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SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Fontes de Informação Sociológica João António Brojo Ferrão Marques Gonçalves Nº20040577

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SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Fontes de Informação Sociológica

João António Brojo Ferrão Marques Gonçalves Nº20040577

“SOCIEDADE DA

INFORMAÇÃO”

"É possível enganar algumas pessoas durante todo o

tempo e todas as pessoas durante algum tempo, mas é

impossível enganar todas as pessoas durante todo o

tempo"

(Abraham Lincoln apud José Manuel Barata-Feyo)

“Toda a arte da guerra tem por base o logro”

(Sun Tzu apud Vladimir Volkoff)

“Toda a arte do político é fazer crer”

(Maquiavel apud Vladimir Volkoff)

“Digam-lhes o que eles querem ouvir”

(Lenine apud Vladimir Volkoff)

“Uma meia verdade é a pior das mentiras em

informação”

José Manuel Barata-Feyo

Índice INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................1 1. DESENVOLVIMENTO.........................................................................................................................3

1.1 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ...........................................................................................................3 1.2. AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO, E EM ESPECIAL A INTERNET, COMO FACTOR DE DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E CULTURAL.................................................................6 1.3. O PODER DA IMAGEM, DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, INTERNET E TELEVISÃO COMO MEIO DE MANIPULAÇÃO E DESINFORMAÇÃO. .............................................................................8

1.3.1. O poder da imagem..............................................................................................................8 1.3.2. Meios de comunicação social, Internet e televisão, como meio de manipulação e desinformação....................................................................................................11

1.4. A TELEVISÃO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO ARMAS DO PODER ....................17 2. MÉTODO DE PESQUISA.................................................................................................................20 3. AVALIAÇÃO DE UMA PÁGINA DA INTERNET......................................................................23 4. FICHA DE LEITURA .........................................................................................................................25 5.CONCLUSÃO ..........................................................................................................................................28 6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................................30 ANEXOS

Anexo I – Página da Internet avaliada

Anexo II – Capitulo “um caso exemplar” do livro, Pequena história da

desinformação: do cavalo de Tróia à Internet de Vladimir Volkoff (2000)

Anexo III – Estatísticas do INE sobre a Internet em Portugal

Anexo IV – Publicidade censurada pela MTV, em formato digital.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

1

Introdução

Este trabalho realiza-se no âmbito da cadeira de fontes de informação

sociológica e tem como tema a sociedade da informação. Antes de mais,

é necessário referir a complexidade do estudo deste tema. Por diversas

razões, entre as quais a sua definição e a sua abrangência. No que toca

à primeira, é necessário encarar a sociedade da informação como uma

sociedade em que a informação e a tecnologia são supostamente

globalizadas por motivos que serão referidos neste trabalho. A

dificuldade que a abrangência deste tema levanta prende-se com o facto

de que muito do que hoje vivemos se relaciona com as novas

tecnologias, ou seja, com o facto de vivermos na sociedade da

informação.

Neste trabalho abordarei o tema segundo três dimensões, subdividindo

as mesmas, sabendo, no entanto, que muito fica por dizer no que toca a

este assunto. Tentarei ser objectivo no tratamento destas dimensões,

quanto a mim as mais importantes, devido ao seu carácter ético e

problemático – e aqui reside o motivo da selecção destas.

Posto isto, iniciarei o estudo com a abordagem à dimensão eticamente

menos problemática. Passarei, de seguida, ao estudo de uma dimensão

de importância capital na medida em que alerta para o lado negro da

informação e sua difusão. Acabarei, então, o estudo com a abordagem

da terceira dimensão, a relação entre as duas primeiras, e a sua ligação.

Seguindo a mesma ordem, as respectivas dimensões terão como

problemática: a Internet e as tecnologias da informação como factor de

desenvolvimento económico, e as estatísticas de uso de Internet e de

computador, sob uma questão de fundo: será o uso da Internet

globalizado? Posteriormente irei abordar o poder da imagem e os meios

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

2

de comunicação social, Internet e televisão, como meio de manipulação

e desinformação. Por último, abordarei a relação existente entre os dois

temas anteriores em que encararei a televisão e os meios de

comunicação social como armas do poder, seja ele político, económico,

ou religioso. No entanto, não distinguirei muito os poderes, pretendo

sim observá-los como um todo, podendo referir um ou outro em

particular para o seu imperialismo cultural, e/ou económico, e/ou

político.

De seguida, comentarei o meu processo de pesquisa e leitura,

esclarecendo acerca da forma como seleccionei os sub temas estudados.

Posteriormente, apresentarei a ficha de leitura do capítulo de um livro

escolhido, que se revelou útil pelo alerta que dá acerca de uma

dimensão estudada. Farei também a avaliação de uma página da

Internet e terminarei este trabalho com uma conclusão, que será uma

breve reflexão sumária do que tratei.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

3

1. Desenvolvimento

1.1 Sociedade da informação

Computadores, Internet, telemóveis, telefone, relações à distância,

crescente globalização das relações...O que é isto? Em termos gerais,

são apenas exemplos de características da sociedade da informação.

Sociedade da informação é um termo muito abrangente e complexo. No

entanto, neste estudo refiro-me a esta como sociedade em que, devido

às tecnologias da informação e comunicação, a informação, o

conhecimento, a desinformação, e a manipulação, diria mesmo, todos

os factos sociais são, supostamente, globalizados. Supostamente, na

medida em que a imagem que nos vendem é essa. Contudo, sabemos

que muitos ficam de fora desta realidade. Outro factor a ter em conta

neste conceito é o termo “cultura de massas”, pois como refere João

Paulo Moreira, “ (…) Todos somos seus consumidores mais ou menos

activos (…) “ (1984: 9), e quanto mais desenvolvida tecnologicamente a

sociedade, mais propícia é, a uma cultura de massas,” (…) depende da

tecnologia disponível e acompanha o desenvolvimento tecnológico (…)”

(Moreira,1984:12), e como veremos mais à frente, a ideia de cultura de

massas é tema central na sociedade actual.

Inerente ao conceito de sociedade da informação está o de tecnologias

da informação e comunicação (TIC). Apesar de não aprofundar este

conceito devo referir que é através destas que a sociedade da

informação se processa, nomeadamente mediante os computadores e as

telecomunicações.

