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S E G U R A N Ç A A L I M E N T A R 42 por Patricia Mariuzzo Para combater mosquitos, mais mosquitos Quem tem o privilégio de comer uma fruta colhida no pé, do fundo do quin- tal, corre o risco de encontrar aquela larva branca escondida no meio da goia- ba, da manga, da laranja, da maçã ou de qualquer outra, na qual a chamada mos- ca-da-fruta consiga depositar seus ovos. Mas, se no quintal, a presença do popu- lar bicho da goiaba, não passa de uma pequena decepção depois do esforço de colher a fruta no galho mais alto, sem- pre a mais apetitosa, para os fruticulto- res de todo o mundo ele representa pre- juízos da ordem de US$ 2 bilhões ao ano. Só no Brasil são cerca de US$ 120 milhões literalmente devorados pelo aparentemente inofensivo bichinho. Com o objetivo de aumentar a produti- vidade dos pomares e tornar as frutas brasileiras mais competitivas no exi- gente mercado internacional, foi cria- da a Moscamed Brasil, biofábrica de mosquitos que funciona, desde março de 2006, em Juazeiro do Norte, na Bahia. A idéia nasceu há dois anos, quan- do a Embrapa buscava uma solução para a praga da mosca-das-frutas que atingia os pomares brasileiros. Hoje a biofábri- ca produz cinco milhões de mosquitos estéreis por semana e a previsão é de chegar a 120 milhões até o fim do ano, segundo Aldo Malavasi, professor apo- sentado do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da USP, coor- denador do projeto estrategicamente instalado no centro da maior região pro- dutora e exportadora de frutas tropi- cais do país, o Vale do São Francisco. A técnica do inseto estéril, TIE, já difun- dida em outros países produtores no mundo, consiste em fabricar machos estéreis e soltá-los nos pomares para cruzarem com fêmeas selvagens. Isso porque é a fêmea que deposita os ovos dentro dos frutos. As larvas desenvol- vem- se e alimentam-se da polpa, invia- bilizando a comercialização. Ao cruzar com machos estéreis, as fêmeas não dei- xam descendentes, isto é, quando depo- sitam os ovos nas frutas eles não se transformam em larvas, preservando, assim, o fruto. O controle biológico da população, em que se baseia a técnica, conta com ajuda da natureza, já que a Ceratitis capitata, nome científico da mosca-das-frutas, cruza apenas com um macho, ou poucos, durante seu ciclo reprodutivo, aumentando as chances dela encontrar um macho vindo da bio- fábrica e não outro, selvagem como ela. SEGURANÇA ALIMENTAR Para produzir os machos estéreis os técnicos da Moscamed partem de uma linhagem de fêmeas geneticamente modificadas. Elas têm o gene, respon- sável pela síntese de uma proteína de resistência ao calor, desativado. Os ovos vindos dessa linhagem ficam imersos em água aquecida a 34 graus, por 12 horas. Os embriões fêmeas não resis- tem ao tratamento térmico e morrem, sobrando apenas os machos. Estes, por sua vez, são irradiados com uma fonte de cobalto e se tornam estéreis. A TIE é uma tecnologia ambientalmente segu- ra que permite diminuir o uso de inse- ticidas químicos e aumentar a produti- vidade do pomar. Ao mesmo tempo, ela adequa a fruta brasileira aos padrões de segurança alimentar preconizados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e exigidos pelo consumidor europeu e norte-americano, principais comprado- res da produção de frutas do Brasil. "Substituímos o inseticida pelo macho estéril. Num tratamento combi- nado, primeiro abaixamos a população de moscas com inseticidas orgânicos e, em seguida, mantemos a população mui- to baixa usando macho estéril", expli- ca o professor. Com isso, frutas como manga, uva e goiaba, que são normal- mente consumidas in natura, se tornam mais seguras, sem outra contaminação, por resíduos de inseticidas. "Um dos nossos objetivos é a segurança alimen- tar", afirma Malavasi. O emprego da técnica do macho es- téril permitiu que a fruta brasileira aten- BIOFÁBRICA DE MOSCAS BRASILEIRA COMPLETA UM ANO COM BONS RESULTADOS E NOVOS PROJETOS

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Page 1: SEGURANÇA ALIMENTAR Para combater mosquitos, …inovacao.scielo.br/pdf/inov/v3n4/a24v03n4.pdf · segun do Aldo Malavasi, pro fes sor apo - ... nor te-ame ri ca noprin ci pais , com

