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SOBPRESSÃO JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA SETEMBRO/OUTUBRO DE 2009 ANO 6 N° 20 Rafael Limaverde viveu uma experi- ência inesquecível. Em 2002, o artista plástico decidiu vender todos os seus bens e sair em uma viagem de bici- cleta. Mesmo sem experiência como ciclista e sem falar espanhol, viajou durante dois anos pela América Latina. Ele revelou, em entrevista ao Fôlego, as impressões da viagem e o impacto dela na sua vida. Fôlego P. 4 e 5 Em Fortaleza, o mercado de fantasias cresceu nos últimos dois anos. Já são nove lojas especializadas na fabricação para venda e aluguel dessas peças, com preços que variam de R$30 a R$1.500 e agradam a todos os gostos. Página 12 Lei afroétnica ainda é descumprida Atletas da Unifor se superam nos JUBs 2009 A maioria das escolas públicas no Ceará ainda não cumpriu a Lei Federal Nº 10.639, efetivada em 2003, que regulamenta o ensino da história e da cultura afroétnica em todos os currículos escolares. Esta regra jurídica, no ano de 2008, foi alterada pela Lei Federal 11.645, acrescentando também o ensino da história e cultura indígena. O Ministério da Educação (MEC) lançou, em maio deste ano, um plano de implementação do ensino afro-brasileiro em todo o país. A Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza e a Coordenadoria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial explicam que todo o país está atrasado em relação à aplicação da lei. Espera-se que a sua implementação conscientize as futuras gerações e evite preconceitos e discriminações sobre essa parcela da população. Página 6 e 7 FOTO: DIVULGAÇÃO O principal patrocínio cultural em Fortaleza e no Ceará vem dos editais lançados pela Se- cult, Secultfor e BNB. A maio- ria deles tem como objetivo de- mocratizar a produção de bens culturais, atingindo músicos, fotógrafos, cineastas, entre outros. Porém, o atraso no re- passe das verbas e a burocracia dos editais dificultam a produ- ção dos artistas. Páginas 3, 4 e 5 Fomento Olimpíadas Universitárias Editais incentivam cultura no Ceará A Unifor foi uma das sedes dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) e seus atletas obtiveram o melhor desempenho geral da Universi- dade no histórico da competição. Ao conquistar duas pratas e um ouro, três equipes subiram para a divisão de elite dos jogos. Fôlego P. 01 Intercâmbio Alunos decidem participar de intercâmbio de trabalho na Disney como oportuni- dade de praticar o inglês e fazer novas amizades. Todo ano, cerca de 130 universi- tários de Fortaleza viajam para os Estados Unidos em busca de superar desa- fios e vivenciar novas expe- riências na maior empre- sa de entretenimento do mundo. Página 11 Experiências e trabalho na Disney Turismo de aventura e consciência social O Twitter, rede social que é sucesso entre os inter- nautas, tem adquirido novas formas de uso. Extrapo- lando o objetivo inicial proposto pelo site, os usuários encontraram nele uma importante ferramenta de mobilização social. Páginas 8 e 9 FOTO: CAMILA MARCELO Cicloturismo FOTO: ARQUIVO PESSOAL FOTO: ARQUIVO PESSOAL FOTO: OTÁVIO NOGUEIRA

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Jornal laboratório do cruso de jornalismo da Unifor

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SOBPRESSÃOJORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA SETEMBRO/OUTUBRO DE 2009 ANO 6 N° 20

Rafael Limaverde viveu uma experi-ência inesquecível. Em 2002, o artista plástico decidiu vender todos os seus bens e sair em uma viagem de bici-cleta. Mesmo sem experiência como ciclista e sem falar espanhol, viajou durante dois anos pela América Latina. Ele revelou, em entrevista ao Fôlego, as impressões da viagem e o impacto dela na sua vida. Fôlego P. 4 e 5

Em Fortaleza, o mercado de fantasias cresceu nos últimos dois anos. Já são nove lojas especializadas na fabricação para venda e aluguel dessas peças, com preços que variam de R$30 a R$1.500 e agradam a todos os gostos. Página 12

Lei afroétnica ainda é descumprida

Atletas da Unifor se superam nos JUBs 2009

A maioria das escolas públicas no Ceará ainda não cumpriu a Lei Federal Nº 10.639, efetivada em 2003, que regulamenta o ensino da história e da cultura afroétnica em todos os currículos escolares. Esta regra jurídica, no ano de 2008, foi alterada pela Lei Federal 11.645,

acrescentando também o ensino da história e cultura indígena. O Ministério da Educação (MEC) lançou, em maio deste ano, um plano de implementação do ensino afro-brasileiro em todo o país. A Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza e a Coordenadoria Especial de

Políticas para a Promoção da Igualdade Racial explicam que todo o país está atrasado em relação à aplicação da lei. Espera-se que a sua implementação conscientize as futuras gerações e evite preconceitos e discriminações sobre essa parcela da população. Página 6 e 7

Foto

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O principal patrocínio cultural em Fortaleza e no Ceará vem dos editais lançados pela Se-cult, Secultfor e BNB. A maio-ria deles tem como objetivo de-mocratizar a produção de bens culturais, atingindo músicos, fotógrafos, cineastas, entre outros. Porém, o atraso no re-passe das verbas e a burocracia dos editais dificultam a produ-ção dos artistas. Páginas 3, 4 e 5

FomentoOlimpíadas Universitárias

Editais incentivam cultura no Ceará

A Unifor foi uma das sedes dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) e seus atletas obtiveram o melhor desempenho geral da Universi-dade no histórico da competição. Ao conquistar duas pratas e um ouro, três equipes subiram para a divisão de elite dos jogos. Fôlego P. 01

Intercâmbio

Alunos decidem participar de intercâmbio de trabalho na Disney como oportuni-dade de praticar o inglês e fazer novas amizades. Todo ano, cerca de 130 universi-tários de Fortaleza viajam para os Estados Unidos em busca de superar desa-fios e vivenciar novas expe-riências na maior empre-sa de entretenimento do mundo. Página 11

Experiências e trabalho na Disney

Turismo de aventura e consciência social

O Twitter, rede social que é sucesso entre os inter-nautas, tem adquirido novas formas de uso. Extrapo-lando o objetivo inicial proposto pelo site, os usuários encontraram nele uma importante ferramenta de mobilização social. Páginas 8 e 9

Foto

: Ca

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o

CicloturismoFoto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: otávio Nogueira

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 20092

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Eduardo Freire - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2009.2) - Reportagem: Amanda Nogueira, Ana Carla Calvet, Carolina Barretto, Cleidinaldia Maia, Flaviana Farias, Kelly Freitas, Lucas Benedecti, Mariana Fontenele, Maurício Ponte, Mirtila Facó, Monique Linhares, Otávio Nogueira, Raphael Barros - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Aldeci Tomaz - Professores orientadores: Antonio Simões e Eduardo Freire - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Estagiários de Produção Gráfica: Katryne Rabelo - Estagiários de Redação: Camila Marcelo, Viviane Sobral, Wolney Batista - Revisão: Solange Maria Morais Teles

Opinião

Desde sua criação, em abril de 2004, o Sobpressão passou por diversos formatos e abordou di-ferentes perspectivas da nossa sociedade. Agora, em sua 20ª edição, não poderíamos deixar de enfatizar o crescimento e for-talecimento d0 periódico no cur-so de Jornalismo da Unifor.

Um diferencial do Sobpressão é a possibilidade de trabalhar com cadernos. Se a princípio o jornal era distribuído isolada-mente, a partir de 2008 ocorreu uma fusão com o Fôlego (de ca-ráter esportivo), o Classificado dá Notícia (reportagens produzidas a partir dos anúncios dos classi-ficados) e o Jornal das Organi-zações (que apresentava notícias de caráter institucional).

Esse processo de sinergia, no qual as quatro publicações se unem para formar um jornal mais forte, variado e informati-vo, despertou um maior interes-se por parte dos leitores, além de abranger públicos variados.

Ao acompanhar a convergên-cia midiática, outra novidade que surgiu ao longo dos cinco anos de história do Sobpressão foi a criação do Blog do Labo-ratório de Jornalismo (Labjor). Esse fato permitiu a divulgação

Acho que todo mundo, em algum momento, já idealizou o amor de forma extremamente romântica. Isso é absolutamente normal. En-tretanto, com o passar do tempo, percebemos que, como tudo nessa vida, até mesmo a ideia de amor pode amadurecer. Não quero dizer com isso que ficaremos com o coração embrutecido ou coisa assim, quero apenas dizer que amar pode ser a coisa mais saudável desse mundo, desde que feita da maneira correta, ou seja, sem extremismos.

Para você provar que ama alguém não é necessário espalhar outdoors por toda a cidade, comprar o presente mais caro do shopping ou ainda - em casos mais “graves” - contratar um carro para fazer a tão temida loucura de amor. É possível demonstrar esse sentimento nas coisas mais simples e pequenas. O estar ao lado nas horas em que o outro mais precisa, mesmo que a situa-ção seja bastante triste ou complicada, é uma das maiores provas de que esse sentimento é verdadeiro.

Acredito que o tempo é um aliado, afinal, é com o passar dos dias que descobrimos, de verdade, quem merece ou não a maior parce-la do nosso coração. Você, com certeza, já deve ter visto um casal de velhinhos andando de mãos dadas pelas ruas ou sentados em um banquinho de praça. Que outra frase viria à cabeça além de: “ai que coisa mais linda, espero que comigo também seja assim”.

Se conversarmos com esse mesmo casal e indagarmos sobre a relação, certamente, ouviremos palavras como tolerância, respeito, amadurecimento, confiança e, é claro, amor verdadeiro. Eu conheço ca-sais assim e, a partir de algumas conversas, consegui entender a razão para tudo isso. O segredo está na maneira de viver essa história; cada um tem seu espaço - mesmo que esses espaços sejam próximos um do outro - cada um tem seu modo de pensar e agir.

E é, justamente, esse respeito às diferenças que fortalece os laços. Para que duas pessoas sejam feitas uma para a outra não é necessário que elas andem agarradas 24 horas por dia, afinal, um período para respirar um arzinho próprio é sempre bom.

Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Artigo

Amor maduro

Mirtila Facó Nogueira

Sobpressão inova mais uma vezEditorial

de material extra, bastidores e outras matérias produzidas pe-los alunos da disciplina Projeto Experimental em Jornalismo Impresso, além daquelas vincu-ladas às produções e pelos esta-giários do Labjor. O Blog é uma ferramenta indispensável e sig-nificante para essa proposta da convergência, pois alia imagem, texto e vídeo e se transforma em um espaço amplo para incentivar a criatividade dos alunos.

Nos projetos gráficos ini-ciais, o Sobpressão aparentava esteticamente uma revista. Por uma necessidade de atualiza-ção, mudou para o formato berliner, o que permitiu uma melhor disposição das repor-tagens, matérias coordenadas, quadros explicativos e opinati-vos, tornando-se mais moderno e de fácil manuseio.

Por ser um jornal-labora-tório, a palavra-chave do Sob-pressão é experimentar. A mar-ca dessa inovação é visualizada nas reportagens originais e com angulações diferenciadas, pro-duzidas em um ritmo de traba-lho intenso, rotina esta que dá nome ao jornal. Por isso, a cada nova edição, o periódico acom-panha o estilo daqueles que o

faz. Sem um padrão específico, sem ser estático.

