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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Sandra Costa Saldanha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14- Opinião: D. José Cordeiro16- A semana de... Sónia Neves18- Dossier Semana Cáritas 2014

44 - Internacional50 - Cinema52 - Multimédia54 - Estante56 - Vaticano II58- Agenda60 - Por estes dias62 - Programação Religiosa63 - Minuto YouCat64 - Liturgia66 - Fundação AIS68 - Luso Fonias70- Opinião: Margarida Corsino

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Semana Nacionalda CáritasPortuguesa[ver+]

Papa em defesadostrabalhadores[ver+]

Eleiçõeseuropeias 2014[ver+] Sandra Costa Saldanha | D. JoséCordeiro | Tony Neves | MargaridaCorsino

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Sobre o culto das imagens,uma questão de decoro

Sandra Costa SaldanhaSecretariado Nacionaldos Bens Culturais.

«A beleza e a cor das imagens estimulam aminha oração. É uma festa para os meusolhos, e, tal como o espectáculo do campo,impele o meu coração a dar glória a Deus»

São João Damasceno, De sacris imaginibusoratio.

Quando em 1997 João Paulo II reflectia sobre oculto das imagens - comentando a LumenGentium do II Concílio do Vaticano - o SantoPadre evocava, não apenas a sua utilidade,como a vivência autêntica das devoções, a buscade equilíbrio, entre o exagero e “a demasiadaestreiteza”, em linha com a exortação dodocumento conciliar.E é precisamente na sensatez desta procura,que a actual intervenção nas imagens religiosastarda em ser abordada. Fruto da capacidadeinventiva de cada tempo e dos homens que asmaterializaram, quando por imperativos deconservação carecem de tratamento, colocamem confronto as suas duas dimensões: sagrada,para veneração dos fiéis; material, para fruiçãoestética.Intimamente ligadas, se é conveniente intervir noestritamente necessário, como meio deprevenção e manutenção futura, é também claroque, aos fiéis, deve ser

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devolvida uma imagemíntegra e digna. E nesteponto, para lá dadestruição material que ummau restauro provoca -aquele que manipula enão respeita autenticidadeda obra, promovendoadulterações, repintes ou alteraçõesiconográficas - eleconstitui, antes de umaqualquer opção estéticafalível, um atentado àdimensão sagrada daimagem religiosa.

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“O que está em causa aqui (Crimeia) é a geografia e regras daEuropa. Quem vai ser decisivo nesta questão são os norte-americanos, os alemães e toda a cintura do Mar Báltico ao MarNegro. O cálculo de Vladimir Putin é que esse mundo euro-atlânticonão tem vontade nem capacidade para se unir em torno deste ponto.Se for verdade, então todas as bases da integração europeia estarãopostas em dúvida”, Miguel Monjardino, (jornal Expresso, 16.03.14)

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“Corremos o risco de ter gerações

de crianças e jovens devastadospara sempre pela experiência queviveram”, D. Antoine Audo, bispo deAleppo e responsável da Cáritas daSíria, (Agência Fides, 18.03.14) “Em breve, Portugal tem dedefinir com clareza que linha derumo irá seguir após aconclusão do programa deassistência económica efinanceira. A campanha (para aseleições europeias) deve, pois,decorrer de uma formaesclarecedora, serena eelevada”, Aníbal Cavaco Silva,presidente da Repúblicaportuguesa, (jornal Público,19.03.14) “Um gesto comunitário e também dedesafio, já que lembra a cadaportuguês que todos estamosimplicados na construção de umasociedade mais justa e solidária.Sem o contributo de cada um de nósnão poderá nunca haver umaverdadeira noção do bem comum”,Eugénio Fonseca, presidente daCáritas Portuguesa, (comunicado de20.03.14, sobre o peditório públicoque a instituição vai realizar atédomingo)

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Austeridade tem sido inimiga dasfamíliasOs responsáveis da Diocese dePortalegre-Castelo Brancopromoveram em Abrantes a 5ªAssembleia da Pastoral Social, comalertas para as consequências dasatuais políticas de austeridadesobre a vida das famílias.A iniciativa, com o tema ‘Família,Solidariedade e Estado Social’,incluiu uma intervenção do antigoministro das finanças, AntónioBagão Félix, sobre o tema ‘ACentralidade da Família nasPolíticas Sociais’.O especialista referiu à AgênciaECCLESIA que as famílias são o“barómetro social” da crise, emparticular no que diz respeito àsconsequências do desemprego. “Oprimeiro combate deve ser contra odesemprego, porque a primeira everdadeira segurança social dequalquer pessoa é ter trabalho”,precisou.Segundo Bagão Félix, a crise e aausteridade “têm atingidoseveramente as famílias” por causade uma lógica de “aridez humana” ede “cortes cegos”, que acaba porgerar “fenómenos

acrescidos de falta de equidade”,levando a que Portugal esteja numa“situação insustentável”, face àsituação de desemprego decentenas de milhares de pessoas.Um dos autores do chamado‘Manifesto dos 70’, que defendeuma reestruturação responsável dadívida, entende ser importanteencontrar “denominadores comuns”para criar uma “cultura decompromisso”.Elicídio Bilé, diretor do Secretariadoda Pastoral Social na Diocese dePortalegre-Castelo Branco,destacou por sua vez que oaumento do desemprego na regiãoe as consequências das atuaispolíticas sociais prejudicam“fortemente” as famílias. Oresponsável recorda a situação“terrível” das pessoas que seencontram a viver sozinhas e oprogressivo “definhar” da atividadeeconómica.Neste momento, há cerca de 5 milfamílias apoiadas em permanência,nesta região, por grupos ligados àIgreja Católica.A jornada decorreu durante osábado no auditório

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da escola secundária Dr. ManuelFernandes e começou por abordaro tema ‘Desemprego, combateprioritário na RegiãoTransfronteiriça’.A última conferência do dia intitulou-se ‘O serviço à Família iluminadopela Doutrina Social da Igreja’,seguindo-se a Missa presidida pelobispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias.

“Há famílias que sentem dificuldadese batem constantemente à porta”,disse à Agência ECCLESIA oprelado.O também presidente da ComissãoEpiscopal do Laicado e Famíliaalerta para a necessidade de“formação” e de aprofundar a“solidariedade” na ação da Igreja,neste setor específico.

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Aveiro homenageouD. António Francisco dos SantosD. António Francisco dos Santos,bispo eleito do Porto que vai deixara Diocese de Aveiro, foihomenageado esta quarta-feira porinstituições representativas dacidade aveirense. Numa iniciativaacolhida pela Universidade local, oprelado realçou que vai prosseguiratento e envolvido nos destinosdesta diocese, que continua aprecisar de “congregar esforços,reunir sinergias e unir pessoas paratrabalhar ao serviço do bem e doprogresso” das pessoas.“As dificuldades sociais por quepassam tantas famílias a braçoscom o desemprego, com a solidão,com a doença, com os limitadosrecursos financeiros, com adestruturação e rutura social exigemda Igreja e da sociedade umaatenção maior e uma presença maiseficaz”, alertou.D. António Francisco dos Santos foinomeado bispo do Porto a 21 defevereiro deste ano, pelo PapaFrancisco, e vai assumiroficialmente a sua missão nopróximo dia 6 de abril,

numa celebração marcada para as16h00, na Sé do Porto.Durante a sessão de homenagemno auditório da Universidade deAveiro, o reitor daquela instituição,Manuel Assunção, agradeceu “aamizade, a simplicidade e adisponibilidade” que D. AntónioFrancisco dos Santos sempredemonstrou no decurso da suamissão pastoral na região.Em nome da autarquia de Aveiro, opresidente Ribau Esteves referiu-seao bispo como uma “referência paraos homens que, defendendo causase transformando-as em missão,ajudam os outros a tirarem melhorsabor ao dom da vida”.

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Novo superior da Ordem do Carmoem PortugalO frei Ricardo dos Reis Rainho foieleito superior maior da Ordem doCarmo em Portugal, durante ocapítulo eletivo que decorreu emFátima, escolha que o surpreendeue que aceita com “humildade eentrega ao serviço”. “Recebi aeleição com alguma surpresa masos confrades depositaram estaconfiança em mim e eu com a minhahumildade e simplicidade aceiteiespecialmente nesta perspetiva deserviço à ordem, ao comissariado ea Portugal”, disse hoje à AgênciaECCLESIA o religioso.O novo superior encara comodesafios para estes três anos “aconsolidação da missão da Ordemdo Carmo em Portugal nos dias dehoje, reforçando a presença”. “Háseis comunidades ao todo no país,são poucos os padres dacongregação e há muito trabalho,mas há muita disponibilidade paratodos serem dinamizadores daespiritualidade carmelita emPortugal, junto das pessoas que nasparóquias e noutros sítios secruzam com os carmelitas”, precisa.

Desde terça-feira, a Ordem doCarmo em Portugal esteve reunidana Casa de São Nuno, em Fátimatendo o encontro como tema ‘Dá-mede beber: a missão e a identidadedo Carmelo no mundo de hoje’.“No mundo atual as pessoas vivemalheadas da realidade espiritual eas dimensões da oração, da vidacontemplativa e destaespiritualidade carmelita sãotestemunhos importantes quepodemos transmitir”, afirma freiRicardo dos Reis Rainho.Presente durante estes dias esteveo prior geral da Ordem do Carmo,frei Fernando Millan Romeral quefalou à Agência ECCLESIA da“importância histórica da Ordem doCarmo em Portugal para acongregação a nível internacional”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Último adeus a D. José Policarpo

D. José Policarpo (1936-2014)

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A voz do silêncio

D. José Manuel CordeiroBispo de Bragança-Miranda

José de Nazaré é cantado na liturgia da Igrejacomo o «patriarca do silêncio e do trabalho» e,ainda, «servo fiel, humilde e silencioso». S. Joséé homem justo e prudente, qual facilitador davida em Cristo.De facto, a liturgia, ao celebrar os mistérios davida do Salvador, sobretudo os do nascimento eda infância, comemora frequentemente a figura eo papel de São José: no tempo do Advento; notempo de Natal, em particular na festa daSagrada Família; na solenidade do dia 19 deMarço; na memória do 1º de Maio.O nome de São José ocorre na OraçãoEucarística I do Missal Romano e na Ladainhados Santos. Desde o dia 1 de maio de 2013, onome de S. José foi também incluído nasOrações Eucarísticas II, III e IV do MissalRomano. O decreto da Congregação para oCulto Divino e a disciplina dos sacramentosapresentou esta decisão: «Pelo seu lugarsingular na economia da salvação como pai deJesus, São José de Nazaré, colocado à frente daFamília do Senhor, contribuiu generosamente àmissão recebida na graça e, aderindoplenamente ao início dos mistérios da salvaçãohumana, tornou-se modelo exemplar degenerosa humildade, que os cristãos têm emgrande estima, testemunhando aquela virtudecomum, humana e simples, sempre necessáriapara que os homens sejam bons e fiéisseguidores de Cristo. Deste modo, este Justo,que amorosamente cuidou da Mãe de Deus e sededicou com alegre empenho

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na educação de Jesus Cristo,tornou-se guarda dos preciosostesouros de Deus Pai e foiincansavelmente venerado atravésdos séculos pelo povo de Deuscomo protector do corpo místicoque é a Igreja. Na Igreja Católica osfiéis, de modo ininterrupto,manifestarem sempre uma especialdevoção a São José honrandosolenemente a memória docastíssimo Esposo da Mãe de Deuscomo Patrono celeste de toda aIgreja; de tal modo que o BeatoJoão XXIII, durante o ConcílioEcuménico Vaticano II, decretouque no antiquíssimo CânoneRomano fosse acrescentado o seunome. O Sumo Pontífice Bento XVIacolheu e quis aprovar tal iniciativamanifestando-o várias vezes, e queagora o Sumo Pontífice Franciscoconfirmou, considerando a plenacomunhão dos Santos que, tendosido peregrinos connosco nestemundo, nos conduzem a Cristo enos unem a Ele».Também oMartirológio Romano faz o elogio deS. José, nestes termos: «homemjusto, da descendência de David,que exerceu a missão de pai doFilho de Deus, Jesus Cristo, o qualquis ser chamado filho de José elhe foi submisso como um filho aseu pai. A Igreja venera comespecial honra como seu patronoaquele que o Senhor constituiuchefe da sua família».

