tablóides do pet educação popular - 2

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Volume 2 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 1 Criação e Edição: Fabrício G. Leonardi, Brenda Barbosa, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho PET Educação Popular: criando e recriando a realidade social Em geral, as metodologias tradicionais de educação terminam por favorecer as classes dominantes porque reforçam e aprofundam vários “mitos” que são legitimadores das relações de opressão existentes na sociedade. Ou, no contrário, trabalhar com a Educação Popular, que implica uma clara opção filosófica, social e política, bem como uma escolha ética: estar do lado dos oprimidos. Os adeptos dessa metodologia querem transformar a sociedade para que ela não mais tenha opressão. É por isso que ela leva em consideração a cultura, os direitos humanos, o compromisso com a classe trabalhadora, a luta contra a desigualdade social, etc. Além disso, as práticas de educação popular partem da realidade concreta dos sujeitos e, através da dialogicidade, valorizam o saber popular apostando no desenvolvimento crítico para a tomada de consciência. É uma necessidade de consciência histórica, isto é, todos devem assumir o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Assim, mais do que nunca deve provocar a mudança nas relações entre as pessoas para não deixar prevalecerem os preconceitos, a discriminação, o sexismo, o individualismo, etc. Assim, cada um de nós é protagonista de sua vida e pode ser protagonista na construção de outro mundo, um mundo justo. Certa vez, Paulo Freire disse que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Desse jeito, nos damos conta de que somos seres incompletos, humanos em busca. O conhecimento não é propriedade apenas de uns poucos “iluminados”, mas uma atividade humana acessível e potente em todos. Figura 1 de Maria Helena e Fabrício Leonardi É quase que consensual e recorrente ser atribuída à educação a responsabilidade e a tarefa de salvar” a sociedade. Através dela povos e pessoas se desenvolverim e escaparim dos problemas advindos dos estigmas e desigualdades sociais. Facilmente utilizamos de argumentos referentes à ausência ou ao fracasso na educação para justificamos situações como dificuldades em encontrar emprego, salário baixo, atitudes violentas, etc. Essa ideia é amplamente divulgada e referenciada, quase tida como inquestionável. Quem há de questionar a educação como algo importante ao ser humano? Todavia, não podemos pensar educação como unidade e homogeneidade. Existem várias maneiras de conceber, trabalhar e vivenciar a educação, justamente porque ela está marcada pelo tempo e pela sociedade em que vivemos. E mesmo admitindo que a educação hoje seja diferente de outras épocas, que a educação no Brasil seja diferente de outros lugares no mundo, não podemos esquecer o fim a que ela se destina. Isto significa refletir a educação e o conjunto de aspectos teóricos, culturais, sociais e institucionais que são utilizados para afirmar e reafirmar as relações e a produção existente, bem como a sua continuidade. Nesse sentido, a educação pode encorpar os processos de dominação e subjugação de uns por outros. Por que Educação Popular? Por Fabrício Gobetti Leonardi

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UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Fevereiro2014

Volume 2 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 1 Criação e Edição: Fabrício G. Leonardi, Brenda Barbosa, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho

PET Educação Popular:

criando e recriando a realidade social

Em geral, as metodologias tradicionais de educação

terminam por favorecer as classes dominantes porque

reforçam e aprofundam vários “mitos” que são legitimadores

das relações de opressão existentes na sociedade. Ou, no

contrário, trabalhar com a Educação Popular, que implica

uma clara opção filosófica, social e política, bem como uma

escolha ética: estar do lado dos oprimidos. Os adeptos

dessa metodologia querem transformar a sociedade para

que ela não mais tenha opressão. É por isso que ela leva em

consideração a cultura, os direitos humanos, o compromisso

com a classe trabalhadora, a luta contra a desigualdade

social, etc.

Além disso, as práticas de educação popular partem

da realidade concreta dos sujeitos e, através da

dialogicidade, valorizam o saber popular apostando no

desenvolvimento crítico para a tomada de consciência. É

uma necessidade de consciência histórica, isto é, todos

devem assumir o papel de sujeitos que fazem e refazem o

mundo. Assim, mais do que nunca deve provocar a

mudança nas relações entre as pessoas para não deixar

prevalecerem os preconceitos, a discriminação, o sexismo, o

individualismo, etc. Assim, cada um de nós é protagonista

de sua vida e pode ser protagonista na construção de outro

mundo, um mundo justo.

Certa vez, Paulo Freire disse que “Ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

produção ou a sua construção. Quem ensina aprende

ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

Desse jeito, nos damos conta de que somos seres

incompletos, humanos em busca. O conhecimento não é

propriedade apenas de uns poucos “iluminados”, mas uma

atividade humana acessível e potente em todos.

Figura 1 de Maria Helena e Fabrício Leonardi

É quase que consensual e recorrente ser atribuída

à educação a responsabilidade e a tarefa de “salvar” a

sociedade. Através dela povos e pessoas se desenvolverim

e escaparim dos problemas advindos dos estigmas e

desigualdades sociais. Facilmente utilizamos de argumentos

referentes à ausência ou ao fracasso na educação para

justificamos situações como dificuldades em encontrar

emprego, salário baixo, atitudes violentas, etc. Essa ideia é

amplamente divulgada e referenciada, quase tida como

inquestionável. Quem há de questionar a educação como

algo importante ao ser humano?