Novidade marcante está per-meando esta edição 20: o Cader-no Fôlego, antes semestral, agora acompanhará o Sobpressão em sua publicação bimestral. A su-gestão foi do professor Alejandro Sepúlveda, responsável pela pro-dução do Fôlego. Por enquanto, é uma experiência, sua manu-tenção dependerá da aprovação do leitor.

Ao longo de todas essas edi-ções, por aqui passaram alunos, professores, diagramadores, es-tagiários de redação, funcioná-rios da gráfica. Eles sempre se dedicaram para manter o padrão de qualidade do Sobpressão, que foi referendado por prêmios como o de melhor publicação laboratorial do Ceará em 2006, dado pela Associação Cearen-se de Imprensa (ACI), além da melhor reportagem na categoria Produção em jornalismo inter-pretativo, “Onde a História é oca”, na Expocom 2009, de au-toria de Caio Castelo.

Toda essa excelência é a característica que o mantem há 20 edições como parte da trajetória acadêmica de tantos jovens jornalistas.

Falar com uma autoridade de qualquer instituição é difícil. O jornalis-ta tenta, mas a entrevista não engrena. Aí o assessor fala: “desculpa, ele ainda está em reunião, que tal amanhã?”. Ele esquece que a maté-ria fecha naquele dia, não dá para adiar. Daria para antecipar, porém, no dia anterior, o chefe estava em outra importante reunião. Resumo da história: 1) a matéria sai sem a declaração do sujeito (com a velha frase: “até o fechamento da matéria não conseguimos falar com…”); 2) o jornalista é tachado de preguiçoso pelos leitores, por não ter apurado bem a matéria.

Mas chega o dia para quem persiste! Pauta sensacional: entre-vistar o espírito de um médico que faz curas espirituais. O jornalista vai. Entra na sala, todos a postos. Concentração. Nada. A comunica-ção está difícil, diz o médium, deixemos para amanhã. De novo não, pensa o jornalista. Tente de novo, por favor, tenho que fechar essa matéria hoje. Não deu, o espírito não leu seus pensamentos, nem o médium. A matéria não saiu, o editor não quis arriscar: “até o fecha-mento…”. Os leitores andam deveras céticos.

As coisas estão ruins para o lado do nosso jornalista. Recebeu um telefonema: “suba, o chefe quer falar com você”, disse a secretária. Sempre as secretárias, secretários, assessores…, pensou. Subiu. Chá de cadeira. Depois da tarde perdida, a secretária comunica que a reunião foi adiada para o outro dia, pois um dos mais importantes anunciantes chegou e precisou ser atendido. Que seria do jornal sem eles? Desceu. Estava fechando uma matéria recomendada (aquela que a empresa “sugere”), e faltava justamente o depoimento do chefe. Ia aproveitar aquela oportunidade para entrevistá-lo. Não deu certo. Terminou a matéria com a nossa já conhecida: “até o fechamento…”.

Estudante do 6º semestre de Jornalismo

Crônica

Difícil acesso às autoridades

Raphael Barros

Sugestões, comentários e críticas: [email protected]

Praça do Ferreira, início da noite do dia 3/9: a foto foi feita durante o lançamento de “O Livro das Horas da Praça do Ferreira” , fruto da parceria entre o fotógrafo Jarbas Oliveira e o escritor José Mapuranga, que reúne fotos e textos sobre a praça mais conhecida da cidade, e que recebeu o patrocínio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). Devido a baixa luminosidade a captura da imagem foi feita com sensibilidade ISO 800. A lente escolhida foi uma grande angular 16-50mm com 2.8 de luminosidade, na intenção de registrar a amplitude da cena e contemplar a diversidade de pessoas, sentidos e movimentos, característicos do evento e da própria praça. O tratamento da imagem foi realizado no Photoshop para realçar a sensação de abrangência bem como de semelhança com o visor de um relógio, existente na praça, criando um intertexto com o título do livro. Foto e texto: otávio Nogueira

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 2009 3

Em busca de uma política para os editais culturais

Pergunte a quem foi contempla-do, em algum edital de cultura, sua opinião sobre o assunto. Num primeiro momento, fará elogios à iniciativa, mas logo em seguida criticará o montante de recursos destinados à cultura, ou o atraso no repasse das ver-bas para a realização dos proje-tos. Esses temas e mais alguns outros, como o uso de editais para incentivar a produção de novos artistas, a contemplação de projetos que tratam de as-suntos regionais em detrimen-to de temas mais globais, são recorrentes nas conversas dos realizadores culturais em For-taleza.

O fenômeno dos editais no Ceará é recente. O primeiro foi lançado em 2003 pela Secreta-ria de Cultura do Governo do Estado do Ceará (Secult), e está na sétima edição. Em 2005, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) lançou o seu e, em 2006, a Secretaria de Cultura da Pre-feitura de Fortaleza (Secultfor) apresentou o I Edital de Cultu-ra, que em 2009 vai para sua terceira edição. Em todos os casos, o total de recursos desti-nados ao fomento cultural tem aumentado consideravelmente.

A Secultfor, que no começo investiu dois milhões, no últi-mo edital disponibilizou o do-bro do valor. O BNB, que vinha destinando três milhões, passa após a parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), firmada em 2009, a seis mi-lhões. A Secult salta de um para oito milhões de reais em investimentos na área.

Mesmo com o aumento dos valores destinados aos editais de cultura, muito há de ser feito, tanto pelos órgãos governamen-tais, como pelos próprios artis-tas e realizadores. O fotógrafo Tiago Santana explica: “quanto ao montante de recursos, claro que desejamos que sejam cada vez mais ampliados. Mas para cobrar isso precisamos mostrar trabalhos, mostrar demanda e uma quantidade expressiva de bons projetos. Acho que o mo-delo de Edital onde o proponen-te tem um acompanhamento, um orientador, alguém que possa acompanhar o projeto em cada passo e que isso garanta

uma qualidade cada vez maior, é um bom caminho. Um proces-so educativo, coletivo e que pode trazer grandes resultados”.

AcompanhamentoO monitoramento dos pro-

jetos é um outro problema. Márcio Caetano, secretário executivo da Secultfor, afirma: “tenho consciência de que o nú-mero de pessoas responsáveis pela fiscalização dos projetos é insuficiente, por isso pedimos a colaboração dos contempla-dos”. Ressalta também que esta colaboração é fundamen-tal para a liberação das verbas. “Fala-se muito sobre a Prefei-tura, que ainda deve o repas-se dos recursos referentes ao edital de 2006, mas não sobre o fato de não terem prestado contas com a Secretaria de Fi-nanças do Município (Sefin).

E, infelizmente, desconfiamos que não o farão”, revela.

Geralmente, os selecionados nos editais de cultura recebem 80% dos recursos no início da execução dos projetos, e os 20% restantes quando entregam o trabalho concluído. No período de elaboração da obra, o artis-ta, dependendo do edital, terá de enviar aos coordenadores de cada área (audiovisual, música e fotografia, por exemplo) rela-tórios mensais ou bimestrais, comprovando o andamento da obra, juntamente com a presta-ção de contas.

Igor Câmara, coordenador da área de fotografia da Secultfor, confirma a dificuldade de acompanhar os projetos. “Fico no pé dos fotógrafos, mas não posso obrigar ninguém a enviar os documentos”, conta.

Mas o que pode ser feito no sentido de coibir esse tipo de conduta? “A Secultfor não pode fazer nada, mas a Secretaria de Finanças (Sefin) pode en-trar com processo administra-tivo contra os artistas que não cumprirem o acordado, mas não queremos prejudicar os artistas, sabemos que muitos não são familiarizados com re-latórios e prestações de contas. Queremos resolver da melhor maneira possível, por isso eles ainda não sofreram esse pro-cesso. Isso acaba com a vida artística deles perante órgãos públicos”, diz o secretário exe-cutivo da Secultfor.

Danças, canções e oralidades foram conservadas entre as tribos, apesar do mito do desaparecimento Foto: raphael villar

A maioria dos artistas contem-plados pelos editais de cultura em Fortaleza questiona o modelo adotado e os atrasos na liberação dos recursos

Lucas Benedecti, Otávio Nogueira e

Raphael Barros

Primeiro passo: Conferência Municipal de Cultura Em busca de mudanças que aperfeiçoem as políticas pú-blicas para o setor cultural, a Secultfor realizará, de 27 a 29 de outubro, a III Conferência Municipal de Cultura.

Será discutida a implanta-ção do Sistema Municipal de Fomento à Cultura, cuja pro-posta é a elaboração do Pla-no Municipal de Cultura, nos moldes do que acontece com a saúde e a educação. O plano de metas, normas e critérios, determina fontes e montante de recursos, transformando a política para o setor cultural em Lei.

Implantado o sistema, te-remos o Fundo Municipal de Cultura, verba destinada es-pecificamente para esse fim. “Por exemplo: o dinheiro in-vestido em cultura hoje, como no caso dos editais, é uma escolha da Secultfor em re-passar uma parte do seu orça-mento, através da Sefin, para os artistas. Mas não é lei, não somos obrigados a fazer isso. Em 2008, não houve edital por questões eleitorais e polí-ticas. Se já houvesse o Sistema de Fomento, isso não aconte-ceria, pois um percentual dos impostos arrecadados pela prefeitura, como o IPTU e o

ISS, seriam obrigatoriamente destinados à cultura”, explica Márcio Caetano.

Uma retrospectiva das con-ferências anteriores sinaliza mudanças importantes no âmbito cultural. Na primeira delas, foi decidida a criação da Secultfor, já que os as-suntos relacionados à cultura eram tratados de forma difu-sa pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Forta-leza (Funcet).

Da segunda, surgiu o Con-selho Municipal de Cultura, votado e regulamentado pela Câmara dos Vereadores, que conta com a participação da sociedade civil, e possui po-der consultivo, deliberativo e fiscalizador junto à Prefeitura. Para a próxima, espera-se a implantação do Sistema Mu-nicipal de Fomento à Cultura, juntamente com o Plano Mu-nicipal de Cultura.

Nesse sentido, o secretário executivo acredita que é fun-damental uma maior partici-pação da sociedade civil, por meio do Conselho Municipal de Cultura, para pressionar e referendar a tomada de deci-são, além de uma maior arti-culação por parte dos artistas e realizadores.

Foto-montagem: Assembleia Geral, no Instituto de Fotografia (IFOTO), discute medidas a serem tomadas na III Conferência Municipal de Cultura Foto: otávio Nogueira

Tenho consciência de que o número de pessoas responsáveis pela fiscalização dos projetos é insuficiente, por isso pedimos a colaboração dos contemplados

Márcio Caetano

Secretário Executivo da Secultfor

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 20094

A maioria dos editais de cultura tem como objetivo democratizar a produção de bens culturais. Mas será que as verbas são suficientes na área cinematográfica para o Ceará? A descentralização dos editais culturais veio com a criação dos editais regionais. No Ceará, existem incentivos tanto por parte do Município (Secultfor), como do Estado (Secult) e do Governo Federal (BNB e MinC). A iniciativa é vista com bons olhos por Bárbara Cariry, que critica a situação anterior, em que ocorria a centralização das produções culturais no eixo Rio - São Paulo.

