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Taxa de Câmbio, Taxa de Juros, Produtividade e Desindustrialização
Introdução
Câmbio
A taxa de câmbio é o preço da moeda estrangeira em moeda nacional. Quando
dizemos que US$ 1,00 vale R$ 1,75, estamos cotando, precificando o dólar em termos de
reais. Isto é, US$ 1,00 custa R$ 1,75. Se eu quiser comprar no mercado internacional
mercadorias que custem US$ 100,00, vou precisar desembolsar R$ 175,00.
A valorização do câmbio significa a desvalorização da moeda estrangeira em
termos da moeda nacional, é o mesmo que a moeda nacional se valorizar em relação à
moeda estrangeira. Se a taxa de câmbio vai para US$ 1,00 por R$ 1,70, haverá
necessidade de menos reais para comprar a mesma quantidade de dólares. Assim, ao
invés de desembolsar R$ 175,00 para comprar mercadorias no valor de R$ 100,00, serão
necessários, agora, R$ 170,00 (2,85% menos). Os artigos estrangeiros ficaram mais
baratos em reais ou, em outros termos, as importações estão mais em conta.
O contrário também é verdadeiro. Se a taxa de câmbio vai para US$ 1,00 por R$
1,80, há necessidade de mais reais para adquirir a mesma quantidade de dólares. Assim,
desembolsarei R$ 180,00 para comprar mercadorias que custam R$ 100,00. Neste caso,
as importações ficaram mais caras (2,85%).
Em ambos os casos, os reflexos nas exportações são contrários. Se o dólar se
desvalorizar (a moeda nacional se valorizar), as importações ficam mais baratas, mas as
exportações ficam mais caras. Os produtos brasileiros, em dólar, ficam mais caros. As
valorizações cambiais atrapalham as exportações. Por outro lado, se o dólar se
valorizar (a moeda nacional se desvalorizar), as importações ficam mais caras, mas as
exportações mais baratas. Os produtos brasileiros, em dólar, ficam mais baratos. As
desvalorizações cambiais favorecem as exportações.
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Portanto, flutuações na taxa de câmbio (no preço da moeda estrangeira) alteram
os preços relativos dos produtos.
Juros
A taxa de juros é o preço do dinheiro. Quanto maior os juros, maior o custo do
dinheiro, do capital. As empresas (o governo e as pessoas) necessitam, por um motivo
ou outro, tomar dinheiro emprestado. Quando isso acontece, esses três personagens
incorrem em custos financeiros, que irão fazer parte de seus custos totais. Tomar
dinheiro emprestado é contrair uma dívida e toda dívida gera custo financeiro, pois
sobre essa divida incidem os juros. Ninguém devolve ao banco a mesma quantia que
tomou emprestado: devolve o valor emprestado (o principal), acrescido dos encargos
financeiros (os juros).
Se a taxa de juros contratada for de 20% e o empréstimo de R$ 100,00, ao final do
contrato (ou durante sua vigência), a empresa (ou as pessoas, ou o governo) deverá
devolver ao banco R$ 120,00. Se a taxa contratada for de 100%, deverá devolver R$
200,00.
As empresas recorrem aos bancos para tomarem empréstimos basicamente por
dois motivos: para financiar capital de giro (compra de matérias primas, pagamento de
salários e outras despesas correntes) ou para investimento (aquisição de máquinas e
equipamentos (bens de capital), destinados a melhorar ou expandir a produção.
No caso do capital de giro, as taxas de juros altas, que encarecem esses
empréstimos e, portanto, o custo total da empresa, são repassadas para o preço final dos
produtos ou, na impossibilidade de isso acontecer, reduz a rentabilidade (o lucro) da
empresa. Empresa com lucro muito baixo ou sem lucro geralmente fecha.
