tcc breve análise da história dos batistas

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CENTRO DE EDUCAÇÃO TEOLOGICA BATISTA DO ESPÍRITO SANTO CETEBES BACHAREL LIVRE EM TEOLOGIA LARYSSA DA SILVA MACHADO BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS: DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM 2014

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HISTÓRIA DOS BATISTAS

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Page 1: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

CENTRO DE EDUCAÇÃO TEOLOGICA BATISTA DO ESPÍRITO SANTO

CETEBES

BACHAREL LIVRE EM TEOLOGIA

LARYSSA DA SILVA MACHADO

BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS:

DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

2014

Page 2: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

LARYSSA DA SILVA MACHADO

BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS:

DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO

Trabalho apresentado na Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do 4 º ano, do Curso Livre de Teologia do CETEBES - Centro de Educação Teológica Batista do ES, campus Sul.

Professor: Leonardo Ferreira dos Santos

Orientador de Conteúdo:

Professor: Sandro Zanoteli Koppe

Orientador de Forma:

Professor: Leonardo Ferreira dos Santos

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

2014

Page 3: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

LARYSSA

BREVE ANÁLISE DA HISTÓRIA DOS BATISTAS:

DA ORIGEM A CHEGADA AO SUL DO ESPÍRITO SANTO

Aprovada por todos os orientadores foi aceita pelo Curso Livre Superior em Teologia

do Seminário CETEBES SUL como requisito e exigência acadêmica para obtenção

do título em TEOLOGIA.

Cachoeiro de Itapemirim, 25 de novembro de 2014.

ORITENTADOR DO CONTEÚDO:

___________________________________

Professor: Sandro Zanoteli Koppe

ORIENTADOR DE FORMA:

___________________________________

Professor: Leonardo Ferreira dos Santos

Page 4: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os batistas

espalhados pelo mundo, principalmente

aqueles que iniciaram a denominação,

sofreram por ela, consolidando este trabalho.

“Posso não concordar com nenhuma das

palavras que você disser, mas defenderei

até a morte o direito de você dizê-las.”

(Volataire)

Page 5: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a Deus, primeiramente,

aos orientadores, Pr. Sandro e Prof.

Leonardo, a minha família pela paciência e a

todos os autores, vivos e mortos, que

escreveram sobre os batistas.

Page 6: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

RESUMO

O presente trabalho apresentará uma breve história dos batistas, desde sua origem

até a chegada dos mesmos no sul do Espírito Santo. É importante ressaltar que, a

denominação batista tem se perdido ao longo de sua história. Poucos conhecem sua

origem e os principais acontecimentos sobre a denominação. Não existe interesse

em descobrir e remontar a história dos batistas. Porém, um povo sem história é um

povo sem identidade. Por isso veem-se tantas crises envolvendo as igrejas batistas,

principalmente crises quanto à personalidade e identidade das mesmas. Descobrir

de onde viemos e o que defendemos é importante para tentar recuperar o brio

perdido da denominação. Assim, neste trabalho serão apresentadas as teorias que

explicam a origem dos batistas, sendo estas: JJJ (Jerusalém-Jordão-João); ligação

espiritual com os Anabatistas do século XVI; e separatistas ingleses do século XVII.

Esta última é a mais aceita, pois a partir dela tem-se uma linha ininterrupta até os

batistas atuais. Esse grupo que se espalhou pelo mundo, consolidou o trabalho nos

Estados Unidos alcançado o Brasil. Aqui, espalhou-se por vários estados, chegando

ao Espírito Santo no final do século XIX. No Espírito Santo, o trabalho foi

desenvolvido por missionários estadunidenses e brasileiros, alcançando vários

municípios. Hoje, os batistas estão presentes em todos os municípios do estado do

Espírito Santo, somando mais de 70 mil fiéis.

Page 7: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................

2 O BATISMO E A ORIGEM DOS BATISTAS ..................................................

2.1 Sobre o Batismo .........................................................................................

2.1.1 O Batismo no Antigo Testamento ..............................................................

2.1.2 O Batismo no Novo Testamento ................................................................

2.1.3. O Batismo de João e a Igreja de Cristo ....................................................

2.2 As teorias sobre a origem dos Batistas ...................................................

2.2.1 Teoria JJJ (Jerusalém-Jordão-João) .........................................................

2.2.2 Teoria da Ligação Espiritual com os Anabatistas ......................................

2.2.3 Teoria dos Separatistas Ingleses do século XVI .......................................

2.2.4 Os Primeiros Batistas ................................................................................

3 OS BATISTAS CHEGAM A AMÉRICA: ESTADOS UNIDOS E BRASIL ......

3.1 Os Batistas nos Estados Unidos ..............................................................

3.2 Os Batistas no Brasil ..................................................................................

4 OS BATISTAS NO ESPÍRITO SANTO ...........................................................

4.1 Os Batistas no Sul do Espírito Santo .......................................................

4.1.1 Contexto Histórico da Região Sul ..............................................................

4.1.2 Rio Novo do Sul: a Primeira Igreja do Sul do Estado ................................

CONCLUSÃO .....................................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................

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Page 8: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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1 INTRODUÇÃO

Escrever sobre a história da Igreja Batista é um grande desafio, pois há uma falta de

interesse dos batistas em conhecer sua própria história. Segundo Oliveira (1997,

p.13), "a grande maioria do nosso povo quase nada sabe sobre a nossa história, e

isto incluindo os próprios pastores e líderes da denominação".

Outro problema encontrado é a falta de fontes históricas fiéis. Isso por que, a grande

maioria dos trabalhos relacionados à história dos batistas, desde os mais antigos até

os mais atuais, não demonstram uma preocupação com a cientificidade. A grande

maioria prende-se a um orgulho exagerado de ser batista e se esquece de que o

que realmente importa em um registro histórico é se comprometer com a verdade

dos fatos.

Em 1948, Bretones já mencionava este problema em seu livro "Roteiro dos Batistas".

Segundo ele, os trabalhos sobre a história dos batistas "perdem-se no emaranhado

das citações que sofrem do mal muito comum na história, seja ela secular ou

eclesiástica, e que pode ser resumido numa palavra: desonestidade, ausência quase

completa de método científico." (BRETONES, 1948, p.11-12)

Desde este período, obviamente, muito se melhorou nas pesquisas relacionadas ao

assunto. Porém, ainda não é o suficiente para que haja uma separação entre o

orgulho batista, sua tradição inestimável e a escrita histórica científica.

O fato é que a história da Igreja Batista, enquanto denominação, precisa ser

explorada a fim de se criar uma identidade legítima entre os batistas. O filósofo

alemão Hegel disse que "quem não conhece a história está condenado a viver sem

a direção e perspectiva que ela pode oferecer." (apud OLIVEIRA, 1997, p.17).

Conhecer a história dos batistas mostra-se de fundamental importância, pois, muito

mais que lembranças do passado, a história serve como um ponto norteador de

caminhos. Em tempos de tantas divergências doutrinárias entre os batistas,

relembrar sua história pode ser um aspecto fundamental para a recuperação de uma

identidade.

Page 9: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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2 O BATISMO E A ORIGEM DOS BATISTAS

A Reforma Protestante ocorrida no século XVI marcou o desenvolvimento de várias

denominações dentro da religião cristã. A discordância com as doutrinas católicas

fizeram com que reformadores como Lutero e Calvino protestassem contra os erros

da Santa Igreja e propusessem mudanças ao cristianismo.

A partir daí, vão surgir denominações que, apesar de serem denominadas cristãs,

apresentam práticas e costumes diferentes. Cada uma criará para si um conjunto de

regras doutrinárias, com base bíblica, para justificar suas crenças. Essas diferenças

vão caracterizar as denominações, fazendo com que as pessoas escolham uma ou

outra de acordo com essas características.

Os Católicos têm sua tradição histórica1 e seus sacramentos2 como ponto principal

de sua doutrina. Já os Calvinistas (Presbiterianos e Puritanos) defendem a doutrina

da "Predestinação Absoluta3" e essa é a principal característica dos seguidores de

Calvino. Os Neopentecostais dão ênfase aos dons espirituais, os adventistas zelam

por guardar o sábado, enfim, todos cristãos, mas cada denominação com uma

doutrina diferente.

Assim também acontece com os batistas. A ênfase desta religião é o rebatizar, ou o

batizar novamente. Entender essa prática que é uma ordenança cristã e a principal

característica dos batistas é fundamental para a compreensão do surgimento da

denominação Batista, bem como para a criação de uma identidade da mesma.

1 A Igreja Católica se considera herdeira histórica da Igreja Primitiva.

2 Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, os sacramentos são "sinais sensíveis e

eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja mediante aos quais é concedida a vida eterna”. São sete os sacramentos adotados pela Igreja Católica: batismo, confirmação do batismo (crisma), confissão (penitência), eucaristia, ordem (sacerdotal), matrimônio e unção dos enfermos. 3 A doutrina da predestinação está particularmente associada ao Calvinismo. Deus predestina previa

e absolutamente a humanidade, escolhendo entre os homens aqueles que irão salvar-se e aqueles que vão ser condenados. Esta doutrina tira ao Homem qualquer possibilidade de rejeitar ou aceitar livremente a graça divina.

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2.1 SOBRE O BATISMO

O batismo cristão é entendido por muitos como um rito de iniciação das

denominações cristãs realizado com água. Representa a morte para o pecado e

ressurreição para Cristo, mas também um ritual de purificação destes pecados.

"Tanto o lavar como a morte e a ressurreição com Cristo são simbolizados no

Batismo" (GRUDEM, 1999, p. 816). Para se compreender de fato o que é o batismo

e seu significado real, é preciso que haja uma análise desta palavra.

A palavra "batismo" faz parte do grupo de praxes relacionadas com o lavar em água.

As palavras-chaves gregas para batismo são bapto/baptizo, que indicam imersão,

mas existem outras palavras relacionadas ao lavar em água que precisam ser

levadas em consideração. Estas são louo e nipto, que estão relacionadas a lavagens

completas e parciais. (BROWN; COENEN, 2000)

O termo batismo não é uma tradição exclusivamente cristã. Outras culturas

realizavam práticas semelhantes, relacionadas a purificação. Porém, o cristianismo

vai adotá-lo como prática importante dentro de seus ritos. "Além do sentido literal de

purificar, já havia, antes do NT4, um emprego figurativo do termo. No início,

significava a providência da pureza cúltica, e, depois, no NT, o termo foi estendido

para expressar uma renovação completa da existência humana." (BROWN;

COENEN, 2000, p.179)

Os termos bapto e baptizo (βάπτω e βαπτίζω) significam "mergulhar", "imergir",

"submergir" e "batizar". Há ainda as palavras baptismos (βαπτισμός) e baptisma

(βαπτισμα) que significam respectivamente "ato de mergulhar ou lavar" e "batismo".

No grego secular, essas palavras significam "mergulhar" e até mesmo "fazer

perecer" no sentido de afogar alguém ou afundar um navio, sendo que baptizo uma

forma intensiva de bapto. (BROWN; COENEN, 2000). Essas palavras são

normalmente reconhecidas como significado padrão na literatura grega antiga para o

termo batismo, tanto na Bíblia como fora dela. (GRUDEM, 1999).

4 NT: Novo Testamento, Bíblia Sagrada.

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Embora haja alguma evidência de que bapto tenha ocasionalmente

sido usado no Gr. secular com respeito a um banho ritual, não há evidência alguma de que baptizo era empregado assim (talvez por causa da sua associação de ideia de perecer). Palavras muito mais comuns para lavagens religiosas eram louo, "lavar" (o corpo inteiro) e nipto, "lavar" ou "enxaguar" (partes do corpo), e rhaino, "aspergir".

