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Retirado de: Klepsidra [online] http://www.klepsidra.net/klepsidra26/agora.htm Acesso
04/02/2015.
A Ágora de Atenas: aspectos políticos, sociais e econômicos
Gláucia Rodrigues Castellan Bacharel e Licenciada em História/USP
“Se a arqueologia clássica pode ser definida como o
estudo da História e da cultura antigas através de
vestígios materiais, então a descoberta da Ágora de uma
cidade grega deveria ser um dos objetos principais do
escavador, pois assim aprenderá muito sobre história,
instituições sociais, comércio, arte, tecnologia e cultos de
um local.”[1]
Este artigo tem por objetivo mostrar o importante papel que a ágora de Atenas
desempenhava como o espaço público mais visado e valorizado da cidade-
estado grega. Era na ágora que as pessoas de uma mesma comunidade se
relacionavam, elas saiam de dentro de seus oikos e iam se reunir nesse grande
centro de circulação de produtos idéias e pessoas, ou seja, um ponto de
reunião – independente de haver troca de bens -, era este o sentido que a
ágora tinha.
Esta “praça” pública se caracterizava como um espaço construído, permanente
e fixo, que, tinha também um sentido político – era o lugar onde se deliberavam
assuntos importantes para a vida dos cidadãos e da sociedade como um todo.
Neste sentido, encontraremos uma contraposição entre os povos que tinham a
ágora e os que não a tinham. Estes últimos eram considerados bárbaros, pois,
na maioria das vezes, tinham como forma de governo a monarquia e, como tal,
não deliberavam, pois, entendiam não ser necessária a discussão uma vez que
apenas uma pessoa decidia por todas as outras.
A palavra ágora se originou do verbo agorien, que no século VIII a.C significava
discutir, deliberar, tomar decisões; mas com o passar dos séculos seu sentido
foi mudando e já no século IV a.C agorien significava comprar. Dessa forma, o
comércio pode ser definido na sua forma mais simples como uma circulação,
uma transferência de bens. Entretanto, para que essa movimentação possa
ocorrer, se faz necessário que haja pelo menos dois indivíduos envolvidos.
Assim, cada pessoa leva seus produtos e havendo o interesse e a
possibilidade eles trocam as suas mercadorias (essas trocas podiam envolver
ou não dinheiro).
No entanto, se fazia necessária a existência de um espaço físico para
que essa transferência de bens pudesse acontecer. Dois locais eram
preferencialmente utilizados pelos antigos gregos para tal transferência: as
ágoras e os portos. Estes eram dois espaços físicos em que se materializavam,
se concretizavam as relações entre os homens. Na ágora, eram realizados
diversos tipos de trocas, e no porto muitos tipos de materiais e objetos eram
levados para serem transportados através da via marítima.
1. Templo inacabado de Zeus5. Altar dos 12 heróis9. Monumento aos heróis epônimos13. Heliaia17. Trajeto das panateneas21. Propileos25. Stoa de Atalo
2. Edifício inacabado6. Stoa de Zeus10. Tholos14. Stoa sul18. Pnyx22. Atenea Promacos
3. Stoa pintada7. Teseion11. Strategeion15. Fonte sudeste19. Areópago23. Erecteion
4. Stoa de Hermes8. Bouleteyon12. Fonte sudoeste16. Mint20. Atenea Nike24. Partenon
De acordo com Vidal Naquet e Austin em Economia e Sociedade na Grécia
Antiga, a exploração da atividade econômica com fins fiscais remonta à época
arcaica. Na época clássica:
Atenas utilizará esses métodos com tanto mais êxito quanto, com a
expansão do poderio ateniense, depois das guerras médicas, o Pireu se
tornou, não só, o mais importante porto militar da bacia oriental do
Mediterrâneo, mas também o maior centro econômico. O poderio e a
prosperidade de Atenas atraíam a ele comerciantes vindos de todos os
lados à procura de um mercado onde tudo se podia vender e comprar. As
fontes atenienses da época clássica não deixam de sublinhar a variedade
de todos os produtos estrangeiros, que se encontravam em Atenas. Mesmo
depois do desastre da guerra do Peloponeso, o Pireu não perdeu de modo
nenhum o seu papel de grande centro econômico; foi em parte isso que
permitiu a Atenas ultrapassar os momentos mais graves da crise financeira
que rebentou após a guerra do Peloponeso. O principal imposto no Pireu
era a taxa no valor do cinquentésimo (dois por cento), cobrada sobre todos
os produtos, exportados e importados, e fosse qual fosse a sua origem.
