigida antes da oração, no preparo para a iniciação nas seitas religiosas, depois de derramar sangue na guerra, homicídios e crimes de qualquer natureza. (BROWN; COENEN, 2000, p. 186-187)
Outro termo relacionado ao batismo é nipto (νίπτω) que significa "lavar", "quando o
objeto é parte do corpo [...] Em contextos religiosos, nipto comumente se emprega
com a lavagem cerimonialmente das mãos, e antes da oração ou do sacrifício.
(BROWN; COENEN, 2000)
Observando o uso dos termos que se relacionam ao batismo percebe-se que, esta
prática era utilizada por vários povos antigos no sentido de purificação religiosa.
Antes do batismo de João, que posteriormente foi aderido por Jesus e seus
discípulos, outros grupos religiosos utilizavam a mesma prática, como rito de
purificação.
Para os cristãos, o batismo não perde esse efeito. Também representa a purificação
dos pecados. E vai além, como afirma Grudem (1999, p. 816): "[...] as águas do
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batismo simbolizam de fato tanto o lavar e a purificação dos pecados como a morte
e ressurreição com Cristo".
Esta prática gera polêmica entre os próprios cristãos. Para os Católicos, o batismo é
um sacramento, um ato que concede graça aqueles que praticam. Já os
protestantes, principalmente os batistas, objeto de estudo desta pesquisa, recusam-
se a se referir ao batismo como sacramento, mas utilizam o termo "ordenança".
Grudem (1999, p. 814) caracteriza a discussão sobre o batismo como desnecessária
entre os cristãos: "A posição defendida nessa obra é que o batismo não é uma
doutrina "básica" que deva servir de motivo de divisão entre os cristãos genuínos; é,
porém, uma questão relevante para a vida normal da igreja [...]."
Entender como os termos relacionados ao batismo aparecem no Antigo Testamento
e no Novo Testamento é fundamental para se entender o verdadeiro significado do
batismo, além de desfazer as discussões doutrinárias relacionadas a ele.
2.1.1. O Batismo no Antigo Testamento
Na Septuaginta5 o termo bapto é utilizado para traduzir o termo hebraico tabal, que
significa "mergulhar" e aparece treze vezes. Já o termo baptizo é utilizado quatro
vezes para traduzir o termo tabal, principalmente no texto relacionado a purificação
de Naamã no rio Jordão (II Reis 5:14). "[...] parece que baptizo, tanto em contextos
judaicos como nos cristãos, normalmente significava "imergir", e que, mesmo
quando veio a ser um termo técnico para o batismo, o pensamento de imersão
permanece." (BROWN; COENEN, 2000, p. 180)
O termo louo aparece na Septuaginta mais frequentemente no Pentateuco, cerca de
45 vezes, sendo traduzido pelo termo hebraico rahas, que significa banhar, e é
empregado com respeito a purificação ritual. Já o termo nipto aparece na
Septuaginta no sentido de lavagens religiosas seculares, mas também para as
lavagens realizadas pelos sacerdotes judeus durante as cerimônias religiosas.
5 Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica para o grego koiné, traduzida em etapas entre
o terceiro e o primeiro século a.C.em Alexandria.
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Posteriormente, esse costume foi ampliado, incluindo a todos os judeus a exigência
de enxaguarem as mãos antes das refeições.
Para as seitas batizantes judaicas, principalmente a Seita de Cunrã6, os termos tabal
e baptizo não eram utilizados em seus escritos, mas sim rahas que é traduzido com
o termo louo (banhar). "[...] as lustrações de Cunrã tinham um significado mais do
que puramente cerimonial. Quando eram acompanhadas por arrependimento e
submissão à vontade de Deus, eram consideradas como eficazes para a purificação
da impureza moral." (BROWN; COENEN, 2000, p. 180-181).
O termo tabal (bapto/ baptizo) também é utilizado nos escritos relacionados aos
gentios convertidos ao judaísmo no início da era cristã. Estes recebiam a circuncisão
e eram submetidos a um banho ritual, ou o "batismo do prosélito" e ofereciam
sacrifícios. O gentio que resolvesse se tornar judeu tinha como marco principal do
ritual de transição a circuncisão. O banho purificador era uma capacitação para seu
primeiro ato de adoração, que era o sacrifício. (BROWN; COENEN, 2000) Acredita-
se que o batismo dos prosélitos tenha influenciado João e os cristãos primitivos.
Há muito debate quanto à questão de até que ponto a prática e o entendimento do batismo de prosélitos influenciaram o batismo de João batista e o batismo cristão primitivo. As referências mais antigas ao batismo de prosélitos pertencem à segunda metade do século I d.C.. Embora indiquem a probabilidade de a instituição ser pré-cristã, a certeza que manifestam quanto ao significado do rito e especialmente no seu relacionamento à circuncisão, sugerem que sua adoção foi paulatina, e que sua interpretação ainda estivesse num estado de evolução durante o século I d.C. (BROWN; COENEN, 2000, p. 181)
O Antigo Testamento traz outros rituais de purificação relacionados à lavagem com
água. No Dia da Expiação, antes do sacerdote Arão entrar no Santo dos Santos, ele
precisa banhar seu corpo em água, sendo esta uma das condições básicas para a
realização dos sacrifícios. Outras atividades, depois de executadas, exigiam
purificação através da lavagem em água: "depois da relação sexual (Lv cap. 15), da
6 Possíveis autores dos documentos conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. Com base em
referências cruzadas com outros documentos históricos, ela é atribuída aos essênios, uma seita judaica que viveu na região da descoberta e guarda semelhanças com as práticas identificadas nos textos encontradas. O que se sabe é que a comunidade de Cunrã era formada provavelmente por homens, que viviam voluntariamente no deserto, em uma rotina de rigorosos hábitos, opunham-se à religiosidade sacerdotal e esperavam a vinda de um messias.
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menstruação e do parto (Lv cap. 15), depois do contato com a lepra (Lv caps. 13 e
14), e com a morte (Nm 5:1 e segs.; 19:11 e segs.)" (BROWN; COENEN, 2000, p.
187).
Enfim, os termos comuns utilizados para batismo no Novo Testamento também
aparecem no Antigo Testamento, geralmente relacionados a rituais de purificação
tanto de judeus como de convertidos ao judaísmo. Muitas vezes, essas lavagens
eram consideradas suficientes para a purificação moral dos pecados, já que
geralmente eram acompanhadas de arrependimento pelos praticantes. Estas
práticas podem ter influenciado o batismo de João e posteriormente, o batismo
cristão.
2.1.2. O Batismo no Novo Testamento
No Novo Testamento, o termo bapto aparece apenas 4 vezes, geralmente utilizado
com o significado de "mergulhar". O termo técnico para batismo é baptizo. Este
termo é utilizado em todos os Evangelhos, principalmente na narrativa do batismo de
Jesus realizado por João. Nos Evangelhos Sinóticos7, João é descrito como
baptistes (Batista). No livro de Atos, o termo baptizo é quase sempre relacionado ao
batismo cristão. Este termo aparece duas vezes em Romanos, nove vezes em I
Coríntios e em Galatas. Universalmente, o batismo de João e dos cristãos do Novo
Testamento é descrito com o termo baptizo.
O termo baptismos aparece uma vez no Evangelho de Marcos e duas vezes na carta
aos Hebreus. Já o termo baptisma aparece quatro vezes em Marcos, quatro vezes
em Lucas, seis vezes em Atos e duas vezes em Mateus, sempre se referindo ao
batismo de João. Em Romanos, Efésios, Colossenses e I Pedro o termo baptisma é
relacionado ao batismo cristão. Não existe registro deste termo relacionado à
literatura pagã ou judaica. Assim, está intimamente ligado ao batismo de João e dos
primeiros cristãos.
[...] pode ter sido cunhado pelos discípulos de João. Mais plausivelmente: é uma inovação cristã, e foi aplicada ao batismo de
7 Mateus, Marcos e Lucas.
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João pelos escritores cristãos na convicção que este último devesse ser incluído com o cristianismo, e não com o judaísmo." (BROWN; COENEN, 2000, p.185)
É interessante ressaltar que, na primeira e na segunda cartas aos Tessalonicenses,
nas Epístolas Pastorais8 (exceto Hebreus 6:2 e 9:10) e Gerais9 (exceto I Pedro
3:21) e em Apocalipse, os termos grego bapto, baptizo, baptismos e baptisma não
aparecem.
O termo louo aparece cinco vezes no Novo Testamento e não se relaciona ao
batismo de João nem ao cristão. Hebreus 6:22 vai usar o termo para falar da
lavagem do corpo em sinal de purificação. Já o termo apolousai se refere
diretamente a purificação dos pecados através do batismo. O termo aparece em
Atos, I Coríntios e Apocalipse.
O termo loutron, relacionado a louo, aparece duas vezes no Novo Testamento, em
Efésios (5:26) e Tito (3:5), e está relacionado ao batismo, o lavar regenerador e
renovador.
"[...] pode se referir ao banho cerimonial tomado por uma noiva ao se preparar para o batismo [...]. Para a noiva de Cristo [...], o equivalente deste banho é o batismo, no qual os membros do corpo são purificados ‘pela lavagem na água da Palavra’.” (BROWN; COENEN, 2000, p. 188).
Outro termo que designa o batismo, nipto, (lavagem de parte do corpo) aparece no
Evangelho de Marcos (7:2-3), quando os discípulos de Jesus são criticados pelos
fariseus por não se lavarem antes das refeições. Outra alusão a este termo está no
Evangelho de João (cap. 13) na cerimônia do lava-pés.
Observando que a palavra técnica para batismo no Novo Testamento é baptizo, que
significa "mergulhar" ou "imergir", pode-se afirmar que "a pessoa batizada era imersa
ou posta completamente dentro da água e em seguida retirada. Batismo por imersão
é, portanto, o modo ou a forma pela qual o batismo era realizado no Novo
Testamento." (GRUDEM, 1999, p. 815).
8 I e II Timóteo e Tito.
9 Hebreus; Tiago; I e II Pedro; I, II e III João.
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Para entender a prática batismal entre os cristãos é preciso retomar ao batismo de
João. Entender o significado do batismo realizado por ele é primordial para entender
o batismo ministrado aos cristãos.