Todavia, não podemos pensar educação como

unidade e homogeneidade. Existem várias maneiras de

conceber, trabalhar e vivenciar a educação, justamente

porque ela está marcada pelo tempo e pela sociedade

em que vivemos. E mesmo admitindo que a educação

hoje seja diferente de outras épocas, que a educação no

Brasil seja diferente de outros lugares no mundo, não

podemos esquecer o fim a que ela se destina.

Isto significa refletir a educação e o conjunto de

aspectos teóricos, culturais, sociais e institucionais que são

utilizados para afirmar e reafirmar as relações e a produção

existente, bem como a sua continuidade.

Nesse sentido, a educação pode encorpar os

processos de dominação e subjugação de uns por outros.

Por que Educação Popular? Por Fabrício Gobetti Leonardi

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UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Fevereiro2014

Volume 2 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 2 Criação e Edição: Fabrício G. Leonardi, Brenda Barbosa, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho

O presente artigo foi elaborado a partir de um estudo realizado no

contexto da extensão universitária do PET (Programa de Educação

Tutorial) de “Educação Popular: Criando e Recriando a Realidade Social”

da UNIFESP/ BS, que buscou sistematizar a compreensão que os sujeitos

em situação de privação de liberdade possuem sobre o universo prisional, a

partir da análise dos seus discursos. A pesquisa teve como fonte as 114

redações premiadas no concurso literário “Escrevendo a Liberdade”,

realizado no ano de 2005, em âmbito nacional1.

Para análise das redações foi utilizada a metodologia do discurso do

sujeito coletivo (DSC), que é uma forma de coleta, organização, tabulação e

análise de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos através de

depoimentos, ou por meio de artigos de jornal, matérias em revistas

semanais, cartas, papers e revistas especializadas, entre outros. Essa

metodologia permite a compreensão coletiva como uma variável empírica,

de natureza qualitativa e quantitativa, pela interposição de um sujeito de

discurso ao mesmo tempo individual e coletivo.

A partir da leitura e análise das redações foi possível uma

aproximação ao universo prisional. A metodologia utilizada na análise das

redações permitiu elencar aspectos importantes do discurso dos sujeitos

privados de liberdade. Os dados levantados e a análise realizada

apresentaram contribuições para gerar cenários de reflexão sobre a política

pública de segurança e a justiça criminal no Brasil, bem como contribuíram

com a problematização e a perspectiva de construção de propostas

alternativas para a efetivação do sistema de garantia, promoção e defesa dos

direitos humanos.

No processo de leitura das redações evidenciou-se como tema

central a tristeza e o sofrimento gerados com a perda da liberdade. A

liberdade é algo sonhado por todos. Porém, há várias maneiras de

compreendê-la.

Nas redações estão presentes vários significados de liberdade,

desde o direito de ir e vir até o direito político. No entanto, muitos

identificam a liberdade dentro do cárcere através de pequenos atos: um dos

autores cita que o voo da coruja à noite no pátio do presídio é “um gesto de

liberdade pulsante”. Outro identifica a liberdade no simples fato de sentir o

vento em seu rosto. Para alguns seria possível vivenciá-la em momentos

específicos, mesmo dentro da prisão, através do pensamento. Para outros a

prisão acaba com qualquer possibilidade de vida. O presídio é descrito

como um “mar de concreto”, “cadeias materiais de frios concretos”,

refletindo a sensação de um lugar sem vida, sem perspectivas para quem se

encontra aprisionado.

Os sujeitos privados de liberdade projetam suas vidas para além do

muro dos presídios, vivem o passado e o futuro, dessa forma anulam o

presente. A maioria das redações deixa claro que as pessoas privadas de

liberdade têm grande interesse em construir uma vida nova. Porém, isso só

é possível fora da prisão, porque lá não se pode viver de fato. Muitos

relatam que a prisão é um lugar de morte e não de vida: a solidão do

ambiente retira qualquer possibilidade de ação humana. Nesse ambiente

Uma Compreensão Sobre o Universo Prisional a partir da Análise do Discurso dos Sujeitos Privados de Liberdade

por Marília Marques Nunes, Marilyn Satiko, Lilian Rocha, Talita Miranda e Raiane Assumpção

hostil, muitos buscam forças na família, na religião, na educação e até

mesmo na imaginação de ser alguém reconhecido socialmente. A

família é vista como o maior apoio, a relação com a mãe é evidenciada

como um vínculo, em alguns casos o único que os motivam a continuar

lutando pela liberdade. Em uma das redações um jovem se apega a

uma aranha como sua única companhia. A solidão é tamanha que ele

conversa e observa ela o dia todo. Muitos não têm o que fazer e

passam a noite acordado, aguardando o dia amanhecer, com a

esperança de se libertar algum dia de tamanho sofrimento. O ócio no

sistema prisional é visto como uma tortura. Os autores reivindicam

atividades e ocupação, não só preencher o tempo, mas como

alternativa de crescimento e oportunidade no mundo externo. Por outro

lado, alguns relatam que dentro do presídio tiveram pela primeira vez a

oportunidade de concluírem os estudos, pois em liberdade tinham a

necessidade de se dedicarem a outras coisas e não podiam priorizar a

formação escolar. Alguns citam a educação como algo capaz de

modificar a sociedade e acreditam que por meio dela se aproximarão

da liberdade que tanto desejam.