Como consequência da evolução das tecnologias da informação e da

comunicação (TIC), todos os níveis e esferas da sociedade da informação

estão a modificar-se. E como é referido no site da UMIC (Agência para a

sociedade do conhecimento),

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

4

(…) é uma sociedade onde a componente da informação e do conhecimento desempenha um papel nuclear em todos os tipos de actividade humana,(…) induzindo novas formas de organização da economia e da sociedade. (UMIC, 2003)

Apesar destas modificações serem vistas com naturalidade pelo senso

comum e de, na generalidade serem também vistas como positivas, não

nos podemos iludir: há, de facto, uma face negra que se esconde atrás

de tanta evolução, e como refere David Lyon,

(…) a visão optimista dos benefícios sociais das novas tecnologias constitui um factor de distracção, que nos poderá levar a passar ao lado de questões cruciais relacionadas com o modo como as tecnologias da informação são desenvolvidas e aplicadas. (1992: xi)

Estas transformações ocorrem a todos os níveis sendo o emprego um

dos mais afectados, situação onde a mão-de-obra é mais reduzida como

nos deparamos no exemplo dado por David Lyon, ”Os robots das

fábricas de automóveis executam tarefas que antes requeriam força e

destreza humana” (1992: 75). Por conseguinte, deparamo-nos com a

crescente substituição do homem pelas tecnologias da informação. E se,

por um lado, se encurtam distâncias, se processam dados de forma

cada vez mais rápida, também não deixa de ser verdade que a

privacidade e as relações pessoais se perdem.

Em constante e profunda mudança não há esfera social que deixe de

ser afectada pelas TIC, mas a verdade é que em nada se extinguiram as

desigualdades, até porque quem detém o poder das TIC são as forças

estatais e multinacionais, o que faz sugerir “(…)que as mudanças

poderão ser mais de grau do que de qualidade.” (Lyon, 1992: 9) Este

processo de transformação na sociedade da informação parece, de facto,

inelutável. É evidente que as desigualdades sociais são cada vez mais,

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

5

mais vincadas e mais profundas. O individualismo é cada vez mais

claro. Curiosamente, hoje em dia a vida privada é alvo de cobiça

televisiva e estatal, quer através de reality shows, ou mediante escutas

telefónicas. Um outro factor que demonstra este carácter inelutável da

sociedade da informação prende-se com a elevada dependência que

muitos demonstram em relação ao telemóvel, à televisão, ou ao

computador. É importante referir que o individuo não é um robot, e

toma processo activo nestas transformações que se desenrolam em

constante interacção e segundo o binómio Tecnologias-Sociedade, como

refere Lyon,

A mudança social está indubitavelmente relacionada com a inovação tecnológica; porém, os eventuais desfechos dessa inovação resultarão não de meros ”impactes tecnológicos”, mas sim de uma subtil e complexa inter penetração entre tecnologia e sociedade. (1992: 46)

Antes de prosseguir com o tema, gostaria de referir o que deveria ser a

sociedade da informação, e que não é. A sociedade da informação,

deveria ser uma sociedade em que, como diz a UNESCO no seu site,

Que a ampla difusão da cultura e a educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis para a dignidade do homem e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com espírito colaborativo. (Observatório da sociedade da informação, 2005)

De seguida tratarei as tecnologias da informação e comunicação, e em

especial a Internet, como factor de desenvolvimento económico e

cultural. Em segundo lugar, abordarei o poder da imagem, dos meios de

comunicação social, Internet e televisão como meio de manipulação e

desinformação. E por último, irei referir-me à televisão e aos meios de

comunicação social como armas do poder.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

6

1.2. As tecnologias da informação e comunicação, e em especial a

Internet, como factor de desenvolvimento económico e cultural.

Na sociedade de hoje, pautada pelas TIC, o desenvolvimento económico

e cultural depende destas. Devido às TIC, a rapidez de execução de

tarefas é crescente, as pessoas podem comunicar à distância, bem como

adquirir conhecimentos, tudo isto de forma facilitada. O peso que as

TIC têm na sociedade da informação é enorme e, segundo dados do site

do programa ligar Portugal (programa integrado no plano tecnológico do

governo), a importância económica da sociedade da informação a nível

da união europeia (UE), é “cerca de 8% do PIB da EU, que contribui com

40% para o crescimento da produtividade europeia, e emprega

actualmente 6% da população activa”. (Ligar Portugal, 2005)

Julgo que estas observações não espantam ninguém, pois já são mais

que vendidas. Quero, neste ponto, fazer umas observações

relativamente à forma como se trata o tema das TIC, e mais

especificamente da Internet. Em relação a isto, é caricato quando se fala

na sociedade da informação ou nas TIC. No vocabulário usado surgem,

primordialmente, conceitos como crescimento, emprego, ou mesmo

economia. Palavras que se referem ao desenvolvimento económico e não

cultural, ou que promovem o livre e globalizado acesso às TIC. Estas,

quando referidas, surgem em segundo plano e, se reparamos nos

objectivos da iniciativa Ligar Portugal, deparamo-nos com uma

secundarização desse assunto. Em cinco objectivos definidos por essa

iniciativa, apenas um diz respeito à evolução cultural da sociedade

portuguesa, não se mencionando sequer objectivos no campo da

generalização do acesso às TIC. Isto, quando esta mesma iniciativa

reconhece a importância de tais tecnologias para o combate à info-

exclusão que, escusado será dizer, existe aos olhos de todos. Em

relação a este combate, é também curioso mencionar a posição do novo

quadro estratégico da Comissão Europeia. Quadro que engloba as

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

7

medidas políticas para a sociedade da informação. Os seus objectivos

são, sem dúvida, bons para o combate à info-exclusão. Refiro apenas

um que julgo ser o mais importante, “colocar todos os cidadãos, todas

as famílias e escolas, todas as empresas e todos os órgãos da

administração publica na era digital e em linha” (...). Convém analisar o

porquê de tais objectivos devido à incoerência existente entre causas

dos objectivos e os mesmos, como aliás se pode verificar no site da

Comissão Europeia, “No entanto, tendo em conta a rapidez da evolução

das tecnologias e dos mercados, deve ser desde já lançada uma

iniciativa política para além do calendário actual” (União Europeia,

2006). Ou seja, fazer render o que já se desenvolveu, e ter ganhos

económicos.