2.1.3 O Batismo de João e a Igreja de Cristo
João, considerado o último profeta judeu, aparece ao povo após anos de silêncio. O
povo vivia sob o domínio romano e aguardava ansioso pelo aparecimento daquele
que os libertaria do julgo pagão. Seu nascimento havia sido profetizado anos antes
por Isaías como "a voz que clama no deserto", aquele que prepararia o caminho
para o Messias10 (Isaías 40:3-5).
O batismo de João era de arrependimento e remissão de pecados. Ele batizaria com
água e prepararia o caminho daquele que batizaria no Espírito e em fogo: o Messias.
Não se sabe ao certo a origem desta prática. "Até o momento ainda não se
encontrou [...] uma teoria satisfatória, sob o ponto de vista da história das religiões,
que explique a derivação do batismo de João." (JEREMIAS, 1977, p. 73)
O sobrenome Batista foi dado pelos escritores dos Evangelhos Sinóticos. O termo ho
baptistes, o Batista, é relacionado a João pelo fato do mesmo realizar um batismo de
purificação naqueles que aceitavam sua mensagem de arrependimento. Além disso,
o batismo de João inaugura um novo estilo de lavagem purificadora, "a novidade de
administrar batismo aos outros, ao invés de se deixarem batizar a si mesmos
conforme acontecia com as abluções do AT11 e no batismo judaico e de prosélitos."
(BROWN; COENEN, 2000, p. 186). "[...] João dá um novo significado ao rito da
imersão ao conclamar o povo ao arrependimento devido a aproximação do Reino
dos céus." (LADD, 2003, p. 61)
10
Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus. Todos os vales serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se tornarão planos; as escarpas, serão niveladas. A glória do Senhor será revelada, e, juntos, todos a verão. Pois é o Senhor quem fala".(Isaías 40:3-5) 11
AT: Antigo Testamento, Bíblia Sagrada
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A mensagem pregada por João provocou entre os judeus da época uma grande
reviravolta, visto que os mesmos aguardavam ansiosamente por alguém que falasse
em nome de Deus, um profeta.
A atuação de João, vista no seu conjunto, esteve de acordo com os moldes da tradição profética. Anunciou que Deus estava prestes a agir decisivamente na história para manifestar seu poder real; e que em antecipação a esse grande evento os homens deveriam se arrepender. A evidência de arrependimento seria o submeter-se ao batismo. Isso ele proclamou e executou pela sua própria autoridade profética, em virtude da Palavra de Deus que lhe viera e lhe comissionara. Não e difícil imaginar a excitação que o surgimento de um novo profeta com uma proclamação tão vívida e alarmante como a de João poderia criar. Deus, que por séculos, segundo o pensamento judaico corrente na época, estivera inativo, finalmente, nos dias de João estava tomando a iniciativa de cumprir as promessas dos profetas, a fim de implantar a plenitude do Reino. Aparentemente, as notícias do surgimento de um novo profeta espalharam-se como fogo na floresta seca por toda a Judéia, incitando multidões de pessoas a correrem para o rio Jordão, onde ele estava pregando (Mc. 1:5), a fim de ouvirem sua mensagem e de se submeterem às suas exigências. Depois de muito tempo, Deus havia suscitado um profeta para declarar a vontade divina ao povo (Mc 11:32; Mt. 14:5) (LADD, 2003, p. 55)
Dentre os muitos que aceitaram o batismo de João está o próprio Jesus, que era
primo de João. Eles se encontraram no momento do batismo do Messias. O
Evangelho de Lucas afirma que muitos judeus acreditavam ser João o Messias, ideia
recusada pelo mesmo (Lucas 3:15-17). Quando Jesus se apresenta a João para ser
batizado, algo sobrenatural acontece: o céu se abre, o Espírito Santo desce em
forma de pomba e ouve-se uma voz reconhecendo que aquele que estava sendo
batizado era o filho de Deus (Lucas 3:21-22). O batismo de Jesus inicia seu
ministério público e se tornará uma ordenança aos cristãos.
Quando Jesus apresentou-se a João para ser batizado, João reconheceu que estava na presença de uma pessoa que diferia em qualidade dos outros seres humanos. Jesus não tinha pecados a confessar e tampouco tinha algum sentimento de culpa que o levasse ao arrependimento. Não podemos dizer se o reconhecimento de João a respeito da impecabilidade de Jesus foi baseado em um diálogo em que lhe tenha feito algumas perguntas, ou somente pela iluminação profética. Provavelmente, houve a atuação de ambos os elementos. De qualquer forma, João estava convencido de sua própria pecaminosidade em comparação com a impecabilidade de Jesus. (LADD, 2003, p. 63)
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A realização do batismo de Jesus por João é a comprovação de que o Messias
sabia que o ministério do Batista vinha de Deus. Os escritores dos Evangelhos
Sinóticos reconheciam isto, tanto que, utilizaram o mesmo termo, baptizo, para
designar o batismo de João e o batismo dos primeiros cristãos. Além disso, uma das
ordenanças dadas por Jesus aos seus discípulos foi a do batismo:
Os onze discípulos foram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram o adoraram; mas alguns duvidaram. Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos. (Mateus 28:16-20)
O batismo então está dentro da ação redentora de Jesus. Ao se submeter ao
batismo de João, Cristo mostra que ele se humilhou em solidariedade aos homens
pecadores. Também mostra o reconhecimento do ministério de João. "Ele introduziu
os tempos da salvação." (JEREMIAS, 1997, p. 79) Ao mesmo tempo, João
encerrava o tempo da Lei.
Jesus quis dizer que João é o maior dos profetas; na realidade, ele é o último dos profetas. Com ele, a era da Lei dos profetas havia chegado ao seu fim. A partir dos dias de João, o Reino de Deus está operando no mundo, e o menos nesta nova era desfruta e conhece bênçãos maiores que as desfrutadas por João, porque participa de uma nova comunhão pessoal com o Messias e das bênçãos que este fato confere. João é o arauto, pois assinalou que a antiga era havia chegado ao seu fim e a nova era estava irrompendo no horizonte. (LADD, 2003, p. 62)
Os ministérios de João e de Jesus, ao mesmo tempo em que se completam, se
opõem. João é o último profeta, encerra o período da Lei dada por Deus a Moisés.
Ao mesmo tempo, é o profeta que prepara o caminho para o tempo da Graça, a voz
que clama ao arrependimento e a mudança de vida proporcionada pelo Messias.
Jesus reconhece o ministério deste profeta, aceita seu batismo, mesmo não tendo
pecado, e ainda o coloca como ordenança para seus seguidores.
Pois, por muito que Jesus tenha em comum com João e por certo que seja que ele tenha visto em João o elo entre a era antiga e a nova, permanece uma fundamental diferença entre o Batista e ele,
18
que os homens do tempo [...] perceberam muito claramente: João é um asceta, ao passo que Jesus é um homem aberto ao mundo. João prega: O julgamento está às portas, convertei-vos! Jesus porém prega: A basiléia12 de Deus está a irromper-se, vinde vós, que estais cansados e sobrecarregados. O Batista fica no quadro da espera, ao passo que Jesus pretende ser o portador do cumprimento. O Batista ainda se situa no campo da Lei, e com Jesus começa o Evangelho. (JEREMIAS, 1977, p. 81)
Seguindo o exemplo do próprio Jesus e uma ordenança do mesmo, os primeiros
cristãos realizavam o batismo naqueles se convertiam. "O batismo é batismo de
conversão, é administrado em nome de Jesus Cristo [...] é ‘para perdão dos
pecados’ e tem em vista o dom do Espírito Santo." (BROWN; COENEN, 2000,
p.182).
O apóstolo Paulo interpreta o batismo como união com Cristo. "O simbolismo da
união com Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição [...]" (GRUDEM, 1999,
p. 815) Marca o fim da vida pecadora e o início da vida com Cristo. "O batismo em
Cristo é batismo para a igreja, porque estar em Cristo é ser membro do corpo de
Cristo [...] é batismo no Espírito de Cristo [...], pois o Espírito e Cristo são
inseparáveis." (BROWN; COENEN, 2000, p. 182-183)
O batismo então é um símbolo externo para um acontecimento interno. A conversão
dos homens era confirmada na atitude do batismo, representando uma mudança de
vida nos que aceitavam tal prática. O batismo não significava que o praticante do
mesmo estava inserido em uma igreja, mas sim que o mesmo estava inserido no
Corpo de Cristo, como um cristão que aceitara a mensagem de Cristo e resolvera
mudar de vida.
Entender o verdadeiro significado do batismo é importante para entender a origem
da Igreja Batista. Os primeiros batistas viam no batismo a prova de uma mudança de
vida dos que o praticavam. Rebatizavam por acreditar no simbolismo que o batismo
confere, de morte para o pecado e vida para Cristo. Não entendiam como um
sacramento, mas como um símbolo, uma ordenança deixada por Jesus aos que
entendiam sua mensagem.
12
Basiléia: Reino (grego koinê)
19
2.2 As teorias sobre a origem dos batistas
A origem dos Batistas é cercada de hipóteses e romantismo, porém, com pouca
fundamentação histórica, podendo ser chamada de "pré-história" dos batistas por
tratar de suposições sobre a origem dos mesmos. Como igreja organizada, os
batistas surgiram no século XVII, mais especificamente em 1610, com a fundação da
primeira Igreja Batista de língua inglesa na Holanda, fundada por John Smith.
Porém, alguns historiadores batistas tentam relacionar a origem desta denominação
ao período neotestamentário. O nome "batista" vem da defesa do batismo. Uma
pessoa ao crer em Cristo e dar sua pública profissão de fé era imersa as águas
batismais, em respeito e cumprimento à ordenança bíblica. O batismo simboliza a
morte e ressurreição de Cristo. Assim batistas são "os que batizam".
O problema é que, não existe comprovação histórica desta ligação. Então, assim
como na história secular o período anterior a invenção da escrita é chamado de Pré-
História, visto a dificuldade das pesquisas pela ausência de documentos que
comprovem verdadeiramente os acontecimentos daquele período, este período da
história dos batistas pode ser assim denominado, pois, tudo o que existe são
suposições dos escritores sobre o assunto.