Outros impostos eram cobrados sobre as mercadorias vendidas na ágora
de Atenas, sobre os estrangeiros que aí vinham praticar o comércio, sobre
as vendas pelo Estado de bens que lhe pertenciam (por confiscação, por
exemplo), etc.”[2]
Na sua forma mais simples, a ágora pode ser definida como uma grande
praça aberta utilizada para funções públicas. Era nesse local que um grande
número de cidadãos se encontravam para diversas atividades, assembléias,
festivais, eleições, competições atléticas, desfiles, mercados, e similares.
Assim sendo, a ágora tornou-se o centro da pólis, pois os edifícios públicos da
cidade foram sendo construídos ao redor do lugar onde as pessoas
freqüentemente se encontravam.
Podemos dizer que a ágora grega foi a precursora do fórum imperial
romano, das grandes “piazzas” e praças das capitais da Europa. Ao redor
dessa praça, acontecia um grande número de atividades religiosas, sociais,
comerciais, judiciais, legislativas e administrativas, que tornaram a ágora o
coração de uma cidade antiga. Dessa forma, como todas, a ágora de Atenas
acomodava todos os aspectos da vida antiga.
As primeiras ágoras eram abertas para a comunidade e o acesso era
livre. Havia uma tendência de se estabelecer esse “ponto de encontro” nas
encruzilhadas ou nas principais vias da cidade. De acordo com Finley:
“(…) A região rural grega estava cheia de pessoas, mas arquiteturalmente
vazia. Excetuando alguns complexos ocasionais de templos construídos
longe das cidades, o edifício significativo só existia nos grades centros.
Com o decorrer dos tempos, a população foi aumentando de tal forma que
o conjunto adquiria por norma uma configuração muito desordenada. As
muralhas eram fortes, mas, irregulares e as portas muitas vezes não levam
às principais artérias interiores. (…) As ruas eram estreitas e tortuosas. A
praça pública, a ágora, tendia a tornar-se num caos em redor das esquinas,
porque os edifícios se apertavam uns aos outros, havia uma invasão das
mesas do mercado e as estátuas e pedras dedicatórias eram colocadas por
todo lado. Atenas é um bom exemplo: aparte a existência de uma
superfície aberta sem pavimento, com cerca de dez acres, em pleno
centro, não consegue discernir-se uma única idéia por detrás da arquitetura
de sua ágora. Ou então, a desordem de Delfos onde, o Caminho Sagrado -
que levava à colina do principal Templo de Apolo - era delimitado por
edifícios e objetos dedicatórios que se acumulavam século após século,
enquanto os antigos se desfaziam e alguns eram demolidos.”[3]
Em meio a todo esse “caos” urbano, a ágora surgiu como um espaço aberto
que aos poucos foi se fechando, pois, com o passar do tempo a cidade antiga
foi se organizando e esta passou a ter um tamanho delimitado de acordo com
os quarteirões e o plano ortogonal. Esta idéia de um plano regular foi atribuído
– na tradição clássica – a Hipodamo – natural da região de Mileto e, que teve
seu auge em meados do século V a.C – Hipodamo surgiu como um
reformador, um planificador e um teórico político utópico. Aparentemente, foi
lhe concedida alguma oportunidade de aplicar as suas idéias no Pireu (porto de
Atenas) e talvez ainda em outros sítios. No entanto, a resistência foi forte e, por
algum tempo, com êxito. Tal resistência se devia ao fato de sua abordagem ser
demasiado abstrata e formalmente matemática, pouco ligada ao terreno grego -
muito irregular como habitualmente era - ou à maneira como os gregos viviam
e funcionavam.
