sociedade e natureza: percepção dos produtores rurais... solano de
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA - UNIR
SOCIEDADE E NATUREZA: PERCEPO DOS
PRODUTORES RURAIS DO ENTORNO DA
FLORESTA NACIONAL DO JAMARI/RO
SOLANO DE SOUZA FERREIRA
PORTO VELHO RO
2014
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SOLANO DE SOUZA FERREIRA
SOCIEDADE E NATUREZA:
PERCEPO DOS PRODUTORES RURAIS DO ENTORNO DA FLONA DO
JAMARI/RO
Dissertao apresentada Universidade Federal de Rondnia,
como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao
Mestrado em Geografia (PPGG), rea de concentrao
Amaznia e Polticas de Gesto Territorial, para obteno do
ttulo de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Josu da Costa Silva
PORTO VELHO, 2014
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FICHA CATALOGRFICA
Bibliotecria Responsvel: Cristiane Marina Teixeira Girard/ CRB 11-897
Ferreira, Solano de Souza.
F383s
Sociedade e natureza: percepo dos produtores rurais do entorno da Floresta Nacional do Jamari-RO / Solano de Souza Ferreira. Porto Velho, Rondnia, 2014.
224 f.
Dissertao (Mestrado em Geografia) Fundao Universidade Federal de Rondnia/UNIR.
Orientador: Prof. Dr. Josu da Costa Silva
1. Geografia. 2. Percepo. 3. Fenomenologia. 4. Sustentabilidade. 5. Historia oral. 6. Mediao miditica. I. Silva, Josu da Costa. II. Ttulo.
CDU: 91
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DEDICATRIA
ilustre senhora Maria dos Anjos Costa, que com
muita dificuldade me gerou, criou, educou, e me
fez no que hoje sou.
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AGRADECIMENTOS
DEUS, o Todo Poderoso, que fez os cus e a terra, e tudo governa para a sua glria!
Ao professor doutor Josu da Costa Silva que compreendeu minhas dificuldades
pessoais, relevou alguns aperreios, e me ajudou com sua sabedoria, pacincia e didtica
de um homem apaixonado pelo ensino e que ama a Geografia.
Aos professores doutores que somaram nessa aprendizagem e aos demais professores e
todos os servidores da UNIR que atuaram e atuam diretamente no Ncleo de Ps-
Graduao Mestrado em Geografia: Adnilson de Almeida Silva, Dorisvalder Dias
Nunes, Josu da Costa Silva, Maria das Graas S. N. Silva, Adriana Cristina da Silva
Nunes, Lucileyde Feitosa Sousa e Ricardo Gilson da Costa Silva excelentes doutores
que contriburam para a minha compreenso e apreenso das riquezas da Geografia para
a pesquisa e para o meu saber.
Ao amigo gegrafo Alexis de Souza Bastos que incentivou e at insistiu para que eu
entrasse nesse Programa de Ps-Graduao, e no bastando muito contribuiu no decurso
da pesquisa e dissertao.
A amiga gegrafa Fabiana Barbosa Gomes e sua equipe da RIOTERRA que contribuiu
na elaborao dos mapas inseridos nesta dissertao.
Aos colegas de turma que nos momentos estressantes de estudos e descobertas
contriburam nas atividades em sala e extra-sala.
A amiga Telma Ferreira que muito apoiou e ajudou em diversas fases deste Mestrado e
como legitima pedagoga sempre se preocupa com a turma.
Aos meus irmos e irms ureo (in memorian), Irene, Regina, Aurlio, Carminha,
Teonlia, Natlia, Antelmo, Cremilda, ao meu pai Antnio de Souza Ferreira, minha
me Maria dos Anjos Costa; todos torceram pela concluso dessa etapa em minha vida.
Famlia grande que no d para citar aqui todos os descendentes, mas amo a todos e
todas.
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Aos colegas de trabalho e aos meus superiores que compreenderam e colaboraram em
minhas ausncias para aulas e atividades de campo, na certeza de que a minha
aprendizagem renderia ao grupo bons resultados.
s dezenas de irmos em Cristo que tambm incentivaram e compreenderam essa fase.
E a minha amada Eliane Maria Krupinski que me trouxe motivao e alegria depois de
uma fase difcil que atravessei, e com sua paz de esprito e comprometimento
sentimental bem soube me ajudar na retomada de minha vida.
Enfim, a todos e todas que aqui no esto, mas muito contriburam. Muito obrigado!
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RESUMO
A dissertao resultado de pesquisa de percepo dos produtores rurais, a partir dos 26 anos,
sendo faixa etria adulta, sobre o ambiente composto pelo entorno da Floresta Nacional do
Jamari, em Itapu do Oeste, Rondnia, analisando e compreendendo a formao do espao, suas
representaes e identidades, de perspectivas de produo, cultura, comunicao e espacialidade
ambiental. Aps reviso crtica de estudos foi centrado no mtodo fenomenolgico, com
abordagens nas tcnicas geogrficas de estudos agrrios, cultural e religioso, da histria oral
temtica e de recepo miditica. Os resultados so apontados de forma analtica descrevendo a
percepo do sujeito sobre o objeto. O espao pesquisado composto por agricultura familiar
com presso de minerao, indstria madeireira e monocultura e tende para o esvaziamento das
pequenas propriedades diante da falta de polticas pblicas que possam fixar no campo as
famlias de pequenos agricultores. A pesquisa foi desencadeada com agricultores em regime
familiar que desenvolvem suas atividades rurais com modelo de agricultura no condizente com
a realidade amaznica, o que causou desgaste do solo agrcola, reduo da produo, estagnao
econmica da populao e avano da pecuria. Compreender os fenmenos presentes no lugar
trouxe orientaes que podem auxiliar em outros estudos e nas diversas anlises para orientao
de polticas pblicas que possam conciliar desenvolvimento econmico com preservao
ambiental, compensando ao agricultor familiar diante das presses da pecuria e monocultura. O
pequeno produtor do entorno percebe o objeto como espao de produo, e a rea de reserva
florestal como espao coletivo de bem ambiental que poderia ser explorado pelos moradores e
no por empresas concessionrias oriundas de outros estados.
Palavras-chave: Geografia, Percepo, Fenomenologia, Sustentabilidade, Historia oral,
Mediao miditica.
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ABSTRACT
The dissertation is the search result of perception of rural producers, from 26 years and adult
age group, about the environment consisting of the surroundings of Jamari national forest in
Itapu do Oeste, Rondnia, analyzing and understanding the formation of the space, its
representations and identities, with prospects of production, culture, communication and
environmental space. After critical review of studies was centered on the phenomenological
method, with geographical techniques approaches of agricultural, cultural and religious studies,
oral history and thematic media reception. The results are aimed at describing the subject's
perception analytical about the object. The search space consists of small farming, mining
pressure wood industry and monoculture and tends to the emptying of the small farms on the
lack of public policies that can attach to the families of small farmers. The search was triggered
with farmers in family scheme to develop their rural activities with agriculture model not
befitting the Amazon reality, which caused agricultural soil wear, reduced production, economic
stagnation of population and livestock feed. Understand the phenomena present in the place
brought guidelines that can assist in other studies and in various analyses for orientation of
public policy that can reconcile economic development with environmental preservation,
compensating the family farmer in the face of the pressures of livestock and monoculture. The
small surrounding producer realizes the object as production space, and the area of forest
reserve as well environmental collective space that could be exploited by locals and not by
concessionary companies from other States.
Keywords: Geography, Perception, Phenomenology, Sustainability, Oral history, Mass media.
