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SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: AVALIANDO A EFETIVIDADE DO PROGRAMA DE
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DE
SÃO PAULO
Ana Lavos Cibele Silva
Selma Venco
II Congresso Consad de Gestão Pública – Painel 18: O novo desenho da política pública de qualificação profissional no estado de São Paulo
SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: AVALIANDO A EFETIVIDADE DO
PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
Ana Lavos Cibele Silva
Selma Venco
RESUMO O presente trabalho apresenta o sistema de acompanhamento e avaliação do Programa Estadual de Qualificação Profissional promovido pela Secretaria Estadual de Emprego e Relações de Trabalho de São Paulo em 2008. O atual modelo do programa é resultado do desenvolvimento da metodologia de ensino profissional para adultos ao longo dos últimos anos na SERT. O sistema de acompanhamento e avaliação visa, por um lado, identificar e transformar inadequações relativas à realização do programa e, por outro lado, avaliar os seus resultados. O sistema de acompanhamento é composto por um diagnóstico do perfil dos alunos do PEQ, pela supervisão dos cursos que levanta avaliações dos alunos e monitores sobre as aulas e sobre o Programa e por duas pesquisas quantitativas voltadas à análise dos resultados da política em relação aos seus objetivos de (re) inserção profissional, geração de trabalho e renda e exercício da cidadania. O texto apresenta alguns dados e informações relativas ao acompanhamento desenvolvido no ano de 2008 e analisa os métodos de acompanhamento e avaliação à luz de estudos realizados na área.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................................... 03
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 04
O SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO.................................................................... 06
AS PESQUISAS QUANTITATIVAS........................................................................... 11
PERFIL SOCIOECONÔMICO (PEQ)........................................................................ 12
PESQUISAS COM EGRESSOS................................................................................ 20
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 23
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APRESENTAÇÃO
“é como se eu vivesse numa caverna e o curso me fizesse começar a ver o mundo lá fora”.
(aluna do PEQ-SP)
Este texto tem como objetivo discutir os preceitos teórico-metodológicos
que orientam o sistema de acompanhamento de egressos implantados no âmbito do
Programa Estadual de Qualificação, doravante denominado PEQ, desenvolvido pela
Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do estado de São Paulo (SERT) e
implantado tecnicamente em conjunto com a Fundação do Desenvolvimento
Administrativo (FUNDAP).
O referido Programa oferece cursos de qualificação a segmentos da
população, identificados por meio de estudos específicos1, que necessitam do apoio
de uma política pública para auxiliá-los no processo de (re) inserção no mercado de
trabalho. Nesse sentido, a concepção e o desafio do Programa residem na
superação da oferta de cursos concentrados em saberes técnicos, focalizando
fundamentalmente a formação integral dos indivíduos. A opção por esse desenho
pauta-se na compreensão que essa via possibilita aos trabalhadores ampliar sua
capacidade reflexiva, sua participação efetiva na sociedade e, como veremos, o
abandono de sua situação de desalento na busca pelo emprego, bem como a
retomada dos estudos formais.
O planejamento do Programa em análise contemplou um sistema de
avaliação de forma a coadunar diversos aspectos nele envolvidos, bem como e,
particularmente, a perspectiva do próprio educando.
1 Sobre isso ver texto nesse Congresso e mesmo painel: CORDEIRO, Lucas, ABUD, Bruno e TRIZI, Ivan Amorim. Inovações na gestão do Programa Estadual de Qualificação Profissional do Estado de São Paulo. In CONSAD, 2009.
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INTRODUÇÃO
As questões orientadoras da avaliação da política de qualificação
profissional estão relacionadas aos objetivos da política num contexto de
desemprego estrutural e crescimento das práticas de trabalho informal. (Prestes,
2006). A educação profissional neste contexto visa, por um lado, proporcionar ao
trabalhador desempregado ferramentas para sua inserção numa atividade produtiva
formal e ampliar sua percepção acerca do exercício da cidadania, de forma a
prepará-lo não apenas para auferir renda de atividades produtivas (formais ou
informais), mas posicionar-se de maneira reflexiva diante dos acontecimentos de
sua vida e ampliar sua participação em processos de fortalecimento local, por
exemplo.