A personalidade de José é bemapresentada pelo evangelistaMateus, que depois de narrar amaior revelação que aconteceuenquanto dormia, que diz: «quandodespertou do sono, José fez comolhe ordenara o Anjo do Senhor» (Mt1, 24). A fé de José não é uma vagasedução do Mistério, mas éseguimento silencioso do próprioMistério. José compreendeu bemque a sua vida servia para servirDeus.Com José, aprendemos que overdadeiro louvor em Deus sóacontece bem com a as palavas dosilêncio, porque o enorme desafio émesmo escutar a voz do Silêncio eacolher o seu brilho com a flor daamendoeira.

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“Acha que não tenho fome?Compre-me um iogurte!”

Sónia NevesAgência ECCLESIA

Começo a escrever estas linhas no dia do Pai,dedicado a S. José e a todos os pais. Nestasociedade que esquece a família tão facilmente eonde a diminuta taxa de natalidade preocupa osgovernantes, dias como este trazem à tona ovalor e o significado de ser pai.A televisão ligada num canal de informaçãodebita sons e imagens num serão profundo. Paroe olho com atenção. Fala-se de ser pai, da atualjuventude e do desemprego.As ideias ficaram a saltitar na minha memória…para sermos bons pais temos de “abrirhorizontes” aos nossos filhos. A juventude dehoje precisa de sair do quarto e estar emcontacto com a natureza, precisa de fazerviagens e ter contacto com outras realidades,terem pequenos trabalhos bem cedo para aguçara responsabilidade e o gosto por fazer algo. Eraum professor universitário que falava e analisavaa juventude que, até aos 30 anos, aindarecebe mesada. Ele defendia que os jovens têmde estar preparados para “dar a volta”, teremcriatividade e romperem com a dependênciadesafiando com novas ideias, novos empregos emodos de viver.Recordei um episódio desta semana à porta deum supermercado citadino. Um homemenvelhecido, na casa dos 50 anos, rostoenrugado e de mão estendida pedia

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uma moeda a quem entrava.Possivelmente um desempregado.Na agitação do momento nem ligueie ele gritou: “acha que não tenhofome? Para que quero o dinheiro?”O grito fez-me abrandar e olhei. Derosto cabisbaixo, e murmurando,disse: “compre-me um iogurte… debeber, que são baratos!”Este é o país duro e real que passafome… “Unidos no Amor, juntoscontra a fome” é o lema da semanaCáritas que agora decorre. É a estainstituição, espalhada pelo país, quemuitos, novos e velhos que passamfome, estão desempregados ou comdificuldades financeiras,

envergonhadamente batem à porta.Lá são acolhidos, ouvidos,direcionados e ajudados! Ali hápessoas disponíveis para dar a mãoe encaminhar, mas isso só se tornapossível com a colaboração detodos no peditório nacional quedecorre até este domingo.Este tempo de quaresma tambémtraz consigo o convite a olhar ooutro “que se fez pobre no meio denós”... E como alguém me dizia háuns dias, que queiramos “saltar dosofá e descalçar as nossas pantufasespirituais”… Acredito que só assim,na chegada à Páscoa, a Alegria fazsentido e a Vida de cada dia sairenovada.

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Unidos no amor, juntos contra afome1. A salvaguarda dos direitos dosfamintos e dos pobres é transversala toda a Bíblia. Já no AntigoTestamento, Deus tomadecididamente o partido dos pobres.Por isso, dão-se regras sobre ascolheitas e as vindimas para quetambém os pobres e os estrangeirospossam colher algo (cf Lv 19, 9 ss).E aos reis impõe-se a função derepresentar Deus, Pai dos pobres:“Ele libertará o pobre que suplica, omiserável que não tem outrosapoios; cuidará do débil e do pobre;aos pobres salvará a vida” (1 Sam2, 7-8). Com o progresso darevelação, acentua-se esta certeza:que o pobre é um predileto deDeus. Por isso, o salmista podecantar: “O pobre clamou e o Senhoro ouviu. Libertou-o de todas as suasangústias” (Sl 72, 12-13). 2. O Novo Testamento abreprecisamente com o Magnificat (Lc1, 46-56) que recupera a teologiado Antigo e opta, sem reservas, pelasalvação dos pobres: “derrubou ospoderosos de seus tronos e exaltouos humildes; aos famintos encheude bens e aos ricos despediu demãos vazias”

(vers. 52-53). É a grande afirmaçãoda justiça de Deus que socorre ospobres e faz deles objeto de eleição.Tal como Jesus de Nazaré. Por isso,aos discípulos do Baptista que Ointerrogam se é Ele o cumprimentodas promessas do Pai, apresenta aação em favor dos pobres e dossofredores como a grande prova doSeu ser de Messias: “Ide contar aJoão o que vedes e ouvis: os cegosveem, os coxos andam, os leprosossão limpos, os surdos ouvem, osmortos ressuscitam e a Boa-Nova éanunciada aos pobres” (Mt 11, 4-5).Jesus mostra a natureza dasalvação que vem anunciar erealizar: não se trata de uma meradoutrina, mas de gestos decompromisso efetivo para com quemse encontra em situaçãodegradante. Consequentemente,quem também os não fizer não podetomar parte no Reino de Deus. É ocaso dos que veem “um dos irmãosmais pequeninos” com fome, sede,peregrino, nu, doente, preso e nãoprestam assistência (cf Mt 25, 31-46). É que Deus «comove-se» comos pobres, os aflitos, os quechoram, os que sofrem. A ponto deos declarar

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“bem-aventurados porque deles é oReino dos Céus” (Mt 5, 3). 3. A Igreja primitiva compreendeuisto muito bem. Por isso, desde oprincípio, dedicou-lhes muito do

seu melhor. Recordemos apenastrês dados: a instituição dodiaconado para o serviço dos maispobres dos pobres (cf Act 6, 1-6); apartilha de bens para que entre elesnão houvesse necessitados

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(cf Act 4, 32-37) e a coleta oupeditório para os cristãosde Jerusalém, quando adveio afome (2Cor 8,1-9,15). É que oscrentes sabiam bem que ignorar ospobres seria fazer o mesmo que orico avarento perante Lázaro (cf Lc16, 19-31): porque infiel ao projetode Deus para o mundo, o rico nãopoderia receber outra coisa que nãofosse a exclusão do Seu Reino. MasLázaro – literalmente, “Deus ajuda”-pode ter a certeza de que mesmoque todos falhem, Deus está porperto como sua salvação. 4. Então, se a afirmação dos«direitos dos pobres» é central narevelação bíblica, os cristãos nãopodem deixar de reconhecer essesdireitos como instância crítica para asua fé e como uma obrigaçãourgente de atuação. O futuro novo,que só o Reino de Deus realizaráem plenitude, reclama que essesdireitos dos pobres sejamassumidos como prioridade. Aindaque isso suponha alguma reduçãodos nossos direitos burgueses, já ,

que não são da mesma ordem deurgência, por exemplo o meu direitoao automóvel «topo de gama» ou omedicamento para a aterosclerosemúltipla que o meu vizinho não podecomprar por insuficiênciaeconómica. Neste caso, por maisque isso me custe a entender, omeu vizinho tem «direito» a que eulhe pague o medicamento. Mesmoque, por causa disso, eu não possacomprar o tal carro. 5. A «Semana da Caritas» pretendeatingir estes objetivos. Em primeirolugar, aspira a «espicaçar» asconsciências, lembrar-nos que acaridade cristã é consequênciainseparável da fé e formar para apartilha e para a solidariedade.Depois, e como resposta, procuraque os cristãos vão mesmo «para oterreno», para as «periferias daexistência», como diria o PapaFrancisco, e realizem obrasconcretas, fruto de um amorgeneroso e gratuito, à imagem do

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de Deus. Para isso, precisa-se docontributo de todos, seja oeconómico, seja a atuação real. Atéporque passa por aí a verdadeiracondição cristã. Pensemos no quenos diz o Papa Francisco nofortíssimo nº 207 da sua celebradaExortação Apostólica “A alegriado Evangelho”: “Qualquercomunidade da Igreja, na medidaem que pretender subsistir

tranquila sem se ocupar criativamente nem cooperar de forma eficazpara que os pobres vivam comdignidade e haja a inclusão detodos, correrá o risco da suadissolução, mesmo que fale detemas sociais ou critique osGovernos. Facilmente acabarásubmersa pelo mundanismoespiritual, dissimulado em práticasreligiosas, reuniões infecundas oudiscursos vazios”.

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6. Este ano, no Portugal da criseeconómica refletida sobretudo nosmais vulneráveis, propõe-se uma«ocupação com os pobres»precisamente na dimensão maisbásica de existência humana: noâmbito da alimentação. Sim, se elafaltar, falta tudo o mais. E falta,fundamentalmente, a dignidadehumana. O que devia constituir umaenorme vergonha para este nossomundo sofisticado e desenvolvido,com capacidade de produção dealimentos como nunca existiu, masque faz do seu desperdício edestruição uma técnica paracontrolo dos preços. Mesmo quemuitos padeçam e morram de fome.Vergonha! É esta a melhorexpressão de um mundo «velho»assente nos piores instintos daavidez e da insolidariedade. 7. O cuidar do pobre,particularmente do esfomeado quenão pode esperar, é um dosprincipais distintivos da atuação daIgreja e chave da vida cristã. Comfrequência, está ligada aos seusmelhores filhos, os

santos, que se dedicaram a estatarefa e criaram organizações paraa desenvolver. Por isso, o cuidadodos pobres exprime-se na maiordiversidade de carismas de que hámemória. E mais: quase sempreantecipa e promove épocas derenascimento religioso, após algum«inverno da fé». Porque obrigam aIgreja a recentrar-se na sua verdadeoriginária: “Cristo, sendo rico, fez-Sepobre para nos enriquecer com aSua pobreza” (2 Cor 8, 9).A exemplo de Cristo, vamos,também nós, enriquecer os pobrescom a nossa pobreza? Que ninguémfalte à chamada.

D. Manuel LindaMembro da Comissão Episcopal da

Pastoral Social e MobilidadeHumana

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Ajudar e crescer no peditório daCáritasChegam após o jantar a casa dochefe da III seção Luís Pessoa para,em roda, sentados no chão, osanimadores dos pioneiros doagrupamento 1354 de São Julião daBarra, em Oeiras, organizarem aspróximas atividades e tarefas. Nessanoite a recolha de donativos para opeditório nacional da Cáritas tomaconta do ambiente.O contacto já é habitual. A senhoraque faz a ponte entre a instituiçãode ação social da Igreja Católica e aparóquia sabe que em São Julião daBarra os escuteiros disponibilizam-se para ajudar – a questão é comquantas latas.“Quando fui contacto disse logo quepodíamos receber cinco latas.Depois logo se arranja adisponibilidade das pessoas”,explica o chefe Luís Pessoaenfatizando a necessidade departicipação, seguindo um doslemas do fundador do CorpoNacional de Escutas (CNE), BadenPowell: «a melhor maneira de serfeliz é contribuir para a felicidadedos outros».“Se por um lado estamos a ajudaruma instituição, estamos também aformar, pedagogicamente,

os jovens através destasatividades, porque participandoconseguem perceber a importânciade dar mais de si aos outros”.O futuro gestor António, de 16 anos,repetente nesta iniciativa, recorda amelhor técnica para conseguir maisdonativos.“Lembro-me de ter perguntado aosadultos se queriam contribuir.Quando eles não respondiam euperguntava aos filhos se queriamum autocolante, como técnica paraconseguir que os paiscontribuíssem”. Gargalhada geralentre jovens que se divertem aomesmo tempo que aprendem.“Não precisamos de estar com a lataao pescoço com cara de enterro. Édivertido, sorrimos, e recebemos devolta sorrisos. Há pessoas que nosdão dinheiro e sorrisos e ficamosmesmo felizes”, conta a futuraeconomista de 17 anos, CatarinaSerralheiro.Aos pares, em competição e entregargalhadas, os voluntários sãopostos à prova quandoquestionados sobre a instituição queprocede à recolha de donativos.