(BROWN; COENEN, 2000, p. 180)

Os termos louo e apolouo (λούω e άπολούω) significam "lavar" e "remover com

água". A palavra loutron (λουτρόν) também se relaciona a estes termos e significa

"banho", "lavagem". Esses termos estão relacionados a lavagens de purificação

religiosa, principalmente o termo louo, que era o mais comum relacionado a essas

práticas. (BROWN; COENEN, 2000)

A lavagem para a purificação era comum entre os povos antigos do Oriente. [...] acreditavam que certas águas eram impregnadas com o poder da divindade, e que este poder era comunicado a pessoas e objetos imergidos nelas. Apelava-se ao recurso desta lavagem para salvaguardar uma pessoa que se aproximava de uma divindade, tendo em vista o poder da santidade de destruir um homem, e para buscar proteção naquelas ocasiões nas quais as pessoas eram especialmente expostas a ataques demoníacos, sobretudo nas circunstâncias vinculadas com o nascimento e a morte. Quando foi-se mudando a crença religiosa, as lustrações eram espiritualizadas até certa medida, e estendidas na sua aplicação. Assim, a lavagem era exigida antes da oração, no preparo para a iniciação nas seitas religiosas, depois de derramar sangue na guerra, homicídios e crimes de qualquer natureza. (BROWN; COENEN, 2000, p. 186-187)

Outro termo relacionado ao batismo é nipto (νίπτω) que significa "lavar", "quando o

objeto é parte do corpo [...] Em contextos religiosos, nipto comumente se emprega

com a lavagem cerimonialmente das mãos, e antes da oração ou do sacrifício.

(BROWN; COENEN, 2000)

Observando o uso dos termos que se relacionam ao batismo percebe-se que, esta

prática era utilizada por vários povos antigos no sentido de purificação religiosa.

Antes do batismo de João, que posteriormente foi aderido por Jesus e seus

discípulos, outros grupos religiosos utilizavam a mesma prática, como rito de

purificação.

Para os cristãos, o batismo não perde esse efeito. Também representa a purificação

dos pecados. E vai além, como afirma Grudem (1999, p. 816): "[...] as águas do

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batismo simbolizam de fato tanto o lavar e a purificação dos pecados como a morte

e ressurreição com Cristo".

Esta prática gera polêmica entre os próprios cristãos. Para os Católicos, o batismo é

um sacramento, um ato que concede graça aqueles que praticam. Já os

protestantes, principalmente os batistas, objeto de estudo desta pesquisa, recusam-

se a se referir ao batismo como sacramento, mas utilizam o termo "ordenança".

Grudem (1999, p. 814) caracteriza a discussão sobre o batismo como desnecessária

entre os cristãos: "A posição defendida nessa obra é que o batismo não é uma

doutrina "básica" que deva servir de motivo de divisão entre os cristãos genuínos; é,

porém, uma questão relevante para a vida normal da igreja [...]."

Entender como os termos relacionados ao batismo aparecem no Antigo Testamento

e no Novo Testamento é fundamental para se entender o verdadeiro significado do

batismo, além de desfazer as discussões doutrinárias relacionadas a ele.

2.1.1. O Batismo no Antigo Testamento

Na Septuaginta5 o termo bapto é utilizado para traduzir o termo hebraico tabal, que

significa "mergulhar" e aparece treze vezes. Já o termo baptizo é utilizado quatro

vezes para traduzir o termo tabal, principalmente no texto relacionado a purificação

de Naamã no rio Jordão (II Reis 5:14). "[...] parece que baptizo, tanto em contextos

judaicos como nos cristãos, normalmente significava "imergir", e que, mesmo

quando veio a ser um termo técnico para o batismo, o pensamento de imersão

permanece." (BROWN; COENEN, 2000, p. 180)

O termo louo aparece na Septuaginta mais frequentemente no Pentateuco, cerca de

45 vezes, sendo traduzido pelo termo hebraico rahas, que significa banhar, e é

empregado com respeito a purificação ritual. Já o termo nipto aparece na

Septuaginta no sentido de lavagens religiosas seculares, mas também para as

lavagens realizadas pelos sacerdotes judeus durante as cerimônias religiosas.

5 Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica para o grego koiné, traduzida em etapas entre

o terceiro e o primeiro século a.C.em Alexandria.

Page 13: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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Posteriormente, esse costume foi ampliado, incluindo a todos os judeus a exigência

de enxaguarem as mãos antes das refeições.

Para as seitas batizantes judaicas, principalmente a Seita de Cunrã6, os termos tabal

e baptizo não eram utilizados em seus escritos, mas sim rahas que é traduzido com

o termo louo (banhar). "[...] as lustrações de Cunrã tinham um significado mais do

que puramente cerimonial. Quando eram acompanhadas por arrependimento e

submissão à vontade de Deus, eram consideradas como eficazes para a purificação

da impureza moral." (BROWN; COENEN, 2000, p. 180-181).

O termo tabal (bapto/ baptizo) também é utilizado nos escritos relacionados aos

gentios convertidos ao judaísmo no início da era cristã. Estes recebiam a circuncisão

e eram submetidos a um banho ritual, ou o "batismo do prosélito" e ofereciam

sacrifícios. O gentio que resolvesse se tornar judeu tinha como marco principal do

ritual de transição a circuncisão. O banho purificador era uma capacitação para seu

primeiro ato de adoração, que era o sacrifício. (BROWN; COENEN, 2000) Acredita-

se que o batismo dos prosélitos tenha influenciado João e os cristãos primitivos.

Há muito debate quanto à questão de até que ponto a prática e o entendimento do batismo de prosélitos influenciaram o batismo de João batista e o batismo cristão primitivo. As referências mais antigas ao batismo de prosélitos pertencem à segunda metade do século I d.C.. Embora indiquem a probabilidade de a instituição ser pré-cristã, a certeza que manifestam quanto ao significado do rito e especialmente no seu relacionamento à circuncisão, sugerem que sua adoção foi paulatina, e que sua interpretação ainda estivesse num estado de evolução durante o século I d.C. (BROWN; COENEN, 2000, p. 181)

O Antigo Testamento traz outros rituais de purificação relacionados à lavagem com

água. No Dia da Expiação, antes do sacerdote Arão entrar no Santo dos Santos, ele

precisa banhar seu corpo em água, sendo esta uma das condições básicas para a

realização dos sacrifícios. Outras atividades, depois de executadas, exigiam

purificação através da lavagem em água: "depois da relação sexual (Lv cap. 15), da

6 Possíveis autores dos documentos conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. Com base em

referências cruzadas com outros documentos históricos, ela é atribuída aos essênios, uma seita judaica que viveu na região da descoberta e guarda semelhanças com as práticas identificadas nos textos encontradas. O que se sabe é que a comunidade de Cunrã era formada provavelmente por homens, que viviam voluntariamente no deserto, em uma rotina de rigorosos hábitos, opunham-se à religiosidade sacerdotal e esperavam a vinda de um messias.

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menstruação e do parto (Lv cap. 15), depois do contato com a lepra (Lv caps. 13 e

14), e com a morte (Nm 5:1 e segs.; 19:11 e segs.)" (BROWN; COENEN, 2000, p.

187).

Enfim, os termos comuns utilizados para batismo no Novo Testamento também

aparecem no Antigo Testamento, geralmente relacionados a rituais de purificação

tanto de judeus como de convertidos ao judaísmo. Muitas vezes, essas lavagens

eram consideradas suficientes para a purificação moral dos pecados, já que

geralmente eram acompanhadas de arrependimento pelos praticantes. Estas

práticas podem ter influenciado o batismo de João e posteriormente, o batismo

cristão.

2.1.2. O Batismo no Novo Testamento

No Novo Testamento, o termo bapto aparece apenas 4 vezes, geralmente utilizado

com o significado de "mergulhar". O termo técnico para batismo é baptizo. Este

termo é utilizado em todos os Evangelhos, principalmente na narrativa do batismo de

Jesus realizado por João. Nos Evangelhos Sinóticos7, João é descrito como

baptistes (Batista). No livro de Atos, o termo baptizo é quase sempre relacionado ao

batismo cristão. Este termo aparece duas vezes em Romanos, nove vezes em I

Coríntios e em Galatas. Universalmente, o batismo de João e dos cristãos do Novo

Testamento é descrito com o termo baptizo.

O termo baptismos aparece uma vez no Evangelho de Marcos e duas vezes na carta

aos Hebreus. Já o termo baptisma aparece quatro vezes em Marcos, quatro vezes

em Lucas, seis vezes em Atos e duas vezes em Mateus, sempre se referindo ao

batismo de João. Em Romanos, Efésios, Colossenses e I Pedro o termo baptisma é

relacionado ao batismo cristão. Não existe registro deste termo relacionado à

literatura pagã ou judaica. Assim, está intimamente ligado ao batismo de João e dos

primeiros cristãos.

[...] pode ter sido cunhado pelos discípulos de João. Mais plausivelmente: é uma inovação cristã, e foi aplicada ao batismo de

7 Mateus, Marcos e Lucas.

Page 15: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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João pelos escritores cristãos na convicção que este último devesse ser incluído com o cristianismo, e não com o judaísmo." (BROWN; COENEN, 2000, p.185)

É interessante ressaltar que, na primeira e na segunda cartas aos Tessalonicenses,

nas Epístolas Pastorais8 (exceto Hebreus 6:2 e 9:10) e Gerais9 (exceto I Pedro

3:21) e em Apocalipse, os termos grego bapto, baptizo, baptismos e baptisma não

aparecem.

O termo louo aparece cinco vezes no Novo Testamento e não se relaciona ao

batismo de João nem ao cristão. Hebreus 6:22 vai usar o termo para falar da

lavagem do corpo em sinal de purificação. Já o termo apolousai se refere

diretamente a purificação dos pecados através do batismo. O termo aparece em

Atos, I Coríntios e Apocalipse.

O termo loutron, relacionado a louo, aparece duas vezes no Novo Testamento, em

Efésios (5:26) e Tito (3:5), e está relacionado ao batismo, o lavar regenerador e

renovador.

"[...] pode se referir ao banho cerimonial tomado por uma noiva ao se preparar para o batismo [...]. Para a noiva de Cristo [...], o equivalente deste banho é o batismo, no qual os membros do corpo são purificados ‘pela lavagem na água da Palavra’.” (BROWN; COENEN, 2000, p. 188).

Outro termo que designa o batismo, nipto, (lavagem de parte do corpo) aparece no

Evangelho de Marcos (7:2-3), quando os discípulos de Jesus são criticados pelos

fariseus por não se lavarem antes das refeições. Outra alusão a este termo está no

Evangelho de João (cap. 13) na cerimônia do lava-pés.

Observando que a palavra técnica para batismo no Novo Testamento é baptizo, que

significa "mergulhar" ou "imergir", pode-se afirmar que "a pessoa batizada era imersa

ou posta completamente dentro da água e em seguida retirada. Batismo por imersão

é, portanto, o modo ou a forma pela qual o batismo era realizado no Novo

Testamento." (GRUDEM, 1999, p. 815).

8 I e II Timóteo e Tito.

9 Hebreus; Tiago; I e II Pedro; I, II e III João.

Page 16: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

15

Para entender a prática batismal entre os cristãos é preciso retomar ao batismo de

João. Entender o significado do batismo realizado por ele é primordial para entender

o batismo ministrado aos cristãos.

2.1.3 O Batismo de João e a Igreja de Cristo

João, considerado o último profeta judeu, aparece ao povo após anos de silêncio. O

povo vivia sob o domínio romano e aguardava ansioso pelo aparecimento daquele

que os libertaria do julgo pagão. Seu nascimento havia sido profetizado anos antes

por Isaías como "a voz que clama no deserto", aquele que prepararia o caminho

para o Messias10 (Isaías 40:3-5).

O batismo de João era de arrependimento e remissão de pecados. Ele batizaria com

água e prepararia o caminho daquele que batizaria no Espírito e em fogo: o Messias.