Bárbara, aluna do curso de Audiovisual na Universidade de Fortaleza (Unifor), contem-plada duas vezes pelos edi-tais do Ministério da Cultura (MinC), nas categorias “Rotei-ro” e “Filme Infantil”, afirma: “jovens realizadores precisam dos editais principalmente para exercitar seu olhar e criar seu cinema”.

Rosemberg Cariry e Petrus Cariry, cineastas e parentes de Bárbara, também acreditam nos editais como uma alterna-tiva necessária para se realizar cinema no Ceará. “Sem os re-cursos dos editais é quase im-possível ao pequeno produtor, ou realizador independente, fazer uma obra tecnicamente

bem acabada e com possibi-lidade de circulação no Brasil e mesmo no exterior”, avalia Rosemberg.

A sétima arte exige bons equipamentos e profissionais. Envolve produção, fotografia, técnicos, enfim, “é uma arte cara”, como afirma Bárbara. Conseguir patrocínio para um filme, principalmente para quem está começando, não é tarefa fácil. Desde 2003, no Estado, os editais surgem como oportunidade para novos artistas. Há espaço nos editais reservados para os que estão começando. Mas como chegar até lá?

Rosemberg, cineasta con-templado em vários editais, e ganhador do Prêmio BNB de melhor produção com temáti-ca nordestina, pelo filme “Pa-tativa do Assaré – Ave Poesia”, avisa aos novatos que é preciso um bom projeto para conseguir recursos dos editais. A origina-lidade do tema e a qualidade da proposta estética contam bastante para o cineasta, além de um projeto bem escrito e apresentado.

Da mesma forma pensa Pe-trus, que explica: “temas regio-nais e religiosos não influen-ciam na escolha dos projetos, já que existem vários editais para diferentes propostas de cinema e é essa pluralidade que forma

a identidade brasileira”. Petrus possui em seu cur-

rículo o premiado longa-me-tragem “O Grão” e o curta-metragem exibido no 19° Cine Ceará, realizado neste ano de 2009, chamado “A Montanha Mágica”, entre outros. Já foi contemplado em cinco editais, dois federais, dois estaduais e um municipal. Segundo ele, “o atraso na liberação da ver-ba, quando ocorre, atrapalha o processo de realização dos filmes, mas não impede a re-alização. Não impede porque o esforço surge por parte dos cineastas, que procuram par-cerias privadas e até ajuda de amigos na parte de equipa-mentos e produção”.

Contudo, sem os editais, Pe-trus acredita que a realização de sua filmografia seria muito difícil, pois no Brasil quem in-veste em cinema são os órgãos públicos e a parceria entre o ci-nema e a iniciativa privada ain-da está “engatinhando”. Para ele, “a maioria dos bons filmes produzidos no país foram fei-tos com editais de cinema ou fi-nanciamento público, desde os tempos da Embrafilme. Hoje é difícil para um realizador com um projeto mais autoral conse-guir verba de alguma empresa privada, porque eles entendem que este tipo de projeto não traz retorno comercial”.

O cinema debatido em família

O flautista Marcelo Leite, que desde 2004 participa de vá-rios editais culturais, acredita que os projetos com temas re-gionais são mais valorizados, tendo melhor aceitação nos editais culturais, principal-mente nos da Secult.

Ele, que tem 18 anos de carreira e já tocou em países europeus acompanhado da banda do Colégio Piamarta há alguns anos, nunca deixou de lado a terra natal, Forta-leza. Seguindo carreira solo, Marcelo relembra os editais que já participou, gravação e lançamento de CD pela Secult e Funcet, e o Projeto Música Instrumental do BNB, que lhe cedeu espaço para apresenta-ções em Fortaleza (CE), Cra-to (CE) e Souza (PB), desde 2005.

Apesar de ter sua música geralmente “aceita” nos edi-tais pelo gênero que toca, afir-ma que “(os editais) deixam um pouco de lado os (temas) contemporâneos e até mesmo os que eles não acreditam se-rem nordestinos, como o cho-ro e o samba”.

Da mesma opinião compar-tilha o saxofonista Bob Mes-quita, reconhecido como um dos mais talentosos instru-mentistas cearenses da nova geração. Bob já participou do grupo “7+ Quarteto”, contem-plado por um edital de músi-ca instrumental da Secult. Ele acredita que não há espaço para alguns ritmos estrangei-ros, como o jazz norte-ameri-cano tradicional. Para o músi-co, o jazz só ganha espaço se vier misturado à música brasileira. Mas isso não é o que fala Marcia Araújo, do Sistema Estadual de Cul-tura da Secult. Ela confir-ma que todo projeto tem vez nos editais, basta ter qualidade.

Todavia, Bob admite que a política dos editais é o meio mais eficaz de mostrar os no-vos valores musicais da cidade, pela possibilidade de divulga-ção rápida por todo o país, pois esta política é algo que vem se

espalhando por várias regiões do Brasil. Os editais, para ele, também são uma forma de combater a produção musical que objetiva somente o lucro, preservando uma identidade de nossa música.

Para os músicos, o atraso no repasse de verbas dos editais também não é novidade. Lucas Gurgel teve sua banda contem-plada no edital da Secultfor de 2008. Sua banda, a Clamus,

que toca heavy-metal, esti-

lo raramente visto em editais culturais, conseguiu algo sur-preendente, e foi contemplada com um projeto para produção de seu CD. Mas a prensagem dos CDs atrasou por falta da segunda parcela dos recursos, de responsabilidade da Prefei-tura.

Lucas, que é membro da ONG Associação Cultural Cea-rense de Rock (ACR), observa que bandas de rock também possuem espaço nos editais, principalmente nos da Prefei-tura. Ficou surpreso com a con-templação de sua banda, mas

desanima quando o assunto é o repasse de verbas.

Marcelo Leite enxerga os editais como “algo a

mais” para os músicos que estão começando. E diz que muitos esbar-ram na complexidade de certos editais, pois “alguns são cheios de

normas e burocracias, que somente músicos

com um suporte de uma produtora, ou algo pareci-

do, é que encaram”, afirma.

Clã: o cineasta Rosemberg Cariry acima, e seus filhos Petrus e Bárbara, que seguem o mesmo caminho Fotos: arquivo BárBara Cariry (aCima e Direita)

e Kelly Freitas (esquerDa)

Na música: Marcelo Leite e Bob Mesquita, músicos contemplados por editais, à esquerda. E a banda de Heavy-metal, Clamus

Fotos: otávio Nogueira (esquerDa) e Kátia sampaio (Direita)

Vários gêneros musicais ganham espaço

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 2009 5

De maneira geral, a produção cultural de Fortaleza move-se em grande parte por editais de arte. É o “efeito edital”, que impulsiona a cena cultural da cidade, com incentivos do Município, do Estado e do Go-verno Federal, na maioria dos projetos realizados.

Para ilustrar o que foi dito, basta lembrar que logo no início do segundo semestre de 2009, no dia 19 de agos-to, tivemos o lançamento do livro e da exposição de fotos “José Albano – 40 anos de fo-tografia”, que é o primeiro da coleção “Obra em Revista”, contemplada pelos editais de cultura e que pretende reunir o trabalho de outros fotógra-fos cearenses.

Logo depois, no dia 20, veio “Santa Teresinha: O morro de uma cidade”, livro fotodocu-mentário, de Fernanda Olivei-ra, patrocinado pelo edital das Artes da Fundação da Cultura, Esporte e Turismo de Fortale-za (Funcet, hoje Secultfor), em 2006, e recebeu Prêmio de In-centivo às Artes da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), em 2007.

Agora em setembro, no dia 3, foi o lançamento de mais um projeto que recebeu o pa-trocínio da Prefeitura Muni-cipal de Fortaleza, através da Secultfor: “O Livro das Horas da Praça do Ferreira”, por Jarbas Oliveira e José Mapu-ranga, que reúne fotos e textos sobre a praça mais conhecida da cidade.

A fotógrafa Fernanda Oli-veira destaca a importância dos editais: “Com os editais foi possível viabilizar a publica-ção de duas obras, fato que me permitiu concretizar projetos

que contribuem com a produ-ção cultural no Estado, e tam-bém com a formação do pú-blico”. Fernanda diz que uma parte das obras publicadas será destinadas a bibliotecas públicas, como um incentivo para a juventude redescobrir a cultura local.

CríticasSérgio Carvalho, ex-presi-

dente do Instituto de Fotogra-fia (IFOTO), entidade privada que tem como objetivo o fo-mento da atividade fotográfica em Fortaleza, e contemplado pelo Edital das Artes 2006 de fotografia da Funcet com a ex-posição “Docas do Mucuripe”, apresenta uma série de proble-mas na política cultural do es-tado e município. Na opinião dele, “os editais públicos vem apresentando graves deficiên-cias, tais como: montante de recursos insuficientes, valor destinado para cada projeto aprovado muito baixo e atra-sos frequentes no pagamento dos contemplados”.

No edital estadual, segun-do Sérgio, o valor destina-do à fotografia não passa de R$150.000,00, sendo obriga-toriamente 50% aplicado no interior e 50% na capital. Tal medida às vezes gera impas-ses, pois, no último edital do Estado, não houve projetos de fotografia selecionados no in-terior do Ceará. Infelizmente, segundo a Secult, o dinhei-ro não usado no interior não pode ser utilizado no edital da capital. A verba vai para o Fundo Estadual de Cultura e é utilizado no decorrer do ano em outras atividades cultu-rais. Essa falha, admitida pela Secult, está sendo corrigida.

O atraso no repasse das verbas já virou história den-tro do IFOTO, que aguarda há seis meses o pagamento do Estado do Ceará para ini-ciar o projeto “Fotobiogra-fia”, selecionado no último edital. Mas Carolina Duram, técnica do Sistema Estadual de Cultura da Secult, falou por telefone que o dinheiro do projeto Fotobiografia do Ifoto já foi repassado des-de 25 de agosto deste ano. A demora no repasse acontece devido à limitação de fun-cionários dentro do setor de finanças. Falta agora ao Ifoto apenas a prestação de contas, afirma Carolina.

Mudanças nos editais defotografia são necessárias

Contemplados: os fotógrafos Sérgio Carvalho e Fernanda Oliveira e os carta-zes de suas exposições ao lado. Fotos: otávio Nogueira (aCima e esquerDa) e arquivo FerNaNDa

oliveira (aBaixo à Direita)

Visões de quem já julgou projetos

BNB e BNDES firmam nova parceriaPara os anos de 2010 e 2011, um convênio no valor de R$12 milhões firmado entre o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiará os editais culturais no Nordeste, Norte de Minas Gerais e Espí-rito Santo (área de abrangên-cia do BNB). Serão investidos, a cada ano, R$6 milhões no “Programa BNB de Cultura – Em parceria com o BNDES”. O principal motivo da parceria vem do interesse do BNDES em descentralizar territorial-mente os bens culturais, além de promover o desenvolvi-mento sustentável nas partes mais necessitadas de investi-mento cultural do Nordeste.

