segurança humana e sustentabilidade. compartilhar o respeito à dignidade da vida
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7/21/2019 Segurana humana e sustentabilidade. Compartilhar o respeito dignidade da vida
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilharo respeito pela
dignidade da vida
Enviada s Naes Unidas (ONU)
por ocasio do 37
o
aniversrio da SGI, em 26 de janeiro de 2012
PROPOSTA DE PAZ 2012Por Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Daisaku Ikedanasceu em Tquio,Japo, em 2 de janeiro de 1928.
Formado pela Escola Superior Fuji, na rea
de Economia, atualmente presidente da Soka
Gakkai Internacional (SGI), uma das maiores or-
ganizaes no governamentais das Naes Uni-
das, com mais de 12 milhes de associados em
192 pases e territrios.
Fundou vrias instituies educacionais e cul-
turais, como as escolas Soka (da educao infantil
ao ensino superior), a Associao de ConcertosMin-On, o Instituto de Filosofia Oriental e o Mu-
seu de Arte Fuji de Tquio.
Pacifista, filsofo, poeta laureado e escritor,
com obras traduzidas para mais de vinte lnguas,
scio-correspondente da Academia Brasileira de Le-
tras (ABL) desde 1992, ocupando a cadeira de no14.
Ikeda acredita que um movimento popular cen-
tralizado nas Naes Unidas a chave para transfor-
mar o mundo, onde imperam a desunio e a hosti-
lidade, num lugar de coexistncia pacfica. Por isso,
apresenta anualmente, no dia 26 de janeiro, anivers-
rio de fundao da SGI, sua proposta de paz.
A SGI oficialmente registrada como ONG no
Conselho Econmico e Social das Naes Unidas
(Ecosoc), no Alto Comissariado das Naes Uni-
das para os Refugiados (Acnur), no Departamen-
to de Informaes Pblicas das Naes Unidas
(UNDPI) e na Organizao das Naes Unidas para
a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco). Tambm
integra a Federao Mundial das Associaes das
Naes Unidas (WFUNA).
photos.com
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DE PAZ 2012
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilharo respeito pela
dignidade da vida
Traduo:Mariana Ballestero Sales Vieira
Reviso:Thiago de Mello
Colaborao: Astolfo Valentim Vieira Martins , Edson Shoiti Tokunaga,Maria Alice da Costa e Susan Scaranci Ribeiro
Arte:Henrique Kubota
Foto da capa:Photos.com
Todos os direitos reservados Editora Brasil Seikyo Ltda.
Editora Brasil Seikyo Ltda. Administrao e redao: Rua Tamandar, 1.040So Paulo, SP _CEP: 01525-000
Fones: (11) 3349-1930 / 1941 / 1942 / 1950 _Fax: 3349-1949CNPJ no61.612.891/0001-21
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Jornalista responsvel: Jlio Tadachi China (matrcula no DRT no17.595)
Impresso: Prol Editora Grfica Ltda.
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Perseverante no meu anseio de ajudar a
construo de uma grande sociedade
humana solidria, encaminho, anual-mente, uma Proposta de Paz Organizao das
Naes Unidas (ONU), desde 1983. E sempre no
dia 26 de janeiro, data que marca a fundao da
Soka Gakkai Internacional (SGI) em 1975. Esta
a minha 30 proposta.
Os membros da SGI em todo o mundo esto
comprometidos em trabalhar para que a dignidade
de cada pessoa brilhe e os povos vivam em segu-
rana, por meio de um movimento mundial de edu-
cao para a cultura de paz.O fundamento espiritual da SGI a filosofia do
Budismo Nitiren, que reverencia, acima de tudo, a
dignidade da vida. Trabalhamos inspirados no ar-
dente desejo que nos legou o segundo presidente
da Soka Gakkai, Jossei Toda (19001958): Nunca
mais quero ver a palavra misria usada para se re-
ferir ao mundo, a um pas ou a qualquer indivduo.1
Infelizmente, nosso planeta vive assolado por
guerras e conflitos civis. As pessoas ao redor do
mundo tm a vida e a prpria dignidade ameaa-
das pela pobreza, fome e a destruio ambiental.
Cresce a discriminao e a violao dos direitos
humanos. Alm disso, terrveis desastres naturais,
de um instante para outro, eliminam a vida das
pessoas e enfraquecem as bases da sociedade.
Nos ltimos anos, sucedeu-se uma srie das
maiores catstrofes naturais, impondo um terr-
vel nus humanidade: terremotos e tsunamis
no Oceano ndico, em 2004, e no Japo em
maro do ano passado; terremotos no Haiti, na
Nova Zelndia e na Turquia; inundaes fatais naTailndia e nas Filipinas; e uma severa seca na
Somlia e em grande parte da frica.
Estendo minhas condolncias aos afetados
por esses desastres, minhas oraes para o des-
canso dos falecidos e apoio moral aos que lutam
para reconstruir sua vida e suas comunidades.
Torahiko Terada (18781935), fsico japons
conhecido por seus repetidos apelos por me-
didas mais eficazes para enfrentar terremotos
e tsunamis, observou que, quanto maiores os
avanos da civilizao, mais intenso o impacto
da fria da natureza.
Um exemplo o acidente na Usina Nuclear
de Fukushima, causado pelo terremoto e tsunami
em 11 de maro de 2011, no Japo. A liberao
de radioatividade contaminou ampla rea alm
do territrio japons e deixou grande nmero de
pessoas desabrigadas. No se sabe quando as
vtimas retornaro s suas casas, e h motivos
para preocupao com a sade das crianas e
com os produtos agrcolas e alimentcios.
Os resultados desses desastres no tm pre-
cedentes e a sociedade atual comea a duvidar
da segurana da energia nuclear e pe em ques-
to o prprio ritmo do desenvolvimento cientfi-
co e tecnolgico.
Perspectiva da segurana humana
O indiano Amartya Sen, Prmio Nobel deEconomia e defensor da segurana humana,
firme em suas advertncias sobre as ameaas
que, a qualquer instante, ferem a vida das comu-
nidades. Ainda jovem, viu de perto a espantosa
fome que assolava sua terra natal, na Baa de
Bengala: a experincia foi to aguda que, preo-
cupado com a pobreza e a desigualdade, dedi-
cou a vida inteira a pesquisas socioeconmicas.
Amartya Sen apelou para a promoo, em escala
mundial, de como trabalhar pela segurana hu-
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Segurana humana e sustentabilidade:
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mana e proteger a vida, a subsistncia e a dig-
nidade das pessoas. Ele destaca os perigos da
privao repentina:
A insegurana ameaa a sobrevivncia e o
cotidiano de homens, mulheres e crianas, expe
os seres humanos ao temor das doenas e epi-
demias e deixa as pessoas vulnerveis penria
das crises econmicas. Essa insegurana exige o
mesmo cuidado dedicado aos perigos da priva-
o repentina.2
O professor Sen ressalta que uma sociedade
s ser verdadeiramente segura e estvel quandosouber aliviar e, na medida do possvel, eliminar
as fontes de ameaa e de insegurana que afe-
tam o ncleo vital de todos os seres humanos.3
Os desastres naturais no surgem somente
de fenmenos imprevisveis: eles tambm nas-
cem de crises econmicas que geram crescente
insegurana na vida das pessoas e da rpida de-
gradao do meio ambiente, originada por alte-
raes climticas. Tudo isso afeta pases desen-
volvidos e em desenvolvimento.
O relatrio da Comisso de Segurana Hu-
mana de 2003 da ONU, que o professor Sen pre-
sidiu com o Dr. Sadako Ogata, afirma:
Quando as pessoas passam por estes trau-
mas inevitveis que lhes desanimam extrema
pobreza, danos pessoais, falncia, abalo da so-
ciedade ou desastres , devemos empregar a
viso da segurana humana para salv-las.4
Em setembro do ano passado, o presiden-
te do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou
que o mundo entrou numa nova fase de perigoeconmico. H uma preocupao de que a rea-
o em cadeia da crise econmica continue a
se espalhar de um pas para outro. A economia
global, estagnada desde a recesso de 2008, foi
atingida pela crescente crise da dvida europeia,
nascida na Grcia.
Recentemente, o ndice das avaliaes de
crdito nos Estados Unidos foi reduzido pela pri-
meira vez.
Juntos, esses acontecimentos contribuem
para a instabilidade dos mercados financeiros e
maior queda da atividade econmica.
De acordo com recente relatrio da Organi-
zao Internacional do Trabalho (OIT), o desem-
prego mundial de cerca de 200 milhes.5
Em muitos pases, o padro de vida das pes-
soas est ameaado. A juventude quem mais
sofre com o desemprego. Em alguns pases, os
jovens tm duas a trs vezes mais probabilida-
des de ficar desempregados do que as pessoas
de outras faixas etrias.6Mesmo quando os jo-vens encontram trabalho, trata-se de emprego de
meio perodo ou informal e, portanto, mal remu-
nerado. A insegurana corriqueira nos jovens
de todo o mundo.
Em minhas propostas de paz anteriores, exa-
minei distores da sociedade civil mundial, que
resultaram numa lacuna de vida e numa lacu-
na de dignidade. Quero dizer que inadmissvel
a desigualdade no valor atribudo vida das pes-
soas e sua dignidade, baseada simplesmente
AUXLIO Os membros da SGI sempre esto prontos para ajudar em ocasiesde desastres. Ao lado, crianas japonesas recebem material escolar aps
terremoto e tsunami ocorridos em maro de 2011. Acima, membros da SGI-
Tailndia oferecem donativos s vtimas das inundaes no incio deste ano
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na comunidade em que nasceram e nas circuns-
tncias em que cresceram.
Alm dessas questes estruturais, os meiosde subsistncia e a dignidade das pessoas so
duramente afetados pelos perigos da privao
repentina, provocados por desastres ou crises.
crucial enfrent-los. Esta a rea que eu gostaria
de aprofundar na presente proposta.
A agonia da perda
da natureza das catstrofes destruir num
s instante as coisas mais preciosas, insubstitu-veis vida humana. Nada mais doloroso que a
perda de pessoas que faziam parte de nossa vida
os pais que nos criaram, o companheiro que
dividia alegrias e tristezas, o filho amado, o neto,
o amigo, o vizinho.
