senso comum e ciência

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CHAUÍ, Marilena. A atitude científica . In: Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997, p.247-251. Senso comum e atitude científica Senso comum Atitude científica Subjetivo, exprime sentimentos e opiniões individuais ou de grupos, variáveis de acordo com as pessoas ou os grupos, dependendo das condições em que vivem. Objetivo, procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas. Qualitativo, julga as coisas como pesadas/leves, doces/azedas, quente/frio, etc. Quantitativo, busca critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes. Heterogêneo, refere-se a fatos que julga-se diferentes, porque percebe-se como diversos entre si. Homogêneo, busca leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que parecem diferentes. Individualizador, cada coisa ou cada fato aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo. Generalizador, reúne individualidades percebidas como diferentes sob as mesmas leis os mesmos padrões ou critério de medida. Generalizador, tende a reunir numa só opinião ou numa só idéia coisas e fatos julgados semelhantes. Diferenciador, não reúne nem generaliza por semelhanças aparentes, mas distingue os que parecem iguais desde que obedeçam a estruturas diferentes. Estabelece relações de causa e efeito entre coisas ou fatos Só estabelecem relações causais depois de estudar a estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. Admira o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso. Surpreende-se com a regularidade, a constância, a freqüência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o extraordinário é um caso particular do que é normal, regular, freqüente. Confunde o conhecimento científico com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensível. Distingue-se da magia, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e efeitos racionalmente inteligíveis. 1

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Page 1: Senso comum e ciência

CHAUÍ, Marilena. A atitude científica. In: Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997, p.247-251.

Senso comum e atitude científica

Senso comum Atitude científicaSubjetivo, exprime sentimentos e opiniões individuais ou de grupos, variáveis de acordo com as pessoas ou os grupos, dependendo das condições em que vivem.

Objetivo, procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas.

Qualitativo, julga as coisas como pesadas/leves, doces/azedas, quente/frio, etc.

Quantitativo, busca critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes.

Heterogêneo, refere-se a fatos que julga-se diferentes, porque percebe-se como diversos entre si.

Homogêneo, busca leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que parecem diferentes.

Individualizador, cada coisa ou cada fato aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo.

Generalizador, reúne individualidades percebidas como diferentes sob as mesmas leis os mesmos padrões ou critério de medida.

Generalizador, tende a reunir numa só opinião ou numa só idéia coisas e fatos julgados semelhantes.

Diferenciador, não reúne nem generaliza por semelhanças aparentes, mas distingue os que parecem iguais desde que obedeçam a estruturas diferentes.

Estabelece relações de causa e efeito entre coisas ou fatos

Só estabelecem relações causais depois de estudar a estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes.

Admira o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso.

Surpreende-se com a regularidade, a constância, a freqüência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o extraordinário é um caso particular do que é normal, regular, freqüente.

Confunde o conhecimento científico com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensível.

Distingue-se da magia, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e efeitos racionalmente inteligíveis.

Costuma projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e medo diante do desconhecido

Afirma que pelo conhecimento o homem pode libertar-se dos medos e das superstições.

Cristaliza-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca.

Procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das teorias em doutrinas e destas em preconceitos sociais.

Segundo Chauí:

“a ciência é conhecimento que resulta de um trabalho racional;

“a ciência se distingue do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade;

“uma teoria científica pode ser entendida enquanto “um sistema ordenado e coerente de proposições ou enunciados baseados em um pequeno número de princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo mais completo possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias”.

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