EstratégiaPara isso, pretendem levar

recursos às cidades nordesti-nas com o Índice de Desen-volvimento Humano (IDH) abaixo da média do Nordeste e/ou o Índice de Exclusão Social (IES) acima da média do Nordeste. Os bancos ga-rantem que 50% dos recursos serão destinados a estas cidades. Outra parte do valor, calculada em 25%, será encar-regada de atender projetos cujas ações sejam realizadas em municípios incluídos no Programa Território da Cida-dania, do Governo Federal, que tem o intuito de levar desenvolvimento econômico e universalizar os programas básicos de cidadania. Na área de atuação do BNB, existem 34 Territórios da Cidadania, englobando 586 municípios.

EscolhaPara a seleção dos projetos

culturais, são considerados os seguintes critérios: quali-dade técnica e/ou artística; atendimento de interesse da comunidade; formação ou aperfeiçoamento profissional; viabilidade físico-financeira; condições de sustentabilida-de; ineditismo da proposta; e potencialidade de consolida-ção da imagem do BNB e do BNDES junto à sociedade.

O resultado da seleção dos que serão contemplados pelo edital 2010 está previsto para 30 de outubro deste ano. Es-tima-se 225 projetos contem-plados, sendo, no mínimo, 49 de música, 30 de literatura, 46 de artes cênicas, 33 de artes visuais, 18 de audiovisual e 49 de artes integradas ou não especificadas. O Programa BNB de Cultura, existente des-de 2005, já patrocinou 873 projetos nas cinco edições anuais anteriores, benefician-do 437 municípios, no valor total de R$13,5 milhões.

Fomento

Dificilmente Fernanda Olivei-ra teria publicado seu traba-lho sem o incentivo dos edi-tais, pois além do objetivo de fomentar cultura, eles abrem espaço para novos artistas e trabalhos mais experimentais, como afirma Tiago Santana, fotógrafo que já participou como jurado de editais e pu-blicou livros como “Benditos” (2000) e “O Chão de Gracilia-no” (2006).Considerado um dos grandes fotodocumentaristas brasilei-ros, Tiago foi escolhido pela curadoria do famoso Calendá-rio Pirelli para indicar nomes de novos fotógrafos das regiões Norte e Nordeste para partici-par do acervo da coleção. Foi

também presidente do IFOTO, onde teve contato de perto com a nova produção cearense de fotografia. Para ele, “o fundamental é que não nos detemos somen-te a trabalhos de fotógrafos já conhecidos e renomados, mas com ênfase a novos fotógrafos, a trabalhos mais experimen-tais, que são na maioria das vezes mais difíceis de serem viabilizados”. O incentivo para os novos fotógrafos dispostos a viabilizar seus projetos vem crescendo. Ainda segundo Tia-go, há editais específicos para o primeiro projeto, como no caso da Secult, com o edital “Revela Ceará Jovem”.

Quanto à questão dos te-

mas regionais terem privilégio na contemplação, o fotógrafo avisa: “existe possibilidade de propor projetos que, mesmo dentro da realidade local, sejam mais universais e que discutam a questão de uma visualidade contemporânea e global. Acho que tudo é possível no edital, se for proposto com coerência, com profundidade, com uma pesquisa séria”.

Contudo, Tiago destaca o fundamental na produção dos artistas: “o importante é que se está produzindo. Que se está possibilitando a fotógra-fos desenvolverem seus traba-lhos, com independência, sem interferências e com liberdade de expressão”

Tiago Santana participou da comissão julgadora dos editais Foto: Celso oliveira

Sérgio Carvalho

Os editais públicos vêm apresentando graves deficiências, tais como: montante de recursos insuficientes, valor destinado para cada projeto aprovado muito baixo e atrasos frequentes no pagamento dos contemplados

Fotógrafo, ex-presidente do IFOTO

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 20096

No ano de 2003, o povo bra-sileiro ganhou uma batalha: a efetivação da Lei Federal Nº 10.639, que garante a obriga-toriedade do ensino da his-tória e da cultura afro-bra-sileira em escolas públicas e privadas do Brasil. Em seis anos de vigor, pouco se fez para que a lei Nº 10.639/03 realmente fosse efetivada. Isto gerou a necessidade de, em maio de 2009, o Ministé-rio da Educação (MEC) lançar um plano de implementação do ensino afro-brasileiro em todos os municípios e estados do país.

O Plano Nacional de Im-plementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações Étni-co-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-bra-sileira e Africana foi lançado neste ano como resultado de uma parceria entre o MEC e a Secretaria Especial de Pro-moção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR).

Um balanço nacional da implementação da lei Nº 10.639/03, realizado pelo MEC no ano de 2007 revelou boas experiências desenvol-vidas para a implementação

da lei, porém a maioria de-las isoladas e não abrangen-do todas as redes de ensino. No final de 2008 foi criado então um Grupo de Trabalho Interministerial, instituído por iniciativa do MEC e uma série de organizações ligadas aos movimentos afroétnicos do Brasil, com o objetivo de desenvolver uma proposta de plano nacional que estabe-lecesse metas para a imple-mentação efetiva da lei em todo o território nacional.

“Quando queremos con-quistar e assegurar a concre-tização de direitos, não basta aprovarmos uma lei. A nor-ma legal é sempre importan-te porque positiva o direito e estabelece condutas obriga-tórias para todas as pessoas. Porém, é necessário lutarmos para que a lei, quando justa e legítima, seja efetivada e te-nha ampla aplicação nas rela-ções sociais, pois qualquer le-gislação pode cair no vazio”. Pelo menos é o que explica o advogado e presidente da Co-missão de Combate à Discri-minação Racial e de Defesa das Minorias da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Ceará (OAB-CE), André Costa, acerca da necessidade do plano de efetivação lança-do este ano.

Tempo de mudançaNo ano de 2008, a lei Nº

10.639/03 foi alterada pela Lei Federal 11.645, acrescen-tando também o ensino da história e cultura indígena.

Depois de anos de luta de

movimentos afroétnicos em todo o país, vê-se necessário o reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira e indígena como parte inte-grante e essencial na cons-trução da cultura brasileira. De acordo com o coordena-dor da Coordenadoria Espe-cial de Políticas para a Pro-moção da Igualdade Racial

(COPPIR), da Prefeitura de Fortaleza, Luiz Antônio Ber-nardo, a mudança deve acon-tecer principalmente na edu-cação do país, buscando-se também desconstruir o mito da democracia racial na so-ciedade brasileira.

Em Fortaleza, a COPPIR tem agido em parceria com a Secretaria Municipal de

Educação (SME) para dis-cutir e efetivar políticas de promoção da igualdade ra-cial na cidade, além de au-xiliar à efetivação da lei Nº 11.645/08. Pelo que afirma o coordenador da COPPIR, o Brasil inteiro está atrasa-do em relação à aplicação da lei. “A princípio, a lei pare-ce simples mas muda todo

Lei que obriga ensino afroétnico demora a ser aplicada Lei Nº 10.639/03 torna o ensino

da história e cultura afro-brasileira obrigatório nas escolas, porém são muitas as dificuldades para o seu cumprimento

Amanda Nogueira e Kelly Freitas

No estado do Ceará, a não efetivação da Lei Federal Nº 10.639/03 gerou, no ano de 2007, a necessidade de a Comis-são de Combate à Discriminação Racial e de Defesa das Minorias da Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Seccional Ce-ará (OAB-CE), ingressar com uma representação no Ministé-rio Público Estadual (MPE) para investigar os governos estadual, municipais e as instituições par-ticulares de ensino.

Segundo o advogado e pre-sidente da Comissão de Com-bate à Discriminação Racial e de Defesa das Minorias da OAB-CE, André Costa, a repre-sentação da Ordem gerou uma série de ações. Dentre elas, a recomendação enviada pela Procuradora Geral de Justiça do Ceará, Socorro França, para que todos os Promotores de Justiça investigassem nos res-pectivos municípios de atuação como estava a implementação da referida Lei; as audiências dos Promotores de Justiça da Educação e dos membros da

Comissão da OAB-CE com as Secretárias de Educação do Ceará e do Município de For-taleza e o incentivo para cria-ção do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico Racial do Ceará.

E ainda a justificação de di-versas escolas particulares pe-rante a Promotoria de Justiça da Educação sobre as medidas que estavam sendo efetiva-das por elas para concretizar a Lei e o debate realizado na sociedade cearense envolven-do diversos segmentos sociais, inclusive os meios de comuni-cação em geral.

Transformação De acordo com o técnico da

área de Ciências Humanas da Célula de Aperfeiçoamento Pe-dagógico (CEAP) da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), Paulo Venício Braga, desde o ano de 2006 o órgão vem abrin-do diálogos nas escolas, através de seminários, ciclos de pales-tras, para implementar os en-sinamentos e discutir com os

professores as metodologias de emprego da lei. “A Seduc ob-serva que a OAB tem o papel de alertar a Secretaria para o com-promisso de implementação da lei. A Seduc tem agido de forma muito mais efetiva a partir da representação”, destaca.

A Secretaria Municipal de Educação também tem estabele-cido práticas afirmativas de apli-cação da lei. Segundo o Coorde-nador de Ensino Fundamental e Médio da SME, Arlindo Araújo, a secretaria tem executado ini-ciativas estruturantes, como ofi-cinas sobre o tema nas escolas municipais, formação com os professores, principalmente de história, e medidas de incentivo para que os professores da rede municipal de ensino participem do Movimento Negro que exis-te no Ceará. Além disso, a SME está reformulando a grade cur-ricular de ensino, com data pre-vista para término em abril de 2010. Ela contemplará na ínte-gra o que a lei determina sobre o tema.

A equipe do Jornal Sobpres-

são entrou em contato três vezes com o Sindicato dos Estabeleci-mentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe - CE). A enti-dade ficou de retornar as nossas ligações. Mas até o fechamento desta edição, o sindicato não se manifestou a respeito da Lei afroétnica.

“Quando todas as escolas públicas e particulares tiverem professores aptos a ministrarem aulas sobre o tema, eventos e campanhas permanentes contra o racismo, o preconceito e a dis-criminação raciais, poderemos dizer que realmente aconteceu uma mudança”, assegura o ad-vogado André Matos.

OAB acompanha implementação da legislação no Ceará

As aulas sobre a história e a cultura afroétnica auxiliam a diminuição de preconceitos e discriminações Foto: Kelly Freitas

Coordenadoria Especial de Po-liticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Coppir): tel: (85) 3452.2355

Comissão de Combate à Discri-minação Racial e de Defesa das Minorias da Ordem dos Advo-gados do Brasil, Secção Ceará (OAB-CE): tel: (85) 3224-8612

Serviço

Pesquisas realizadas pelo Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Insti-tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) traçam o per-fil econômico e educacional das populações negra, branca e indígena do país. Veja os dados a seguir:

191 milhões é o número de brasileiros.

94 milhões é a quantidade estimada de negros no país.

Existem 734 mil indígenas em todo o território nacional.Atualmente, os negros ga-

nham, em média, 53% da renda dos brancos.Os negros têm, em média,

pouco mais de sete anos de estudo.Para os brancos, essa mé-

dia sobe para quase nove anos.A média de estudo entre os

indígenas é de 3,9 anos.

Saiba mais...

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 2009 7

Uma escola pública no bair-ro Bonsucesso, em Fortale-za, pode ser considerada um exemplo para outras institui-ções de ensino. A Escola São José do Pici das Pedreiras ins-tituiu uma disciplina dedicada ao ensino da história e cultura afro-brasileira.