Outro ponto que aparece em quase todas as redações é a auto-

culpabilização por ter perdido a liberdade e ter se envolvido com o

mundo do crime. O discurso dos autores analisados demonstra que

apesar da realidade hostil em que se encontram, acreditam que diante

de sua culpa merecem estar ali. Neste sentido, o sofrimento faz parte

do processo de “regeneração”.

Muitos relatam terem entrado no crime em busca de autonomia

financeira e desejo de sair da casa dos pais. Outros, apesar desse

sentimento de culpa, relatam que sempre viveram de maneira difícil e

que o mundo nunca ofereceu a eles grandes oportunidades. Alguns

afirmam que nunca tiveram liberdade, saíam do presídio e iam viver

em ambientes miseráveis onde a fome, a dor, a violência e a

humilhação se faziam presentes. O crime muitas vezes era uma saída

financeira, porém os aprisionava neste mundo permeado por vícios.

Os autores se expressam de várias formas - através de poemas,

metáforas e letras de música; contando histórias e relatando

experiências de dentro e fora do sistema prisional. Buscam uma forma

de dizer ao leitor aquilo que guardam para si e que poucos se

interessam em saber, como por exemplo, seus sentimentos, seus

sonhos e sua

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Volume 2 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 3 Criação e Edição: Fabrício G. Leonardi, Brenda Barbosa, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho

Referências Bibliográficas:

Educação em Prisões na América Latina: Direito,

Liberdade e Cidadania. Brasília, UNESCO, OEI,

AECID, 2009.

Lefevre F; Lefevre AMC. O Discurso do Sujeito

Coletivo. Um novo enfoque em pesquisa

qualitativa.Desdobramentos. Caxias do Sul, Educs 2003

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir – História das

violências nas prisões., Tradução de Raquel Ramalhete,

13 ed. Petrópolis, Vozes, 1996.

GOFFMAN, Erwing. Manicômios, Prisões e Conventos,

São Paulo, Perspectiva, 1974.

WACQUANT, Loic. As Prisões da Miséria. Tradução,

André Telles. – Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001.

A liberdade é algo sonhado por todos. Porém, há

várias maneiras de compreendê-la.

situação de privação da liberdade. Foi possível identificar que a maioria tinha grande

desejo de se expressar e falar da situação em que vive. Dirigem-se diretamente ao leitor,

pedindo para que sua mensagem vá além do papel, que seu relato seja lido e não

esquecido.

Alguns demonstram compreender as desigualdades existentes em nossa

sociedade e criticam a postura do sistema judiciário, que na maioria das vezes beneficia

a classe dominante. Escrevem sobre a complexidade do mundo, a partir da análise de

suas próprias realidades. Entendem que para acabar com as desigualdades presentes em

nossa sociedade é preciso investir em educação. A maior parte dos sujeitos privados de

liberdade acredita que alcançará a felicidade quando estiver fora do presídio junto aos

seus familiares, tendo garantidos o acesso a educação e ao trabalho. É interessante

perceber que em todos os discursos está presente a necessidade do trabalho como forma

de se constituir enquanto participante da sociedade.

Os sujeitos privados de liberdade tendem a incorporar o discurso do senso

comum, disseminado pelas instituições sociais e pelos principais meios de

comunicação, que direcionam a responsabilidade pela criminalidade aos pobres, e

assim, por consequência, a eles próprios. Isso se dá tanto no sentido da crença de que o

sistema penal irá de fato “reeducá-los”, ou “regenerá-los”, como na incorporação da

culpa pelo fato de terem sido presos (mesmo entre os que não acreditam na eficácia do

sistema penal).

Essa relação entre cenários de desigualdade social e crescimento da população

carcerária foi estudada por Wacquant (1999). Segundo o autor, que estudou a situação

na Europa e nos Estados Unidos, o crescimento da população carcerária está associado

ao desenvolvimento do Estado “liberal paternalista” – liberal porque se utiliza de

mecanismos econômicos geradores de desigualdades sociais e paternalista porque

realiza ações paliativa frente a precarização do trabalho e da proteção social.

No Brasil, segundo dados do Depen (2007), a população carcerária, em sua

maioria, é composta por jovens, pobres e negros. É fundamental compreender que os

problemas existentes no sistema carcerário, estão em alguma medida relacionados à

sociedade desigual em que vivemos. O Brasil é o quarto país que mais prende no

mundo, sendo que o Estado de São Paulo está em uma posição mais crítica, contêm

40% da população prisional do país. Geralmente, esses presídios são superlotados e

estão em péssimas condições estruturais. Esta situação é geradora de constante

violência, e demonstra a crise que o sistema prisional brasileiro vem passando. Diante

disso, o que percebemos é o não cumprimento das leis previstas na Constituição Federal

e/ou na Lei de Execução Penal e dos tratados de direitos humanos, que garantem a

dignidade e a integralidade de qualquer ser humano, seja ele privado ou não de sua

liberdade.