Outro aspecto referente ao combate à info-exclusão é a elitização do

acesso à Internet, quer no site da Comissão Europeia, quer no site da

iniciativa Ligar Portugal. Começo por referir a intenção da primeira, que

é tornar a

Internet rápida para investigadores e estudantes. No que respeita aos investigadores e estudantes, o objectivo europeu é garantir o acesso à Internet a todas as pessoas envolvidas no ensino e na investigação. (União Europeia, 2006)

Já a iniciativa Ligar Portugal reconhece o grupo social com mais

dificuldade e com menor taxa de acesso á Internet, como se pode ler no

site,

Baixa taxa de penetração da Internet relativamente à média Europeia, particularmente associadas a níveis de info-exclusão significativos na população com mais de 25 anos e com níveis de instrução inferiores ao 9º ano de escolaridade, os quais representam cerca de 5 milhões de portugueses entre os 25 e os 74 anos. (Ligar Portugal, 2005)

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

8

Apesar disto, ocorre uma elitização no que toca ao acesso à Internet.

Segundo o mesmo site, “Facilitar a utilização de computadores em casa

por estudantes, designadamente através dos seguintes mecanismos

(…)”, mecanismos estes que, através de uma série de facilidades de

acesso à Internet, só comprovam a elitização referida. O escalão etário

que mais utiliza o computador e a Internet em Portugal é, assim, aquele

que mais se quer beneficiar1.

1.3. O poder da imagem, dos meios de comunicação social, Internet

e televisão como meio de manipulação e desinformação.

Neste ponto serão focados alguns dos lados negros da sociedade da

informação, mais influentes em todas as esferas desta mesma

sociedade. Por inacreditável que pareça, esta é a nossa realidade e não

apenas a que nos vendem.

1.3.1. O poder da imagem

Por vários motivos, a imagem tem-se imposto à imprensa escrita. Mais

instantânea e com mais impacto público que a escrita, a imagem é hoje

a preferência de uma sociedade cada vez mais acomodada, sem vontade

de raciocínio, nem tempo para se informar, como refere José Manuel

Barata-Feyo ao afirmar que: ”A imagem é a facilidade: ela encoraja a

preguiça, a passividade” (1996: 34). E a imprensa escrita? É remetida

para segunda escolha, e um mero auxiliar da imagem. Notável exemplo

do poder e influência da imagem na opinião pública, é a publicidade

censurada pela MTV. Que demonstra a falta de importância que se da a

certas causas, como a pobreza, ou a sida. Em prol de outra que não

1 Tabelas estatísticas encontram-se no Anexo III.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

9

deixando de ser importante (o ataque terrorista sobre as torres gémeas),

relega para segundo plano questões porventura mais graves2.

Outro aspecto relevante é o facto de o tratamento da imagem (vídeo, ou

fotografia) ser feito para fins de espectáculo, já que uma imagem para

ser informação tem de ser tratada para fins de voyerismo do

telespectador, sendo inúmeros os meios para manipular a imagem. Dou

apenas dois exemplos, de Barata-Feyo, de falsos directos. Que são bem

exemplificativos do que é um falso directo.

“Patrick poivre d’Arvor interroga doutamente o ministro iraquiano dos

Negócios Estrangeiros “em directo, com a pequeníssima ideia de que as

perguntas foram gravadas depois da entrevista.” (1996: 49).

Melhor que as minhas palavras continuam a ser as de Barata-Feyo: ”As

imagens da maré negra do Golfo eram, na maioria dos casos, as de

precedentes catástrofes (…)” (1996: 49), ou seja, imagens passadas, são

por vezes, utilizadas para relatar acontecimentos actuais. Já que me

refiro a catástrofes, curioso notar a mediocridade do meio televisivo e

informativo no geral (imprensa escrita, por exemplo), uma vez que

alguns países só têm direito a uma aparição nestes em caso de tragédia

ou por algo que possa proporcionar espectáculo informativo, havendo

inúmeros exemplos, desde tsunamis, a quedas de aviões. Isto levanta

dois problemas: um é o estado dos meios de comunicação social que

veremos mais à frente, e o outro, que me refiro agora, diz respeito ao

poder da imagem, e ao voyerismo que esta proporciona. Como exemplos

deste “prazer” da observação temos as tragédias e os talk-shows, que

para além de sexo e sangue são também portadores de cenas

fervilhantes que matam os vícios de um público cada vez menos

exigente, como é o caso do programa “fiel ou infiel”, que ilustra bem o

que acabei de referir.

2 A publicidade encontra-se no Anexo IV, em formato digital.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

10

O estado actual da televisão deve-se, em grande parte, à pouca

independência económica das várias estações televisivas em relação ao

poder económico. Aliás, cada vez mais a televisão e a informação são

pautadas por estes, sendo assim transformados em bens de consumo.

Como consequência disto, “(…)a corrida à audiência banaliza o trabalho

do jornalista e transforma-o em vendilhão do espectáculo” (Barata-Feyo,

1996:177). Outro exemplo desta dependência é o facto de cada vez mais

as estações televisivas dependerem da publicidade na medida em que

grande parte das suas receitas provêm daí. Logo, multinacionais têm a

televisão ao seu serviço, bombardeando a mesma de forma a permitir e

a banalizar o consumismo.

Apesar dos aspectos negativos, é de realçar a crescente importância da

difusão da informação na sociedade de hoje que contribui, quando boa,

para uma melhor informação da opinião pública. Um exemplo que

ilustra bem esta importância é o peso que a televisão teve na revolta

estudantil chinesa (Barata-Feyo, 1996: 213). Os estudantes, através

dela, difundiram as suas opiniões e argumentos, informando e

alertando o público para certas realidades. De qualquer forma, é

fundamental ter em conta a objectividade da imagem: mesmo quando

bem tratada, a informação nunca consegue ser imagem fiel da

realidade, na medida em que é sempre influenciada pelas ideologias de

quem a faz.