A coordenadora pedagógi-ca, Fátima Helena da Silva, ex-plica que a disciplina diversifi-cada de história afro-brasileira já faz parte do mapa curricular do 5º ao 9º ano do Ensino Fun-damental. “Acho boa a ideia de ensinar esta disciplina porque os alunos conhecem melhor a cultura afro. E, [com] ela sendo trabalhada no dia-a-dia, o alu-no fica muito mais consciente”, afirma Fátima Helena.

Compreender as origens, bem como a formação do povo brasileiro são os objetivos da disciplina. A metodologia é de-senvolvida a partir de livretos distribuídos nas escolas, pelo Ministério da Educação (MEC), de pesquisas na internet, e de realização de seminários feitos

pelos próprios estudantes. Para o 5º ano, a disciplina

é oferecida uma vez por sema-na, sempre às sextas-feiras. Já para os estudantes do 6º ao 9º ano, o conteúdo é passado jun-to com a disciplina de história, sendo uma semana sobre a his-tória tradicional, e outra sema-

na trazendo o conteúdo afro-étnico. “Eu gosto da disciplina, e acho muito importante”, afir-ma Andriele de Paiva, estudan-te do 6º ano da escola.

A disciplina “História afro-brasileira” é estudada de acor-do com o nível de cada série. Nela são abordados temas como hábitos, costumes, comi-das e tradições culturais afro-étnicas.

A Escola Estadual de Ensino Fundamental São José do Pici das Pedreiras mantém cerca de 500 estudantes matricula-dos, do 5º ao 9º ano, vindos de bairros como Genibaú, João XXIII, Granja Portu-gal, e do próprio Bonsucesso.

Lei que obriga ensino afroétnico demora a ser aplicada

Cultura africana: cores e tons enraizados na história brasileira Foto: sxC.hu

O ano de 2008 marcou um tempo de conquistas históricas que o homem empreendeu durante os últimos dois séculos. Comemo-ramos os 120 anos da Abolição da Escravatura, 60 anos da Decla-ração dos Direitos Humanos e 20 anos da Constituição Brasileira de 1988. No entanto, os documentos garantidores da tão sonha-da liberdade e igualdade ainda estão distantes de serem efetiva-dos na prática, principalmente para as camadas mais excluídas da sociedade, em especial os afro-descendentes que ainda são vítimas de preconceito, discriminação e racismo.

O movimento pela libertação dos(as) escravos(as) aconteceu bem antes do 13 de Maio e representou a luta dos(as) negros(as) pela liberdade. Porém, tão sonhada liberdade não veio em conjunto com condições de vida mais dignas para essa popula-ção que desde sua entrada no Brasil, após ter sido arrancada de seu continente de origem, sofreu as mais variadas espécies de humilhações e castigos, ferindo seus direitos e sua dignidade. Os negros(as) libertaram-se das correntes, mas outros meios de opressão lhes foram impostos pela classe dominante: dificul-dades de acesso aos sistemas de saúde e de educação, dentre outras privações não menos significativas.

No aspecto educacional, ainda hoje são alarmantes os nú-meros ligados à evasão, abandono e repetência e os índices educacionais são baixíssimos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Uma iniciativa empreendida pelo Movimento Negro significou a possibilidade de reparação para essa população ain-da vítima do processo histórico: a publicação da lei nº 10.639/03 que obriga o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas da rede oficial é uma possibilidade de empodera-mento dos negros(as) brasileiros(as).

A lei 10.639, embora publicada em 2003, tem dificuldades de efetivação, pois faltam uma série de condições que passam por falta de material didático pedagógico, capacitação de profissio-nais da educação, financiamento, dentre outros motivos que im-possibilitam uma prática positiva do conteúdo da lei nas escolas, sendo necessária uma sensibilização e mobilização de todos os atores envolvidos e, principalmente, políticas públicas garantido-ras dos direitos conquistados.

Márcia de Albuquerque é formada em Letras pela UECE, em Direito pela UNIFOR, faz parte do Fórum Estadual Permanente de Educação para as Relações Étnico-Raciais,

e é diretora do Centro de Educação de Jovens e Adultos Prof. Moreira Campos.

Opinião

Lei 10.639/09: desafios e possibilidades

Márcia de Albuquerque

História afro-brasileira na escola

As aulas sobre a história e a cultura afroétnica auxiliam a diminuição de preconceitos e discriminações Foto: Kelly Freitas

o currículo escolar. Se não fosse a criação de vários or-ganismos [secretarias, con-selhos, grupos organizados, movimentos negros e de edu-cação étnico-racial, dentre outros] que estabelecessem uma série de critérios e nor-mas para aplicação da lei, ela não se aplicaria mesmo não”, destacou Luiz Bernardo.

Ensino transversalO ensino da história e da

cultura afro-brasileira e in-dígena deve ser realizado e planejado nas escolas pelos próprios professores. A lei es-tabelece que o ensino da ma-triz africana e indígena seja transversal, ou seja, que deve perpassar o conteúdo de to-das as disciplinas. Porém, na prática, segundo a diretora do Centro de Educação de Jo-vens e Adultos (CEJA) Prof. Moreira Campos, e represen-tante do Fórum Estadual Per-manente de Educação para as Relações Étnico-raciais, Már-cia Albuquerque, a respon-sabilidade do ensino acaba recaindo sobre os professores de história, literatura e artes.

De acordo com a doutoran-da em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em Cosmovisão de Matriz Africana, Rebeca de Alcântara e Silva, outro problema está na própria construção de uma cultura de preconceitos, que nos atin-ge principalmente na escola. “Como o Brasil é um dos paí-ses mais racistas do mundo e não tem na cultura brasilei-ra, a educação étnico-racial, os professores, os gestores educacionais ainda não en-tendem que além de ser uma lei, ela é fundamental para a formação das mentalidades brasileiras”, destaca.

Espera-se que a lei seja algo que auxilie as futuras gerações a compreender as diferenças étnico-raciais e a não suscitar preconceitos

nem discriminações. “Se nós negros, brancos, indígenas, todas as etnias que compõem a sociedade brasileira, tiver-mos uma adequada educação para que a gente tenha rela-ções étnico-raciais positivas, será um bônus que nós tere-mos futuramente. É enten-der que existe diferença não só social, de classe, mas que existem diferenças étnicas. Que nós não somos iguais, mas que todos temos direitos iguais”, ressaltou Rebeca.

DívidaPassaram-se 120 anos des-

de que a Lei Áurea concedeu liberdade a todos os escravos do país, e fora ela, outras con-quistas já haviam sido imple-mentadas como a lei do Ven-tre Livre, dos Sexagenários, e a Eusébio de Queirós. A pro-fessora Márcia de Albuquer-que lembra que todas não fo-ram algo dado, foram direitos conseguidos por várias parce-las da sociedade que lutavam por sua promulgação.

Porém, a alforria gerou o começo de uma outra era de desigualdades sociais, onde os negros, libertos e expulsos das áreas cafeeiras e dos en-genhos, passaram a não ser-vir mais para o trabalho no qual antes eram exploradas.

Para a professora Márcia de Albuquerque, a lei que obriga o ensino afroétnico nas escolas públicas e parti-culares do país foi uma dívi-da que a história tinha com a construção da nossa identi-dade brasileira.

Escola São José do Pici das Pedreiras é exemplo em Fortaleza Foto: Kelly Freitas

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Não tem volta. Já está na boca do povo, virou pauta e fonte para a imprensa, caso de es-tudo científico e, não menos importante que isso tudo, já foi acessado por 15 % dos in-ternautas brasileiros, segundo pesquisa do Ibope, realizada em julho deste ano. Sem mais dicas ou especulações, estamos falando do Twitter, rede social em que os usuários podem, a todo instante, enviar mensa-gens em poucos caracteres, para seus seguidores e que tem se destacado entre as redes so-ciais mundo afora.

O modo fácil, simples e rá-pido de se comunicar está cada vez mais conquistando os usu-ários da internet nos ciberes-paços das redes sociais. Atual-mente, são mais de 62 milhões de pessoas conectadas à inter-net no Brasil, que faz do País o sexto em número de usuários no mundo, segundo dados da Organização das Nações Uni-das (ONU), divulgados em 2007. Indo mais longe, um estudo da IBM (International Business Machines) prevê que em 2012 existirão 800 milhões de usuários em redes sociais em todo o mundo.

Diante desse cenário, não se pode ignorar o crescimento desenfreado dessas novas fer-ramentas de interação. As pes-soas compartilham interesses, experiências culturais, cola-boram com a disseminação de bens simbólicos e encontram afinidades umas com as outras, nesse mundo globalizado.

Histórico A partir de meados da déca-

da de 1990, foram surgindo os primeiros blogs e, desde então, uma profusão de outros sites de redes sociais aconteceu. As-sim, em 2006, chegou o Twit-ter, criado por Jack Dorsey, com a ideia de divulgar pensa-mentos de forma instantânea e em poucas palavras. “O que você está fazendo agora?” é o que nos pergunta o Twitter. No entanto, há muito o meio ex-trapolou o objetivo inicial e se-gue ganhando novas maneiras de ser utilizado. “Geralmente, essas ferramentas são pensa-das para determinados obje-tivos, mas possuem ‘brechas’ que fazem com que os atores se

apropriem desses sites de tal forma que moldam o seu uso de acordo com os seus interes-ses”, afirma César Silva, publi-citário, twitteiro e mestrando em Comunicação na Universi-dade Federal do Ceará (UFC), pesquisador de sites de redes sociais.

É comum encontrarmos usuários que, por exemplo, aderiram o costume de ler jor-nais por meio do Twitter ou até mesmo de empresas que se valem da ferramenta para criar um vínculo direto com os clien-tes. “Para se ter ideia, o Twitter é a segunda fonte de acessos do nosso portal, só perde para os buscadores do Google”, afirma a equipe do site para estudan-tes de Jornalismo Manual dos Focas (www.manualdosfocas.com). As possibilidades, por-tanto, parecem infinitas.

Mapa de buracos O grande espaço e repercus-

são que o Twitter tem ganhado em toda a mídia contribui para que a rede seja uma importan-te ferramenta de mobilização social. Em Fortaleza, o caso expoente foi a campanha cha-mada #buracosfortaleza, tag (palavra chave) utilizada pelos usuários da rede social, blogs e demais curiosos para mape-ar todos os buracos da cidade, que à época encontrava-se com ruas e avenidas em situação crítica devido às fortes chuvas no período de abril e maio des-te ano.

A iniciativa partiu da indig-nação de um grupo de “twittei-ros” inconformados com a situ-ação da malha viária da cidade e do descaso das autoridades ante a situação. Foi então que Emílio Moreno (@emiliomo-reno, seu nome de usuário do Twitter) e outros twitteiros criaram um mapa no Google Maps e a divulgação começou a ser feita a partir dos blogs e microblogs. “Com o Twitter e as demais redes sociais, é fácil ajustar isso. A tecnologia pode e deve ser usada em favor dis-so”, comenta Moreno.