Não se sabe ao certo a origem desta prática. "Até o momento ainda não se

encontrou [...] uma teoria satisfatória, sob o ponto de vista da história das religiões,

que explique a derivação do batismo de João." (JEREMIAS, 1977, p. 73)

O sobrenome Batista foi dado pelos escritores dos Evangelhos Sinóticos. O termo ho

baptistes, o Batista, é relacionado a João pelo fato do mesmo realizar um batismo de

purificação naqueles que aceitavam sua mensagem de arrependimento. Além disso,

o batismo de João inaugura um novo estilo de lavagem purificadora, "a novidade de

administrar batismo aos outros, ao invés de se deixarem batizar a si mesmos

conforme acontecia com as abluções do AT11 e no batismo judaico e de prosélitos."

(BROWN; COENEN, 2000, p. 186). "[...] João dá um novo significado ao rito da

imersão ao conclamar o povo ao arrependimento devido a aproximação do Reino

dos céus." (LADD, 2003, p. 61)

10

Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus. Todos os vales serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se tornarão planos; as escarpas, serão niveladas. A glória do Senhor será revelada, e, juntos, todos a verão. Pois é o Senhor quem fala".(Isaías 40:3-5) 11

AT: Antigo Testamento, Bíblia Sagrada

Page 17: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

16

A mensagem pregada por João provocou entre os judeus da época uma grande

reviravolta, visto que os mesmos aguardavam ansiosamente por alguém que falasse

em nome de Deus, um profeta.

A atuação de João, vista no seu conjunto, esteve de acordo com os moldes da tradição profética. Anunciou que Deus estava prestes a agir decisivamente na história para manifestar seu poder real; e que em antecipação a esse grande evento os homens deveriam se arrepender. A evidência de arrependimento seria o submeter-se ao batismo. Isso ele proclamou e executou pela sua própria autoridade profética, em virtude da Palavra de Deus que lhe viera e lhe comissionara. Não e difícil imaginar a excitação que o surgimento de um novo profeta com uma proclamação tão vívida e alarmante como a de João poderia criar. Deus, que por séculos, segundo o pensamento judaico corrente na época, estivera inativo, finalmente, nos dias de João estava tomando a iniciativa de cumprir as promessas dos profetas, a fim de implantar a plenitude do Reino. Aparentemente, as notícias do surgimento de um novo profeta espalharam-se como fogo na floresta seca por toda a Judéia, incitando multidões de pessoas a correrem para o rio Jordão, onde ele estava pregando (Mc. 1:5), a fim de ouvirem sua mensagem e de se submeterem às suas exigências. Depois de muito tempo, Deus havia suscitado um profeta para declarar a vontade divina ao povo (Mc 11:32; Mt. 14:5) (LADD, 2003, p. 55)

Dentre os muitos que aceitaram o batismo de João está o próprio Jesus, que era

primo de João. Eles se encontraram no momento do batismo do Messias. O

Evangelho de Lucas afirma que muitos judeus acreditavam ser João o Messias, ideia

recusada pelo mesmo (Lucas 3:15-17). Quando Jesus se apresenta a João para ser

batizado, algo sobrenatural acontece: o céu se abre, o Espírito Santo desce em

forma de pomba e ouve-se uma voz reconhecendo que aquele que estava sendo

batizado era o filho de Deus (Lucas 3:21-22). O batismo de Jesus inicia seu

ministério público e se tornará uma ordenança aos cristãos.

Quando Jesus apresentou-se a João para ser batizado, João reconheceu que estava na presença de uma pessoa que diferia em qualidade dos outros seres humanos. Jesus não tinha pecados a confessar e tampouco tinha algum sentimento de culpa que o levasse ao arrependimento. Não podemos dizer se o reconhecimento de João a respeito da impecabilidade de Jesus foi baseado em um diálogo em que lhe tenha feito algumas perguntas, ou somente pela iluminação profética. Provavelmente, houve a atuação de ambos os elementos. De qualquer forma, João estava convencido de sua própria pecaminosidade em comparação com a impecabilidade de Jesus. (LADD, 2003, p. 63)

Page 18: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

17

A realização do batismo de Jesus por João é a comprovação de que o Messias

sabia que o ministério do Batista vinha de Deus. Os escritores dos Evangelhos

Sinóticos reconheciam isto, tanto que, utilizaram o mesmo termo, baptizo, para

designar o batismo de João e o batismo dos primeiros cristãos. Além disso, uma das

ordenanças dadas por Jesus aos seus discípulos foi a do batismo:

Os onze discípulos foram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram o adoraram; mas alguns duvidaram. Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos. (Mateus 28:16-20)

O batismo então está dentro da ação redentora de Jesus. Ao se submeter ao

batismo de João, Cristo mostra que ele se humilhou em solidariedade aos homens

pecadores. Também mostra o reconhecimento do ministério de João. "Ele introduziu

os tempos da salvação." (JEREMIAS, 1997, p. 79) Ao mesmo tempo, João

encerrava o tempo da Lei.

Jesus quis dizer que João é o maior dos profetas; na realidade, ele é o último dos profetas. Com ele, a era da Lei dos profetas havia chegado ao seu fim. A partir dos dias de João, o Reino de Deus está operando no mundo, e o menos nesta nova era desfruta e conhece bênçãos maiores que as desfrutadas por João, porque participa de uma nova comunhão pessoal com o Messias e das bênçãos que este fato confere. João é o arauto, pois assinalou que a antiga era havia chegado ao seu fim e a nova era estava irrompendo no horizonte. (LADD, 2003, p. 62)

Os ministérios de João e de Jesus, ao mesmo tempo em que se completam, se

opõem. João é o último profeta, encerra o período da Lei dada por Deus a Moisés.

Ao mesmo tempo, é o profeta que prepara o caminho para o tempo da Graça, a voz

que clama ao arrependimento e a mudança de vida proporcionada pelo Messias.

Jesus reconhece o ministério deste profeta, aceita seu batismo, mesmo não tendo

pecado, e ainda o coloca como ordenança para seus seguidores.

Pois, por muito que Jesus tenha em comum com João e por certo que seja que ele tenha visto em João o elo entre a era antiga e a nova, permanece uma fundamental diferença entre o Batista e ele,

Page 19: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

18

que os homens do tempo [...] perceberam muito claramente: João é um asceta, ao passo que Jesus é um homem aberto ao mundo. João prega: O julgamento está às portas, convertei-vos! Jesus porém prega: A basiléia12 de Deus está a irromper-se, vinde vós, que estais cansados e sobrecarregados. O Batista fica no quadro da espera, ao passo que Jesus pretende ser o portador do cumprimento. O Batista ainda se situa no campo da Lei, e com Jesus começa o Evangelho. (JEREMIAS, 1977, p. 81)

Seguindo o exemplo do próprio Jesus e uma ordenança do mesmo, os primeiros

cristãos realizavam o batismo naqueles se convertiam. "O batismo é batismo de

conversão, é administrado em nome de Jesus Cristo [...] é ‘para perdão dos

pecados’ e tem em vista o dom do Espírito Santo." (BROWN; COENEN, 2000,

p.182).

O apóstolo Paulo interpreta o batismo como união com Cristo. "O simbolismo da

união com Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição [...]" (GRUDEM, 1999,

p. 815) Marca o fim da vida pecadora e o início da vida com Cristo. "O batismo em

Cristo é batismo para a igreja, porque estar em Cristo é ser membro do corpo de

Cristo [...] é batismo no Espírito de Cristo [...], pois o Espírito e Cristo são

inseparáveis." (BROWN; COENEN, 2000, p. 182-183)

O batismo então é um símbolo externo para um acontecimento interno. A conversão

dos homens era confirmada na atitude do batismo, representando uma mudança de

vida nos que aceitavam tal prática. O batismo não significava que o praticante do

mesmo estava inserido em uma igreja, mas sim que o mesmo estava inserido no

Corpo de Cristo, como um cristão que aceitara a mensagem de Cristo e resolvera

mudar de vida.

Entender o verdadeiro significado do batismo é importante para entender a origem

da Igreja Batista. Os primeiros batistas viam no batismo a prova de uma mudança de

vida dos que o praticavam. Rebatizavam por acreditar no simbolismo que o batismo

confere, de morte para o pecado e vida para Cristo. Não entendiam como um

sacramento, mas como um símbolo, uma ordenança deixada por Jesus aos que

entendiam sua mensagem.

12

Basiléia: Reino (grego koinê)

Page 20: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

19

2.2 As teorias sobre a origem dos batistas

A origem dos Batistas é cercada de hipóteses e romantismo, porém, com pouca

fundamentação histórica, podendo ser chamada de "pré-história" dos batistas por

tratar de suposições sobre a origem dos mesmos. Como igreja organizada, os

batistas surgiram no século XVII, mais especificamente em 1610, com a fundação da

primeira Igreja Batista de língua inglesa na Holanda, fundada por John Smith.

Porém, alguns historiadores batistas tentam relacionar a origem desta denominação

ao período neotestamentário. O nome "batista" vem da defesa do batismo. Uma

pessoa ao crer em Cristo e dar sua pública profissão de fé era imersa as águas

batismais, em respeito e cumprimento à ordenança bíblica. O batismo simboliza a

morte e ressurreição de Cristo. Assim batistas são "os que batizam".

O problema é que, não existe comprovação histórica desta ligação. Então, assim

como na história secular o período anterior a invenção da escrita é chamado de Pré-

História, visto a dificuldade das pesquisas pela ausência de documentos que

comprovem verdadeiramente os acontecimentos daquele período, este período da

história dos batistas pode ser assim denominado, pois, tudo o que existe são

suposições dos escritores sobre o assunto.

Desde os tempos neotestamentários até a fundação da primeira igreja batista no

século XVII, o que existem são confabulações de escritores tentando manter uma

ligação entre a Igreja Primitiva e a Igreja Batista Moderna, passando por grupos

separatistas da Igreja Romana desde o século IV até o século XVI, século em que

ocorreu a Reforma Protestante.

Porém, para se entender a origem dos Batistas no mundo é preciso analisar as

teorias que tentam explicar o surgimento da mesma. Segundo Pereira (1987, p.9), "a

primeira é a teoria JJJ ou Jerusalém-Jordão-João. A segunda é a do parentesco

espiritual com os anabatistas do século XVI. E a terceira é a teoria da origem dos

separatistas ingleses do Século XVIII." Todas essas teorias fundamentam-se na

prática do batismo por imersão, realizada pelos primeiros cristãos e que representa a

característica principal dos batistas.

Page 21: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

20

2.2.1 Teoria JJJ (Jerusalém-Jordão-João)

Segundo essa teoria, os batistas vem em linha ininterrupta desde os tempos do

profeta João Batista. Este realizava batismos no rio Jordão, batizando o próprio

Cristo, como relatado no Capítulo 3 do Evangelho de Mateus. (PEREIRA, 1987)

Após a ressurreição, Jesus Cristo ordenou aos seus discípulos que continuassem a

praticar o batismo iniciado por João Batista.

Assim, a prática do batismo se tornou comum entre os primeiros cristãos. Logo após

a vinda do Espírito Santo em Pentecoste, o apóstolo Pedro inicia uma pregação que

tem como resultado três mil conversões (Atos dos Apóstolos 2). Em um dos trechos

do sermão, o apóstolo afirma que, os arrependidos serão batizados em nome de

Jesus.

"Pedro respondeu: 'Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo'. Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas." (Atos dos Apóstolos 2:38;41)

Segundo Pereira (1987), o ingresso de membros nas igrejas primitivas se dava por

meio do batismo, fazendo com que muitos defendam que as primeiras igrejas cristãs

eram igrejas batistas. Fundamentam esse pensamento comparando a doutrina da

Igreja Batista atual a doutrina utilizada pela Igreja Neotestamentária. Pereira (1987)

afirma ainda que, a igreja primitiva tinha os seguintes pilares em sua doutrina: Deus

(um só Deus manifestado na Trindade e alcançado pelos fiéis); Escrituras (fontes da

Revelação divina); Jesus Cristo (Salvador e Filho de Deus); Salvação (efetuada pela

fé) e Igreja (comunidade de fiéis). "[...] as doutrinas fundamentais das igrejas cristãs

primitivas e reafirmamos que as igrejas batistas modernas têm essas mesmas

doutrinas." (PEREIRA, 1987, p.15)

Porém, essa relação não pode ser considerada verdadeira apenas por essa

comparação, visto que as igrejas reformadas surgidas a partir do século XVI

buscavam inspiração no ensino de Jesus e no modelo doutrinário da Igreja Primitiva

para se organizarem.