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“Várias pessoas me perguntaram oque era a Cáritas e eu tivedificuldade em responder, porquenão estava muito informado. Masdesenrasquei-me”. A par do António,também o Diogo, de 15 anos,recorda algum desconhecimentosobre a Cáritas Portuguesa, quandoparticipou no peditório na suaescola em Manique. Mas o futurodesigner gráfico, de 17 anos, JoséMiguel, lembra-se de na catequesee no voluntariado na escola, falarmuito da instituição que “ajuda naalimentação de pessoas maiscarenciadas”.Também para a Catarina, a Cáritasé conhecida e isso nota-se noresultado do peditório.

“As pessoas sentem-memais confiantes em dar dinheiro, emcomparação com outros peditóriosem que participei”.«Unidos no amor, juntos contra afome» é o mote que este ano aCáritas Portuguesa lança e querlevar a todos. O peditório nacionalda Cáritas começa esta quinta-feirae, até domingo, à entrada dosestabelecimentos comerciais ou narua, vai poder pode encontrar osvoluntários com uma latinha ao peitopara recolher donativos. Em troca,recebe um autocolante e a certezade que o contributo vai ajudar afazer a diferença.

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Semana Nacional Cáritas:um alerta contra a fomeA fome é a manifestação maisbásica da pobreza e da violação deum direito humano essencial já queele diz respeito não apenas aodireito à alimentação, mas tambémao direito a uma vida digna. Odireito à alimentação é uma questãode justiça e, por isso, a Cáritas revê-se nas palavras do Papa EméritoBento XVI, no seu discurso na FAO,durante a Cimeira Mundial sobreSegurança Alimentar – “a fome é osinal mais cruel e concreto dapobreza”.Sabemos que, em números gerais,mil milhões de pessoas em todo omundo passa fome. Estamos a falarde uma em cada sete pessoas. Onúmero é ainda maior se pensarmosem todos os que sofrem de formaescondida os efeitos da pobreza.A Organização Mundial de Saúdeestima que cerca de 60 por centode todas as mortes de crianças nospaíses em desenvolvimento estãoassociados a situações de fomecrónica e má nutrição. Emboraalguns fatores indiquem que este éum número que

está a diminuir a verdade é que apopulação mundial está aumentar ea tornar-se mais urbana e isto trazimplicações na capacidade desustentabilidade também ao nívelalimentar. Este é, aliás, um dosmaiores desafios no que diz respeitoà segurança alimentar. Bastapensarmos que o aumento depopulação exige um aumento dosrecursos naturais e que o factodesta população se estar a tornarmas urbana levará também aalterações na dieta alimentar dapopulação. Continuando neste ritmode crescimento espera-se que atéao ano de 2050 a necessidademundial de alimentos tenha umaumento de 60 por cento (FAO2012).Neste processo qual tem sido opapel da Cáritas? Por um lado umtrabalho de influência públicaparticularmente junto das estruturasdas Nações Unidas e da UniãoEuropeia tendo em conta o quadrode desenvolvimento pós-2015. Arede internacional da Cáritas temchamado a atenção para anecessidade de se definir uma metaglobal que permita

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o acesso universal à alimentaçãobem como a meios de produçãosustentáveis e equitativos. Poroutro, tem desenvolvido projetosque permitam o acesso àalimentação de crianças e famíliasbem como a assistência alimentarem situações de emergência ecalamidade. Também a nívelnacional e local se desenvolvemesforços para que o direito àalimentação seja uma realidadeaplicada na vida quotidiana daspopulações.Acreditamos na possibilidade daerradicação da fome até ao ano de2025. Este é para nós, Cáritas, umrequisito básico para que todos osseres humanos

tenham a possibilidade de viver emdignidade. Por isso, incentivamos asNações Unidas, a União Europeia etodos os países a adotar estemesmo objetivo no chamado quadrode desenvolvimento pós-2015 comvista a incorporar o direito a umaalimentação adequada e nutritivapara todos e em particular para aspessoas mais necessitadas.Naturalmente que para isto énecessária uma abordagemintegrada e sustentável. Énecessário que se olhe novamentepara o desenvolvimento rural,facilitando o acesso aos mercadosprincipalmente

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no que aos produtores domésticosdiz respeito. Apoiar a produção dospequenos agricultores, em particularquando estas são mulheres.Ao nível mundial, é necessário criarcondições para diminuir ainstabilidade dos preços dosalimentos e isto poderá ser feitoatravés de uma monitorização

que impeça a sua especulação.A campanha internacional daCáritas “uma só família humana,alimento para todos” surgeprecisamente com o objetivo de seruma campanha global comdiferentes alvos (nacionais einternacionais) para garantir umtrabalho coordenado de influenciapública.

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Até ao ano de 2015 muitas dasiniciativas da Cáritas em Portugal eno mundo estarão associadas aesta campanha global que sepropõem consciencializar o públicoem geral sobre o direito àalimentação; influenciar osdecisores políticos para a

necessidade de reduzir o número depessoas sem acesso a umaalimentação suficiente e dequalidade; aumentar asoportunidades das pessoascarenciadas terem um papel ativono desenho do próprio futuro.

Márcia Carvalho,Cáritas Portuguesa

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InSpira - rede de competênciasCáritasEm Dezembro passado, a CáritasPortuguesa lançou a plataformatecnológica IN SPIRA(www.redeinspira.com/) com oobjectivo de ser um instrumento deaproximação entre pessoasdesempregadas com mais de 45anos que procuram trabalho eempregadores que procuram ascompetências, os saberes e aexperiência destas pessoas.A construção da necessáriaferramenta tecnológica foi feita poruma equipa de investigadores daUniversidade do Porto, seleccionadanum concurso lançado àcomunidade de investigação queintegra o portal Inocrowd.Trata-se de um instrumentofacilitador, ágil e económico paradivulgar as ofertas de trabalho eencontrar os perfis adequados àsnecessidades de desenvolvimentode empresas e organizações, numuniverso que actualmenteultrapassa as duas mil pessoasinscritas.Com esta iniciativa a Cáritasprocura contribuir para a construçãode respostas aos múltiplos desafiosque a sociedade portuguesa

enfrenta, nomeadamente nocombate ao desemprego dos maisvelhos mas também na introduçãode uma visão estratégica dedesenvolvimento que face àsprofundas alterações demográficasexige abordagens inovadoras porparte das empresas e dos governosna obtenção do total benefício destevalioso recurso humano.Na Europa, nomeadamente, naEscandinávia, Reino Unido eAlemanha, ou na Austrália, têmvindo a ser desenvolvidas políticasintegradas dirigidas à populaçãoactiva, mais velha, procurandoencorajar os trabalhadores maisexperientes a continuarem activos ea partilharem os seus saberes ecompetências com os mais jovens.Estudos internacionais apontamdiversas vantagens em dar trabalhoa profissionais mais experientes,sendo de destacar as projecçõesaustralianas que referem,nomeadamente, que o aumento dasua participação em 5%, nospróximos 40 anos, conduzirá a umaumento do PIB per capita de 2,4%Os trabalhadores

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mais velhos desenvolveram aolongo da sua experiência detrabalho conhecimento,capacidades e competências, quenão se podem perder. De destacaralguns factores que os referidosestudos têm vindo a destacar: maiscompetência, mais experiência,maior produtividade; maisexperiência e a transferência deconhecimentos, fundamentais querpara o treino de outros quer para oreforço do espirito de

grupo; mais fiabilidade; maismaturidade e mais estabilidade.A InSpira – rede de competênciasCáritas pretende-se assim estimularas empresas, a comunidade e ogoverno a valorizar o papel dostrabalhadores mais velhos nosdesafios que se colocam a Portugal.

Maria do Rosário Carneiro

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Observatório Social Da igrejaO Observatório Social da Igreja éum projeto promovido pelaConferência Episcopal Portuguesacom o objectivo geral de contribuirpara melhorar a resposta daIgreja Católica aos problemassociais em Portugal através dodesenvolvimento do conhecimentoe da reflexão sobre essesproblemas sociais e sobre comoessa resposta está a ser dada porparte das organizações ligadas àIgreja.No que se refere aodesenvolvimento do conhecimentonesta área, o Observatório está acomeçar pela constituição de umabase de dados sobre asorganizações de ação social ligadasà Igreja com (Centros SociaisParoquiais, Misericórdias, etc.), ousem personalidade jurídica(Conferências Vicentinas, grupossocio-caritativos, etc.). Esta basede dados será de acesso público,através da plataforma Web doObservatório que está empreparação. Esta plataformaincluirá funcionalidades quepermitirão a melhoria e aatualização permanentes destesdados, de uma formacolaborativa,

recorrendo à participação de quemconhece essas organizações.Inicialmente esta base de dadosterá só informação de identificaçãobásica sobre cada organização, asaber: a sua identificação,endereço, atividade principal,natureza jurídica, n.º de telefone ede fax, endereço de email eendereço na internet.Posteriormente, espera-se poderdesenvolver esta base de dados nosentido de poder incluir mais dadossobre essas organizaçõesnomeadamente sobre os seusrecursos (pessoas remuneradas evoluntárias ao seu serviço,equipamentos), volume de serviçosprestados e situação económica.Outra forma através da qual esteprojeto está a procurar contribuirpara desenvolver o conhecimentosobre as respostas aos problemassociais por parte das organizaçõesligadas à Igreja é disponibilizandona sua plataforma informáticafuncionalidades quepermitam facilitar as tarefas dereporte e de tratamento deinformação sobre essas

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respostas que atualmente já sãorealizadas por organizações comrelevo nesta área. Nesta fase dedesenvolvimento do projeto istoestá a ser feito com a Sociedade

de S. Vicente de Paulo no que serefere aos quadrosestatísticos que devem serproduzidos anualmente pelasConferência Vicentinas,

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equipando a plataforma doObservatório com umafuncionalidade que permitirá opreenchimento e o envio dessesquadros por via eletrónica. Um trabalho do mesmo género estáa ser iniciado com o Núcleo deObservação Social da Cáritas aque se seguirá outro com asMisericórdias.Esta articulação do Observatóriocom os sistemas de informaçãopróprios destas organizações degrande relevância na ação socialda Igreja já permitirá a recolha dealguma informação sobre anatureza social dos problemassociais nas várias zonas do país.Para desenvolver mais estavertente do Observatório,ele iráincluir diversas formas de inquirircom regularidade observadoresprivilegiados desses problemas ede reportar as suas respostas, bemcomo notícias dasdioceses e estudos que possamvir a ser promovidos neste domínio.Como já se disse, para tudo isto oObservatório precisa do suporte deuma plataforma Web que está empreparação, mas não basta. Há,também, uma componente muitoimportante deste projeto que éde natureza organizativa e

comportamental e que está a sercuidada. O Observatório deve serum instrumento que ajude as váriasorganizações de ação social ligadasà Igreja a cooperarem mais emelhor entre si e com outrasentidades, conhecendo-se melhora si próprias e conhecendo melhoros problemas sociais a que devemdar resposta. Deve ser, também, uminstrumento que ajude os católicos eos cidadãos em geral a conheceremmelhor essas organizações e essesproblemas e, com isso,a colaborarem mais e melhor comessas e com outras organizaçõesque trabalham nesta área. Nesta fase do projeto está atrabalhar nele uma equipa daUniversidade Católica com aincumbência de preparar aplataforma Web, a base de dados eas funcionalidades atrás referidas.O produto deste trabalho seráproposto à consideração daConferência Episcopal, daSociedade de S. Vicente de Paulo,da Cáritas Portuguesa, da Uniãodas Misericórdias Portuguesas edas entidades interlocutoras paraeste projeto definidas em cada umadas dioceses que

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já se disponibilizaram para seremdioceses piloto neste projeto. Serácom as sugestões de melhoriadestas entidades e doutras que aConferência Episcopal entenderconvocar para este processo que,depois, se chegará à versão dearranque

do Observatório a disponibilizar emtermos públicos, versão essa queserá desenvolvida em etapasfuturas, de forma participativa.