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SIGLAS UTILIZADAS
APP rea de Preservao Permanente
AROESTE Associao dos Produtores Rurais de Itapu do Oeste
BASA Banco da Amaznia S/A
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
COOPERAMA Cooperativa de Produtores da Amaznia Ltda
CSN - Companhia Siderrgica Nacional
EMATER Associao de Assistncia Tcnica e Extenso Rural
FLONA DO JAMARI Floresta Nacional do Jamari
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IBDF Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
ICMBIO Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade
IDARON Agncia de Defesa Sanitria Agrosilvopastoril do Estado de Rondnia
INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
ITAPU FM Associao Comunitria de Radiodifuso Novo Horizonte
EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicaes S/A
FNO Fundo Constitucional e Operacional do Norte
MTE Ministrio do Trabalho e Emprego
PF Polcia Federal
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
RADIOBRAS Empresa Brasileira de Comunicao S/A
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RIOTERRA Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amaznia
STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Itapu do Oeste
SUCAM Superintendncia de Campanhas de Sade Pblica e Combate a Malria
SUFRAMA Superintendncia da Zona Franca de Manaus
UC Unidade de Conservao de Uso Sustentvel
UNIR Fundao Universidade Federal de Rondnia
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Faixa etria ........................................................................................................... 91
Tabela 2. Organizao social ................................................................................................ 93
Tabela 3. Principais atividades das propriedades ................................................................ 96
Tabela 4. Importncia econmica do gado ........................................................................... 96
Tabela 5. Principal fonte de renda do gado .......................................................................... 97
Tabela 6. Quantitativos e tipos de animais criados .............................................................. 98
Tabela 7. Quantitativos da produo agrcola da propriedade ........................................... 99
Tabela 8. Ciclo de comercializao ..................................................................................... 100
Tabela 9. Principais problemas para o cultivo agrcola ..................................................... 101
Tabela 10. Nvel de escolaridade......................................................................................... 102
Tabela 11. Documento da propriedade .............................................................................. 103
Tabela 12. Tempo de residncia no lugar ........................................................................... 104
Tabela 13. Fontes de gua existentes .................................................................................. 106
Tabela 14. Tipos de tratamento dgua .............................................................................. 107
Tabela 15. Benefcios de projetos ambientais ..................................................................... 112
Tabela 16. Tipos de equipamentos e acessrios para aplicao de agrotxicos ................ 117
Tabela 17. Religio dos proprietrios rurais ...................................................................... 123
Tabela 18. Como toma conhecimento de notcias e informaes ....................................... 130
Tabela 19. Preferncia na programao de televiso ......................................................... 132
Tabela 20. Nvel de tomada de deciso pela programao da televiso............................. 133
Tabela 21. Tipos de deciso tomada pela programao da televiso ................................. 133
Tabela 22. Frequncia com que houve rdio ...................................................................... 134
Tabela 23. Preferncia na programao do rdio .............................................................. 135
Tabela 24. Nvel de tomada de deciso pela programao do rdio .................................. 136
Tabela 25. Tipos de deciso tomada pela programao do rdio ...................................... 137
Tabela 26. Tipo de informativo impresso a que tem acesso ............................................... 144
Tabela 27. ndice de tomada de deciso por informativo impresso ................................... 145
Tabela 28. Nvel de tomada de deciso por comunicao oral/verbal ............................... 146
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SUMRIO
Sumrio
APRESENTAO ............................................................................................................... 16
INTRODUO..................................................................................................................... 21
CAPTULO 1 ESTUDO DO PROBLEMA ...................................................................... 25
1.1 Contextualizao do lugar pesquisado............................................................................ 25
1.2 Procedimentos metodolgicos da pesquisa ..................................................................... 32
1.3 A Fenomenolgica como mtodo analtico .................................................................... 38
1.4 Considerando a geograficidade ...................................................................................... 42
1.5 Aporte das medidas quantitativas e qualitativas.............................................................. 46
1.6 Construo da Histria Oral ........................................................................................... 47
CAPTULO 2 REVISO DA LITERATURA ................................................................. 52
2.1 PERCEPO COMO ELEMENTO DA FENOMENOLOGIA ..................................... 52
2.1.1 Contribuies aos estudos brasileiros da Percepo Ambiental ................................ 57
2.1.2 Populaes tradicionais e suas relaes mticas com a natureza ............................... 53
2.1.3 Topofilia, as sensaes e outros sentidos ................................................................. 62
2.1.4 O espao cultural da f e da religiosidade ................................................................ 64
2.2 O ESPAO AMBIENTAL EM REA DE ENTORNO................................................. 66
2.2.1 Impactos da fragmentao florestal ......................................................................... 67
2.2.2 Corredores Ecolgicos e interligao de reas Fragmentadas ................................. 69
2.2.3 A importncia das matas ciliares ............................................................................. 70
2.3 MEIOS, MEDIAO E RECEPO DA COMUNICAO SOCIAL ........................ 71
2.3.1 A medio miditica para compreender a recepo geogrfica ................................ 72
2.3.2 A cotidianidade familiar e a mediao .................................................................... 74
2.3.3 A temporalidade social e a mediao ...................................................................... 76
2.3.4 A competncia social e a mediao ......................................................................... 77
2.3.5 A espacialidade nos usos miditicos........................................................................ 78
2.3.6 Mdias e o campo: a mobilidade do rdio e o atrativo da TV ................................... 78
2.3.7 A composio da mensagem ................................................................................... 81
2.4 ESTRUTURA DO DISCURSO AMBIENTAL ............................................................. 84
CAPTULO 3 ANLISES DOS RESULTADOS ............................................................ 89
3.1 ASPECTOS SOCIOECONOMICOS ............................................................................. 89
3.2 PERCEPO AMBIENTAL ...................................................................................... 106
3.3 ESPACIALIDADE CULTURAL E RELIGIOSA ........................................................ 124
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3.4 COMUNICAO E RECEPO............................................................................... 128
CAPTULO 4 HISTRIA VIVIDA E REGISTRADA ................................................. 149
CONCLUSO ..................................................................................................................... 197
REFERNCIAS .................................................................................................................. 201
ANEXOS ............................................................................................................................. 206
Anexo 1. Formulrio de pesquisa qualitativa/quantitativa .................................................. 206
Anexo 2. Autorizaes e cesses autorais .......................................................................... 214
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APRESENTAO
Conhecia Itapu do Oeste de ouvir falar e por passar no curtssimo trecho urbano
cortado pela BR-364, a uma hora de viagem de Porto Velho. J estive na rea de
minerao como reprter e tambm a trabalho onde andei em algumas trilhas da
Floresta Nacional do Jamari. At ai, nada mais sabia do municpio que tem uma ponte
que sai do nada e vai para lugar nenhum, pois nunca foi concluda, da extinta pastelaria
que servia o saboroso suco de cacau e da vida pacata perceptvel na populao que
escolheu esse lugar para viver.
Durante a participao como tcnico em um projeto socioambiental
desenvolvido no municpio, comecei a andar um pouco mais, conhecer pessoas e sentir
que nessa parte da Amaznia havia um contexto socioeconmico mais amplo, pessoas
que chegaram para ganhar a vida e realizar sonhos, famlias que acreditaram na
possibilidade de um tempo melhor, e um setor rural que produz e que convive ao lado
de uma enorme rea de reserva numa relao de vizinhana com o meio natural que
precisava ser compreendida. Andei, conversei, observei, trabalhei e percebi que a minha
atividade profissional no municpio no deveria se limitar em aes de comunicao
social temporria. Senti que precisava saber mais e de alguma maneira contribuir para
que o meu tempo nesse lugar resultasse em algo que pudesse servir para o
desenvolvimento, para a comunicao e para a histria. Percebi que o universo de meu
trabalho estava inserido na Geografia, e a Comunicao era um elemento dentre tantos
outros na tentativa de reconstruir o espao alterado pela migrao camponesa, pela
extrao mineral e pela explorao madeireira.
Durante trs dias em que ajudei na coordenao de uma pesquisa de recepo de
mdia, entendi que ainda mais precisava ser conhecido e compreendido, e havia outras
indagaes que ultrapassavam os limites da Comunicao. Busquei e descobri que a
Geografia me ajudaria no apenas num momento, mas acrescentaria em muito minha
carreira profissional, numa interdisciplinaridade de mtodos, tcnicas e elementos que
ajudariam encontrar respostas a tantos porqus que surgiram na atuao como
profissional de Comunicao Social.
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Nesta dissertao est uma parte de conhecimentos que adquiri nos alm de dois
anos que participei do Programa de Ps-graduao Mestrado em Geografia, da
Universidade Federal de Rondnia UNIR, onde pude conhecer no apenas esta cincia
maravilhosa, mas criei afinidade com pessoas que mergulhadas no universo acadmico,
possuem rica contribuio para o desenvolvimento deste Estado, e para o
desenvolvimento da Geografia com seus incansveis momentos dedicados a
compreender tantas indagaes da presena humana no espao amaznico. Nos meus
empolgantes estudos descobri na natureza do espao, a dinmica da ao do homem e
os diversos fenmenos que podem construir, desconstruir e reconstruir o espao
humanizado.
Busquei nessa dissertao contribuir para a compreenso dos fenmenos da
ocupao do espao e que construram a percepo dos produtores rurais quanto a rea
de entorno definida tambm como rea de amortizao da Floresta Nacional do Jamari,
numa comunidade formada pelas Linhas 605, 616 e 618 do setor rural do municpio de
Itapu do Oeste, tendo como sujeitos produtores rurais em regime de agricultura
familiar.
A formao desse espao rural e agrrio foi conturbada com a liberdade de
desmatar e comercializar madeiras nas dcadas de 1970 e 1980, sem controle e sem
fiscalizao, e pelas limitaes que surgiram a partir da criao da unidade de
conservao, mudando o aspecto legal da rea, mas no alterando o modelo de
ocupao e de percepo do espao. Divergncias, incompreenses, represses e
educao ambiental esto presentes na construo e compreenso da percepo desses
produtores que percebem o meio natural como importante para a preservao, mas no
percebem esse mesmo espao como fonte de importncia econmica local que, apesar
de ser permitido o uso sustentvel da reserva, poucos benefcios chegam aos cidados
itapuaenses.
As anlises dos fenmenos presentes e observados demonstram a fragilidade
desse ambiente que sofre presses econmicas de alto valor como minerao, industrias
madeireiras e a monocultura que tornou a mais recente presso nesse espao. Apesar do
volume econmico dessas atividades, os valores empregados nesses investimentos no
so percebidos como benefcios diretos para a populao do entorno. A representao
de valor observada nas pequenas propriedades est na pecuria leiteira destacada como
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a alternativa econmica mais vivel diante das poucas condies financeiras desses
proprietrios para recuperar os ciclos de lavouras. Tais limites vm promovendo o
xodo rural, o que facilita a entrada da pecuria em grande escala e da monocultura
diante do envelhecimento e escassez da mo-de-obra agrcola, em reas que foram
colonizadas pela agricultura familiar, e por essa presena humana criou na comunidade
sua identidade local, que poder suprimir por causa de uma possvel substituio de
pequenas propriedades por grandes propriedades rurais. As atividades de agricultura
familiar observadas so de pura subsistncia com venda de excedentes e a lucratividade
das propriedades se firma no negcio da criao de gado.
No primeiro capitulo apresento os mtodos utilizados na pesquisa, dando nfase
a fenomenologia, tendo includo a histria oral temtica e a recepo miditica como
ferramentas para captao das informaes que serviram para as anlises e concluses a
partir das percepes dos sujeitos dentro dos objetivos de compreender os modelos de
ocupao do espao. A fenomenologia foi escolhida por oferecer elementos que possam
descrever o espao vivido no pela individualidade, mas pelo conjunto de modos de
vida que definem as percepes, no separando o sujeito do objeto, mas integrando-os
num universo espacial que define o recorte. Pela fenomenologia possvel compreender
a conscincia no pela ao direta e presente na paisagem, mas pela subjetividade
carregada nos sentimentos e demais atos do interior humano, e isso no est expressado
no que sentido, mas sim no que vivido. O sujeito sente e percebe aquilo que vive,
aquilo que tem valor, aquilo que lhe traz apego. Pelas representaes o indivduo
constri sua identidade e esta define a geograficidade que no esta definitivamente
construda, mas alterada medida que novas representaes surgem no processo de
reduo fenomenolgica.