Assim, podemos afirmar que não é a pobreza que produz a criminalidade, porém

ela é criminalizada e isso acaba por legitimar atitudes arbitrárias contra as classes

subalternas. O fato de a imensa maioria dos encarcerados pertencer à classe

desfavorecida da sociedade não é um mero acaso.

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“A educação como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática de dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado no mundo, assim também na negação do mundo como uma realidade ausente nos homens.”

(Paulo Freire, Educação como prática da liberdade).

TABLOÍDE 3 “NOV(e/i)DADES” – Cesar Inoue e Thiago Polli

Primeira visita à escola. Rodoviária. 193. Ansiedade e descontração se confundiam. “É aqui que desce?” “tem

certeza?” “É no outro”. Caminhada até a porta da escola. Ambiente pouco familiar misturado com lembranças da

infância. “Eu cresci ali”. Cigarros acesos. Parecia haver dois mundos, um interno e um externo, separados pelo portão

da escola. Bitucas jogadas, entrada na escola. “Cadê a Rose?” “Já já a gente conversa, na sala dos professores tem ar

condicionado, quando bater o sinal a gente entra”. Jantar. Comida muito gostosa. Bate o sinal. O resto de comida do

prato é devorado. Sala dos professores. Ar condicionado. Choque de temperaturas. Flavia, café, bolachas, Cesar, Rose,

ar condicionado, Danilo, Thiago, copos descartáveis, água, televisão, armários, uma grande mesa, Ana Carol, Lurdes e

Gisele. Justificativas pela demora de contato. Alterações quanto à proposta do ano passado. Abaixo a

obrigatoriedade, agora entra em cena a voluntariedade “A voluntariedade pode ser bacana, pois quem for chama os

outros”. Aumento de responsabilidade em fazer dar certo. Euforia, frustração, cautela, exemplos de outros projetos

que deram certo. “Nossa, que legal, é que nem o teatro do oprimido.” “Vai fazer com todas?” ”Essa 8° é diferente”

“Mas eles se formam e não voltam mais” O que é se formar? Estar pronto? Não aceitar mais nada? Não se deixar

influenciar? “Mas com quem fica a responsabilidade?” “Passamos uma lista de presença?” “Não se preocupe, aqui é

tudo organizado, a gente passa uma lista.” “NÃO TO ENTENDENDO”! “Como vocês vão fazer o ano inteiro? Já estamos

em novembro.”. Explicações quanto à greve. “Ficaremos em aula até abril.” Desejo de continuar o trabalho nas férias.

Utopia? Devemos parar nas férias? Voltamos só em fevereiro? Teremos só 4 encontros? “Vamos construir isso com o

grupo. Se o grupo quiser continuar nas férias, continuamos, se quiser parar e retornar em fevereiro, retornamos em

fevereiro. Tudo vai ser construído junto, desde as atividades até os dias de trabalho. É difícil pré – ver o que vai

acontecer, porque tudo vai depender do grupo.”

Divulgação das atividades:

Cartazes para divulgar. Onde colocar? Qual o lugar mais visível? Cartazes colados em lugares mais impactantes.

Nove salas para passar. Nove momentos parecidos. Nove momentos distintos: “Toc, Toc. Da licença, a gente pode

conversar com a sala um pouco?” Estranhamento, cochichos, risadas, descaso, pouca abertura ao novo, vontade de

copiar o que estava na lousa. “Somos alunos de psicologia e serviço social da UNIFESP – alguém sabe o que é

UNIFESP?” Silêncio. “Já ouvi falar, mas não sei o que é.” “Nunca ouvi falar” “Trabalho na 95” “É a Universidade Federal

de São Paulo. Este trabalho já é realizado aqui desde o ano passado, mas este ano tem algumas diferenças. Não será

mais obrigatório, porque ninguém gosta de fazer nada obrigado, e ao invés de fazer para uma única sala, abrimos

para todas do noturno. Trata-se de um projeto de educação popular, que teve início com a morte de Felipe boladão.

Isto gerou inquietação em um de nós e a morte de Careca realçou a importância do projeto. Nossa proposta é criar

uma roda de conversa, sem lição de casa, sem provas, para pensarmos juntos onde está o conhecimento. O

conhecimento ensinado na escola é real, mas não é o único. Nossa proposta é pensar o porque que ele é dado assim,

como ele poderia ser dado de forma diferente, para que ele serve, quais conhecimentos trazemos de casa, por que

estes conhecimentos não estão na escola? Dúvidas?” Silêncio. “Vocês falaram um monte, mas eu não cheguei a

nenhuma resposta, só mais um monte de questionamentos.” Felicidade empolgação e sorrisos. “Essa pergunta foi muito

boa e é isso que a gente tá querendo. Não existe uma única resposta, mas sim vários questionamentos.” “Nossa

proposta é que nos encontrem às 19 horas na biblioteca na segunda-feira.”