Entre outras coisas, como Aristóteles sublinhou “(…), levantavam-se
objeções graves de um ponto de vista militar: a velha disposição desordenada
das ruas e construções, sempre confundia e enredava os invasores, quer ao
tentarem entrar, quer ao procurarem encontrar saída.” [4] E, em um plano mais
geral, as cidades-estado gregas se deparavam com um outro problema; a falta
de organização e finanças para por em prática tais esquemas. O fizeram ao
longo do tempo na dependência das circunstâncias, dos estados de ânimo e do
estado do tesouro em todo momento.
Um exemplo interessante e raríssimo é a cidade de Olinto - construída
na segunda metade do século V a.C, na margem nordeste do Mar Egeu – trata-
se de uma cidade clássica com uma disposição regular. No entanto, a
mudança decisiva se deu na época helenística que contemplou o triunfo da
regularidade planeada, anunciada pela reconstrução de Priene na Ásia Menor,
iniciada pouco antes de Alexandre.
De acordo com Finley:
“Quando se examinam com maior cuidado os projetos helenísticos, surge
um outro traço muito significativo. A ágora apresenta-se agora fechada nos
quatro lados, como que para proclamar através desta simples evolução
arquitetônica que a livre movimentação e reunião do povo eram coisas do
passado. Não só era esta a regra nas novas fundações dos monarcas e
dos tiranos helenísticos, mas também se espalhou por todo mundo grego
antigo. Em Atenas, a construção que mais dramaticamente caracteriza a
nova era é a stoa de dois andares, com mais de 125 jardas de
comprimento, doada por Atalo II, rei de Pérgamo de 159 a 138 (…).
Simples, de início, a stoa tornou-se gigantesca, cheia de lojas nas
traseiras, o edifício dominante da ágora.”[5]
A ágora era circundada por longas stoai, que nada mais eram do
que largos pórticos abertos que protegiam o visitante do frio e do calor ao
mesmo tempo em que traziam luz e ar. Além disso, as stoai preenchiam
importante função social na vida da cidade, pois eram nesses locais que os
cidadãos se encontravam para discutir negócios, política, ou filosofia.
Nos edifícios como a Stoa Real e a Stoa do sul I, estavam os
responsáveis pela administração diária da cidade. Os legisladores atenienses
diariamente se encontravam no Bouleuterion localizado em toda a extensão do
lado oeste da praça. Já no Metroon estavam guardados os arquivos centrais.
Os Foruns estavam localizados na parte nordeste e sul da praça; o que nos
mostra uma conexão entre a ágora e o poder judiciário. Todos os dias
aconteciam atividades comerciais nessa área nas formas de grandes
mercados, em pequenas lojas particulares, nas ruas, e na própria praça.
“Havia também um certo número da magistraturas que se ocupavam da
atividade econômica em geral, tais como, na Atenas dos século IV, os
agoránomos, os metrónomos, os sitofílacas e os inspetores do porto
comercial. Estas magistraturas exerciam diversas funções. Alguns deles
velavam, como vimos, pelo abastecimento de trigo (os sitofílacas e os
inspetores do porto), outros ocupavam-se mais em geral da política dos
mercados; nenhuma preocupação estritamente econômica aqui, mas
simplesmente de vigilância e de ordem. Era à mesma preocupação de
ordem que correspondia, sem dúvida, a prática, atestada muitas vezes, de
estabelecer mercados especiais fora da cidade quando se encontrava de
passagem exércitos estrangeiros que pediam para se abastecerem. Por
vezes, em certos Estados oligárquicos, a preocupação de controlar a
atividade econômica obedecia a móbeis mais profundos, era a própria
atividade econômica que se tratava de dominar.”[6]
A ágora também servia com um importante centro religioso,
juntamente com o Hephaisteion (templo localizado na colina oeste), a
praça possuía um grande número de altares e pequenos santuários, muitos
eram dedicados aos semideuses conhecidos como heróis. Como esses
santuários estavam localizados justamente no centro da vida cotidiana, na
maioria das vezes acabavam recebendo uma atenção mais regular do povo do
que os grandes edifícios de culto erigidos pelo Estado na Acrópole.