S E G U R A N Ç A A L I M E N T A R

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por Patricia Mariuzzo

Para combater mosquitos, mais mosquitos

Quem tem o pri vi lé gio de comer umafru ta colhi da no pé, do fun do do quin -tal, cor re o ris co de encon trar aque lalar va bran ca escon di da no meio da goia -ba, da man ga, da laran ja, da maçã ou dequal quer outra, na qual a cha ma da mos -ca-da-fru ta con si ga depo si tar seus ovos.Mas, se no quin tal, a pre sen ça do popu -lar bicho da goia ba, não pas sa de umapeque na decep ção depois do esfor ço de colher a fru ta no galho mais alto, sem -pre a mais ape ti to sa, para os fru ti cul to -res de todo o mun do ele repre sen ta pre -juí zos da ordem de US$ 2 bilhões ao ano.Só no Brasil são cer ca de US$ 120 milhões lite ral men te devo ra dos peloapa ren te men te ino fen si vo bichi nho.Com o obje ti vo de aumen tar a pro du ti -vi da de dos poma res e tor nar as fru tasbra si lei ras mais com pe ti ti vas no exi -gen te mer ca do inter na cio nal, foi cria -da a Moscamed Brasil, bio fá bri ca demos qui tos que fun cio na, des de mar çode 2006, em Juazeiro do Norte, na Bahia.

A idéia nas ceu há dois anos, quan -do a Embrapa bus ca va uma solu ção paraa pra ga da mos ca-das-fru tas que atin giaos poma res bra si lei ros. Hoje a bio fá bri -ca pro duz cin co milhões de mos qui tosesté reis por sema na e a pre vi são é deche gar a 120 milhões até o fim do ano,segun do Aldo Malavasi, pro fes sor apo -sen ta do do Departamento de Genéticado Instituto de Biociências da USP, coor -de na dor do pro je to estra te gi ca men teins ta la do no cen tro da maior região pro -

du to ra e expor ta do ra de fru tas tro pi -cais do país, o Vale do São Francisco. Atéc ni ca do inse to esté ril, TIE, já difun -di da em outros paí ses pro du to res nomun do, con sis te em fabri car machosesté reis e sol tá-los nos poma res paracru za rem com fêmeas sel va gens. Issopor que é a fêmea que depo si ta os ovosden tro dos fru tos. As lar vas desen vol -vem- se e ali men tam-se da pol pa, invia -bi li zan do a comer cia li za ção. Ao cru zarcom machos esté reis, as fêmeas não dei -xam des cen den tes, isto é, quan do depo -si tam os ovos nas fru tas eles não setrans for mam em lar vas, pre ser van do, assim, o fru to. O con tro le bio ló gi co dapopu la ção, em que se baseia a téc ni ca,con ta com aju da da natu re za, já que aCeratitis capi ta ta, nome cien tí fi co damos ca-das-fru tas, cru za ape nas comum macho, ou pou cos, duran te seu ciclorepro du ti vo, aumen tan do as chan cesdela encon trar um macho vin do da bio -fá bri ca e não outro, sel va gem como ela.

SEGURANÇA ALI MEN TARPara pro du zir os machos esté reis os

téc ni cos da Moscamed par tem de umalinha gem de fêmeas gene ti ca men te

modi fi ca das. Elas têm o gene, res pon -sá vel pela sín te se de uma pro teí na deresis tên cia ao calor, desa ti va do. Os ovosvin dos des sa linha gem ficam imer sosem água aque ci da a 34 graus, por 12 horas. Os embriões fêmeas não resis -tem ao tra ta men to tér mi co e mor rem,sobran do ape nas os machos. Estes, porsua vez, são irra dia dos com uma fon tede cobal to e se tor nam esté reis. A TIE éuma tec no lo gia ambien tal men te segu -ra que per mi te dimi nuir o uso de inse -ti ci das quí mi cos e aumen tar a pro du ti -vi da de do pomar. Ao mes mo tem po, elaade qua a fru ta bra si lei ra aos padrõesde segu ran ça ali men tar pre co ni za dospela Organização das Nações Unidaspara Agricultura e Alimentação (FAO)e exi gi dos pelo con su mi dor euro peu enor te-ame ri ca no, prin ci pais com pra do -res da pro du ção de fru tas do Brasil.

"Substituímos o inse ti ci da pelo macho esté ril. Num tra ta men to com bi -na do, pri mei ro abai xa mos a popu la çãode mos cas com inse ti ci das orgâ ni cos e,em segui da, man te mos a popu la ção mui -to bai xa usan do macho esté ril", expli -ca o pro fes sor. Com isso, fru tas comoman ga, uva e goia ba, que são nor mal -men te con su mi das in natu ra, se tor nammais segu ras, sem outra con ta mi na ção,por resí duos de inse ti ci das. "Um dosnos sos obje ti vos é a segu ran ça ali men -tar", afir ma Malavasi.

