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obra teatral evangélica de linguagem forte e com certas peculiaridades.TRANSCRIPT
SONO DE INDOLÊNCIA
Luiz Rouver
CARIACICA
2008
Luiz Rouver
SONO DE INDOLÊNCIA
1ª EDIÇÃO – eBOOK
2008
NOTA
Pede o autor que, se for feita a reprodução parcial ou integral desta obra, ela seja acompanhada do seu nome (Sono de Indolência) e do nome do autor (Luiz Rouver).
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Faça livremente a reprodução parcial ou integral desta obra.
O autor
DEDICATÓRIAAo leitor;
Aos que executarem esta peça;
À Igreja de Deus na face da terra;
A todos quanto têm o desejo ardente de ver o grande avivamento do Senhor.
A todos os que não deixaram de ser igreja de Deus, apenas dormem.
AGRADECIMENTOA Deus por tantas e incontáveis bênçãos concedidas, dentre as quais a escrita desta obra. Sem o agir de Deus em minha vida eu nada poderia fazer, de maneira que tudo que tenho de bom vem
do Pai. A Ele toda a glória, todo o louvor, toda a adoração, para sempre.
SUMÁRIO
Nota. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.3
Dedicatória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.4
Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .p.4
Sumário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.5
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.6
Epígrafe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.8
Personagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.9
Cena I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.9
Cena II. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.11
Cena III. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.15
Cena IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.17
PREFÁCIO
Ela adormecia lentamente. Estava amarrada. A tempestade do lado de fora, trovões e raios de fogo. A noite. Aos poucos fechou os olhos molhados e bocejou. A lâmina se afiava. Trovões. Dormiu, enfim. Mas não perdeu completamente a consciência. Era como estar nos primeiros estágios do sono, quando se mesclam os pensamentos aos sonhos, sem se saber se se dorme ou vigia. Pensava ou sonhava? Pensava e sonhava. O mais certo era que seus pensamentos fossem sonhos. Distante o reboar dos trovões.
O fio afiadíssimo pousou na pele de seu braço, movimentou-se frente-trás. Ela sonhava que lhe picavam mosquitos. Relâmpago. Uma mão trêmula acendeu e apagou a luz?
Sentiu fome, não quis levantar. A boca secou, acomodou-se. Ela ouviu com doçura: estou cortando o teu braço, vou arrancá-lo, vou cortar o teu pescoço. Está certo. Compassionou. Preferiu ficar dormindo. Que seja assim. Deixe-me dormir mais cinco minutos. Desliga o despertador. O fio aprofundou-se. Estou dormindo.
Indolente é aquele que, enxergando a certo grau a sua situação deplorável, não se anima para resolvê-la; é aquele que não sente a dor que deveria sentir.
Despreocupação, apatia, indiferença.
Pensa que, se lhe tirassem as pernas, poderia conviver com isto; se lhe arrancassem os braços, se adaptaria às circunstâncias; se lhe cortassem o pescoço, viveria sem a cabeça. Conformado ao conformismo. Tanto faz, como fez. Pode ser um acorde maior, ou menor, se preferirem.
A indolência é um olhar sem ver. É um saber sem realizar. A teoria que não quer a prática. Um meio tom acima; outro meio abaixo. Não importa. Sonâmbulo que vigia dormindo.
E uma distante voz é ouvida. Zumbido de mosquito? Longe, como se estivesse numa caixa de vidro. Quem? Tem expressão de grito, tem volume de sussurro. Do lado de fora do indolente, um profeta tenta acordá-lo. Grita força com todas as forças. Mas o sono e a lâmina.
Nem todos dormem. Mas ai dos dormentes. Ai dos que vão adormecendo. Escutem! Por isso há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.
Assim prendendo vai o sono, e clama o profeta. Vigiai.
Trovões, trovões. Relâmpagos.
Dentro do templo, em clamores férvidos, uma lastimosa voz ecoa; entrai e ouvi, vós que passais, as lamentações do Profeta.
