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RENATA AMADO SETTE MOSANER SUJEITO-CIDADE: UM PROCESSO DE CRIAÇÃO

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Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação e Multimeios, Pontifícia Universidade Católica, PUCSP Renata Mosaner

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RENATA AMADO SETTE MOSANER

SUJEITO-CIDADE: UM PROCESSO DE CRIAÇÃO

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICAPUCSP

COMUNICAÇÃO E MULTIMEIOS

RENATA AMADO SETTE MOSANER

SUJEITO-CIDADE: UM PROCESSO DE CRIAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso de Comuni-cação e Multimeios da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Ane Shyrlei de Araujo.

SÃO PAULO2011

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Agradeço a Ane Shyrlei de Araújo, pela confiança no meu trabalho e a todos aqueles que me

auxiliaram nesseprocesso direta ou indiretamente:

Cristianne LyMarcelo Greco

Marcos AzevedoMarcus Bastos

Mariana de MelloMarisa Werneck

Melissa YamamotoPaula GabbaiRafael Taraia

Rodrigo GontijoSimão Salomão

Sofia ScharffVanessa Zettler

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RESUMO

O presente trabalho se desdobra a partir de experiências e criações da pesquisadora e da própria reflexão desse processo, que tem como fio condutor a interpenetração entre o homem e a cidade. O processo de criação, que gerou três subprodutos - um diário de viagem, um mapa de Berlim inspirado na infância de Walter Benjamin e um ensaio fotográfico- é, ao mesmo tempo, objeto de estudo e metodologia para o pensamento sobre a cidade. O processo, os subprodutos e as cidades são fios da mesma trama, que se tocam em vários pontos e se desmancham em camadas prontas a se reconfigurarem novamente.

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ABSTRACT

The present work is done by the creations and experiences from the resercher and the reflection of this process, that has as conduction wire the interpenetration between the man and the city. The creation process, that gave birth to three subproducts – a journey diary, a Berlim map inspired by Walter Benjamin childhood and a photo essay – is, at the same time, object of studying and methodology for the thought upon the city. The process, the subproducts and the cities are threads from the same weft, that are touched in various spots and turn into settled tissues to be reconfigurated once again.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................08FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................................................10CONCEITO DA PRODUÇÃO...........................................................................................................11ETAPAS DA PRODUÇÃO................................................................................................................12PERFIL DO PÚBLICO ESPECTADOR............................................................................................14TECNOLOGIAS UTILIZADAS.........................................................................................................15CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................16 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................17 ANEXO I : IMAGENS DIARIO DE VIAGEM.....................................................................................18ANEXO II : IMAGENS MAPA DE BERLIM.......................................................................................19ANEXO III : IMAGENS ENSAIO FOTOGRÁFICO...........................................................................21

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INTRODUÇÃO

“Evita-se cunhar o definitivo. Nenhuma situação aparece, como é, destinada para todo o sempre; nenhuma forma declara o seu ‘desta maneira e não de outra (...) Em tais recantos mal se percebe o que ainda está sob construção e o que já entrou em decadência. Pois nada está pronto, nada está concluído.” (BENJAMIN, 1993, p.148)

Diferentemente dos críticos que formulam suas colocações a partir do resultado, do produto, da obra concluída, aqui foi trilhado um caminho que começa e termina no “entre”.Pode soar contraditório, mas o produto desse Trabalho de Conclusão de Curso é o seu próprio processo. Este processo produziu alguns subprodutos, que são conectados por alguns fios condutores. Os subprodutos são pedras, que coexistem no mesmo matagal. Este matagal pode ser compreendido em várias camadas diferentes: o matagal sou eu, meu processo, e também o tema que estou tratando neles – a superposição do eu e da cidade. É importante entender que o matagal não é uma dessas opções, mas tudo isso justaposto. Por uma necessidade de organizar as idéias e fazer-se compreender, tive de escolher núcleos teóricos e do processo para tratar a respeito neste trabalho. Cada pedaço, na verdade, tem alguns desdobramentos, e não os descarto permanentemente, entretanto, mesmo que o processo de criação não esteja concluído, é imprescindível pontuá-lo no aqui e agora para que essa etapa tenha uma forma de apresentação definida. O método utilizado, articulado por Paul Valéry, é um “metamétodo” que encontra-se nas entranhas do próprio conceito da produção. Método esse em que a criação se desdobra a partir de cada situação específica do aqui e agora, pois, pressupõe que é nos intervalos desse contínuo que surge a invenção e a descoberta. Contarei de forma extremamente sucinta, a caráter de introdução, o que em breve virá detalhado e explicitado pelos subprodutos. É complicado dizer com precisão quando um processo se inicia. Minha primeira experiência foi a estadia de um mês em Nova York. Nela, duas coisas ocorreram: criei um caderno de viagem com imagens, desenhos, registros de sensações, etc, significando a minha relação subjetiva com a cidade; e, olhando para essa metrópole, comecei a me interessar pelo comportamento dos turistas diante dela. Fiquei extremamente incomodada e curiosa com algumas atitudes que presenciei. Voltei pra São Paulo e propus como TCC um misto entre guia e caderno de viagem que teria o intuito de ampliar a percepção de seus usuários diante de alguns aspectos da cidade. Alguns meses depois tive acesso a textos e aulas que me deixaram completamente seduzida. Tive contato com a Infância em Berlim por volta de 1900 e fiquei encantada com a idéia de uma cartografia emocional. Resolvi esquecer o produto proposto anteriormente e desenvolver um mapa afetivo da minha infância em São Paulo, composto por fotos e textos mapeados digitalmente. Não fui adiante devido a alguns medos que me assombravam. Propus então (e concluí) um mapeamento do Walter Benjamin em Berlim. Pesquisei a fundo os locais por onde ele circulava, imagens desses locais da época (1900) e os dispus em um mapa.