Desde os tempos neotestamentários até a fundação da primeira igreja batista no
século XVII, o que existem são confabulações de escritores tentando manter uma
ligação entre a Igreja Primitiva e a Igreja Batista Moderna, passando por grupos
separatistas da Igreja Romana desde o século IV até o século XVI, século em que
ocorreu a Reforma Protestante.
Porém, para se entender a origem dos Batistas no mundo é preciso analisar as
teorias que tentam explicar o surgimento da mesma. Segundo Pereira (1987, p.9), "a
primeira é a teoria JJJ ou Jerusalém-Jordão-João. A segunda é a do parentesco
espiritual com os anabatistas do século XVI. E a terceira é a teoria da origem dos
separatistas ingleses do Século XVIII." Todas essas teorias fundamentam-se na
prática do batismo por imersão, realizada pelos primeiros cristãos e que representa a
característica principal dos batistas.
20
2.2.1 Teoria JJJ (Jerusalém-Jordão-João)
Segundo essa teoria, os batistas vem em linha ininterrupta desde os tempos do
profeta João Batista. Este realizava batismos no rio Jordão, batizando o próprio
Cristo, como relatado no Capítulo 3 do Evangelho de Mateus. (PEREIRA, 1987)
Após a ressurreição, Jesus Cristo ordenou aos seus discípulos que continuassem a
praticar o batismo iniciado por João Batista.
Assim, a prática do batismo se tornou comum entre os primeiros cristãos. Logo após
a vinda do Espírito Santo em Pentecoste, o apóstolo Pedro inicia uma pregação que
tem como resultado três mil conversões (Atos dos Apóstolos 2). Em um dos trechos
do sermão, o apóstolo afirma que, os arrependidos serão batizados em nome de
Jesus.
"Pedro respondeu: 'Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo'. Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas." (Atos dos Apóstolos 2:38;41)
Segundo Pereira (1987), o ingresso de membros nas igrejas primitivas se dava por
meio do batismo, fazendo com que muitos defendam que as primeiras igrejas cristãs
eram igrejas batistas. Fundamentam esse pensamento comparando a doutrina da
Igreja Batista atual a doutrina utilizada pela Igreja Neotestamentária. Pereira (1987)
afirma ainda que, a igreja primitiva tinha os seguintes pilares em sua doutrina: Deus
(um só Deus manifestado na Trindade e alcançado pelos fiéis); Escrituras (fontes da
Revelação divina); Jesus Cristo (Salvador e Filho de Deus); Salvação (efetuada pela
fé) e Igreja (comunidade de fiéis). "[...] as doutrinas fundamentais das igrejas cristãs
primitivas e reafirmamos que as igrejas batistas modernas têm essas mesmas
doutrinas." (PEREIRA, 1987, p.15)
Porém, essa relação não pode ser considerada verdadeira apenas por essa
comparação, visto que as igrejas reformadas surgidas a partir do século XVI
buscavam inspiração no ensino de Jesus e no modelo doutrinário da Igreja Primitiva
para se organizarem.
21
Seguindo com a teoria de uma ligação João Batista e os Batistas modernos, três
movimentos cristãos surgidos entre os anos 100 e 323 d.C. são relacionados aos
batistas: montanistas, novacianos e donatistas. Pereira (1987) discorda dessa ideia,
apesar de encontrar semelhanças. os movimentos denominados Montanismo,
Novacianismo e Donatismo, movimentos que muitas vezes são até apresentados
como os Batistas da idade primitiva. Há grave engano, entretanto, nisso. O exame
dos referidos movimentos nos leva a classificá-los como cisões verificadas em
igrejas cristãs de determinados lugares, não se pretendendo, entretanto, essas
cisões a questões doutrinárias sérias. Não eram reação contra abusos e desvios
doutrinários.
Após o primeiro século depois de Cristo, o ensino dos apóstolos começou a ser
desviado dos seus propósitos. Bretones afirma que, "na verdade, antes mesmo da
morte do último dos apóstolos já havia sinais evidentes de corrupção e degeneração
doutrinária. Basta verificar isto nos últimos documentos do Novo Testamento."
(BRETONES, 1948, p.15)
No ano de 313, o imperador romano Constantino converte-se ao cristianismo
tornando-o parte do Império. Então, "Constantino promove o casamento entre o
cristianismo e o Império Romano com um objetivo duplo que favorecia a ambos, isto
é, um império universal e uma igreja também universal." (BRETONES, 1948, p.15).
O termo "católica", dado à Igreja por Inácio, um dos pais da Igreja, no primeiro
século, aparece com o sentido de "universal". Essa ideia coincide com as intenções
de Constantino de universalizar o cristianismo.
Inicia-se um processo de fusão entre o cristianismo e o paganismo. Para Pereira
"[...] parece-nos que, realmente, a explicação principal é que os cristãos não
souberam resistir as influências pagãs que os cercava por todos os lados."
(PEREIRA, 1987, p. 23) O sincretismo religioso ocorrido com a institucionalização do
cristianismo, foi sim, imposta pelo Império Romano, porém, em boa parte das
igrejas, esse processo foi apenas a culminância de algo que já ocorria há tempos.
Desde o segundo século, a igreja cristã iniciou um processo de corrupção de suas
doutrinas e valores. Passaram a cometer erros como o desenvolvimento do
22
episcopado, o sacramentalismo, o sacerdotalismo, e a salvação pelas obras como a
base doutrinária da Igreja. A intervenção de Constantino só homologou esses erros.
Os montanistas, novacianos e donatistas surgem como uma reação ao catolicismo.
Não pretendiam levar a igreja a um retorno da doutrina pregada pelos apóstolos,
mas, se posicionavam como oposição a nova religião oficial do império: "[...] Muito
longe de ser um retorno ao cristianismo primitivo ou uma apresentação antecipada
da posição batista, continha os germens de muitos erros do catolicismo romano"
(NEWMAN apud BRETONES, 1948, p. 16-17).
Sucedendo estes grupos, antes do século X, outros apareceram também em
oposição ao catolicismo. Considerados hereges, mesmo nos dias de hoje, os
maniqueus, os paulicianos, os cátaros, os bogomilos e os albiginses são apontados
por muitos historiadores como antecessores dos batistas (BRETONES, 1948). Isso
porque, nesses grupos, era realizado o batismo por imersão. Porém, colocar estes
grupos como antecessores dos batistas a apenas pela questão do batismo por
imersão é inválido, já que, os argumentos são poucos.
A partir do século XII vão aparecer dentro da Europa movimentos que
verdadeiramente irão apresentar uma oposição concreta ao catolicismo. Indignados
com a corrupção da Igreja Católica, os pré-reformadores vão começar a se opor a
doutrina dominante na época. Newman e Vedder classificam estes pré-reformadores
de "anti-pedobatistas", ou seja, os que se recusavam a realizar o batismo infantil
(BRETONES, 1948). Pedro Bruys, Henrique de Lausanne, Arnaldo de Brescia,
Berengário e Pedro Valdo vão se destacar como pré-reformadores e questionadores
da doutrina católica.
No exame de suas doutrinas, verificamos que eles só batizavam adultos capazes de manifestar sua fé; não criam na presença real do Corpo de Cristo na eucaristia; não tinham imagens nem cultuavam a Virgem Maria e os santos; só reconheciam, em matéria de fé e costumes a autoridade das Escrituras. (PEREIRA, 1987, p. 43)
Muitos historiadores relacionam estes movimentos à Igreja Batista moderna apenas
por serem contrários ao batismo infantil. Porém, esse argumento se mostra fraco, se
outros critérios forem analisados. A primeira Igreja Batista fundada no século XVI
23
pode sim ter recebido influência destes movimentos, porém, não existe nada que
ligue esses movimentos.
O mal de alguns historiadores batistas é julgar do valor histórico dos movimentos reformistas levando em consideração, principalmente, a questão do batismo. [...] Sua bravura e destemor só nos podem merecer a mais profunda admiração. Mas nem por isso devemos ir ao extremo de os classificar como antepassados dos batistas. (BRETONES, 1948, p.28-29)
Sucedendo estes movimentos surgem os Anabatistas, movimento anterior ao
período da Reforma Protestante. Estes também são apontados, erroneamente,
como predecessores dos Batistas modernos, sendo a segunda teoria defendida para
explicar o surgimento da Igreja Batista.
Enfim, defender a ideia de uma ligação ininterrupta entre João Batista e os Batistas
modernos é extremamente equivocado: Não existe nenhuma denominação cristã
moderna que tenha uma ligação ininterrupta com os apóstolos Neotestamentários.
"[...] Sucessão apostólica visível, coisa que em absoluto não existe em nenhum ramo
o cristianismo. A única sucessão apostólica possível é a que se circunscreve ao
terreno das doutrinas e da fé". (BRETONES, 1948, p. 30)
Assim, por mais romântico que pareça acreditar que os Batistas são descendentes
do profeta João Batista, essa ideia é pura ilusão. Nenhuma denominação moderna,
como defende Bretones, poder ser analisada pelo ponto de vista da sucessão
apostólica. Exceto pelas doutrinas e pela fé. Porém, visto que, as igrejas reformadas
tinham por característica principal o estudo das Escrituras, fica evidente que as
mesmas basearam sua doutrina e fé nas ordenanças de Cristo e na mensagem dos
apóstolos.
2.2.2 Teoria da Ligação Espiritual com os Anabatistas
O Anabatismo foi um movimento surgido na Europa antes da Reforma Protestante.
Tinham como principal característica o re-batismo daqueles que se mostravam
favoráveis a sua doutrina. Eram contrários ao catolicismo e, durante a Reforma,
também se apresentaram como opositores aos Reformadores. Por serem contrários
24
aos católicos e aos reformadores, todos os que se mostravam contrários a estes
dois movimentos eram taxados de anabatistas. (PEREIRA, 1987)
Muitos, então, recebiam o título de "anabatistas" sem serem necessariamente parte
do movimento. Segundo Pereira, "durante três séculos e meio foram
responsabilizados pelos excessos da Revolta dos Camponeses e pela loucura do
chamado Reino de Münster13." (PEREIRA, 1987, p. 54)
Os anabatistas surgiram em diferentes pontos do continente europeu durante o
século XVI. Primeiramente, apareceram na Alemanha e Suíça, mas espalharam-se
pela Itália, Holanda, Morávia14 e Inglaterra.