Os desafios de promover a avaliação do programa são diversos, pois a
relação entre a participação nos cursos e os eventuais ganhos na vida dos egressos
é permeada por outras variáveis. O esforço de compreensão desta relação, contudo,
é fundamental para a revisão da política de qualificação profissional.
O sistema de acompanhamento e avaliação pensado e planejado pela
equipe gestora procurou abarcar duas dimensões igualmente fundamentais da
política: o acompanhamento dos processos de implementação, com olhos inclusive
na sala de aula, e a avaliação de resultados.
Para cada um dos momentos foi pensada uma abordagem metodológica.
Isto porque a opção metodológica da natureza da pesquisa a ser realizada envolve
os objetivos previstos da pesquisa, segundo Günter, 2006. No caso da pesquisa
qualitativa realizada no âmbito do Programa Estadual de Qualificação, o propósito
era não apenas coletar dados, mas chegar ao conhecimento de situações que
pudessem ser transformadas em processo. No caso da pesquisa quantitativa, o
propósito passou a ser a avaliação dos alunos sobre os cursos e o estudo das
reverberações que o curso promoveu em suas vidas após certo tempo de conclusão.
A escolha dos métodos de pesquisa em abordagens qualitativa e
quantitativa prevê situações de coleta de dados em que as dimensões de ordem
subjetiva estão mais ou menos presentes. Tanto na pesquisa qualitativa quanto na
abordagem quantitativa, os valores e crenças do pesquisador influenciam na
observação do dado. (Günther, 2006). Esta influência é mais evidente, contudo, na
pesquisa qualitativa, em que a importância de se considerar o contexto e seus
5
aspectos estão mais presentes. Na pesquisa quantitativa, por outro lado, busca-se
controlar a influência dos contextos.
A pesquisa qualitativa produz desdobramentos e observações segundo o
ponto de vista do pesquisado. No caso do acompanhamento do Programa Estadual
de Qualificação, a abordagem qualitativa possibilitou observação de percepções e
situações de ensino-aprendizagem nas quais os acontecimentos não previstos eram
de fundamental importância para a avaliação das situações de ensino-aprendizagem
e as ações de alteração de processos.
Assim, a abordagem qualitativa pressupôs a observação participante dos
pesquisadores-supervisores. Para efeitos de registros e como orientação de conduta
destes sujeitos, optou-se pela elaboração de um roteiro de visita em que se
consolidava a visão do pesquisador-supervisor acerca dos fenômenos que ele
acompanhou.
Por outro lado, como veremos, a abordagem quantitativa possibilita um
controle mais rigoroso das informações que se buscam avaliar. Ela permite que
processos sejam configurados em pontos estanques, possibilitando uma visão geral
sobre os resultados.
6
O SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO
O sistema de acompanhamento foi compreendido no sentido estrito da
palavra originada do latim accompaniáre e cujo significado é ‘ estar ou ficar com ou
junto a (alguém), constantemente ou durante certo tempo’2. Assim, imbuídos do
sentido de analisar um conjunto de situações capaz de configurar o processo
vivenciado pelos participantes, definiu-se uma metodologia orientada pela
associação de ações complementares de caráter qualitativo e quantitativo, que
passamos a discorrer.
As abordagens de cunho qualitativo visam aprofundar percepções,
buscando compreender singularidades que envolvem o objeto. Em consonância com
Martins (2004) a metodologia qualitativa privilegia a análise de microprocessos,
abarcando a análise dos indivíduos e dos grupos. É ela que permite informar
processos e dinâmicas de difícil apreensão por meio de outras práticas.
Necessariamente, o olhar do analista parte de um local atribuído de valores (Martins,
2004). Especificamente na situação observada do PEQ, o valor fundamental é o da
universalidade da política pública e do seu compromisso com o cidadão na busca
pela busca por um posto de trabalho ou na geração de renda. O olhar do analista
busca, portanto, a “diferença que faz a diferença”, o momento em que o senso
comum é superado pela percepção do outro e pela construção coletiva de
conhecimento.
Nessa perspectiva, o acompanhamento qualitativo teve por objetivo
avaliar o cotidiano das práticas administrativas – as quais poderiam comprometer a
permanência dos trabalhadores nos cursos – e pedagógicas durante a
implementação dos cursos de qualificação profissional do Programa Estadual de
Qualificação, vivenciadas nas unidades executoras dos cursos, por meio da
observação sistematizada.