A mobilização foi geral e o #buracosfortaleza foi um im-portante exemplo de como essa ferramenta pode ser apropria-da para outras finalidades. As pessoas, por onde passavam, podiam registrar em imagens os buracos nas ruas. Depois era só pontuar no mapa e com-partilhar fotos ou vídeos com a informação do local. De acordo com Moreno, foram mais de 400 contribuições no mapea-mento e até meados de setem-bro deste ano mais de 165 mil visualizações. A repercussão foi tamanha que até rádios, jornais

impressos e telejornais locais divulgaram a ação dos inter-nautas. “Foi importante demais a participação de todos. Aquilo pressionou as autoridades e até a Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) usou o material para arrumar alguns buracos que estavam sob res-ponsabilidade dela”, conta o jornalista e twitteiro Marcelo Bloc (@marcelobloc).

Retorno oficialA manifestação política,

além da indignação geral da população fortalezense, cha-mou atenção do poder público da capital, mas não foi sufi-ciente para mobilizar e auxiliar as ações da Prefeitura Munici-pal de Fortaleza (@prefeitura-pmf). Para a Coordenação de Comunicação da Prefeitura, o movimento foi insignificante diante do problema enfrentado por mais de 2 milhões de habi-tantes da cidade.

A Operação Tapa-Buracos, iniciada em maio e com previ-são de término para novembro deste ano, não tinha um mape-amento exato dos buracos, em decorrência do tempo incons-tante e da precariedade das pistas, segundo informações do jornal O Povo. A operação ainda previa atender a reivin-dicações diretas da população nas últimas etapas da ação, mas a inciativa abarcada pela internet foi menosprezada. Diante disso, o mapeamen-to, construído coletivamente pelos próprios cidadãos, ou o uso de um mapa virtual oficial, não seriam uma importante ferramenta para a atuação efi-caz das entidades públicas? A Prefeitura não se posicionou a respeito dessa questão.

Com criatividade e apenas 140 caracteres, os usuários de uma rede social virtual descobriram uma nova maneira de se manifes-tar e exercer a cidadania

Mariana Fontenele e

Monique Linhares

Buracos de Fortaleza podem ser marcados no mapa virtual, além do registro de fotos e vídeos para denúncias Foto: WalesKa saNtiago

O que é possível fazer em 140 caracteres

@flaminio10 - Jornalista

O acesso à informação e interação. Inclusive com as fontes e emissores de informação. Tudo num ambien-te descontraído, ágil e objetivo.

@elisiannecampos - Estudante de Jornalismo

Uso o Twitter pra transmitir e receber notícias curtas, e como treinamento na hora de escrever títulos (já que ser sucinta é uma meta!).

@gabsramalho - Designer gráfico, músico e publicitário

Uso pra me informar, compartilhar conteúdos, me rela-cionar com amigos e divulgar posts do blog. :]

@manualdosfocas - Blog Manual dos Focas

Usamos para divulgar links e conversar com o nosso público. O número de respostas no twitter é bem maior que o de comentários no site.

@yurileonardo - Estudante de Jornalismo e blogueiro

Me comunico, acompanho quem acho interessante (de desconhecidos a ídolos) e pesquiso MUITOS links através das hashtags.

@Heitor_Ferrer - Deputado Estadual (PDT -CE)

Mantenho contato com o público, presto contas de minhas atividades, recebo informações.

@jujubadelimao - Estudante de Jornalismo

Twitter serve para divulgar ideias, pensamentos e até estado de espírito! Compartilhar achados na internet e bater aquele papo!

@georgemacedo - Estudante de jornalismo

Uso para compartilhar conteúdo e insights de forma ágil, tentando acompanhar o fluxo de informações na web. Não leve a sério o que escrevo.

@antoniofilhoa - Educador e fotógrafo

Uso o twitter para divulgar eventos, notícias, falar de coisas do meu cotidiano e para mandar recados para meus conhecidos.

Enquete

Que uso você faz do Twitter?

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 2009 9

O mapa virtual Wikicrimes (www.wikicrimes.org) é mais um forte exemplo do potencial colaborativo da rede mundial de computadores. O mapa uti-liza a interface do Google Ma-pas bastando apenas clicar no ponto exato do local onde so-freu ou presenciou um delito em sua cidade.

Surge aí uma nova maneira de fazer denúncias, que permi-te tanto a participação interati-va do cidadão quanto o registro de ocorrências, o desenvolvi-mento de estatísticas e a con-sulta aos dados armazenados acessível a todos. A forma tra-dicional de denunciar um cri-me é necessária, pois é o exer-cício de cidadania que obriga as entidades públicas a monitorar a segurança e articular ações de prevenção e punição do crime, mas ainda tem suas limitações.

A transmissão de informa-ções sobre as estatísticas do crime são monopolizadas pe-las instituições policiais, e nem sempre são coerentes com a realidade. A subnotificação é o problema que reforça essa in-coerência e muitas das falhas do sistema de segurança públi-ca. Apenas um terço dos crimes

ocorridos no Brasil são regis-trados nas polícias, dado discu-tido no seminário de Gestão da Segurança Pública Municipal de 2006, no Rio de Janeiro.

“WikiCrimes pretende mu-dar a lógica tradicional do ma-nuseio da informação sobre crimes já ocorridos e considera que esta mudança está a mercê do próprio cidadão”, explica o criador do mapa, Vasco Fur-tado, professor universitário e PhD em Inteligência Artifi-cial. Aliando seu conhecimen-

to científico em computação à preocupação com a segurança pública do País, Vasco investiu na colaboração direta do cida-dão, através da tecnologia, na tentativa de mapear a realidade vivida nas cidades brasileiras e no mundo.

Os mais de cinco mil cola-boradores do mapa estão espa-lhados em vários outros países, também. Demonstra que a fer-ramenta é bem aceita e a ideia é apropriada até por órgãos públicos, como nos Estados

Unidos. Cerca de 500 departa-mentos de polícia usam algum software de mapeamento para registrar os boletins de ocor-rência, diariamente, e o acesso aos mapas, principalmente da população contemplada pelo projeto, é significativa.

Em seu blog (http://vasco.blogueisso.com), Vasco faz atualizações sobre seu projeto e avalia os resultados. Conta que até fez propostas para Secretarias de Segurança Pública do País, buscando

parceria, mas só recebeu respostas negativas. Foi uma sugestão da maioria dos usuários do mapa, em pesquisa que fez. O Sobpressão contatou a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Governo do Ceará (SSPDS) e, no entanto, a assessoria de imprensa afirmou que não tinha conhecimento da proposta, mas disse que uma reunião com Vasco será muito bem aceita. “Se for algo bom para a população e o Governo, podemos acatar”, explica a assessoria. “O Wikicrimes continua crescendo com a participação popular e de instituições que não são as oficiais de Segurança”, garante Vasco.

Assim como o mapa #bura-cosfortaleza, a interação com a nova ferramenta e a partici-pação do cidadão é uma pro-posta revolucionária para a intervenção social na realida-de. Contudo ainda deve evo-luir. “Percebemos que a idéia de colaboração possui apelo, mas isso não é suficiente para que as pessoas participem. Elas precisam ter algo que lhes atin-ja diretamente”, afirma Vasco.

Notificar e acompanhar ocorrências criminais em um mapa digitalizado são as propostas da ferramenta Foto: Divulgação

Wikicrimes: o mapeamento da cidadania

O agrupamento de atores sociais em rede na internet vem ga-nhando expressividade nos estudos que tratam da cibercultura. Nos últimos anos, tem sido possível acompanhar a profusão de sites de relacionamento que ocupam boa parte do nosso coti-diano. Assim, sites como Twitter, Orkut, Facebook, MySpace, Flickr, Fotolog e outros são vistos quase como lugares obrigatórios para demarcação de territórios. Não estar lá é andar na contramão. Porém, alguns pequenos detalhes que nos passam despercebi-dos podem nos ajudar a entender mais sobre o funcionamento dessas plataformas e dos usos que delas fazemos.

A primeira observação é que esses sites não podem ser cha-mados de “redes sociais”, porque na verdade, eles não as são de fato. São apenas sites, mas que tornam publicamente disponíveis esses agrupamentos que fazemos tanto no offline quanto no online, neste último caso quando já utilizamos essas plataformas. O termo correto para essas ferramentas é “sites de redes sociais”, como bem explica a professora Raquel Recuero em sua obra lan-çada ainda este ano, Redes Sociais na Internet (O livro pode ser baixado no endereço wwww.redessociais.net).

Nos sites de redes sociais, ainda segundo Recuero, o foco de atenção não está na formação de novas redes - embora é possível prever que elas irão acontecer - mas sim, nos modos como permi-tem a visibilidade das redes sociais, a manutenção dos laços esta-belecidos no espaço off-line. Portanto, uma reflexão que fazemos é que uma das motivações para a apropriação dos sites de redes sociais reside na manutenção de agrupamentos pré-existentes.

Isso nos faz entender outro ponto, este também levantado pela professora Recuero. Os atores utilizam sites de redes sociais diferentes para redes sociais diferentes e para construir valores diferentes. Isso nos ajuda a entender porque, de repente, a rede social expressa em um perfil de um usuário em determinado site não é a mesma quando acessamos o mesmo perfil em outra plataforma.

Cocluindo, esses sites e os usos que os atores deles fazem po-dem nos ajudar a entender como esses atores estão vislumbran-do e realizando novos agrupamentos sociais, novas formas de so-ciabilidade em rede. Essas apropriações não apenas nos permite entender como os usuários se relacionam com essas plataformas, mas podem nos fornecer pistas valiosas sobre o quê eles estão buscando. Informações? Conexões? Qual o seu palpite?

César Silva é publicitário e mestrando em Comunicação pela

Universidade Federal do Ceará.

Opinião

Online e offline: os agrupamentos sociais

César Silva

Web Social: o papel colaborativoA Internet apresenta-se como uma inesgotável fonte de in-formações que podem e devem ser compartilhadas. Sim, por-que atualmente a grande van-tagem das redes sociais está justo no fato de elas possibili-tarem o compartilhamento da informação.

Essa vocação colaborativa que a mídia social revela, dei-xa claro que não estamos ape-nas conectando conhecimen-to, mas pessoas. O que faz com que surjam algumas adversi-dades, mas também muitas inovações.

No infográfico ao lado, são apresentadas cinco dicas de Chris Brogan - referência quan-do o assunto são mídias sociais - para manter as redes sociais ativas, uma vez que não basta criá-las, é preciso estar presen-te, utilizá-las, atualizá-las.

Atualmente, muitas são as redes disponível na web. Veja um breve resumo de algumas das mais acessadas:

Orkut: site de relacionamen-tos que possibilita a criação de um perfil virtual. Os brasilei-ros são os que mais participam da rede. (www.orkut.com)

Flickr: Possibilita que os usuários compartilhem fotos, dentro de uma política de di-reitos autorais. (www.flickr.com)

Last FM: rede social voltada para a música, possui forte

presença brasileira e atual-mente tem cobrado pelo servi-ço. (www.lastfm.com)

Facebook: similar ao orkut, o intuito do Facebook é conectar pessoas, compartilhar informa-

ções. (www.facebook.com)

Youtube: um dos maiores su-cessos da web, o youtube possi-bilita que os usuários comparti-lhem vídeos em formato digital. (www.youtube.com).