Américo M. S. Carvalho MendesCoordenador da Área Transversalde Economia Social, Universidade

Católica Portuguesa (Porto)

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EU SOU CÁRITAS

Andrea SoaresPsicóloga clínica no Lar daBafureira, Cáritas Diocesana deLisboa

“Se eu falar a língua dos homens edos anjos e não tiver caridade,tenho-me tornado como o bronzeque soa, ou como címbalo queretine. Se eu tiver o dom daprofecia, e souber todos osmistérios e toda a ciência; se tivertoda a fé a ponto de removermontes, e não tiver caridade, nadasou. Mas agora permaneçam estastrês: a fé, a esperança, a caridade;porém a maior destas é a caridade(I Coríntio, Cap.13).A pobreza não tem só a ver com osaspetos económicos e financeiros,também afeta o bem-estar físicopsicológico, a atitude social, aautoconfiança, a ideia dereconhecimento social, acapacidade de reivindicar direitos edignidade, e por último, mas nãomenos importante, a esperança.Coletivamente e individualmente SerCáritas é viver a sua missão, étrabalhar para construir um mundomelhor, especialmente para osoprimidos. Existe uma

premissa que fundamentaa diferença de ser Cáritas na suaverdadeira essência: “Dê um peixe aum homem faminto e o alimentarápor um dia. Ensine-o a pescar e elese alimentará pelo resto da vida”. Oque é melhor, dar o peixe ou ensinara pescar? Embora a respostapareça óbvia, não devemos ser tãoapressados a responder, pois não étão óbvio quanto parece. A melhorforma de responder talvez seja“depende”, ou mesmo “as duascoisas”. Não existem respostasrápidas, fáceis ou únicas para umproblema tão complexo como o dadesigualdade social e daerradicação da miséria. Contudo,ser Cáritas é dar o peixe numaresposta rápida e eficiente em curtoprazo e de seguida ensinar apescar, pois no processo daaprendizagem, as pessoas vãoaprimorando as suas capacidades,o que lhes permitirá, gradualmenteencontrar o seu próprio caminho.”

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EU SOU CÁRITAS

Patrícia Maria Sardinha RochaAssistente Social na Cáritas Diocesana do Funchal

Faço parte da Família Cáritas desde2010. Hoje sou colaboradora naInstituição, mas comecei comovoluntária na Cáritas Diocesana doFunchal.Fui uma das voluntárias, aquandodo temporal de 20 de Fevereiro de2010, uma data que permanece namemória e foi através destaexperiência de voluntariado, quedescobri o verdadeiro sentido dapalavra "Solidariedade".Encontrei uma equipa dedicada eincansável que fez e faz tudo paraapoiar as famílias que a nósrecorrem. Não é fácil! Mas, atravésdo Amor ao próximo, tudo seconsegue. Por tudo isto, é commuito orgulho que faço parte destafamília e uma vez Cáritas, Cáritaspara Sempre!

mais informação em: https://www.facebook.com/caritasportuguesa

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Peditório nacional:pedir apoio para ajudar quemprecisaA Cáritas Portuguesa promove apartir de hoje o seu peditório públiconacional, em diversas cidades eestabelecimentos comerciais, com acolaboração de milhares devoluntários na recolha de donativospara projetos sociais das váriasdioceses.“Sem o contributo de cada um denós não poderá nunca haver umaverdadeira noção de bem comum”,explica em comunicado enviado àAgência ECCLESIA EugénioFonseca, presidente da CáritasPortuguesa, para quem cadadonativo é “um gesto comunitário etambém de desafio, já que lembra acada português que todos estãoimplicados na construção de umasociedade mais justa e solidária”.A organização sociocaritativacatólica ajudou mais de 139 milpessoas em 52 967 agregadosfamiliares, no último ano,procurando responder a problemasligados, sobretudo, ao“desemprego, baixos rendimentos,habitação e alimentação”.

O peditório público, que em 2013recolheu mais de 296 mil eurosapesar de “todas as dificuldadeseconómicas consequência dasdiferentes medidas de austeridade”,é umas das iniciativas da SemanaNacional da Cáritas, a decorrer atédomingo, com o tema ‘Unidos noamor, Juntos contra a fome’.“Em Portugal, a Cáritas mantém-sefirme no apoio à população,preferencialmente a maiscarenciada, e irá dar continuidadeao trabalho que tem vindo adesenvolver, propondo caminhos dereconstrução para aqueles cujasvidas foram marcadas pela crise queestá a deixar marcas indeléveis nanossa sociedade”, sublinha aorganização católica.Os fundos recolhidos no peditóriorevertem a favor das 20 CáritasDiocesanas do país, precisa aorganização.Este ano, o tema desta Semanaestá integrada na campanhainternacional de luta

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contra a fome - ‘Uma só famíliahumana, alimento para todos’ -,promovida pela ‘CaritasInternationalis’, que tem por objetivoo combate à

fome e ao desperdício alimentar,alertando para “o respeitoinalienável pelo direito àalimentação”.

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Mais ajuda na Diocese de Leiria-FátimaO presidente da Cáritas de Leiria-Fátima, Júlio Martins, revelou quena diocese houve “um aumento de41 por cento dos pedidos de ajuda”,em 2013, face ao ano de 2012, “umnúmero de facto bastante grande”.“Apoiamos mais de mil pessoas querepetem os pedidos, ou seja,dirigem-se frequentemente até nóspara pedir auxílio”, disse à AgênciaECCLESIA.No caso da região da Diocese deLeiria-Fátima, a principalpreocupação da Cáritas é odesemprego. “O grande problemade facto são as situações criadaspela falta de emprego, as pessoasque deixaram de receber subsídiode desemprego, em que orendimento de reinserção muitasvezes não chega para fazer face àsdespesas”, adianta Júlio Martins.Para ajudar as pessoas em buscade alternativas de emprego, aCáritas de Leiria-Fátima tem emfuncionamento na região umconjunto de grupos de interajudasocial (GIAS). Este projeto, criadopela Cáritas Portuguesa, tem âmbitonacional e pretende funcionar comouma rede de

partilha de soluções, ao mesmotempo que pretende reforçar aenergia, a confiança e a esperançados participantes.Para apoiar as famílias maisdesfavorecidas, quer em termosmateriais quer económicos outécnicos, a Cáritas de Leiria-Fátimatem à disposição um serviço deatendimento, aberto três vezes porsemana e uma loja solidária, queproporciona roupa, alimentos emobiliário, entre outras ajudas.O responsável apela àgenerosidade das pessoas, noâmbito da participação no peditóriopúblico nacional, dado que estão emcausa fundos essenciais para asdiversas Cáritas diocesanaspoderem “continuar a ser resposta”para os problemas das pessoasmais carenciadas, muitas delas emsituação “de quase desespero”, àprocura de “uma luz ao fundo dotúnel”.As verbas recolhidas no peditórionacional são depois “recolhidas porcada Cáritas Diocesana que depoisas distribui consoante asnecessidades sentidas na suadiocese”, sendo que na

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de Leiria-Fátima por exemplo“dirige-se ao Fundo de CarênciaSocial, servindo para dar respostaaos pedidos que todos os diasaparecem para pagar receitas defarmácia, rendas de casa e faturasda luz ou água”, conta Júlio Martins.

“É de salutar a ajuda da sociedadecivil, que mostram muitasensibilidade para com os maispobres o que é muito gratificantepara a Cáritas”, conclui.

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Unir esforços para promoversolidariedadeA Cáritas arquidiocesana de Bragarecebeu em 2013 cerca de 2348pedidos de ajuda, só no seuatendimento social, o quecorrespondeu a uma média de “60famílias apoiadas por semana”. Ementrevista à Agência ECCLESIA, EvaFerreira adianta que “a maior partedas situações sinalizadas” na regiãominhota dizem respeito a questõesde “desemprego e problemáticasassociadas”, como o “sobre-endividamento”, onde “não é fácilintervir”.Grande parte dos pedidos de apoioimplicam “um esforço financeirogrande”, sublinha a vice-presidenteda Cáritas de Braga, pelo que acooperação com outras instituiçõese o apoio das verbas do fundosocial arquidiocesano tem sidoessencial.Neste âmbito, a Semana NacionalCáritas e o peditório público sãoencarados como uma mais-valiapara abrir novas parcerias ecanalizar mais recursos paraprojetos de apoio aos maisdesfavorecidos. Eva Ferreiradestaca a importância da recolha dedonativos, que será feita emdiversas cidades e centros

comerciais do país, para “darcontinuidade” ao trabalho dasinstituições sociocaritativas.A nível do território bracarense, aolongo destes dias, a organizaçãocatólica vai realizar várias ações dedinamização junto dos arciprestadose paróquias, envolvendo sobretudogrupos de jovens e da catequese.Estão também preparadas algumascampanhas de recolha de “bensalimentares, uma grandenecessidade na região”, emconjunto com empresas e escolasda arquidiocese.Um projeto que está a ser decisivo,para o reforço das competênciasdos agentes sociocaritativos locais epara a cooperação das diversasinstituições solidárias da região, é oprograma “Mais próximo”, lançadopela Cáritas a nível nacional.De acordo com a vice-presidente daCáritas de Braga, o trabalho deformação dos agentes já está emmarcha e já existem “alguns grupos”envolvidos, nas diversaslocalidades.Além de pretender contribuir parauma ação mais efetiva,

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mais rápida, com maior qualidade,junto das pessoas carenciadas,graças ao trabalho desses gruposde ação social, o projeto vai tambémpermitir “ter uma noção maisalargada das

necessidades de cada arciprestadoou paróquia e mobilizar recursosque às vezes não chegam a todos”,realça Eva Ferreira.