O Budismo Nitiren considera essa perda
como o inevitvel sofrimento da separao da-
queles a quem amamos. Ningum est a salvo
dessa dor aguda.
Lembro-me do seguinte episdio da vida do
filsofo norte-americano Ralph Waldo Emerson
(18031882) cujas obras eu amo desde a minha
juventude. Ele anotou em seu dirio a morte de
seu filho de 5 anos com estas simples palavras:
Ontem noite, s 8 horas e 15 minutos, meu pe-
quenino Waldo encerrou sua vida.7
Emerson tinha o hbito, desde moo, de manter
um dirio para reflexo filosfica e literria. A co-
movente descrio do triste fato parece ser tudo
o que ele foi capaz de escrever naquele momento.
Talvez o indicativo mais revelador da profun-didade do sofrimento de Emerson se encontre
no silncio dos dois dias seguintes quatro p-
ginas em branco que foi finalmente quebrado
por este registro:
O sol se ergueu no cu da manh com toda
a sua luz, mas a perda escureceu a paisagem.
Aquele menino, de quem tanto me lembro no
dormir e no despertar, iluminava para mim a es-
trela da manh, e as nuvens da noite...8
O Budismo sempre teve os mistrios da vida e
da morte como preocupao primordial. Em 1276,
Nitiren Daishonin (1222-1282), fundador da esco-
la budista seguida pelos membros da SGI, escre-
veu uma carta a uma discpula que, aps a morte
do marido, perdeu o filho inesperadamente.
Na carta, Daishonin imagina os sentimentos
daquela me de corao enlutado, que poderia
estar se perguntando por que seu filho morrera, e
ela no. Por que no lev-la em vez de seu filho?
Por que deix-la viva para ser atormentada pelo
sofrimento?9Por meio dessas palavras, ele tenta
estar junto dela para dividir seu sofrimento.
Estou certo de que a senhora no hesitaria
em mergulhar no fogo, ou esmagar o prprio cr-
nio se, com isso, pudesse ver seu filho de novo.
Ao imaginar sua dor, no contenho as minhas
lgrimas.10
As tragdias deixam muitas pessoas sofren-
do a perda brusca de amigos e parentes. Nesses
casos, essencial que toda a sociedade esteja
preparada para dar ajuda e conforto por um longo
perodo. Essas calamidades destroem casas, ali-
cerce da vida cotidiana, e os laos da vizinhana.
Um lar muito mais do que simplesmente
um lugar no percurso da nossa existncia; est
gravado com a histria da famlia, repleto de
emoes e sensaes. Abrange um tipo especial
FOTOS:UNPHOTO/SHAREEFSARHAN
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de linha do tempo, unindo passado, presente e
futuro; sua perda rompe a histria da nossa vida.
Alm disso, quando comunidades inteiras
so devastadas, h um rompimento instantneo
das conexes entre as pessoas e o lugar, como
no caso do tsunami que acompanhou o forte ter-
remoto que atingiu o Japo. A intensidade desta
perda cresce na proporo da nossa afeio e
do nosso apego comunidade. Mesmo quando
encontram outros lugares para viver, as pessoasso foradas a se adaptar a um novo ambiente,
na maioria das vezes sem o apoio das relaes
humanas de tanto tempo.
Quando penso na agonia sofrida pelos desa-
brigados, lembro-me das palavras do autor fran-
cs Antoine de Saint-Exupry (19001944):
Nada, na verdade, substitui um companhei-
ro. Velhos amigos no se cria sem demora. Nada
supera o tesouro de recordaes comuns, dissa-
bores, discrdias e reconciliaes, emoes ge-
nerosas. intil plantar uma semente pela ma-
nh e pensar que de tarde vai sentar sombra
do carvalho.11
A tristeza de perder um amigo , creio eu,
semelhante perda da casa em que vivemos, a
vizinhana ou a cidade. uma realidade que de-
vemos ter em mente.
A destruio sbita de locais de trabalho pri-va das pessoas os meios de sustento e, portanto,
o senso de propsito e de dignidade que, para
muitos, deriva do trabalho.
Atualmente converso com o professor Stuart
Rees da Sydney Peace Foundation, na Austrlia, a
respeito de paz com justia. Uma faceta desse
tema refere-se ao desemprego e insuportvel
ameaa que isso representa.
O professor Rees escreveu: Aos desempre-
gados se nega o essencial sentido da autoestima
HOMENAGEM Crianas empinam pipas durante evento realizado pela Agncia da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) e relembram terremoto etsunami ocorridosem maro de 2011 no Japo
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conquistada com o trabalho; seja no sustento, na
realizao ou no prazer de contribuir com a so-
ciedade.12
Tomio Tada (19342010), imunologista de
renome mundial, aos 67 anos sofreu um aciden-
te vascular cerebral. Aps o acidente, descreveu
seu espanto quando percebeu que teria de aban-
donar seu trabalho.
A partir desse dia, tudo mudou: minha vida,
meu objetivo, minha alegria, minha tristeza
tudo ficou diferente.13Quando ca em mim, fui to-
mado por uma insuportvel sensao de perda.Tive de abandonar tudo.14
O trabalho prova que o indivduo necessrio
sociedade. Mesmo que no traga reconheci-
mento ou fama, fonte de satisfao e de orgu-
lho, porque nos confirma no papel que nosso e
somente nosso dentro do contexto social.
As pessoas que perderam casas e bens so-
frem porque desabrigadas. Para elas, a perda do
trabalho no representa somente a quebra da
estabilidade financeira, tambm abala as convic-
es espirituais, quando mais necessitam.
Creio que todos ns somos responsveis em
apoiar as pessoas na reconstruo da sua vida,
levando-as a recuperar a esperana. Sobretudo
com aqueles obrigados a mudar de casa ou de
trabalho, de tal maneira que encontrem um novo
lugar onde possam dizer: Este o meu lugar.
As lies da histria
A pergunta essencial : o que fazer para en-
frentar as trgicas consequncias que surgem
de desastres naturais ou de complexas questes
globais? Antes de tudo, precisamos ser cautelo-
sos e encontrar respostas concretas para evitar a
ampliao do sofrimento e no ver mais a palavra
misria como triste marca do nosso planeta.
So relevantes as palavras de Arnold J. Toyn-
bee (18891975), um dos maiores historiadores
do sculo 20: Nossa experincia no passado nos
d a nica luz que nos possvel para o futuro.15
Faz quarenta anos que visitei o Dr. Toynbee,
em sua casa de Londres. Um dos seus assuntos
prediletos em nossas conversas, como em seuslivros, eram lies da histria.
Na viso do Dr. Toynbee, o ponto fundamen-
tal da histria est na contemporaneidade filo-
sfica de todas as civilizaes.16
Seu pensamento acerca deste assunto vem da
prpria experincia no incio da Segunda Guerra
Mundial, quando palestrava sobre a descrio
que fez Tucdides da Guerra de Peloponeso, no
sculo 4 a.C. Toynbee narra aquele instante:
De repente, senti que as minhas experincias
eram exatamente iguais s de Tucdides no co-
meo da Guerra de Peloponeso. Estarmos a vinte
e trs sculos de distncia era irrelevante. A ex-
perincia do grego vale para nosso futuro.17
Com esta profunda percepo, Toynbee era
capaz de compreender as lies de milnios de
histria da humanidade, relacionadas ao parado-
xo do mundo atual. Na publicao de nosso di-
logo, ele afirma: No devemos ser derrotistas,passivos ou indiferentes aos males que ameaam
atualmente a sobrevivncia humana.18 Guardo
estas palavras em meu corao.
Este pensamento de Toynbee me leva Tese
sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a
Paz da Nao (Rissho Ankoku Ron), escrita por
Nitiren Daishonin, que rene a viso crtica do seu
tempo. Ele enviou este tratado em 1260 para Hojo
Tokiyori (12271263) ento suprema autorida-
de poltica do xogunato de Kamakura.
Nada supera o tesourode recordaes comuns, dissabores,
discrdias e reconciliaes,
emoes generosas
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Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
Nitiren Daishonin inicia sua Tese com as se-
guintes palavras:
Nos ltimos anos vm ocorrendo alteraes
incomuns no cu e estranhos acontecimentos
na Terra. A fome e a peste afetam cada canto do
imprio e se propagam por toda a nao. Bois e
cavalos morrem pelas estradas e seus ossos se
amontoam pelo caminho.19
Na verdade, o Japo daquela poca sofria de-
sastres que ceifaram tantas vidas, dando origem a
uma misria devastadora. O que levou Daishonin a
escrever essa Tese foi seu desejo de encontrar uma
forma de aliviar o sofrimento humano.
O papel do Estado
Ao reler a Tese luz das atuais condies e
dos imperativos da segurana humana, distingo
trs aspectos especiais.
O primeiro a posio filosfica de que o
bem-estar e a segurana dos cidados comuns
devem ser prioridades do Estado.
As ideias expostas na Tese constituem o funda-
mento da filosofia do Budismo Nitiren. Tanto as-
DILOGO PELA PAZPresidente Ikeda conversa com
o historiador Arnold Toynbee
em 1975
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sim que Daishonin a copiou de prprio punho vrias
vezes para que suas ideias no fossem deturpadas.
Quando revemos os textos copiados por ele, depa-ramo-nos com detalhe da maior importncia.
Em sua poca, o caractere chins utilizado
para descrever terra ou pas era composto por
um quadrado emoldurado, representando os li-
mites fsicos do Estado e dentro dele o smbolo
de rei ou arma. Este caractere transmite a ideia de
que as autoridades polticas ou a fora militar
formam a base do Estado.
Em sua Tese, Daishonin substitui rei ou arma
por povo. E utiliza um novo caractere que define
terra ou pas como o lugar onde as pessoas ha-
bitam. Sua inteno era mostrar que o bem-estar
das pessoas a prioridade do Estado. O uso des-tes caracteres resume a essncia da filosofia bu-
dista. [Veja box na pgina seguinte.]
Em outra ocasio, Daishonin escreveu: os
que esto no poder devem ser as mos e os ps
do povo.20Isto , devem servir aos interesses co-
muns, assegurando os meios de subsistncia e a
felicidade do povo.