Antes de terminar o estudo deste ponto devo referir que a opinião

pública é muito vulnerável a todo o tipo de imagens, como diz Vladimir

Volkoff, “A opinião pública é uma criança grande e age quase da mesma

forma com a ajuda, como no teatro, de um ponto. O desinformador”

(2000:136). É importante, por isso, quebrar o ritmo a que desenvolve a

imagem como instrumento de manipulação porque “(…) nunca como até

agora a imagem fez rimar informação com manipulação” (Barata-Feyo,

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

11

1996:12). Esta quebra assume uma importância capital quando

sabemos que todas as culturas se formam e transformam sobre grande

influência da televisão e, quanto mais jovem for a geração, maior

impacto tem a televisão nas suas mentalidades, como refere Barata-

Feyo, “os gostos, usos e costumes e até as linguagens são

condicionadas pelo pequeno ecrã, a estrutura das próprias

mentalidades, sobretudo das novas gerações”. (1996:11).

1.3.2. Meios de comunicação social, Internet e televisão, como

meio de manipulação e desinformação.

Com o advento da imagem surgiram novas formas para manipular as

mentes. Para além dos casos que já referi, os falsos directos, ou a

utilização de imagens de acontecimentos passados fazendo passá-las

por actuais, também hoje se utilizam as imagens subliminares. Julgo

que, melhor que a minha explicação, o exemplo seguinte esclarece o

significado de imagem subliminar,

O subliminar clássico é representado pela famosa 25ª imagem por segundo introduzida num filme e que passa tão rapidamente que o olho não a pode comunicar à consciência, mas pensa-se que atinge directamente o inconsciente. (Vladimir Volkoff, 2000:163).

Mas não só com a imagem se pratica este tipo de técnica, o som

também é alvo desta prática. As mais variadas mensagens são

introduzidas numa mensagem auditiva, contudo, através das suas

variadas técnicas de tratamento de som, passam despercebidas ao

ouvido, ficando retidas no nosso inconsciente como refere Vladimir

Volkoff, “É mais ou menos como se o nosso inconsciente ouvisse os

sons dos apitos para cães sem que a nossa consciência se desse conta”.

(2000:163).

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

12

A imagem é, sem dúvida influente, assim como a forma como se filtram

as imagens a passar na televisão. Sem querer ser simplista, e aplicar

exclusivamente culpas à televisão, é curioso verificar o elevado nível de

criminalidade nos EUA, que tem na sua televisão a mais violenta do

mundo (Barata-Feyo, 1996).

Antes de prosseguir com o tema, devo esclarecer acerca do conceito de

“desinformação”. Como refere Vladimir Volkoff, trata-se de uma

“Técnica que permite fornecer a terceiros informações erróneas que os

conduzem a cometer actos colectivos ou a difundirem juízos desejados

pelo informador” (2000: 23), ou ainda segundo o mesmo autor desta vez

um pouco mais específico, “A desinformação é uma manipulação da

opinião pública para fins políticos através de informação trabalhada por

processos ocultos” (2000: 23). Posto isto, mais facilmente se entenderão

alguns exemplos que apresentarei.

A manipulação de mentes através da televisão é por demais

escandalosa, e de ético, nada tem. O caso de Timisoara é alarmante na

medida em que,

Foi montada uma operação de desinformação para fazer o mundo crer terem sido descobertas valas comuns em Timisoara. De facto, tinham-se apenas fotografado cadáveres numa morgue e a mistificação foi mal sucedida. (Vladimir Volkoff, 2000:195)

… e ainda bem.

Este tipo de manipulação oculta a ditadura da desinformação ou

manipulação. Oculta porque, sendo aceite pela generalidade dos

indivíduos, tende a afirmar-se caso a verdadeira informação se extinga.

Deixo então uma pergunta para reflexão: “E se, de repente, os

jornalistas se passassem com armas e bagagens, para o outro lado, o

lado dos dirigentes?” (Barata-Feyo, 1996: 78). Um facto curioso

relativamente a esta questão e ao tratamento da imagem, é o facto de

cada vez mais o apresentador da informação ser escolhido consoante a

sua imagem e a forma como transmite a informação.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

13

Outro dado curioso e imperceptível ao público é a própria programação

dos telejornais. Ao contrário de outros tempos, hoje os telejornais optam

por iniciar a sua emissão transmitindo as notícias com mais impacto e

não necessariamente as mais importantes. (Barata-Feyo, 1996:147).

Actualmente, o impacto visual e a aparência são, sem sombra de

dúvidas, motivo de escolha nos mais variados campos. Um desses

campos é a política, em que a ligação desta com a televisão é de

dependência mútua. Tendo isto em conta, é curiosa a existência de

“conselheiros de imagem” (Barata-Feyo, 2000:122) para os políticos.

Qualquer político que se apresente em televisão tem hoje a “obrigação”

de cuidar da aparência e “extinguir” os seus tiques. Deixo alguns

exemplos apresentados por Barata-Feyo, “(…) tem o queixo para dentro

e os dentes saídos (…)” (1996:122), diz respeito ao senhor François

Miterrand, ou “(…) o olhar triste(…)” (1996:122), neste caso trata-se de

Leotard, ou ainda “(…) ar de quem está a dormir em pé(…)”(1996:122),

referindo-se a Barre. O caricato destes exemplos não está em si

mesmos, mas antes na sua resolução. Para ultrapassarem estes

“defeitos”, muitos políticos recorrem à cirurgia plástica (Barata-Feyo,

1996:122).

Outro aspecto relevante em relação ao poder da imagem é a forma como

se discrimina a informação a transmitir, bem como a importância a dar.

Este facto não pode ser ignorado sob pena de nos deixarmos manipular

pelos manipuladores. Como refere Barata-Feyo, ”O impacto da imagem

é tal que um acontecimento deve «passar na televisão para existir» ”

(1996: 53). O mesmo autor prossegue com dois exemplos,

(…) a fome no Sudão provocou duzentos e cinquenta mil mortos em 1988; no ano seguinte, trezentos estudantes foram massacrados em Lumumbashi (Zaire). Dois dramas que se produziram no meio de uma indiferença geral. A ausência de imagens nos telejornais transformou-os em “não acontecimentos”. (1996: 53).

