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Sobre Guy Debord e o Situacionismo.
Questões introdutórias.
O Situacionismo abre duas chaves de discussão, que estão relacionadas.
A primeira delas, de cunho sociológico, refere-se à prevalência da dimensão cultural no
mundo contemporâneo. Tendo constatado que as existências são vivenciadas de modo
cada vez mais simbólico, a contestação também opera cada vez mais dentro da esfera
cultural (artística etc.) A ação contestatória é uma persistente tentativa de quebra do
código vigente e, portanto, tem por alvo a própria linguagem (resignificação de obras
artísticas, escândalos etc). Abre-se aqui toda um leque de discussões: é possível
produzir uma contestação dentro do universo simbólico vigente ? Até onde a quebra do
código pode operar e até que ponto isso realmente produz uma ruptura no sistema
(descondicionamento) ?
A segunda chave – de natureza mais filosófica - diz respeito ao caráter transitório,
fugidio, fugaz das intervenções situacionistas. Isso se refere diretamente à necessidade
de não-formalização, não-institucionalização, manter aberto o canal da criatividade – é a
criação permanente. Se, por um lado, isso é uma tática para escapar à reação do sistema,
que se move e se nutre pela (e para) a reabsorção dos signos produzidos pela ação
contestatória, por outro, isso permite ao contestador manter viva dentro de si a
criatividade, não permitindo que ele próprio caia na repetição burocrática e perca o
contato com seu íntimo-criativo.
“É impossível existir uma pintura ou uma música situacionista. O que pode ocorrer é
uma utilização situacionista destes meios. Numa acepção mais básica, o „detournement‟
no interior das antigas esferas culturais constitui um método de propaganda,
testemunhando o desgaste e a perda de importância destas esferas”. (Revista da IS, n.1)
As duas chaves acima se encontram relacionadas, pois a questão de fundo diz respeito à
vivência condicionada e o modo como se produz esse condicionamento: somente por
meio da quebra do código que rege as interpretações é que podemos abrir caminho para
a ruptura das relações de dominação e da alienação, dentre outros efeitos.