Os anabatistas suíços eram conservadores e pacíficos. Já os anabatistas alemães
eram revolucionários e radicais. Doutrinariamente, os anabatistas se dividem nos
seguintes grupos: anabatistas chiliásticos, anabatistas bíblicos, anabatistas místicos,
anabatistas panteístas e anti-trinitarianos. (BRETONES, 1948)
Apesar de estarem divididos em vários grupos, alguns pontos doutrinários
convergiam entre os anabatistas:
a) sustentavam que as igrejas deveriam ser compostas exclusivamente de pessoas regeneradas; b) repeliam o batismo infantil por falta de base bíblica e pelas exigências de regeneração; c) opunham-se à união da igreja com o Estado; d) repudiavam a
13
Tudo começou em 1530, quando Melchior Hoffman começou a pregar sermões apocalípticos em Estrasburgo anunciando a vinda literal e iminente do reino de Deus. Após três anos de pregação incessante, as autoridades o lançaram na prisão, mas os seus seguidores, os melquioritas, surgiram por toda parte. Um deles foi Jan Matthys, um padeiro de Haarlem, na Holanda. Proclamando ser Enoque, a segunda testemunha do livro do Apocalipse, ele começou a pregar de maneira agressiva e a enviar grupos de seguidores através dos Países Baixos. Dois deles, Jan van Leyden e Gerard Boekbinder, foram para Münster, onde o principal pregador da cidade, Bernhard Rothman, estava pregando idéias anabatistas a grandes multidões. Ouvindo as notícias, Matthys teve a visão de que Münster deveria ser o local da Nova Jerusalém e mudou-se para aquela cidade com os seus seguidores. No início de 1534, após a fuga de parte da população católica e luterana, Matthys assumiu o controle da cidade. Iniciou-se um período de repressão que visava “purificar” a cidade, com rebatismos forçados, confisco de propriedades, queima de livros e a execução de um ferreiro pelo próprio Matthys. No domingo de Páscoa de 1534, acompanhado de alguns seguidores, Matthys atacou o exército do bispo que estava acampado fora da cidade, sendo imediatamente morto e decapitado. Jan van Leyden assumiu a liderança, ungiu a si mesmo rei, instaurou um reino de terror e introduziu inovações como a poligamia. No dia 25 de maio de 1535, o exército do bispo invadiu a cidade e matou quase todos os habitantes. Leyden e dois companheiros foram torturados até a morte com ferros em brasa. A esperança de uma Nova Jerusalém havia terminado em tragédia. 14
Parte Oriental da República Checa
25
guerra e a pena de morte; e) defendiam o livre arbítrio; f) consideravam a Ceia do Senhor como um ato solene de que só podiam participar os regenerados e batizados. (BRETONES, 1948, p.33)
Por sua doutrina mais radical, foram perseguidos por católicos e por protestantes.
"Perseguidos pelo romanismo, de que eram naturais adversários, e espezinhados
por Lutero, Zwinglio e Calvino, pela simples razão de discordarem das ideias de
união da igreja com o Estado [...]" (BRETONES, 1948, p.32).
Assim, muitos líderes acabaram sendo assassinados por católicos e por
protestantes. Muitos historiadores batistas teimam em relacionar os dois
movimentos, visto que os anabatistas se mostravam contrários a corrupção da Igreja
Católica e aos erros das igrejas reformadas. Porém, essa ligação é um grande erro
historiográfico.
[...] não se pode, a rigor, afirmar que os anabatistas do século dezesseis foram os precursores dos batistas modernos. [...] É um erro grave e comprometedor, especialmente num homem culto, querer traçar a história dos batistas desde os primórdios do cristianismo passando por todos esses movimentos de reação ao romanismo.[...] Para ser batista, basta ler o Novo Testamento e viver suas doutrinas na singeleza e significação das mesmas. (BRETONES, 1948, p.35-37)
Enfim, o que se tem de concreto sobre a Igreja Batista moderna são os registros da
Igreja fundada por John Smith e Thomas Helwyns no século XVI. Essa igreja se
espalhou pelo mundo e consolidou a denominação batista. Desmistificar essa ideia é
importante para a construção de uma identidade batista, tendo como ponto
fundamental não uma ligação ininterrupta entre os apóstolos e os batistas modernos,
ou entre estes e os anabatistas, mas sim baseada em fatos reais, aceitando as
influências desses movimentos, mas entendendo as diferenças entre os mesmos.
2.2.3 Teoria dos Separatistas Ingleses do século XVI
A terceira teoria é a mais aceita entre os historiadores e também a mais coesa das
três. Isso porque é a que conta com a maior quantidade de fontes históricas
disponíveis. "A Convenção Batista Brasileira se alinha à visão da terceira corrente,
26
mas reconhece a influência Anabatista em sua trajetória". (GONÇALVES, 2012,
p.25)
As outras duas teorias, que são a JJJ e a ligação espiritual com os Anabatistas, são
baseadas na tradição batista, não em fontes históricas concretas. Mesmo sendo
defendidas por historiadores cristãos como possíveis origens da igreja batista, as
mesmas não tem como ser comprovadas historicamente, como já foi escrito
anteriormente. Assim, sustenta-las torna-se complicado para quem deseja realizar
um trabalho histórico sério sobre os batistas.
Segundo essa teoria, "os batistas se originam dos separatistas ingleses,
especialmente aqueles que eram congregacionais na eclesiologia e insistiam na
necessidade do batismo somente de regenerados" (PEREIRA, 1987, p.10). Para
entender o surgimento deste grupo dentro da Inglaterra, é preciso analisar a
situação política e religiosa deste país no século XVI.
2.2.4 Os Primeiros Batistas
A Inglaterra no século XVI era um barril de pólvora político e religioso. Isso porque,
em 1539, o Rei Henrique VIII rompe com a Igreja Católica e cria a Igreja Anglicana,
aderindo ao movimento da Reforma Protestante. Diferente das outras igrejas
surgidas na Reforma, a Luterana e a Calvinista, que apresentavam questionamentos
teológicos, a Igreja Anglicana apresenta interesses políticos e não religiosos. Isso se
comprova com a aprovação pelo Parlamento Inglês do Ato de Supremacia, em 1534,
tornando o rei líder da Igreja Inglesa.
Apesar do rei Henrique VIII ter se tornado líder da igreja, a Inglaterra não entendia
muito bem esse problema religioso. E conflitos vão acontecer entre protestantes e
católicos por conta disso. A morte de Henrique VIII coloca no trono sua filha Maria,
que era católica. Esta restaura o catolicismo dentro da Inglaterra. Seu reinado,
porém, dura pouco, assumindo Elizabeth I, que era anglicana. Esta inicia uma
perseguição aos católicos, que eram seus maiores opositores políticos. Com leis
rígidas, Elizabeth consegue manter uma trégua religiosa em seu reinado, mas que
não durará muito tempo.
27
O rompimento com a Igreja Católica serve de estopim para o surgimento de grupos
religiosos reformados dentro do território inglês. Dentre estes, um que se destaca
são os Puritanos, que aparecem neste período de conflito religioso entre
protestantes e católicos. Este grupo surge dentro do anglicanismo, mas inspiravam-
se na teologia de João Calvino. Pereira mostra que os puritanos "[...] aceitavam a
doutrina oficial da Igreja Anglicana, mas não toleravam as pompas cerimoniais e o
relaxamento dos costumes. Adotavam uma forma rígida de cristianismo [...]"
(PEREIRA, 1987, p.67)
Dentro do Puritanismo, houve dois grupos: um chamado conformista, que tentou mudar a igreja sem sair dela, e outro não-conformista, que se cansou em tentar a reforma da Igreja Anglicana, e terminou por se separar, surgindo assim os independentes ou separatistas ingleses. Estes, [...] orientaram uma forma de igreja congregacional, onde proclamava a autonomia da igreja local, quando todos se reorganizavam mediante um novo convênio, dando ênfase à fidelidade a Jesus Cristo e aos ensinos das Escrituras Sagradas. (OLIVEIRA, 1997, p.28)
Por se posicionarem contra o Anglicanismo de Elizabeth, os puritanos, conformistas
e separatistas, foram perseguidos por esta rainha, visto que, se mostravam como
inimigos políticos da mesma. A morte de Elizabeth deixou a Inglaterra sem
herdeiros. Assume então a dinastia escocesa dos Stuarts, que eram católicos, mas
aceitavam o anglicanismo. Reinaram nesse período Jaime I e Carlos I, que
continuaram a realizar intensas perseguições religiosas, ao contrário do que se
acreditava, contra todos os que propunham ideias religiosas contrárias a católicos e
protestantes. As perseguições religiosas, principalmente contra puritanos e
separatistas, que eram desde o final do século anterior considerados como traidores,
rebeldes, arrogantes e fora da lei, ou mesmo maiores inimigos do Governo do que
os papistas15.
Em meio a estas perseguições religiosas contra os puritanos e os separatistas vão
surgir os dois primeiros líderes batistas: John Smyth e Thomas Helwys. Eles serão
os responsáveis pela organização da primeira igreja batista. "Depois de 1610 há
15
Católicos defensores do Papa.
28
uma sucessão ininterrupta de Igrejas Batistas, estabelecidas com provas
documentais que não deixam dúvidas." (GOLÇALVES, 2012, p. 24)
Neste ambiente foi que surgiu a primeira igreja batista, cujo primeiro pastor foi John Smyth, que tinha formação teológica em Cambridge. Ele contou com um auxiliar muito importante, que era leigo e também advogado, Thomas Helwys. Eles, que antes eram anglicanos, tornaram-se seguidamente puritanos, separatistas e finalmente batistas. Quando aderiram a posição separatistas, no reinado de Tiago I16, decidiram fugir com todos os homens da Igreja para a Holanda, onde havia tolerância religiosa. Lá encontraram outros grupos evangélicos, inclusive o dos menonitas que [...] provinham do movimento anabatista do século 16. Contudo, deles diferiam em vários aspectos, inclusive teológicos, pelo que ao se convencerem de que o batismo correto é o de crentes, rejeitando o batismo infantil, formaram uma igreja própria, sempre no ideal de restituir a igreja neotestamentária em toda a sua inteireza. Assim nasceu a primeira igreja batista. (OLIVEIRA, 1997, p. 29-30)
Funda-se assim a primeira igreja batista moderna. Liderada por John Smyth e
Thomas Helwys, ela nasceu na Holanda m 1609 e é a primeira igreja de língua
inglesa. A união entre os dois líderes não durou muito tempo. Isso, por que, Smyth,
após realizar vários estudos sobre o batismo, percebeu que, o batismo que ele e sua
congregação foram submetidos na infância era desprovido de valor. Decide então
rebatizar toda comunidade e a si mesmo.