Como j disse, Nitiren Daishonin apresentou a
Tese ao lder poltico de sua poca. E argumentou
com ele, convicto de que a compreenso correta
UMA ROSA PELA PAZEm setembro de 2011, na sede
da ONU, em Nova York, foi
celebrado o 30 aniversrio do
Dia Internacional da Paz
U
NPHOTO/MARKGARTEN
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
da filosofia budista dissiparia a escurido que en-
volvia a sociedade. Desnecessrio dizer que sua
deciso lhe causou duras consequncias: foi exi-lado duas vezes e foram numerosos os atentados
contra a sua vida, embora ele no tenha cometido
crime algum.
Setecentos e cinquenta anos depois de escri-
ta, a Tese continua surpreendentemente atual,
em particular, a respeito da proteo da vida,
sua constante preocupao. Neste ponto, cito de
novo o relatrio da Comisso de Segurana Hu-
mana da ONU:
O Estado permanece o provedor fundamen-
tal da segurana. Contudo, frequentemente no
cumpre o seu dever e, s vezes, at se torna
ameaador para seus cidados. A ateno com
a segurana deve ser direcionada ao povo e no
ao Estado.21
Cabe-nos perguntar pelo propsito da exis-
tncia do Estado. Ainda que bem-sucedido em
termos econmicos ou militares, se o Estado no
se esfora para aliviar o sofrimento de seus ci-
dados nem para ajud-los a ter uma vida digna,
perde a prpria razo de existir.
A verdade que os desastres e as crises tra-
zem tona os descuidos do Estado que poderiam
permanecer ocultos em tempos normais. Revelam
as vulnerabilidades particulares dos idosos, das
mulheres, das crianas, das pessoas com deficin-
cia e dos marginalizados pela desigualdade social.
Estas foram as consequncias do terremoto que
abalou o Japo em maro de 2011. impossvelno se indignar com a lentido da resposta oficial
ao sofrimento da populao das regies afetadas
e, sobretudo, das pessoas vulnerveis.
Reconhecendo nossa inter-relao
O segundo aspecto da Tese de Nitiren
Daishonin seu pedido pelo estabelecimento de
uma concepo de mundo enraizada no sentido
vital da nossa interconexo. Cito uma passagem
crucial: Se o senhor se preocupasse um pouco
com sua segurana pessoal, deveria primeiro
orar pela ordem e pela tranquilidade em todos
os quatro quadrantes da Terra, no mesmo?
(END, v. 1, p. 58).22
Esta a maneira como Daishonin manifesta
a ideia de que no se pode ser feliz e se sentir
seguro individualmente, ignorando a misria e as
ameaas que afligem os outros.
Como o problema das mudanas climticas
demonstra, neste mundo cada vez mais interdepen-
dente, uma catstrofe em determinado lugar pode
parecer um fato isolado, mas na verdade contm o
potencial de maiores danos em escala global.
Apesar de os efeitos das calamidades parece-
rem relativamente pequenos agora, se no foremcuidados, criaro problemas indissolveis para
as futuras geraes.
A importncia de considerar as dimenses de
tempo e espao das ameaas foi abordada num
relatrio apresentado Assembleia Geral da Orga-
nizao das Naes Unidas (ONU) pelo secretrio-
-geral da ONU, Ban Ki-moon, em 2010. Diz ele:
A segurana humana previne e reduz as
ameaas futuras, quando compreende que cons-
TERRA OU PAS(USO TRADICIONAL)=
REI OU ARMA=
POVO=
TERRA OU PAS(UTILIZADO PORNITIREN DAISHONIN)
=
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telaes particulares de ameaas aos indivduos
e s comunidades se traduzem numa violao
ampla da segurana entre os Estados.23
Na viso budista, a menos que haja paz e se-
gurana nos quatro quadrantes da Terra a
sociedade como um todo , nossa segurana
individual ser mera iluso. Essa maneira de pen-
sar baseada no ensinamento budista da ori-
gem dependente (interdependncia profunda
ou existencial).
As palavras do filsofo espanhol Jos Ortega
y Gasset (1883-1955), Eu sou eu e minha cir-cunstncia, e se no a salvo, tambm no me sal-
vo, que usei mais de uma vez nas Propostas de
Paz, tocam no mesmo ponto. Sua recomendao
salvar... os fenmenos; quer dizer, procurar o
significado do que nos cerca.24
Quando acontecem as tragdias, as pessoas
preocupadas do mundo inteiro respondem solid-
rias com apoio espiritual e material. As manifesta-
es de empatia e solidariedade so fonte incal-
culvel de coragem e esperana para as vtimas.
Nitiren Daishonin tambm registrou: os sofri-
mentos que os seres vivos enfrentam todos so
do prprio Nitiren.25Na sua Tese, ele descreve um
modo de vida que reage contra a dor das pessoas
e trabalha para o alvio dos sofrimentos.
Quando Daishonin fala dos quatro qua-
drantes da Terra e de nao, o mbito de sua
preocupao abrange espao e tempo. Isso pode
ser visto em seu uso repetido de palavras como
Jambudvipa (vocbulo da tradicional cosmolo-
gia budista que significa o mundo inteiro) e suareferncia ao futuro sem limite.
Ele ressaltava a determinao de no ignorar
a tragdia onde quer que ela ocorra, e de impedir
que os legados negativos do presente se prolon-
guem at as futuras geraes.
O conceito de espao implica a conscincia
de nossas responsabilidades como cidados; e o de
tempo, um compromisso com a sustentabilidade.
Como cidados, somos responsveis pelo
planeta que ser deixado para nossos filhos. A
clara conscincia das dimenses de interconexo
da vida deve guiar todas as nossas aes.
A importncia do empoderamento
O terceiro aspecto da Tese de Nitiren Daishonin
o que atualmente chamamos empoderamento
(em ingls, empowerment). Empoderamento
quando numa situao difcil, por meio do dilogo,
incentivamos outra pessoa a manifestar o seu poder
inerente para mudar a realidade. E, uma vez que eladecide mudar, juntos, avanamos compartilhando o
juramento de alcanar a resoluo daquela situao.
Como em muitas escrituras budistas, a Tese de
Daishonin toma a forma de dilogo entre o viajante,
que representa a autoridade secular, e o hospe-
deiro, as perspectivas do Budismo.
Na abertura do texto, o viajante para na mo-
rada do hospedeiro onde ambos discutem e ex-
pressam sua profunda aflio pela sucesso de
desastres que atingiu a nao. As preocupaes
UNPHOTO/EVANSCHNEIDER
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7/21/2019 Segurana humana e sustentabilidade. Compartilhar o respeito dignidade da vida
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
dos dois, de alguma forma, lhes permite enxergar
alm das diferenas de suas posies.
O dilogo se desenvolve e tanto o anfitrio
como o viajante expem suas convices. Em
resposta raiva e confuso do viajante, o hos-
pedeiro, cuidadosamente, explica e resolve cada
uma das suas dvidas. Pelo enfrentamento e con-
frontao de alma a alma, o viajante finalmente
se convence da veracidade das afirmaes do
hospedeiro. Ele resgata o juramento que fizeram
quando da preocupao inicial: Mas no bastaque somente eu aceite e tenha f em suas pala-
vras , devemos trabalhar para que os outros se
deem conta dos seus erros (END, v. 1, p. 62).26
Por fim, ambos concordam que o poderoso
reconhecimento da necessidade de se acreditar
nas possibilidades ilimitadas do ser humano a
mensagem do Sutra de Ltus constitui a es-
sncia do Budismo. a f na certeza de que toda
pessoa possui um potencial infinito: a capacidade
de dar luz sua dignidade.
Despertar para essa grandeza da condio
humana acende a chama da esperana na vida
de quem est perdido na angstia. Essa pessoa,
por sua vez, tem o poder de inflamar a esperana
no outro. O impulso resultante da renovao tem
o poder de afastar a tenebrosa confuso que en-
volve a sociedade.
As palavras da Comisso de Segurana Humana
esto em sintonia com as ideias desse antigo texto.
Por exemplo, segurana humana deve ser constru-
da com a fora das pessoas e suas aspiraes.27A
chave est na capacidade das pessoas para agir por
conta prpria a favor dos outros.28
A questo principal de toda a atividade relacio-
nada segurana humana no deve ser: o que po-demos fazer? Mas sim: como a ao poder apoiar
o esforo e a capacidade da pessoa afetada?29
Descrevendo o caos de seu tempo, Daishonin
lamentou a perda do empoderamento. As cala-
midades afetaram o nimo das pessoas, e muitas
pareciam ter perdido a vontade de viver. Alm
disso, a tica predominante da sociedade foi um
dos fatores que as incentivaram a evitar a reali-
dade e procurar tranquilidade apenas no reino de
sua vida interior.
RESPEITO A AssembleiaGeral da ONU homenageia
as vtimas do terremoto no
Haiti em 2010, realizando um
minuto de silncio
Acreditar nas
possibilidades do serhumano constituia essncia do Budismo
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Nitiren Daishonin considerava malignos os
ensinamentos que estimulam a resignao ou o
escapismo como um caminho para a salvao:
algo que turva a viso das pessoas, cegando-as
para o potencial ilimitado que elas possuem. Para
Daishonin, o nico caminho vivel para superar o
impasse que a sociedade enfrenta cada pessoa
acreditar nas suas prprias possibilidades e traba-
lhar de mos dadas para que todos se fortaleam.
Neste contexto, lembro-me do episdio narra-
do pelo filsofo austraco Ivan Illich (1926-2002).
Ele disse que jamais devemos ter medo de ser uma
vela na escurido.30Illich descreve sua amizade
com o bispo Dom Hlder Cmara (1909-1999),
que lutava contra as brutalidades desumanas do
regime militar brasileiro na dcada de 1960.