Page 22: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

21

Seguindo com a teoria de uma ligação João Batista e os Batistas modernos, três

movimentos cristãos surgidos entre os anos 100 e 323 d.C. são relacionados aos

batistas: montanistas, novacianos e donatistas. Pereira (1987) discorda dessa ideia,

apesar de encontrar semelhanças. os movimentos denominados Montanismo,

Novacianismo e Donatismo, movimentos que muitas vezes são até apresentados

como os Batistas da idade primitiva. Há grave engano, entretanto, nisso. O exame

dos referidos movimentos nos leva a classificá-los como cisões verificadas em

igrejas cristãs de determinados lugares, não se pretendendo, entretanto, essas

cisões a questões doutrinárias sérias. Não eram reação contra abusos e desvios

doutrinários.

Após o primeiro século depois de Cristo, o ensino dos apóstolos começou a ser

desviado dos seus propósitos. Bretones afirma que, "na verdade, antes mesmo da

morte do último dos apóstolos já havia sinais evidentes de corrupção e degeneração

doutrinária. Basta verificar isto nos últimos documentos do Novo Testamento."

(BRETONES, 1948, p.15)

No ano de 313, o imperador romano Constantino converte-se ao cristianismo

tornando-o parte do Império. Então, "Constantino promove o casamento entre o

cristianismo e o Império Romano com um objetivo duplo que favorecia a ambos, isto

é, um império universal e uma igreja também universal." (BRETONES, 1948, p.15).

O termo "católica", dado à Igreja por Inácio, um dos pais da Igreja, no primeiro

século, aparece com o sentido de "universal". Essa ideia coincide com as intenções

de Constantino de universalizar o cristianismo.

Inicia-se um processo de fusão entre o cristianismo e o paganismo. Para Pereira

"[...] parece-nos que, realmente, a explicação principal é que os cristãos não

souberam resistir as influências pagãs que os cercava por todos os lados."

(PEREIRA, 1987, p. 23) O sincretismo religioso ocorrido com a institucionalização do

cristianismo, foi sim, imposta pelo Império Romano, porém, em boa parte das

igrejas, esse processo foi apenas a culminância de algo que já ocorria há tempos.

Desde o segundo século, a igreja cristã iniciou um processo de corrupção de suas

doutrinas e valores. Passaram a cometer erros como o desenvolvimento do

Page 23: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

22

episcopado, o sacramentalismo, o sacerdotalismo, e a salvação pelas obras como a

base doutrinária da Igreja. A intervenção de Constantino só homologou esses erros.

Os montanistas, novacianos e donatistas surgem como uma reação ao catolicismo.

Não pretendiam levar a igreja a um retorno da doutrina pregada pelos apóstolos,

mas, se posicionavam como oposição a nova religião oficial do império: "[...] Muito

longe de ser um retorno ao cristianismo primitivo ou uma apresentação antecipada

da posição batista, continha os germens de muitos erros do catolicismo romano"

(NEWMAN apud BRETONES, 1948, p. 16-17).

Sucedendo estes grupos, antes do século X, outros apareceram também em

oposição ao catolicismo. Considerados hereges, mesmo nos dias de hoje, os

maniqueus, os paulicianos, os cátaros, os bogomilos e os albiginses são apontados

por muitos historiadores como antecessores dos batistas (BRETONES, 1948). Isso

porque, nesses grupos, era realizado o batismo por imersão. Porém, colocar estes

grupos como antecessores dos batistas a apenas pela questão do batismo por

imersão é inválido, já que, os argumentos são poucos.

A partir do século XII vão aparecer dentro da Europa movimentos que

verdadeiramente irão apresentar uma oposição concreta ao catolicismo. Indignados

com a corrupção da Igreja Católica, os pré-reformadores vão começar a se opor a

doutrina dominante na época. Newman e Vedder classificam estes pré-reformadores

de "anti-pedobatistas", ou seja, os que se recusavam a realizar o batismo infantil

(BRETONES, 1948). Pedro Bruys, Henrique de Lausanne, Arnaldo de Brescia,

Berengário e Pedro Valdo vão se destacar como pré-reformadores e questionadores

da doutrina católica.

No exame de suas doutrinas, verificamos que eles só batizavam adultos capazes de manifestar sua fé; não criam na presença real do Corpo de Cristo na eucaristia; não tinham imagens nem cultuavam a Virgem Maria e os santos; só reconheciam, em matéria de fé e costumes a autoridade das Escrituras. (PEREIRA, 1987, p. 43)

Muitos historiadores relacionam estes movimentos à Igreja Batista moderna apenas

por serem contrários ao batismo infantil. Porém, esse argumento se mostra fraco, se

outros critérios forem analisados. A primeira Igreja Batista fundada no século XVI

Page 24: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

23

pode sim ter recebido influência destes movimentos, porém, não existe nada que

ligue esses movimentos.

O mal de alguns historiadores batistas é julgar do valor histórico dos movimentos reformistas levando em consideração, principalmente, a questão do batismo. [...] Sua bravura e destemor só nos podem merecer a mais profunda admiração. Mas nem por isso devemos ir ao extremo de os classificar como antepassados dos batistas. (BRETONES, 1948, p.28-29)

Sucedendo estes movimentos surgem os Anabatistas, movimento anterior ao

período da Reforma Protestante. Estes também são apontados, erroneamente,

como predecessores dos Batistas modernos, sendo a segunda teoria defendida para

explicar o surgimento da Igreja Batista.

Enfim, defender a ideia de uma ligação ininterrupta entre João Batista e os Batistas

modernos é extremamente equivocado: Não existe nenhuma denominação cristã

moderna que tenha uma ligação ininterrupta com os apóstolos Neotestamentários.

"[...] Sucessão apostólica visível, coisa que em absoluto não existe em nenhum ramo

o cristianismo. A única sucessão apostólica possível é a que se circunscreve ao

terreno das doutrinas e da fé". (BRETONES, 1948, p. 30)

Assim, por mais romântico que pareça acreditar que os Batistas são descendentes

do profeta João Batista, essa ideia é pura ilusão. Nenhuma denominação moderna,

como defende Bretones, poder ser analisada pelo ponto de vista da sucessão

apostólica. Exceto pelas doutrinas e pela fé. Porém, visto que, as igrejas reformadas

tinham por característica principal o estudo das Escrituras, fica evidente que as

mesmas basearam sua doutrina e fé nas ordenanças de Cristo e na mensagem dos

apóstolos.

2.2.2 Teoria da Ligação Espiritual com os Anabatistas

O Anabatismo foi um movimento surgido na Europa antes da Reforma Protestante.

Tinham como principal característica o re-batismo daqueles que se mostravam

favoráveis a sua doutrina. Eram contrários ao catolicismo e, durante a Reforma,

também se apresentaram como opositores aos Reformadores. Por serem contrários

Page 25: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

24

aos católicos e aos reformadores, todos os que se mostravam contrários a estes

dois movimentos eram taxados de anabatistas. (PEREIRA, 1987)

Muitos, então, recebiam o título de "anabatistas" sem serem necessariamente parte

do movimento. Segundo Pereira, "durante três séculos e meio foram

responsabilizados pelos excessos da Revolta dos Camponeses e pela loucura do

chamado Reino de Münster13." (PEREIRA, 1987, p. 54)

Os anabatistas surgiram em diferentes pontos do continente europeu durante o

século XVI. Primeiramente, apareceram na Alemanha e Suíça, mas espalharam-se

pela Itália, Holanda, Morávia14 e Inglaterra.

Os anabatistas suíços eram conservadores e pacíficos. Já os anabatistas alemães

eram revolucionários e radicais. Doutrinariamente, os anabatistas se dividem nos

seguintes grupos: anabatistas chiliásticos, anabatistas bíblicos, anabatistas místicos,

anabatistas panteístas e anti-trinitarianos. (BRETONES, 1948)

Apesar de estarem divididos em vários grupos, alguns pontos doutrinários

convergiam entre os anabatistas:

a) sustentavam que as igrejas deveriam ser compostas exclusivamente de pessoas regeneradas; b) repeliam o batismo infantil por falta de base bíblica e pelas exigências de regeneração; c) opunham-se à união da igreja com o Estado; d) repudiavam a

13

Tudo começou em 1530, quando Melchior Hoffman começou a pregar sermões apocalípticos em Estrasburgo anunciando a vinda literal e iminente do reino de Deus. Após três anos de pregação incessante, as autoridades o lançaram na prisão, mas os seus seguidores, os melquioritas, surgiram por toda parte. Um deles foi Jan Matthys, um padeiro de Haarlem, na Holanda. Proclamando ser Enoque, a segunda testemunha do livro do Apocalipse, ele começou a pregar de maneira agressiva e a enviar grupos de seguidores através dos Países Baixos. Dois deles, Jan van Leyden e Gerard Boekbinder, foram para Münster, onde o principal pregador da cidade, Bernhard Rothman, estava pregando idéias anabatistas a grandes multidões. Ouvindo as notícias, Matthys teve a visão de que Münster deveria ser o local da Nova Jerusalém e mudou-se para aquela cidade com os seus seguidores. No início de 1534, após a fuga de parte da população católica e luterana, Matthys assumiu o controle da cidade. Iniciou-se um período de repressão que visava “purificar” a cidade, com rebatismos forçados, confisco de propriedades, queima de livros e a execução de um ferreiro pelo próprio Matthys. No domingo de Páscoa de 1534, acompanhado de alguns seguidores, Matthys atacou o exército do bispo que estava acampado fora da cidade, sendo imediatamente morto e decapitado. Jan van Leyden assumiu a liderança, ungiu a si mesmo rei, instaurou um reino de terror e introduziu inovações como a poligamia. No dia 25 de maio de 1535, o exército do bispo invadiu a cidade e matou quase todos os habitantes. Leyden e dois companheiros foram torturados até a morte com ferros em brasa. A esperança de uma Nova Jerusalém havia terminado em tragédia. 14

Parte Oriental da República Checa

Page 26: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

25

guerra e a pena de morte; e) defendiam o livre arbítrio; f) consideravam a Ceia do Senhor como um ato solene de que só podiam participar os regenerados e batizados. (BRETONES, 1948, p.33)

Por sua doutrina mais radical, foram perseguidos por católicos e por protestantes.

"Perseguidos pelo romanismo, de que eram naturais adversários, e espezinhados

por Lutero, Zwinglio e Calvino, pela simples razão de discordarem das ideias de

união da igreja com o Estado [...]" (BRETONES, 1948, p.32).

Assim, muitos líderes acabaram sendo assassinados por católicos e por

protestantes. Muitos historiadores batistas teimam em relacionar os dois

movimentos, visto que os anabatistas se mostravam contrários a corrupção da Igreja

Católica e aos erros das igrejas reformadas. Porém, essa ligação é um grande erro

historiográfico.

[...] não se pode, a rigor, afirmar que os anabatistas do século dezesseis foram os precursores dos batistas modernos. [...] É um erro grave e comprometedor, especialmente num homem culto, querer traçar a história dos batistas desde os primórdios do cristianismo passando por todos esses movimentos de reação ao romanismo.[...] Para ser batista, basta ler o Novo Testamento e viver suas doutrinas na singeleza e significação das mesmas. (BRETONES, 1948, p.35-37)

Enfim, o que se tem de concreto sobre a Igreja Batista moderna são os registros da

Igreja fundada por John Smith e Thomas Helwyns no século XVI. Essa igreja se

espalhou pelo mundo e consolidou a denominação batista. Desmistificar essa ideia é

importante para a construção de uma identidade batista, tendo como ponto

fundamental não uma ligação ininterrupta entre os apóstolos e os batistas modernos,

ou entre estes e os anabatistas, mas sim baseada em fatos reais, aceitando as

influências desses movimentos, mas entendendo as diferenças entre os mesmos.

