semiárido é lugar para quem sonha e luta - a pequena grande saga de júnior

2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1550 Semiárido é lugar para quem sonha e luta “Quero plantar e colher, sorrir quando o dia nascer” (Ponto de Equilíbrio) Dia após dia lutando, essa é a vida do Francisco Pires Mota, o Júnior. De idas e vindas para São Paulo para cortar cana e outros trabalhos, o jovem rapaz decidiu pendurar as botas no lugar em que nasceu, Assentamento Nova Diamantina, em Itatira, no Ceará. Júnior deixou para trás tudo que o impedia de sonhar e crescer e com muita fé começou a cultivar no pequeno quintal de casa. “Depois que eu comecei a trabalhar aqui, é assim, trabalho direto, sempre não queimando nada, sempre guardando tudo que eu pego, eu vou só estocando, colocando prum canto, ficando lá, guardado, progredindo cada vez mais. É tanto que onde você olhar debaixo desses bagaços você encontra aquele, tipo pulgãozinho, que faz a quebra do material. Em todo canto tem. É tanto que tudo que se planta aqui verdadeiramente tá prosperando”, conta orgulhoso o agricultor. A palavra Agroecologia só chegou à vida de Júnior quando ele se tornou um beneficiário do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro – ASA. “Depois que a gente adquiriu essa tecnologia, a gente vem descobrindo muitas coisas, vem trazendo muitos benefícios pra gente, mais conhecimento. Eu não tinha tanto conhecimento como tô tendo agora porque eu sempre trabalhei sozinho”, afirma o agricultor. O conhecimento adquirido através do programa já vinha sendo timidamente aplicado através da preocupação com a Natureza e com a saúde dos seus clientes. Júnior, que não usava quase nada de veneno no cheiro‐verde, deixava de aplicar uns dias antes de colher porque tinha consciência de que o agrotóxico iria parar na mesa das pessoas e prejudicar sua saúde. Hoje o agrotóxico faz parte do passado: para quê veneno se o sistema está equilibrado, se a terra está forte? Itatira Agosto/2014 A pequena grande saga de Júnior

Upload: articulacaosemiarido

Post on 23-Jul-2016

218 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Dia após dia lutando, essa é a vida do Francisco Pires Mota, o Júnior. De idas e vindas para São Paulo para cortar cana e outros trabalhos, o jovem rapaz decidiu pendurar as botas no lugar em que nasceu, Assentamento Nova Diamantina, em Itatira, no Ceará. Júnior deixou para trás tudo que o impedia de sonhar e crescer e com muita fé começou a cultivar no pequeno quintal de casa.

TRANSCRIPT

Page 1: Semiárido é lugar para quem sonha e luta - A pequena grande saga de Júnior

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1550

Semiárido é lugar para quem sonha e luta

“Quero plantar e colher, sorrir quando o dia nascer” (Ponto de Equilíbrio)

� Dia após dia lutando, essa é a vida do Francisco Pires Mota, o Júnior. De idas e vindas para São Paulo para cortar cana e outros trabalhos, o jovem rapaz decidiu pendurar as botas no lugar em que nasceu, Assentamento Nova Diamantina, em Itatira, no Ceará. Júnior deixou para trás tudo que o impedia de sonhar e crescer e com muita fé começou a cultivar no pequeno quintal de casa. “Depois que eu comecei a trabalhar aqui, é assim, trabalho direto, sempre não queimando nada, sempre guardando tudo que eu pego, eu vou só estocando, colocando prum canto, ficando lá, guardado, progredindo cada vez mais. É tanto que onde você olhar debaixo desses bagaços você encontra aquele, tipo pulgãozinho, que faz a quebra do material. Em todo canto tem. É tanto que tudo que se planta aqui verdadeiramente tá prosperando”, conta orgulhoso o agricultor.

A palavra Agroecologia só chegou à vida de Júnior quando ele se tornou um beneficiário do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro – ASA. “Depois que a gente adquiriu essa tecnologia, a gente vem descobrindo muitas coisas, vem trazendo muitos benefícios pra gente, mais conhecimento. Eu não tinha tanto conhecimento como tô tendo agora porque eu sempre trabalhei sozinho”, afirma o agricultor.

O conhecimento adquirido através do programa já vinha sendo timidamente aplicado através da preocupação com a Natureza e com a saúde dos seus clientes. Júnior, que não usava quase nada de veneno no cheiro‐verde, deixava de aplicar uns dias antes de colher porque tinha consciência de que o agrotóxico iria parar na mesa das pessoas e prejudicar sua saúde. Hoje o agrotóxico faz parte do passado: para quê veneno se o sistema está equilibrado, se a terra está forte?

Itatira

Agosto/2014

A pequena grande saga de Júnior

Page 2: Semiárido é lugar para quem sonha e luta - A pequena grande saga de Júnior

Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

O quintal pequenino enche os olhos de quem chega na casa de Júnior. São mais de 40 pés de mamão, cheiro‐verde, alface, pimenta. E para quem quiser tomar um chá tem: corama, malvarisco, hortelã, mostarda, capim‐santo. O rapaz trabalhador ainda planta milho e feijão perto do açude, a fava, infelizmente, só vai dar a semente, por conta da pouca chuva. A falta de água na região fez Júnior diminuir a quantidade de culturas, mas o que tem é cuidado com muita peleja e dedicação. Com o seu jumento, Júnior já rodou mais de 100 km para vender cheiro‐verde e já chegou a conseguir com o seu trabalho a quantia de R$ 2, 000 mil por mês. O agricultor, que mantêm todas as contas na ponta do lápis, sonha em reunir a família quando as tecnologias estiverem prontas. Serão duas cisternas‐enxurrada e a possibilidade de cultivar muito mais coisas e trabalhar junto com os irmãos, o pai e a mãe. Através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, Júnior conquistou a cisterna de 16.000 mil litros, a caixa d'água, um tanque e um kit completo de horta. O financiamento só será pago a partir de 2016 e a sua cisterna‐enxurrada ajudará bastante nesse processo.

Apesar de jovem, Júnior já enfrentou um sério problema de saúde. O coração não queria bater direito, a tal da arritmia cardíaca, e ele se viu em uma fase muito dolorosa, mas a fé que a saúde ia voltar foi mais forte e a cura chegou. “Eu acordava de manhã, bem cedinho, ouvia a zoada dos menino saindo, uns cuidando do gado, outros se ajeitando, se reuniam quase tudo aqui em frente de casa e saía pro trabalho e eu ficava chorando dentro da rede que as lágrima que pingavam do olho chega era quente, sem poder ir”, relembra o agricultor.

Com a falta de saúde, Júnior teve que abandonar os estudos. Mas, agora os planos são outros, 2014 foi cheio de bênçãos e 2015 será muito mais. O rapaz com jeito de artista de cinema quer voltar a estudar e faz suas orações para que o ano que se aproxima chova bastante para encher as cisternas, o açude e florescer a sua terra.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Realização Apoio