O empre go da téc ni ca do macho es-té ril per mi tiu que a fru ta bra si lei ra aten -

BIOFÁBRICA DE MOSCASBRASILEIRA COMPLETA UM

ANO COM BONS RESULTADOSE NOVOS PROJETOS

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As pupas passam por tratamento

à base deradiação

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Divulgação

des se às exi gên cias do EurepGap -European Retailer Produce WorkingGroup, Good Agricultural Practices.Trata-se de um pro to co lo de boas prá -ti cas agrí co las que devem ser segui das pelos pro du to res para obten ção e manu -ten ção da cer ti fi ca ção para expor ta ção.A par ti ci pa ção é volun tá ria, mas garan -te a boa acei ta ção do pro du to bra si lei -ro no com pe ti ti vo mer ca do inter na cio -nal, on de redu zir cus tos é neces sá rio,mas não sufi cien te. O dife ren cial estáem pro por cio nar ao com pra dor e aousuá rio final um pro du to segu ro. Porisso as cer ti fi ca ções inter na cio naissão tão impor tan tes, mobi li zan do tan -to o setor pri va do quanto as polí ti caspúbli cas.

Os ganhos obti dos refle tem-se nopre ço final. O maior apro vei ta men to dapro du ção impli ca em cus tos meno resna sele ção e sepa ra ção das fru tas, além

de maior vida útil na pra te lei ra. QuandoMalavasi ain da esta va na USP, ele e suaequi pe desen vol ve ram alguns pro ces -sos que per mi ti ram abrir o mer ca doexter no para algu mas fru tas — melão,man ga e papa ya. Tais pro ces sos envol -vem tra ta men tos pós-colhei ta apli ca -dos dire ta men te sobre o pro du to, como obje ti vo de aumen tar a dura bi li da de.Entretanto, segun do o pro fes sor, sãopro ces sos que enca re cem a pro du ção ecom pro me tem o sabor.

A man ga expor ta da para os EstadosUnidos, por exem plo, fica imer sa emágua quen te, a 45 graus, por uma horae meia. "Isso alte ra o sabor. Eu cos tu mo dizer que o con su mi dor ame ri ca no sócome man ga fer vi da", comen ta Malavasi.Além dis so, o tra ta men to é one ro so por -que con so me mui ta ener gia elé tri ca eain da exi ge a pre sen ça de ins pe to resame ri ca nos na super vi são do pro ces so.

Já no caso da uva o tra ta men to é a frio.Ela tem que ficar por 14 dias a zero graue o pro du tor tem que alu gar um con têi -ner no por to de saí da ou na che ga da aopaís de des ti no, para a fru ta não per dera tem pe ra tu ra até che gar no vare jo."Eliminando esse cus to pode ría mosaumen tar bas tan te a com pe ti ti vi da dedos nos sos pro du tos. Além dis so, sem nenhum tipo de tra ta men to pós-colhei -ta, tería mos um pro du to mui to maisnatu ral para expor tar. Este é nos so obje -ti vo para os pró xi mos três ou qua troanos", pro me te.

MODELO DE GES TÃO INO VA DORAlém da téc ni ca pro pria men te dita,

a Moscamed Brasil é ino va do ra tam -bém no modo de orga ni za ção e ges tão.A empre sa é uma orga ni za ção social,OS, con cei to rela ti va men te novo na legis -la ção bra si lei ra. Está for mal men te liga -

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da ao Ministério da Agricultura, mastam bém rece be apoio do Ministério daCiência e Tecnologia e do Ministério daIntegração Social. Uma OS pode rece -ber fun dos gover na men tais, mas nãopode ter lucro, ou melhor, todo o lucroobti do deve ser rein ves ti do na pró priaempre sa. "Somos uma ins ti tui ção queven de pro du tos e ser vi ços, nos so obje -ti vo prin ci pal é auxi liar o setor pri va -do, fazen do com que ele pos sa aumen -tar sua com pe ti ti vi da de no mer ca doexter no", expli ca Malavasi. "A van ta gemé que temos uma fle xi bi li da de admi nis -tra ti va mui to maior, sem as amar ras do setor públi co. O mode lo de fun cio na -men to é de uma empre sa, que con tra tae demi te sem con cur so. Conseguimos tera efi ciên cia do setor pri va do, mes mosem ter o lucro como obje ti vo final donegó cio", com ple ta.