Para o cumprimento dessa etapa, uma equipe de quinze técnicos
especialmente capacitados para esse fim e munidos de roteiros para a coleta de
dados, realizou 351 visitas no período compreendido entre agosto de 2008 e janeiro
de 2009, em 89 municípios em todo o estado de São Paulo. É importante destacar
que esta equipe configura-se, portanto, como mais um elemento diferencial na
2 Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Disponível em: < http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=acompanhar&cod=4354>. Acesso em 4. Abril. 2009.
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construção da política pública paulistana de qualificação profissional, cujo papel
distancia-se do caráter meramente fiscalizador e passa a ser um coadjuvante e um
articulador de soluções.
A programação previu, no mínimo, três visitas por unidade executora em
momentos diferenciados do processo, reafirmando o sentido de acompanhamento.
O roteiro abarcava aspectos relacionados:
1. à manutenção das condições físicas das instalações, a adequação das
salas de aula ao número de alunos, o mobiliário, as condições dos
equipamentos disponíveis nos laboratórios, a disponibilidade de
equipamentos didáticos, condições de higiene e, ainda, o livre acesso
dos participantes a outras dependências das escolas, como bibliotecas,
espaços comuns de convivência e salas de informática;
2. à observância dos procedimentos administrativos que implicassem na
ausência dos alunos no Programa, tais como: a entrega do auxílio-
transporte e do material didático de conhecimentos gerais e
específicos, a oferta diária de lanche;
3. às condições de desenvolvimento dos procedimentos pedagógicos; e,
4. à adequação metodológica ao princípio de educação de adultos,
didática dos monitores e desenvolvimento dos conteúdos.
Para além dos registros acima apontados, é importante ressaltar que a
cada visita eram entrevistados 5 alunos de diferentes turmas e cursos, bem como os
monitores atuantes no dia da visita. Foram realizadas 451 visitas, sendo 106 na
Grande São Paulo e Região Metropolitana de São Paulo e 345 nas cidades do
interior paulista. Foram realizadas cerca de 2000 entrevistas com alunos do interior
do estado e cerca de 500 entrevistas com alunos da GSP. Este número corresponde
a cerca de 10% dos alunos participantes do Programa em 2008. Tendo em vista que
a cada visita era entrevistado ao menos um monitor, foram realizadas 451
entrevistas.
Apreendeu-se por meio das entrevistas realizadas junto aos alunos que a
recuperação e ou a ampliação da autoconfiança, por meio da construção do
conhecimento, é uma das condições importantes no retorno ao mercado de trabalho.
Para eles a somatória de condições propícias à participação nos cursos associadas
à qualidade do material didático, das aulas, das instalações surpreendeu-os
positivamente como prática de política pública.
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”eu achei que por ser coisa do governo não seria um curso com qualidade” (participante do PEQ, 2008)
De uma forma geral, os relatos dos alunos evidenciam satisfação com o
Programa, sobretudo na percepção de conhecimentos previamente adquiridos que,
contudo, eles próprios desconheciam. Um depoimento é paradigmático desta
vivência dos alunos sobre o conhecimento ‘esquecido’:
“eu não sabia que eu sabia tanta coisa” (participante do PEQ, 2008)
O curso também é visto pelos alunos como um reforço para o retorno ao
mercado de trabalho, reforço este associado aos conteúdos presentes no material
didático:
“Bom curso, vai aperfeiçoar e capacitar para o mercado de trabalho o material é bem completo” (participante do PEQ, 2008)
Entre os aspectos metodológicos apontados como interessantes e
satisfatórios pelos alunos está o trabalho em grupo estimulado pelas atividades
propostas:
“O trabalho em equipe para mim é importante, ajuda eu me soltar.” (participante do PEQ, 2008)
O curso é percebido como um movimento de estímulo ao aprendizado,
pois evidencia o prazer pelo conhecimento, Diversos alunos entrevistados nas
visitas de supervisão manifestaram este aspecto positivo do curso, como no relato
de uma aluna participante:
“Abre um horizonte novo. Apesar de eu ter escolaridade, estava afastada, com o curso estou me recuperando. Estava alheia, voltar qualifica, está sendo importante. Todo dia é uma nova descoberta. (participante do PEQ, 2008)
A articulação entre o auto-conhecimento e o conhecimento do mundo do
trabalho, uma das propostas do material didático, foi bem recebida pelos alunos. O
pressuposto deste método de ensino é demonstrar em ato a relação dialética entre o
indivíduo e o mundo3.