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14

Todas estas manipulações por parte dos meios de comunicação social

são extremamente perigosas e influentes na opinião pública. Na

verdade, muitas das justificações de certas opiniões são um simples “é

verdade porque li”, ou “é verdade porque vi”. Será que um “é verdade

porque presenciei” é credível nos dias que correm? Fica levantada a

questão para reflexão.

É fundamental sublinhar um aspecto: não nos desresponsabilizemos da

nossa culpa enquanto consumidores, pois somos nós que deixamos que

a manipulação tenha sucesso. De facto, a característica de um bom

consumidor de informação, seja ela escrita, auditiva, ou em imagem, é

duvidar, interpretar e reflectir acerca do que consome: “Qual a regra de

ouro de um bom leitor, auditor ou telespectador? A dúvida metódica”

(Barata-Feyo, 1996:64). É importante atender a esta característica, na

medida em que a opinião pública é o principal juiz da comunicação

social. Comunicação social que, muitas vezes, quando interessada,

trata de manipular, controlar, ou mesmo calar. É, portanto, difícil haver

quem tenha capacidade para julgar esta, pois, quem quer que se

proponha a essa tarefa, depende sempre deles, sendo por isso difícil a

concretização desse trabalho. É então legítimo, lançar uma dúvida:

apesar de ser considerado o quarto poder, a comunicação social terá

capacidade para controlar os outros três, sabendo da sua influência

sobre estes e assim ser considerado o primeiro poder?

Centro agora o tema na comunicação social e no modo como o

jornalismo, e o jornalista se comportam perante a mais variada

informação. Na sociedade da informação há uma coexistência de dois

tipos de jornalismo: um que designa a profissão e que se traduz no

tratamento da informação de uma forma imparcial, ou o mais imparcial

possível, e com intentos informativos, e o outro tipo, o dito jornalismo

nocivo, que trata a informação ou factos com o intuito de manipular

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

15

mentes, para os mais diversos fins. Na sociedade de hoje, o jornalismo

adopta uma atitude de ocultação e mentira que se traduz na

transmissão de “verdades incompletas ou meias verdades”, ferramenta

perfeita da manipulação. Como refere Barata-Feyo “(…) a parte de

mentira ganha crédito apoiando-se na parte da verdade”. (1996:14).

Todo este trabalho de ocultação deve-se a uma falta de profissionalismo

devido à luta desenfreada pela audiência. Empolgado pelo espectáculo,

o jornalista é, por vezes, um instrumento dos governos, o caso da

Guerra do Golfo (1991) é exemplo disso, algo que irei abordar

oportunamente.

O binómio Governo – Meios de comunicação social traduz-se, muitas

vezes, numa relação de benefício mútuo. Relativamente aos segundos, a

sua motivação prende-se com o dinheiro por este ser, “(…)alavanca do

poder, de promoção social, como forma de ostentação” (Barata-Feyo,

1996:14).

Sem qualquer tipo de restrição, o jornalista serve quem lhe pisca o olho

e consoante os seus intentos, como se pode perceber na analogia de

Barata-Feyo, “E a todos serve (…), o que importa é o dinheiro (…) nós,

jornalistas somos como as putas. Não queremos ser mais, mas também

não aceitamos ser menos” (1996:16).

Em relação à opiniões do jornalista, ou de quem as fornece, por mais

imparcial que seja, nunca é a mais objectiva. Como refere o Le Monde,

”(…) Que jornalista, que escritor, quando divulga ao público as suas

análises ou reflexões não é, voluntariamente ou contra a sua vontade,

um agente influenciador?” (apud Barata-Feyo,1996: 95).

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

16

Convém referir que os jornalistas não são os únicos responsáveis pelo

fenómeno da manipulação e desinformação. Também estes por vezes

são manipulados através das informações que lhes fornecem. Um dos

exemplos mais mediáticos é a Guerra do Golfo (1991). As informações

escolhidas a dedo, aliadas à falta de imagens causaram um grande

incómodo aos próprios jornalistas. Segundo uma sondagem realizada,

75% dos jornalistas julgaram que o “jornalismo espectáculo” reinou e

53% temeram pela sua credibilidade junto da opinião pública. Como

referi anteriormente, é necessário reforçar a ideia de que nem toda a

manipulação é obra do jornalismo: segundo a mesma sondagem, 81%

dos jornalistas afirmaram que foram manipulados pelas fontes militares

aliadas, e 61% dos jornalistas relata que as forças iraquianas o fizeram

(Barata-Feyo, 1996: 33-34). Por conseguinte, não devemos atribuir a

culpa somente aos jornalistas, na medida em que é um facto que toda a

informação transmitida aos média é fornecida com determinados

interesses e, assim, manipulada.

Há ainda outro campo onde a desinformação e manipulação são cada

vez mais preponderantes. A arte da desinformação está também patente

na arte de guerrear, onde cada vez mais se faz o jogo psicológico. Assim,

proferir palavras que incitam o medo e desencorajar as tropas inimigas

é cada vez mais importante. Como refere Muchielli, “O importante não é

a vida real, mas aquilo em que as pessoas acreditam” (apud Vladimir

Volkoff, 2000:13) afirmando que, “Encontrar as palavras que produzem

efeitos é mais importante do que os dados objectivos” (apud Vladimir

Volkoff, 2000:13). Darei agora dois exemplos representativos da guerra

psicológica: “Desacreditar tudo o que há de bom no país inimigo”

(Vladimir Volkoff, 2000: 39), e “Semeiem a discórdia e os conflitos entre

cidadãos do país inimigo” (Vladimir Volkoff, 2000: 39).

Para desinformar são necessários três agentes: o informador que tem a

tarefa de lançar a “notícia”; o canal de comunicação que tem como

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

17

missão transmiti-la; e por último, o informado que constitui o alvo das

“notícias”. Consequentemente é preciso reter que, “a informação nunca

tem 100% de verdade. Erros infiltram-se por todos lados, mesmo

quando nenhum elemento da cadeia de informação (…) tem intenção”,

sendo crucial o facto de nunca existir objectividade em informação

(Vladimir Volkoff, 2000:13). Para terminar este ponto é, portanto,

legítimo concluir que “não há informação, sem manipulação” (Barata-

Feyo, 1996:114).