Interrupção “Não pode ser nas duas últimas? É aula de história. Segunda nunca tem ninguém, o melhor dia é

terça” “Interessante isso, vou levar meus alunos.” “Só lembrando que é voluntário” “Não, mas eles gostam disso”.

“Mesmo que não seja um bom dia, aqueles que se interessaram venham nesta segunda para dizer isto, e para

pensarmos juntos o melhor dia para nos encontrarmos. Não deu para vir no primeiro, pode vir no segundo, não gostou

do primeiro, não precisa vir mais, está todo mundo livre. Mais alguma dúvida? Muito obrigado, até segunda” .

E assim foram as nove divulgações, com nove salas para passar, nove momentos parecidos e nove momentos

distintos. Fim dos encontros. Cansaço físico e mental “Vocês falam hein?”. Expectativa, dúvida, como fazer? Quantos

virão? “Segunda nos encontramos”.

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TABLOÍDE 3 Dança das cadeiras – Cesar Inoue e Thiago Polli

Segunda visita. Silva jardim – rodoviária – Leonardo Nunes. Ansiedade pela primeira formação de grupo, o

primeiro encontro determinaria o sucesso dos demais. Muitas incertezas: “Quantas pessoas viriam?”. “Como seria o

grupo?”. “Daria tudo certo?”. “O que é dar certo?”.

“Béééééééééééé”. “Todos para a biblioteca!”. Livros, bibliotecária, alunos chegando, espaço pequeno. “vamos

para uma sala maior?”. Confusão. “Qual sala que é mesmo?”. Enfim conseguimos uma sala. Muita gente, sala lotada.

“Pega mais cadeiras!”. Universidade e escola se misturavam espacialmente dentro daquela sala. “Posso participar?”.

“Claro, professora!”. Euforia e muito barulho. “Vamos começar?”. Assim iniciaram-se os acordos: respeito nas falas e

celulares no vibrador. “Como o grupo é novo, gostaríamos de que ficassem a vontade para se apresentar com o

nome, o que gosta de fazer e suas expectativas”. Cadeiras se mexiam, muitas pessoas saiam da sala. “Achei que ia ser

legal...”. Por que não quereriam se apresentar, já dissemos que nada seria obrigatório. “Meu nome é... Gosto de

cozinhar, gosto de ler a bíblia, gosto de jogar futebol, gosto de contato com os outro... Minhas expectativas são que

hajam bons encontros!”. Cadeiras se mexiam: se apresentava alguém da frente, se apresentava alguém do lado, se

apresentavam alguém atrás. Dificuldade em ouvir as pessoas. “Galera, porque será que tá tão difícil ouvir as pessoas?”.

“Eu já tinha percebido isso, acho que vocês que tão falando tinha que ir lá na frente.”. “Mas só a gente tá falando?”

“Então quem for falar vai lá na frente.” “Mas não é ruim, toda vez que alguém for falar ter que ir lá na frente?”. ”Que tal

a gente sentar em roda?!”. Rostos desconfiados e dúvidas, mas as cadeiras voltaram a se mexer! Agora estávamos em

roda. “Por que será que sentamos em fileira?”. “Pra escutar melhor o professor e aprender o que ele tem pra

ensinar.”.“O professor é o único que tem a ensinar?”. “ A gente também aprende com a vida, mas dentro da escola, é

o professor quem sabe.”. “Será que a escola foi sempre assim?”. “Sim!”. “Não!’.

O encontro se estendeu por duas horas e muitos temas surgiram:

“A escola é fundamental, é a base.”. Esse ponto parece ter sido a única unanimidade da discussão.

“Falta disciplina na escola, culpa do tal do ECA, hoje em dia não pode mais bater. Na minha época era na

palmatória, no milho...”. “Nunca apanhei e me considero um bom aluno.”. “Já eu apanhei muito e não tenho nenhum

respeito por quem me bateu.”. “Como corrigir os alunos que fazem bagunça?”. “Tem que ter polícia na porta da

escola.”. “Pra isso serve o psicólogo.”. “Bons professores!”. “A educação vem de casa.”. Êxtase e felicidade pelo

volume de discussão e crítica se misturavam à angústia, ??????? de a professora possivelmente estar intimidando

algumas críticas. Por outro lado sua presença pode complementar a discussão levanto em conta mais um ponto de

vista. “ A escola só vai mudar quando o vestibular mudar.”.

“Pra que a gente aprende?”. “Pra passar na prova!”, “Pra pegar diploma.”, “Pra passar no vestibular.”.

“E por que fazer prova?”. “Imagina se a pessoa passa sem saber, a prova vai dizer se ela sabe ou não.”. “Será

que a prova realmente vai avaliar se a pessoa sabe ou não? Será que não há formas melhores de avaliação?”. “É

verdade, às vezes a gente não tá bem no dia!”. “Tá vendo como isso aqui é bom, de uma questão vai indo, indo...”.