PERSONAGENS
Profeta
Varão
Noiva
Sono de Indolência
Cena I
PROFETA
Profeta
(ergue os olhos aos céus)
- Oxalá a minha cabeça se tornasse em águas,
E os meus olhos em uma fonte de lágrimas!
Então choraria de dia e de noite os mortos
Da filha de meu povo.
Oxalá tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes!
Então deixaria o meu povo, e me apartaria dele porque
Todos eles são adúlteros, e um bando de aleivosos.
E estendem a sua língua, como se fosse o seu arco
Para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para
A verdade, porque avançam de malícia em malícia,
E a mim me não conhecem, diz o Senhor.
(abaixa o olhar)
Guardai-vos cada um do seu amigo
E de irmão nenhum vos fieis,
Porque todo o irmão não faz mais do que enganar,
E todo o amigo anda caluniando.
E zombará cada um do seu próximo
E não falam a verdade:
Ensinam a sua língua falar mentira;
Andam-se cansando em obrar perversamente.
A tua habitação está no meio do engano:
Pelo engano recusam conhecer-me,
Diz o Senhor.
Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos:
Eis que eu os fundirei e os provarei,
Porque, de que outra maneira procederia
Com a filha do meu povo?
Uma frecha mortífera é a língua deles,
Fala engano; com a sua boca falam cada
Um de paz com o seu companheiro,
Mas no seu interior arma-lhe ciladas.
Porventura por estas coisas não os visitarias?
Diz o Senhor;
Ou não vingaria a minha alma de gente tal
Como esta?1
Cena II
PROFETA E VARÃO
Varão
- A quem gritas, ó Profeta de Deus?
Profeta
- Grito a este povo que vaga indolente,
Como no mar divaga a concha inerte
Carregada pela sorte das ondas
Até afundar-se num abismo escuro.
Varão
- E por que levantas a voz aos céus?
Profeta
- E seriam, pois, poucos os motivos
Que pesam como âncoras em minh’alma?
Olhai e vede a opacidão e o véu
Pálido que lhes toldam suas faces.
Senhor, os tempos são ruins e tristes,
1 Jeremias 9:1-9
Uivam ventos frios de tempestade,
E como uma folha seca boiando
Este povo é levado e ainda dorme!
Diga, meu senhor, diga o que vês!
Varão
- Que é o homem para que se justifique
E fale de suas boas ações perante Deus?
Quem se levantará defronte d’Ele e dirá:
“Sou justo”? Quem pode isto?
Ainda que os serafins se levantem
E o façam, cabe-nos reconhecer
Que estamos em total calamidade.
Zumbis que caminham pelas estradas,
Serpenteando entre corpos que morrem.
As trovoadas reboam violentas
E consomem-se as nuvens em relâmpagos,
Soam alaridos tristes no céu
E a natureza apressa-se a chorar.
Quem seria de todo desvairado
Que não sentiria na própria face
O escorrer de lágrimas fumegantes
Que corroem os lábios convulsos?
(para a platéia)
Não vêem as torrentes descerem ávidas,
Numa enxurrada de triste amargura?
Não vêem as nuvens já negras no céu
E o gotejar de lágrimas tristonhas?
Eis que o Grande Dia do Senhor vem
Como a forte e furiosa tempestade;
Arrependei-vos povo que chora
E não sente, que tem fome e não come!
Profeta
- Olhai mais, amigo, e contemple! Sim!
Vede esta mulher desgrenhada e pálida.
Os seus cabelos são os galhos secos
De uma árvore que tomba sobre a neve.
Sua pele é fria e o rubor ausente;
Os seus lábios azulados e a língua
São como o coração que tudo mente.
Varão
- Povo paralítico e desleixado,
Que arrasta-se pelas veredas más,
Pegue teu leito de lençóis gelados,
Pois até quando, ao vento, dormirás?
Profeta
- Como se ausenta a vida de você!
Que mortidões sobre vós se levantam!
Como moribundos os velhos já
Não louvam e os mancebos já não cantam!