2.2.3 Teoria dos Separatistas Ingleses do século XVI

A terceira teoria é a mais aceita entre os historiadores e também a mais coesa das

três. Isso porque é a que conta com a maior quantidade de fontes históricas

disponíveis. "A Convenção Batista Brasileira se alinha à visão da terceira corrente,

Page 27: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

26

mas reconhece a influência Anabatista em sua trajetória". (GONÇALVES, 2012,

p.25)

As outras duas teorias, que são a JJJ e a ligação espiritual com os Anabatistas, são

baseadas na tradição batista, não em fontes históricas concretas. Mesmo sendo

defendidas por historiadores cristãos como possíveis origens da igreja batista, as

mesmas não tem como ser comprovadas historicamente, como já foi escrito

anteriormente. Assim, sustenta-las torna-se complicado para quem deseja realizar

um trabalho histórico sério sobre os batistas.

Segundo essa teoria, "os batistas se originam dos separatistas ingleses,

especialmente aqueles que eram congregacionais na eclesiologia e insistiam na

necessidade do batismo somente de regenerados" (PEREIRA, 1987, p.10). Para

entender o surgimento deste grupo dentro da Inglaterra, é preciso analisar a

situação política e religiosa deste país no século XVI.

2.2.4 Os Primeiros Batistas

A Inglaterra no século XVI era um barril de pólvora político e religioso. Isso porque,

em 1539, o Rei Henrique VIII rompe com a Igreja Católica e cria a Igreja Anglicana,

aderindo ao movimento da Reforma Protestante. Diferente das outras igrejas

surgidas na Reforma, a Luterana e a Calvinista, que apresentavam questionamentos

teológicos, a Igreja Anglicana apresenta interesses políticos e não religiosos. Isso se

comprova com a aprovação pelo Parlamento Inglês do Ato de Supremacia, em 1534,

tornando o rei líder da Igreja Inglesa.

Apesar do rei Henrique VIII ter se tornado líder da igreja, a Inglaterra não entendia

muito bem esse problema religioso. E conflitos vão acontecer entre protestantes e

católicos por conta disso. A morte de Henrique VIII coloca no trono sua filha Maria,

que era católica. Esta restaura o catolicismo dentro da Inglaterra. Seu reinado,

porém, dura pouco, assumindo Elizabeth I, que era anglicana. Esta inicia uma

perseguição aos católicos, que eram seus maiores opositores políticos. Com leis

rígidas, Elizabeth consegue manter uma trégua religiosa em seu reinado, mas que

não durará muito tempo.

Page 28: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

27

O rompimento com a Igreja Católica serve de estopim para o surgimento de grupos

religiosos reformados dentro do território inglês. Dentre estes, um que se destaca

são os Puritanos, que aparecem neste período de conflito religioso entre

protestantes e católicos. Este grupo surge dentro do anglicanismo, mas inspiravam-

se na teologia de João Calvino. Pereira mostra que os puritanos "[...] aceitavam a

doutrina oficial da Igreja Anglicana, mas não toleravam as pompas cerimoniais e o

relaxamento dos costumes. Adotavam uma forma rígida de cristianismo [...]"

(PEREIRA, 1987, p.67)

Dentro do Puritanismo, houve dois grupos: um chamado conformista, que tentou mudar a igreja sem sair dela, e outro não-conformista, que se cansou em tentar a reforma da Igreja Anglicana, e terminou por se separar, surgindo assim os independentes ou separatistas ingleses. Estes, [...] orientaram uma forma de igreja congregacional, onde proclamava a autonomia da igreja local, quando todos se reorganizavam mediante um novo convênio, dando ênfase à fidelidade a Jesus Cristo e aos ensinos das Escrituras Sagradas. (OLIVEIRA, 1997, p.28)

Por se posicionarem contra o Anglicanismo de Elizabeth, os puritanos, conformistas

e separatistas, foram perseguidos por esta rainha, visto que, se mostravam como

inimigos políticos da mesma. A morte de Elizabeth deixou a Inglaterra sem

herdeiros. Assume então a dinastia escocesa dos Stuarts, que eram católicos, mas

aceitavam o anglicanismo. Reinaram nesse período Jaime I e Carlos I, que

continuaram a realizar intensas perseguições religiosas, ao contrário do que se

acreditava, contra todos os que propunham ideias religiosas contrárias a católicos e

protestantes. As perseguições religiosas, principalmente contra puritanos e

separatistas, que eram desde o final do século anterior considerados como traidores,

rebeldes, arrogantes e fora da lei, ou mesmo maiores inimigos do Governo do que

os papistas15.

Em meio a estas perseguições religiosas contra os puritanos e os separatistas vão

surgir os dois primeiros líderes batistas: John Smyth e Thomas Helwys. Eles serão

os responsáveis pela organização da primeira igreja batista. "Depois de 1610 há

15

Católicos defensores do Papa.

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28

uma sucessão ininterrupta de Igrejas Batistas, estabelecidas com provas

documentais que não deixam dúvidas." (GOLÇALVES, 2012, p. 24)

Neste ambiente foi que surgiu a primeira igreja batista, cujo primeiro pastor foi John Smyth, que tinha formação teológica em Cambridge. Ele contou com um auxiliar muito importante, que era leigo e também advogado, Thomas Helwys. Eles, que antes eram anglicanos, tornaram-se seguidamente puritanos, separatistas e finalmente batistas. Quando aderiram a posição separatistas, no reinado de Tiago I16, decidiram fugir com todos os homens da Igreja para a Holanda, onde havia tolerância religiosa. Lá encontraram outros grupos evangélicos, inclusive o dos menonitas que [...] provinham do movimento anabatista do século 16. Contudo, deles diferiam em vários aspectos, inclusive teológicos, pelo que ao se convencerem de que o batismo correto é o de crentes, rejeitando o batismo infantil, formaram uma igreja própria, sempre no ideal de restituir a igreja neotestamentária em toda a sua inteireza. Assim nasceu a primeira igreja batista. (OLIVEIRA, 1997, p. 29-30)

Funda-se assim a primeira igreja batista moderna. Liderada por John Smyth e

Thomas Helwys, ela nasceu na Holanda m 1609 e é a primeira igreja de língua

inglesa. A união entre os dois líderes não durou muito tempo. Isso, por que, Smyth,

após realizar vários estudos sobre o batismo, percebeu que, o batismo que ele e sua

congregação foram submetidos na infância era desprovido de valor. Decide então

rebatizar toda comunidade e a si mesmo.

Smyth pede a Helwys que o batize, porém o mesmo recusa o pedido. Ele então,

rebatiza a si mesmo e depois aos outros membros. Esse auto-batismo gerou

escândalo entre os grupos religiosos de Amsterdã. Os menonitas questionaram o

fato de Smyth ter batizado a si mesmo e não procurado um ancião para receber o

novo batismo. Isso fez com que Smyth questionasse sua atitude, aproximando-o dos

menonitas holandeses.

Helwys, seu discípulo, discordou desta atitude de Smyth, o que resultou na

separação entre os mesmos. "A maior parte, constituída de 32 pessoas,

acompanhou Smyth, pedindo filiação aos menonitas, enquanto somente 10 ou 12

permaneceram com Helwys." (OLIVEIRA, 1997, p.39). Helwys então decide retornar

a Inglaterra, e com mais doze companheiros fundam a primeira igreja batista em solo

16

Ou Jaime I.

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29

inglês. "O ano de 1612 é notável para os batistas, porque nele estabelecida a

primeira congregação batista em solo inglês, em Spitafields." (OLIVEIRA, 1997,

p.41). Smyth morre anos depois na Holanda e sua igreja se mistura aos menonitas.

O que levou Smyth e Helwys a Holanda para fundarem sua igreja foi a fuga das

perseguições religiosas. Esses princípios eram defendidos pelos separatistas,

fazendo com que os mesmos sofressem punições severas sobre seus princípios

religiosos. Em 1612, Helwys escreve um livro reivindicando liberdade religiosa, com

o título "Uma Breve Declaração sobre o Ministério da Iniquidade", e isto o leva a

prisão, onde fica até sua morte em 1615. A igreja fundada por ele passa a ser

dirigida por John Murton, que dá prosseguimento ao trabalho fundado por Helwys.

Entre os anos de 1633 e 1638, surge outro grupo de batistas dentro da Inglaterra,

conhecidos como Particulares. Baseavam-se na doutrina Calvinista. Dois grupos de

batistas então se fazem presentes em solo inglês: os batistas gerais e os batistas

particulares.

As perseguições religiosas ocorridas no reinado de Jaime I e Carlos I levaram a

Inglaterra guerra civil, conhecida como Revolução Puritana, onde os puritanos

liderados por Oliver Cromwell assumiram o governo inglês. Foram doze anos de

liberdade religiosa para os batistas. Em 1660 a monarquia inglesa é restaurada e

Carlos II, filho de Carlos I, assume o reino inglês. Ele e seu sucessor, Jaime II, seu

irmão, retornaram as perseguições religiosas.

As perseguições só chegaram ao fim com a Revolução Gloriosa, em 1688, quando

os Stuarts deixam o poder e assume Guilherme de Orange, genro de Jaime II. Em

1689 é publicado um edito de tolerância religiosa, e a igreja batista inglesa goza de

tranquilidade e liberdade religiosa. Por defenderem a liberdade religiosa, os batistas

foram perseguidos.

A grande diferença no terreno da liberdade religiosa, entre os batistas e os demais grupos, é que aqueles jamais perseguiram quem quer que fosse por motivo de ideia, crença religiosa ou modo de vida. A história dos batistas, neste particular, não apresenta uma discrepância se quer. É pura e cristalina. Como observa John Locke: 'Os batistas foram os primeiros propugnadores da liberdade absoluta

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- liberdade justa, real, imparcial'. E com todo peso de sua autoridade afirma o grande historiador norte-americano Bancroft: 'A liberdade de consciência, plena liberdade de pensar, é desde o princípio um troféu dos batistas." (BRETONES, 1948, p.46)

As perseguições religiosas impulsionaram os batistas ingleses a saírem da Inglaterra

e se espalharem pelo mundo, chegando ao continente americano. Esse

acontecimento marca uma nova página na história dos batistas, espalhando-os por

vários lugares do mundo.

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3 OS BATISTAS CHEGAM A AMÉRICA: ESTADOS UNIDOS E BRASIL

As perseguições religiosas dentro da Europa impulsionaram muitos protestantes a

fugirem de seus países de origem, migrando para locais onde poderiam professar

sua fé com liberdade. Dentro da Inglaterra, onde a Reforma Protestante foi muito

mais política que teológica, os que professavam uma fé diferente dos reis tiveram

que fugir, para não serem mortos.

Um dos destinos destes grupos foi o continente americano, que acabara de ser

descoberto e estava em processo de colonização. Os locais que eram interessantes

aos europeus eram as regiões mais quentes, o Caribe e a América do Sul. Além do

ouro e prata encontrados, haviam produtos tropicais nestes locais valiosíssimos na

Europa.

A América do Norte, por ter um clima frio, foi deixada de lado. Assim, os fugitivos das

guerras religiosas viram neste local uma alternativa para professarem sua fé.

Enxergando neste lugar a "Terra Prometida", migraram e ajudaram a fundar as

colônias inglesas na América, dando origem ao Estados Unidos da América, país de

grande destaque internacional.