Um bom exemplo disso ocorreu na reconstrução, após a invasão persa,
quando os atenienses ocuparam-se primeiro da ágora, ignorando a Acrópole. A
escolha foi sem dúvida, motivada pela urgência de restabelecer
ordenadamente a vida cotidiana, talvez também devido a fundos limitados. Mas
surge a tentação de ver igualmente uma razão psicológica, expressa numa
citação conhecida e feliz de Aristóteles: (…) “‘Uma cidadela (acrópole) adequa-
se a oligarquia e à legislação de um só homem, o terreno plano à democracia.’” [7] Em menos de uma geração, contudo, a posição modificou-se. A democracia
triunfante, rica, auto-suficiente e imperialista, governada por Péricles, voltou à
Acrópole, que era um local venerável, fazendo dela não apenas o seu maior
centro religioso, mas também o símbolo visível do poder e a da glória de
Atenas.
De maneira geral, uma ágora típica era o ponto focal da vida pública
de uma cidade-estado grega , o principal centro do comércio interno,
aquele que se alimentava através das vias terrestres. Na ágora, cada
negociante possuía seu lugar determinado e devidamente pago. Para
entendermos melhor o movimento comercial no interior da ágora de Atenas,
nos utilizaremos da magistral descrição de Gustave Glotz em História
Econômica da Grécia:
“(…) Mas o centro do comércio interior é a ágora. Aí palpita durante todo o
dia a vida política, social e econômica da grande cidade. Nas extremidades
da praça erguem-se as repartições dos magistrados, com os editais que
atraem os curiosos. A multidão abriga-se debaixo dos pórticos de finas
colunatas. Passa diante dos frescos do ilustre Polignoto e aflui aos
‘hermes’, onde os homens de negócio debatem as cotações, os
interessados pela política discutem a ordem do dia da próxima assembléia,
os basbaques ouvem os pregoeiros públicos, os ociosos cavaqueiam,
agitando os seus bordões nodosos, os jovens elegantes fazem flutuar com
gracilidade as pregas das suas compridas túnicas brancas. Cruzam-se em
todos os sentidos todos os que têm alguma coisa para vender: escravos
com fazendas que acabam de fabricar, artífices do Cerâmico, de Mélite, ou
das Escambônidas, saloios que partiram da sua aldeia antes da alba,
megáricos a guiarem porcos, pescadores do lago Copais. Pelas aléias
plantadas da árvores encaminham-se para os setores reservados às
diversas mercadorias e separados por divisórias móveis. Sucessivamente,
às horas fixadas pelo regulamento, abrem-se os mercados de legumes e
hortaliças, de frutas, de queijo, de peixe, de carne, de carne de porco, de
aves da capoeira e de caça, de vinho, de lenha, de olaria, de objetos de
segunda mão, de quinquilharia. Há até um canto para os livros. Cada
mercador tem o seu lugar, que o pagamento de um direito lhe garante; à
sombra de um toldo ou dum guarda-sol, expõe os seus artigos em mesas,
ao pé da sua carroça e dos seus animais que estão a descansar. Os
fregueses circulam; os vendedores interpelam-nos; os moços de recados e
de fretes oferecem os seus serviços. Pregões, juras e alterações; os
agorânomos não sabem para que lado hão de voltar. Quando acabam os
mercados ao ar livre, a clientela passa à praça coberta, bazar à oriental. Ao
fundo estão os balcões. Todos estes vendedores em relato têm má fama.
Os fregueses queixam-se da sua violência e grosseria. As mulheres que
ganham a vida na rua ou na ágora e as taberneiras são suspeitas de
comportamento imoral; a lei não admite ações de adultério contra este
gênero de pessoas. Mas aos pequenos comerciantes censuram-se
sobretudo os seus hábitos de rapacidade, de deslealdade, de mentira.
Pedem preços exorbitantes, falsificam os gêneros, enganam no peso,
roubam nos trocos.”[8]
A citação acima nos dá uma visão geral do cotidiano na ágora, bem
como nos revela a imutabilidade de certos aspectos da psicologia humana.
Entretanto, a ágora de Atenas tem um significado muito mais amplo, e diversos
aspectos a diferenciam de outros grandes centros cívicos explorados até agora
na Grécia.