Smyth pede a Helwys que o batize, porém o mesmo recusa o pedido. Ele então,
rebatiza a si mesmo e depois aos outros membros. Esse auto-batismo gerou
escândalo entre os grupos religiosos de Amsterdã. Os menonitas questionaram o
fato de Smyth ter batizado a si mesmo e não procurado um ancião para receber o
novo batismo. Isso fez com que Smyth questionasse sua atitude, aproximando-o dos
menonitas holandeses.
Helwys, seu discípulo, discordou desta atitude de Smyth, o que resultou na
separação entre os mesmos. "A maior parte, constituída de 32 pessoas,
acompanhou Smyth, pedindo filiação aos menonitas, enquanto somente 10 ou 12
permaneceram com Helwys." (OLIVEIRA, 1997, p.39). Helwys então decide retornar
a Inglaterra, e com mais doze companheiros fundam a primeira igreja batista em solo
16
Ou Jaime I.
29
inglês. "O ano de 1612 é notável para os batistas, porque nele estabelecida a
primeira congregação batista em solo inglês, em Spitafields." (OLIVEIRA, 1997,
p.41). Smyth morre anos depois na Holanda e sua igreja se mistura aos menonitas.
O que levou Smyth e Helwys a Holanda para fundarem sua igreja foi a fuga das
perseguições religiosas. Esses princípios eram defendidos pelos separatistas,
fazendo com que os mesmos sofressem punições severas sobre seus princípios
religiosos. Em 1612, Helwys escreve um livro reivindicando liberdade religiosa, com
o título "Uma Breve Declaração sobre o Ministério da Iniquidade", e isto o leva a
prisão, onde fica até sua morte em 1615. A igreja fundada por ele passa a ser
dirigida por John Murton, que dá prosseguimento ao trabalho fundado por Helwys.
Entre os anos de 1633 e 1638, surge outro grupo de batistas dentro da Inglaterra,
conhecidos como Particulares. Baseavam-se na doutrina Calvinista. Dois grupos de
batistas então se fazem presentes em solo inglês: os batistas gerais e os batistas
particulares.
As perseguições religiosas ocorridas no reinado de Jaime I e Carlos I levaram a
Inglaterra guerra civil, conhecida como Revolução Puritana, onde os puritanos
liderados por Oliver Cromwell assumiram o governo inglês. Foram doze anos de
liberdade religiosa para os batistas. Em 1660 a monarquia inglesa é restaurada e
Carlos II, filho de Carlos I, assume o reino inglês. Ele e seu sucessor, Jaime II, seu
irmão, retornaram as perseguições religiosas.
As perseguições só chegaram ao fim com a Revolução Gloriosa, em 1688, quando
os Stuarts deixam o poder e assume Guilherme de Orange, genro de Jaime II. Em
1689 é publicado um edito de tolerância religiosa, e a igreja batista inglesa goza de
tranquilidade e liberdade religiosa. Por defenderem a liberdade religiosa, os batistas
foram perseguidos.
A grande diferença no terreno da liberdade religiosa, entre os batistas e os demais grupos, é que aqueles jamais perseguiram quem quer que fosse por motivo de ideia, crença religiosa ou modo de vida. A história dos batistas, neste particular, não apresenta uma discrepância se quer. É pura e cristalina. Como observa John Locke: 'Os batistas foram os primeiros propugnadores da liberdade absoluta
30
- liberdade justa, real, imparcial'. E com todo peso de sua autoridade afirma o grande historiador norte-americano Bancroft: 'A liberdade de consciência, plena liberdade de pensar, é desde o princípio um troféu dos batistas." (BRETONES, 1948, p.46)
As perseguições religiosas impulsionaram os batistas ingleses a saírem da Inglaterra
e se espalharem pelo mundo, chegando ao continente americano. Esse
acontecimento marca uma nova página na história dos batistas, espalhando-os por
vários lugares do mundo.
31
3 OS BATISTAS CHEGAM A AMÉRICA: ESTADOS UNIDOS E BRASIL
As perseguições religiosas dentro da Europa impulsionaram muitos protestantes a
fugirem de seus países de origem, migrando para locais onde poderiam professar
sua fé com liberdade. Dentro da Inglaterra, onde a Reforma Protestante foi muito
mais política que teológica, os que professavam uma fé diferente dos reis tiveram
que fugir, para não serem mortos.
Um dos destinos destes grupos foi o continente americano, que acabara de ser
descoberto e estava em processo de colonização. Os locais que eram interessantes
aos europeus eram as regiões mais quentes, o Caribe e a América do Sul. Além do
ouro e prata encontrados, haviam produtos tropicais nestes locais valiosíssimos na
Europa.
A América do Norte, por ter um clima frio, foi deixada de lado. Assim, os fugitivos das
guerras religiosas viram neste local uma alternativa para professarem sua fé.
Enxergando neste lugar a "Terra Prometida", migraram e ajudaram a fundar as
colônias inglesas na América, dando origem ao Estados Unidos da América, país de
grande destaque internacional.
A influência religiosa nessas colônias, e em seguida no país recém-formado, fez com
que os cristãos batistas estadunidenses tivessem influência para realizar missões
pelo mundo. Enviaram missionários para vários lugares do mundo, inclusive para o
Brasil. Os Batistas consolidam seu trabalho no continente americano.
3.1 Os Batistas nos Estados Unidos
As mesmas perseguições religiosas que impulsionaram o surgimento da Primeira
Igreja Batista Moderna, na Holanda, levaram os protestantes a se espalharem pelo
mundo. Outro local escolhido pelos perseguidos religiosos na Inglaterra foram as
colônias na América do Norte, que estavam em processo de colonização.
[...] a perseguição contra os dissidentes no tempo do rei Jaime I obrigou muitos a abandonarem a Inglaterra. Muitos foram para a
32
Holanda, porém o mais famoso desses grupos de fugitivos preferiu ir para a América do Norte, cuja colonização estava nos seus começos. Esse grupo era o dos "Pilgrim Fathers", os Pais Perseguidos, que fretou um pequeno navio, o "May-Flower", e desembarcou nas costas do atual Estado norte-americano de Massachussetts em 1620. Os Pais Peregrinos chamaram aquela região em que se estabeleceram a Nova Inglaterra, saudosos que estavam do torrão natal, apesar de toda a perseguição. Ali se estabeleceram e ali prosperaram. Cidades, depois famosas, foram iniciadas, como Boston e Salem. Religiosamente eram congregacionais e, conquanto vítimas da intolerância religiosa, ali organizaram um sistema intolerante também: só podia fazer parte da Colônia quem professasse a mesma religião. A Nova Inglaterra era uma teocracia. (PEREIRA, 1987, p. 73)
As perseguições na Inglaterra continuaram após a morte de Jaime I. Seu filho,
Carlos I manteve as perseguições religiosas com ainda mais dureza que seu
antecessor. Mediante essas perseguições, outros grupos religiosos continuaram
fugindo da Inglaterra, buscando liberdade para professar sua fé. Entre estes estava
Roger Williams, jovem pastor formado pela Universidade de Cambridge, que chegou
a Boston em 1631. (PEREIRA, 1987). "Aceitou [...] o pastorado de uma Igreja; mas,
as autoridades da colônia não se simpatizavam com ele, porque o jovem pastor
desaprovava a união da Igreja com o Estado." (FARIAS, 1991, p.07)
Foi banido pelos religiosos de Boston, ficando um tempo com os índios norte-
americanos. Fundou uma colônia em Rhode Island, batizando-a de Providence. "O
governo dessa colônia foi o primeiro no mundo a estabelecer o princípio de liberdade
religiosa absoluta [...] e foi por fim incorporada à Carta de Constituição da Colônia
Charles II em 1663." (FARIAS, 1991, p.08)
Após estudos das Escrituras, resolveu realizar na sua congregação o batismo por
imersão. Primeiro, realizou o seu batismo, executado por um dos membros de seu
grupo e, em seguida, batizou os outros membros. Assim, "foi organizada a primeira
Igreja Batista em solo americano", em 1639. (PEREIRA, 1987, p.74)
Porém, não se sabe com certeza se, a Igreja de Providence foi de fato a primeira
Igreja Batista no continente americano. Isso porque, no mesmo período, outra igreja
era fundada, no entanto, não existem documentos suficientes que comprovem ser
esta batista desde sua fundação ou não. Esta outra igreja tem por fundador John
33
Clarke, um médico que também emigrou para a América do Norte fugindo de
perseguições religiosas.
Clarke também enfrentou problemas com os colonos da Nova Inglaterra, mudando-
se para a Rhode Island, onde fundou o núcleo de Newport e estabeleceu uma igreja.
Pouco se sabe sobre esta igreja fundada, porém, em 1648, a mesma tinha moldes
batistas, com aproximadamente 15 membros.
Essas igrejas impulsionaram o crescimento dos batistas nas colônias da América do
Norte. Na Filadélfia, fundada por perseguidos religiosos, "[...] uma igreja batista foi
organizada em Pennepk, que hoje é parte da cidade de Filadélfia, em 1688."
(PEREIRA, 1987, p. 76).
As Igrejas Batistas se multiplicaram nas colônias. Esse rápido crescimento se verificava como resultado do exame imparcial do Novo Testamento que punha evidente os erros de doutrina nos quais laboravam outras seitas; também por aqueles que buscam na América a liberdade que não gozavam em suas pátrias e por aqueles que se debatiam pela separação entre Igreja e Estado. (FARIAS, 1991)
Esse crescimento batista resultou na criação da primeira Associação Batista norte-
americana, em 1707, na Filadélfia. No século XVII, os batistas das colônias inglesas
na América experimentaram um crescimento que não foi visto no século XVIII.
Porém, estes continuaram com sua importância dentro das colônias, não apenas
religiosa, mas também política. Em 1781 surgem os Estados Unidos da América do
Norte e é assinada a Constituição deste país. Uma das emendas constitucionais foi
influenciada pelos batistas, que defendiam a separação entre religião e Estado.