Numa rea de entorno com presses expressivas, o sujeito estar em constante
reconstruo espacial, e sua trajetria de vida estar definindo a histria do lugar, e
percebemos que essas existncias e suas aes temporais so carregadas de elementos
de fatos vividos que podem descrever pela percepo a trajetria do lugar, por isso,
inclu o mtodo historia oral temtica para extrair das declaraes dos personagens as
aes determinantes para a espacialidade percebida. J a incluso metodolgica de
investigar pela recepo miditica as influncias ou no da comunicao massiva na
construo da percepo, no foi meramente para citar a Comunicao Social, minha
rea de atuao profissional, numa pesquisa geogrfica, mas sim, para ajudar
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compreender como o sujeito recebeu no passado as informaes que formaram o
modelo de ocupao do espao e como os meios miditicos influenciam ou no na
reconstruo espacial diante de influncias e poder de mobilizao social que esses
meios possuem. Partindo do pressuposto de que o discurso progressista do Governo
Federal replicado pelos rgos governamentais que relacionavam diretamente com os
colonos, e que esse mesmo discurso, fundamentado no desenvolvimentismo, foi
inserido nos meios miditicos que comunicavam com esse pblico tenha norteado a
formao do espao agrrio ainda em vigor e que no se adqua a uma rea de entorno
de unidade de conservao na Amaznia.
O segundo captulo dessa dissertao traz o contexto terico que auxiliou nas
interpretaes e anlises da percepo do sujeito sobre o objeto, discorrendo de
princpios epistemolgicos a elementos mais recentes de estudos da espacialidade. Est
incluso os arranjos tericos da Fenomenologia que contribuem para as anlises, da
Geografia Cultural e da Religio, das relaes mticas, das representaes, e das
sensaes que geram o apego e criam a identidade do lugar. Procurei discorrer sobre o
espao ambiental para compreender como o homem se relaciona com os demais seres
vivos e como o meio natural reage s interferncias humanas, para entender a
importncia da unidade de conservao como espao coletivo til para a humanidade e
para os seres naturais presentes no ambiente. Ainda nesse captulo so apresentadas as
caractersticas dos meios miditicos, as formas de mediao e como o indivduo recebe
e percebe a mensagem destinada pela mdia e pelas demais formas de comunicao.
Discorri sobre as relaes da comunicao com os sistemas sociais, a abrangncia e
importncia da comunicao rural e direcionada, a competncia social dos meios e a
espacialidade da utilizao dos meios.
As anlises apresentadas no captulo trs tiveram como base para as
interpretaes, os mtodos e elementos referenciais contidos nos captulos anteriores.
Para facilitar as anlises, os dados da pesquisa foram subdivididos em Aspectos
Socioeconmicos analisando produo, organizao social, cadeias e a descrio social
do grupo de amostra; Percepo Ambiental analisando como o sujeito percebe o espao
objeto e quais as representaes mais influentes; Espacialidade Cultural e Religiosa para
compreender as influncias da f na formao cultural e na identidade do lugar; e
Comunicao e Recepo analisando como os meios miditicos atuaram no perodo de
formao do espao e qual a capacidade de influncia atual para utiliz-los como
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ferramenta da integrao socioambiental e concepo de nova percepo caso seja
necessrio.
O Captulo 4 constri atravs de imagens fotogrficas a visualizao e contexto
observado e pesquisado no espao. A sequncia das fotos foram definidas de modo que
possa causar no leitor uma viagem ao ambiente a partir da Linha 618 (Embratel),
passando pelo ncleo da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, seguindo na Linha 616
(General Carneiro) e na Linha 605 at a chegada no ncleo urbano de Itapu do Oeste.
Os registros buscaram a captao da paisagem, do cotidiano rural e urbano, e a incluso
de elementos humanos na visualizao composta dos modos de vidas.
Compreender o espao vivido nessa parte da Amaznia brasileira rever um
pouco do passado ainda presente nos testemunhos dos pioneiros, indagar o morador
sobre suas representaes que definem o presente, observar o cotidiano dessa gente
em busca de respostas que possam dimensionar o apego e valor do lugar, entender a
percepo sobre um futuro que pode constituir outra paisagem alterando o espao rural
e ambiental, dando assim com esses elementos analticos condies para a observao
necessria sobre que destino dar a esta parte do Brasil que foi ocupada com sonhos e
realizaes de vidas dentro de perspectivas de cultivar, crescer e prosperar.
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INTRODUO
Viver em Itapu do Oeste estar ao lado da Floresta Nacional do Jamari (Flona
do Jamari), criada pelo Decreto n 90.224, de 25 de setembro de 1984, enquadrada
como unidade de conservao de uso sustentvel (UC), que permite a explorao dos
recursos naturais renovveis atravs de planos de manejos e outros projetos
sustentveis. Com rea total estimada de 215.000 hectares, a Flona do Jamari est
localizada no estado de Rondnia, nos municpios de Itapu do Oeste com 95% da rea
compreendida e 5% da rea de Cujubim, numa regio de bioma amaznico que sofre
presso econmica em virtude da vocao agrcola com avano da pecuria e da
indstria madeireira. A Flona do Jamari foi a primeira UC que passou por processo de
concesso para explorao de madeiras atravs de plano de manejo sustentvel, que
apesar de polmica, essa atividade econmica tornou-se uma necessidade j que a rea
da Flona constantemente era invadida por madeireiros que exploravam de forma
predatria, ilegal e sem qualquer responsabilidade com o futuro da floresta, enquanto
que no sistema de manejo sustentvel as concessionrias tm obrigaes que definem os
critrios de cortes seletivos das rvores em ponto de comercializao, respeitando as
espcies protegidas, as rvores matrizes e cumprem as exigncias de recomposio das
reas desmatadas.
Esta dissertao busca compreender a percepo dos produtores rurais que
declaram proprietrios e que exercem a atividade em regime de agricultura familiar, no
entorno da Floresta Nacional do Jamari, a partir do olhar desses sujeitos quanto aos
apectos de produo, organizao, proteo ambiental, relao de cultura e identidade
com o lugar, e o entendimento sobre o modelo atual de ocupao do espao, reunindo
elementos de comunicao social que compem na interdisciplinaridade um sistema de
estudo da compreenso da percepo geogrfica do espao, considerando o poder de
influncia que a comunicao exerce na construo de conscincia, e desde a formao
desse espao, a comunicao gerada aos produtores no considerou a sustentabilidade,
mantendo sempre o dialogo do imediatismo da poltica governamental de integrar a
Amaznia como forma de soberania, e no de desenvolvimento local ou regional
sustentvel.
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sabido que esse espao foi organizado no modelo aplicado na dcada de 1970
em diversos municpios de Rondnia onde, colonos vindos de outros estados brasileiros
foram instalados sem um planejamento sustentvel que pudesse garantir aos colonos a
manuteno da vida no campo, pois a falta de polticas agrcolas no permitiu a
consolidao de uma agricultura forte e prospera o suficiente. At mesmo a assistncia
tcnica e o extensionismo rural no observaram as adversidades da regio Amaznica,
seguindo modelos agrrios de outros ecossistemas que no conseguiram se manter
sustentveis nesta regio. A alternativa dos produtores rurais em migrar de lavouras
para a pecuria ocorreu como forma de sobrevivncia diante de tantas incertezas no
campo composto por reas degradadas, baixas perspectivas de produo e
comercializao, ausncia do poder pblico no planejamento e execuo de aes
bsicas necessrias para o desenvolvimento local, e a tendncia migratria do campo
para a cidade que reprime o crescimento produtivo e muda a vocao da populao mais
jovem. Incerto tambm o destino desse espao que sofre a presso da minerao, da
explorao madeireira e da monocultura com a expanso da soja, novidade esta que
desperta a cobia de pequenos produtores.
Pressupomos que a continuidade das aes de desmatamentos na zona de
amortecimento tenha efeito dentro da unidade de conservao j que nesse permetro
ocorrem movimentaes de espcies que buscam habitats propcios para expanso da
alimentao ou reproduo de proles. Circulando pela rea compreendida por esta
pesquisa foi possvel verificar animais silvestres cruzando as estradas, principalmente
noite, o que caracteriza a importncia do entorno como zona de amortecimento,
necessitando de um espao organizado de modo que atenda as demandas dos produtores
rurais e ao mesmo tempo contribua com o meio natural, servindo de corredores
ecolgicos para a interligao de ilhas, utilizando para isso as matas ciliares e as reas
de preservao permanentes (APPs).
Existem motivos diversos que justificam a preservao ambiental no planeta e,
dentre tantos, consideramos o que estima Brown (2006) de que h entre 5 milhes a 50
milhes de tipos de seres viventes sobre a Terra, entre plantas, micrbios, peixes, aves,
mamferos e outros animais que existem por alguma razo, em que na poca dessa
expressiva quantidade, menos de dois milhes eram conhecidos, catalogados e descritos
em literaturas de conhecimento cientifico e pblico. Conforme Keipi apud Zarin (2005)
a Amrica Latina possua 25% das florestas nativas do mundo e a metade de florestas
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tropicais remanescentes, porm o desmatamento crescente em taxa media anual
estimada pelo autor em torno de 7,5 milhes de hectares, equivalente a 0,8% da
totalidade, j requeria ateno especial para manuteno da cobertura nativa pelo menos
nas reas de reservas. O Brasil concentrava a maior biodiversidade do planeta, liderando
entre os 17 pases com maiores concentraes botnicas e de animais do mundo,
destacando-se ainda com a maior rede hidrogrfica (ARRUDA, 2006). Segundo o autor,
apesar de tamanha riqueza natural, as reas cobertas por unidades de conservao de
proteo integral e de uso sustentvel, ocupavam na poca menos que 10% do territrio
nacional. Nesse contesto, a Amaznia considerada o maior celeiro de seres vivos e, na
maioria, ainda desconhecidos e no catalogados, numa biodiversidade rica em espcies,
em que essa ampla variedade faz desse ecossistema um aporte diferente, onde a
sobrevivncia das espcies indica interdependncia tanto na composio da cadeia
alimentar quanto nas demais relaes de sobrevivncia. Por esses motivos j seriam
suficientes para a determinao da importncia da preservao ambiental na Amaznia,
o que proporcionaria a manuteno da ampla diversidade de seres vivos, mas as
derrubadas colocam em riscos a cobertura vegetal que ainda encobre muitos seres
desconhecidos que podem ser eliminados do planeta.