A empolgação da conversa começava a dar lugar ao cansaço. “Quais suas impressões da reunião de hoje?”.

“Bacana, gostei.”. Marcamos a próxima reunião para quinta feira dia 22. “As bailarinas falam que as palmas são tão

gratificantes que representam abraços, então vamos nos abraçar ou fazer uma salva de palmas pelo encontro de

hoje“ Clap, clap, clap. As pessoas se levantaram e começaram a partir. “Pessoal, pessoal, antes de irem embora

ajudem-nos a arrumar as carteiras de volta.” E pela última vez as cadeiras voltaram a se mexer.

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I Fórum de Educação Popular da Baixada Santista

Primeira oficina com terceirizados da UNIFESP junto com

abertura do I Fórum de Extensão da Baixada Santista.

Coincidência ou falta de agendas? Agendas são sempre

problemáticas para agendamentos. O coração dividido realiza

a oficina com os trabalhadores (o olho no peixe) e pensa no

Fórum (o olho no gato). Acordando tão cedo, preocupado com

a organização da mesa de abertura, arrumação das cadeiras,

instalação do som, microfone, recepção de convidados,

barulho da obra do prédio faraônico ao lado. Ninguém chega!

Cadê a galera? Ausência. Correria. “Olá!”. “Olha, fulano

chegou!”. “Alguém toca violão?”. “Cadê o resto?”. “Olá!”.

Aproximações tímidas. “Vamos fazer uma roda?” “Somos o

PET Educação Popular.” Apresentações. Dança circular.

Cantoria tímida. Mais alto. Olhares curiosos. Valéria segura às

pontas? Nada disso poderia ser acompanhado como o

desejado. Seja o que deus quiser (ou o que os outros

organizadores quiserem), vai que dá certo e esse frio na

barriga não vale o perrengue? “Vamos falar um pouco da

Educação Popular, da nossa experiência”. Tempo. Escutas

aguçadas, cabeças em aceno. Olhares atentos. Cafezinho. “Ele

se animou nos 30min!”. Falas. “Como fazer educação

popular?”. Quem chegou e não acompanhou o começo corre o

risco de sentar na janelinha se resolver perguntar, mesmo

assim vale o risco para a resposta que diz "Paulo Freire é uma

leitura em disputa e, é claro, que dela existem muitas más

apropriações, mas não consigo conceber fora de uma

perspectiva marxista". Eita leitura pedagógica que ultrapassa

para as relações cotidianas, para a relação com a sociedade de

maneira geral, relações entre as pessoas. Perspectiva que vai

contra a maré, mas não é ortodoxa. Liberalismo ou

Socialismo? Socialismo... Almoção, bancada grande de garfos

e pratos, pessoal lá da rede extremo sul, pessoal do cursinho

de São Vicente, pessoal do PET. Sorrisos e entrosamento,

conversa, garfo, digestão das ideias da manhã, a preparação

da tarde. “Alguém pode “emprestar” o número de matrícula?”.

Junção de mesas; mesa gigante. “Conta, como é o trabalho de

vocês?”. “Huum, esse peixe tá uma delícia!”. Garfos e facas

batendo contra o prato. “A experiência no cursinho caiçara é

incrível. A estrutura familiar que eu não tenho, consegui lá”. “E

a militância?”. “Vamos descer?”. Roda maior. “Quem

começa?”. “Resolvemos montar o cursinho. Fizemos grupos

de estudos sobre educação popular e acabamos caindo em

Marx também!”. “Quando falarmos “coisado”, significa

interdisciplinar. É muito difícil essa palavra!”. “Nos sentimos

iguais, podemos discutir, trazer ideias.”. – “Eles nem precisam

falar de resultados, né? Os resultados estão aqui!”. “Quem

agora?”. “A gente gosta de fazer, não falar”. Teatro. O moço

dos porcos, a moça do leite. “Sou vegetariana!”.

“Vegetarianismo é pra burguês!”. Mais-valia. “Entendeu?”.

(Karl) Marx e Max (Weber) – te peguei! Não adianta falar, é

fazer na prática. “Trabalhamos assim.” “Bacana!”. Panfleto de

trabalho. “E agora?”. Rede Extremo Sul. “Tamo junto, lá na

perifa!”. “Não nos misturamos com partidos, ou questões

políticas. Trabalhamos sem patrão, seguindo nossos ideais”.

“Condições de habitação precárias, despejos em massa”.

“Fazemos uso do audiovisual como ferramenta.” “Canta uma

pra gente, Robsoul?”. Som, hip hop. Palmas. “Uhuu!”.

Sorrisos. Cafezinho e lanche. “Falta o MULP”. “Estamos no

Jardim Pantanal faz tempo!”. “Muita luta, conscientização.

Direito a moradia, melhores condições”. “Conseguimos

colocar a água”. “E hoje?” “Cursinho popular do Jd. Pantanal!”.