Quanto ao investimento, a empresa fará a seguinte conta (ou pergunta): qual o
retorno (aumento de lucro) que a aquisição de novas máquinas e equipamentos irá
proporcionar? Esse percentual a mais de lucro gerado pelos novos equipamentos
deverá, obrigatoriamente, ser superior ao juro que a empresa pagará ao banco quando
tomar dinheiro emprestado para adquiri-lo. Se os juros forem superiores ao retorno do
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capital investido, não compensa o empréstimo, pois, ao invés de lucro, a nova máquina
irá dar prejuízo.
Portanto, taxas de juros altas provocam desaquecimento, redução da atividade
econômica. Essa perda de dinâmica bate na produção e no emprego, isto é, reduz a
oferta de novos postos de trabalho.
A única saída para as empresas e para a economia como um todo é, num contexto
de valorização cambial (aumentos de importações e redução das exportações) e
elevadas taxas de juros (aumento dos encargos financeiros das empresas), aumentarem
a produtividade, para compensar a valorização cambial e o custo financeiro dos
empréstimos.
Produtividade
Entende-se por produtividade a relação entre a produção e a utilização dos
recursos produtivos (máquinas, equipamentos e mão de obra). Enquanto a produção é
uma medida absoluta, a produtividade é um conceito relativo. Produção é a medida da
quantidade produzida de uma determinada mercadoria (ou serviço) num certo intervalo
de tempo. Já a produtividade irá medir as contribuições individuais de cada recurso
produtivo utilizado para realizar a produção. Assim, uma mesma produção pode ser
obtida com maior ou menor produtividade. Aumentar a produtividade significa
aumentar a produção com economia de recursos.
Produzir determinada quantidade de mercadorias em um dia, utilizando 10
trabalhadores e 5 máquinas é diferente de produzir essa mesma quantidade em 2 dias,
utilizando 12 trabalhadores e as mesmas 5 máquinas. A produtividade, na primeira
situação, é bem maior que na segunda. O que as economias e as empresas buscam é o
aumento da produção com aumento de produtividade. Somente o aumento de produção
não basta.
Na medida em que a produtividade aumenta (ou dito de outra forma, na medida
em que a produção aumenta, com economia de recursos), pelo menos duas importantes
conseqüências aparecem: (a) os custos de produção se reduzem e a capacidade
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competitiva da empresa aumenta e (b) os recursos produtivos economizados podem ser
utilizados para mais produção.
O esforço produtivo da empresa, no entanto, pode ser frustrado se seus custos
operacionais sofrerem elevação devido a altas taxas de juros. Do ponto de vista do
câmbio, a realidade é a mesma. Na medida em que o câmbio se valoriza, as mercadorias
nacionais tornam-se mais caras em moeda estrangeira e as mercadorias estrangeiras
mais baratas em moeda nacional
Para manter sua rentabilidade, as empresas precisam aumentar sua
produtividade, quer dizer, produzir com custos menores, na mesma proporção da perda
de competitividade causada pelos juros altos e câmbio valorizado. Não é uma tarefa fácil,
pois as taxas de juros reais no Brasil são as mais elevadas do mundo e nossa moeda, o
real, é uma das que mais se valorizaram em relação ao dólar norte americano nos
últimos anos. Em resumo, se as empresas dinamizam os processos de produção e
trabalho para elevar a produtividade, esse esforço é esterilizado pelos juros altos e o
real valorizado.
Entre outras, as variáveis que, além do câmbio e juros, vêm prejudicando a
competitividade da indústria nacional, principalmente a de transformação, são:
Estrutura tributária ineficiente e burocratizada
Infra-estrutura de transporte: rodovias, ferrovias, portos e aeroportos
insuficientes ou “sucateados”
Preços de energia e telecomunicações elevados em comparação aos
praticados nos países concorrentes
Fraca defesa comercial dos interesses da industrial nacional
Incentivos fiscais às importações (“guerra dos portos”)
Falta de uma política industrial efetiva.