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Mais pessoaspedem alimentos à CáritasA vice-presidente da CáritasDiocesana de Portalegre-CasteloBranco, Lúcia Saraiva, alertou parao aumento de pessoas que pedembens alimentares, em Portugal, porcausa da crise económica. “A fomedeixou de ser uma ideia que fazparte só dos países em vias dedesenvolvimento e passa a ser umafome muito presente nas nossascasas, nas nossas famílias, naEuropa e em Portugalconcretamente e a Cáritas tem já háalguns anos esta preocupação, quese sente nos pedidos de ajudanesta área, têm aumentado ospedidos para doações de bensalimentares e começa a existiralguma dificuldade em responder atodos os pedidos o que se temrevelado muito difícil de encarar”,disse Lúcia Saraiva.A vice-presidente da Cáritas dePortalegre-Castelo Branco revelou,em declarações à AgênciaECCLESIA, que o slogan da semananacional da instituição católica,‘Juntos no Amor, unidos

contra a fome’, partiu duma ideia doPapa Francisco para que os cristãosse “empenhem mais nestaproblemática”.A semana da Cáritas segue esteano o mote lançado pela campanhada ‘Caritas Internationalis’, ‘Uma sófamília humana, alimento paratodos’, que pretende “manter vivaesta luta pela erradicação da fomeem todo o mundo e também emPortugal”.Lúcia Saraiva explica que todas asdoações conseguidas durante estasemana vão “ajudar muitas famíliasnão só com bens alimentares, mastambém para resolver questõesfinanceiras de pagamento ao fiscoou de contas da casa que aspessoas não conseguem colmatar”.Neste contexto, pede que aspessoas se voluntariem parafazerem parte do peditório nacionalda Cáritas.A responsável sublinha “que setodos os portugueses dessem umeuro apenas muitas famílias seriamajudadas”,

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um comportamento que “faz parteda educação para a solidariedade,algo que é tão importante”.Em família “a educação para asolidariedade deve também ser feitaatravés do testemunho

pessoal, daquilo que os pais fazeme dizem, porque as crianças desdemuito cedo que são muitopermeáveis a tudo o queexperimentam”, concluiu LúciaSaraiva.

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Cáritas de Coimbra em campanhasolidáriaA Cáritas diocesana de Coimbrareedita a campanha ‘Somospessoas de carne e osso’, lançadaem 2013 para “alertar e provocar”as pessoas para a necessidade deajudar os mais desfavorecidos. Opresidente da organizaçãosociocaritativa católica, padre LuísCosta, explica que a recuperaçãodesta iniciativa prende-se com ofacto de ainda existirem muitaspessoas a precisar de ajuda naregião.Entre os casos enumerados pelosacerdote, estão situações depessoas em vias de ficar sem tetopara morar, porque não têm como“pagar a renda” e “estão emincumprimento”, outras que“precisam de pagar medicação” oude um “mínimo para a suaalimentação”.Sob o lema “Ainda há pessoas decarne e osso”, a campanha vaidecorrer em estreita ligação com aSemana Nacional Cáritas e opeditório público.Até domingo centenas devoluntários vão estar em ação, emdiversas cidades eestabelecimentos comerciais dopaís, para recolherem donativosque depois serão

canalizados para a concretizaçãodos mais variados projetos desolidariedade, ao nível dasdioceses. No que diz respeito àcampanha da Cáritas de Coimbra,ela possibilitou que no último anofossem ajudadas mais de duas milpessoas.O padre Luís Costa chama aatenção para o problema dodesemprego, numa região muitodependente da área dos serviços,que entrou em queda com a crise.Essa “quebra”, que se refletiu ao“nível da Saúde e de outras áreasde apoio”, tem tido consequências“gravosas para a população emgeral”.Com os apoios que forem recolhidosdurante a campanha deste ano, opresidente da Cáritas diocesana deCoimbra espera alavancar projetosque contribuam para a “autonomia”e “estabilidade” das populaçõesmais carenciadas.Dar “apoio pontual”, para “pagarágua, luz, contribuir para aalimentação ou outro bem essencialé fundamental porque as pessoasnão podem passar sem eles”, mas“não autonomiza” quem está emsituação difícil,

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são precisas “soluções” maispermanentes, aponta o padre LuísCosta.Atualmente, a Cáritas daquelacidade universitária conta com cercade 950 colaboradores – oacompanhamento constante a todosos organismos e recursos humanosinseridos na organização tem sidouma constante, agora reforçadacom o

projeto “Mais próximo”, de âmbitonacional, orientado para a formaçãodos agentes sociocaritativos.“Enquanto em outras dioceses esseprojeto tem tido maior expressão”,em Coimbra ele veio apenas dar“continuidade” a um trabalho que jáestava a ser efetuado, destaca opresidente.

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Cáritas está a apoiar207 novas famílias em BejaO aumento dos pedidos de ajuda,na Diocese de Beja, está a levar aCáritas local a procurar novasestratégias de recolha de bensmateriais e financeiros, como acampanha ‘Azeite solidário’, queenvolve os produtores locais. Emdeclarações concedidas à AgênciaECCLESIA, a presidente doorganismo católico adianta que em2013 recorreram aos serviços deapoio social da Cáritas alentejanapelo menos “207 novas famílias”,perto de 600 mulheres, homens ecrianças.Teresa Chaves nota que o maiorafluxo de pessoas tem estadorelacionado sobretudo comsituações como a busca de ajuda“ao nível da alimentação” e dopagamento de “rendas de casa,gás, água e luz”.Muitas pessoas estão“desempregadas” ou têm o “saláriopenhorado”, ficando assim comrecursos insuficientes para fazerface a necessidades básicas ou acompromissos financeirosassumidos. Estão aindaidentificados diversos casos depessoas sem

trabalho e que estão prestes adeixar de receber subsídio dedesemprego.Apesar dos protocolos assinadoscom o Estado, nomeadamente coma Segurança Social, a Cáritas deBeja está neste momento a braçoscom mais situações do que aquelasque estavam previstas. Só norefeitório social, estão protocoladas100 refeições diárias, cerca de 3000por mês, quando na realidade onúmero fornecido chega sempre às3300, 3400 refeições.Perante este quadro, a organizaçãocatólica lançou a campanha “AzeiteSolidário, uma gota de esperança”,que tem como objetivo angariar pelomenos 3000 litros de azeite para aconfeção de refeições das pessoasmais carenciadas.Para Teresa Chaves, o trabalhosolidário da Cáritas só teráhipóteses de êxito com acontribuição das forças vivas daregião, desde as comunidades aosempresários e produtores, pelo queé necessário “empenhar eincentivar” todos esses

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recursos.Outro projeto que vai servir de baseà missão da Cáritas de Beja é acampanha “Fazer o Bem e ter aQuem”, esta a nível nacional, quedesafia as pessoas a doarem 0,5por cento do seu IRS para ocombate à pobreza e exclusãosocial.“É inadmissível que neste século XXIainda haja tantas pessoas comcarências alimentares e que passamfome”, sublinha Teresa Chaves, queorienta atualmente uma equipaconstituída por cerca de 80pessoas,

50 funcionários e 30 voluntários.A formação dos recursos humanosestá a ser também uma das grandesprioridades da Cáritas alentejana,através do projeto “Mais próximo”.Chamar a atenção dos agenteslocais, que colaboram no serviço deproximidade às populações, para aespecificidade da missão da Cáritasé um dos principais objetivos.

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Casos de suicídio e alcoolismopreocupam Cáritas em Portalegre-Castelo BrancoO presidente da Cáritas Diocesanade Portalegre-Castelo Branco dizque são cada vez mais os casos desuicídio e alcoolismo na região,motivados sobretudo por situaçõesde desemprego e solidão. Ementrevista à Agência ECCLESIA,Elicidio Bilé explica que nestemomento, a prioridade principalpassa pela criação de “equipas devoluntários, nas diversascomunidades”, que terão comoprincipal função “sinalizar” osproblemas mais prementes.Só assim as instituiçõessociocaritativas locais poderão“atempadamente chegar àspessoas”, realça aqueleresponsável, que aponta ainda anecessidade de formar “equipasmultidisciplinares, com as parceriasque se julgarem necessárias”, quepossibilitem uma intervenção aonível psicológico, social e espiritual.Desde que a crise atingiu Portugal,a atividade económica na região“caiu profundamente, da agriculturaà indústria passando pelosserviços”. “O desemprego cresceu

de uma forma exponencial”, realça opresidente da Cáritas de Portalegre-Castelo Branco, sublinhando queestá realidade é ainda mais “grave”devido à identidade “cultural esociológica” das populações locais”.“As pessoas aqui são muitofechadas, não se expõem comfacilidade, há muita pobrezaenvergonhada”, aponta Elicidio Bilé.Para chegar a essas pessoas, maispropensas a situações limite, aorganização católica conta com acolaboração de outras instituiçõescomo as autarquias, através dosdepartamentos de ação social e asforças de segurança.Os idosos e os jovens são duas dasfaixas populacionais que merecemmaior atenção – no caso dos idosos,muitos estão “acamados ou vivemisolados”, pelo que mais do queapoiar com bens materiais, a missãoprincipal é fazer umacompanhamento de proximidade.

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Para Elicidio Bilé, é preciso que osmais velhos sintam que têm “alguémcom quem podem falar da sua vida”ou simplesmente “ir ao médico, àfarmácia ou ao supermercado”.Quanto aos mais novos, maispropensos ao alcoolismo, nestemomento “está a ser delineado” umprojeto que possibilitará a realizaçãode sessões de sensibilização juntodas comunidades, com oenvolvimento de equipashospitalares de Abrantes, CasteloBranco e Portalegre.A Cáritas diocesana de PortalegreCastelo-Branco associou-se há

cerca de dois anos e meio às suascongéneres de Évora e Beja,Cidade Rodrigo, Salamanca, Cória-Cáceres e Mérida–Badajoz (asquatro últimas de Espanha) paradesenvolver uma “rede de apoiomútuo” tendo em vista a busca desoluções para problemas que “sãocomuns” aos dois lados da fronteira.Um dos frutos dessa cooperação foia criação de uma página de internetonde as pessoas podem procurarofertas de emprego, de formaçãoprofissional e procurar alojamento.

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Pela dignidade dos trabalhadoresO Papa Francisco defendeu hoje noVaticano a necessidade depromover o emprego e proteger a“dignidade” de quem trabalha,reforçando as críticas a umasistema que coloca o “dinheiro” nocentro. “Perante o atualdesenvolvimento da economia e asdificuldades que atravessam aatividade laboral, é preciso reafirmarque o trabalho é uma realidadeessencial para a sociedade, para asfamílias e para os indivíduos”,declarou, numa audiência aoperários da siderurgia e a fiéis daDiocese de Terni-Narni-Amelia,localizada na Úmbria, centro daItália.Perante milhares de pessoasreunidas na sala Paulo VI, o Papaquis “renovar” a sua proximidade ea de toda a Igreja Católica ao“mundo do trabalho”. “Que podemosdizer perante o gravíssimo problemado desemprego que atinge váriospaíses europeus? É a consequênciade um sistema económico que jánão é capaz de criar trabalho,porque colocou no centro um ídolo,que se chama dinheiro”, lamentou.

Segundo Francisco, os váriosagentes políticos, sociais eeconómicos devem promover umaabordagem diferente, “baseada najustiça e na solidariedade”, paraprocurar que todos tenham a“possibilidade de desenvolver umaatividade laboral digna”.“O trabalho é um direito de todos,que deve estar disponível paratodos. A fase de grave dificuldade ede desemprego deve ser enfrentadacom os instrumentos da criatividadee da solidariedade”, insistiu.O discurso papal, sublinhado pelaspalmas dos presentes, destacou asdimensões humanas do trabalho,que ultrapassam a questãoeconómica, porque dizer respeito“diretamente à pessoa, à sua vida, àsua liberdade e à sua felicidade”.“O valor primário do trabalho é obem da pessoa humana, porque arealiza como tal, com as suasatitudes e as suas capacidadesintelectuais, criativas e manuais”,precisou.Francisco sustentou que o trabalho“não tema apenas

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uma finalidade económica e delucro”, mas está intimamente ligado“ao homem e à sua dignidade”.“Quem está desempregado ousubempregado arrisca-se, de facto,a ser colocado à margem dasociedade, a tornar-se uma vítimada exclusão social: muitas vezesacontece que as pessoas semtrabalho – penso sobretudo emmuitos jovens desempregados –escorregam no desencorajamentocrónico, ou pior, na apatia”,advertiu.