3 Os pressupostos metodológicos do Programa foram descritos e analisados no terceiro texto deste painel. Ver LIMA, Maria Helena de Castro, Schalch, Lais e Oliveira, Alan Pereira de, 2009.
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“O curso tem sido muito bom para a gente se conhecer como pessoa e profissionalmente. Tudo muito bem utilizado.” (participante do PEQ, 2008)
Os depoimentos dos alunos também contribuem para a percepção de
resultados esperados do Programa enquanto os dados quantitativos não forem
ainda mensurados. Um deles é o estímulo ao retorno à escolarização formal:
“O curso assim para mim eu não sabia que eu sabia, eu aprendi. Estou tendo um ponto de visão melhor. Estou pensando em voltar a estudar.” (participante do PEQ, 2008)
Além da satisfação com os aspectos de ensino e aprendizagem as
condições de apoio para a realização dos cursos também foram consideradas
positivas na realização do curso.
“Vejo de bom tudo. Ajuda incentivando, dando o passe. Não tem como falar que não tem dinheiro para vir ao curso” (participante do PEQ)
“O lanche ajuda porque eu moro sozinho.” (participante do PEQ)
A abordagem qualitativa previu a coleta e o registro da percepção de
outros atores envolvidos no processo, além dos alunos.
As entrevistas realizadas com os monitores dos cursos revelam as
diversas situações de ensino-aprendizagem e as tensões de naturezas diversas que
surgem em sala de aula. Estas são previsíveis quando a população-alvo abarca
pessoas desempregadas, mas, também, há outros segmentos que se encontram em
condições de exclusão na sociedade por outras razões. O caso mais concreto a ser
exemplificado pode ser ilustrado a partir do convênio estabelecido entre SERT e
Administração Penitenciária, o qual garante uma cota de vagas para ex-detentos ou
em liberdade assistida. Este tem como objetivo construir possibilidades para a
reinserção na sociedade, via trabalho. Foi possível constatar por meio da
observação recorrente nas escolas a premência em incorporar ao programa de
formação dos monitores este tema.
Durante as entrevistas, os monitores eram convidados a refletirem sobre a
qualidade do material didático, o grau de envolvimento dos alunos e as
possibilidades de melhoria do curso e do trabalho. Eram também convidados a
pensarem criticamente sobre o programa e colaborarem com sugestões.
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De uma forma geral os monitores avaliaram positivamente o material
didático, tanto os cadernos quanto os vídeos. Houve uma parcela de monitores, no
entanto, que consideraram o material didático como de difícil compreensão para os
alunos. Este dado demonstra um aspecto a ser trabalhado na formação dos
monitores, a saber, a sua compreensão e abertura para o aluno que ele recebe.
Habitualmente os monitores contratados pelas executoras trabalham com jovens
alunos de cursos de ensino médio e mesmo com alunos de cursos superiores. Seus
grupos do Programa Estadual de Qualificação colocam a eles desafios no sentido de
adequação das práticas didáticas e percepções da importância dos conteúdos para
a formação dos alunos. Entre os monitores que compreendem a estratégia
metodológica do Programa destaca-se um depoimento como o que segue:
“Os alunos possuem um nível de conhecimento ruim, contudo os recursos pedagógicos possibilitaram construir conhecimento. Eu fui construindo esta compreensão através de exemplos da vida deles.” (monitor do PEQ, 2008)
Destaca-se aqui a importância da abordagem qualitativa no bojo de um
sistema de acompanhamento e ou avaliação em políticas públicas. A gama de
observações propiciada pela observação sistemática, pelas entrevistas realizadas
com alunos e monitores, revelou a adequação desta opção metodológica. As
situações identificadas seriam de difícil apreensão via instrumentos padronizados e
que, por este caminho, puderam ser contornadas imediatamente e ou, dependendo
da complexidade, estão sendo reformuladas para o planejamento do biênio 2009-
2010.