Dom Hlder tentou dissuadir o general que
mais tarde se tornaria conhecido como um dos mais
cruis torturadores do Brasil. A tentativa do dilo-go fracassou. Depois que o militar partiu, Dom
Hlder caiu num silncio profundo, virou-se para
Illich e disse:
No desanime nunca. Enquanto uma pessoa
estiver viva, em algum lugar ainda h brasa sob as
cinzas, e toda a nossa tarefa ... soprar... devagari-
nho, com cuidado soprar... e soprar... e voc vai ver
que ela se acende. No se preocupe em atear fogo
de novo. Tudo o que tem a fazer soprar.31
As palavras de Dom Hlder, no desanime
nunca representam o esforo de renovar a prpriadeciso e, ao mesmo tempo, a importncia do enco-
rajamento aos que esto beira do desespero.
O esprito do empoderamento encontra-se
no ato cuidadoso de assoprar a brasa que resta
na alma humana, tanto daqueles que nos apoiam
como dos que esto contra. Acredito que a f e
a perseverana so a fora motriz das lutas de
Mahatma Gandhi (1869-1948) e de Martin Lu-
ther King Jr. (1929-1968) pelos direitos huma-
nos. E daqueles que lideraram as revolues po-pulares do leste europeu que ps fim guerra fria
e, mais recentemente, do movimento conhecido
como a Primavera rabe.
Durante os sombrios anos dos confrontos da
guerra fria, visitei pases comunistas a antiga
Unio Sovitica, a China para realizar inter-
cmbios com o objetivo de amenizar as tenses
e aprofundar a compreenso mtua. Empenho-
-me tambm para dialogar com lderes polticos
e intelectuais do mundo de vrias culturas e re-
ligies. Estes esforos para promover a amizade,
atravessando fronteiras, so frutos da convico
de que a nica base duradoura para uma socie-
dade mundial pacfica reside na transformao
do corao de cada indivduo. Isso s poder
ser alcanado com um dilogo que desperte em
cada um de ns a nossa humanidade.
Restaurar o corao
Dos trs aspectos da Tese de Nitiren Daisho-nin que discutimos, creio que o do empoderamen-
to fundamental para a recuperao do equilbrio
psquico e fsico, a restaurao do corao. A re-
construo mental e espiritual um dos desafios
mais difceis e demorados que enfrentamos.
Como j fiz antes, lembro a afirmao da
Comisso da ONU que trata desta importan-
te questo, quando considera que a segurana
humana deva ser construda com a fora das
pessoas e suas aspiraes. um desafio difcil,
O esprito
do empoderamentoencontra-se no ato cuidadoso de
assoprar a brasa que resta na alma
humana, tanto daqueles que nos
apoiam como dos que esto contra
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
seno impossvel, para que o indivduo d o pri-
meiro passo sozinho; e muito mais para susten-
tar at o ponto onde toda a vida ser iluminadapela luz da sua esperana. Metaforicamente, as
pessoas precisam de cordas seguras ligando co-
rao a corao e dos ganchos do encorajamento
para que continuem sua escalada pelos ngremes
caminhos da vida.
Exemplos luminosos so a vida de trs figuras
histricas, Emerson, Saint-Exupry e Tada.
Alm da trgica perda do seu filho, a vida de
Emerson foi marcada pela morte da sua primeira
esposa e dos seus dois irmos. Tempos depois, elereflete sobre estas perdas e conclui que assumiram
o aspecto de um guia ou de um gnio,32dando-lhe
o mpeto para transformar o seu modo de viver.
Saint-Exupry escreveria mais tarde:
O que salva um homem dar um passo e de-
pois outro. sempre o mesmo passo, mas voc
tem de dar... O que assusta o homem o desconhe-
cido. Mas, quando tem de enfrentar o desconheci-
do, passa a conhec-lo e perde o medo.33
Tomio Tada, imunologista, finalmente foi ca-
paz de voltar a escrever e, citando a Divina Co-
mdia de Dante, gravou estas palavras: Se estou
numa condio infernal, ento me deixe descre-
ver o meu inferno. E acrescentou: No sei o que
me espera, mas estou aqui pelo que eu passei.34
Ele estava preparado para recuperar o sentido da
sua vida.
Em cada um desses momentos dramticos,
foi indispensvel o apoio dos outros. O filsofoWilliam James (1842-1910), ao estudar a situa-
o dos sobreviventes do terremoto de So
Francisco em 1906, concluiu que as pessoas que
trocam experincias sentem uma mudana per-
ceptvel no senso de sofrimento e de perda. Mes-
mo que esta troca no leve a um avano imedia-
to, incentiva pessoas mergulhadas na dor a olhar
o futuro sem esperana.
Devemos dar ateno s palavras que fluem de
outra alma. Nosso corao estremece com o sofri-
IGUALDADE Dr. Martin Luther King, Jr., presidente da Conferncia de Liderana CristSulista, e Mathew Ahmann, diretor executivo da Conferncia Nacional Catlica para
Justia Inter-racial, durante a Marcha dos Direitos Civis em Washington, capital dos
Estados Unidos (agosto de 1963)
DOM
NIOPBLICO
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
mento do outro e, pacientemente, sopra vida naspequenas brasas que ainda restam no outro corao.
O filsofo alemo Karl Jaspers (1883-1969)
reconhece que o conjunto de ensinamentos dei-
xado por Sakyamuni os sutras que contm
80 mil ensinamentos nasceu de dilogos que
ele manteve com uma pessoa ou com pequenos
grupos. Sakyamuni acreditava que, para falar
com todos, preciso falar com cada um.35 Seus
ensinamentos so respostas s preocupaes e
aos sofrimentos das pessoas.
Chamando os outros de amigo, Sakyamunise esforava para penetrar no corao e na men-
te de cada um deles, esclarecer a natureza real
do sofrimento e ajud-los a despertar a forma de
super-los. A parbola da flecha envenenada
na qual um homem morto ao ser atingido por
ela conduz ao entendimento da sabedoria do
Budismo de no se ater a conceitos metafsicos
ou a debates filosficos. Em vez disso, o Budis-
mo aprofunda o desejo de aliviar o sofrimento de
toda pessoa.
Este cuidado se v nos ensinamentos de Ni-
tiren Daishonin. Nas cartas que enviou aos seus
discpulos, ele abraa cada um deles, lamentan-
do-lhe as dificuldades como se fossem suas. As
palavras de Daishonin nos chegam at hoje como
diretrizes para a vida porque so a cristalizao de
sua orao solidria e determinao para orientar
os discpulos a superar as provaes.
Ao lado do povo
Atualmente, os membros da SGI em todo o
mundo criam vnculos de corao a corao por
meio do dilogo de vida a vida, tecendo redes de
incentivos mtuos.
Em situaes de emergncia, de calamida-
des, as instalaes da Organizao esto dis-
posio dos desabrigados. Distribumos material
de socorro, colaboramos nos trabalhos de limpe-
za e em outras atividades de salvamento. Cada
membro apoia e incentiva seus vizinhos, ainda
A parbola da flecha envenenada
O novo discpulo fez uma srie de questes abstratas ao
Buda, que lhe respondeu com a parbola sobre um homem
que foi atingido por uma flecha envenenada. Os amigos e pa-
rentes do homem conseguiram um cirurgio para cur-lo. Ele
no quis que removessem a flecha at descobrir: quem atiroucontra ele, sua casta, seu nome, sua altura, de onde veio, que
tipo de arco foi utilizado, de que material era feito, quem colo-
cou a pena e que tipo de pluma foi usada. Antes de encontrar
as respostas, o homem morreu. O Buda empregou essa pa-
rbola para demonstrar a falta de sentido em ficar obcecado
com especulaes abstratas.
As palavras de
Daishonin nos chegam athoje como diretrizes para a vida
porque so a cristalizao de sua
orao solidria
PHOTOS.COM
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
que ele prprio tenha de suportar os impactos
dos desastres. Tudo isso uma extenso das
nossas atividades religiosas.Esses atos so a expresso espontnea do de-
sejo de ajudar, o compromisso com a felicidade,
que s se sente quando se reparte com os outros.
Durante os encontros anuais de ONGs (em
junho de 2011, em Genebra) com o Escritrio
do Alto Comissariado das Naes Unidas para
os Refugiados (Acnur), dedicou-se uma sesso
especial ao papel das Organizaes Baseadas na
F (FBO). Ficou demonstrado o crescente valor
da contribuio das FBO na ajuda aos atingidospelas ameaas que surgem na sociedade.
Baseado na experincia do terremoto e tsu-
nami no Japo, um representante da SGI inter-
veio na sesso:
Mesmo num ambiente complexo e insegu-
ro, o empoderamento dos sobreviventes que
faz a ajuda humanitria ser eficaz e sustentvel.
Com sua autoajuda e cumplicidade, as FBO esto
numa posio privilegiada para servir.36
Como exemplo deste tipo de empoderamento,
lembro-me de um fato narrado por Martin Luther
King Jr. Uma idosa participa de um boicote aos
transportes coletivos de Montgomery (1955-1956),
recusando-se a andar no nibus em que havia
segregao racial. Um homem que estava de
carro e tambm apoiava essa manifestao pa-
rou ao lado dela e ofereceu-lhe uma carona. Ela
no aceitou, dizendo: Eu no estou aqui por mim
mesma. Estou caminhando por meus filhos e pormeus netos.37
Nas consequncias das catstrofes, muitas
pessoas, ainda que fsica e emocionalmente cas-
tigadas, so levadas a agir pelo desejo de servir
da melhor maneira, no apenas a seus amigos e
entes queridos, mas a quem estiver em perigo.
O Budismo Nitiren ensina que, no importan-
do as circunstncias, temos a capacidade de aju-
dar os outros; e nos assegura que os que sofrem
tm direito a maior felicidade.
Uma escritura budista afirma: A torre do te-
souro no outra seno todos os seres vivos.38
Isso significa que a magnfica torre, de escala
csmica, descrita no Sutra de Ltus, nada mais
que a essncia original de cada ser humano.
Uma pessoa que despertou para a grandeza do
ser adquire um estado de vida indestrutvel. Esta
a dignidade da vida que no pode ser destruda
por qualquer ameaa ou tribulao. Como os su-
tras declaram: Um elefante louco pode somen-
te destruir o seu corpo, mas no seu esprito
(WND, v. 4, p. 51).39
Quanto mais pessoas com esta convico es-
tenderem a mo aos aflitos e juntos iniciarem areconstruo da comunidade, mais torres do te-
souro se levantaro. Na SGI, este princpio o fun-
damento da nossa f e d sentido ao que fazemos.