O fato de não ter lucro não sig ni fi -ca não cres cer, até por que, além doBrasil exis te um mer ca do inter na cio -nal para as mos cas esté reis. Já foramacer ta das ven das para o Marrocos epara Valença, na Espanha. A impor tân -cia dos negó cios inter na cio nais estána pos si bi li da de de redu zir o pre ço da

TIE para o pro du tor nacio nal. Como aMoscamed tem que rein ves tir seu lucroe como os pre ços de expor ta ção sãomaio res, a par ce la a mais que é expor -ta da pode ser dedu zi da do valor cobra -do do fru ti cul tor bra si lei ro.

A empre sa tem um con se lho admi -nis tra ti vo for ma do por repre sen tan -tes do setor pri va do e da comu ni da decien tí fi ca, com po si ção que, segun doMalavasi, equi li bra a admi nis tra ção.Enquanto os pes qui sa do res se dedi -cam a aper fei çoar a tec no lo gia ou adesen vol ver novos pro je tos, os empre -sá rios ficam de olho nos resul ta dos.Na área de pes qui sa o prin ci pal par -cei ro é a Embrapa, mas há tam bémuma impor tan te liga ção com a

Universidade do Vale do São Francisco(Univasf) que desen vol veu um aero mo -de lo usa do na libe ra ção dos mos qui -tos (veja box). "A Moscamed Brasil seencai xa no con cei to de cen tro de pes -qui sa apli ca da. O macho esté ril é fru -to de pes qui sa cien tí fi ca. Ao ser comer -cia li za do e apli ca do na agri cul tu ra, tor -na-se ino va ção", acre di ta o coor de na -dor do pro je to.

INCLUSÃO SANI TÁ RIAEmbora seja pos sí vel men su rar o

pre ço do mos qui to fabri ca do naMoscamed — no Brasil são US$ 180 por milhão e no exte rior US$ 230 — o pro du -tor não paga pelo mos qui to. Ele com prana ver da de um paco te de ser vi ços que inclui o moni to ra men to e o con tro le dapre sen ça da mos ca na região onde estáa sua pro prie da de. Primeiro a pre sen -ça das mos cas é detec ta da por meio deum sis te ma de arma di lhas com fero nô -mio (subs tân cia quí mi ca usa da na comu -ni ca ção entre indi ví duos da mes ma espé -cie) ou com atra ti vos ali men ta res. Umrefi na do sis te ma GPS infor ma o ris copara outras áreas e, em segui da, entramas medi das cor re ti vas pro pria men te

Machos estéreis são liberados nos pomares para cruzarem com fêmeas selvagens: a técnica viabiliza a preservação das frutas produzidas

Técnico distribui mosquitos por via terrestre

Fotos: Divulgação

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ditas: libe ra ção de inse tos de acor docom o núme ro de mos qui tos encon tra -dos na pri mei ra fase do tra ba lho.

O moni to ra men to fei to pela Mos-camed é cha ma do con tro le em área ampla por que sem pre com preen de todauma região e nun ca uma pro prie da deiso la da. "Nesse sen ti do, eu gos to de dizer que essa é uma téc ni ca mui to ele -gan te, na ver da de ela faz uma espé ciede inclu são sani tá ria", con ta Malavasi.Segundo ele, mes mo que os mos qui tosesté reis sejam libe ra dos numa gran depro prie da de expor ta do ra, esses machos podem encon trar fêmeas fora dali, empeque nos poma res tam bém, pro pi cian -do um con tro le de todo o entor no. "Nãoé como um inse ti ci da que fica depo si -

ta do onde você o apli ca", escla re ce. Atéc ni ca do macho esté ril pode ser usa -da em toda fru ti cul tu ra que seja alvoda mos ca-da-fru ta. O gru po Votorantim,por exem plo, cujos negó cios envol vemcitri cul tu ra na região sul do esta do deSão Paulo entrou em con ta to com afábri ca para apli car a téc ni ca em seuspoma res.

Uma deman da do setor pecuá rio fezcom que a empre sa ini cias se uma pes -qui sa para con tro le da mos ca-dos-chi -fres, pro ble ma impor tan te para os cria -do res de gado no Brasil. Conforme dadosda Embrapa, a mos ca-dos-chi fres(Haematobia irri tans) foi iden ti fi ca dano Brasil em 1983 e em 1991 já esta vapre sen te em todo ter ri tó rio bra si lei ro.