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AS PESQUISAS QUANTITATIVAS
Se a abordagem de caráter qualitativo propiciou, por um lado, identificar
problemas, soluções, percepções acerca do Programa, dos alunos, dos monitores e
das instituições, por outro, não permite constatar quantos retomaram o estudo formal
e obtiveram emprego após o curso.
Os formulários quantitativos, como veremos, buscam informações
precisas sobre a inserção dos alunos no mercado de trabalho ou a eventual
ampliação de sua renda. Eles devem ser analisados à luz de pesquisas sobre as
dinâmicas conjunturais do mercado de trabalho e dizem da eficácia do programa em
relação a um dos seus objetivos, qual seja, a (re) inserção de trabalhadores
desempregados no mundo do trabalho.
A primeira etapa da sistematização de dados relativos aos participantes
do PEQ consistiu num levantamento junto ao total de alunos com a finalidade de
constituir um quadro diagnóstico de sua situação sócio-econômica. Por meio da
investigação do perfil dos alunos é possível re-orientar o planejamento do programa
com vistas à atenção à realidade dos trabalhadores que buscam a qualificação
profissional, por um lado, e realizar um quadro em função do qual se poderá compor
um estudo comparativo a partir das pesquisas com egressos. Apresentam-se abaixo
os dados relativos a uma amostra dos participantes do PEQ em 2008. Os dados
referem-se a 4.821 questionários respondidos. Destes apenas 16% foram originados
na Região Metropolitana de São Paulo.
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PERFIL SOCIOECONÔMICO (PEQ)
Os alunos respondentes estão concentrados numericamente em cursos
vinculados ao setor de serviços: 61% optaram por participar destas modalidades, o
que hipoteticamente pode ser compreendido como uma possível percepção que este
segmento da economia tem ampliado sua oferta de postos de trabalho, ou, ainda, a
gama de cursos esteve mais concentrada em serviços, limitando a opção para
outros campos de formação.
Os cursos apresentados na tabela 1 representam a matrícula de metade
do universo de respondentes, sendo que os demais constituem quantidades
irrelevantes estatisticamente para fins de análise.
Tabela 1 – Distribuição dos alunos PEQ, principais cursos freqüentados (em no abs)
Atendente/recepcionista/atendimento ao cliente 275 Auxiliar administrativo/assistente administrativo 514 Informática/básica/avançada 458 Gestão empresarial 249 Padeiro/confeiteiro/pizzaiolo 122 Gestão em vendas/negócios 448 Técnicas em atendimento e segurança em condomínio 173 Secretariado 163 Manutenção/montagem de microcomputadores 84 Total 2486
As mulheres participaram em maior número no PEQ em relação aos
homens: praticamente 7 em cada grupo de 10 eram do sexo feminino, confirmando a
tendência apontada em outras pesquisas (Segnini, 1998, Lombardi, 2005, Venco,
2006) que apresentam uma maior busca por escolarização e qualificação
profissional por mulheres.
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A distribuição etária reflete a intencionalidade por parte da SERT em
atender um público que apresentasse maior fragilidade em termos de inserção no
mercado de trabalho. As matrículas foram priorizadas pautando-se em dados do
diagnóstico paulista sobre o mercado de trabalho, elaborado pela Fundação SEADE,
indicando uma oferta prioritariamente ao público com idade entre 30 e 59 anos.
A concentração etária apreendida na pesquisa correspondente a 54% dos
alunos com idade superior a 30 anos e mostra-se coerente com a política adotada e
indica rigor na aplicação dos procedimentos adotados, tanto pelos Postos de
Atendimento ao Trabalhador (PATs) que encaminharam trabalhadores às unidades
de ensino, quanto pelas próprias executoras, que efetuaram as matrículas.