Isso se deve ao fato da proeminência da Atenas, pois a maior parte dos
textos, da literatura e da história que foram preservados, são de origem
ateniense e sua ágora serviu como palco e pano de fundo para muitos eventos
significativos da história grega. Entre as muitas pessoas associadas com os
maiores feitos da civilização grega clássica, muitas nasceram em Atenas e
outras são provenientes de todo o Mediterrâneo, deram sua contribuição para
um período notável de grandes realizações intelectuais e artísticas. Homens de
Estado, autores de peças teatrais, historiadores e artistas, filósofos e oradores,
como Tucídides, Ésquilo, Sófocles, Demóstenes, Fídias e Práxiteles, surgiram
na Grécia nos séculos V e VI a.C., quando a mais poderosa cidade-estado de
Grécia era Atenas. Juntos, estes homens foram responsáveis por plantar as
sementes das civilizações ocidentais, e ambos freqüentavam a ágora – que foi
usada para performances teatrais, procissões religiosas, competições atléticas
e desfiles. Sob a liderança de Sólon, Clístenes e Péricles, a instituição política
da democracia também tem na ágora suas raízes. Mesmo quando a
significância política, econômica e militar não era mais evidente, Atenas
permaneceu como influência cultural e educacional por séculos, atraindo
professores e alunos de filosofia, lógica e retórica até o século VI d.C.
Como vimos anteriormente, a ágora, antes do século IV a.C era um
espaço físico onde as discussões aconteciam, era um local de culto e era um
lugar de comércio. Ela não era uma ágora especializada. Isso nos mostra que
nesse tipo de sociedade, as relações políticas, sociais e econômicas estavam
inter-relacionadas. Não era a economia que regia a sociedade, mas a posição
social do indivíduo em relação aos meios de produção. Os vários aspectos da
sociedade se encontram misturados e eram inseparáveis. No entanto, a partir
do século IV a.C, as ágoras começaram a se especializar. Aristóteles
considerava importante que houvesse essa especialização, para ele, o melhor
seria que houvesse uma ágora para as discussões, outra para os negócios e
uma terceira para o lazer. “Na Tessália, por exemplo, as diferentes funções da
ágora (originalmente local de reunião da comunidade, antes de se tornar centro
econômico) estão deliberadamente separadas: há uma ágora ‘livre’, reservada
à atividade cívica e política e da qual está excluída qualquer função econômica.
Esta última está concentrada numa ágora especial, a ágora comercial.” [9] Já
Platão, nas suas Leis, prescreve que não se recebam os comerciantes
estrangeiros senão fora da cidade, e que se tenha um mínimo de relaçãos com
eles. Encontram-se aqui, uma vez mais, velhos preconceitos, em parte dirigidos
contra a atividade econômica enquanto tal, em parte contra o estrangeiro e
tudo o que ele comporta como riscos de influências nefastas vindas do exterior.
Assim sendo, com passar do tempo a ágora foi sofrendo
transformações, se em época grega começou a se especializar, em época
romana isso aconteceu de forma ainda mais intensa. Então teremos uma ágora
para negócios, uma para política e outra para o lazer. Também em época
romana teremos a ágora monumental - uma praça de propaganda política e de
culto ao imperador.
Em nenhum outro lugar foi encontrada uma história tão ricamente
ilustrada como aquela que se tem na ágora. Na área aberta da grande praça,
monumentos foram erigidos para comemorar os triunfos, ao seu redor, edifícios
cívicos foram construídos para a administração da democracia, ao mesmo
tempo, em que além dos seus limites, a ágora era repleta de casas e oficinas
daqueles que faziam de Atenas a cidade mais proeminente da Grécia.
A exploração arqueológica da ágora tem colaborado para uma compreensão
maior não apenas de um lugar específico, mas sobre vários aspectos da
civilização grega clássica. A cidade de Atenas nos fornece uma grande
quantidade de material para o entendimento da ágora e de suas construções.