Infografia

Fonte: Cultivate an Active Network (Chris Brogan)

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 200910

Segundo Telma Martins, su-pervisora do Núcleo de Pre-venção da SESA, a região de Sobral e Ibiapaba composta por 32 muncípios é uma área de grande extensão territorial e populacional. “Este é um dos motivos pelos quais têm muitos casos de AIDS. Dos 184 municípios, 94% têm pelo menos um caso notificado, ou seja, a infecção pelo HIV/AIDS já está bastante interiorizada”.

Nos projetos do Movimen-

to, a equipe investe no diálo-go e no esclarecimento. São realizadas dinâmicas, capa-citações, rodas de conversa e cirandas, atividades estas que são direcionadas para um en-tendimento profundo do que são essas doenças e como pre-veni-las.

As capacitações na Serra, que fazem parte do Projeto Tá na Mão, formam os chamados “Agentes de Prevenção”, qua-tro pessoas com cerca de 25

anos que circulam pela comu-nidade com preservativos e in-formações sobre as temáticas. Em cada comunidade é esco-lhido um local de acesso livre, como lanchonetes ou pizza-rias, para os jovens pegarem as camisinhas. “A nossa intenção é formar uma rede de preven-ção pela Serra”, diz Cristina. Até agora, o Movimento pos-sui atuação em Guaraciaba do Norte, Croatá, Tianguá e Car-naubal.

Várias são as iniciativas de-senvolvidas pela organização objetivando melhorar a vida dos adolescentes. No Projeto Contracepção e HIV, criado em 2008, são capacitados 20 jovens que realizam rodas de conversas mensais envolven-do a comunidade. O mesmo ocorre no projeto Metamorfo-se, que capacita 22 educadores sobre prevenção ao uso de ál-cool e outras drogas em Car-naubal.

O número de pessoas conta-minadas com Doenças Sexual-mente Transmissíveis e AIDS na Serra de Ibiapaba é 212, segundo dados da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde (SESA) di-vulgados em junho deste ano.

Esses números desperta-ram a preocupação de Cristi-na do Nascimento, técnica em DST-HIV, e José Helder Diniz, pedagogo e especialista em de-pedência química, presidentes do Movimento Novo Sol - tra-balho voluntário de prevenção às DST, Aids, drogas e gravidez na adolescência, criado em ju-nho de 2005, e com marcante atuação na serra.

Conforme Helder Diniz, o movimento tira jovens da ociosidade e melhora sua au-toestima. Além disso, as te-máticas trabalhadas ajudam a diminuir a vulnerabilidade, já que transformam o jovem ocioso em ativista na luta con-tra AIDS e outras doenças.

Ainda segundo ele, vez ou outra, os jovens são aborda-dos com informações sobre a AIDS, na sua maioria, de for-ma superficial. Por conta dis-so, acabam relaxando, já que falta, geralmente, uma inter-venção com uma metodologia mais aprofundada.

Cristina conta que há tempo desejava trabalhar com a pre-venção na região de Ibiapaba, mas tinha preocupação se o movimento seria bem compre-endido, principalmente por se tratar de um trabalho volun-tário, em um lugar onde, até 2006, ano anterior ao início do trabalho, haviam sido notifica-dos 177 casos de DST e Aids.

Porém, Cristina foi surpre-endida, pois a população do local adotou e apoiou a ideia do movimento.

O poder público dos muni-

cípios localizados na Serra da Ibiapaba convidou o Novo Sol, em 2007, para realizar as ati-vidades. São cedidos o espaço e a alimentação para o grupo. “A partir disso, começamos a articular com os jovens, divul-gar o movimento, fazer pales-tras, rodas de conversas em algumas escolas municipais e estaduais”, diz Cristina.

MobilizaçãoA juventude da Serra ficou

espantada quando o movi-mento apresentou as estatís-ticas que indicavam o núme-ro de pessoas infectadas com AIDS e DST na comunidade. Por isso, sentiram a necessida-de de obter mais informações sobre prevenção. Os encontros acontecem uma vez por mês.

Os contatos iniciais com os jovens acontecem por meio dos grêmios estudantis, que, caso apóiem a proposta, fazem uma promoção da atividade e

convidam outros adolescentes a participar. Mas os ativistas do Novo Sol deixam bem claro que “o movimento não é da es-cola, mas sim da serra”.

O movimento acredita que simplesmente distribuir pre-servativos não promove a pre-venção. Conforme Cristina, não é filosofia da iniciativa pensar que somente palestra ou campanha resolva alguma coisa. A intenção é realizar um trabalho continuado.

“A gente sabe que pegar um grupo de 20 jovens, trabalhar as temáticas e eles mesmos conversarem nos municípios deles e a gente fazer um acom-panhamento, isso sim vai dar resultado!”, explica a presi-dente.

Para realizar o trabalho em Ibiapaba, o Novo Sol conta com o apoio da Secretaria de Saúde Estadual e Municipal de For-taleza – que colaboram com o fornecimento dos preservati-vos e folders explicativos – as-sim como de uma empresa de ônibus, que cede passagens para que os representantes possam reunir-se com os jo-vens da comunidade.

Criado em 2005, o Movimento Novo Sol atua com o intuito de orientar e capacitar jovens da Serra da Ibiapaba na prevenção de DST e Aids

Ana Carla Calvet, Cleidinaldia Maia e

Mirtila Facó

Movimento voluntário combate a AIDS

HIV está interiorizado no Estado do Ceará

Os jovens que participam das capacitações são responsáveis por difundir ideias de prevenção de DST e AIDS Fotos: Divulgação

Outra ação que também está ligada ao movimento Novo Sol é o Candelight, ritual ecu-mênico em que são usadas velas, cruzes e mensagens com o objetivo de buscar a atenção dos governantes e da sociedade para a luta con-tra a AIDS. O Candelight re-lembra o número de vítimas do vírus e incentiva o apoio aos portadores e a prevenção da doença. No ano de 2008, aconteceu o primeiro ritual na Serra da Ibiapaba. Em Fortaleza, o evento já está em sua 27ª edição.

Casos de AIDS na Serra da Ibiapaba:Guaraciaba do Norte 52São Benedito 42Tianguá 35Ubajara 24Croatá 19Carnaubal 18Ibiapina 13Viçosa 09Total 212

Outros municípios:Fortaleza 5.421Caucaia 345Maracanaú 282Sobral 199Iguatu 81Aracati 72Juazeiro do Norte 67Total 9.660

Fonte: Informe Epidemiológico de Junho de 2009 - Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA)

Saiba mais...

Candelight e o Novo Sol

“Implantando planos de desen-volvimento social entre as comuni-dades de menor conhecimento e incentivar o uso de preservati-vos entre a população menos favorecida”.

Maurício Ramos, 23 anosEstudante de Eletrotécnica

“Acho que se investe muito em campanhas publicitárias, mas ainda se carece de campanhas in loco. Deviam ser distribuídos mais preservativos em comunidades carentes”.

Edson Costa, 27 anosJornalista e historiador

Enquete

O que é necessário para reduzir o número de casos?

Dos 184 municípios, 94% têm pelo menos um caso notificado, ou seja, a infecção pelo HIV/AIDS já está bastante interiorizada

Supervisora do Núcleo de Prevenção da

Secretaria de Saúde do Ceará

Telma Martins

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 2009 11

Intercâmbio acadêmico é uma excelente opção para melhorar a pronúncia e aprender novas palavras na prática. Ao fazer um intercâmbio nos Estados Unidos, além de trazer na ba-gagem experiência, vivência de cultura ou novas amizades, o estudante cresce bastante na fluência do idioma.

Falar inglês, hoje em dia, é de extrema importância para qualquer área profissional. Du-rante a viagem, Onnara Custó-dio pode praticar a língua in-glesa no trabalho, ao conversar com americanos e pessoas de todo o mundo, uma vez que

esse é o idioma oficial do país.Para a psicopedagoga Lívia

Lisboa, que também é coorde-nadora de um curso de inglês da Capital, a vivência com o idioma é válida para a fluência da oralidade e aquisição de vo-cabulário. “Já a estruturação das sentenças e o uso correto dos tempos verbais é necessá-rio o estudo”, afirma.

Segundo a coordenadora, uma experiência no exterior faz com que o estudante colo-que em prática o que já apren-deu em cursos de inglês. Para ela, em intercâmbio de traba-lho, o participante utiliza ape-

nas o inglês convencional do cotidiano.

Tendo conhecimento sobre o programa de trabalho da Disney, Lívia Lisboa ressalta que um dos pré-requisitos de participação é já ter boa flu-ência do inglês. Então, para a coordenadora, o aluno não vai estudar o idioma e sim usar o que já possui. “Dois ou três meses de vivência no exterior sem estudo formal do inglês não substitui a semestralida-de, caso o participante ainda seja um estudante em curso regular de inglês”, conclui a psicopedagoga.

Experiências trazidas de um intercâmbio acadêmico são lembradas durante toda a vida. Estudantes, que deixam sua família, amigos, cultura e seu país para vencer desafios, vol-tam com novos aprendizados e realizações em sua vida pesso-al e profissional.

Centenas de universitários participam de um programa de intercâmbio ao Walt Dis-ney World Resort, localizado em Orlando, estado americano da Flórida, durante dois, seis meses ou até mesmo um ano. Os estudantes trabalham em diversas áreas como vendas, recreação, serviço fast food ou em operações das atrações dos parques temáticos. Além da oportunidade e experiência do trabalho, os participantes têm entrada liberada em todos os parques da Disney e uma série de benefícios e descontos em compras dentro do complexo.

Trabalhar na Disney não sig-nifica alguns meses no exterior exercendo funções repetitivas durante o período do progra-ma. Para o estudante de admi-nistração Murillo Chaves, essa foi uma grande oportunidade para fazer novas amizades, obter independência, praticar a língua inglesa, além de co-nhecer todas as tradições e os bastidores do maior complexo de entretenimento do mundo. “Você aprende a conviver com pessoas de todo o mundo com-partilhando diferentes cultu-ras”, ressalta.

Segundo a representante da Disney em Fortaleza, Neiara Serra, todos os interessados

devem ter pelo menos 18 anos de idade, fluência na língua inglesa e estar regularmente matriculado em um curso de nível superior. Primeiramen-te, a equipe da agência STB faz uma pré-seleção com os participantes seis meses an-tes. “Em seguida, um time de recrutadores internacionais da Disney escolhe os novos estu-dantes que participarão do In-ternational College Program (Programa Internacional da Faculdade) com início em no-vembro e término em meados de fevereiro” (durante as férias de verão do Brasil).

Nova oportunidadeExiste também um outro

programa universitário de tra-balho na Disney conveniado com a Universidade de Forta-leza (Unifor) e a Universidade da Carolina do Norte. Neste, os alunos cursam um semes-tre acadêmico na Flórida, fa-zem um estágio remunerado no complexo Disney e podem aproveitar os créditos ao re-tornar à Universidade no se-mestre seguinte. O programa apresenta duas disciplinas

obrigatórias (Introdução aos conceitos de Negócios e Con-ceitos de Negócios Aplicados) e várias disciplinas opcionais. O trabalho é conciliado com o estudo. Sempre que há aulas na universidade, o participan-te não precisa trabalhar. “Esse é um programa novo aqui em Fortaleza em que somente alu-nos da Unifor poderão partici-par”, diz Neiara Serra.