Tabela 2 – Distribuição dos alunos PEQ, segundo faixa etária (em %)
Alunos por idade alunos % 16 a 20 anos 628 13,0 21 a 24 anos 788 16,3 25 a 29 anos 797 16,5 30 a 39 anos 1.296 26,9 40 a 49 anos 921 19,1 50 a 59 anos 357 7,4 60 anos e ma 22 0,5 não respondeu 8 0,2 em branco 4 0,1 Total 4.821 100,0
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A escolaridade declarada pelos alunos revela a participação de um
segmento da população diverso dos tradicionalmente presentes em programas de
qualificação de nível básico, conforme verificado em pesquisas realizadas no próprio
âmbito da SERT, por ocasião da execução de outros programas a exemplo dos
praticados pelo Programa Aprendendo a Aprender: ou seja, observou-se que pouco
mais da metade (54%) dos alunos possuem o ensino médio completo ou incompleto
e, ainda mais especificamente: 4 em cada 10 completou o ensino médio.
Surpreende, ainda, a participação de pessoas com nível superior
completo ou incompleto na ordem de 6% e até mesmo 11 pessoas que estão
cursando ou terminaram programas de pós-graduação. Deste dado pode-se inferir
que: talvez os cursos de nível superior por eles frequentados não apresentem
qualidade e ou reconhecimento no mercado para colocação no mercado; ou, ainda,
o desemprego afeta, também, trabalhadores cujo grau de escolaridade é elevado, os
levando a recorrer aos programas de qualificação profissional vinculados, ou não, à
sua área de formação.
Por outro lado, o público alvo priorizado pelo PEQ em 2008, e que, por
suposição, deveria recorrer preferencialmente aos programas de qualificação
profissional de nível básico, qual seja, os que cursaram o ensino fundamental I ou II
completo ou incompleto, representaram pouco mais de ¼ dos participantes (26%).
Estas constatações se consolidam como importante elemento de
planejamento de ações futuras para o Programa Estadual de Qualificação seja em
termos de capacitação dos formadores para lidarem adequadamente com a
heterogeneidade das turmas; seja a adoção de estratégias mais eficazes para
alcançar o público pretendido. Os critérios de acesso ao PEQ em 2009 prevêem a
focalização da política para um público de maior idade e menor escolaridade.
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Tabela 3 – Distribuição dos alunos PEQ, segundo grau de escolaridade (em %)
% Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries) incompleto 1,5 Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries) completo 2,5 Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries) incompleto 10,0 Completo – Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries) 11,9 Ensino Médio incompleto 10,9 Ensino Médio completo 42,7 Técnico Profissionalizante incompleto 1,5 Técnico Profissionalizante completo 7,3 Ensino Superior incompleto 3,8 Ensino Superior completo 2,1 Pósgraduação incompleto 0,1 Pósgraduação completo 0,2 Educação de Jovens e Adultos (EJA)/Alfabetização) incompleto
1,6
Educação de Jovens e Adultos (EJA)/Alfabetização) completo 1 Não respondeu 2,7 Total 100
Apreendeu-se, ainda, que quase metade dos alunos (45%) já havia
participado de programas de qualificação profissional, sem, contudo, especificar se
de natureza pública ou privada. Este é um dado relevante para a análise da
efetividade das políticas de qualificação profissional de um modo geral.
A despeito de a concentração etária ser elevada a maior parte dos
participantes declarou não ser o responsável financeiro pelos domicílios. Tal
constatação remete a ao menos algumas hipóteses a serem investigadas em outra
oportunidade: sendo a maioria dos alunos do sexo feminino, é possível que as
mesmas não sejam ou não se reconheçam como ‘chefes’ de família; ou, ainda, que
o emprego masculino estivesse, no momento da investigação, em níveis mais
elevados de contratação em detrimento ao da mulher.
Tabela 4 – Distribuição dos alunos PEQ, por responsabilidade financeira do domicílio (em %)
% Sim 28,2 Não 48,2 não respondeu 0,5 em branco 23,1 Total 100
É possível afirmar que a maior parte dos alunos do PEQ reside em casa
própria, de alvenaria e com abastecimento dos serviços públicos de coleta de lixo,
iluminação pública e rede de esgotos.
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Do conjunto de alunos participantes da pesquisa apenas 17% emitiram
opinião sobre o risco da moradia. Entre estes – totalizando 839 respondentes – 31%
residem em favelas e outros 31% informaram que residem em locais com risco de
propagação de incêndio ou inundação. Outros 23% apontaram problemas com a
moradia de outra natureza, sendo que, destes, 9% citaram risco de desabamento e
3,6% indicaram a violência como fonte de insegurança no bairro em que residem.