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As medidas de produtividade, no entanto, não se obtêm facilmente, pois não
existe uma “fórmula” que se ajuste a todos os processos produtivos ou ramos de
atividade. Existem várias formas de cálculo, todas sujeitas a críticas e observações. 1
Produtividade Setorial
A medida da produtividade dos vários setores produtivos considerados a seguir
utilizou a metodologia do quociente (divisão) entre a produção física (PF) e as horas
pagas (HP) na produção: Pd = PF/HP.
Esse cálculo precisa ser observado com alguma atenção. Nem sempre o aumento
da produtividade indica prosperidade do setor ou da economia. As situações simuladas a
seguir procuram responder ao problema.
Exemplos:
1- Aumento da PF em 20% e aumento das horas pagas em 14%. Pd = 20%/14% >
aumento da produtividade em 5,26%.
2- Aumento da PF em 20% e aumento das horas pagas em 20%. Pd = 20%/20% >
resultado dessa divisão é 1, que indica que não houve variação na
produtividade, somente na produção.
3- Aumento da PF em 20% e aumento das horas pagas em 24%. Pd = 20%/24% >
redução da produtividade em 3,22% e aumento na produção (20%).
4- Aumento da PF em 20% e redução das horas pagas em 3%. Pd = 20/-3 >
aumento da produtividade em 23,71%. Houve aumento da PF e redução da
utilização do recurso produtivo mão de obra. Esse aumento de produtividade
pode ser interessante para a empresa, mas não é para o trabalhador, uma vez que
houve redução de horas pagas.
5- Estabilidade da PF e redução das horas pagas em 3%. Pd = 100/97 > aumento
da produtividade em 3,1%.
6- Estabilidade da PF e aumento das horas pagas em 3%. Pd = 100/103 > redução
da produtividade em 2,91%.
1 Ver apêndice sobre medidas de produtividade ao final do texto.
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7- Redução da PF em 10% e redução das horas pagas em 3%. Pd = 90,9/97,08 >
redução da produtividade em 6,35%. Péssimo cenário para a empresa, para os
trabalhadores e para toda a economia.
Como percebemos, há várias possibilidades de variações e resultados quando se
mede a produtividade por esse método que, aliás, é o mais utilizado, pelo menos na
indústria.
A seguir, apresentamos o desempenho da indústria de transformação e seus
principais ramos, medido pela produtividade física (PF/PH). Nas informações contidas
nas tabelas não definimos se a produtividade aumentou ou diminuiu devido a variações
das horas trabalhadas. Somente é informado o resultado do quociente PF/HP.
Tabela 1. Produtividade – Indústria de Transformação e Sub Setores/Brasil (2006/11) Ano Indústria
de
Transforma-
ção
Metalurgi
a
Básica
Máquina
s e
Equipa-
Mentos
Produto
s de
Metal
Maq.Ap. Eletr.
de Precisão e
Comunicaçõe
s
Meios de
Transport
e
Outro
s
Prod.
Ind.
Transf
.
Alimento
s
e
Bebidas
2006 2,24 1,49 9,57 0,36 2,33 -1,64 2,52 -3,75
2007 4,19 0,39 10,54 -0,99 2,75 6,48 -0,62 -0,61
2008 1,22 -5,38 -4,36 -3,92 -8,24 3,85 0,04 -0,92
2009 -2,05 -9,7 -8,91 -6,26 -15,02 0,70 -1,69 2,25
2010 5,94 4,89 13,18 14,25 0,95 9,5 6,16 4,24
2011 -0,31 -2,64 -3,29 1,69 -6,06 -2,65 -3,3 -2,18
Ac. 11,54 11,10 15,49 3,98 -22,25 16,75 2,86 -1,18
Fonte: IBGE – PIM-PF/PIMES
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Tabela 1a. Produtividade – Indústria de Transformação e Sub Setores/Brasil (2006/11) (continuação) Ano Vestuário Têxtil Calçados e Couro Produtos
Químicos
Borracha e
Plástico
2006 0,81 3,08 6,27 -0,82 3,59
2007 10,54 1,53 8,14 2,53 5,36
2008 9,9 2,88 2,68 -2,94 1,72
2009 -0,23 -0,73 0,32 5,18 0,51
2010 9,34 -2,22 1,73 5,87 7,75
2011 -0,9 -13,37 -4,69 -1,57 -1,2
Ac. 32,40 -9,46 14,78 8,18 18,79
Fonte: IBGE – PIM-PF/PIMES
Chama atenção as oscilações do comportamento da produtividade nos doze
ramos listados e, também, na indústria de transformação como um todo. Essas
mudanças que ocorrem de ano para ano, vão de aumentos de produtividade (resultados
positivos) a quedas (resultados negativos).