Felipe Teixeira, aluno de Direito da Unifor, comenta sua participação nos dois pro-gramas à Disney como sendo excelentes oportunidades de fazer intercâmbio. Para ele, o aprendizado é superior ao ga-

nho salarial, cerca de nove dó-lares por hora de trabalho. Sem a pretensão de trazer dinheiro ao retornar ao Brasil, Felipe afirma que dá para se manter e fazer compras de caráter pes-soal, além da alimentação. “O que trouxe foi um grande di-ferencial no meu currículo que será lembrado para sempre como experiência na vida aca-dêmica”, conclui.

Participantes em atividades culturais durante o programa e Murillo em serviço em um parque da Disney Fotos: arquivo pessoal

Falar inglês: Onnara Custódio coloca em prática seus conhecimentos da língua in-glesa no trabalho Foto: arquivo pessoal

Universitários optam por intercâmbio na Disney

Estudantes que participam de intercâmbio acadêmico na Disney vivenciam novas culturas, fazem amizades e ainda praticam a língua inglesa Maurício Ponte

Estudantes comprovam aprendizado da língua

STB Student Travel Bureau tel: (85) 3266-2900

UNIFOR Vice-reitoria de extensão tel: (85) 3477-3253

Serviço

Aluno compartilha sua experiência de trabalho

Entrevista

Sobpressão: O que fez você participar de vários progra-mas de intercâmbio à Dis-ney?Bartolomeu Neto: Desde criança, eu tinha a curiosida-de de saber como era a vida fora do Brasil e experienciar uma nova cultura. Então fui trabalhar na Disney em 2004. Tive uma experiência maravilhosa, tanto é que re-tornei mais três vezes.

SP: Que realizações pessoais e profissionais você trouxe dessas viagens?BN: Além de realizar um so-nho de infância, tive a opor-tunidade de crescer como pessoa, morando em um país estrangeiro, e a chance de estudar na Universidade da Flórida. Os amigos que fiz me influenciaram bas-tante para procurar o meu aperfeiçoamento profissio-nal.

SP: Que momentos difíceis você enfrentou? BN: A primeira vez que fui ao exterior foi bastante desafia-dor. Tive dificuldade no in-glês. O meu trabalho exigia contato intenso com clientes de todas nacionalidades e os diferentes sotaques eram de difícil compreensão.

SP: Como é a divisão dos apartamentos e transporte? BN: A Disney nos fornecia moradia, na qual pagáva-mos um aluguel de 89 dó-lares semanais e transporte ao trabalho, supermercado, shopping center e banco. Os apartamentos eram di-vididos com estudantes de diversos lugares.

SP: Quantas horas você tra-balhava, em média, por se-mana?BN: A Disney nos garante 32 horas de trabalho por sema-na. Dependendo da época, essas horas passavam para 45 ou mais, podendo traba-lhar horas extras. O máximo que eu cheguei a trabalhar foram 78 horas, na semana do Natal.

Bartolomeu Neto, 25, estudan-te de enfermagem da Unifor, já participou de programas de intercâmbio na Disney e da última vez foi como guest relations (relações públicas), representando o Brasil.

Números

130 Universitários, aproximadamente, participam por ano do International College Program em Fortaleza.

2004 Ano de embarque do primeiro grupo de Fortaleza a participar do programa.

30% Número de participantes que voltam à Disney em outro tipo de intercâmbio acadêmico.

32 Média de horas de trabalho que a Disney disponibiliza para cada participante, podendo trabalhar horas extras.

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Neto: “senti-me orgulhoso em repre-sentar meu país” Foto: arquivo pessoal

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SOBPRESSÃOSETEMBRO / OUTUBRO DE 200912

Acabou o tempo em que fan-tasias eram usadas apenas no carnaval. Há quinze anos, esse tipo de vestimenta passou a ser usada também em festas de formatura, aulas da sauda-de, aniversários e até casamen-tos em Fortaleza. Antes disso, a maioria das fantasias eram bem simples com roupas adap-tadas ou tingidas. Hoje está mais acessível encontrar uma loja especializada em venda ou aluguel dessas peças, com fan-tasias criativas, engraçadas e bem produzidas.

Em Fortaleza, existem nove lojas especializadas em alu-guéis, vendas e fabricação de fantasias. Há dez anos, eram apenas duas lojas. Não se sabe quanto esse segmento movi-menta, os lojistas não soube-ram informar o seu fatura-mento ao certo. E os preços são bem variados, o alu-guel da mais sim-ples custa R$ 30,00 e a mais sofisticada pode chegar a custar até R$ 150,00. Segun-do a proprietária da Phantasias da Ópera, Adah Magalhães, a loja aluga, em média, por mês, 200 fanta-sias. Já as vendas são feitas por encomen-da e os preços va-riam de R$30,00 po-dendo chegar até R$ 1.500,00.

VariedadesCom oito anos

no mercado, o Ate-liê de Fantasias conta com mais de 2.000 fanta-sias de fabricação própria. Somente aces-sórios como perucas e al-guns chapéus são com-prados em São Paulo. A proprietária Maria Ama-zonina da Garcês cuida pessoalmente das peças. Tendo as ideias criativas e com duas costureiras, elas fazem as fantasias virarem realidade. “Cria-mos as fantasias que os

clientes querem, as mais pro-curadas são de super-heróis e personagens de filmes e qua-drinhos”, diz ela.

A Phantasias da Ópera está há apenas dois anos no mer-cado e já fabricou 90% das 850 fantasias do seu acer-vo. Adah Magalhães diz que bom gosto e cria-tividade são essen-ciais para a escolha do aluguel da fanta-sia. “O importante na escolha é ser original e sentir-se bem com a fanta-sia. Ela tem que estar confortá-vel no corpo também, para que (a cliente)possa curtir a festa despreocupada”, aconselha. Os estudantes Camila da Sil-va e Leonardo dos Santos estavam escolhendo suas fantasias para a festa de formatura da turma do 3º ano do colégio em que estudam. “A es-colha da festa foi feita por meio de votação em sala. Estou em dúvida sobre qual fantasia alugar, mas estou adorando a ideia da festa ser à fantasia”, explica Camila.

“O perfil dos clientes é bem variado, mas é composto prin-cipalmente por jovens e adul-tos”, informa Maria Garcês.

Apesar do sucesso das fantasias, existem

meses que quase não se aluga. São eles: mar-ço, maio e setembro. A época do ano em que

há mais procura é em agosto, mês em que ocorrem as semanas culturais dos colé-gios, e no final do ano, quando aconte-cem as festas de for-matura e aulas da saudade.

Em datas co-memorat ivas ,

as fantasias tam-bém são procura-das, mas durante o carnaval as lo-jas não alugam. “Quando vão para a folia, as pessoas

esquecem que es-tão com fantasias

alugadas e não to-mam cuidado, aca-

bam rasgando, sujan-do. Por isso optamos

por não alugar nessa época para evitar tan-tos prejuízos”, explica Amazonina.

A realidade do mercadode fantasias

Ateliê de Fantasias: Rua Conselheiro Tristão, 333 – CentroFone: 3235.3705

Phantasias da Ópera: Av. Heráclito Graça, 1105 – AldeotaFone: 3251.1176 – 8808.1091

Serviço

A fantasia teve início na Europa há cerca de dez mil anos. Naquela época, os europeus ofereciam festas aos deuses para agradecer a fartura na colheita e para homenagear a natureza. Eles começaram enfeitan-do o corpo, depois usando máscaras, imitando os ani-mais. No século XV, a Igreja proibiu essas indumentá-rias devido à falta de limites das festas.

No Brasil, as festas à fantasia tem uma influência norte-americana, da famosa festa do “Halloween” - tradi-cional comemoração, quan-do eles comemoram o Dia das bruxas, festejado em 31 de outubro, vestindo-se de bruxas e usando máscaras.

As festas à fantasia são uma tradição antiga que vai se modificando ao longo do tempo, à medida que os povos, as culturas e as civilizações vão encontran-do formas peculiares de fantasiarem-se e vivencia-rem o que não é permitido quando as verdadeiras más-caras estão impostas.

Saiba mais...

O começoda tradição

A procura e o interesse por fantasias têm aumentado nos dois últimos anos, segundo comercian-tes. Fortaleza já tem nove lojas especializadas nesse segmento

Carolina Barretto e Flaviana Farias

“Com certeza. As pessoas modi-ficam seu com-portamento nas festas à fantasia. Principalmente as pessoas que são tímidas, e esse tipo de festa dá oportu-nidade de você ser quem gos-taria de ser sem ficar forçado. Aí você pode fazer coisas que geralmente não fariam num evento mais comum. Como estão “mascaradas” e sentem como se não pudessem ser reconhecidas, elas agem de acordo com o personagem. Enfim, a fantasia é uma forma de disfarçar a timidez, e acho que tem gente que modifica o comportamento sim para se soltar mais.”

Joana Ponte Frota, 22 anosEstudante de Psicologia

Uma fantasia tem o poder de mudar o comportamento?

“Acho que não. O uso das fan-tasias não influi no comporta-mento das pes-soas, quando elas já tem uma personalidade bem definida e formada, ou seja, depende de cada perso-nalidade. Pessoas que não tem estilo experimentam de tudo e a festa à fantasia é uma boa forma de vestir vários persona-gens. Já fui a uma festa à fan-tasia, vestida de gatinha e isso não influiu no meu comporta-mento. Agi normalmente como eu sou, não mudando nem um pouco a forma de me com-portar. Acho que isso acontece com quem realmente não tem personalidade.”

Raissa de Oliveira, 19 anosEstudante de Direito

ConservaçãoE não é para menos, to-

das as peças de uma loja de-vem ser muito bem cuidadas e conservadas e ficar num lo-cal arejado, para que o mofo não venha a surgir. Segundo Adah Magalhães, toda loja desse segmento tem o proce-dimento igual com o aluguel das roupas. Primeiramente, elas são pagas antes

de serem le-vadas pe-los clientes, vão limpas e cheirosas. E quando a fantasia é de-volvida, é toda lavada com maior zelo com sabão líquido e, dependendo

do tecido, até lavagem a seco

é feita. De acor-do com Amazonina,

uma peça pode durar como nova até três anos em média, se for bem conserva-da. “Quando elas estão enve-lhecendo, você tem que trocar os enfeites, botar outros, tro-car mangas, descer a perna, mudar tecidos para que ela possa durar mais”, ensina.

Muitas pessoas incorpo-ram os personagens que ves-tem, não só com fantasias en-graçadas, mas também com originalidade, representação de temas regionais ou críticas bem humoradas aos fatos que ocorrem no mundo.

À carater: criatividade nos trajes garante a descontração das festas temáticas Fotos: Divulgação

Foto: Divulgação

Enquete

“Nunca fui a uma festa à fantasia, mas é meu sonho. Já pensei até na minha fantasia. Quero ir de tomate. Porque acho a fantasia muito linda. Acredito sim que a festa à fantasia é muito diferente de uma tradicional, e quanto mais extravagante a fantasia que a pessoa for, ela vai se comportar como tal. Um amigo me disse que foi fantasiado de gorila a uma festa. E ele incorporou o personagem, agindo como um gorila a festa inteira. Acredito, sim, que você possa mudar seu comportamento, e a fantasia diz muito do que você quer passar, mudando seu modo de agir.”

Dayse Mesquita, 18 anosEstudante de Publicidade