O século XIX traz uma outra perspectiva aos batistas. Estes passam a voltar seu
trabalho para a obra missionária. Enviam missionários à Índia, aproveitando as
relações existentes entre ingleses e indianos. Para sustentarem o trabalho
missionário na Índia, criaram, em maio de 1814, uma Convenção.
Fundada em Filadélfia, essa Convenção tinha o nome de "Convenção Geral das Denominações Batistas dos Estados Unidos para Missões no Estrangeiro". Como tinha resolvido reunir-se de três em três anos e esse nome era muito grande, passou a ser chamada
34
Convenção Trienal. [...] A primeira missão [...] estabeleceu-se na Birmânia. Dentro em pouco, outros países receberam missionários também: na Índia, apesar dos ingleses, em diversos pontos da África, no Sião. Em 1845, quando a Convenção Trienal deixou de existir, havia 99 missionários no estrangeiro, com 82 igrejas organizadas, graças a seu trabalho. (PEREIRA, 1987, p. 78)
O trabalho missionário crescia, mas dentro dos Estados Unidos os batistas se
dividiam. A escravidão negra foi o motivo que separou os estados do norte dos
estados do sul. O sul era totalmente escravista, sustentado por esta mão de obra,
enquanto que o norte era completamente favorável à abolição. Esses
posicionamentos refletiam dentro das igrejas batistas. Por conta disso, a Convenção
Trienal deixou de existir.
Uma atitude radical da Sociedade de Missões, que se recusou a aceitar como missionário um dono de escravos, os batistas do sul responderam com a fundação, em maio de 1845, em Augusta, Geórgia, da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos. Muitos anos mais tarde, os batistas do Norte também organizaram a Convenção Batista do Norte, que depois mudou o nome para Convenção Batista Americana e hoje se denomina "Igrejas Batistas Americanas nos Estados Unidos”. (PEREIRA, 1987, p. 79)
A Guerra de Secessão colocou fim a escravidão nos Estados Unidos, derrotando os
Estados do Sul. A Convenção Batista do Sul prosperou, continuando seu trabalho
missionário. Escolheram a China como primeiro campo missionário. Também
fundaram seminários, que tinham como objetivo preparar ministros para trabalharem
nas igrejas e nas obras missionárias. Esta convenção influenciou diretamente os
trabalhos batistas no Brasil.
3.2 Os Batistas no Brasil
Por volta de 1850, os batistas estadunidenses começaram a se preocupar com a
evangelização das Américas Central e do Sul. Essas partes do continente haviam
sido colonizadas por Portugal e Espanha, países extremamente católicos. Além do
paganismo indígena havia a Igreja Católica como igreja oficial e obrigatória.
No Brasil, o primeiro missionário chegou em 1859, no Rio de Janeiro. Seu nome era
Thomas Jefferson Bowen. Ele havia servido como missionário no continente
35
africano, porém, por problemas de saúde, solicitou à Junta de Richomond, da
Convenção Batista do Sul que o enviasse ao Brasil. Porém, seu problema de saúde
não melhorou, e o missionário e sua esposa foram obrigados a retornar aos Estados
Unidos. O trabalho missionário no Brasil ficou interrompido por anos, pois, o casal
Bowen relatou à Junta de Missões que o trabalho missionário no Brasil não valia a
pena.
Porém, com o fim da Guerra de Secessão, os sulistas foram derrotados. Muitos
resolveram reiniciar suas vidas em outro lugar, pois haviam perdido tudo na guerra.
Assim, migram-se para o Brasil, que tinha boas relações com os Estados Unidos.
Estabeleceram-se, principalmente, na Província de São Paulo. Outro grupo migra
para o norte do país, fixando-se em Santarém.
Dos que ficaram em São Paulo, destaca-se os grupo de Santa Bárbara. Para esta
região, mudaram-se famílias de várias denominações: presbiterianos, metodistas e
batistas. Assim, fundaram também suas igrejas no país.
[...] e foi assim que o grupo batista fundou, em 10 de setembro de 1871, a Igreja Batista de Santa Bárbara. Trata-se da primeira igreja batista organizada em solo brasileiro. Era, entretanto, uma igreja limitada em seu escopo: seus cultos, em língua inglesa, destinava-se apenas aos colonos. Não tinha a igreja objetivos missionários, não visava a evangelização dos arredores. Os mesmos colonos, para atender a conveniências locais, fundaram, no lugar denominado Estação, uma segunda igreja batista em janeiro de 1879. (PEREIRA, 1987, p. 81)
Essas foram as primeiras igrejas batistas no Brasil. Não sobreviveram por muito
tempo, porém, iniciaram os trabalhos missionários, de fato, no Brasil. Apesar de
serem igrejas destinadas a atender os colonos, escreveram à Convenção Batista do
Sul dos Estados Unidos, pedindo que missionários fossem enviados ao Brasil.
Um grande homem para o trabalho missionário no Brasil foi ex-general sulista A. T.
Hawthorne, que começou a pregar nas igrejas sobre a obra missionária no Brasil.
Havia passado um período em terras brasileiras, e por isso se tornou um grande
incentivador de missões no Brasil.
36
As mensagens de Hawthorne impactaram o pastor William Buck Bagby, que solicitou
à Junta de Missões Estrangeiras da Convenção que fosse enviado ao Brasil junto
com sua futura esposa, Ann Luther. Em dois de março de 1881, chegaram ao Brasil,
encaminhando-se para Santa Bárbara. Conheceram lá Antonio Teixeira de
Albuquerque, ex-padre católico.
Este, que fora vigário em Maceió, convenceu-se do engano de sua posição, abandonou a batina, casou-se e mudou-se para São Paulo. Aí entrou em contato com os metodistas. Mas, prosseguindo no seu exame das Escrituras, convenceu-se de que a posição batista era mais fiel ao Novo Testamento e, buscando os batistas de Santa Bárbara, pediu-lhes o batismo. Foi batizado por um pastor, que era também colono, Robert Thomas, tornando-se, assim, o primeiro brasileiro a ser batizado. (PEREIRA, 1987, p. 82)
Albuquerque se tornou auxiliar do casal Bagby. Ajudou-os aprender o português e
deu-lhes informações sobre o Brasil. Neste mesmo período, chegou ao Brasil outro
casal missionário, Zachary e Kate Taylor. Agora eram cinco batistas dispostos a
iniciar o trabalho no Brasil. Isto por que, a esposa de Albuquerque não era batista.
Após viagem por alguns pontos do Brasil, decidiram fundar uma igreja em Salvador,
capital da Bahia e cidade considerada a mais católica do país. "Assim, pois, com
cinco membros fundadores, em 15 de outubro de 1882, foi organizada a Primeira
Igreja Batista da Bahia e primeira igreja batista brasileira." (PEREIRA, 1987, p. 83)
A igreja na Bahia foi perseguida pelos católicos, isto porque, neste período, havia
uma união entre a Igreja Católica e o Império. Porém, a igreja crescia
consideravelmente. Assim, resolveram estender os trabalhos batistas para outras
regiões do país. Para isso, os missionários precisaram separar-se. O casal Taylor
assumiu a igreja em Salvador. Os Bagby resolveram migrar para o Rio de Janeiro e
Albuquerque partiu para o Maceió.
Para o Rio de Janeiro, além do casal Bagby, também foi Mary O'Rorke. Lá,
conheceram Elizabeth Williams, batista inglesa moradora do Rio de Janeiro.
Começaram a se reunir da casa da senhora Williams, onde iniciaram a fundação da
Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, que ocorreu em 24 de agosto de 1884.
37
Em Maceió, Albuquerque juntou-se com Wandregesilo Melo Lins, um antigo amigo
dos tempos de padre. Este fora um dos que falaram ao padre Albuquerque sobre o
Evangelho, sendo importante na decisão deste de abandonar a batina. Mudaram-se
para o Recife e com o auxilio do missionário C. D. Daniel, membro da igreja de
Santa Bárbara. Juntos, fundaram em 4de abril de 1886 a Primeira Igreja Batista do
Recife.
O trabalho batista no Brasil cresceu graças aos missionários que espalharam igrejas
por vários lugares do Brasil, inclusive no Espírito Santo. Com o crescimento do
trabalho batista no Brasil, fundaram em 1907 a Convenção Batista Brasileira.
Em 1907, vinte e cinco anos após a fundação da primeira igreja batista brasileira, e também na cidade do Salvador, foi organizada a Convenção Batista Brasileira. Havia por esse tempo quatro mil batistas no Brasil. Francisco Fulgêncio Soren foi eleito presidente da Convenção e Teodoro Teixeira foi o secretário. Eram quarenta e cinco os mensageiros presentes [...] e cheios de visão em face das decisões que tomaram. Uma delas foi a criação de uma Junta de Missões Estrangeiras e outra a criação da Junta de Missões Nacionais. [...] Foram criadas outras juntas, como por exemplo, a da Casa Publicadora, à qual foi entregue a tarefa de preparar livros, opúsculos e folhetos e publicar O JORNAL BATISTA [...] (PEREIRA, 1987, p. 86)
A criação da Convenção Batista Brasileira foi fundamental para a concretização do
trabalho batista em solo brasileiro. Outras igrejas puderam surgir em vários estados
do Brasil graças ao incentivo da Convenção. Em vários estados brasileiros, os
batistas destacam-se por sua grande influência. Um desses é o Espírito Santo,
estado com grande tradição batista.
38
4 OS BATISTAS NO ESPÍRITO SANTO
Os trabalhos batistas no Espírito Santo foram iniciados, primeiramente, por incentivo
da Igreja Batista do Rio de Janeiro. O casal Bagdy, missionários, responsáveis pela
igreja carioca, resolveram enviar alguém as terras capixabas, afim de iniciar um
trabalho missionário.
O escolhido para essa viagem de reconhecimento foi Salomão Luís Ginsburg. Este
era judeu, nascido na Polônia, criado na Alemanha e na Inglaterra. Iniciou seus
trabalhos missionários em Portugal, onde aprendeu a língua portuguesa. Veio para o
Brasil, sendo batizado em Pernambuco. Mudou-se para o Rio de Janeiro, sendo
enviado ao Espírito Santo.