Aps os desastres dos ltimos anos, vimos
muitos exemplos de redes voluntrias de ajuda,
com pessoas vindas de todo lado, surgindo quan-
do as autoridades locais estavam sobrecarrega-
das. Em minha opinio, este mesmo impulso est
no apoio e incentivo oferecidos por pessoas que
esto longe, em outros pases.
A Torre do Tesouro
No Sutra de Ltus, escritura reconhecida na tradio
do Budismo Nitiren como o mais elevado ensinamento
de Sakyamuni, a imagem de uma enorme torre de te-
souros cravejada de joias usada para ilustrar a beleza,
a dignidade e a preciosidade da vida. A Torre do Tesouro
aparece no dcimo primeiro captulo do Sutra de Ltus
quando emerge da terra e paira no ar. Ela adornada
com sete tipos de tesouro: ouro, prata, lpis-lazli, con-
chas do mar, gata, prola e cornalina. Esses tesouros
correspondem aos vrios aspectos da capacidade hu-
mana de trabalhar para a autoperfeio.
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
As aes em momentos difceis demonstram
a importncia de se nutrir constantemente os la-
os de apoio e de cultivar o esprito de ajuda m-
tua. Esta a melhor maneira de capacitar os povos
para reagir aos perigos da privao repentina.
A Dra. Wangari Maathai (19402011), Prmio
Nobel da Paz, criou o Movimento Cinturo Ver-
de no Qunia e em outros pases da frica. Seu
intuito era capacitar as pessoas para fazer frente
s ameaas da destruio ambiental. Por vrias
vezes, ela se deparou com obstculos e at com
a censura: muitas rvores recm-plantadas foram
destrudas pelos que se opunham ao movimento.
Pois, como ns, as rvores tambm sobrevive-
ram, escreveu a Dra. Maathai. As chuvas viro
e o Sol brilhar, e, quando menos se esperar, as
rvores vo dar novas folhas e brotos nascero.40O incentivo de suas palavras inesquecvel.
Ela conseguiu dar ao Movimento Cinturo
Verde o poder de despertar a energia das pessoas.
Isso porque o Movimento se fez com o esprito
de trabalhar com em vez de trabalhar para.41
A convico de trabalhar com cria um ciclo
autossustentado para recuperar o empoderamen-
to do qual tenho falado. Este processo, conduzido
pelo prprio povo, dissipa a escurido do desespe-
ro e faz surgir no horizonte um sol de esperana.
Uma clara viso do futuro
Gostaria de discutir agora propostas concre-tas para enfrentar diversas ameaas prejudiciais
vida das pessoas.
Antes, bom observar duas perspectivas des-
tacadas pela Dra. Elise Boulding (19202010),
pioneira da cultura de paz. A primeira agir com
a necessria clareza do futuro que desejamos. A
outra o intervalo de tempo que ela chama de
presente de 200 anos.42
A respeito da primeira perspectiva, a Dra.
Boulding contou-me que na dcada de 1960,numa reunio de estudiosos dos aspectos eco-
nmicos do desarmamento, ela perguntou como
seria um mundo totalmente desarmado. Para sua
surpresa, eles no tinham ideia alguma, o traba-
lho deles era apenas convencer os outros que o
desarmamento era possvel.
Como poderiam trabalhar de corao num
movimento cujo resultado nem sequer imagina-
vam?43 Esta questo essencial. No importa
quo relevantes sejam a paz e o desarmamento,
se o movimento para alcan-los no tiver uma
viso claramente definida, no gerar a energia
necessria para superar os obstculos em meio
realidade. A Dra. Boulding entendia que uma
viso comum a todos une as pessoas e lhes per-
mite se dedicar incondicionalmente.
A outra perspectiva da filsofa, o presente
de 200 anos, afirma que a nossa vida abrange o
perodo dos cem anos passados a cem anos futu-
ros. Ela salientou: No vivemos apenas no pre-
sente. Se este momento fosse tudo, suas ocor-rncias nos esmagariam.44Mas, pensando que
vivemos num perodo maior, podemos participar
da vida de uma multido de crianas recm-
-nascidas e de idosos centenrios. Desta forma,
a Dra. Boulding valoriza a importncia de viver-
mos com a perspectiva ampliada pelo passado e
o futuro da nossa comunidade.
Esta ideia nos faz levar em conta o sofrimen-
to dos nossos antepassados. Ao mesmo tempo,
nos inspira um senso de responsabilidade para
As aes em momentos
difceis demonstram a importncia de senutrir constantemente os laos de apoio e de
cultivar o esprito de ajuda mtua
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
construir um futuro em que estes mesmos sofri-
mentos no sero experimentados pelas prxi-
mas geraes.
Considerando as perspectivas da Dra. Boul-
ding, proponho os valores do humanismo, dos
direitos humanos e da sustentabilidade como
elementos indispensveis de qualquer viso de
futuro da humanidade. Em termos concretos,
esta a viso de:
um mundo que se recusa a esquecer a tra-
gdia humana ocorrida em qualquer lugar se une
em solidariedade para superar as ameaas; um mundo fundamentado no empodera-
mento dos indivduos prioriza a garantia da dig-
nidade e o direito de conviver em paz;
um mundo que se recorda das lies do pas-
sado e no permite que geraes futuras herdem
o legado negativo da histria humana e pe toda
a sua energia na transformao desse legado.
Este olhar sustenta minhas Propostas de Paz
desde 1983. Para quem lida com um problema de
difcil soluo, a clareza no que se deve fazer
Movimento do Cinturo Verde
Quando trabalhava no Conselho Nacional de Mulheres do
Qunia, a Dra. Wangari Maathai lanou a ideia de um programa
de cultivo de rvores. O objetivo era resolver os problemas do
desmatamento, da eroso do solo e da falta de gua na zona rural
do Qunia. Assim, ela criou, em 1977, o Movimento Cinturo Ver-
de. A este foram incorporados a defesa dos direitos e o empode-
ramento das mulheres, o desenvolvimento econmico equitativo
e o ecoturismo. Mais de 40 milhes de rvores foram plantadas
em toda a frica. Mais de 30 mil mulheres foram treinadas paracontribuir com o melhor aproveitamento e uso racional da flores-
ta, no processamento de alimentos, na apicultura e em outras ha-
bilidades. Em 2004, a Dra. Maathai tornou-se a primeira mulher
africana a receber o Prmio Nobel da Paz por sua contribuio
ao desenvolvimento sustentvel, democracia e paz. O Movi-
mento Cinturo Verde pretende plantar um bilho de rvores em
todo o mundo na prxima dcada.
www.greenbeltmovement.org
AES PELA PAZPresidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, encontram-se com a Dra. Wangari Maathai em fevereiro de 2005
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PROPOSTA
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uma linha de Ariadne: ajuda a encontrar o cami-
nho para sair do labirinto e serve como fonte de
perspectivas para as mudanas.
Quero agora me concentrar em trs grandes
desafios que nos espreitam: desastres naturais; de-
gradao ambiental e misria; e armas nucleares.
Cada um desses desafios vai expor as futuras
geraes s ameaas e aos encargos, e estes, por
sua vez, sero maiores, quanto mais adiarmos
nossa resposta.
Que prevaleam os direitos
Para reduzir os riscos dos desastres, propo-
nho o fortalecimento das estruturas interna-
cionais de apoio s vtimas das catstrofes: a
aplicao dos direitos e a regularizao do com-
promisso do Gabinete do Alto Comissariado das
Naes Unidas para os Refugiados (Acnur).
Atualmente, os esforos da ONU para pro-
mover a cooperao internacional no intuito de
ENCONTRO Elise Boulding,Randall Forsberg e Hazel
Henderson em debate no
Centro de Pesquisa de Boston
para o Sculo 21 (atualmente,
Centro Ikeda para a Paz, a
Aprendizagem e o Dilogo)
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
reduzir os danos das catstrofes, a partir de uma
perspectiva preventiva, esto no mbito da Es-
tratgia Internacional para Reduo de Desastres(Einurd). Mas, ao mesmo tempo, pela natureza
imprevisvel dos desastres, indispensvel o pre-
paro para o apoio queles cuja vida atingida.
Aliado ao dever humanitrio, defendo que os
direitos humanos sejam o ponto central em todo
esforo de socorro. Esta abordagem garante dig-
nidade s pessoas afetadas.
Proponho que as atividades de ajuda humanit-
ria s vtimas das catstrofes, que at agora foram
tratadas, caso a caso, pelo Acnur, sejam oficialmen-
te includas entre os deveres do Alto Comissariado.
Ao longo de sua histria, o Acnur vem am-
pliando o leque de beneficirios e de competn-
cias de suas atividades. Alm de seu mandato
original de proteo aos refugiados, agora res-
ponsvel pela ajuda humanitria dedicada aos
refugiados internacionais e populaes afetadas
pela guerra. O Acnur responde ainda pela prote-
o daqueles que requerem asilo poltico e dos
aptridas. O artigo nono do mandato do Acnur
prev que ele tambm participar em atividadesadicionais determinadas pela Assembleia Geral.
Relatos mostram que, hoje, so 160 milhes
as pessoas afetadas por desastres naturais e 100
mil as que perdem a vida a cada ano. Em com-
parao com a dcada de 1970, atualmente
triplicada a incidncia de desastres e o nmero
de pessoas atingidas. A maioria das vtimas est
concentrada nos pases em desenvolvimento; e
o ciclo vicioso de catstrofes e de pobreza um
desafio ao qual devemos responder.45
O alto-comissrio das Naes Unidas para
Refugiados, Antnio Gutierrez, observou:
Qualquer ao deve estar amparada pelos di-
reitos humanos, pois a experincia vivida aps o
tsunamique ocorreu no Oceano ndico em 2004
e outros recentes desastres confirmam que tais
situaes de emergncia geram novas ameaas
aos direitos da populao afetada.46
De acordo com os dados, cresce cada vez mais
a ateno voltada proteo da dignidade daque-
les que foram atingidos por desastres, tanto quan-
do foram socorridos como no processo de recupe-
rao. Resta, contudo, a tendncia de considerar
inevitvel que ocorra alguma deteriorao dascondies de vida e de sade. Em compensao, o
esforo para que seus direitos sejam protegidos se
acentua em casos de desastres, particularmente,
nas implicaes para a sobrevivncia.