Em alguns sub-setores (Máquinas, Aparelhos Elétricos, eletrônicos, de precisão
e de comunicação; Alimentos e Bebidas; Têxtil), o acumulado da produtividade no
período analisado chega a ser negativo.
De qualquer forma, o comportamento da produtividade nesses diversos ramos da
indústria de transformação ficou aquém dos valores encontrados para a taxa de juros e o
câmbio, como veremos a seguir (Tabela 2). A exceção é a indústria de Vestuário
(aumento acumulado de produtividade de 32,40% no período).
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Tabela 2 - Variação do Câmbio e Taxa Média Mensal de Juros Pessoas Físicas
Ano Câmbio Médio (R$ x US$)
– Variação Percentual
Taxa Média Mensal de
Juros (%)
2006 -6,61 28,87
2007 -5,94 24,12
2008 -17,02 27,80
2009 30,03 27,72
2010 -22,88 27,56
2011 -5,90 30,34
Ac. -31,21* 27,73
Fonte:Banco Central do Brasil / Juros pré-fixado, pós-fixados e flutuante (*) Valores negativos > valorização cambial.
Comparando-se os valores acumulados nas Tabelas 1 e 1a com os encontrados na
Tabela 2, verifica-se que 11 dos 12 ramos da indústria apresentaram produtividades
menores que a valorização cambial e a média mensal dos juros. Além disso, se
observarmos ano a ano, iremos constatar que, enquanto a produtividade oscila, às vezes,
até de forma abrupta, a valorização cambial e a taxa de juros apresentam maior
uniformidade.
Quanto aos juros, as médias de um ano para o outro são muito parecidas, com
pequenas variações, fazendo com que a média final (27,73%) expresse, de fato, esse
comportamento, ou seja, os valores anuais são muito parecidos com a média.
As variações cambiais, por sua vez, apesar de alguns “saltos”, mostram uma firme
tendência de valorização. Somente em 2009, ano em que a crise financeira internacional
se fez sentir com maior intensidade no Brasil, a taxa de câmbio experimentou uma
queda expressiva (o real desvalorizou-se em 30,03%). Nos demais anos houve uma
constante valorização cambial.
Concluí-se que há uma grande distância entre os ganhos de produtividade e o
comportamento de câmbio e juros. Estes dois últimos estão sempre à frente, o que cria
dificuldades para a competitividade dos produtos industrializados produzidos no país.
Pelo lado dos juros, o alto custo do capital inibe os investimentos. A valorização cambial,
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por seu turno, torna mais caras nossas exportações e mais baratas as importações.
Assim, além de perdermos mercado internacional, enfrentamos a concorrência dos
produtos estrangeiros dentro do país.
A essas restrições, mais a estrutura tributária deficiente, todas de natureza
macroeconômica, somam-se os problemas de infra-estrutura, qualificação profissional
etc. listados anteriormente.
Desindustrialização A desindustrialização decorre da perda de competitividade e de mercado da
indústria local. Seus sinais mais claros são: (a) substituição de produtos nacionais por
importados no mercado interno (b) redução de participação de produtos
industrializados na pauta de exportação (c) quebra e/ou descontinuidade de cadeias
produtivas da indústria (d) redução do emprego e renda (e do valor adicionado) gerados
pela indústria na formação do PIB.