Salomão chegou a Vitória, capital do Espírito Santo, em um domingo de carnaval. E
iniciou sua pregação nesse mesmo dia, distribuindo folhetos e utilizando uma pedra
como púlpito. Primeiramente, a população ficou curiosa, mas logo a curiosidade
transformou-se em protesto, sendo hostilizado pelo público17. Porém, um grupo foi
impactado por sua mensagem, formando uma pequena comunidade evangelística
na capital.
Realizada a sua experiência no Estado do Espírito Santo e conhecida as potencialidades favoráveis, regressa ao Rio de Janeiro, e apresenta relatório favorável aos missionários. Ao expor seu ponto de vista recomendou a abertura do trabalho batista em terras capixabas. Imediatamente a Missão do Rio de Janeiro enviou a Vitória outro obreiro. Dessa vez José Alves, com o objetivo de abrir trabalho em Vitória. Veio, pregou e deixou muitos interessados na nova doutrina; porém não se sabe se alguém decidiu segui-lo como batista. José Alves permaneceu em Vitória desde o final de 1892 até agosto de 1893, época em que se retirou para outro campo. (SOARES, 1996, p.22)
Mas o missionário que de fato iniciou os trabalhos batistas no estado do Espírito
Santo foi Francisco José da Silva. Tornou-se batista através da pregação dos
missionários da Igreja Batista da Bahia e decidiu tornar-se pregador. Porém, essa
escolha fez com que sua família e amigos se recusassem a conviver com ele.
17
A população capixaba nesse período era extremamente católica. Tratavam com hostilidade qualquer pessoa que levasse uma mensagem diferente ao catolicismo.
39
Fugindo de sua família, muda-se para Vitória em 1894, recebendo o suporte da
Missão Batista da Bahia.
Chegando ao Espírito Santo, trabalhou como comerciário em Vitória. Lá, iniciou a
pregação do evangelho, além de entrar em contato com o grupo deixado por
Ginzburg, apoiando o trabalho do mesmo. Este pequeno grupo se reunia em
Argolas, distrito de Vila Velha, que, na época, era parte do município de Vitória.
Anos mais tarde, essa comunidade se tornaria a Primeira Igreja Batista de Vitória.
Em seguida, foi contratado pelo governo do estado para trabalhar na demarcação
das fronteiras do território estadual. Retirou-se de Vitória, indo para o interior do
estado. Terminado os serviços, permaneceu em Baixo Guandu, divisa do Espírito
Santo com Minas Gerais. Resolve evangelizar a população no tempo disponível,
porém não obtém bons resultados.
Novamente, é contratado por um grupo de agrimensores, e migra de Baixo Guandu
para Alto Firme, atual município de Afonso Cláudio. Lá também se dedica à
pregação do evangelho, obtendo melhores resultados. Não limitava suas pregações
apenas a Afonso Cláudio. Realizava viagens evangelísticas pela região. Chega a
Figueira de Santa Joana, atual município de Itarana, onde acontecem algumas
conversões.
Suas viagens missionárias fazem com que muitas pessoas aceitem o Evangelho,
porém, Francisco não podia realizar os batismos dos fiéis por não ser ordenado
pastor. Assim, no ano de 1901, escreveu aos missionários da Bahia que viessem ao
Espírito Santo batizar os convertidos. Porém, devido às perseguições sofridas pelos
evangélicos no estado, resolveram adiar.
No ano seguinte, chega ao estado o missionário Ernesto Alonso Jackson, vindo da
Bahia para batizar os convertidos capixabas. Durante sua estadia no Espírito Santo,
batizou 76 pessoas. Em 1903 os missionários da Bahia e do Rio de Janeiro chegam
ao estado com o objetivo de organizar as primeiras igrejas. A primeira atitude
tomada é a realização de um Concílio que examinou Francisco da Silva, tornando-o
pastor, "o primeiro pastor brasileiro a também ser consagrado ao Ministério da
40
Palavra no Estado do Espírito Santo." (FARIAS, 1991, p. 21). Em seguida,
organizaram as primeiras igrejas batistas no estado, nas regiões onde se
concentravam os primeiros convertidos.
[...] isto aconteceu no dia 21 de agosto de 1903, quando foi fundada a Primeira Igreja Batista no Estado do Espírito Santo: Igreja Batista do Ribeirão Firme18. Em 24 de agosto de 1903, a Segunda Igreja Batista no Estado: Figueira de Santa Joana, hoje Itarana. Imediatamente, partem para a capital, Vitória, Francisco José, Taylor19 e A. L. Dustan20 e ali organizam no dia 02 de setembro de 1903 a Primeira Igreja Batista de Vitória.(SOARES, 1996, p. 25)
A Igreja do Ribeirão do Firme contava com 60 membros no ato de sua fundação. Já
a Igreja de Figueira de Santa Joana contava com 17 membros e a Igreja no Morro de
Argolas com 14 membros. "[...] no final de 1903 estava estabelecido o trabalho
batista no Estado do Espírito Santo, com 3 igrejas, 91 membros e 1 Pastor."
(FARIAS, 1991, p. 20)
Em 1908, Francisco José da Silva mudou-se para José Pedro, município localizado
na divisa entre os estados de Minas Gerais e o Espírito Santo. Lá, havia uma Igreja
batista, que não havia sido fundada por ele, mas que receberá seu apoio. Lá casou-
se com Maria Magalhães da Silva, permanecendo até sua morte, em 15 de janeiro
de 1911. É considerado o pioneiro nos trabalhos batistas no Espírito Santo, sendo o
primeiro pastor batista brasileiro ordenado.
A consolidação do trabalho batista no estado se deu com a chegada do casal
estadunidense Loren e Alice Reno, em 1904. Chegaram ao Brasil com a missão de
ficarem com os missionários batistas na Bahia, porém, ao tomarem ciência dos
trabalhos no Espírito Santo, mudaram seus planos. Dedicaram-se a aprender o
português e foram morar em Vitória, assumindo a liderança da Igreja do Morro de
Argolas.
As igrejas capixabas eram filiadas à Sociedade Missionária da Bíblia, por sua vez,
filiada a Igreja Batista da Bahia. Loren Reno percebeu que precisava desmembrar as
18
Atual município de Afonso Cláudio. 19
Missionário batista na Bahia 20
Missionário batista no Rio de Janeiro
41
igrejas capixabas para agilizar seu trabalho. Criou assim uma associação com as
igrejas capixabas para fortalecer o trabalho e poder expandi-lo para o interior.
Assim, no dia 10 de setembro de 1905, Loren M. Reno fundou a Sociedade Missionária que foi bem recebida pelas Igrejas já existentes, a saber: a Igreja do Ribeirão do Firme, a de Figueira de Santa Joana, a de Vitória, a de José Pedro,21 todas elas organizadas antes da chegada do missionário Reno; a de Rio Novo do Sul, organizada em 18 de novembro de 1904 e a de Pedra d'Água em 23 de agosto de 1905. As duas últimas citadas foram organizadas logo após a chegada do Missionário Reno." (FARIAS, 1991, p. 35)
Quatro anos depois, ocorreu a primeira reunião da convenção estadual. Esta foi
realizada na casa dos Reno, em Vitória. Esta reunião era uma maneira de
compartilharem as necessidades das igrejas, principalmente as do interior. "Até
1907, havia 7 igrejas organizadas no estado do Espírito Santo." (GONÇALVES,
2012, p.77)
Os Reno sofreram muitas perseguições, principalmente as realizadas pelos
católicos. Aqueles que se decidiam pela religião batista eram perseguidos e
hostilizados pela população de Vitória. Por conta disso, em 1907, os Loren iniciaram
no porão de sua casa aulas para os filhos dos membros da igreja de Vitória, que
eram mal recebidos nas escolas tradicionais. Nascia aí, o Colégio Americano
Batista. Até para enterrar os mortos os protestantes eram hostilizados. Em 1905,
Loren Reno solicitou ao governo do estado um terreno que pudesse ser utilizado
como cemitério.
Em 1908 iniciaram as construções da nova sede da Primeira Igreja Batista de
Vitória, desta vez localizada na Ilha de Vitória. Precisavam de um espaço que fosse
maior, com infraestrutura para realização dos cultos e das atividades da Escola
Bíblica Dominical. A nova sede foi inaugurada em 1909. Lá também passou a
abrigar as atividades do Colégio Americano Batista.
As atividades do casal Reno não se resumiam à capital. Iniciaram cursos de
capacitação de líderes, para prepara-los para o trabalho no interior do estado, além
de realizarem viagens com o objetivo de encontrarem possíveis locais para a
21
Localizada em terras mineiras, na divisa dos estados de Minas Gerais com o Espírito Santo.
42
implantação de uma igreja batista. Também acompanhavam os pastores do interior,
para estarem a par dos acontecimentos.
O trabalho do casal Reno fez com que os batistas se instalassem definitivamente no
território do Espírito Santo. Enfrentado perseguições, resistiram a todas,
permanecendo fiéis e focados no trabalho missionário. Fizeram com que as igrejas
batistas se espalhassem pelo território capixaba, alcançando municípios das regiões
norte e sul, além da região da capital, Vitória.
"Quando chegaram no Espírito Santo havia somente três igrejas organizadas. Em
Vitória, findo seu primeiro ano, era 1 igreja, 5 congregações, 10 batismos, 135
membros e 1 ajudante." (GONÇALVES, 2012, p.86). Em 1929, quando deixaram a
Igreja de Vitória, o Espírito Santo contava com 28 igrejas organizadas. Loren Reno
faleceu em 4 de outubro de 1935. Alice retornou para os Estados Unidos, onde
faleceu em 14 de janeiro de 1947.
Depois deles vieram outros missionários que continuaram seu trabalho dentro do
Espírito Santo. Esses homens e mulheres colaboraram para que hoje houvesse no
estado um grande número de batistas. Dados de 2010 apontam que os batistas
estão presentes em todos os municípios do estado do Espírito Santo, ultrapassando
o número dos 70 mil fiéis distribuídos em 451 Igrejas, que por sua vez, estão
distribuídas em 18 associações. (CBEES, 2010). Nada disso seria possível sem o
trabalho dos pioneiros batistas no estado.
4.1 Os Batistas no Sul do Espírito Santo
Desde o início do trabalho dos batistas no estado do Espírito Santo, a região sul do
estado recebeu atenção especial dos missionários que aqui se encontravam. Várias
das primeiras igrejas surgidas no Espírito Santo localizam-se nesta região.