So muitas as consequncias da ocupao da Amaznia como: a destruio da
biodiversidade conhecida e desconhecida, eliminao total das matas ciliares
comprometendo as bacias hidrogrficas, secando igaraps, riachos e rios, findando
nascentes que sustentam e irrigam fauna e flora. O estudo dessa temtica contribui para
orientar novas aes no sentido de (re)construir esse espao rural, com alinhamento para
o desenvolvimento local sustentvel, incluindo a preservao ambiental necessria para
a manuteno desse ecossistema. Assim, a anlise e a compreenso da percepo dos
produtores rurais so necessidades para conter o (des)ordenamento e encontrar respostas
para alguns questionamentos sobre a ocupao espacial no entorno da Floresta Nacional
do Jamari, onde a paisagem continua sofrendo alterao devido ao modelo agrrio ainda
em vigor, marcado pelo avano do desmatamento com a prtica de queimadas causando
o descontrole do ecossistema.
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CARACTERIZAO DA PESQUISA
CARACTERIZAO
CARACTERIZAOCARACTERIZAO
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CAPTULO 1 ESTUDO DO PROBLEMA
1.1 Contextualizao do lugar pesquisado
O municpio de Itapu do Oeste est localizado no Estado de Rondnia, s
margens da BR-364, com distncia de 105 quilmetros de Porto Velho, a capital, tendo
sua localizao em latitude 0912'18" sul e longitude 6310'48 oeste, com altitude de 0
(zero) metros do nvel do mar, economia predominante de agropecuria, indstria e
servios (Mapa 1). O bioma amaznico com clima tropical e temperatura media anual
de 26C. A hidrografia composta pela bacia do rio Jamari, tendo no territrio do
municpio uma grande parte do lago da Usina Hidroeltrica de Samuel, responsvel pela
elevao do lenol fretico, o que prejudica algumas culturas em virtude do excesso de
gua no solo (IBGE, 2010).
Estudos sobre as origens das famlias e a dinmica populacional migratria da
bacia do rio Jamari, onde est localizada a Flona do Jamari, constatou 31,98% de
nascidos em Rondnia, e desses, 75% com idade inferior a 25 anos, e os demais
habitantes da regio eram compostos por 16,28% de mineiros, 13,68% de paranaenses,
7,95% de baianos, e 7,76% de capixabas (ALMEIDA SILVA apud ALMEIDA SILVA,
2009). O autor considera que essas origens tambm contriburam para a apreenso do
espao pela populao local, pois nesses estados de origens a ocupao agrcola foi
base da substituio da floresta nativa por cobertura cultivada, modelo que no se
adequou realidade amaznica considerando as diferenciaes das caractersticas
naturais de solo, clima, relevo e at do ciclo de chuva que em nada se assemelha com as
tipologias do Sul e Sudeste brasileiro. Mesmo que muitas propriedades foram vendidas
e parte desta populao pioneira no resida mais no lugar, o modelo implantado
permanece o mesmo do incio da colonizao na dcada de 1970.
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Mapa 1. Localizao do municpio de Itapu do Oeste - RO
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Para entender a presena humana na regio, se faz necessrio conhecer o
contexto histrico do lugar. O ento povoado de Jamari foi elevado a distrito de Porto
Velho em 22 de dezembro de 1981, conforme Lei Municipal n 213. As poucas famlias
que viviam no lugar sobreviviam principalmente do trabalho na atividade mineral j que
a localidade servia de base de entrada para a minerao de cassiterita. Na dcada de
1980 a colonizao agrcola impulsionou a chegada de novas famlias atradas pela
distribuio gratuita de terra pelo INCRA, que implantou o Projeto de Assentamento
(PA) Machadinho, em 15 de fevereiro de 1982, consolidado atravs do Decreto-lei
Federal n 88.225 de 1983. Nessa poca chegaram 2.934 famlias que foram assentadas
pelo PA Machadinho desencadeando o ciclo agrcola de desenvolvimento. Com o
surgimento da vocao agrcola, o distrito de Jamari ganhou dimenso econmica e na
dcada seguinte foi elevado a categoria de municpio pela Lei Estadual n 364, de 13 de
fevereiro de 1992, desmembrando rea territorial dos municpios de Porto Velho e
Ariquemes perfazendo uma rea de 4.081,583 quilmetros quadrados. O nome do
municpio no agradava a maioria da populao que atravs de plebiscito decidiu-se
pela alterao toponmica1 municipal passando de Jamari para Itapu do Oeste mudana
esta oficializada em 24 de outubro de 1997, por meio da Lei Estadual n 747.
A populao estimada para o municpio de Itapu do Oeste em 2013 foi de 9.661
habitantes, com base de projeo a partir do ltimo senso realizado pelo IBGE no ano
de 2010, quando o municpio apresentou a contagem de 8.566 habitantes
(IBGE/http://cod.ibge.gov.br/2348M). nesse universo que se encontra os produtores
rurais sujeitos desta pesquisa, onde definimos como recorte espacial de amostra para as
anlises da pesquisa dessa dissertao.
A ocupao humana no entorno da Flona do Jamari tornou-se mais concentrada
a partir da dcada de 1970, com a poltica de reforma agrria implantada pelo Governo
Federal, quando famlias vindas de outras regies do pas, principalmente do Sul e
Sudeste, recebiam terras e incentivos financeiros para o desenvolvimento de lavouras.
Os agricultores foram impulsionados pelo discurso progressista do governo militar de
que o novo estado seria o eldorado brasileiro, lugar de prosperidade e de
desenvolvimento, gerando a prtica de desmatar em grande escala as propriedades rurais
para o cultivo agrcola e pecurio, na esperana de riquezas ou de pelo menos um
1 (Gr) Mudana de nome do lugar com base em estudo lingstico, (FERNANDES, 2003). Esta parte da
lingstica tem forte ligao com a Geografia, histria e Arqueologia.
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padro de vida estvel. O desmate imediato e em grande escala era tido como
benfeitoria que garantia a permanncia do assentado na propriedade, gerando a
representao de que quanto maior a rea desmatada maior seria as benfeitorias da
propriedade, representando que o colono estava trabalhando na terra. Essas informaes
aparecem com naturalidade nos discursos dos agricultores que esto na regio desde a
era da colonizao.
O modelo de ocupao territorial no estado de Rondnia seguiu os mesmos
implantados nos ciclos da castanha, da borracha, minerao e colonizao agrria em
que a majorao econmica estaria acima das questes ambientais. Esse modelo com a
crescente expanso agrcola continua com a mesma dinmica de ocupao espacial em
que o desmate da floresta nativa se faz necessrio para dar lugar s culturas econmicas.
Para Soares-Filho (2006) o modelo econmico adotado na Amaznia poder promover
a eliminao total de 40% da floresta nativa at o ano de 2050. Na maioria das
propriedades pesquisadas, at as reservas legais definidas por lei foram desmatadas
dando lugar ao gado e a lavouras. Essa proporo torna-se preocupante uma vez que o
crescimento populacional numa rea de entorno, quando expressivo, demanda que
novas reas de florestas nativas sejam desmatadas para a constituio da espacialidade
agrcola seguindo o modelo at aqui vigente.
O mosaico do entorno da Flona do Jamari apresenta constantes alteraes com
novos focos de desmatamentos (Mapa 2). Nota-se a repetio de erros do passado com a
ausncia de polticas pblicas que possam desenhar um modelo de espacialidade
agrcola exequvel na Amaznia, o repetitivo ciclo de desmate para plantar lavoura sem
oferecer condies para a recuperao de solo proporciona a continuidade de impactos
promovidos no passado e que atualmente apresentam reflexos ao meio ambiente, como
observado no recorte espacial desta pesquisa.
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Mapa 2. Carta imagem de desmatamento em 2013 no municpio de Itapu do Oeste - Ro
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No municpio de Itapu do Oeste, o cultivo agropecurio crescente com vasta
rea ocupada por pastagens e por lavouras constituindo as principais fontes econmicas
da populao rural e urbana. O senso agropecurio do IBGE 2012
(http://cod.ibge.gov.br/23RXK) apontou o rebanho bovino em 73.071 unidades de
animais cultivados nas pastagens do municpio, numa proporo de 8,5 reses por
habitante, num momento em que o rebanho no estado contou 12.218.437 de reses total.
Se comparando a populao de bovinos com a populao humana de Rondnia, teremos
uma media de 6,9 animais para cada habitante, proporo esta menor que a apresentada
em Itapu do Oeste. No entorno da Flona do Jamari encontramos grandes propriedades
que cultivam o gado para o corte e leite, em reas de pastagens amplas j que o gado
criado pasto, mas existem tambm as pequenas propriedades em regime familiar que
possuem reses que servem para a sustentao dessas propriedades com o abastecimento
de leite aos laticnios.