Considerada uma pra ga em vários paí -ses do mun do, a mos ca tem sido umentra ve ao desen vol vi men to da pecuá -ria bra si lei ra. Ela para si ta os ani maispara sugar seu san gue. A irri ta ção cau -sa da pelas pica das com pro me tem a ali -men ta ção e a diges tão dos bovi nos dimi -nuin do a pro du ti vi da de de car ne e lei te.Para desen vol ver nova tec no lo gia de con -tro le da popu la ção des sas mos cas aMoscamed rece be rá auxí lio do BancoNacional de Desenvolvimento Econômicoe Social ( BNDES), com recur sos do FundoTecnológico (Funtec), que des ti na-se a apoiar finan cei ra men te pro je tos de estí -mu lo ao desen vol vi men to tec no ló gi co eà ino va ção que sejam de inte res se estra -té gi co para o país.

INOVAÇÃO TAMBÉM NA HORA DE LIBERAR OS MOSQUITOS

Paulo César Cavalcanti tem 23 anos e está no

segun do ano do cur so de enge nha ria mecâ ni ca.

Um dos seus hob bies é o aero mo de lis mo.

Aeromodelo é um avião em esca la redu zi da con -

tro la do do chão por meio de um rádio-recep tor.

Possui todos os coman dos bási cos e uti li za os mes -

mos prin cí pios de aero di nâ mi ca de uma aero na -

ve con ven cio nal. Os aero mo de lis tas com pe tem

em moda li da des como capa ci da de de car ga, alcan -

ce de vôo e acro ba cias. Paulo César, entre tan to,

vis lum brou outro uso para os "peque nos notá veis" quan do conhe ceu o

pro je to da Moscamed na aula inau gu ral do cur so de enge nha ria mecâ ni -

ca da Univasf, pro fe ri da pelo pro fes sor Aldo Malavasi: usar aero mo de los

para espa lhar os mos qui tos nos poma res. Até então eram uti li za dos aviões

peque nos, heli cóp te ros e mes mo camio ne tes para fazer esse tra ba lho.

Como os aero mo de los con ven cio nais são mui to frá geis, Paulo César e uma

peque na equi pe tra ba lha ram para criar um aero mo de lo mais robus to, ade -

qua do para a nova fun ção. Até ago ra foram desen vol vi dos dois mode los

que já estão sen do usa dos pela Moscamed.

A pri mei ra van ta gem é que eles deco lam de pis tas bem mais cur -

tas do que um aero mo de lo comum que pre ci sa de uma pis ta de 10 metros

de lar gu ra por 100 metros de com pri men to. O aero mo de lo da Moscamed

deco la de uma pis ta de três metros de lar gu ra por 20 metros de com -

pri men to. Os locais de pou so e deco la gem den tro das plan ta ções têm

no máxi mo 3,5 metros de lar gu ra. Por isso o avião

não pode ria ter uma asa com as dimen sões con -

ven cio nais. Por cau sa da difi cul da de de encon -

trar pis tas regu la res nas áreas de libe ra ção o

avião da Moscamed foi cria do para enfren tar

todo tipo de ter re no "Tivemos que desen vol ver

uma héli ce alta men te resis ten te a impac tos, pois

nes ses ter re nos é ine vi tá vel que ela bata no chão",

con ta Paulo César. Além dis so, para pro te ger as

mos cas, os aviões têm um sis te ma de iso la men -

to tér mi co e refri ge ra ção.

O cus to da ope ra ção e de manu ten ção che ga a 2% do cus to de usar

um avião mono mo tor. Os tes tes rea li za dos com pro va ram que o aero mo -

de lo é mais segu ro e efi cien te por que ele pode voar em velo ci da de e alti -

tu de extre ma men te mais bai xas sem pôr em ris co o ope ra dor. "Possibilita

tam bém que a dis tri bui ção das mos cas seja mais homo gê nea, além de

dimi nuir o índi ce de mor ta li da de devi do ao impac to com ar", expli ca Paulo

César. Atualmente o aero mo de lo está sen do oti mi za do para com por tar

uma car ga maior e para melho rar seu desem pe nho nos espa ços peque nos

de que dis põe para deco lar e pou sar. "Para isso esta mos tra ba lhan do num

sis te ma de trans mis são mais avan ça do que per mi ta ao mode lo ser con tro -

la do por gran des dis tân cias e com maior pre ci são. Depois que o mode lo

esti ver ope ran do com total efi ciên cia pen sa mos em expor tar a tec no lo -

gia", con ta ele.

Aeromodelo usado para espalhar os mosquitosD

ivulgação

Fotos: Divulgação

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