Esperam-se medidas que permitam ao Acnur
estar constantemente comprometido com o so-
corro s vtimas. Uma estrutura deve ser estabe-
lecida para possibilitar ao Acnur realizar aes
de salvamento, em parceria com outras organi-
zaes internacionais, alicerada nos princpios
Fio de AriadneA histria do fio de Ariadne surge na antiga lenda gre-
ga sobre Teseu e Minotauro. Segundo uma verso dessa
mitologia, os atenienses eram obrigados a sacrificar sete
rapazes e sete moas a cada nove anos em oferecimen-
to ao Minotauro uma criatura com cabea de touro e
corpo de homem que vivia no centro de um labirinto. Em
certo ano, Teseu, o heri, ofereceu-se para matar o Mi-
notauro. Ao chegar a Creta, a filha do rei, Ariadne, apai-
xonou-se por ele. Ela lhe deu um novelo de linha para ele
navegar pelo labirinto. Teseu cumpriu sua misso. E refezo caminho de volta trazendo outros para fora do labirinto.
Aliado ao dever
humanitrio,defendo que os direitos humanos
sejam o ponto central em todo
esforo de socorro
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
do humanismo e dos direitos humanos, para pro-
teger a vida das pessoas. Precisamos criar umacultura desses direitos para defender a dignidade
das pessoas que se encontrem em perigo ou so-
frem pela desigualdade social.
A Assembleia Geral da ONU aprovou, em de-
zembro de 2011, uma indita Declarao sobre
Educao e Formao em Direitos Humanos, es-
tabelecendo princpios e objetivos por meio dos
quais a sociedade internacional deve promover
uma cultura de direitos humanos. A Declarao,
elaborada desde 2007, aps deciso do Conse-
lho de Direitos Humanos da ONU, reflete a voz
da sociedade civil por meio das contribuies da
ONG Grupo de Trabalho em Educao em Direi-
tos Humanos e Aprendizagem da Conferncia
das ONGs em Relaes Consultivas para as Na-
es Unidas e outras organizaes.
Como presidente da ONG Grupo de Trabalho
e para implementar o esprito dessa Declarao,
a SGI colabora com a Associao para a Educa-
o em Direitos Humanos (HREA) para copro-
duzir um DVD educativo em parceria com o Es-critrio do Alto Comissariado das Naes Unidas
para os Direitos Humanos.
Garantir que o esprito da Declarao seja mun-
dialmente aceito resultar na promoo do socorro
com foco consistente nos direitos humanos, condu-
zido pelos governos nacionais e regionais.
O desafio central da comunidade internacio-
nal no sculo 21 criar uma cultura de direitos
humanos. E a SGI trabalha para reforar a contri-
buio da sociedade civil neste processo.
A este respeito, proponho maior nfase no
papel que a mulher desempenha em todos os
processos para reduo do risco de desastres,
assistncia e reconstruo, como um objetivo
prioritrio da sociedade internacional.
Esperana na mulher
Em resposta aos desastres e perigos da pri-vao repentina, essencial atender situao
de cada um. Ao mesmo tempo, imprescindvel
empoderar as pessoas para transformar suas
prprias circunstncias. neste ponto que o pa-
pel da mulher indispensvel.
Em termos de desastres naturais, estudos in-
dicam que a mulher mais propensa a morrer do
que o homem.47E esta tendncia aumenta com
as dimenses da tragdia. Quando ocorre uma
catstrofe, a mulher, alm de suportar um fardo
Direitos Humanos_DVD EducativoA Soka Gakkai Internacional (SGI), em colabo-
rao com a ONG Associao para Educao em
Direitos Humanos (HREA), trabalha para produzir
um DVD que sensibiliza [o pblico] sobre o pa-
pel positivo que a educao em direitos humanos
pode desempenhar na capacitao das pessoas e
na promoo de uma cultura de direitos humanos.
O DVD Educativo apresentar exemplos da ndia,
Austrlia e Turquia, que ilustram como a educao
em direitos humanos vem ajudando a proteger ecapacitar os indivduos cujos direitos humanos fo-
ram ameaados. Alm disso, destacar o desen-
volvimento internacional no mbito da educao
em direitos humanos, como a recente adoo da
Declarao das Naes Unidas sobre Educao e
Treinamento em Direitos Humanos.
www.hrea.org
imprescindvel
empoderar as pessoas paratransformar suas prprias circunstncias
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
desproporcional das privaes, tem seus direi-
tos humanos e sua dignidade expostos a graves
ameaas. evidente que preciso enfatizar ascapacidades da mulher para contribuir no alvio
e na reconstruo, e lev-las em conta no enfren-
tamento dessas adversidades.
O Quadro de Ao de Hyogo 2005-2015,
aprovado na Conferncia Mundial sobre Redu-
o de Desastres, realizada em 2005, continha
a seguinte declarao: A perspectiva de gne-
ro deve ser integrada em todas as polticas de
gesto do risco de desastres, planos e processos
decisrios.48
Infelizmente, como o Relatrio de
Avaliao Global de Reduo do Risco de Desas-
tres de 2011 assinalou, os progressos nesta ma-
tria continuam insuficientes. preciso mudar, e,para tanto, necessrio um mandato inequvoco
e juridicamente vinculativo.
Tomemos o exemplo da Resoluo n 1.325,
aprovada pelo Conselho de Segurana da ONU
em outubro de 2000, que reafirma a importn-
cia da igualdade de participao e total envol-
vimento da mulher em todos os esforos para
manter e promover a paz e a segurana da vida.
Isso transmite uma mensagem clara e poderosa
ao mundo inteiro.
CARINHO E ATENO A Agncia da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) realiza Jogos de Vero com crianas da Faixa de Gaza (junho de 2010)
UNPHOTO/SHA
REEFSARHAN
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Mais de dez anos depois de aprovao, a ple-
na implementao ainda um desafio, preciso
constante apoio. Apesar disso, a existncia da Re-
soluo n 1.325 de grande importncia, porque
se tornou referncia para a promoo de diversas
iniciativas mundiais.
O ex-subsecretrio-geral da ONU, Anwarul K.
Chowdhury, que teve papel indispensvel na apro-
vao da Resoluo no1.325, disse-me certa vez:
A cultura de paz fincar razes mais fortes com a
participao da mulher... No existe mundo pacfi-
co, no verdadeiro sentido da palavra, sem a parti-cipao da mulher.49
As mulheres esto habilitadas a desempenhar
um papel extremamente importante nas reas de
reduo de desastres e recuperao. Com a de-
vastao do terremoto no Haiti, cresce o reconhe-
cimento dentro do sistema das Naes Unidas da
necessidade de ampliar o mbito da Resoluo
no1.325 aos desastres naturais.
Proponho que o conceito de construo da
paz na Resoluo no
1.325 contemple a reduo
As mulheres esto habilitadasa desempenhar um papel extremamente
importante nas reas de reduo de desastres
e recuperao
RESPEITO S MULHERES Michelle Bachelet ( esquerda) discursa na Comisso sobre o Status das Mulheres (CSW), em fevereiro de 2012 em Nova York, Estados Unidos
UNPHOTO/R
ICKBAJORNAS
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
do risco de desastres e de recuperao, ou que
uma nova resoluo seja aprovada ressaltando o
desempenho da mulher nesse trabalho.O Japo foi o pas-sede quando o Quadro de
Ao de Hyogo foi aprovado. E sofreu grandes
terremotos em Kobe, Tohoku e em outras reas.
Por isso, peo que o Japo tome a iniciativa de
uma ao modelo para os demais pases, pela
melhora rpida de sua conjuntura interna, apta
para prevenir catstrofes com a conscincia do
papel da mulher.
Michelle Bachelet ex-presidente chilena e pri-
meira diretora executiva da ONU Mulher, entidadecriada h dois anos. Ela considera a capacidade de
resistncia e potencialidades da mulher:
Vi em mim mesma o que as mulheres, nas
circunstncias mais difceis, conseguem para suas
famlias e para a sociedade desde que tenham
chance. O poder de resistncia, a dedicao ao
trabalho e a sabedoria das mulheres continuam
a ser os maiores recursos inexplorados da huma-
nidade. No podemos nos dar ao luxo de esperar
mais cem anos para revelar este poder.50
A mulher deve ser empoderada como agen-
te de mudana eficaz nas reas de preveno do
risco de desastres, recuperao e reconstruo.
Suas capacidades devem ser reconhecidas para
resoluo de conflitos, preveno e construo
de uma cultura de paz. intolervel que a mulher
continue a suportar o fardo mais pesado.
A SGI trabalha pela conscientizao do papel
central da mulher para uma cultura de paz, e pro-move, localmente, maior conscincia sobre as con-
tribuies da mulher em relao s catstrofes.
Uma sociedade sustentvel
Outras questes preocupantes so: o meio
ambiente e o desenvolvimento sustentvel.
A Conferncia das Naes Unidas sobre De-
senvolvimento Sustentvel Rio+20 ser
realizada em junho deste ano no Rio de Janeiro.
Esta Conferncia analisar a evoluo dos traba-
lhos ao longo das ltimas duas dcadas, desde a
Cpula da Terra de 1992. Ela se concentrar em
dois temas: a economia verde no contexto do
desenvolvimento sustentvel e a erradicao dapobreza; e o quadro institucional para o desen-
volvimento sustentvel.
Ainda ocorrem debates sobre a definio do
que seja economia verde. importante no nos
precipitarmos numa definio restrita deste con-
ceito, simplesmente representando um compro-
misso entre as preocupaes com o crescimento
econmico concorrente e a proteo ambiental
ou apenas uma nova ferramenta para a gerao
de emprego.