A explorao madeireira representa importante fonte de emprego e renda ao
municpio. A ilegalidade na atividade industrial e a explorao indiscriminada de
madeira, fez com que, em 2008, durante uma operao conjunta do IBAMA, Polcia
Federal PF e outros rgos resultassem no fechamento de diversas empresas do ramo
que operavam de forma irregular na regio do entorno da Flona do Jamari, sendo que a
proporo do negcio foi tamanha que o desemprego causou problema social evidente
principalmente no municpio Cujubim, onde concentrava o maior nmero de indstrias
legais e ilegais (BASTOS, 2011). Desde ento a presena da Fora Nacional constante
na regio para reprimir a explorao ilegal de madeiras e ajudar os rgos fiscalizadores
no controle da UC. As aes de controle e represso deixaram os produtores
apreensivos a ponto de que, durante esta pesquisa, percebemos certa cautela e at
omisses em respostas relacionadas a temtica ambiental e a Flona, o que nos obrigou a
eliminar alguns entrevistados para no comprometer as anlises, substituindo esses
entrevistados por outros que propuseram a dar respostas de formas mais claras e
objetivas.
A atividade de minerao dentro e no entrono da Flona do Jamari atrai o
interesse de empreendedores de todos os portes de capital, j que desde a retirada de
material bsico para a construo civil como pedra britada, areia e cascalho at a
minerao em escala industrial, so atrativos que refletem na economia local e regional,
diante do potencial dos recursos naturais renovveis existentes nesta floresta
http://cod.ibge.gov.br/23RXK
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(ALMEIDA SILVA, 2009). No interior da Flona do Jamari est a Minerao Jacund
que opera a mais de meio sculo, atualmente controlada pela Companhia Siderrgica
Nacional (CSN), que explora o minrio de cassiterita2 de alto valor de mercado por ser
essencial para diversos processos industriais da siderurgia. Na dcada de 1980, durante
o apogeu da minerao, a Flona abrigou em seu interior, nas vilas instaladas pela
mineradora, cerca de cinco mil pessoas, um contingente que trabalhava, estudava e vivia
integralmente dentro da UC. Essa populao interna chegou a ser maior do que o
nmero de moradores na sede do distrito de Jamari, hoje cidade de Itapu do Oeste. A
minerao diminuiu o quantitativo de trabalhadores ao aumentar o potencial de
maquinrios, mas ainda lembrada no entorno da Flona por causa dos empregos
gerados. Esta pesquisa sondou a percepo dos agricultores quanto a atividade de
minerao, que demonstrou ser mais conhecida do que a Flona na qual est inserida.
O espao objeto desta pesquisa vasto em fauna e flora que precisam ser
estudadas e compreendidas. Algumas espcies florestais existentes na Floresta Nacional
do Jamari esto ameaadas de extino como o mogno (Swietheniama crophila), o
cedro (Cedrela odorata) e a cerejeira (Amburana cearencis) (IBAMA apud BASTOS,
2011). Espcies animais ameaadas de extino tambm so encontradas nesta rea,
como a Ona pintada (Panthera ona), o Gavio real (Harpia harpyja), e o Cachorro do
mato (Atelocynus microtis).
Como a presena desses animais so bioindicadores de ambientes conservados
(RIOTERRA, 2011) representa que, apesar das invases e desmatamentos ilegais, e
ainda, do extrativismo vegetal e mineral, atividades autorizadas por meio de concesses
pblicas, a Flona do Jamari se mantm conservada mesmo diante de tamanha ameaa
desenvolvimentista no entorno com as presses econmicas existentes dentro e fora da
UC. Apesar de que o indicador seja de ambiente conservado, no seria motivo para
acomodar j que o processo de desmatamento registrado anualmente na regio do
entorno acentuado e perceptvel atravs de imagens obtidas de satlites que mostram
constantes mudanas na paisagem atravs da construo de mosaicos.
O uso de agrotxicos e a presena de monocultura so observados ao longo da
extenso compreendida como zona de amortecimento nos municpios de Itapu do
Oeste e Cujubim. Nas margens das rodovias BR-364 e RO-205 a soja cultivada em
2 Bioxido natural de estanho, (FERNANDES, 2003).
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alta escala e tem atrado os pequenos agricultores para o arrendamento de suas
propriedades para a monocultura. A explorao madeireira tambm causa de alterao
do espao natural na zona de amortizao, espao este que requer cuidados no apenas
com a flora, mas pela circulao da fauna, rica e vasta, que necessita ampliar a busca de
alimentos na demanda de expanso de territrio de sobrevivncia. comum encontrar
animais silvestres as margens ou cruzando s estradas vicinais ou rodovias, bem como
possvel encontrar com frequncia, restos de animais mortos por atropelamentos.
1.2 Procedimentos metodolgicos da pesquisa
Desde a aprovao do projeto em 2012 foram iniciadas as visitas de campo na
rea pesquisada para conhecer o lugar, fazer as primeiras observaes empricas e
descritivas, entender os modos de vida e iniciar a compreenso do fenmeno objeto da
pesquisa. Essas visitas aconteceram em intervalos mdios de trs meses, consistindo nas
trs linhas rurais pesquisadas que integram a regio da Comunidade Nossa Senhora
Aparecida. Os primeiros signos obtidos foram utilizados para a compreenso da
hermenutica no sentido de desvendarmos os objetivos e iniciarmos o processo de
escolha de mtodos. Thomaz (2009) orienta que nessa fase o pesquisador deve se
conduzir pelo terreno e no pelos mapas para a construo de documentos primrios,
aproveitando as habilidades do pesquisador em geografia de perceber o objeto com um
olhar diferente do morador acostumado com a paisagem e com a realidade vivida. A
autora considera que ao se inserir no campo o pesquisador encontra problemas para
observar, interpretar, registrar e tomar decises sobre coletas de dados j que nesse
momento tornou-se parte do campo pesquisado, cabendo ao pesquisador as tomadas de
decises sobre mtodo e tcnicas a serem aplicadas em busca dos resultados definidos
nos objetivos. Conforme a autora o olhar do pesquisador para a realidade social dar a
este, as possibilidades de definir o que observar com maior ou menor relevncia, a partir
da escolha de quem deve ser abordado e como devem ser procedidas as abordagens
visando obter as informaes necessrias para a pesquisa.
Durante as visitas de observaes foram contactados cerca de 50 produtores e
produtoras rurais que atravs de conversas informais foram descrevendo o universo do
lugar, suas histrias e perspectivas. A partir dessas pessoas foram selecionadas as 20
que pudessem melhor contribuir com as respostas, diante do conhecimento do espao
pesquisado, o tempo de residncia no lugar, da participao ou no nos eventos e aes
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que compem a coletividade, habilidades de diagologar e responder aos questionrios.
Esse quantitativo selecionado representa o universo de forma no redundante, dando
uma margem que pudesse compor as anlises e interpretaes.
Quando se refere a pesquisa rural, Thomaz (2009) orienta que as coletas de
entrevistas e as respostas aos questionrios quantitativos ou qualitativos devem preceder
de modo que o colaborador no se sinta vigiado ou de algum modo pressionado. Tudo
deve ser observado no espao pesquisado e a autora orienta que o silncio e as pausas
dos entrevistados so carregados de significados que precisam ser compreendidos a
partir do contexto ao qual est inserido. As abordagens foram feitas em momentos e
horrios em que os entrevistados estavam livres de suas tarefas cotidianas, sem a
presena de outros membros da famlias ou da vizinhana que pudessem interferir na
pessoalidade das respostas, e de maneira que desse ao entrevistado a liberdade de
responder s perguntas.
Este mtodo calhou ao ambiente da pesquisa sendo uma rea de entorno de uma
unidade de conservao que j foi alvo de muitas invases e, consequentemente, de
conflitos entre rgos fiscalizadores com madeireiros, garimpeiros, agricultores e outros
exploradores. Thomaz (2009) tambm considera a dificuldade para obter informaes e
interpretaes em ambiente rural marcado por algum tipo de tenso, e para maior
compreenso importante que o pesquisador retorne diversas vezes ouvindo pessoas
diferentes de gneros e idades, e quando necessrio, at ouvir a mesma pessoa mais de
uma vez. Nesta pesquisa aplicamos essa tcnica j que as percepes no entorno da
Flona do Jamari sofrem presses e nos primeiros contatos entre pesquisador e
entrevistados foi observada desconfiana e, consequentemente, respostas no
condizentes com a realidade do meio vivido.
no primeiro momento da pesquisa que Suertegaray (2002) considera que o
pesquisador visualiza o espao em sua totalidade complexa e dialtica, sem a
preocupao de compreender o sistema, agindo puramente como observador
transformador de si mesmo, num mundo que ao mesmo tempo real composto por tudo
que existe e virtual com suas imagens e representaes. Esse mundo ainda desconhecido
pelo pesquisador composto de elementos significativos que descrevem quem so os
sujeitos e suas relaes no sistema apreendido. Segundo a autora, esse primeiro
momento revelador, mas ainda sem explicaes, sem respostas, sem origens, e o
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fenmeno ainda um objeto a ser explorado e descoberto. Foi nessa orientao que
aconteceram as primeiras visitas realizadas no espao da pesquisa, dando uma viso
generalizada do objeto. As observaes indicaram que no perodo da manh os
produtores estavam mais ocupados com as tarefas de campo e somente depois do
descanso do almoo, a partir das 14 horas, que tornou possvel encontr-los mais
disponveis para responder aos questionrios e entrevistas. Para alguns, no perodo das
10 horas ao meio dia, enquanto aguardavam o almoo e j terminadas as atividades
agrcolas na propriedade, tambm dispuseram a colaborar com a pesquisa. Outra
observao importante que aos domingos e feriados no seriam propcios para as
entrevistas porque geralmente os familiares que moram na cidade passam o dia em
visita na propriedade, e tambm o dia das atividades religiosas e de lazer como as
visitas aos amigos e as partidas de futebol. Os contatos nesses dias foram mais para
observao dos modos de vida e cotidianidade, considerando que a aplicao de
questionrio, na presena de familiares ou outros visitantes, sofreria interferncias nas
respostas. O primeiro momento serviu ainda para certificar de que o mtodo
fenomenolgico seria o mais apropriado para compreender a percepo dos produtores
rurais quanto a preservao ambiental e demais objetivos desta pesquisa, considerando
que a Fenomenologia oferece elementos tericos de compreenso da totalidade a partir
da individualidade dos sujeitos pesquisados.