1.4. A televisão e os meios de comunicação social como armas do

poder

Como já foi referido, os meios de comunicação social e a Internet são

agentes manipuladores ao serviço dos mais variados poderes. Cabe aqui

lançar o alerta de que há uma estreita ligação entre jornalistas e

poderes ou poderosos, pelas mais diversas razões, facto bem evidente

na afirmação de Stéphanie Denis, editorialista do diário Quotidien de

Paris, referindo-se ao poder e à televisão. “ (…) Entendem-se por meias

palavras e servem-se tanto quanto podem (…), em vez de ser uma

máquina de informar, a televisão é uma máquina de dominar” (apud

Barata-Feyo, 1996:172).

A informação é manejada pelos poderosos já que existem países

exportadores de televisão como os EUA, Inglaterra e França, e países

maioritariamente importadores, que é o caso de Portugal. O perigo que

daqui advém traduz-se na colonização cultural através dos média e da

televisão, na medida em que a informação que circula é a de quem a

controla e transmite consoante os seus interesses (Barata-Feyo 1996:

265). Por outro lado, quem controla as tecnologias da informação

controla os seus conteúdos. Não será por acaso que quem gere a

Internet são os Estados Unidos da América aliado ao facto de terem

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

18

defendido a continuidade da sua gerência na cimeira da ONU, em

Tunes, em Novembro de 2005, contra a vontade de países como a China

ou o Irão. (Público, 2005)

Deste modo, a luta é desigual, sendo as mensagens difundidas e

transmitidas em prol dos mais influentes, enquanto que aos restantes

basta apenas receberem e assimilarem as mensagens e, assim,

transformarem-se.

Dou agora dois curtos exemplos de dois génios da manipulação que

operaram em prol das suas nações, ou seja, de dois poderes durante o

período que precedeu a segunda Guerra Mundial. Goebbels manipulou

em prol da sua Alemanha nazi, e Delmer pela sua Grã-Bretanha.

Muitos foram os meios utilizados: enquanto o primeiro produziu falsos

manuscritos de Nostradamus, o segundo publicou uma revista de

astrologia onde editava horóscopos negros para os importantes chefes

da Alemanha nazi (Vladimir Volkoff, 2000: 71).

Este aspecto da sociedade da informação é, de facto, preocupante, e a

isso se deve a ênfase que lhe dou. São escandalosas as formas que se

utilizam para levar avante os mais variados fins. Como refere Volkoff, os

manuais escolares foram e continuam a ser uma ferramenta da

desinformação, e exemplifica com os manuais de história francesa,

depois da terceira e quarta repúblicas,

Por volta 1984, manuais de ciências humanas, utilizados no último ano de ensino secundário mostravam “a vida no URSS” e “ a vida nos EUA” sob a forma de duas fotografias em duas páginas opostas: a primeira apresentava um grupo de estudantes de ambos os sexos, rindo e empurrando-se à saída de uma universidade, a outra, negros famélicos na soleira de um casebre. (2000:145)

Outro exemplo enunciado pelo mesmo autor é o dicionário de sinónimos

Larousse, em 1977. Não abordarei esta questão de forma exaustiva mas

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

19

é importante referir que, segundo este dicionário, o vocábulo “Aderir”

significava: “Ele adere ao partido socialista” (2000:151), e que

“Arregimentar” era explicitado da seguinte forma: “Ele deixou-se

arregimentar por um grupo de extrema-direita” (2000: 151).

Os poderes manipulam as mentes tanto pela desinformação, como pela

ocultação de verdades. Um caso extremamente grave, e ilustrativo do

que refiro, é Fallujah, cidade situada no Iraque e alvo dos momentos

mais tensos do conflito, entre USA e Iraque. Como se sabe, a invasão

dos americanos foi justificada pela existência de armas de destruição

maciça no Iraque. Sabe-se, contudo, que essas armas nunca foram

encontradas. O que não se sabe, e aqui reside a ocultação de

informação, é o facto das tropas americanas usarem essas mesmas

armas sobre as tropas iraquianas e civis. Segundo um jovem fuzileiro

americano, foram usadas bombas de fósforo branco. Adianta ainda que

bombas napalm foram utilizadas pelas tropas americanas. Estes dados

foram difundidos no documentário que foi, também ele, ocultado. É

necessário estar alerta para estes casos de mentira e ocultação e para

as pressões existentes, de vários quadrantes do poder, sobre os média.

Caso contrário, qual a razão da existência da expressão “liberdade de

expressão”?

Em suma, não retirando culpa dos jornalistas por exercerem a profissão

que exercem, estes devem estar atentos para não caírem nas malhas

dos poderosos. Não podemos esquecer que, apesar de tudo, estes são

apenas um dos meios de transmissão da desinformação e ferramenta de

manipulação. De facto, os verdadeiros responsáveis são os interessados

em desinformar, e esses podem constituir desde estados, a religiões,

etc. Por conseguinte, é necessário uma consciencialização das mentes,

tanto do alvo (opinião pública), como dos meios ou veículos de

transmissão (meios de comunicação social, ou Internet). Na verdade, só

se manipula e desinforma se houver meios para tal, e se o alvo é

ignorante, ou simplesmente não quer ver.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

20

2. Método de pesquisa

Devido ao tema em questão, no meu método de pesquisa tentei

restringir a minha leitura a livros que considerei credíveis. Sabendo do

imenso ruído que iria obter na Internet, os sites em que baseio a minha

leitura são seleccionados devido à fiabilidade reconhecida da sua

informação. Assim, optei por portais como a Comissão Europeia, a

ONU, UNESCO, o site da iniciativa Ligar Portugal e o site do INE. Nestes

portais obtive informação útil na secção “sociedade da informação”.

Como referi, a minha pesquisa na Internet foi reduzida devido ao ruído

que iria encontrar: pesquisando no Google pela expressão “sociedade da

informação” obtive 2.230.000 para todas as línguas e restringindo a

pesquisa a sites de Portugal, o resultado foi de 1.310.000.

O meu procedimento foi, primeiramente, pensar sobre o tema. Subdividi

o tema em: a educação na sociedade da informação; Distribuição e

acessibilidade da informação; Meios de dispersão da informação;

Informação e a segregação social; Informação para uma cultura global

ou para uma globalidade de culturas; a Internet e as tecnologias da

informação como factor de desenvolvimento económico; o poder da

imagem e os meios de comunicação social, Internet e televisão, como

meios de manipulação e desinformação; a televisão e os meios de

comunicação social como armas do poder, seja ele político, económico,

ou religioso.