ONU Mulheres
A ONU Mulheres, ou a Entidade das Naes
Unidas para a Igualdade de Gnero e o Empode-
ramento das Mulheres, foi criada por meio da Re-
soluo no64/289 da Assembleia Geral das Na-
es Unidas em 2010, com o objetivo de trabalhar
pelo empoderamento das mulheres e meninas. A
ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, di-
retora executiva da entidade. Ao integrar quatro
partes da estrutura da ONU, que anteriormente
eram distintas, a ONU Mulheres visa combater asdesigualdades enfrentadas pelas mulheres em ter-
mos de cuidados com a educao, o trabalho e a
sade. Busca garantir que elas tenham uma repre-
sentao equilibrada nos processos decisrios no
campo da poltica e economia. Apoia organizaes
intergovernamentais na formulao de polticas e
normas e ajuda os governos na sua implementao
e na monitorao da operabilidade do sistema das
Naes Unidas com seus prprios compromissos
em matria de igualdade de gnero.
www.unwomen.org
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Em 2011, o Programa das Naes Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma) organizou uma confe-
rncia de jovens em Bandung, na Indonsia, queaprovou uma declarao sobre a economia ver-
de: Numa estrutura integrada verdadeiramente
sustentvel, o bem-estar, a igualdade social e a
proteo ambiental tm o mesmo peso.51Estou
inspirado com a esperana e o senso de respon-
sabilidade desses jovens.
Gostaria da aprovao de metas comuns
para um futuro sustentvel como continuao
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio
(ODM), que vo at 2015. A verso zero daConferncia Rio+20, resumo das declaraes
apresentadas aos organizadores da Conferncia,
refere-se necessidade dos Objetivos de Desen-
volvimento Sustentvel (ODS). Espero que todos
os participantes desta deliberao se pautem pe-
los desafios que a humanidade enfrenta.
At hoje, a sociedade internacional trabalha
para a realizao dos ODM, que incluem metas
como a reduo da misria e da fome. Os ODM
ajudaram a conduzir esforos para amenizar as
desigualdades que j mencionei. Atualmente, h
muitos pedidos de um novo conjunto de metas a
partir de 2015.
Apoio com entusiasmo a tentativa de se es-
tabelecer esses objetivos e espero v-los dando
continuidade ao esprito dos ODM de atenuar as
distores em nossa sociedade global geradas
pela pobreza e pelas disparidades de renda. De-
vem tambm envolver uma gama completa de
questes sobre segurana humana que nenhum
pas discordaria e, desta forma, unir as pessoasnum empreendimento comum da humanidade
no sculo 21.
Para este fim, proponho que a Conferncia
Rio+20 estabelea um grupo de trabalho para
estudar estes objetivos e inicie um dilogo. Os
dois conceitos-chave dessa tarefa so a seguran-
a humana e a sustentabilidade.
O que a sustentabilidade? Em termos bem
simples, penso que possa ser descrita assim: um
modo de vida em que a conquista da minha fe-
licidade no custe o sacrifcio de outro; a deter-
minao de no deixar para a prxima gerao a
nossa comunidade e o nosso planeta mais dani-
ficados do que eram quando chegamos. Uma so-
ciedade sustentvel aquela cujo futuro no seja
prejudicado pelas necessidades momentneas
do presente, mas onde as melhores escolhas se-
jam determinadas pelos interesses dos nossos
filhos e netos.
A procura desses ideais no deve ser acom-
panhada pela obedincia a regras impostas de
fora nem como um fardo sufocante de respon-
sabilidade. Pelo contrrio, ela deve ser um desejo
natural. O economista John Kenneth Galbraith
(19082006) disse muito bem, certa ocasio em
que conversvamos: um sculo em que as pes-
soas falem: Eu gosto de viver neste mundo.52
Eu estava motivado por sentimentos muitosemelhantes quando escrevi em minha Proposta
de Paz de 2008 que o esforo para alcanar os
ODM deve ser no apenas para cumprir metas,
mas para restaurar o sorriso no rosto daqueles
que sofrem.
No preciso criar do zero a tica necess-
ria para a concretizao desta viso. Ela est nas
religies e culturas tradicionais, verdade que a
sociedade contempornea possui, mas perdeu
de vista. Os povos indgenas iroqueses da Am-
Uma sociedade
sustentvel aquela cujo futuro no seja
prejudicado pelas necessidades
momentneas do presente, mas
onde as melhores escolhas sejam
determinadas pelos interesses dos
nossos filhos e netos
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
rica do Norte, por exemplo, recomendam: Tenha
sempre em vista no s o presente, pense nas fu-
turas geraes, e mesmo naquelas cujas faces j
esto sob a superfcie da terra...53
Da mesma forma, nas escrituras budistas en-contramos as famosas palavras de Sakyamuni:
O que visvel e invisvel,
Os que vivem perto e longe,
Os que nasceram e os que vo nascer
Que todos sejam felizes.54
A tica de um novo conjunto de metas para
uma sociedade global sustentvel deve ser tra-
balhada por meio de aes educativas para sen-
sibilizar as pessoas de que no se trata de regras
alheias. Mas sim de um juramento firmado na
valorizao da vida expressa nessas Declaraes.
indispensvel que a formulao das metas
considere cuidadosamente questes como a po-breza, a indigncia e as desigualdades das con-
dies de vida; lide com a variedade de ameaas
imprevisveis tal como os desastres naturais
, a destruio de ambientes humanos e natu-
rais, a proteo e o estudo da biodiversidade.
Para essas deliberaes, devemos reunir re-
cursos da sabedoria sobre o modo de viver e a
sociedade que protegero a vida, os meios de
subsistncia e a dignidade das pessoas que vi-
vem e vivero na Terra.
CONSCIENTIZAR Exposio Sementes da Mudana: a Carta da Terra e o potencial humano comeou em 2010 em So Paulo e j percorreu diversas cidades do pas
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Futuro energtico
A ONU designou 2012 como o Ano Internacio-
nal da Energia Sustentvel para Todos, destacando
a importncia da sustentabilidade como objetivo
essencial da poltica energtica. Neste contexto,
devemos considerar as perspectivas presentes e
futuras para produo de energia nuclear.
O acidente na Usina Nuclear de Fukushima,
que se seguiu ao terremoto e ao tsunami de 2011,
compete com o acidente de Three Mile Island,de 1979, e o desastre de Chernobyl, de 1986, em
termos de alcance e gravidade. A situao ainda
no foi totalmente controlada, e no h planos de
armazenamento dos produtos do solo e dos res-
duos expostos contaminao radioativa. uma
ameaa permanente vida de muitas pessoas.
Estima-se que levar aproximadamente qua-
renta anos para remover todo o combustvel e
outros materiais radioativos do reator, desmon-
t-lo completamente e desativar de modo seguro
todas as instalaes. H questes pendentes re-
lativas viabilidade da recuperao ambiental da
rea contaminada pelos poluentes radioativos.
Os efeitos, no longo prazo, sobre a sade huma-
na no so claros. Todos estes fatores impem
encargos para as geraes presentes e futuras.
Por mais de trs dcadas, persevero em ma-
nifestar minha grande preocupao com as con-
sequncias verdadeiramente imponderveis de
um grave acidente numa usina nuclear.
A herana negativa dessa atividade nuclear,com a eliminao necessria de resduos radioa-
tivos, em funcionamento normal e sem acidentes,
pode durar milhares de anos. At hoje, nenhuma
soluo foi encontrada para o problema do arma-
zenamento destes resduos altamente radioativos.
O secretrio-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi
pertinente: Como estamos dolorosamente apren-
dendo mais uma vez, os acidentes nucleares no
respeitam fronteiras: so ameaas diretas para a
sade humana e para o meio ambiente... Como o
PHOTOS.COM
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
impacto atinge toda a humanidade, essas questes
devem ser seriamente debatidas globalmente.55
Os problemas da produo de energia nu-clear tm tal dimenso que no podem ser en-
frentados de forma eficaz dentro dos limites da
poltica energtica de uma nica nao.
Para o Japo localizado numa zona geogr-
fica que sofre cerca de 10% dos terremotos do
mundo e onde os tsunamis so comuns , pa-
rece impossvel ser otimista quanto preveno
de acidentes.
Clamo pela rpida adoo de uma poltica
energtica que no dependa da energia nu-clear. O Japo deve colaborar com os pases
pioneiros na pesquisa de fontes renovveis
de energia e desenvolver projetos em conjun-
to para reduzir os custos dessas tecnologias.
Deve promover uma inovao tecnolgica que
facilite a introduo de novas fontes de energia
nos pases em desenvolvimento que hoje en-
frentam este problema.
A adoo destas novas fontes requer medi-
das criadoras de polos industriais alternativos
nas comunidades dependentes economicamen-
te da usina ou onde estas fornecem energia.
urgente que todos os Estados colaborem
com a resoluo dos desafios da energia nuclear.
Em abril de 2011, passados vinte e cinco anos
do acidente de Chernobyl, o secretrio-geral da
ONU, Ban Ki-moon, apresentou seu parecer:
Devemos tratar a segurana da energia nuclear
com a mesma seriedade que dispensamos s ar-
mas nucleares.56
O dano sade e ao ambiente, decorrente daexposio radioatividade, o mesmo, indepen-
dentemente da fonte: produo, testes e uso de ar-
mas nucleares, liberao de radioatividade durante a
gerao de energia, ou acidente numa usina nuclear.
Desde o incio das operaes da primeira usi-
na nuclear na Unio Sovitica em 1954, muitos
reatores chegaram ao fim da sua vida til. Apesar
disso, os resduos desses reatores aumentam em
ritmo proporcional ao do nmero das usinas nu-
cleares em funcionamento.
A Agncia Internacional de Energia Atmica(AIEA) concentra esforos na rea de pesquisa
e desenvolvimento do uso pacfico da energia
nuclear, dando assistncia s usinas nucleares e
ao intercmbio de informao cientfica e know-
-how tecnolgico, e impedindo o desvio de mate-
riais e tecnologias para fins blicos.
Diante da situao da produo de ener-
gia nuclear trazida tona pelo acidente de
Fukushima , imperativo que, alm de suas
responsabilidades, a AIEA assuma a liderana na
promoo da cooperao internacional quanto
fase final do ciclo do combustvel nuclear.
A AIEA deve ainda exercer o papel central no
socorro aos danos provocados pelos acidentes
em usinas e para a desativao das centrais nu-
cleares obsoletas.
Fim das armas nucleares
Agora, proponho ideias concretas para o
cumprimento da proibio e abolio das armasnucleares.