Vale ressaltar o que orienta Suertegaray (2002), de que a ocorrncia das
primeiras sensaes originadas pelo olhar emprico somado aos conhecimentos que
comearam a aguar a curiosidade em saber mais e penetrar no universo que comeava
a ser desvendado. Nessa fase utilizamos os instrumentos tecnolgicos disponibilizados
obter informaes e coletamos os materiais necessrios para as anlises. Para a autora,
nesse momento que a viso do mundo pelo pesquisador comea a ser mais analtica e o
uso de instrumentos como mapas, mquinas fotogrficas e laboratrios passa a definir a
sntese da construo geogrfica. As leituras se tornam mais compreensveis e alm das
utilizaes de instrumentos, o pesquisador comea a definir os procedimentos para
continuar a pesquisa. Seguindo os procedimentos orientados pela autora, muitas
fotografias foram produzidas nesse momento para que servissem s anlises e dar a
estruturao da sntese da realidade geogrfica.
Tanto a aplicao do questionrio qualitativo/quantitativo quanto as entrevistas
gravadas, ocorreram em momentos bem distintos de modo que favorecesse a
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compreenso das mltiplas representaes dos diferentes personagens em temporalidade
e espacialidade. Foram aplicados os questionrios e tambm utilizada a tcnica de
conversa informal onde perguntas similares as contidas no questionrio foram aplicadas
infor4malmente, como se fossem em conversa cordial de uma curiosidade do
pesquisador quanto ao lugar. Notamos que, ao perceber que o questionrio estava
concludo, o colaborador se sentia mais a vontade e respondia com mais naturalidade e
com maior convico, mesmo em questes relativas ao meio ambiente e propriamente a
unidade de conservao. Dessas respostas informais surgiram dados importantes para as
compreenses que mais adiante sero expostas, e ao mesmo tempo contriburam para
orientar as pautas e escolhas de personagens que responderam as entrevistas gravadas
realizadas pelo mtodo de histria oral. A coleta dessas entrevistas aconteceu sempre no
momento em que j havia mais confiana dos entrevistados quanto importncia da
pesquisa. Uma preocupao surgiu quanto ao tipo de equipamento a ser utilizado para
coletar o mximo das expresses e sentimentos dos colaboradores sem inibir.
Um pr-teste com filmagem em julho de 2013 revelou certa inibio e gerou a
necessidade de buscar outro recurso para a captao dos depoimentos. O mais propcio e
que adotamos nessa fase foi um gravador de udio digital marca Sony, modelo IC
Recorder ICD-B26, medindo 11cm x 5cm x 1,5 cm que cabe bem dentro da mo, e por
ter excelente sensibilidade de captao de udio no havia necessidade de muita
aproximao, gerando menor inibio. O aparelho contm em seu sistema uma
subdiviso em duas pastas, e que efetua cada gravao em um respectivo arquivo digital
no formato MP3, facilitando a reproduo e a transferncia de dados j que os arquivos
so formatados automaticamente. Para fazer as transcries do contedo gravado para a
verso descritiva em textos que pudessem compor a dissertao, utilizamos o software
Express Scribe Pro, disponvel gratuitamente, que possui uma interface muito prtica
onde todos os recursos necessrios como captura de udio, cones de manejo do udio e
janela para editorao de texto ficam tudo numa nica tela, dando agilidade e
simplicidade ao processo.
A pesquisa aconteceu primeiramente atravs de um questionrio nas variveis
quantitativo/qualitativo composto por 60 perguntas aplicadas aos 20 produtores e
produtoras rurais em regime de agricultura familiar, residentes no recorte compreendido
como amostra (Mapa 3). A escolha dessa comunidade se deu por ser uma das mais
antigas nesse entorno, considerando que foi possvel encontrar moradores da poca da
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colonizao, bem como, moradores mais recentes que j chegaram na comunidade
depois que as propriedades j estavam abertas, as estradas em boas condies, energia
eltrica e outros benefcios.
Para responder aos questionrios foram escolhidos os 20 produtores e produtoras
que se declararam donos das propriedades em regime familiar, constitudos aqui como
amostra do universo de pessoas residentes na regio, que se dispuseram a contribuir
voluntariamente com a pesquisa, e que responderam aos questionrios sem a presena
de pessoas que pudessem causar algum tipo de influncia nas respostas. Esta etapa foi
realizada no ms de maio de 2013, durante o vero, e nos meses de janeiro e fevereiro
de 2014, durante o inverno, para que pudssemos observar as condies das
propriedades e das estradas nas duas estaes predominantes na Amaznia, e apesar de
que no inverno compreendido ao perodo desta pesquisa foi de intensas chuvas, as
estradas permaneceram em condies de trafegabilidade para qualquer tipo de
transporte. Foi possvel observar a motivao desses produtores rurais nas diferentes
estaes, sendo que no inverno declaram que as propriedades so mais produtivas do
que no vero.
No perodo de janeiro a maro de 2014, foram realizadas pesquisas com
entrevistas gravadas para colhermos os depoimentos que pudessem render declaraes
importantes para compor a fase de anlise desta dissertao. Para esta etapa utilizamos o
mtodo de histria oral, que mais adiante ser detalhado, ouvindo e gravando no
apenas com produtores rurais sujeitos do objeto desta pesquisa, como tambm, outros
personagens que puderam contribuir com as informaes necessrias para responder as
indagaes que tivemos durante a realizao desta pesquisa. Esses entrevistados
compem uma rede formada a partir dos questionamentos surgidos e das indicaes
surgidas naturalmente no processo de captao das informaes necessrias e que sero
expostas no decorrer dessa dissertao.
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Mapa 3. Localizao das linhas 605, 616 e 618 que compreende a Comunidade Nossa
Senhora Aparecida, no municpio de Itapu do Oeste - RO
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1.3 A Fenomenologia como mtodo analtico
Criado por Edmund Husserl (1859-1938), o mtodo fenomenolgico surgiu no
sculo XX como um movimento filosfico fundado por Franz Brentano, mas logo se
estendeu a todas as reas das cincias humanas, numa ruptura com o sculo anterior e
que proporcionou a construo da filosofia contempornea. Pelo mtodo husserliano a
anlise do fenmeno parte da essncia do dado, renunciando a deduo, pouco
importando com a linguagem, e descartando os fatos empricos. A fenomenologia
surgiu como o oposto ao naturalismo psicologista que at ento, concentrava a anlise
do fenmeno apenas nas coisas naturais, naquilo que fsico e pode ser materializado.
No pensamento de Husserl o fenmeno precisa ser estudado pelas essncias, pelas aes
humanas, pelas motivaes de vivncias, enquanto que o naturalismo propunha a
anlise do que fsico. So muitas as definies do mtodo fenomenolgico. Chau
apud Bertol (2003) destaca a evoluo do conceito de fenomenologia a partir de
Immanuel Kant (1724-1804) que definiu como sendo as formas do espao e do tempo
sobre o entendimento que o mundo externo oferece ao sujeito do conhecimento;
tambm por Friedrich Hegel (1770-1831) que numa evoluo conceitual acrescentou
que o fenmeno somente percebido pela conscincia e esta conscincia o prprio
fenmeno percebido pelo sujeito; e subsequentemente o conceito definido por Edmund
Husserl de que tudo fenmeno e o fenmeno toda existncia real de coisas
percebidas pela conscincia do indivduo. A autora, ao estudar a percepo espacial e
fenomenolgica, destaca outros trs conceitos: a partir de Maurice Merleau-Ponty
(1908-1961) em que o espao o mundo da experincia vivida pelo corpo; a
fenomenologia analtica existencial de Martin Heidegger (1889-1976) que define como
sendo a relao entre sujeito-objeto, onde o espao a intersubjetividade do objeto; e a
fenomenologia do esprito de Hegel que define o espao como o mundo da
autoconscincia, onde a conscincia se movimenta em busca do rompimento da
alienao material visando o reencontro com o sujeito-objeto idntico.
Seguimos pelo conceito de Merleau-Ponty (1999), considerando ser mais
adequado para esta pesquisa em que, a fenomenologia da percepo o estudo das
essncias na existncia, onde o objeto est inserido num mundo que existe antes de
qualquer anlise. Podemos afirmar que o lugar o mundo que est na existncia antes
do fenmeno, e toda anlise deve discorrer no que real na existncia interior do
indivduo que ali vive. Ao usar a fenomenologia como mtodo de estudo, o autor
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destaca que preciso fazer um relato do espao, do tempo e do mundo vivido
descrevendo as experincias vividas pelo sujeito no mundo ao qual est inserido, sendo
este o seu mundo construdo a partir de suas inspiraes e necessidades. Desse modo, o
mundo vivido o meio natural, o mundo real, um lugar constitudo conforme as
percepes do indivduo, dentro de seu modo de vida e de seus hbitos de
sobrevivncia, onde seus pensamentos representam o que ele realmente vive. O mundo
real precisa ser descrito como ele visto no espao, descrito no tempo e na forma em
que vivido. O espao construdo e percebido pelo sujeito em sua forma de vida,
enquanto que o seu pensamento est relacionado com a representao desse espao pela
maneira que o indivduo o sente.
Considerando as orientaes marleau-pontynianas descrevemos o mundo real do
entorno da Flona do Jamari semelhante s diversas pequenas propriedades dos demais
municpios de Rondnia, com os lotes trazendo frente uma rea de pastagem, um
curral, a residncia, o jardim ou uma horta caseira, enfim, um modelo de ocupao do
espao que nada difere de uma regio comum para a agricultura e pecuria, que em um
primeiro momento nada indica ser uma rea de entorno de uma unidade conservao.
primeira vista a paisagem segue o modelo de ocupao do espao dominante no Estado.