Das dez primeiras igrejas organizadas pelos batistas, cinco localizam-se no sul do
estado: Igreja Batista em Rio Novo do Sul (18/11/1904); Primeira Igreja Batista de
Castelo (16/01/1909); Primeira Igreja Batista de Cachoeiro do Itapemirim
43
(17/01/1909); Primeira Igreja Batista Barra do Itapemirim (09/02/1910); e Igreja
Batista em Campo Novo (12/09/1916).
O destaque dos batistas no sul do estado se dá, principalmente, pela situação
político-econômica desfrutada por esta região neste período. Conhecer o contexto
histórico desta região é importante para entender o desenvolvimento batista no sul
do estado.
4.1.1 Contexto Histórico da Região Sul
Desde o princípio da colonização do solo espírito-santense, o sul do Espírito Santo
recebeu incentivos colonizadores. A implantação de lavouras e engenhos de açúcar.
"Mesmo a produção de açúcar não sendo tão significativa, como era no nordeste
brasileiro, conquistou certo destaque se comparado a outras regiões brasileiras [...]"
(MACHADO, BLANCO, CAVALINE, 2008, p.9)
Era a região que mais produzia açúcar e aguardente na Capitania22 e da Província23
do Espírito Santo até meados do século XIX. Neste período, a cafeicultura começa a
ser desenvolvida na província do Espírito Santo, principalmente na região sul. A
produção de café era mais barata e mais lucrativa para os agricultores, fazendo com
que muitas lavouras fossem substituídas.
A produção do café dinamizou a região sul do Espírito Santo. A navegação a vapor pelo Rio Itapemirim tornou-se de extrema importância para seu escoamento, provocando melhorias significativas, possibilitando a navegação por diversas regiões litorâneas, chegando até o Porto da Barra, em Itapemirim, onde as mercadorias eram encaminhadas para o porto do Rio de Janeiro, para serem exportadas. Tal porto era o mais importante da região sul. As vias fluviais desembarcavam toneladas de sacos de café que seguiam para outras regiões. (MACHADO, BLANCO, CAVALINE, 2008, p.9)
Até a crise de 1929, o café sul-capixaba viva um período de estabilidade, dando ao
estado e a esta região um desenvolvimento que antes não havia sido
experimentado. É neste período que os batistas se instalam no Espírito Santo e
22
Nome dado aos territórios brasileiros no período colonial; 23
Nome dado as antigas capitanias brasileiras;
44
chegam ao sul. Implantar igrejas nesta região era estratégico, pois os batistas
alcançariam um grande número de pessoas.
4.1.2 Rio Novo do Sul: a Primeira Igreja do Sul do Estado
A fundação da Igreja de Rio Novo do Sul é um marco para os batistas do sul do
Espírito Santo. Quarta igreja batista organizada no estado abriu caminho para que
outras igrejas pudessem ser organizadas na região, fazendo com que o trabalho
batista crescesse e se desenvolvesse no sul do estado. “No ano de 1900, Rio Novo
do Sul, um minúsculo povoado perto de Cachoeiro de Itapemirim e não muito longe
de Vitória, sendo sede de Município, havia todas as probabilidades de progresso
[...]” (FARIAS, 1991, p.67)
Como a maioria das igrejas batistas fundadas no Espírito Santo no princípio dos
trabalhos, a igreja de Rio Novo do Sul começou com a visita do Pastor Francisco
José da Silva. Este foi convidado pelo irmão Manoel Joaquim da Rocha, telegrafista,
que, no ano de 1900, fora transferido para Rio Novo do Sul a fim de trabalhar no
município. “[...] embora afastado da igreja Metodista, nunca esteve afastado de Deus
[...]” (IGREJA BATISTA DE RIO NOVO DO SUL, 2011)
O culto que contava com a participação do Pastor Francisco foi realizado no salão
de um hotel local. Este foi marcante para o início do trabalho, pois através dela
aconteceu a primeira conversão, do Sr. Fernando Vianna Drummond, que foi
batizado no mesmo ano. Este, junto com o irmão Manoel alugaram uma casa onde
organizaram uma congregação, onde funcionava a Escola Bíblica Dominical e cultos
de anúncio da Palavra de Deus.
Esta congregação continuou sendo visitada pelo pastor Francisco, que batizou ali 13
pessoas. Com este número e com a presença do Pastor Francisco da Silva,
organizou-se no ano de 1904 a Igreja Batista na Vila de Rio Novo, a primeira igreja
batista no sul do estado do Espírito Santo.
Deus abençoou, e como fruto deste trabalho, outras pessoas converteram-se a Cristo Jesus, e assim, em 18 de Novembro de
45
1904, foi organizada a Igreja Batista na Vila de Rio Novo, tendo como membros fundadores, os irmãos: Fernando Vianna Drummond, Altina Carolina Drummond, Luiz Barbosa Almeida, Ana Rosa Almeida, Laurindo Moreira, Marcelino Moreira, Suzana Rohr Moreira, Guilherme Wandermurem, Carlota Wandermurem, Manoel Joaquim Rocha, Maria dos Prazeres Rocha, Januário Silva e João Francisco Moreira. Neste tempo a igreja esteve sob a orientação do Pastor Francisco José da Silva, que de Vitória vinha para celebrar a Ceia do Senhor e os Batismos. (IGREJA BATISTA DE RIO NOVO DO SUL, 2011)
Como ocorria nas outras localidades, as perseguições eram comuns em Rio Novo. A
visita do ex-Padre Hipólito de Campos, ocorrida pouco tempo após a fundação da
igreja, só pôde ser realizada com a garantia judicial, pois, nesta ocasião, ocorreu a
primeira de fato a igreja recém-criada.
Apesar dos problemas, o trabalho continuou crescendo. A igreja, então, convida o
irmão Fernando V. Drummond para se dedicar ao evangelismo durante 15 dias do
mês. O pastor Francisco da Silva visitava a igreja para as celebrações da Ceia do
Senhor e efetuar batismos. “O irmão Drummond realizou a obra de Deus, ainda que
sobre o lombo de burros, alcançando todo o Vale de Rio Novo.” (IGREJA BATISTA
DE RIO NOVO DO SUL, 2011)
Anos depois, foi convidado pela Junta Estadual para atuar como evangelista. Em 02
de agosto de 1908 foi consagrado ao ministério pastoral, tornando-se o primeiro
pastor efetivo desta igreja. Sob sua gestão, a igreja continuava sofrendo
perseguições e tinham muita dificuldade em encontrar um local onde pudessem
construir um templo.
Os crentes se reuniam em casa alugada para estudar a Palavra de Deus com muito sacrifício, pois, o padre Levi24 proibia terminantemente a que os moradores não os facilitassem a compra de uma casa ou terreno para que tivessem sede própria. (FARIAS, 1991, p.68)
Conseguiram adquirir um terreno com duas casas, onde, anteriormente, funcionava
uma fábrica de cerveja. “Reformada e adaptada uma das casas tornou-se até 1918,
a sede da Igreja. Em 1918, teve inicio a construção do primeiro templo batista de Rio
24
Sem sobrenome conhecido pelo autor. Provavelmente, era o pároco de Rio Novo do Sul neste período.
46
Novo. Este templo foi utilizado até janeiro de 1953.” (IGREJA BATISTA DE RIO
NOVO DO SUL, 2011)
Através da fundação da igreja em Rio Novo do Sul, outras igrejas na região foram
fundadas, tais como: Primeira Igreja Batista em Castelo (16/01/1909); Primeira Igreja
Batista em Cachoeiro do Itapemirim (17/01/1909); Primeira Igreja Batista na Barra do
Itapemirim25 (09/02/1910); Igreja Batista em Campo Novo26 (12/09/1916), Igreja
Batista em Mimoso do Sul (12/12/1921); Igreja Batista em Aracuí27 (06/01/1922);
Igreja Batista em Alegre (07/08/1922); Igreja Batista em Muqui (10/11/1923); Igreja
Batista em Nova Canaã28 (23/04/1924); Primeira Igreja Batista em Atilho Vivaqua
(21/05/1926); Igreja Batista em Celina29 16/02/1927); dentre várias outras.
25
Município de Marataízes 26
Município de Presidente Kennedy 27
Município de Castelo 28
Município de Marataízes 29
Distrito do Município de Alegre
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CONCLUSÃO
Este trabalho procurou apresentar um breve relato histórico sobre os batistas, desde
seu surgimento, oficialmente no século XVI até a fundação da primeira igreja batista
no sul do estado do Espírito Santo, a Igreja Batista na Vila de Rio Novo, em Rio
Novo do Sul.
Além de realizar um relato histórico sobre os batistas, este trabalho buscou analisar
os fatos relacionados a este grupo religioso tão singular, procurando entender a
origem e significado real do batismo, prática que distingue, inicialmente, os batistas
dos outros grupos religiosos reformados.
Entender a História dos Batistas é criar uma identidade para este grupo religioso tão
expressivo no Brasil e no mundo. Infelizmente, nem todos os batistas conhecem sua
história e muitos não entendem suas origens e o que os difere dos demais grupos
religiosos cristãos. Criar uma identidade é fortalecer o trabalho batista.
Enfim, o que se pode perceber após toda a análise historiográfica realizada sobre os
batistas é que os mesmos, apesar de muitas semelhanças com outros grupos
protestantes, ou evangélicos, têm uma singularidade: além da defesa do batismo ou
mesmo do re-batismo apenas dos regenerados, os batistas sempre defenderam a
liberdade religiosa plena, tanto nos aspectos políticos e econômicos quanto, e
principalmente, a liberdade de pensamento.
Ser batista é entender que, dentro dos valores bíblicos, pode-se pensar e defender
qualquer ideia, independente de convenções políticas e morais pré-estabelecidas.
Foi nessa busca por liberdade que as primeiras igrejas batistas se organizaram. A
busca por liberdade é real e legítima dentro do cristianismo.
A liberdade é uma característica primordial cristã: “Se Portanto, se o Filho os libertar,
vocês de fato serão livres.” (João 8:36). Desqualificar essa liberdade é negar a
liberdade alcançada por Cristo, e perder um principio primordial da fé cristã e dos
batistas.
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