Construções estas tão pobremente preservadas que muitas de suas ruínas mal
podem ser observadas na superfície. No entanto, “fontes escritas nos
descrevem a respeito de encontros e julgamentos ocorridos ali, apresentações
de filósofos ou pinturas que decoram as paredes. São encontradas, em autores
da antigüidade, inúmeras referências que mencionam especificamente a ágora
e seus monumentos, e em nenhum outro lugar da Grécia as fontes
enriqueceram tão bem o nosso entendimento sobre as ruínas.”[10]
Dentre muitos dos escritos preservados da Antigüidade, o de Pausânias,
Descrição da Grécia, é muito útil aos arqueólogos, pois foi escrito como um
guia entre os anos 150 e 175 d.C. e descreve em detalhes as cidades e os
monumentos da Grécia conforme eram vistos no século II d.C.. E a descrição
de Pausânias sobre a ágora é a principal fonte para identificar muitas das suas
estruturas.
Dentre outras fontes literárias, há também as inscrições. A democracia
ateniense exigiu registros extensivos e permanentes, por isso Atenas, mais do
que qualquer outra cidade, escreveu sua história em pedras. Dessa forma,
inúmeras inscrições foram encontradas na ágora, eram: leis, acordos, decretos
honorários, dedicatórias, descrições de construções, inventários sobre templos,
pedras demarcatórias, e bases de estátuas. Estas, quando estudadas
juntamente com os registros literários, aumentam o nosso entendimento sobre
as construções, que com o passar dos séculos foram deixadas em estado
deplorável.
Entretanto, quando não dispomos de inscrições e fontes escritas, a cronologia
do desenvolvimento da ágora, e suas construções é baseada em análises
estilísticas. A grande maioria dos elementos como a cerâmica, a escultura, a
arquitetura, as moedas, etc. mudaram com o passar do tempo. Sendo assim,
um olhar treinado pode datar um fragmento de cerâmica ou de mármore. No
entanto, o mais útil e confiável indicador é a cerâmica, pois era feita em grande
quantidade e era praticamente indestrutível. Muitos fragmentos de cerâmica
são encontrados em todos os níveis de escavações. Seu formato, brilho e
decoração permitem-nos datar as peças e a camada com um considerável grau
de precisão. De fato, as escavações da ágora produziram materiais em
cerâmica datáveis em abundância.
Desta forma, e por essas várias razões, as escavações da ágora contribuíram
substancialmente, não somente para o nosso conhecimento sobre Atenas, mas
também para quase todos os aspectos da Grécia na Antigüidade, desde o
período neolítico até o período medieval. É inevitável, quando se procura as
origens da cultura, da arte e do pensamento político ocidentais, retornamos a
Atenas Clássica, onde a ágora era o coração e a alma da cidade.
BibliografiaCAMP, John M. The Athenian Agora: excavations in the heart of classical Athens. Londres: Thames & Hudson, 1986. FINLEY, M. I.. Economia e Sociedade da Grécia Antiga. São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1984.
FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. O Mundo Antigo: economia e sociedade. 2.ª reimpressão, São Paulo: Editora Brasiliense, 1998. GLOTZ, Gustave. História Econômica da Grécia. Lisboa: Edições Cosmos,
1946.
MOSSÉ, Claude. O Homem e a Economia. IN VERNANT, Pierre (dir.) O Homem Grego. 1.ª edição, Lisboa: Editorial Presença, 1994 pp. 23 a 45. VERNANT, Jean Pierre (dir.). O Homem Grego. 1.ª edição, Lisboa: Editorial Presença, 1994. VIDAL NAQUET, Pierre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986.
[1] CAMP. JOHN M. The Athenian Agora: exacavations in the heart of classical Athens. London: Thames and Hudson, 1986, p. 14.[2] VIDAL NAQUET, Pierre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 124.[3] FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1984, pág. 133.[4] FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Esdições 70, 1984, p. 134.[5] Idem, p. 135.[6] VIDAL NAQUET, Pierre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 125.[7] FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1984, pág. 137.[8] GLOTZ, Gustave. História Econômica da Grécia. Lisboa: Edições Cosmos, 1946, pp. 254 e 255.[9] VIDAL NAQUET, Peirre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade da Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 125.[10] CAMP. JOHN M. The Athenian Agora: exacavations in the heart of classical Athens. London: Thames and Hudson, 1986, p. 14.