Outros 15% declararam não perceber nenhum tipo de ocorrência que sugira risco na
moradia.
É possível afirmar que a política de qualificação profissional logrou um de
seus principais objetivos, qual seja: oferecer formação ao público desempregado: 8
em cada 10 pessoas encontravam-se nessa situação no momento em que
participaram do curso. Pode-se visualizar no gráfico 3 a distribuição dos alunos do
PEQ por situação de trabalho.
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Dentre os 16% que se declaram ocupados, apenas 1652 responderam a
posição que se encontram. Deste grupo de respondentes, 37% fazem bicos e 8 %
trabalham sem carteira assinada. Dois em cada 10 destes respondentes declararam
estar vinculados ao mercado formal. Há ainda uma parcela significativa de 17% que
se auto-declararam como trabalhadores autônomos; os demais (18%) exercem as
seguintes ocupações: empregada doméstica, babá, faxineiros, entre outros.
Entre os desempregados que responderam há quanto tempo encontram-
se nessa situação (70%), metade deles não vivenciava emprego formal ou informal
há menos de 1 ano e 20% estavam desempregados entre um e 2 anos.
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Gráfico 4 – Distribuição dos alunos PEQ, por tempo de desemprego (em %)
Apreende-se que a maior parte dos respondentes da pesquisa apresentou
respostas sobre a renda individual na mesma proporção entre ‘não ter renda’ e ter
renda equivalente a ‘1,1 a 2 salários mínimos’.
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Concentração semelhante observa-se quando perguntados sobre a renda
familiar: a incidência na resposta ‘renda zero’ é irrelevante estatisticamente mas, por
outro lado, praticamente 4 em cada 10 pessoas declaram que a renda familiar é de
1,1 a 2 salários mínimos.
Não se pode desconsiderar que uma parcela de quase 6% possui renda
familiar de cerca de R$ 2500,00 ou mais.
Outros dados:
� Entre os participantes do PEQ é possível afirmar que grande parte
realiza o curso que esperava: mais de 7 em cada 10 fez tal declaração;
� 66% estavam procurando emprego antes de iniciar o Programa;
� 80% pretendem voltar a procurar emprego ao término do curso; e
� 82% irão procurar emprego na área correlata ao curso freqüentado no
PEQ.
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PESQUISAS COM EGRESSOS
As investigações quantitativas foram realizadas com egressos do
Programa Estadual de Qualificação. A definição de egressos, contudo, é
controversa, como analisa Pena, 2000. No âmbito educacional há instituições que
consideram egressos os discentes concluintes, os desistentes, os transferidos e os
jubilados. Outras organizações voltadas ao ensino consideram como egressos
somente os discentes concluintes. No entendimento de Pena, 2000, o
acompanhamento de egressos deve considerar não apenas os concluintes, mas
também os discentes que se afastaram da instituição de ensino. Desta forma seria
possível ter um quadro de informações também sobre o afastamento, de forma a
avaliar a instituição de ensino. As pesquisas quantitativas do Programa Estadual de
Qualificação têm objetivos mais precisos, contudo. Seu primeiro objetivo é fazer com
que o aluno avalie o curso e, nesta dimensão, esta pesquisa está voltada aos alunos
concluintes dos cursos.
O sistema integrado de duas pesquisas quantitativas foi planejado de
forma a lograr dois objetivos principalmente: avaliação do Programa em sua
amplitude e (re) inserção no mercado de trabalho formal ou informal.
As duas pesquisas são realizadas com egressos do PEQ, sendo que a
segunda pesquisa será realizada também com um grupo de controle, de forma a
possibilitar comparações entre os alunos que concluíram o PEQ e aqueles com o
mesmo perfil que não frequentaram o curso (inscritos no PEQ e que não foram
chamados para fazer o curso).
Contudo, as questões que se inscrevem nesse processo são de solução
complexa. Qual seria o intervalo de tempo após o término do curso mais afeito à
mensuração do retorno ao trabalho? Este seria igualmente adequado para a
realização de uma avaliação sobre aspectos específicos do curso?
Questões desta ordem nortearam o planejamento de duas pesquisas
quantitativas junto ao público participante do Programa Estadual de Qualificação.