A intervenção sublinhou que este éum desafio da comunidade cristã,que deve colocar a “pessoa nocentro, não o dinheiro”, paraconsolidar uma “atitude desolidariedade e partilha fraterna,inspirada no Evangelho” que leve a“sair do pântano de uma épocaeconómica e laboral cansativa edifícil”.O Papa concluiu com umarecordação especial pelas famíliasem dificuldade, as crianças, jovens eidosos atingidos pela crise.

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Bispos da União Europeia apelam ao votoA Comissão dos EpiscopadosCatólicos da União Europeia(COMECE) publicou hoje umadeclaração para as próximaseleições europeias, que vãodecorrer em maio, pedindo aparticipação dos cidadãos e adefesa do “projeto” comunitário.“Nós, bispos católicos, apelamos aque o projeto europeu não sejaposto em risco ou abandonado napresente situação de dificuldades. Éessencial que todos nós – políticos,candidatos, todos os interessados –contribuamos de forma construtivapara moldar o futuro da Europa”,refere o documento, enviado hoje àAgência ECCLESIA.As eleições para o ParlamentoEuropeu vão decorrer em Portugalno próximo dia 25 de maio, pordecisão do presidente da República,anunciada esta quarta-feira ao país.“Temos demasiado a perder se oprojeto europeu descarrilar. Éessencial que todos nós, cidadãoseuropeus, compareçamos nas urnasde 22 a 25 de maio”, alerta aCOMECE. Os responsáveiscatólicos pedem que os candidatosa eurodeputados “estejam cientesdos danos colaterais da crise

económica e bancária iniciada em2008”.A COMECE convida ao debatesobre as “questõessocioeconómicas centrais” que irãomoldar a União nos próximos anos elembra os milhões de jovenscidadãos que vão votar pelaprimeira vez, “estudantes, nomercado de trabalho ou, muitos,infelizmente, desempregados”.Segundo os bispos, o voto deveseguir os “ditames de umaconsciência informada” numaeleição que vai “configurar” oParlamento Europeu para ospróximos cinco anos e “terá grandesimplicações para aqueles que vãoconduzir a União”.A mensagem recorda o aumento de"novos pobres" e defende apromoção de uma “cultura demoderação” que deve “inspirar aeconomia social de mercado e apolítica ambiental”.

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Francisco recebeu visita daConferência Episcopal timorenseO Papa recebeu esta segunda-feiraos três bispos que compõem aConferência Episcopal de TimorLeste, em visita ‘ad limina’, edesafiou-os a serem “consciênciacrítica da nação” e guardiões do“bem comum”.Num encontro com D. Basílio doNascimento, bispo de Baucau, D.Alberto Ricardo da Silva, bispo deDíli, e D. Norberto do Amaral, bispode Maliana, Francisco recordou o“nascimento” da nação de TimorLeste, em 2002.Nos últimos 12 anos, “não faltaramdolorosas surpresas de ajustamentonacional, com a Igreja a recordar asbases necessárias duma sociedadeque pretenda ser digna do homem edo seu destino transcendente”,sublinhou o Papa argentino.Francisco destacou a importânciados responsáveis católicostimorenses continuarem a fazer estetrabalho, “mantendo a devidaindependência do poder políticonuma colaboração equidistante quelhe deixe a responsabilidade decuidar e promover o bem comum dasociedade”. “A Igreja pede apenasuma coisa

no âmbito da sociedade: a liberdadede anunciar o Evangelho de modointegral, mesmo quando vai contracorrente defendendo valores queela recebeu e a que devepermanecer fiel”, apontou o Papa,pedindo aos bispos timorenses que“não tenham medo” de continuar acontribuir “para bem da sociedadeinteira”.Um dos principais desafios que aIgreja Católica de Timor Leste está aenfrentar é a criação de estruturas ea reunião de recursos humanos quepermitam reforçar a formaçãocatólica das comunidades, aindapouco consolidada. Sobre a questãoda evangelização, Francisco referiuque os seus agentes “devem sercapazes de aquecer o coração daspessoas”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Religiões unidas contra o tráfico humano

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O sonho de WadjdaWadjda, uma menina de dez anosde idade, vive num subúrbio deRiad, capital da Arábia Saudita. Nãoobstante o conservadorismo da suafamília, que preza o recato damulher desde o nascimento, Wadjdaé uma criança extrovertida, afoita edecidida, a quem é difícil imporlimites na sua condição feminina evisão infantil. É o caso dasbrincadeiras com alguns amigoscomo Abdullah de que, mesmo malvistas pela família e vizinhança,Wadjda não prescinde.Precisamente na sequência de umadiscussão com Abdullah, Wadjdaaposta ser capaz de andar tão bemde bicicleta quanto ele. Uma práticaolhada como desvirtuosa para asraparigas, transforma-se num sonhoa conquistar. Wadjda está decida aconsegui-lo, mas convencer afamília e a comunidade de que umabrincadeira de rapazes não põe emcausa nem a sua feminilidade nem asua virtude não vai ser fácil.Aberto um concurso dememorização e recitação do Corãona escola, Wadjda encontra a

oportunidade de conciliar o seudesejo com as expetativas quesobre si recaem…Primeiro filme realizado por umamulher na história do cinema daArábia Saudita, ‘O Sonho deWadjda’ é, à partida e por essemesmo facto, uma proposta atraentepara um Ocidente com vasta criaçãocinematográfica no feminino. HaifaaAl-Mansour, oitava filha do poetaAbdul Rahman Mansour, cresceucom a sétima arte graças à visão doseu pai e a um circuitomaioritariamente clandestino devídeo num reino, o segundo maiorestado do mundo Árabe, onde nãoexistem salas de cinema.Formada em Literatura pelaUniversidade Americana do Cairo,prosseguiu o mestrado em EstudosCinematográficos e Realização naAustrália, tendo apresentado estasua primeira longa metragem nofestival de Veneza, em 2012, comaclamação do público, da crítica ede diversos júris, arrecadando trêsprémios. A estes, outros se têmsomado à passagem do filme porpaíses tão diversos como

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o Canadá, Noruega, Estónia,Estados Unidos, Suécia, Omã eÁfrica do Sul. Inevitavelmente, a história deWadjda tem algo de biográfico, nãoobstante a rara sorte da realizadoraem ter um pai e uma mãe atentosaos sonhos das filhas, os primeirosa encorajá-las a estudar e aperseguir a sua vontade, sem cederà pressão do meio culturalconservador em que cresceram, oque lhes custaria algum isolamento.Precisamente por ter experimentadoa constrição humana da condiçãofeminina no seu país, ditada por umrígido normativo cultural, mastambém a possibilidade dedilatação, a personagem criada porHaifaa, igual a tantas meninascheias

de potencial que sabe existirem,pelo menos, na sua cidade natal,surge como porta de esperança,consistentemente aberta, para umaArábia Saudita mais justa eigualitária. E um mundo, despertopelo cinema, mais atento a estarealidade. Bom mote para o diálogo interreligioso, ‘O Sonho de Wadjda’ganha pelo sentido positivo queprevalece no tratamento de umarealidade certamente trágica paraaquelas mulheres que ousemdesafiar o código moral sob o qualnasceram, pela integridade daprotagonista e pela justacombinação de vigor e elegância naconstrução narrativa.

Margarida Ataíde

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Cáritas Portuguesa Onlinehttp://www.caritas.pt/

Decorre de 17 a 23 de março asemana nacional da Cáritas, esteano sob o tema: “Unidos no amor,Juntos contra a fome” e que integra,entre outras iniciativas, o peditóriopúblico que se realizará em diversascidades e estabelecimentoscomerciais de 20 a 23 de Março.Esta organização que faz parte daConfederação Mundial - CaritasInternationalis - atua em mais de162 países e é uma “instituiçãooficial da Conferência EpiscopalPortuguesa, que tem como objetivoservir de plataforma para a acçãosocial da Igreja, junto dos maisdesfavorecidos”.Ao digitarmos o endereçowww.caritas.pt somos informadossobre as acções de solidariedadeque estão a decorrer, bem como asprincipais notícias das atividadesque ocorreram ou irão serimplementadas.Na opção “quem somos”, podemosconhecer um pouco mais sobre aCáritas nacional, objetivos, história,corpos sociais e ainda conhecer aação

da Cáritas em Portugal.Nomeadamente é possível saberque a sua rede é constituída por 20Cáritas diocesanas e por gruposlocais de actuação de proximidade,com a colaboração de profissionaise voluntários.Caso queira saber tudo sobre ascampanhas de solidariedade emPortugal e no mundo, que se“destinam a ajudar os mais pobresque sofrem, quer por desastresnaturais ou catástrofes humanas”,basta clicar em “campanhas”.No item “projetos”, obtemos maisdados sobre os programas que sãodesenvolvidos nos mais variadoslocais, junto dos mais carenciados,na luta contra a exclusão, naformação de agentes, nasensibilização para odesenvolvimento. Tudo isto são“temas que se cruzam nestesprojetos, sempre em parcerias comatores locais, privados ou públicos”.Esta instituição católica apoia ecolabora nas diversas iniciativaspromovidas pelas mais distintasassociações/agentes da sociedade.Seja na cooperação

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com as instituições de apoio aosimigrantes bem como na assistênciaem situações de emergência. Poroutro lado assume ainda aresponsabilidade de facilitar aformação de todos os que praticame animam a pastoral da caridade eainda, promove e suporta parceriasde voluntariado. Para conhecer tudoisto e muito mais basta aceder a“políticas sociais”.Por último, sugerimos que passepelo espaço “como colaborar”, ondefica a conhecer formas

organização católica e ainda na“editorial caritas”, onde encontrarápublicações de referência “emportuguês que na sua maioria sãolivros de pequena tiragem e nãosustentáveis no canal livreiro”.Fica então lançado o repto para quevisite o sítio e colabore com estainstituição porque, em época decrise instalada no nosso país, “sójuntos é possível construir ummundo mais justo e solidário”.

Fernando Cassola Marques

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Entre-tanto: A difícil bênção da vidae da fé“A teologia de José Frazão Correiamostra-nos que cada um de nós éuma biografia do paraíso. Como?Elaborando corajosamente o viver ea sua dramática; tomando a vida, ea vida como ela é, como cartografiapara o sobressalto da graça;revisitando esperançadamente estearco inacabado, entre nascer emorrer; esta travessia entresilêncios, enigmas e lavas; estahabitação convulsa, ao mesmotempo precária e sublime; estaturbulência de parto; este pactoestabelecido entre o instante e oeterno, este hífen entre odesmedidamente tanto. Este é umdos mais belos livros de teologiaque se escreveram em Portugal nosúltimos anos”.José Tolentino Mendonça “A consciência da mudança que amodernidade ocidental trouxeconsigo, deslocando o Cristianismodo centro para a periferia dosdispensáveis e dos irrelevantes,além de favorecer a sabedoria deatenção e a arte da descrição,apresenta-se, também, comoambiente ideal para repensarteologicamente

o lugar da fronteira, fazendo-nos concluir, talvez, que, afinal edesde sempre, o mais originário dafé no Verbo feito homem é dehabitar não a estabilidade e aproteção do centro bem definido eestável, mas a fragilidade e ainstabilidade das múltiplas periferiashumanas. E, por ser assim,as práticas crentes não deixarão deser moldadas por uma existênciaindividual e comunitária dediscernimento, vivida em fronteira,como quem assume a errância doêxodo como o seu próprio domicílio”José Frazão Correia, excerto dolivro ‘Entre-tanto’.

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José Frazão CorreiaJosé Frazão Correia, que tomou posseesta quarta-feira como provincial dosJesuítas em Portugal, nasceu em 1970, naaldeia de Alqueidão da Serra. Entrou naCompanhia de Jesus em 1995 e foiordenado sacerdote em 2004. Fezestudos de Filosofia e de Teologia emLisboa, Braga, Roma e Paris. Doutorou-seem Teologia Fundamental, na PontifíciaUniversidade Gregoriana, Roma, sob aorientação de Elmar Salmann, a cujopensamento permanece criativamenteligado. Foi Superior da comunidade deformação da Companhia de Jesus, emBraga, e tem lecionado na Faculdade de Teologia da UniversidadeCatólica.