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Desenvolvi também um site de apoio para publicar o projeto, as referências e também disponibilizar as informações que não cabiam no mapa. Com o mapa feito, tive vontade de continuar a produzir e agora me sentia minimamente segura (porque o desconforto também é fundamental para a criação) para desenvolver um trabalho autoral. Comecei, portanto, a construir um ensaio fotográfico retomando a minha infância, a casa onde morei, alguns locais da cidade, etc. Apesar de ser outra linguagem, o ensaio surge de uma metodologia que se orienta pela analogia, pelas correspondências (termo muito usado por Baudelaire e título de um de seus célebres poemas) aos tableaux urbanos de Benjamin, que descreve desde a caixinha de costura de sua casa, passando pelas cores que o encantam nas bolas de sabão até o Tiergarten, local onde costumava passear. A partir da percepção de que entre todos os subprodutos havia alguns fios condutores é que me vi imbuída de ligar esses pontos e assumir o caráter de unidade do caminho trilhado.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Há quatro principais conceitos e idéias que permeiam esse trabalho. A primeira é referente ao encontro da cidade com o sujeito. Walter Benjamin foi um dos grandes teóricos a falar da relação do homem x cidade. No livro Rua de Mão Única em especial, ele flana entre quadros (os tableaux) que sinestesicamente descrevem alimentos, objetos, lembranças e experiências do autor vividas em diversas cidades. A Infância em Berlim por volta de 1900, capítulo integrante desse livro, traça uma cartografia emocional de sua infância na cidade em que cresceu. Utilizando-se do tableaux urbano como gênero, mescla a descrição, a narração e a reflexão, criando assim, “(...) uma orientação cartográfica de um livro sobre a cidade, historicidade de uma autobiografia e/ou de um livro de memórias, e teor filosófico de uma imagem de pensamento ou imagem dialética.” (BOLLE, 1994, p.332). Willi Bolle esmiúça trechos de Walter Benjamin e, colabora assim, para um entendimento mais aprofundado de sua obra. Apresenta-nos a idéia de memória topográfica, ou seja, “memória que não visa a reconstrução dos espaços pelos espaços, mas estes são pontos de referência para captar experiências espirituais e sociais.” (p.335). Essa memória afetiva possivelmente constitui o núcleo do Infância em Berlim por volta de 1900. Seguindo esse conceito, objetos e lugares passam a ser recipientes de uma história da percepção e da formação de emoções. Benjamin trabalha com os objetos e com o interior da casa: “A caixa de costura”, “Armários”, “A escrivaninha”, traços que podem ser notados também no ensaio fotográfico. A segunda idéia desenvolvida no presente trabalho traz à tona o protagonista da primeira. É o sujeito que permite que a cartografia emocional ocorra: o flaneur, que tem o passo lento e anda sem direção. Segundo Nelson Brissac em Paisagens Urbanas a imagem contemporânea produz uma nova visualidade, devido ao deslocamento desse observador errante, que é desprovida de profundidade, onde os elementos são justapostos. O observador “ambulante” não tem mais acesso único a um objeto, pois, a visão é múltipla e produto de sobreposição de objetos. Essa visualidade é formada pela convergência de novos espaços urbanos, tecnologias e imagens que se entrelaçam. (p. 47) Os dois outros conceitos estão intimamente ligados ao processo de criação e por isso serão explicitados no próximo item: Conceito da Produção.