A influência religiosa nessas colônias, e em seguida no país recém-formado, fez com

que os cristãos batistas estadunidenses tivessem influência para realizar missões

pelo mundo. Enviaram missionários para vários lugares do mundo, inclusive para o

Brasil. Os Batistas consolidam seu trabalho no continente americano.

3.1 Os Batistas nos Estados Unidos

As mesmas perseguições religiosas que impulsionaram o surgimento da Primeira

Igreja Batista Moderna, na Holanda, levaram os protestantes a se espalharem pelo

mundo. Outro local escolhido pelos perseguidos religiosos na Inglaterra foram as

colônias na América do Norte, que estavam em processo de colonização.

[...] a perseguição contra os dissidentes no tempo do rei Jaime I obrigou muitos a abandonarem a Inglaterra. Muitos foram para a

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Holanda, porém o mais famoso desses grupos de fugitivos preferiu ir para a América do Norte, cuja colonização estava nos seus começos. Esse grupo era o dos "Pilgrim Fathers", os Pais Perseguidos, que fretou um pequeno navio, o "May-Flower", e desembarcou nas costas do atual Estado norte-americano de Massachussetts em 1620. Os Pais Peregrinos chamaram aquela região em que se estabeleceram a Nova Inglaterra, saudosos que estavam do torrão natal, apesar de toda a perseguição. Ali se estabeleceram e ali prosperaram. Cidades, depois famosas, foram iniciadas, como Boston e Salem. Religiosamente eram congregacionais e, conquanto vítimas da intolerância religiosa, ali organizaram um sistema intolerante também: só podia fazer parte da Colônia quem professasse a mesma religião. A Nova Inglaterra era uma teocracia. (PEREIRA, 1987, p. 73)

As perseguições na Inglaterra continuaram após a morte de Jaime I. Seu filho,

Carlos I manteve as perseguições religiosas com ainda mais dureza que seu

antecessor. Mediante essas perseguições, outros grupos religiosos continuaram

fugindo da Inglaterra, buscando liberdade para professar sua fé. Entre estes estava

Roger Williams, jovem pastor formado pela Universidade de Cambridge, que chegou

a Boston em 1631. (PEREIRA, 1987). "Aceitou [...] o pastorado de uma Igreja; mas,

as autoridades da colônia não se simpatizavam com ele, porque o jovem pastor

desaprovava a união da Igreja com o Estado." (FARIAS, 1991, p.07)

Foi banido pelos religiosos de Boston, ficando um tempo com os índios norte-

americanos. Fundou uma colônia em Rhode Island, batizando-a de Providence. "O

governo dessa colônia foi o primeiro no mundo a estabelecer o princípio de liberdade

religiosa absoluta [...] e foi por fim incorporada à Carta de Constituição da Colônia

Charles II em 1663." (FARIAS, 1991, p.08)

Após estudos das Escrituras, resolveu realizar na sua congregação o batismo por

imersão. Primeiro, realizou o seu batismo, executado por um dos membros de seu

grupo e, em seguida, batizou os outros membros. Assim, "foi organizada a primeira

Igreja Batista em solo americano", em 1639. (PEREIRA, 1987, p.74)

Porém, não se sabe com certeza se, a Igreja de Providence foi de fato a primeira

Igreja Batista no continente americano. Isso porque, no mesmo período, outra igreja

era fundada, no entanto, não existem documentos suficientes que comprovem ser

esta batista desde sua fundação ou não. Esta outra igreja tem por fundador John

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Clarke, um médico que também emigrou para a América do Norte fugindo de

perseguições religiosas.

Clarke também enfrentou problemas com os colonos da Nova Inglaterra, mudando-

se para a Rhode Island, onde fundou o núcleo de Newport e estabeleceu uma igreja.

Pouco se sabe sobre esta igreja fundada, porém, em 1648, a mesma tinha moldes

batistas, com aproximadamente 15 membros.

Essas igrejas impulsionaram o crescimento dos batistas nas colônias da América do

Norte. Na Filadélfia, fundada por perseguidos religiosos, "[...] uma igreja batista foi

organizada em Pennepk, que hoje é parte da cidade de Filadélfia, em 1688."

(PEREIRA, 1987, p. 76).

As Igrejas Batistas se multiplicaram nas colônias. Esse rápido crescimento se verificava como resultado do exame imparcial do Novo Testamento que punha evidente os erros de doutrina nos quais laboravam outras seitas; também por aqueles que buscam na América a liberdade que não gozavam em suas pátrias e por aqueles que se debatiam pela separação entre Igreja e Estado. (FARIAS, 1991)

Esse crescimento batista resultou na criação da primeira Associação Batista norte-

americana, em 1707, na Filadélfia. No século XVII, os batistas das colônias inglesas

na América experimentaram um crescimento que não foi visto no século XVIII.

Porém, estes continuaram com sua importância dentro das colônias, não apenas

religiosa, mas também política. Em 1781 surgem os Estados Unidos da América do

Norte e é assinada a Constituição deste país. Uma das emendas constitucionais foi

influenciada pelos batistas, que defendiam a separação entre religião e Estado.

O século XIX traz uma outra perspectiva aos batistas. Estes passam a voltar seu

trabalho para a obra missionária. Enviam missionários à Índia, aproveitando as

relações existentes entre ingleses e indianos. Para sustentarem o trabalho

missionário na Índia, criaram, em maio de 1814, uma Convenção.

Fundada em Filadélfia, essa Convenção tinha o nome de "Convenção Geral das Denominações Batistas dos Estados Unidos para Missões no Estrangeiro". Como tinha resolvido reunir-se de três em três anos e esse nome era muito grande, passou a ser chamada

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Convenção Trienal. [...] A primeira missão [...] estabeleceu-se na Birmânia. Dentro em pouco, outros países receberam missionários também: na Índia, apesar dos ingleses, em diversos pontos da África, no Sião. Em 1845, quando a Convenção Trienal deixou de existir, havia 99 missionários no estrangeiro, com 82 igrejas organizadas, graças a seu trabalho. (PEREIRA, 1987, p. 78)

O trabalho missionário crescia, mas dentro dos Estados Unidos os batistas se

dividiam. A escravidão negra foi o motivo que separou os estados do norte dos

estados do sul. O sul era totalmente escravista, sustentado por esta mão de obra,

enquanto que o norte era completamente favorável à abolição. Esses

posicionamentos refletiam dentro das igrejas batistas. Por conta disso, a Convenção

Trienal deixou de existir.

Uma atitude radical da Sociedade de Missões, que se recusou a aceitar como missionário um dono de escravos, os batistas do sul responderam com a fundação, em maio de 1845, em Augusta, Geórgia, da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos. Muitos anos mais tarde, os batistas do Norte também organizaram a Convenção Batista do Norte, que depois mudou o nome para Convenção Batista Americana e hoje se denomina "Igrejas Batistas Americanas nos Estados Unidos”. (PEREIRA, 1987, p. 79)

A Guerra de Secessão colocou fim a escravidão nos Estados Unidos, derrotando os

Estados do Sul. A Convenção Batista do Sul prosperou, continuando seu trabalho

missionário. Escolheram a China como primeiro campo missionário. Também

fundaram seminários, que tinham como objetivo preparar ministros para trabalharem

nas igrejas e nas obras missionárias. Esta convenção influenciou diretamente os

trabalhos batistas no Brasil.

3.2 Os Batistas no Brasil

Por volta de 1850, os batistas estadunidenses começaram a se preocupar com a

evangelização das Américas Central e do Sul. Essas partes do continente haviam

sido colonizadas por Portugal e Espanha, países extremamente católicos. Além do

paganismo indígena havia a Igreja Católica como igreja oficial e obrigatória.

No Brasil, o primeiro missionário chegou em 1859, no Rio de Janeiro. Seu nome era

Thomas Jefferson Bowen. Ele havia servido como missionário no continente

Page 36: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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africano, porém, por problemas de saúde, solicitou à Junta de Richomond, da

Convenção Batista do Sul que o enviasse ao Brasil. Porém, seu problema de saúde

não melhorou, e o missionário e sua esposa foram obrigados a retornar aos Estados

Unidos. O trabalho missionário no Brasil ficou interrompido por anos, pois, o casal

Bowen relatou à Junta de Missões que o trabalho missionário no Brasil não valia a

pena.

Porém, com o fim da Guerra de Secessão, os sulistas foram derrotados. Muitos

resolveram reiniciar suas vidas em outro lugar, pois haviam perdido tudo na guerra.

Assim, migram-se para o Brasil, que tinha boas relações com os Estados Unidos.

Estabeleceram-se, principalmente, na Província de São Paulo. Outro grupo migra

para o norte do país, fixando-se em Santarém.

Dos que ficaram em São Paulo, destaca-se os grupo de Santa Bárbara. Para esta

região, mudaram-se famílias de várias denominações: presbiterianos, metodistas e

batistas. Assim, fundaram também suas igrejas no país.

[...] e foi assim que o grupo batista fundou, em 10 de setembro de 1871, a Igreja Batista de Santa Bárbara. Trata-se da primeira igreja batista organizada em solo brasileiro. Era, entretanto, uma igreja limitada em seu escopo: seus cultos, em língua inglesa, destinava-se apenas aos colonos. Não tinha a igreja objetivos missionários, não visava a evangelização dos arredores. Os mesmos colonos, para atender a conveniências locais, fundaram, no lugar denominado Estação, uma segunda igreja batista em janeiro de 1879. (PEREIRA, 1987, p. 81)

Essas foram as primeiras igrejas batistas no Brasil. Não sobreviveram por muito

tempo, porém, iniciaram os trabalhos missionários, de fato, no Brasil. Apesar de

serem igrejas destinadas a atender os colonos, escreveram à Convenção Batista do

Sul dos Estados Unidos, pedindo que missionários fossem enviados ao Brasil.

Um grande homem para o trabalho missionário no Brasil foi ex-general sulista A. T.

Hawthorne, que começou a pregar nas igrejas sobre a obra missionária no Brasil.

Havia passado um período em terras brasileiras, e por isso se tornou um grande

incentivador de missões no Brasil.

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As mensagens de Hawthorne impactaram o pastor William Buck Bagby, que solicitou

à Junta de Missões Estrangeiras da Convenção que fosse enviado ao Brasil junto

com sua futura esposa, Ann Luther. Em dois de março de 1881, chegaram ao Brasil,

encaminhando-se para Santa Bárbara. Conheceram lá Antonio Teixeira de

Albuquerque, ex-padre católico.

Este, que fora vigário em Maceió, convenceu-se do engano de sua posição, abandonou a batina, casou-se e mudou-se para São Paulo. Aí entrou em contato com os metodistas. Mas, prosseguindo no seu exame das Escrituras, convenceu-se de que a posição batista era mais fiel ao Novo Testamento e, buscando os batistas de Santa Bárbara, pediu-lhes o batismo. Foi batizado por um pastor, que era também colono, Robert Thomas, tornando-se, assim, o primeiro brasileiro a ser batizado. (PEREIRA, 1987, p. 82)

Albuquerque se tornou auxiliar do casal Bagby. Ajudou-os aprender o português e

deu-lhes informações sobre o Brasil. Neste mesmo período, chegou ao Brasil outro

casal missionário, Zachary e Kate Taylor. Agora eram cinco batistas dispostos a

iniciar o trabalho no Brasil. Isto por que, a esposa de Albuquerque não era batista.

Após viagem por alguns pontos do Brasil, decidiram fundar uma igreja em Salvador,

capital da Bahia e cidade considerada a mais católica do país. "Assim, pois, com

cinco membros fundadores, em 15 de outubro de 1882, foi organizada a Primeira

Igreja Batista da Bahia e primeira igreja batista brasileira." (PEREIRA, 1987, p. 83)

A igreja na Bahia foi perseguida pelos católicos, isto porque, neste período, havia

uma união entre a Igreja Católica e o Império. Porém, a igreja crescia

consideravelmente. Assim, resolveram estender os trabalhos batistas para outras

regiões do país. Para isso, os missionários precisaram separar-se. O casal Taylor

assumiu a igreja em Salvador. Os Bagby resolveram migrar para o Rio de Janeiro e

Albuquerque partiu para o Maceió.