“Muitas conquistas, construção conjunta.” Teatro. O primeiro

grupo a divertir dentro do prédio que a amante do ex-reitor

fez pior que um TCC nota 5. A ameaça de bomba já sujou o

teto. Ihhhhh, sujou... “É tudo arrumadinho”, da trupe Olho da

Rua, e muitas risadas da empresa que quer que os

empregados não sejam vendedores, mas vencedores. No final

todo mundo chapado de ansiolítico porque aprende a viver

passando a perna nos outros. Vida selvagem, mas que parece

tudo bem arrumadinho. Festa Julina cheia de comes e bebes

e, finalmente, travesseiro. Fabrício Leonardi e Betina Dauch

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ESTRATÉGIA METODOLÓGICA:

A partir de situações que envolvem as temáticas, vividas pelos educadores (ou seus pares) no cotidiano do trabalho

em educação do município, pretendeu-se estimular reflexões a partir da prática e estimular a elaboração de um plano

para desenvolvimento de, pelo menos, uma ação envolvendo as temáticas da Oficina em seus locais de trabalho na

SEDUC (Secretaria de Educação).

OBJETIVO GERAL:

Oferecer subsídios conceituais e metodológicos para que os profissionais da Secretaria de Educação tenham uma

aproximação com as temáticas de gênero, diversidade e direitos.

QUESTÃO DISPARADORA

"Você já se deparou com alguma questão sobre sexualidade em sua escola? Como lidou?"

Exibição dos Vídeos: TV Piá e

Identidades, gênero e diversidade

sexual - parte 4

O vídeo é uma das estratégias (junto com os cartões) que serviu para fomentar a

discussão no grupo já a partir de experiências e compreensões conceituais sobre a

temática

Jogo/Debate dos CARTÕES

com palavras/expressões

relacionados ao tema das oficinas

(Gênero, Diversidade e Direitos) para

que os educadores expliquem o

motivo pelo qual escolheram estes e

também o que entendem sobre a

expressão escolhida.

Espalhar os cartões no chão e pedir para que cada participante escolha uma

palavra e expressão, explicando que deverá compartilhar com o grupo as razões

por ter feito esta escolha.

Cada participante fala os motivos (serão anotados no quadro pelo/a facilitador/a)

da escolha da palavra/expressão;

Os/as facilitadores/as, após apresentação de todos/as, fazem conexões entre as

escolhas das palavras/expressões, conexões com o vídeo e com a resposta à

questão disparadora, solicitando a participação dos/as educadores/as neste

debate

Apresentar e discutir ideias sobre

possibilidade de ações que podem

ser desenvolvidas na escola

A partir das etapas anteriores, espera-se ter mobilizado os/as educadores/as para

proposição de pelo menos uma ação para ser desenvolvida na escola.

A discussão deve ser feita em grupo e deve gerar propostas compartilhadas a serem

apresentadas em plenária.

Questão orientadora:

“O que pode ser feito na minha escola para que todos/as possam entender e lidar

melhor com as temáticas?”

Apresentação de síntese do trabalho

de discussão do grupo e das

propostas de ação discutidas e

definidas na etapa anterior.

Leitura, ajustes e aprovação do trabalho de relatoria

Oficina do Centro de Referência em Direitos Humanos da Unifesp BS

Gênero, Diversidade e Direitos

Resumo: Experiência protagonizada pelo “Centro de Referência em Direitos Humanos” em parceria com o “Núcleo de Estudos Heleieth

Saffioti: relações de gênero, sexualidades e movimentos sociais”, ambos da UNIFESP/Baixada Santista. A realização da Oficina “Gênero,

Diversidade e Direito” com profissionais da Secretaria Municipal de Educação do município de Santos (parte da Programação da I

Semana da Diversidade Sexual de Santos/2012) gerou subsídios para compreender o lugar das temáticas Gênero e Sexualidades na

formação profissional e mostrou que ainda são incipientes nas atividades de ensino, pesquisa e extensão no campus sobre esta

temática. O cotidiano de educadores (as) nas relações estabelecidas na Universidade e nas escolas revela dificuldades no

cumprimento do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, já que a Educação é marcada pela linguagem do gênero e pela

crença na hegemonia da sexualidade heterossexual. A experiência implicou no estabelecimento de um processo

(ensino/extensão/estágio) comprometido com uma formação universitária que rompe com a reprodução da violação dos direitos. Os

processos educativos devem garantir uma formação que concebe as pessoas como sujeitos detentores de direitos, inclusive para o

exercício da sexualidade, e as instituições de Educação devem estar comprometidas com o horizonte ético-político dos

direitos humanos. Coordenação Profa. Cristiane Gonçalves

Page 8: Tablóides do PET Educação Popular - 2

UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Fevereiro 2014

Volume 2 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 8

Gostei muito de ter participado dessa experiência. Aprendi

bastante com as discussões do grupo em sala de aula, debatendo as

ideias de autores sobre a temática e com as experiências de cada

um que foram compartilhadas durante os encontros. A minha

identificação com tudo o que foi discutido durante esse processo de

formação da oficina de diversidade sexual, se deu pelo fato de que

vivenciei momentos muito difíceis de uma pessoa muito importante

pra mim, que passou por situações de discriminação e não aceitação

da própria família após ter assumido ser homosexual.