Desde logo surgiram dois aspectos que me despertaram interesse e que

acabei por abordar no trabalho. Um dos temas foi “A manipulação da

informação na sociedade da informação”. Por este motivo, recorri a um

amigo licenciado em Ciências da Informação que me recomendou um

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

21

livro relacionado com o tema. O livro indicado foi um livro de José

Manuel Barata-Feyo que tem como titulo “Informação manipulação”,

livro esse que acabou por ser uma das bases do meu trabalho. A

fiabilidade do livro foi comprovada pelo professor da cadeira, o Dr.

Paulo Peixoto. Dediquei-me à leitura deste e obtive esclarecimentos e

informações sobre os dois temas anteriormente referidos. No livro vinha

referenciada a instituição UNESCO e a ONU, pelo que aproveitei e

pesquisei na Internet (no Google), e entrei nos sites oficiais destes, onde

encontrei informação útil e fiável.

Posteriormente à leitura do livro, através da biblioteca on-line da

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, pesquisei sobre o

tema. Utilizei como descritores de pesquisa: Sociedade da informação;

Tecnologia da informação; Internet; Desinformação; Desinformação-

Jornalismo; Informação Manipulação.

Após essa pesquisa, encontrei dois livros que me pareceram adequados

ao trabalho, que se intitulam: “Pequena história da desinformação: Do

cavalo de Tróia à Internet” (Vladimir Volkoff, 2000), e “Sociedade da

informação” (David Lyon, 1992). O primeiro acabou por ser, juntamente

com o livro de José Manuel Barata-Feyo, a base do meu trabalho. A

fiabilidade da informação e a qualidade do livro, também não

mereceram a minha desconfiança, na medida em que, para além deste

estar disponível numa biblioteca universitária, o autor tem obras

anteriores acerca o mesmo tema, parecendo-me que revela um

conhecimento considerável acerca no assunto.

Relativamente a livros julguei não necessitar ler mais, já que obtinha

informação de qualidade e suficiente para abordar os temas

seleccionados. Assim, orientei a minha pesquisa para outro tipo de

fontes e, como possuo várias revistas críticas de Ciências Sociais,

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

22

pesquisei para tentar obter informação útil ao tema, encontrando a

revista nº13, que contém um artigo de João Paulo Moreira, que tem

como título, “Problemas da cultura de massas”. Posteriormente, após a

leitura de alguns jornais, encontrei uma notícia no Público do dia 17 de

Novembro de 2005 acerca de outro ponto que me interessava. A notícia

referia-se à cimeira da ONU em Tunes sobre a sociedade da informação,

e em particular sobre a gerência da Internet.

Com fontes definidas, optei por ir ao site do Instituto Nacional de

Estatísticas (INE) para confirmar um aspecto referido no site da

iniciativa Ligar Portugal.

Com a leitura finalizada e o trabalho em construção, tive a

oportunidade de, por acaso, visualizar um documentário com o título,

“Fallujah- O massacre oculto”. Após ter visualizado o documentário,

considerei que se enquadrava nos temas tratados e utilizei-o como fonte

de informação.

Acabei por utilizar o site da cadeira no qual o trabalho se insere, para

me auxiliar nas citações e referências bibliográficas. (Peixoto, 2005)

Em suma, recorri a um método de pesquisa simples e pouco exaustivo.

Devido à abundância de informação, dediquei-me a fontes de

informação que sabia serem fiáveis e credíveis. Por outro lado, não

considerei relevante proceder a uma pesquisa mais intensa na medida

em que considerei que a informação obtida acabou por satisfazer e

concretizar os objectivos do meu trabalho. Julgo que, apesar de

simples, a pesquisa foi satisfatória, permitindo-me realizar um trabalho,

quanto a mim, interessante.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

23

3. Avaliação de uma página da Internet

O site por mim escolhido para avaliar é da UMIC, agência para a

sociedade do conhecimento, do Ministério da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior, que esta disponível em:

<http://www.umic.pt/UMIC/>

A página foi escolhida devido à qualidade comprovada por vários

factores. A fiabilidade e a credibilidade do site e da sua informação são

incontestáveis, já que se trata de um site oficial de uma agência

governamental, mais concretamente do Ministério da Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior. Outro aspecto que garante a qualidade do

site é a grande variedade da informação disponível. Entre esta, destaco

o programa Ligar Portugal, disponibilizado no site, e que acabou por ser

por mim utilizado como fonte de informação. Neste site são ainda

disponibilizadas várias notícias sobre a sociedade da informação, as

novas tecnologias, e projectos nesta área. Em suma, notícias sobre

diversos campos da sociedade da informação, semanalmente

actualizadas.

A UMIC informa acerca da sua identidade, da legislação neste campo,

entre outros aspectos, e possui uma secção referente à sociedade da

informação. Outro aspecto positivo do site são os links recomendados,

entre eles destaco o site do observatório da sociedade da informação,

onde obtive ligação ao da UMIC, que agora avalio. O site do observatório

da sociedade da informação está disponível em:

< http://www.osic.umic.pt/ >

A credibilidade do site da UMIC não merece, portanto, contestação na

medida em que através do Google foi possível identificar 929 links com

ligação a este site. Há 27 páginas similares a esta e 360 contêm o termo

UMIC. A apresentação do site é boa e atractiva. Um dos aspectos

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

24

negativos foi a dificuldade que tive em regressar à página inicial após

ter entrado num dos campos disponíveis. Por outro lado, para obter

informação mais aprofundada tem se efectuar login.

Em jeito de conclusão, considero que é um site de grande qualidade,

ainda que a escolha do site a avaliar tenha sido difícil, já que há

diversos sites de qualidade que se debruçam sobre este assunto.