Para o Rio de Janeiro, além do casal Bagby, também foi Mary O'Rorke. Lá,

conheceram Elizabeth Williams, batista inglesa moradora do Rio de Janeiro.

Começaram a se reunir da casa da senhora Williams, onde iniciaram a fundação da

Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, que ocorreu em 24 de agosto de 1884.

Page 38: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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Em Maceió, Albuquerque juntou-se com Wandregesilo Melo Lins, um antigo amigo

dos tempos de padre. Este fora um dos que falaram ao padre Albuquerque sobre o

Evangelho, sendo importante na decisão deste de abandonar a batina. Mudaram-se

para o Recife e com o auxilio do missionário C. D. Daniel, membro da igreja de

Santa Bárbara. Juntos, fundaram em 4de abril de 1886 a Primeira Igreja Batista do

Recife.

O trabalho batista no Brasil cresceu graças aos missionários que espalharam igrejas

por vários lugares do Brasil, inclusive no Espírito Santo. Com o crescimento do

trabalho batista no Brasil, fundaram em 1907 a Convenção Batista Brasileira.

Em 1907, vinte e cinco anos após a fundação da primeira igreja batista brasileira, e também na cidade do Salvador, foi organizada a Convenção Batista Brasileira. Havia por esse tempo quatro mil batistas no Brasil. Francisco Fulgêncio Soren foi eleito presidente da Convenção e Teodoro Teixeira foi o secretário. Eram quarenta e cinco os mensageiros presentes [...] e cheios de visão em face das decisões que tomaram. Uma delas foi a criação de uma Junta de Missões Estrangeiras e outra a criação da Junta de Missões Nacionais. [...] Foram criadas outras juntas, como por exemplo, a da Casa Publicadora, à qual foi entregue a tarefa de preparar livros, opúsculos e folhetos e publicar O JORNAL BATISTA [...] (PEREIRA, 1987, p. 86)

A criação da Convenção Batista Brasileira foi fundamental para a concretização do

trabalho batista em solo brasileiro. Outras igrejas puderam surgir em vários estados

do Brasil graças ao incentivo da Convenção. Em vários estados brasileiros, os

batistas destacam-se por sua grande influência. Um desses é o Espírito Santo,

estado com grande tradição batista.

Page 39: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

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4 OS BATISTAS NO ESPÍRITO SANTO

Os trabalhos batistas no Espírito Santo foram iniciados, primeiramente, por incentivo

da Igreja Batista do Rio de Janeiro. O casal Bagdy, missionários, responsáveis pela

igreja carioca, resolveram enviar alguém as terras capixabas, afim de iniciar um

trabalho missionário.

O escolhido para essa viagem de reconhecimento foi Salomão Luís Ginsburg. Este

era judeu, nascido na Polônia, criado na Alemanha e na Inglaterra. Iniciou seus

trabalhos missionários em Portugal, onde aprendeu a língua portuguesa. Veio para o

Brasil, sendo batizado em Pernambuco. Mudou-se para o Rio de Janeiro, sendo

enviado ao Espírito Santo.

Salomão chegou a Vitória, capital do Espírito Santo, em um domingo de carnaval. E

iniciou sua pregação nesse mesmo dia, distribuindo folhetos e utilizando uma pedra

como púlpito. Primeiramente, a população ficou curiosa, mas logo a curiosidade

transformou-se em protesto, sendo hostilizado pelo público17. Porém, um grupo foi

impactado por sua mensagem, formando uma pequena comunidade evangelística

na capital.

Realizada a sua experiência no Estado do Espírito Santo e conhecida as potencialidades favoráveis, regressa ao Rio de Janeiro, e apresenta relatório favorável aos missionários. Ao expor seu ponto de vista recomendou a abertura do trabalho batista em terras capixabas. Imediatamente a Missão do Rio de Janeiro enviou a Vitória outro obreiro. Dessa vez José Alves, com o objetivo de abrir trabalho em Vitória. Veio, pregou e deixou muitos interessados na nova doutrina; porém não se sabe se alguém decidiu segui-lo como batista. José Alves permaneceu em Vitória desde o final de 1892 até agosto de 1893, época em que se retirou para outro campo. (SOARES, 1996, p.22)

Mas o missionário que de fato iniciou os trabalhos batistas no estado do Espírito

Santo foi Francisco José da Silva. Tornou-se batista através da pregação dos

missionários da Igreja Batista da Bahia e decidiu tornar-se pregador. Porém, essa

escolha fez com que sua família e amigos se recusassem a conviver com ele.

17

A população capixaba nesse período era extremamente católica. Tratavam com hostilidade qualquer pessoa que levasse uma mensagem diferente ao catolicismo.

Page 40: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

39

Fugindo de sua família, muda-se para Vitória em 1894, recebendo o suporte da

Missão Batista da Bahia.

Chegando ao Espírito Santo, trabalhou como comerciário em Vitória. Lá, iniciou a

pregação do evangelho, além de entrar em contato com o grupo deixado por

Ginzburg, apoiando o trabalho do mesmo. Este pequeno grupo se reunia em

Argolas, distrito de Vila Velha, que, na época, era parte do município de Vitória.

Anos mais tarde, essa comunidade se tornaria a Primeira Igreja Batista de Vitória.

Em seguida, foi contratado pelo governo do estado para trabalhar na demarcação

das fronteiras do território estadual. Retirou-se de Vitória, indo para o interior do

estado. Terminado os serviços, permaneceu em Baixo Guandu, divisa do Espírito

Santo com Minas Gerais. Resolve evangelizar a população no tempo disponível,

porém não obtém bons resultados.

Novamente, é contratado por um grupo de agrimensores, e migra de Baixo Guandu

para Alto Firme, atual município de Afonso Cláudio. Lá também se dedica à

pregação do evangelho, obtendo melhores resultados. Não limitava suas pregações

apenas a Afonso Cláudio. Realizava viagens evangelísticas pela região. Chega a

Figueira de Santa Joana, atual município de Itarana, onde acontecem algumas

conversões.

Suas viagens missionárias fazem com que muitas pessoas aceitem o Evangelho,

porém, Francisco não podia realizar os batismos dos fiéis por não ser ordenado

pastor. Assim, no ano de 1901, escreveu aos missionários da Bahia que viessem ao

Espírito Santo batizar os convertidos. Porém, devido às perseguições sofridas pelos

evangélicos no estado, resolveram adiar.

No ano seguinte, chega ao estado o missionário Ernesto Alonso Jackson, vindo da

Bahia para batizar os convertidos capixabas. Durante sua estadia no Espírito Santo,

batizou 76 pessoas. Em 1903 os missionários da Bahia e do Rio de Janeiro chegam

ao estado com o objetivo de organizar as primeiras igrejas. A primeira atitude

tomada é a realização de um Concílio que examinou Francisco da Silva, tornando-o

pastor, "o primeiro pastor brasileiro a também ser consagrado ao Ministério da

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40

Palavra no Estado do Espírito Santo." (FARIAS, 1991, p. 21). Em seguida,

organizaram as primeiras igrejas batistas no estado, nas regiões onde se

concentravam os primeiros convertidos.

[...] isto aconteceu no dia 21 de agosto de 1903, quando foi fundada a Primeira Igreja Batista no Estado do Espírito Santo: Igreja Batista do Ribeirão Firme18. Em 24 de agosto de 1903, a Segunda Igreja Batista no Estado: Figueira de Santa Joana, hoje Itarana. Imediatamente, partem para a capital, Vitória, Francisco José, Taylor19 e A. L. Dustan20 e ali organizam no dia 02 de setembro de 1903 a Primeira Igreja Batista de Vitória.(SOARES, 1996, p. 25)

A Igreja do Ribeirão do Firme contava com 60 membros no ato de sua fundação. Já

a Igreja de Figueira de Santa Joana contava com 17 membros e a Igreja no Morro de

Argolas com 14 membros. "[...] no final de 1903 estava estabelecido o trabalho

batista no Estado do Espírito Santo, com 3 igrejas, 91 membros e 1 Pastor."

(FARIAS, 1991, p. 20)

Em 1908, Francisco José da Silva mudou-se para José Pedro, município localizado

na divisa entre os estados de Minas Gerais e o Espírito Santo. Lá, havia uma Igreja

batista, que não havia sido fundada por ele, mas que receberá seu apoio. Lá casou-

se com Maria Magalhães da Silva, permanecendo até sua morte, em 15 de janeiro

de 1911. É considerado o pioneiro nos trabalhos batistas no Espírito Santo, sendo o

primeiro pastor batista brasileiro ordenado.

A consolidação do trabalho batista no estado se deu com a chegada do casal

estadunidense Loren e Alice Reno, em 1904. Chegaram ao Brasil com a missão de

ficarem com os missionários batistas na Bahia, porém, ao tomarem ciência dos

trabalhos no Espírito Santo, mudaram seus planos. Dedicaram-se a aprender o

português e foram morar em Vitória, assumindo a liderança da Igreja do Morro de

Argolas.

As igrejas capixabas eram filiadas à Sociedade Missionária da Bíblia, por sua vez,

filiada a Igreja Batista da Bahia. Loren Reno percebeu que precisava desmembrar as

18

Atual município de Afonso Cláudio. 19

Missionário batista na Bahia 20

Missionário batista no Rio de Janeiro

Page 42: Tcc Breve Análise Da História Dos Batistas

41

igrejas capixabas para agilizar seu trabalho. Criou assim uma associação com as

igrejas capixabas para fortalecer o trabalho e poder expandi-lo para o interior.

Assim, no dia 10 de setembro de 1905, Loren M. Reno fundou a Sociedade Missionária que foi bem recebida pelas Igrejas já existentes, a saber: a Igreja do Ribeirão do Firme, a de Figueira de Santa Joana, a de Vitória, a de José Pedro,21 todas elas organizadas antes da chegada do missionário Reno; a de Rio Novo do Sul, organizada em 18 de novembro de 1904 e a de Pedra d'Água em 23 de agosto de 1905. As duas últimas citadas foram organizadas logo após a chegada do Missionário Reno." (FARIAS, 1991, p. 35)

Quatro anos depois, ocorreu a primeira reunião da convenção estadual. Esta foi

realizada na casa dos Reno, em Vitória. Esta reunião era uma maneira de

compartilharem as necessidades das igrejas, principalmente as do interior. "Até

1907, havia 7 igrejas organizadas no estado do Espírito Santo." (GONÇALVES,

2012, p.77)

Os Reno sofreram muitas perseguições, principalmente as realizadas pelos

católicos. Aqueles que se decidiam pela religião batista eram perseguidos e

hostilizados pela população de Vitória. Por conta disso, em 1907, os Loren iniciaram

no porão de sua casa aulas para os filhos dos membros da igreja de Vitória, que

eram mal recebidos nas escolas tradicionais. Nascia aí, o Colégio Americano

Batista. Até para enterrar os mortos os protestantes eram hostilizados. Em 1905,

Loren Reno solicitou ao governo do estado um terreno que pudesse ser utilizado

como cemitério.

Em 1908 iniciaram as construções da nova sede da Primeira Igreja Batista de

Vitória, desta vez localizada na Ilha de Vitória. Precisavam de um espaço que fosse

maior, com infraestrutura para realização dos cultos e das atividades da Escola

Bíblica Dominical. A nova sede foi inaugurada em 1909. Lá também passou a

abrigar as atividades do Colégio Americano Batista.

As atividades do casal Reno não se resumiam à capital. Iniciaram cursos de

capacitação de líderes, para prepara-los para o trabalho no interior do estado, além

de realizarem viagens com o objetivo de encontrarem possíveis locais para a

21

Localizada em terras mineiras, na divisa dos estados de Minas Gerais com o Espírito Santo.