Título: Entre-tantoSubtítulo: A difícil bênção da vida e da féAutor: José Frazão Correia sjPaulinas EditoraColeção: Poéticas do Viver Crente – série Linhas de RumoDireção e Coordenação: José Tolentino Mendonça

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D. José Policarpo: A densidade dapalavra e do silêncio no bispoconciliar

O II Concílio do Vaticano e a investigação sobre «OsSinais dos tempos» cunharam os gestos pastorais dopatriarca emérito de Lisboa, D. José Policarpo, quefaleceu a 12 de março de 2014. Com 78 anos deidade (feitos a 26 de fevereiro), D. José Policarpodisse que na “aventura da liberdade”, a palavra foi“elemento decisivo, tantas vezes dramática”, mastambém “sugestiva e iluminadora”.Na construção de uma vida, a palavra reveste-se da“densidade do drama, em que o leitor ou ouvinte éprotagonista central”, sublinhou na FundaçãoCalouste Gulbenkian, em Lisboa, a 21 de outubro de2008. Na conferência «Literatura e o drama dapalavra», D. José Policarpo frisou que nas primeirasetapas da sua vida não descortina “nenhum papelsignificativo da leitura”. Aquele período de vida foi otempo “dos modelos vivos” de pessoas. “Esse é operigo da influência marcante de personagens cujavida” atrai quem acompanha os seus passos: “fazerda vida uma imitação”.Anos mais tarde, o patriarca emérito de Lisboaconceptualizou que a vida “também é palavra” e que“as mais belas expressões da liberdade e dagenerosidade” são o fruto “fecundo da palavraescutada”. O risco de imitação foi relativizado peloconfronto com “pessoas «não-modelo», ou mesmo«anti-modelo”. Esta reflexão foi “uma experiêncianova” que o levou a confrontar-se “com modelos quenão conhecia”, que

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o “atraíam ou que rejeitava só peloque escreviam”.Neste amadurecimento entre apalavra e o silêncio, o cardeal quenasceu na freguesia de Alvorninha(Concelho das Caldas da Rainha)confrontou-se com questõesfundamentais sobre o sentido davida, “entre as quais a da existênciade Deus ganhou uma centralidadeinevitável, porque decisiva”. Eacrescenta que procurou respostas“na literatura, mais do que emmodelos vivos de pessoas queconhecia”.D. José Policarpo vasculhou autores“que questionavam a existência deDeus, de Marx a Camus”. Depoisdestas leituras, o patriarca eméritode Lisboa conclui que osargumentos da razão nãoconseguiram dar-lhe força “paracomprometer a vida com Deus”. Anegação de Deus em nome dagrandeza do homem e a históriaconcebida “sem o desafio datranscendência” mergulharam-no“numa dolorosa sensação de vazioe de ausência de sentido”.Na sua conferência, D. JoséPolicarpo revela que está “grato” aolivro de Antoine

de Saint-Exupéry, «Le Petit Prince»,que foi “a cereja no bolo” na busca de uma palavra que lhe “pacificasseo coração”. Com este autor, oprelado percebeu que é preciso“deixar-se cativar” e que o “segredoda verdade passa pelo coração”.A descoberta da beleza exprime “odrama e a densidade da existência”.Neste contexto, o cardeal emérito deLisboa revela que a “etapa final” dacaminhada humana “é sempreatracção da beleza”. Nestadescoberta que ultrapassa os olhosdo homem, D. José Policarpoconfessou que leu e visitou textosde Antero de Quental, Miguel Torga,José Régio, Fernando Pessoa eSophia de Mello Breyner Andresen.Nesta caminhada literária percebeuque tantas vezes “o poeta, na suapalavra, se transcende a si mesmo”,exprimindo o recôndito “do que nãoquer ser, mas deseja ser”. Palavrase silêncios fundados nos «Sinaisdos tempos» e na leitura atenta aoconcílio convocado pelo Papa JoãoXXIII.

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Março 2014Dia 21* Aveiro - Esgueira (Centroparoquial) (21h00m) - Mesaredonda com o título «Cristãos: quecompromisso social?» com CarlosBorrego, Teresa Toldy e Luis ManuelSilva. * Aveiro - Museu de Aveiro (20h00m)- Homenagem do Rotary Club deAveiro ao bispo eleito do Porto, D.António Francisco Santos, cujasreceitas do jantar destinam-se aoFundo Diocesano de Solidariedade. * Setúbal - Igreja de São Sebastião -Exercício espiritual da Via Sacraintegrado na Semana Cáritas.* Setúbal - Auditório da Escola deHotelaria e Turismo de Setúbal -Colóquio “Erradicar a fome nomundo: da utopia à realidade”orientado por Helder Muteia,representante da FAO em Portugale integrado na Semana Cáritas.* Viseu - Centro sócio-pastoral -Encerramento da semana bíblica. * Coimbra - Cantanhede -Conferência Quaresmal sobre «Osúltimos e a política: Para umacultura do serviço» com D. ManuelLinda e José Manuel Pureza.

* Itália - Roma (igreja de SãoGregório VII) - O Papa Franciscoencontra-se com membros de umaassociação que apoia vítimas deredes mafiosas.* Évora - Festa do Seminário de VilaViçosa* Braga - Igreja de São Lázaro -Concerto da Primavera peloensemble de cordas da Companhiada Música e para comemorar o Diado Pai.* Santarém - Torres Novas (Igreja doSalvador) - Iniciativa «Sagrado naPoesia» para comemorar o DiaMundial da Poesia. * Lisboa - Peregrinação nocturnaentre o Tejo e o Atlântico com otema «As voltas que a vida dá» epromovida pelos Jesuítas.* Coimbra - Pombal (BibliotecaMunicipal) (21h00m) - ConferênciaQuaresmal sobre «DiscipuladoMissionário da Comunidade Cristã»pelo padre Jorge Santos, vigárioepiscopal para a pastoral.* Viseu - Seminário maior de Viseu -Retiro nacional para estudantes doensino superior promovido peloSecretariado Nacional da Pastoraldo Ensino Superior. (21 e 22)

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* Braga - Congresso internacionalsobre os 50 anos da proclamaçãode São Bento, Patrono da Europa.(21 e 22)* Holanda - Conferência regional daCáritas Europa. (21 e 23)* Castelo Branco - Abrantes -Encontro diocesano de Taizé«Guiados pela Alegria» e promovidopelo Secretariado Diocesano daPastoral Juvenil e Vocacional, daDiocese de Portalegre-CasteloBranco. (21 e 23)* Fátima - Encontro de formação daAssociação de Servitas de NossaSenhora. (21 e 23) Dia 22* Lisboa - Igreja da Encarnação - Oarcebispo filipino, D. JohnForrossuelo Du, fala sobre asituação dos cristãos no seu país,uma iniciativa da Fundação Ajuda aIgreja que Sofre (AIS). * Porto - Gondomar - Retiro sobre«Envolvidos no amor de Deus pelomundo» orientado por monsenhorLuciano Guerra. * Porto - Paróquia da Sé (Coro baixoda igreja de Santa Clara) (21h30m)- Sarau poético sobre «Portugalpoético» organizado pelo clã doAgrupamento 17 do Corpo Nacionalde Escutas.

* Setúbal - Sociedade TimbreSeixalense (21h30m) - Concerto deapresentação do CD «Caminho deVida». * Fátima - Duas Assembleias-Geraisda CNIS, uma ordinária paraaprovação do Relatorio deActividades e Contas de 2013 eoutra extraordinária, para deliberarsobre uma proposta da direcção deaquisição de bens imóveis.* Madeira - Funchal (Reitoria daUniversidade da Madeira) - Sessãopública de apresentação doCongresso «500 anos da diocesedo Funchal - A primeira dioceseglobal». * Vaticano - Encerramento (início a17) da visita «Ad limina» dos bispostimorenses.* Porto - Gaia (Salão Paroquial deCanelas) - Conferência sobre «Aoração e a cruz no caminho do PapaJoão Paulo II» pelo padre RobertoCarlos Nunes.* Bragança - auditório PauloQuintela - Conferência sobre aconstituição dogmática «LumenGentium», com a presença deMariaIsabel Pereira Varanda, do CentroRegional de Braga da UniversidadeCatólica Portuguesa.* Coimbra - Reunião do ConselhoPastoral Diocesano.

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O Centro São Pedro Claver, dos ‘Leigos para o

Desenvolvimento’, vai comemorar este domingo 20anos de existência, dedicados ao ensino de portuguêspara estrangeiros e ao apoio em regime deexplicações a estudantes imigrantes. “Desde 1994 jápassaram pelo Centro São Pedro Claver mais de 3200alunos que conseguiram com sucesso alcançar osseus objetivos escolares e mais de 450 voluntáriosdisseram sim a este projeto, acreditando naconstrução duma sociedade mais tolerante esolidária”, refere uma nota enviada à AgênciaECCLESIA. O arcebispo filipino John Forrossuelo Du vaiestar este sábado em Lisboa para falar sobre asituação dos cristãos no seu país, que emnovembro último foi devastado pela passagemdo tufão Haiyan. Esta iniciativa nasceu de umconvite da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre(AIS) que convida as pessoas a escutar o“testemunho” do prelado, a partir das 17h30, naigreja da Encarnação, junto ao Largo do Chiado. A Diocese de Bragança-Miranda vai promover dia 22de março uma conferência sobre a constituiçãodogmática “Lumen Gentium”, com a presença daprofessora Maria Isabel Pereira Varanda, do CentroRegional de Braga da Universidade CatólicaPortuguesa.No folheto explicativo da iniciativa, enviado à AgênciaECCLESIA, o bispo diocesano, D. José Cordeiro,recorda a importância que o documento saído doConcílio Vaticano II (1962-1965) teve para “acompreensão que a Igreja tem de si mesma”.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 23 - Um Papado Fim do Mundo: análise aopontificado de Francisco. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 24 -Entrevista a José EduardoFranco. Apresentação doCongresso sobre os 500 anosda Diocese do Funchal;Terça-feira, dia 25 -Informação e entrevista aopadre António Valério sobre"Passo-a-rezar";Quarta-feira, dia 26 - Informação e entrevista a DimasPedrinho sobre a Semana de EMRC;Quinta-feira, dia 20 - Informação e entrevista FátimaFontes e José Pedro Costa sobre o Sínodo da Família;Sexta-feira, dia 21 - Apresentação da liturgia dominicalpela irmã Luísa Almendra e cónego António Rego Antena 1Domingo, dia 23 de março, 06h00 - Cáritas:reportagem sobre peditório nacional. Entrevista comIsabel Monteiro, da Cáritas de Setúbal. Comentário àatualidade com Irmã Irene Guia. Segunda a sexta-feira, 22h45 - 24 a 28 de março -Propostas de caminhada quaresmal: Pastoral Juvenildos Açores, Fundação Fé e Cooperação, Dioceses deBraga, Santarem e Leiria

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O que é o Purgatório?

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Ano A - 3º Domingo da Quaresma

Visitar aFonte, a Água,a Vida!