Varão
- A noiva é triste, e a tristeza profunda,
Seu coração ermo como os desertos,
E pelos recantos vai taciturna
Vagar sem rumo de passos incertos.
Cena III
PROFETA, VARÃO E NOIVA
Varão
- Eis a noiva bendita do Senhor
Que vaga errante como uma perdida!
Profeta
- Tem no triste peito as dores da morte
E em sua alma as desilusões da vida.
Varão
- Que queres mulher desolada?
Noiva
- Tenho
Fome.
Profeta
- E que mais queres, donzela?
Noiva
- Tenho
Sede.
Varão
- És triste?
Noiva
- Sou como num exílio.
Profeta
E o que precisas para teu viver?
Noiva
- Exilar-me da fome e desta sede.
Caminhei, caminhei; e as minhas flores
Esperdicei nos recantos da estrada;
Infeliz profanei as minhas crenças.
Profeta
- Não temas mulher sofredora e triste,
Há de florescer em ti um jardim!
E a fome ruirá ante o Noivo
Teu, que te dará de comer ditoso.
Noiva
(sombria)
- Prefiro deliciar-me co sabor
Adocicado do fruto da morte.
Quero adormecer entre os meus estranhos,
Então, sentindo as pálpebras cerrarem-se-me,
Desmaiar-me esquecendo-me de Deus.
Varão
- Fere as tuas entranhas, mulher!
Noiva
- Que fira meu corpo todo. Me deixe
Estar como estou: com sono e com tédio;
Minha própria vida me fustiga.
Deixe-me suspirar e ir-me dormindo.
(sai)
Cena IV
PROFETA E VARÃO
Profeta
(para a platéia)
- Eis o teu estado igreja de Deus!
O teu sono e teu desinteresse,
O teu cansaço, teu tédio e desânimo,
Teu semblante e tua palidez.
Estás fraca e desnutrida, raquítica
Como os filhos da gazela sem mãe;
Capengando abatida.
Varão
- Desperta de teu mundo de ilusão!
Jesus Cristo já volta e não é sonho;
A árvore deu seus deliciosos frutos
E muito perto está a colheita.
Profeta
- Oh subnutrição que está dirimindo
A bendita filha da salvação!
Verme asqueroso enxertado no seio
Da flor do campo que balança ao vento.
Varão
- Depreciável espiã maldita
Dos inimigos de corações tredos;
Velha desvairada de secos ossos
Que gargalha rouca como um demônio!
Profeta
- Deixai os corpos já quase mortos
Que desfalecem se consumindo,
E o cemitério que tu preparas
Seja para ti e teus irmãos!
Varão
- E vai-te câncer de gosma infinda
Pra escuridão das enfermidades!
Traça que rói as almas de pano,
Vá comer do livro negro do inferno!
Profeta
- E tu, palidez de mãos enevadas,
Lasciva mulher de pecados doces,
Se o véu de teus olhos é fornicário,
Consuma-te a face chamas divinas!
Varão e Profeta
- Trovões, tempestades e alaridos,
E relâmpagos de fogo nos céus,
Despertai estes dormentes que tremem
Com medo de tudo! E dormem! E dormem!
Varão
- Que querem, pois, vós que vos seja feito
Depois de tudo que lhes ofereceu?
Querem ver o céu em sangramento
Cuspindo raios sobre vossas cabeças?
Querem ver ondas e maremotos
Imergirem os quatro cantos
E, com a fúria do âmago da terra,
Um terremoto lhes abrir o templo?
Profeta
- Querem ver um anjo de belas asas
Descer aqui em nosso meio,
Falar de Deus e maravilhas
E convencer-vos de vossos erros?
Pois não verão, que Jesus Cristo
Morreu sofrendo por vós somente,
E pra que não precisasse de anjo
Vos falar de amor e felicidade.
Varão e Profeta
- Arrependei-vos! Consertai-vos vós
Que dormitam no sono da indolência!
A voz de Deus ruge sobre os céus,
Dizendo a todos: - DESPERTAI MEUS FILHOS!