A agricultura de baixa produtividade por causa da baixa fertilidade do solo, problema
este muito questionado por esses proprietrios que desejam uma propriedade com mais
rendimento, com mais culturas, mas as condies no permitem. O cultivo de
subsistncia com a venda do excedente em feiras livres e para comerciantes que
revendem na cidade. A principal renda dos agricultores vem dos benefcios como
aposentadoria rural, bolsa famlia, e o rendimento do leite vendido aos laticnios.
Quem vive no lugar chegou na terra para constituir o sonho de criar a famlia, e
ter um espao para produzir e ter a independncia econmica, o que no se consolidou
num todo diante do sistema de produo artesanal, sem auxilio de mquinas agrcolas e
implementos que muito ajudariam no preparo e correo do solo. Esse sonho de
prosperar na terra percebido em todas as conversas em que os moradores relatam suas
histrias de vidas, recordam dos momentos mais difceis e fazem questo de comparar
com as facilidades que consideram ter no momento sempre expressando a vontade de
ver a terra produzindo e rendendo o suficiente para um padro de vida que inclua o
conforto no lar e a ajuda aos filhos para um futuro melhor, e esse futuro melhor para o
jovem rural do entorno da Flona do Jamari, deixou de ser no campo e agora consiste em
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ir para a cidade para dar continuidade aos estudos, que no passam do ensino mdio nas
localidades. Essa juventude acaba empregada no comrcio ou indstria e no voltam
mais para o campo. Enquanto isso, na propriedade rural, homens e mulheres imergem
num cotidiano de trabalho duro, de vida difcil, de esperana que nunca acaba. O
homem vai para o trabalho pesado no campo, e a mulher e o jovem, e at crianas se
revezam nas inmeras rotinas desde a alimentao dos animais no terreiro, jogar gua
nas plantas, o cultivo da horta, a limpeza e as prendas domsticas. Um cotidiano comum
de famlia agrcola de qualquer regio de Rondnia.
Se para Hussel a fenomenologia o estudo das essncias, para encontrar esse
princpio preciso voltar as coisas mesmas. Discorrendo sobre o tema, Zuben (1994)
ressalta o caminho proposto por Hussel, chamado de reduo fenomenolgica, que a
busca de um ponto de partida para o pensamento na inteno de reencontrar a
experincia refletida no mundo, que deve sair de si mesma para ser considerada
verdadeira. A reduo proposta por Hussel sugere mostrar o mundo como ele realmente
o , voltando-se as primcias, e que a palavra a descrio perceptiva do mundo sentido
e vivido. J Merleau-Ponty (1999) considera que o real inesgotvel e voltar s coisas
mesmas no leva a apreender todas as coisas uma vez que sempre haver essncias
antes dos fenmenos. Nisso, Merleau-Ponty destaca o cogito que o fato da existncia
fenomenolgica, ou seja, a ao em que o fenmeno acontece, tendo o sujeito como o
ator social do evento. No cogito o pensamento do indivduo revela quem ele no espao
vivido, j que no pensa o que sente e, sim, sente o que vive e isso o que pensa. O
cogito reconhece o pensamento do sujeito como o fato e o ser no mundo vivido. O
cogito est na essncia que emerge consigo as relaes vivas da experincia do
indivduo que v o mundo como ele vive e no como ele pensa. Assim, o pensamento
que revela de dentro de si surge a partir daquilo que ele e vive, e no necessariamente
daquilo que realmente pensa sobre o espao objeto.
Fazendo uma reduo e voltando ao incio do fenmeno percebemos que o
morador do entorno da Flona do Jamari, ainda pensa como viveu no tempo em que
chegou no lugar. Mantm o sonho de ter uma terra frtil e produtiva, onde a renda do
cultivo a cada colheita traria ao lar o suprimento, a bonana, o complemento ante as
necessidades e a realizao de sonhos de consumo, apesar de que esse morador
aparentemente de vida simples e no impede de ter ambies pessoais, o que comum
em grupos sociais. Por repetidas vezes ouvimos palavras que declararam a vontade de
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ter uma grande lavoura produtiva, mais gado no pasto, mais dinheiro para investir.
Tornar a propriedade cada vez mais produtiva a essncia do homem do campo que
tem na agricultura sua forma de viver e de sobreviver. O sonho est parado na
impossibilidade de adquirir um trator agrcola que seria para esses agricultores a
redeno do campo produtivo conforme almejam, acreditando que a correo do solo
daria mais produtividade ao campo.
Outra representao de valor observada pelo cogito que ainda almejam pela
explorao madeireira que no passado era uma atividade sem restries legais, e a venda
dessa matria prima representava dinheiro na mo na hora que precisasse. Essa
representao ainda est presente e nas conversas se ouvem declaraes que almejam a
liberdade de comercializar madeira e ter uma renda valiosa com esse negcio, mas nas
propriedades j no existem mais madeira de lei, tornando uma ameaa unidade de
conservao. O morador do entorno questiona a explorao dentro do Flona do Jamari
feita por empresas concessionrias oriundas da regio sudeste do pas. Para a maioria, a
explorao deveria ser feita por empresa local que na percepo dos produtores rurais
daria mais distribuio de renda no municpio. O que mantm ainda a esperana e o
apego ao lugar, so as recordaes presentes no espao onde os filhos cresceram, onde
desbravaram cada palmo terra, onde a malria que no sai da lembrana afligiu corpos e
vidas, mas essas dificuldades no romperam a esperana de superar doenas, distncias,
isolamentos e com a perseverana conseguiram os objetivos que os trouxeram para o
lugar. A Flona do Jamari representa potencial econmico, mesmo sendo percebida
tambm como espao de valor ambiental.
Pelas definies conceituais merleau-pontynianas, podemos afirmar que o
mundo representado como aquilo que ele, o sujeito, vive e sente, incluindo a empatia
que adquire pelo lugar, a confiana dos fatos existenciais, a memria que guarda dos
fatos vividos e presenciados, e a imaginao que constri a percepo que tem do
espao. Na definio de Bertol (2003), com base no conceito de Merleau-Ponty, a
percepo que o ser humano tem do seu mundo est relacionado a sua cultura e/ou
formao educacional, ao meio ambiente, as suas emoes e outros fatores que esto
dentro do sujeito e no seu exterior, mesmo que tudo isso esteja numa subjetividade. Se o
lugar de sua vivncia proporciona condies adequadas e satisfatrias, o sujeito ter a
percepo de uma representao agradvel e valorosa desse espao, o que no ocorre
quando o cogito vem de eventos insatisfatrios, uma vez que, o sujeito percebe o
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fenmeno a partir do seu ponto de vista, dentro de sua capacidade de apreender, e no
contexto daquilo que ele vive.
1.4 - Considerando a geograficidade
Holzer (1997) considera que o estudo da fenomenologia no pode restringir as
experincias do conhecimento e da vida como reveladas na Histria, mas deve se ater as
anlises das vivncias intencionais da conscincia, j que o sujeito se insere no
fenmeno a partir da produo do sentido do espao total para o local. Discorrendo
sobre o conceito de geograficidade de Dardel, o autor considera que o conhecimento
que o sujeito traz do mundo o que move o indivduo na construo de seu espao, e
esse espao construdo intencional a partir das aes de ligaes existenciais humanas,
que enuncia a paisagem como resultado das interaes do homem com os diferentes
espaos.
No pensamento fenomenolgico de Dardel (2011) d destaque ao conceito de
geograficidade onde o mundo percebido pelo sujeito vai alm do espao vivido e
abrange a totalidade, sendo que a percepo obtida num campo mais amplo, num
horizonte maior, em que o indivduo v o lugar num contexto holstico. E nesse aspecto
Dardel define a geograficidade em dois conceitos: o espao geomtrico dado como
nico, composto de caracterstica fsica que o identifica, formado por uma paisagem que
est em determinado lugar, e que a mo do homem molda esse espao a seu modo,
dando uma singularidade. composto por tudo que est no horizonte e tem forma,
caracterstica, cor, densidade e demais aspectos abstratos do mundo natural e mundo
real. Enquanto que o espao geogrfico a descrio da paisagem representada no olhar
do gegrafo ou de qualquer outro sujeito que observa e procura descrever as formas do
ambiente que est a sua frente a medida de sua percepo, dentro de suas
representaes. tudo que est no mesmo horizonte, mas alcanado pelas
representaes que formam as percepes, aquilo que percebido pelo sujeito, algo
esttico que existe e permanece e pode ser medido em dimenso, densidade, cheiro,
clima e outros aspectos de composio fsica. Esse espao vivido e sentido, e
descrito como fenmeno pela potica do observador que oferece a imaginao e
sensibilidade os valores reais de sua experincia humana. Conforme Dardel (2011), a
geograficidade implica no reconhecimento da realidade em sua materialidade e no estilo
descritivo que registra o ambiente dando a dimenso temporal e espacial.
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Observando pela geograficidade de Dardel, para os moradores do entorno da
Flona do Jamari, o espao geomtrico formado pela unidade de conservao que ali est
com suas partes ainda intactas e outras j impactadas, enquanto que o espao geogrfico
percebido pelo sujeito um espao do bem, til para a natureza e formadora de um ciclo
fsico benfico como mais chuvas, deixa o clima mais fresco, necessrio preservar,
por causa do oxignio, definidas assim pelos argumentos dos moradores que, talvez
tenham apreendidos por meio de represses fiscalizadoras ou mesmo nas palestras
educativas que sempre renovam os conceitos e reforam a importncia da floresta nativa
para a fauna, para a flora, para a pesquisa e para o uso sustentvel. Percebe-se um
discurso construdo e apreendido, um discurso que se repete e se aceita, uma persuaso
talvez pela repetio ou pela represso, porm um discurso existente e evidente. O
espao geogrfico que percebido e sentido denota rea ambiental que poderia dar
renda a quem do municpio e no para empresas de fora do estado, que no investem
em compensaes sociais, a ponto disso no ser percebido pelos moradores que
declaram desconhecer os benefcios das empresas de minerao e madeireiras que
atuam dentro da Flona. percebida certa frustrao quanto a importncia dessas aes
de forma industrial, enquanto que o morador prefere o garimpo artesanal e a explorao
de madeiras por empresas locais, o que na percepo desses, essas atividades trariam
mais empregos e o dinheiro circularia no municpio de forma mais abrangente e justo.