A perda de competitividade da indústria é, por sua vez, conseqüência das razões
elencadas anteriormente. Lembrando: (a) elevadas taxas de reais de juros (b)
sobrevalorização cambial (c) estrutura tributária que onera as exportações (d) escassez
de crédito destinado à produção (e) falta ou baixa qualidade da infra estrutura física
para produzir e escoar a produção (f) baixa qualificação da mão de obra (g) fracos
controles comerciais sobre produtos importados (h) diferenças de produtividade entre a
indústria nacional e a estrangeira.
Trata-se, portanto, de um conjunto de situações que configura um cenário de
redução relativa da presença da indústria na economia. Não há um consenso entre os
formadores de opinião de que, de fato, exista um movimento de desindustrialização em
curso no país.
O argumento dos que não concordam que esteja havendo desindustrialização é o
de que as questões são setoriais. Há setores com problemas de competitividade e, por
isso, perdendo espaço para a concorrência internacional, reduzindo, assim sua
participação, enquanto outros segmentos não sofrem tal processo, pelo contrário, estão
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crescendo. Neste sentido, para que de fato exista desindustrialização, o processo deve
ser generalizado. Terá que estar ocorrendo em todos os setores da indústria de
transformação, indistintamente.
A corrente que aponta para a existência da desindustrialização tem como
parâmetros (a) a crescente participação de produtos importados no comércio interno
(hoje está por volta de 20%) (b) a reprimarização da pauta de exportação do país (c) a
redução do Valor da Transformação Industrial - VTI (d) a transferência de etapas do
processo produtivo para o exterior (quebra de cadeias produtivas) (e) a diferença entre
o crescimento do comércio de produtos industrializados e o crescimento da produção
interna desses produtos (f) a queda consistente do valor agregado pela indústria de
transformação ao PIB.
Não temos dúvidas de que os argumentos que identificam sinais de
desindustrialização no país são mais consistentes. Evidente ainda não se tratar de
processo já terminado e sem retorno. A indústria ainda é muito importante na geração
de riqueza do país e pólo dinâmico de desenvolvimento sócio-econômico, não só do
setor, mas de muitas outras atividades ligadas aos serviços, como o comércio, os bancos,
seguradoras, publicidade etc. Não obstante, detecta-se uma redução persistente do valor
que ela agrega ao produto interno, à geração de postos de trabalho e no saldo externo
negativo do setor. São indicadores importantes que devem ser considerados.
Outro aspecto que chama a atenção e que compromete o comportamento futuro
do setor é a perda de competitividade do segmento industrial produtor de produtos
intensivo em tecnologia. O sentido deveria ser o inverso, esses setores deveriam estar
crescendo, pois, mesmo sem ser intensivos em mão de obra, produzem bens de alto
valor agregado e acabam por dinamizar todo o parque industrial, além de contribuir
para que a Balança Comercial do setor se torne superavitária.
Se hoje o processo de desindustrialização, apesar de preocupante, ainda está em
seu início, sem a implantação de uma indústria sólida de alto padrão tecnológico
estaremos, de fato, regredindo em nossa história. A indústria não tem só a capacidade de
produzir produtos, produz, também, conhecimento. Essa é a questão fundamental que,
se relegada a um segundo plano, comprometerá, de fato, o futuro do país.
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Finalmente, é importante salientar que o processo de industrialização brasileiro
data do início do século passado. A indústria brasileira, em que pese todo o processo de
globalização, desregulamentação e terceirização da indústria mundial, ainda é a mais
completa e diversificada da América Latina. Ela chegou a esse patamar em pouco tempo,
mas, a partir de meados dos anos 1980, começou a perder sua dinâmica e sua velocidade
de crescimento reduziu-se drasticamente. A chamada ‘terceira revolução industrial’, em
que a robótica, a telemática, a química fina e a nanotecnologia, entre outras,
modificaram produtos, serviços, processos e até as relações sociais de trabalho, passou
longe do Brasil.