Optou-se pela realização de uma pesquisa três meses após o término do curso,
cujo objetivo era identificar a inserção deste segmento no mercado de trabalho,
mas, especialmente nesse momento, submeter o Programa à avaliação do seu
público-alvo.
21
Nesse sentido, foi elaborada uma amostra capaz de contemplar a opinião
de alunos tanto do interior paulista quanto da Região Metropolitana de São Paulo,
com aplicação de um questionário padronizado contendo cerca de cinquenta
questões relativas à opinião dos alunos sobre aspectos do Programa distribuídos em
4 blocos, os quais foram aplicados por entrevistadores capacitados para esse fim.
Uma caracterização socioeconômica foi feita de forma a identificar a
participação nos cursos por sexo, idade, escolaridade, renda familiar e individual.
Para além desses aspectos, foram ainda coletados dados neste bloco a cidade de
origem, objetivando analisar os ciclos migratórios por regiões do estado de São
Paulo, se a responsabilidade econômica pelo domicílio é, ou não, compartilhada e,
ainda, outra sobre o analfabetismo funcional. Isto é, em que medida a escolarização
dessa população permite, por exemplo, preencher uma ficha de emprego.
Um segundo bloco, intencionava que os entrevistados avaliassem os
aspectos pedagógicos do curso: material didático, dinâmica e didática das aulas,
quais os conteúdos que mais contribuíram para sua formação em geral, bem como
aqueles que, segundo eles, não aportaram conhecimentos novos e ou significativos
frente às suas expectativas.
Outro grupo de questões abordava as transformações perceptíveis em
sua vida cotidiana a partir do curso, complementadas por outros aspectos que,
talvez, não estivessem, ainda, no plano consciente de cada um dos entrevistados.
Por fim, uma caracterização do que faz atualmente para obter renda.
Deste aspecto são desdobrados outros cuja intenção é conhecer o grau de
formalidade e informalidade do trabalho para esse grupo; a relação estabelecida
entre a atividade profissional exercida e o curso realizado; em que medida o curso
auxiliou na obtenção deste posto. E, ainda, dados comparativos sobre a renda
obtida no último emprego regular e atualmente.
Se, nesse momento, privilegiou-se a avaliação sobre o Programa, uma
outra pesquisa foi planejada de forma a ser aplicada após seis meses a contar do
término do Programa. Essa contempla um aspecto bastante focalizado e diz respeito
exclusivamente à inserção, ou não, no mercado de trabalho e, nos casos positivos,
de que forma ela ocorreu.
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Estes dados fornecerão um panorama da aceitação dos cursos pelos
alunos, e de sua percepção acerca da qualidade da qualificação profissional
oferecida pelo Estado. A política pública contempla, dessa forma, uma esfera
frequentemente afastada da avaliação sobre a implantação de determinados
programas de cunho público: os próprios cidadãos. A eles, nesse caso, é dada a voz
para que as ações do Programa possam ser reavaliadas em sua condução e
implantação, bem como suas estratégias metodológicas possam ser revistas ou
reafirmadas, considerando a opinião dos que dela usufruem.
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REFERÊNCIAS
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Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – SERT. Aspectos da História e da Atualidade da Educação Profissional Paulista – Plano Decenal. Mimeo, 2008. SEGNINI, L. R. P. Relações de gênero no trabalho bancário informatizado. Cadernos Pagu (UNICAMP), Campinas, v.10, n.10, p. 147-168, 1998. VENCO, S. Borghi. Tempos Moderníssimos nas engrenagens do telemarketing. Tese de Doutorado em Educação. Unicamp, 2006. ___________________________________________________________________
AUTORIA
Ana Lavos – Mestre em arquitetura e urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos. Funcionária da Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho de São Paulo. E-mail:.
Endereço eletrônico: [email protected] Cibele Silva – Graduada em Tecnologia da Informação. Funcionária da Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho de São Paulo.
Endereço eletrônico: [email protected] Selma Venco – Pós-doutora em sociologia do trabalho – Université Paris X e IFCH/Unicamp. Consultora Fundação do Desenvolvimento Administrativo, FUNDAP, no Programa de Qualificação Profissional da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do estado de São Paulo. E-mail:.
Endereço eletrônico: [email protected]