O acidente nuclear de Fukushima reacendeu
a inquietao com a poluio radioativa desen-
cadeada pelos testes com armas nucleares reali-
zados a partir de 1950.
Este ano comemora-se o quinquagsimo
quinto aniversrio da declarao do segundo
presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, claman-
do pela proibio das armas nucleares. Essa de-
clarao foi feita quando era mais acirrada a con-
As armas nuclearesnuncapodem ser aceitas comoum mal necessrio, mas devem ser
rejeitadas, proibidas e extirpadas
como um mal absoluto
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
corrncia entre os possuidores do poder atmicopor armas ainda mais destruidoras.
O presidente Toda declarou: Mesmo que
neste momento cresa no mundo inteiro o movi-
mento para abolir os testes nucleares, meu dese-
jo atacar o problema pela raiz: cortar as garras
ocultas na sua origem.57
Neste trecho, ele estava convencido de que
a proibio de testes de armas nucleares era es-
sencial, porque uma soluo mais eficaz no se-
ria possvel enquanto as polticas de segurana
nacional, que acarretam sofrimento e sacrifcio
dos cidados, permacessem inalteradas.
Antes desta declarao, o presidente Toda
props o conceito de chikyu minzokushugi, na-
cionalismo global ou unidade dos povos do
mundo, que corresponde ao que hoje chama-
mos cidadania planetria.
Este conceito resume sua averso ideia do
sacrifcio da nao ou do povo pela guerra. Ele lu-
tou pelo fim da guerra por meio da solidariedade
dos cidados.Este foi o motivo da sua declarao de se-
tembro de 1957, exatamente a seis meses de seu
falecimento. Concentrado nas armas nucleares,
em atacar o problema pela raiz, o presidente
Toda buscou eliminar o que considerava ma-
ligno que servia de impedimento ao progresso
dessa luta. Alm disso, declarou sua esperana
de que esta empreitada seria realizada pela gera-
o mais jovem.
Ainda que as armas nucleares no sejam uti-
lizadas em ataques reais, os processos de sua
produo, testes e armazenamento afetam gra-
vemente a vida dos seres humanos e do meio
ambiente. Isso comprovado pelo enorme estra-
go causado pelo teste dos Estados Unidos com a
bomba de hidrognio detonada no Atol de Bikini,
em maro de 1954, trs anos antes da declarao
do presidente Toda.
Mesmo com o fim dos testes, os problemasno estariam resolvidos. Porque s a deciso de
possuir armas nucleares j manifesta a disposi-
o de sacrificar vidas e a sade do planeta em
nome da segurana nacional. Se assim for, qual-
quer coisa pode ser justificada em nome da ne-
cessidade militar.
As armas nucleares so a principal personi-
ficao dessa mentalidade. O Budismo explica
que a escurido fundamental da vida a ori-
gem primria desses impulsos negativos, como
O presidente Todabuscou eliminar o que
considerava maligno que servia
de impedimento ao progresso
dessa luta
ENERGIA NUCLEARAcima, um helicptero
sobrevoa Chernobyl para
ajudar os peritos a verificar
os danos ao reator central
(abril de 1986). Ao lado, na
Usina Nuclear de Fukushima,
membros da AIEA avaliam os
danos do terremoto seguido
do tsunami no nordeste do
Japo (maro de 2011)
UN
PHOTO/IAEA
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
ira, avareza e estupidez, razes venenosas da
guerra e de outras calamidades.
deste aspecto tenebroso da natureza huma-
na que surgem o desprezo, o dio, a crueldade e a
insensibilidade diante da vida. A menos que esse
impulso de desrespeito e desconsiderao vida
seja superado, a mente humana, que d origem
misria e ao sofrimento da guerra, permanecer
igual, mesmo que seja evitado o uso efetivo dearmas nucleares.
O presidente Toda insistia nesta questo: as
armas nucleares nunca podem ser aceitas como
um mal necessrio, mas devem ser rejeitadas,
proibidas e extirpadas como um mal absoluto.
Na verdade, a necessidade militar algo que
o Tribunal Internacional de Justia (TIJ) foi inca-
paz de solucionar no seu parecer sobre a Legali-
dade da Ameaa ou do Uso de Armas Nucleares
emitido em 1996.
Embora considere essa ameaa ou uso de ar-
mas nucleares, em geral, ilegal pelo direito huma-nitrio internacional, o TIJ decidiu que era incapaz
de proferir uma deciso definitiva numa circuns-
tncia extrema de autodefesa, na qual a prpria
sobrevivncia de um Estado estivesse em jogo.58
O acordo alcanado por unanimidade na
Conferncia de Reviso do Tratado de No Pro-
liferao Nuclear (TNP) (2010) pode ser enten-
dido como o preenchimento dessa lacuna legal
e um reforo ao argumento da ilegalidade das
armas nucleares.
Teste de Armas Nucleares dos Estados Unidos,
Atol de Bikini, 1954
Em 1 de maro de 1954, o mais poderoso
dispositivo nuclear j detonado pelos Estados
Unidos foi testado no Atol de Bikini, nas Ilhas
Marshall. Essa bomba de hidrognio foi aproxi-
madamente mil vezes mais poderosa que a bom-
ba atmica lanada sobre Hiroshima, em termos
da equivalncia da tonelagem de TNT. Mais de
sete mil quilmetros quadrados do Oceano Pa-
cfico, incluindo ilhas habitadas, foram contami-nados com a precipitao radioativa, acarretan-
do em longo prazo graves desequilbrios sobre a
sade das pessoas expostas. Os 23 tripulantes
do Lucky Drangon n 5, navio de pesca japons,
estavam entre os que foram contaminados, o que
provocou protestos globais contra os testes de ar-
mamento nuclear. O Atol de Bikini ainda tem de ser
restabelecido devido aos nveis de resduos de ra-
dionucldeos nos alimentos produzidos nesse local.
UNPHOTO/IAEA/GREGWEBB
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PROPOSTA
DE PAZ 2012
Para citar o documento final da Conferncia:
A Conferncia exprime profunda preocupa-
o com as consequncias catastrficas do uso
de armas nucleares e afirma a necessidade de to-
dos os Estados, em qualquer momento, respeitar
o direito internacional aplicvel, inclusive o direi-
to humanitrio internacional.59
A frase todos os Estados, em qualquer mo-
mento indica a obrigao legal de que nenhu-
ma exceo ser tolerada. Na minha proposta
para abolio das armas nucleares de setembrode 2009, solicitei um movimento que mani-
festasse a vontade dos povos do mundo para
a proibio das armas nucleares. Argumentei
que o movimento seria estabelecido pela norma
internacional de 2015 que servir de base para
a Conveno sobre Armas Nucleares (NWC),
proibindo formalmente estas armas de destrui-
o em massa.
O acordo da Conferncia de Reviso TNP,
em 2010, abre um caminho para este esforo.
Devemos, o mais rpido possvel, dar ao acor-
do carter juridicamente vinculativo na forma
de tratado.
Em geral, a edio de novas normas interna-
cionais passa pelas trs fases seguintes:
1. As limitaes da atual norma se tornam
claras, e so feitos requerimentos por uma nova
abordagem.
2. O reconhecimento da necessidade de uma
nova norma se espalha, e recebe apoio de nume-rosos governos.
3. A nova norma aceita pela comunidade
internacional, formalizada e ganha a expresso
institucional de tratado.
Creio que, no tocante proibio das armas
nucleares, estamos num momento-chave: exata-
mente no incio da segunda etapa, antes de co-
mear a receber apoio de numerosos governos.
Sinto-me encorajado a adotar este ponto de vista
pela sequncia dos ltimos acontecimentos:
A iniciativa da sociedade civil para elaborar
um modelo de Conveno sobre Armas Nuclea-
res (NWC) em 1997 foi seguida de um projeto
revisado, lanado em 2007, demonstrando o
bom encaminhamento do processo de reviso
das medidas legais para assegurar a abolio das
armas nucleares.
Desde 1996, a Malsia e outros pases pro-
pem, anualmente, junto Assembleia Geral
da ONU uma resoluo exigindo que se iniciem
negociaes para uma Conveno sobre Armas
Nucleares (NWC). Cresce o apoio a esta reso-
luo: no ano passado, 130 Estados-membros
apoiaram esta iniciativa, dentre eles China, ndia,
Paquisto, Coreia do Norte e Ir. Em 2008, o secretrio-geral da ONU, Ban
Ki-moon, props negociaes para uma Conven-
o sobre Armas Nucleares (NWC) ou instru-
mentos distintos que se reforcem mutuamente.
A Conferncia de Reviso do TNP em 2010
observou esta proposta e aprovou com unanimi-
dade seu documento final.
A Unio Interparlamentar (UIP) composta
por 159 pases, entre eles Rssia, Reino Unido, Fran-
a e China apoia, por unanimidade, esta proposta.
Enquanto existirem
armas nucleares,persiste atentao de ameaar os outros com o
poder militar esmagador
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Segurana humana e sustentabilidade:
Compartilhar o respeito pela dignidade da vida
A Rede Prefeitos pela Paz, com mais de
5.100 cidades e municpios no mundo, pede ati-
vamente o incio imediato das negociaes para
uma NWC. Da mesma forma, o Conselho de In-
terao, formado por ex-chefes de Estado e de
governo, solicita a assinatura desta Conveno. Em setembro de 2009, o Conselho de Segu-
rana da ONU realizou uma cpula especial que
aprovou a Resoluo n 1.887, comprometendo-
-se a criar as condies para um mundo sem ar-
mas nucleares.
O agravamento da crise econmica provo-
cou uma reavaliao dos gastos militares, inclu-
sive, por parte dos Estados possuidores de armas
nucleares. Finalmente os custos desses arma-
mentos esto em debate.
Embora nenhum desses acontecimentos, por
si s, represente um avano decisivo, em conjunto,
constituem uma dinmica forte e irreversvel para
um mundo livre de armas nucleares.
A liderana da sociedade no projeto da Con-
veno sobre Armas Nucleares, por meio depeties e outras atividades, demonstra que
as fontes espiritual e normativa para a abolio
dessas armas malignas esto no corao e na
mente dos cidados comuns.