Precisamos recuperar o tempo perdido, não retroceder, como parece estar
acontecendo. O desenvolvimento futuro de nossa indústria deve ocorrer com
trabalhadores qualificados, com empregos de qualidade, com a incorporação dos ganhos
de produtividade aos salários, com as relações de trabalho democratizadas e com
liberdade sindical. Não devemos repetir os erros do passado, cuja marca do crescimento
industrial foi a concentração de renda e escassez de democracia.
Dieese/Força Sindical Abril/2012
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Apêndice Medidas de Produtividade
1. Produtividade Física
Pode ser obtida a partir da (a) divisão entre a quantidade de produtos
produzidos e o contingente de mão de obra envolvido nessa produção: Pd = P/MO, onde
P representa produção, MO a quantidade de trabalhadores utilizados para se obter a
produção e Pd a produtividade e (b) divisão entre a quantidade de produtos produzidos
e a quantidade de horas trabalhadas necessárias para a obtenção de determinada
produção: Pd = P/HP, onde HP representa a quantidade de horas pagas.
As duas formas se adéquam mais à produção industrial, uma vez que é possível
medir, com certa facilidade, a quantidade de produtos produzidos, além de a produção
estar organizada de forma sistemática e rotineira, que permite mensuração mais exata.
Alguma dificuldade pode aparecer quando o mix de produção (tipos de produtos
fabricados) é muito grande.
Para os serviços, inclusive financeiros, e comércio, essa metodologia não seria a
mais apropriada. Contabilizar o atendimento à saúde e educação, por exemplo, exige-se
muito mais que somar a quantidades de mercadorias produzidas. Idem para os serviços
produzidos pelo setor bancário/financeiro, em que a quantidade de horas pagas
(trabalhadas) ou o montante físico produzido não reflete, exatamente, o valor da
produção.
No caso do setor de comércio, a medição da produtividade por essa metodologia
apresenta certos problemas devido à diversidade de itens transacionados. Assim, a
medida da produtividade, obtida a partir da quantidade de unidades vendidas, pode não
refletir eficiência devido aos diferentes valores (preços) das mercadorias e a margens de
lucro que se obtém de cada uma.
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2. Produtividade a partir do Faturamento
Trata-se, também, de um quociente. O conceito é bem parecido com o da
Produtividade Física, só que, ao invés de considerar o produto físico, a mercadoria
produzida, considera-se seu valor (preço de venda). Para se calcular o faturamento da
empresa basta multiplicar a quantidade produzida de mercadorias (q) pelos seus preços
de venda (p), isto é, p x q.
Dividindo-se o faturamento pela quantidade de trabalhadores (Pd = FT/MO) ou
pela quantidade de horas pagas (Pd = FT/HP), onde FT é o faturamento, obtém-se,
também, uma medida de produtividade. Essa técnica é mais abrangente que a primeira,
uma vez que o faturamento pode ser medido em todas as empresas, independente de
sua atividade (indústria, comércio, serviços etc), pois tudo é convertido em moeda,
como, por exemplo, no cálculo do PIB.
A questão que se apresenta aqui é a intervenção do preço no conceito da
produtividade. Se os preços aumentarem, a produtividade aumenta, se o inverso
ocorrer, a produtividade diminui. Ora, o trabalhador que produziu a mercadoria está
completamente alheio a fatos como estes. Quem determina a flutuação de preços é o
mercado ou, se a empresa possuir algum poder sobre esse mercado, será ela a
estabelecer preços (mark-up) que favoreçam seu faturamento. Eventualmente,
determinada empresa com poder de mercado pode agir de forma “predadora”,
comprimindo seus preços para expulsar algum concorrente. Nesse momento o
faturamento cai e a produtividade se reduz. O mesmo raciocínio pode ser utilizado
quanto a outra parcela da conta, a quantidade. Flutuações de demanda podem, também,
influenciar o faturamento.