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42

implantação de uma igreja batista. Também acompanhavam os pastores do interior,

para estarem a par dos acontecimentos.

O trabalho do casal Reno fez com que os batistas se instalassem definitivamente no

território do Espírito Santo. Enfrentado perseguições, resistiram a todas,

permanecendo fiéis e focados no trabalho missionário. Fizeram com que as igrejas

batistas se espalhassem pelo território capixaba, alcançando municípios das regiões

norte e sul, além da região da capital, Vitória.

"Quando chegaram no Espírito Santo havia somente três igrejas organizadas. Em

Vitória, findo seu primeiro ano, era 1 igreja, 5 congregações, 10 batismos, 135

membros e 1 ajudante." (GONÇALVES, 2012, p.86). Em 1929, quando deixaram a

Igreja de Vitória, o Espírito Santo contava com 28 igrejas organizadas. Loren Reno

faleceu em 4 de outubro de 1935. Alice retornou para os Estados Unidos, onde

faleceu em 14 de janeiro de 1947.

Depois deles vieram outros missionários que continuaram seu trabalho dentro do

Espírito Santo. Esses homens e mulheres colaboraram para que hoje houvesse no

estado um grande número de batistas. Dados de 2010 apontam que os batistas

estão presentes em todos os municípios do estado do Espírito Santo, ultrapassando

o número dos 70 mil fiéis distribuídos em 451 Igrejas, que por sua vez, estão

distribuídas em 18 associações. (CBEES, 2010). Nada disso seria possível sem o

trabalho dos pioneiros batistas no estado.

4.1 Os Batistas no Sul do Espírito Santo

Desde o início do trabalho dos batistas no estado do Espírito Santo, a região sul do

estado recebeu atenção especial dos missionários que aqui se encontravam. Várias

das primeiras igrejas surgidas no Espírito Santo localizam-se nesta região.

Das dez primeiras igrejas organizadas pelos batistas, cinco localizam-se no sul do

estado: Igreja Batista em Rio Novo do Sul (18/11/1904); Primeira Igreja Batista de

Castelo (16/01/1909); Primeira Igreja Batista de Cachoeiro do Itapemirim

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43

(17/01/1909); Primeira Igreja Batista Barra do Itapemirim (09/02/1910); e Igreja

Batista em Campo Novo (12/09/1916).

O destaque dos batistas no sul do estado se dá, principalmente, pela situação

político-econômica desfrutada por esta região neste período. Conhecer o contexto

histórico desta região é importante para entender o desenvolvimento batista no sul

do estado.

4.1.1 Contexto Histórico da Região Sul

Desde o princípio da colonização do solo espírito-santense, o sul do Espírito Santo

recebeu incentivos colonizadores. A implantação de lavouras e engenhos de açúcar.

"Mesmo a produção de açúcar não sendo tão significativa, como era no nordeste

brasileiro, conquistou certo destaque se comparado a outras regiões brasileiras [...]"

(MACHADO, BLANCO, CAVALINE, 2008, p.9)

Era a região que mais produzia açúcar e aguardente na Capitania22 e da Província23

do Espírito Santo até meados do século XIX. Neste período, a cafeicultura começa a

ser desenvolvida na província do Espírito Santo, principalmente na região sul. A

produção de café era mais barata e mais lucrativa para os agricultores, fazendo com

que muitas lavouras fossem substituídas.

A produção do café dinamizou a região sul do Espírito Santo. A navegação a vapor pelo Rio Itapemirim tornou-se de extrema importância para seu escoamento, provocando melhorias significativas, possibilitando a navegação por diversas regiões litorâneas, chegando até o Porto da Barra, em Itapemirim, onde as mercadorias eram encaminhadas para o porto do Rio de Janeiro, para serem exportadas. Tal porto era o mais importante da região sul. As vias fluviais desembarcavam toneladas de sacos de café que seguiam para outras regiões. (MACHADO, BLANCO, CAVALINE, 2008, p.9)

Até a crise de 1929, o café sul-capixaba viva um período de estabilidade, dando ao

estado e a esta região um desenvolvimento que antes não havia sido

experimentado. É neste período que os batistas se instalam no Espírito Santo e

22

Nome dado aos territórios brasileiros no período colonial; 23

Nome dado as antigas capitanias brasileiras;

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44

chegam ao sul. Implantar igrejas nesta região era estratégico, pois os batistas

alcançariam um grande número de pessoas.

4.1.2 Rio Novo do Sul: a Primeira Igreja do Sul do Estado

A fundação da Igreja de Rio Novo do Sul é um marco para os batistas do sul do

Espírito Santo. Quarta igreja batista organizada no estado abriu caminho para que

outras igrejas pudessem ser organizadas na região, fazendo com que o trabalho

batista crescesse e se desenvolvesse no sul do estado. “No ano de 1900, Rio Novo

do Sul, um minúsculo povoado perto de Cachoeiro de Itapemirim e não muito longe

de Vitória, sendo sede de Município, havia todas as probabilidades de progresso

[...]” (FARIAS, 1991, p.67)

Como a maioria das igrejas batistas fundadas no Espírito Santo no princípio dos

trabalhos, a igreja de Rio Novo do Sul começou com a visita do Pastor Francisco

José da Silva. Este foi convidado pelo irmão Manoel Joaquim da Rocha, telegrafista,

que, no ano de 1900, fora transferido para Rio Novo do Sul a fim de trabalhar no

município. “[...] embora afastado da igreja Metodista, nunca esteve afastado de Deus

[...]” (IGREJA BATISTA DE RIO NOVO DO SUL, 2011)

O culto que contava com a participação do Pastor Francisco foi realizado no salão

de um hotel local. Este foi marcante para o início do trabalho, pois através dela

aconteceu a primeira conversão, do Sr. Fernando Vianna Drummond, que foi

batizado no mesmo ano. Este, junto com o irmão Manoel alugaram uma casa onde

organizaram uma congregação, onde funcionava a Escola Bíblica Dominical e cultos

de anúncio da Palavra de Deus.

Esta congregação continuou sendo visitada pelo pastor Francisco, que batizou ali 13

pessoas. Com este número e com a presença do Pastor Francisco da Silva,

organizou-se no ano de 1904 a Igreja Batista na Vila de Rio Novo, a primeira igreja

batista no sul do estado do Espírito Santo.

Deus abençoou, e como fruto deste trabalho, outras pessoas converteram-se a Cristo Jesus, e assim, em 18 de Novembro de

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1904, foi organizada a Igreja Batista na Vila de Rio Novo, tendo como membros fundadores, os irmãos: Fernando Vianna Drummond, Altina Carolina Drummond, Luiz Barbosa Almeida, Ana Rosa Almeida, Laurindo Moreira, Marcelino Moreira, Suzana Rohr Moreira, Guilherme Wandermurem, Carlota Wandermurem, Manoel Joaquim Rocha, Maria dos Prazeres Rocha, Januário Silva e João Francisco Moreira. Neste tempo a igreja esteve sob a orientação do Pastor Francisco José da Silva, que de Vitória vinha para celebrar a Ceia do Senhor e os Batismos. (IGREJA BATISTA DE RIO NOVO DO SUL, 2011)

Como ocorria nas outras localidades, as perseguições eram comuns em Rio Novo. A

visita do ex-Padre Hipólito de Campos, ocorrida pouco tempo após a fundação da

igreja, só pôde ser realizada com a garantia judicial, pois, nesta ocasião, ocorreu a

primeira de fato a igreja recém-criada.

Apesar dos problemas, o trabalho continuou crescendo. A igreja, então, convida o

irmão Fernando V. Drummond para se dedicar ao evangelismo durante 15 dias do

mês. O pastor Francisco da Silva visitava a igreja para as celebrações da Ceia do

Senhor e efetuar batismos. “O irmão Drummond realizou a obra de Deus, ainda que

sobre o lombo de burros, alcançando todo o Vale de Rio Novo.” (IGREJA BATISTA

DE RIO NOVO DO SUL, 2011)

Anos depois, foi convidado pela Junta Estadual para atuar como evangelista. Em 02

de agosto de 1908 foi consagrado ao ministério pastoral, tornando-se o primeiro

pastor efetivo desta igreja. Sob sua gestão, a igreja continuava sofrendo

perseguições e tinham muita dificuldade em encontrar um local onde pudessem

construir um templo.

Os crentes se reuniam em casa alugada para estudar a Palavra de Deus com muito sacrifício, pois, o padre Levi24 proibia terminantemente a que os moradores não os facilitassem a compra de uma casa ou terreno para que tivessem sede própria. (FARIAS, 1991, p.68)

Conseguiram adquirir um terreno com duas casas, onde, anteriormente, funcionava

uma fábrica de cerveja. “Reformada e adaptada uma das casas tornou-se até 1918,

a sede da Igreja. Em 1918, teve inicio a construção do primeiro templo batista de Rio

24

Sem sobrenome conhecido pelo autor. Provavelmente, era o pároco de Rio Novo do Sul neste período.

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Novo. Este templo foi utilizado até janeiro de 1953.” (IGREJA BATISTA DE RIO

NOVO DO SUL, 2011)

Através da fundação da igreja em Rio Novo do Sul, outras igrejas na região foram

fundadas, tais como: Primeira Igreja Batista em Castelo (16/01/1909); Primeira Igreja

Batista em Cachoeiro do Itapemirim (17/01/1909); Primeira Igreja Batista na Barra do

Itapemirim25 (09/02/1910); Igreja Batista em Campo Novo26 (12/09/1916), Igreja

Batista em Mimoso do Sul (12/12/1921); Igreja Batista em Aracuí27 (06/01/1922);

Igreja Batista em Alegre (07/08/1922); Igreja Batista em Muqui (10/11/1923); Igreja

Batista em Nova Canaã28 (23/04/1924); Primeira Igreja Batista em Atilho Vivaqua

(21/05/1926); Igreja Batista em Celina29 16/02/1927); dentre várias outras.

25

Município de Marataízes 26

Município de Presidente Kennedy 27

Município de Castelo 28

Município de Marataízes 29

Distrito do Município de Alegre

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CONCLUSÃO

Este trabalho procurou apresentar um breve relato histórico sobre os batistas, desde

seu surgimento, oficialmente no século XVI até a fundação da primeira igreja batista

no sul do estado do Espírito Santo, a Igreja Batista na Vila de Rio Novo, em Rio

Novo do Sul.

Além de realizar um relato histórico sobre os batistas, este trabalho buscou analisar

os fatos relacionados a este grupo religioso tão singular, procurando entender a

origem e significado real do batismo, prática que distingue, inicialmente, os batistas

dos outros grupos religiosos reformados.

Entender a História dos Batistas é criar uma identidade para este grupo religioso tão

expressivo no Brasil e no mundo. Infelizmente, nem todos os batistas conhecem sua

história e muitos não entendem suas origens e o que os difere dos demais grupos

religiosos cristãos. Criar uma identidade é fortalecer o trabalho batista.

Enfim, o que se pode perceber após toda a análise historiográfica realizada sobre os

batistas é que os mesmos, apesar de muitas semelhanças com outros grupos

protestantes, ou evangélicos, têm uma singularidade: além da defesa do batismo ou

mesmo do re-batismo apenas dos regenerados, os batistas sempre defenderam a

liberdade religiosa plena, tanto nos aspectos políticos e econômicos quanto, e

principalmente, a liberdade de pensamento.

Ser batista é entender que, dentro dos valores bíblicos, pode-se pensar e defender

qualquer ideia, independente de convenções políticas e morais pré-estabelecidas.

Foi nessa busca por liberdade que as primeiras igrejas batistas se organizaram. A

busca por liberdade é real e legítima dentro do cristianismo.

A liberdade é uma característica primordial cristã: “Se Portanto, se o Filho os libertar,

vocês de fato serão livres.” (João 8:36). Desqualificar essa liberdade é negar a

liberdade alcançada por Cristo, e perder um principio primordial da fé cristã e dos

batistas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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