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

25

4. Ficha de leitura

O título do capítulo escolhido é “Um caso exemplar”, sendo o seu autor

Vladimir Volkoff. Este autor tem grande experiência e conhecimento

acerca do tema em causa, tendo precedentemente publicado mais obras

sobre o tema em causa. Vladimir Volkoff é francês, de descendência

russa e licenciado em literatura Clássica na Sorbonne. O livro onde se

encontra inserido o capítulo tem como local de edição Lisboa, a editora

é a Editorial Noticias, e a data de edição é Outubro de 2000. O livro

encontra-se disponível na biblioteca da Faculdade de Economia da

Universidade de Coimbra, e tem como cota 316.7 VOL. O capítulo situa-

se da página 197 até à página 221, e a sua leitura reporta-se a 4 de

Janeiro de 2006.

Neste capítulo é relatado um caso perfeito de desinformação e

manipulação da opinião pública. Também as etapas de uma operação

de desinformação são descritas ao pormenor e sempre exemplificadas.

O caso descrito é historicamente marcante e trata da guerra da Bósnia.

A escolha deste caso por parte do autor, deve-se à perfeição da

operação, que contém os traços perfeitos de um trabalho de

desinformação, “(…)onde estão reunidos todos os elementos de uma

operação exemplar” (Vladimir Volkoff, 2000:197). É esclarecida a forma

como os sérvios foram crucificados pela opinião pública, bem como

pelos governos de muitos estados, sendo demonstrados os métodos

utilizados para o efeito, sempre bem exemplificados. É referida pelo

autor a agência Ruder Finn como grande agente desta operação de

manipulação. Destaco uma intervenção de James Harff, director da

Ruder Finn, incluída neste capítulo,

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

26

O nosso trabalho, diz James Harff, consiste em disseminar informação (…) A rapidez é um factor essencial. Mal uma informação seja considerada boa para nós devemos imediatamente instalá-la na opinião pública (…) (2000:199)

É referida ainda a importância que tem a ignorância da opinião pública,

como facilitador da difusão da desinformação em geral e neste caso em

particular. Tal facto está patente na seguinte afirmação: ”Apesar das

fífias, o público aceitava esta sinfonia maniqueísta” (Vladimir Volkoff,

2000: 221).

O autor termina o capítulo referindo as falhas que esta operação de

desinformação teve, porque “Apesar de admiravelmente orquestrada, a

brilhante operação de desinformação Bósnia não deixou de ter várias

fífias” (Vladimir Volkoff, 2000: 219).

Os conceitos-chave utilizados são diversos, sendo os mais sonantes:

Desinformação; Cliente; Dinheiro; Manipulação de massas;

Retransmissor; Tratamento do tema; e, A guerra pela imagem. Dois

autores são referidos neste capítulo por Vladimir Volkoff: Bulatovic e,

com mais ênfase, Jacques Merlino.

O autor reforça a sua opinião recorrendo à descrição de casos verídicos,

servindo-se de exemplos destes para justificar as suas afirmações. A

linguagem utilizada é fortemente emocional, com o objectivo de tocar o

leitor, assim como os casos exemplificados. Dou alguns exemplos

referidos por Vladimir Volkoff,

O terror quotidiano (…) Violações com particular bestialidade (…) Terrível confissão de atrocidades cometidas por um jovem sérvio (…) Uma pedra no coração, uma criança no ventre, (…) (2000: 217).

Fontes de Informação Sociológica Sociedade da Informação

27

Serve-se ainda dos próprios agentes manipuladores para a sua

argumentação, através de algumas afirmações destes. Alia, portanto, na

sua argumentação, uma linguagem que toca a sensibilidade do leitor,

com a exemplificação de casos também eles sensíveis.

Vladimir Volkoff tem como objectivos: demonstrar as etapas de

execução de uma operação de desinformação, assim como os seus

intervenientes; tentar alertar o leitor para o lado negro da informação,

bem como chocar para o sensibilizar na matéria descrita e, por último,

tentar atacar os poderosos, ou quem tem o poder de manipular.

Julgo que todos os objectivos são cumpridos exemplarmente. A forma

como descreve a operação de desinformação é elucidativa, as formas

encontradas para sensibilizar o leitor são adequadas, alertando-o para o

que trata. Por último, é de referir a forma como implícita e

explicitamente ataca o poder que é, quanto a mim, executada na

perfeição.

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28

Conclusão

Concluo o texto com uma breve reflexão acerca do trabalho e

essencialmente do tema. Em relação ao trabalho e execução deste,

devo referir que a minha dificuldade foi em conseguir organizar

algumas ideias retiradas da leitura executada, e em seleccionar a

informação a reter.

Em relação ao tema em si, julgo que após a leitura deste, a reflexão

não deve ser apenas minha. Este trabalho foi realizado no âmbito

da cadeira de Fontes de informação sociológica sendo, portanto,

obrigatório para a avaliação da cadeira. No entanto, muitos temas

poderiam ter sido abordados, mas entre os disponíveis este foi o

que mais interesse e importância me despertou. Considero ainda

que a reflexão acerca do tema deve ser também do leitor, pois a

forma e os temas que tratei foi nesse sentido.

Em suma, a sociedade da informação não é o que nos vendem, não

apenas as novas tecnologias, não é o facto de se poder falar à

distância. A sociedade da informação não é apenas possuir um

computador, ter acesso à Internet, ouvir música de todo o mundo e

partilhar o conhecimento com este. Tudo isto e muito mais é

indiscutivelmente positivo e benéfico. A minha visão sobre este

tema retratada no trabalho não é apenas parte da minha

motivação moral. É, essencialmente, mostrar que a sociedade da

informação não é o mundo das mil maravilhas e que há interesses

em possuir e usufruir dos benefícios, mais do que se devia.

Procurei mostrar que há consequências graves em usufruir destes

benefícios, na medida em que se acentuam desigualdades e se

sofrem manipulações.

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Para terminar, sugiro algumas questões relevantes: valerá a pena

tantas pessoas, tantos grupos sociais, sofrerem as consequências

da sociedade da informação para uma minoria usufruir dos

benefícios desta? Viveremos mesmo na sociedade da informação?

Não será antes da manipulação? Ou talvez na sociedade da

desinformação? Após ter abordado esta temática, considero que

vivemos mais na sociedade da manipulação e da desinformação do

que na sociedade da informação. Espero, com este trabalho, ter

proporcionado uma interessante leitura e realizado uma adequada

abordagem ao tema escolhido.

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Referências Bibliográficas

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Volkoff, Vladimir (2000), Pequena história da desinformação: do cavalo

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Anexos