Outros ganhos que, também, fogem ao controle do trabalhador, são os financeiros,
que não aparecem no faturamento, mas aparecem nos lucros das empresas. Para
incluirmos na produtividade esses ganhos, devemos utilizar, nos cálculos, o lucro líquido
da empresa (ou pelo menos o lucro antes do Imposto de Renda e da Contribuição sobre
o Lucro) ao invés do faturamento.
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Mais um aspecto, que deve ser considerado nesta situação, são os empréstimos
que as empresas obtêm junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico –
BNDES, com taxas de juros muito inferiores (subsidiadas pelos trabalhadores) às
praticadas no mercado, que diminuem seus custos operacionais e, consequentemente,
aumentam suas margens de lucro. Essa vantagem financeira, se utilizado o método do
faturamento, também não aparece como ganhos de produtividade.
É necessário, entretanto, distinguir a atividade pública da atividade privada.
Educação e saúde, por exemplo, são fornecidas tanto por um quanto por outro. A
dificuldade está na mensuração quando se trata de fornecimento público, uma vez que
na esfera da administração pública não existe o conceito de faturamento. Há outros
métodos para se apurar a produtividade no setor público, cujo conhecimento deve ser
aprofundado.
3. Valor Adicionado
A soma dos Valores Adicionados, utilizada para se medir produtividade, guarda
semelhanças com o método do faturamento. A cada etapa do processo produtivo as
empresas, à medida que recebem e transformam o produto da etapa anterior, lhes
adiciona valor. Elas combinam os insumos de produção (capital, trabalho, recursos
naturais, tecnologia etc.) transformando-os em produtos, que podem destinar-se ao
consumo ou a outra fase da produção. O valor que ela adiciona é a diferença entre o
custo de aquisição desse produto e o preço de venda de sua produção.
A essa altura é preciso salientar que o valor adicionado pela empresa é apurado
levando-se em conta todo o processo produtivo, não apenas o processo de produção, no
chão da fábrica. Por processo produtivo entende-se um percurso que vai desde a
aquisição de matérias-primas e outros insumos, até a comercialização da
mercadoria/serviço. Todos os ambientes (setores) da empresa entram nesse cálculo.
4. EBITDA - Earning Before Interest, Taxes, Depreciation/Depletion and
Amortization (LAJIDA – Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação/Exaustão e Amortização)
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O EBITDA, à medida que exclui os juros (ativos e passivos), os tributos (IRPJ e
CSLL2, no caso brasileiro), as depreciações e amortizações de seu cálculo, indica que
pretende mostrar exclusivamente o resultado operacional, ou seja, o lucro gerado
estritamente a partir da exploração do objeto de negócio da empresa.
Essencialmente o EBITDA revela a capacidade operacional da empresa em gerar
caixa. Isso explica a exclusão da depreciação e exaustão, despesas que alteram o
resultado geral da empresa, porém não significam desembolso efetivo de recursos,
representando perda econômica, não financeira. Mesmo que a depreciação (ou
exaustão) seja a medida da necessidade de reinvestimento da empresa, não fica
prejudicado o fato de que o EBITDA permanece sendo um indicador confiável de
capacidade operacional e de geração de caixa.
O EBITDA não deixa de ser uma medida de eficiência, uma vez que a geração
operacional de caixa esta intimamente ligada ao nível de produtividade da empresa.
“Por eliminar os efeitos financeiros e decisões contábeis, pode medir com maior
precisão a produtividade e a eficiência do negócio”. Quanto mais eficiente for a empresa
em seu processo produtivo, maior será sua produtividade e melhores serão seus
resultados operacionais. Daí considerarmos que há grande correlação entre o
crescimento do EBITDA e o aumento de produtividade da empresa.