Oliveira & Souza (2010) discorrendo sobre geograficidade nas formas
simblicas, consideram que os mtodos e tcnicas que estudam essas formas geralmente
contextualizam como um nico estudo, sendo a Geografia Cultural, legado do
positivismo que ordenou o estudo fenomenolgico a partir de uma base fsica, o que nos
dificultam a compreender contedos to abstratos como os culturais e os simblicos,
possuidores de bases especializadas que no podem ser medidas e sim, sentidas e
vividas, enquanto que os estudos trariam as percepes dessas expresses que so
subjetivas. Os autores elogiam a renovao da Geografia Cultural a partir da dcada de
1970, principalmente com autores como Claval, Tuan, Rosendhal, Santos, Corra dentre
outros que passaram a explorar em suas anlises o simblico das formas e os efeitos
espaciais perante a vida humana. A influncia cultural est relacionada com o rural e o
urbano num misto de relaes e razes que integram esses dois espaos contidos no
entorno da Flona do Jamari.
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A principal tradio a festa da padroeira Nossa Senhora Aparecida que
movimenta a comunidade na organizao e une os moradores urbanos e rurais nas
celebraes e demais realizaes. Nessa regio de Itapu do Oeste a populao
predominante catlica apesar de que o senso de 2010 do IBGE aponte no municpio a
maioria de cristos evanglicos, o que no minimiza o efeito das comemoraes santa
que, num misto de profano e sagrado, motiva um bom nmero de pessoas at de outros
municpios durante os festejos. A mtica religiosa que acompanha o catolicismo desde a
era medieval est inserida na cultura do morador dessa comunidade que tem a f crist
sustentada paralelamente em Jesus Cristo com a interveno de Maria em suas
diferentes representaes de gnero, e nesse caso a Aparecida. A cavalgada que sai da
cidade de Itapu do Oeste rumo a comunidade a ligao do urbano e rural nessa
realizao que cresce a cada ano e j entrou no calendrio municipal como festa
tradicional. Criada como forma de atrair o morador da cidade para acompanhar o evento
no setor rural, a cavalgada foi a forma mais prtica para chamar a ateno de visitantes.
Outra tradio que surge com importncia para a cultural local a festa do
abacaxi, uma forma de promover a produo do fruto que vem ganhando espao nas
terras cidas do municpio. Com a produo crescente, os produtores resolveram
divulgar e abrir novos mercados por meio do festejo que envolve toda a comunidade
desde os preparativos at os momentos finais do evento, que tambm rene em suas
caractersticas a unidade de urbano e rural. Apesar de mais recente do que a festa da
padroeira, a festa do abacaxi tambm conquistou espao e integra o calendrio
municipal devido a grande participao de pessoas vindas at mesmo de outros
municpios. Esses eventos trazem em seus formatos idias de festas rurais com a
incluso da religiosidade e da identidade que o lugar apresenta dentro de uma totalidade.
Sobre o conceito de totalidade, Santos (2008a) estudando a globalizao,
considera que, os espaos modernos sofrem transformaes buscando a adaptao com
as novas necessidades que emergem, porm esses espaos no crescem na mesma
temporalidade de que os desejos de consumo. Faz crtica ao sistema global em que os
espaos minoritrios tornam apenas em subsistemas do espao global, privilegiando
apenas uma minoria em detrimento da maioria. O autor preocupa-se com a compreenso
e explicao do espao geogrfico no mundo globalizado e considera que os estudos
devem partir de um contexto socioespacial agrupando informaes relativas a elementos
econmicos, sociais, culturais e polticos que so fundamentais na espacialidade. O
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mundo existe em seu tempo e seu lugar, e para Santos, a totalidade a expresso de um
momento integralizado pelo modo de produo, formao social e espao que serve
como o palco das aes sociais. Destinos da economia, a nova espacialidade no
contexto sistema-mundo, e at mesmo os novos conceitos de territrio e lugar so
abordados na crtica que o autor faz ao propor uma nova Geografia que venha
considerar as divergncias modernas na busca de convergncias para a geograficidade.
Orienta que o espao global inexistente e ressalta a existncia de espao globalizado,
em que o mundo um conjunto de possibilidades, cuja efetivao depende das
oportunidades oferecidas pelos lugares (SANTOS 2008.a, p.169), e que cada lugar
disponibilizar condies peculiares para aes distintas. Se o mundo globalizado
reconstri normas, para Santos o lugar prprio e possuidor de suas normas regidas
pelas formas que podem individualmente compor o espao globalizado.
O sentido globalizado nos eventos culturais do entorno da Flona do Jamari vem
da influncia da f, da religiosidade e da performance de eventos tradicionalmente
rurais, num composto geral, mas a importncia do local ganha fora na incluso da
promoo da agricultura e pecuria como forma de identidade e de representaes. A
facilidade da informao totalizada que chega atravs da televiso, o principal meio de
comunicao de massa, de certo modo exerce influncia nos consumos dessa
comunidade rural, mas no chega impactar a identidade local que resiste. O desejo de
consumo percebido nos lares desses produtores rurais que declararam com satisfao
possuir produtos eltricos e eletrnicos como geladeira, freezer, liquidificador,
batedeira, triturador de alimentos e at lavadoras de roupas. Notamos que o falar de
produtos comumente de residncia urbana uma satisfao de consumo que conota
prosperidade.
O rdio e a televiso esto nas listagens de eletroeletrnicos, e a antena
parablica rompe com o isolamento trazendo notcias dos grandes centros do pas e do
mundo, e ao mesmo tempo revelando a globalizao de modos de vida como o impacto
da violncia, onde observamos certo interesse por programao com notcias de
segurana pblica, mesmo o campo sendo um lugar tranquilo para se viver. E so pelos
meios de comunicao que chegam as novas formas de consumo e de compreenso do
universo social e econmico em evidncia no mundo e que refletem no pas, no estado e
no municpio. O morador do entorno sabe discernir entre o que l de fora com o que
daqui mesmo, mas de alguma forma as influncias chegam e ocupam espaos, como
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na preferncia musical que em nada difere do que tocado nas rdios nas rdios de
cidades maiores, e as msicas mais tocadas na rdio local so as mesmas que compem
a listagem das demais emissoras do pas.
1.5 - Aporte das medidas quantitativa e qualitativa
A observao e o sentimento tem valor na descrio espacial, mas para que haja
preciso na afirmao do espao percebido se faz necessrio agregar mtodos que
possam dar condies de anlise. Sobre a fenomenologia, Giorgi (1988, et all.)
discorrendo sobre o pensamento de Hussel, orienta que o estudo fenomenolgico
precisa ser acompanhado de pesquisas quantitativas e qualitativas que daro suporte aos
elementos analticos, compondo informaes primarias que possam descrever e
interpretar o fenmeno. Explica que a pesquisa quantitativa estabelecida com questes
fechadas, apresentadas ao colaborador que dar suas respostas a medida das hipteses
sugeridas e que depois de tabuladas daro um quantitativo perceptivo. J a pesquisa
qualitativa aberta e o colaborador responde de acordo com suas convices ou
percepes dando pessoalidade a cada questo que na soma de pensamentos podemos
estabelecer uma compreenso total de um grupo pesquisado.
Garnica (1997) referindo ao uso de pesquisa qualitativa diz que uma
concepo de gerao de conhecimento, e destaca que os procedimentos da natureza
exata de testes de fundos matemticos trazem neutralidade ao pesquisador que figura
como narrador da pesquisa. O autor define a pesquisa como uma trajetria ao que se
pretende compreender, dando nfase a qualidade da informao e dos elementos
significativos que remetem s indagaes, que geram a compreenso das coisas que o
homem convive e, assim, no h neutralidade do pesquisador em relao a pesquisa,
pois o homem atribui significados e define o que pretende ser visto dispondo a
comunicar e relatar do modo de sua inteno. Por isso, Garnica afirma que no h
concluso numa pesquisa qualitativa e, sim, relatos de resultados obtidos e tabulados
que serviro para as interpretaes que podem mudar de representaes conforme o
olhar do interpretante.
Considerando o que Santos (2008.b) define para o espao dois componentes
sendo a configurao territorial que so os dados naturais modificados pela ao
consciente humana, e a dinmica social que considera o conjunto de relaes sociais
existentes numa sociedade em momento especifico. O autor ressalta a importncia da
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temporalidade para as interpretaes e anlises numa pesquisa, sendo que de um tempo
para outro, mesmo sendo mantidos os fluxos e fixos do objeto, a percepo do indivduo
altera devido a diversas mudanas vividas e sentidas nas fases de ascenso e declnios
sofridos em cada tempo. Quando muda as relaes sociais, consequentemente, muda a
cotidianidade, e a cada tempo tem a incluso de novas relaes sociais e formaes de
sistemas que promovem alteraes no espao vivido.
1.6 A construo da histria oral
Durante a fase de coleta de informaes atravs de pesquisa quantitativa e
qualitativa, alguns produtores fizeram declaraes importantes para serem registradas
como Histria, e percebemos que poderiam na fase de anlise contribuir para ilustrar o
pensamento crtico. O entendimento foi que tais depoimentos poderiam enriquecer o
contedo analtico desta pesquisa pela originalidade e pela importncia dos elementos
narrados pela percepo dos colaboradores. Decidimos incluir partes dessas narrativas
como suporte aos resultados apresentados na pesquisa, e utilizamos o mtodo de historia
oral para colher os depoimentos e fazer todo o processo de transcrio e descrio do
contedo apurado.
Entre os gneros da histria oral, Meihy (2007) destaca trs tipos, sendo:
histria oral de vida, histria oral temtica e tradio oral. Na histria oral de vida as
histrias so construdas pelas narrativas inspiradas em fatos, incluindo