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CONCEITO DA PRODUÇÃO

Os dois conceitos que regem a produção são o metamétodo, desenvolvido por Paul Valéry a partir do trabalho de Leonardo Da Vinci e a lógica do “e” que Gilles Deleuze e Guatarri apresentam em Mil Platôs. Ambas as teorias atentam ao que se encontra entre. Valéry defende que a criação, a invenção, a descoberta ocorrem em um momento de intervalo do contínuo, na hora orifício. É um metamétodo na medida em que tenta investigar como o criador estabelece nexos de continuidade, os quais são adequados a cada caso e derivado do próprio fenômeno observado. É exatamente esse o exercício que está sendo feito aqui. Os subprodutos desse processo só foram se transformando porque houve a todo instante a reflexão do que estava sendo criado e a abertura para receber elementos novos nessa reflexão-criação. Essa reflexão caracteriza-se por entrar em contato, mergulhar na criação e estar atenta a ela e se distancia do automatismo verbal, o que possibilita um caminho mais sensitivo e intuitivo. Deleuze e Guatarri apresentam a teoria dos rizomas, os quais sempre se encontram no meio, movem-se entre as coisas e seguem a lógica do “e”:

“O princípio desse processo é o movimento, que transforma o ponto em linha. Deleuze definiu assim essa condição: estar no meio, como o mato que cresce entre as pedras. Mover-se entre as coisas e instaurar uma ‘lógica do e’. Conexão entre um ponto qualquer e outro ponto qualquer. Sem começo nem fim, mas entre. Não se trata de uma simples relação entre duas coisas, mas do lugar onde elas ganham velocidade. O ‘entre-lugar’. Seu tecido é a conjunção ‘e...e...e...’. Algo que acontece entre os elementos, mas que não se reduz aos seus termos.“ (PEIXOTO, 1993, p.238)

O processo criativo, os subprodutos e as cidades são fios da mesma trama. Relacionam-se em vários pontos diferentes. As três “pedras” aqui são produtos da relação subjetiva de uma pessoa – ora eu mesma, ora o Walter Benjamin – com uma cidade: Nova York, Berlim ou São Paulo. O diário de viagem não trata sobre Nova York, mas da minha estadia naquela cidade. No mapa (e no texto de Benjamin) se fundem a história sócio-cultural e as impressões e percepções do autor. É a memória afetiva enquanto memória topográfica. O mesmo processo ocorre com o ensaio. São registros em três linguagens e localidades distintas da flanêrie. A epígrafe de Benjamin que abre o trabalho se refere à cidade de Nápoles, mas é uma perfeita descrição da constante metamorfose do processo que se desenrola aqui. E quando coloca que “nenhuma forma declara o seu ‘desta maneira e não de outra’” também perpassa aí a lógica das pedras que estão justapostas, que são desta maneira e de outra também, sem procedimentos excludentes.

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ETAPAS DA PRODUÇÃO

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PERFIL DO PÚBLICO ESPECTADOR

Esse trabalho foi feito para qualquer pessoa que aceite a experiência de flanar por ele e pelos seus possíveis desdobramentos. Também para aqueles que se interessam pelo tema “cidades” e suas infinitas camadas. Pode ser relevante ainda para quem nutre curiosidade por processos de criação.

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TECNOLOGIAS UTILIZADAS

Basicamente, as tecnologias utilizadas foram:

- Lápis- Caneta hidrográfica- Diferentes tipos de papel- Tinta Ecoline- Filme PROVIA ASA 400- Câmera Minolta analógica- Scaner Epson Perfection V500 Photo- Câmera CANON 7D- Google Earth- Google Maps- Adobe Photoshop CS5- Adobe Indesign CS5

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Nenhum dos meus escritos foi concluído; sempre se interpuseram novos pensamentos, associações de idéias extraordinárias, impossíveis de excluir, com o infinito como limite. Não consigo evitar a aversão que tem o meu pensamento pelo ato de acabar seja o que for. Uma única coisa suscita dez mil pensamentos, e desses dez mil pensamentos surgem dez mil inter-associações, e não tenho força de vontade para os eliminar ou deter, nem para os reunir num só pensamento central, onde os seus detalhes sem importância, mas a eles associados, possam perder-se. Passam dentro de mim; não são pensamentos meus, mas pensamentos que passam dentro de mim.”

Fernando Pessoa (sem data)

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BIBLIOGRAFIA

BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. In: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas II: rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 1993.

______________. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985c. p. 197-221.

BANDUCCI, Álvaro Jr. Turismo e identidade local: uma visão antropológica. Campinas: Papirus, 2001.

BOLLE, Willi. Fisiognomia da metrópole moderna: representação da história em Walter Benjamin. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1994.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O turismo e a produção do não-lugar. In: YÁZIGI, Eduardo (org.). Turismo: Espaço, Paisagem e Cultura. São Paulo: Editora Hucitec, 2002.

DELEUZE, Gilles & GUATARRI, Félix. Mil Platôs. São Paulo: Editora 34, 1997.

ONFRAY, Michel. Teoria da viagem: poética geográfica. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.

PEIXOTO, Nelson Brissac. Passagens da Imagem: pintura, fotografia, cinema, arquitetura. In: PARENTE, André. (Org.) Imagem Máquina. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

PIGNATARI, Décio. Semiótica e Literatura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974.

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ANEXO I: IMAGENS DIÁRIO DE VIAGEM

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ANEXO II: IMAGENS MAPA DE BERLIM

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ANEXO III: IMAGENS ENSAIO FOTOGRÁFICO (AMOSTRA)

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