Pude conviver com alguém que passou pela dor de não ser

aceito pela sua família, julgado pelas roupas que vestia, os lugares

que frequentava, sendo reprimido pela sociedade, principalmente

em Santos, local que ele achava que o preconceito era ainda maior.

Por isso, ainda muito jovem saiu da casa dos pais e foi tentar uma

vida independente. Sua família não tinha um bom esclarecimento

sobre sua orientação sexual, e tiveram dificuldades em lidar com a

situação, talvez por falta de conhecimento, já que ainda vivemos em

uma sociedade que impõe padrões de comportamento regulados

pela heteronormatividade.

Considero um avanço que hoje exista uma semana de

diversidade sexual com formação e oficinas para os educadores. As

pessoas estão mais receptivas para discutir a temática e por mais que

mostrem resistência, ainda assim, é algo que está em construção.

Não se elimina valores introjetados por toda uma vida de uma hora

para outra, mas aos poucos é possível construir uma nova sociedade.

Durante a oficina foi explícito que muitos educadores não

conseguem separar de sua atuação os valores morais e religiosos que

os guiam. Porém, a oficina pode contribuir para o início de reflexões e

propostas a serem desenvolvidas nas unidades de ensino do

município de Santos.

Participar do PET Educação Popular como sistematizadora das

atividades realizadas pelo Centro de Referência em Direitos Humanos

foi um grande aprendizado. Ao mesmo tempo em que observava o

trabalho dos estagiários e extensionistas, aprendi com os assuntos

discutidos nos encontros, pude refletir sobre alguns conceitos ligados

à temática, enfim, me acrescentou como pessoa e profissional.

Por fim, agradeço a oportunidade e espero que o produto final

deste processo contribua para os registros das atividades do CRDH.

Acredito muito na Educação Popular como método de

transformação social. Como disse Freire: “Educação não transforma o

mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Rafaela Andrade

Participar do PET Educação Popular, foi uma experiência

bastante interessante, principalmente porque, antes de eu entrar

no projeto desconhecia a prática da educação popular. É um

projeto que permite uma transmissão mútua de conhecimento, que

possui muito conteúdo para ser acrescentado, tanto na vida

acadêmica quanto na profissional e pessoal, ensinando, de certa

forma, a lidar com as diferenças do outro sem fazer o uso de

estereótipos e pré-julgamentos.

A frente pela qual eu fiquei responsável, junto com mais

duas alunas, foi a do Centro de Referência em Direitos Humanos. O

assunto é muito interessante, e acima de tudo, muito importante,

pois trata, especialmente, da diversidade sexual e da diversidade

de gênero.

No início do trabalho, eu ainda estava um pouco perdida.

Havia dificuldade para enxergar claramente a relação da

educação popular com essa questão da diversidade sexual e tudo

o que isto implica. Aos poucos, com a participação dos encontros

e das rodas de conversa, percebi que era uma temática bastante

abrangente e pertinente.

Passei a perceber a relação da educação popular com a

questão da diversidade sexual e de gênero, quando comecei a

notar coisas pequenas e micro processos que ocorrem no nosso

cotidiano, e que por muitas vezes nos passam despercebidos

características machistas e conservadoras que ainda estão

presente em nossa sociedade, desde sua gênese.

Através desse trabalho, foi possível constatar que, ainda que

vivqmos em uma sociedade democrática, na qual os cidadãos

devem ter seus direitos garantidos, na prática, não é isso que

acontece. As pessoas não respeitam as escolhas das outras, por

muitas vezes passando por cima dos direitos gerando preconceito

seguido por violência.

As escolas, por ser um aparelho ideológico, deveriam

produzir trabalhos que vão além da educação convencional, para

assim, poderem conscientizar as novas gerações de que a

diversidade de gênero e a diversidade sexual é algo singular,

característico de cada ser humano, e que cabe às outras pessoas,

apenas aceitar e respeitar, acima de qualquer coisa.

O trabalho que o Centro de Referência em Direitos Humanos

realizou, foi justamente isso. Uma oficina que promoveu o encontro

de todos os professores do ensino infantil e fundamental da rede

municipal de Santos, para participar de uma discussão que

pudesse encontrar caminhos diferentes para inserir na educação

trabalhos que conscientizem os alunos de que preconceito não

pode existir se quisermos viver em uma sociedade democrática.

Eu, particularmente, como relatora da oficina fiquei um

pouco indignada com os pensamentos conservadores de algumas

professoras. É difícil aceitarmos que ainda hoje, dentro das escolas,

essa questão do preconceito seja forte. Pois é, também, dentro

dessas instituições que a personalidade e a visão de mundo dos

indivíduos enquanto cidadãos começam a se formar.

Marina Stracini

Através desse trabalho, foi possível

constatar que, ainda que vivamos em

uma sociedade democrática, na qual os

cidadãos devem ter seus direitos

garantidos, na prática, não é isso que

acontece. As pessoas não respeitam as

escolhas das outras, por muitas vezes

passando por cima dos direitos gerando

preconceito seguido por violência. (Marina Stracini)

O que Papai

CONTATOS DO PET

Reflexões dos que vivenciaram...