5. Custo Unitário do Trabalho (cut)
A teoria diz que reajustes salariais acima da produtividade são inflacionários,
pois a elevação de custos que eles representam será repassada aos preços. Esse foi um
argumento utilizado por muito tempo, quando se afirmava, com pouco discernimento,
que os aumentos de salários eram a causa da inflação. Na verdade essas afirmações
eram feitas sem se ter conhecimento da situação da produtividade nos diversos setores
da produção. Na realidade, a inflação era conseqüência de muitas outras coisas, não dos
2 IRPJ – Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas e CSLL – Contribuição social sobre o Lucro Líquido são tributos que incidem sobre os ganhos totais da empresa, considerando, inclusive, as eventuais receitas financeira, não ligadas ao resultado operacional, daí não serem consideradas no cálculo do EBITDA.
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salários. Enquanto esse tipo de argumento era utilizado, crescia a concentração da
renda, favorecendo o capital e a participação dos salários na renda nacional diminuía.
O Custo Unitário do Trabalho (cut) é a divisão entre os custos totais nominais do
trabalho (C) e o produto real obtido com o trabalho (Y). Portanto, CUT = C/Y. O custo
total do trabalho (C) inclui, além dos salários, todos os gastos incorridos pelo
empregador com a mão de obra: encargos sociais, participação nos resultados, horas
extras, assistência médica etc.
Se dividirmos C e Y pelo número de horas trabalhadas (h), vamos ter: CUT =
(C/h)/(Y/h). Chamando C/h de A e Y/h de h, teríamos a equação escrita da seguinte
maneira: CUT = h/A, onde h representa o custo total médio do trabalho (por hora
trabalhada) e A a produtividade do trabalho. Com essa equação (CUT = h/A) é possível
provar que nem todo aumento de salário gera pressões sobre os custos das empresas a
ponto de haver necessidade de repassar para preço e, no conjunto da economia, gerar
inflação. As variações salariais, que indicam alterações no custo médio do trabalho (h)
precisam ser confrontadas com a variação da produtividade (A). “Se os salários estão
subindo a um ritmo aparentemente incompatível com a estabilidade de preços
(aumento de h), mas cuja magnitude é igual ou inferior aos ganhos de produtividade
(aumento igual ou maior de A)”, não há ameaça inflacionária devido ao aumento salarial,
uma vez que o CUT não está subindo. Em outras palavras, o custo unitário do trabalho
(cut), medida utilizada pelas empresas para tomar decisão sobre aumentos salariais, só
irá aumentar se o custo médio do trabalho (h) for maior que os ganhos de produtividade
(A), caso contrário, se A for maior que h, o custo unitário do trabalho irá se reduzir.
6. Folha de Pagamento
Por este método, compara-se a variação da produção física (ou faturamento) com
a variação das despesas com salários expressas na folha de pagamento da empresa: Pd
= PF/Fopag. É uma medida muito semelhante à encontrada quando se compara a
produção física com as horas pagas na produção. A diferença é que, quando o cálculo é
realizado com a folha de pagamento, a medida já não é física e, sim, monetária, uma vez
que a folha de pagamentos é expressa em valores monetários (dinheiro), enquanto que
as horas pagas são expressas em termos de quantidade de horas.
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Quando, por outro lado, se compara o faturamento com a folha de pagamentos: Pd
= FT/Fopag, ambas são medidas monetária e incorremos nas mesmas dificuldades da
comparação entre produção física com o faturamento, isto é, flutuações de preços e
quantidades alteram o faturamento e, portanto, a produtividade. Assim, incorre-se no
mesmo problema apontado anteriormente.
É importante lembrar, também, que a rotatividade da mão de obra (que não é
pequena em nosso mercado de trabalho) pode alterar o valor da Folha de Pagamento e
prejudicar a medida correta da produtividade.
Dieese/Força Sindical