Neste terceiro Domingo da Quaresma, deixemo-noslevar pela Palavra da Esperança! É tempo de visitarde novo a Fonte, a Água, a Vida!A segunda leitura vem reafirmar o fundamento daesperança, que nunca engana, porque o amor deDeus foi derramado em nossos corações pelo EspíritoSanto que nos foi dado e pela oblação plena de Cristona Cruz.No encantador diálogo com a samaritana, Jesusafirma-se como a única água viva que mata as nossassedes, o único salvador do mundo.Essa água viva de que Jesus fala faz-nos pensar noBatismo. Para cada um de nós, esse foi o começo deuma caminhada com Jesus. Nessa altura acolhemosem nós o Espírito que transforma, que renova, que fazde nós filhos de Deus e que nos leva ao encontro davida plena e definitiva. Há que renovar essecompromisso assumido como realidade que marca anossa vida, os nossos gestos, valores e opções.O abandono do cântaro pela samaritana, e por cadaum de nós, significa o romper com todos os esquemasde procura de felicidade egoísta,

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para abraçar a verdadeira e únicaproposta de vida plena, abrindo ocoração ao Espírito que Jesus nosoferece e que exige de nós oretomar caminhos de vida nova.Se de facto encontramos Cristo quenos traz a água que mata a sede defelicidade, não podemos ficarfechados nessa descoberta. Há quepartir, sair das sacristias, ir àspessoas e testemunhar, comentusiasmo e coerência, essa vidanova que encontramos em Jesus.Uma Igreja em saída, sempre emmissão, transformada peloEvangelho, como nos pede o PapaFrancisco.Deixemo-nos levar pela Palavra daEsperança! É tempo de visitar denovo a Fonte, a Água, a Vida: ir àfonte de água viva; beber a água dafonte viva; saciar a vida na água dafonte... Quantos desafios àesperança!Quantas vezes seguimos vagosapelos mas não nos deixamos

convocar pela fonte pura! Quantasvezes miramos a nossa vida emribeiras secas mas não renovamos ofundo do nosso ser na água limpa!Quantas vezes nos comprometemosem vidas estéreis mas não nosdeixamos seduzir pela vidaabundante! Quantos desafios àesperança renovada!É tempo de visitar de novo a Fonte,a Água, a Vida! Como vai a nossavida? Anda em dinamismos deesperança? Anda mergulhada nafonte fecunda ou é levada pelosfontanários secos? É gerada naágua viva ou fundada nas águasmortas? Está segura na vida plenaou movida por existênciasefémeras? Quantos desafios àesperança renovadora!É tempo de visitar de novo a Fonte,a Água, a Vida! Deixemo-nos levarpela força missionária doEvangelho!Que assim seja ao longo destaterceira semana da Quaresma!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Filipinas: terramoto e tufão põem à prova a fé de umpovo

O sonho do menino GerardGerard tem apenas 11 anos e todosos dias agradece a Deus o dom davida depois de a sua aldeia ter sidoarrasada pelo tufão Haiyan, emNovembro. Em poucas horas perdeua mãe, a irmã e a casa. Agora querser padre.Paróquia de San Joaquín, Filipinas.A igreja continua quase sem marcasda passagem do devastador tufãoque enlutou o país a 8 de Novembrode 2013. À sua volta há agora umimprovisado cemitério epercebem-se as cicatrizes da destruiçãocausada por ventos de mais de 340km. por hora.Mesmo nas Filipinas, um dos paísesdo mundo mais fustigados porcalamidades naturais, ninguém temmemória de uma coisa assim. Osventos arrancaram árvores,telhados, casas. Destruíram emataram. Junto à Igreja de SanJoaquín, existe agora umimprovisado cemitério.Quatro meses depois, está aindaquase tudo por reconstruir. Mais de16 milhões de pessoas foramafectadas pelo tufão Haiyan.

Uma dessas pessoas é um rapaz,de apenas 11 anos. Chama-seGerard.Invariavelmente, todos os dias, estemenino vai para junto de uma cruz,senta-se no chão e reza. Ali, noimprovisado cemitério, debaixodaquela cruz de madeira, está ocorpo de sua mãe e de uma irmãque tinha sete anos. O tufão dizimoua aldeia e a casa de Gerard nãosuportou os ventos fortíssimos.Gerard não morreu porque estavana igreja a rezar o terço. “Quero ser padre”Deus poupou-o à tragédia e issodeu-lhe uma certeza ainda maior. Hámuito tempo que este menino diziaque tinha um sonho para a sua vida:ser padre. Agora, não tem quaisquerdúvidas sobre a sua vocação:“Quando for grande quero serpadre!”Gerard perdeu a mãe e a irmã, masisso apenas o aproximou ainda maisde Deus. Todos os dias, acendeuma vela junto à cruz onde elasestão sepultadas. Nas suasorações, agradece o dom da vidaque ganhou um novo

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o dom da vida que ganhou um novosignificado depois da tragédia.Em muitas regiões das Filipinas estáquase tudo ainda por fazer. Famíliasinteiras continuam abrigadasprovisoriamente em tendas, emcampos de refugiados. Há milharesde pessoas que continuam a não tercasa e que perderam tudo. Tudo.Milhares de filipinos dependemtotalmente da ajuda externa. Nãotêm como sobreviver sozinhos.Curiosamente, os Filipinoscontinuam a sorrir e a dar graças aDeus. Estão enlutados,

é verdade, perderam familiares eamigos, mas não a fé nem aesperança. Agradecem a Deuscomo só os Filipinos sabem fazer:sorrindo, dizendo “salamat,salamat”, obrigado, obrigado!A Fundação AIS está empenhada naajuda de emergência às Filipinas. Étodo um país que precisa de serreconstruído, mas, acima de tudo, éum povo que precisa da nossaajuda. Quando se trata dereconstruir vidas, não há tempo aperder. Amanhã pode ser tarde demais. Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Ousar ser Pai

Tony Neves

Devo confessar que uma das coisas que mais me‘chocou’ ao chegar a Angola, como jovemmissionário, foi o facto de me chamarem ‘Pai’. Euachava que essa tinha sido a parte excluída daminha opção de ser Padre e, por isso,considerava estranha esta forma do povosimples do Kuito e do Huambo chamar por mim.Mas, a verdade, é que Padre é Pai e, se o nãofor, algo na sua vocação e ministério está postoem causa.Mas não é dos Pais Padres que falamos hoje.Queremos, sim, prestar uma homenagem aosque geram vida e fazem crescer para a vida emtodas as dimensões do humano. É grande aMissão de um Pai. Sentimos que, cá na Europa,os Pais têm muito medo de o serem, pelaangústia que a crise provocou e, em algunscasos, pela onda de individualismo que osnossos tempos provocaram.Não faz muito sentido passarmos a vida a lavraractas de condenação. Mas é urgente gritar alto atodos os pais, dizendo-lhes que eles merecemtoda a nossa admiração pela Missão quedesempenham na família e na sociedade.Também temos que continuar a dizer-lhes que,por muito que lhes custe, a sua paternidade nãoacaba nunca e há valores fundamentais etestemunhar e transmitir de geração em geração.O que de pior pode acontecer a um Pai é demitir-se das suas responsabilidades, considerandoque a sua Missão já está cumprida porque o filhoou filha já fez 16 anos e pode decidir a sua vidacompletamente a seu critério.

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Ser Pai é, sobretudo, um acto deternura. Fico feliz e edificadoquando vejo pais e filhosabraçados, em amenas cavaqueirasde rua ou parque ou sentados namesa de um restaurante numaatitude de muita cumplicidade ondese lê nos rostos um amor de todo otamanho.O Papa Francisco, por sugestão doPapa Bento XVI, introduziu naoração eucarística o nome de S.José, depois do de Maria,

Nossa Senhora. É um acto dejustiça, assim o considero, porqueJosé é uma figura enorme noquadro da família de Nazaré. Jesusdeve-lhe muito e nós também. O seuperfil de competente profissional decarpintaria, a sua dedicação dealma e coração á esposa e ao filhosão imagens de marca de um Paique é importante mostrar ao mundoe seguir.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Quaresma em humildade

Margarida Corsino daSilva

Hoje, a oração levou-me a um artigo que li há anosde Jean-Louis Chrétien - um filósofo francês daatualidade. Houve um parágrafo que me tocouparticularmente: “Apenas um viajante sem bagagempode empreender uma viagem livre em direção aoque verdadeiramente interessa, pois apenas ele,que se sabe pobre, pode ousar pedir e ousarreceber e apenas ele, que se sabe fraco, nãopossuindo força, a inventa e a procura, para a poderdar. Assim, eu não terei que me questionar se sereisuficientemente corajoso, suficientemente paciente,suficientemente inteligente para aquela tarefa oupara tal ação, mas apenas se tal tarefa é necessáriae se tal ação requerida.”A humildade começa no interior e não nos pedesenão que nos conheçamos em verdade. E,conhecer-me, não é comparar-me. É conhecer asminhas limitações e conhecer aquilo que tenho debom e, conhecendo, aceito. E, dessa forma, nem mesinto inferior aos outros, nem os trato com altivez. Acoragem de assim nos conhecermos, torna-noslivres, pois sabemos que não há força, nem virtude,nem talento de que sejamos proprietários e nosquais nos possamos fazer fortes por nós mesmos.“O humilde é aquele que tem confiança de quereceberá o suficiente para comer se o caminho quefaz é verdadeiramente o seu, em vez de preparartoda a sua vida provisões para uma viagem que nãofará jamais.”Num tempo em que, aparentemente, vivemos acorrer, rodeados por imensos barulhos que nosfazem, por vezes, esquecer de nós mesmos e da

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nossa existência, a quaresmaconvida-nos a caminhar no deserto.Em humildade. Ao encontro de nósmesmos. Dos outros. De Deus.Quarenta dias em direção à Páscoaque, mais que um momento, é umaforma de ser. De viver. Morte e Vidasão palavras que povoam estetempo. São as mortes queaceitamos viver a cada instante quenos levam à Vida. Mortes à vaidade.Ao orgulho. Ao preconceito. Àprepotência. Em humildade. Numdesejo, até, de mudar o provérbio edizer “vamos à morte que a vida écerta”. Quaresma é tempo, não deprovar que Deus existe, mas detestemunhar a Sua existência.Tempo de preparar o acolhimentoda entrega completamente gratuitade Deus que Se dá em Jesus, nacruz. E dá-Se enquanto Se dá aoreconhecimento dos nossos afetose da nossa inteligência. Quaresma étempo.Na Quaresma, a dois passos daPrimavera, o nosso olhar atentocontempla o renascer. A passagemdo silêncio (necessário) à palavra, do retiro(necessário) à arte, da contenção(necessária) à criatividade.Sentimo-nos impelidos a sair dasnossas casas e a participar nesteconcerto com que a natureza nosbrinda. Mas, se por um lado issoacontece, por outro, tenhamos a

idade que for, sentimo-nos, porvezes, velhos para participar emtanta mudança. Mas Deus chama-nos, continuamente, a uma novavida, a rompermos com a instalaçãode quem vive dos dividendos detudo quanto já recebeu e fez. Deustem a iniciativa e manda-nos olharpara a imensidão do céu de ummodo apaixonado e, assim, sairmosde nós, sairmos de uma pertençaredutora, desejando pertencerapenas a Ele.Decidir como vivo terá de ser frutoda oração e de uma vida emcomunhão profunda com Deus,tomada na solidão. No silêncio. Nomais íntimo de mim, onde Deus Sediz. Será uma decisão ousada quefala de liberdade. De humildade. Doreconhecimento das minhaslimitações Nesta Quaresma, rezar ahumildade leva-me a desejaracolher todos quantos partilham avida comigo, a desejar preparar-mepara acolher as suas limitações equalidades. Em humildade. Econfiar, também, no seuacolhimento. E, desta forma, estarpronta para percorrer o meucaminho, aquele que éverdadeiramente o meu, realizandoaquilo que me é pedido, por issomesmo, porque é necessário e me érequerido.

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Pelo mundo em que vivemos, para que, com a consciência deo habitarmos como uma só família humana, saibamos torná-lomais justo e mais fraterno, um lugar de partilha em que hajaalimento para todos.

(da Oração Universal, Dia Cáritas 2014)

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