seafood brasil - autec sushi machine: a automatização parece ser uma tendência

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#5 - Abr/Jun 2014 ISSN 2319-0450 www.seafoodbrasil.com.br MARKETING & INVESTIMENTOS 5 PERGUNTAS Apas, Bruxelas e Sial, visitamos todas André Barbieri, diretor da Riviera Investimentos seafood brasil O rolo dos filés brancos Panga e polaca dominam mercado de filés brancos, mas novas restrições sanitárias fazem a merluza “ressurgir”

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Revista SeaFood Brasil #5 - Abr/Jun 2014 Gastronomia japones

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#5 - Abr/Jun 2014ISSN 2319-0450

www.seafoodbrasil.com.br

MARKETING & INVESTIMENTOS

5 PERGUNTAS

Apas, Bruxelas e Sial, visitamos todas

André Barbieri, diretor da Riviera Investimentos

seafood brasil

O rolo dos filés brancosPanga e polaca dominam mercado de filés brancos, mas novas restrições sanitárias fazem a merluza “ressurgir”

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wwwTrimestre produtivo: 22 mil acessos O site seafoodbrasil.com.br ganhou mais um incentivo

dos leitores, com uma marca inédita. No segundo trimestre do ano, o portal teve mais de 7 mil visitantes únicos, totali-zando 22 mil acessos no período. E as notícias continuam relevantes: nossos leitores ficam em média 3 minutos por dia em contato com o conteúdo produ-zido pela equipe Seafood Brasil. Mais de 30 reportagens produzidas nas feiras Apas, Seafood Expo Global e Sial atraí-ram a atenção do leitor.

Estreia do canal de vídeosInaugurado em março deste ano, nosso canal de vídeos teve até o início de julho em torno de 960 visualizações. O destaque ficou para os

vídeos das entrevistas feitas na feira Seafood Expo Global, em Bruxelas.

...

...

Revista: 14 empresas apostaram nesta edição

Confira abaixo todos os nossos parceiros:

PÁGINA ANUNCIANTE

4ª Capa Alaska Seafood Marketing Institute2ª Capa Estremar3 Frescatto Company21 Ayamo25 ProjePesca29 Grupo 533 Geneseas35 Iberconsa39 FoodTec41 Trutas NR45 Simcope49 Maquiplast50 Sial51 MercoAgro

Comunidade Seafood

Brasil

“Feiras sociais”No Facebook, continuamos com a divulgação das van-

tagens nutricionais do pescado e novidades de interesse do consumidor. Fizemos ainda uma cobertura especial dos eventos importantes para o setor, com a Apas, Sial e Seafood Expo Global, o que gerou bastante compartilhamento e interação com a página.

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Expediente

Um gosto de vergonha invadiu as bocas brasileiras depois daqueles 7 x 1. É como se cada torcedor sentisse o popular sabor de barro das tilápias cul-tivadas em água de má qualidade e com manejo

insatisfatório. O mau humor tradicional do segmento com o pós-Semana Santa se somou ao turbulento mês de Copa do Mundo e gerou um cenário de retração. Mas assim como na seleção brasileira, o momento é de reconstrução.

Sem o regime de exceção de junho e julho, os próximos meses devem recolocar o setor na rota de ascensão que já se verificava no pré-Semana Santa. Ainda há percalços a contornar, como a estiagem que castiga o interior paulista desde 2013 (pág. 42) e a qualidade da cadeia do frio (pág. 36), mas a situação deve melhorar. Fundos de investimento concentram seus esforços no agronegócio aquícola (pág. 6), o varejo aposta na peixaria (pág. 30) e as feiras de negócios como a Seafood Expo Bruxelas, Apas e Sial (pág. 8) refletem

O off-flavor pós-CopaEditorial

Índice

Cinco Perguntas

Direto da Produção

Marketing

Na Gôndola

Capa

Na Cozinha

Ponto de Venda

Fornecedores Personagem

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46

22

52

30

36 58

como o mundo passa a olhar com cada vez mais atenção para o nosso mercado consumidor e exportador.

Atitude que chineses e vietnamitas adotaram para in-troduzir nas gôndolas nacionais os filés brancos de polaca do Alasca e pangasius. Como diz a Capa desta edição, goste-se ou não, eles vieram para ficar – mesmo com as novas restrições sanitárias. Preço, regularidade e um bom posicionamento no segmento de combate já os transfor-maram em matérias-primas com as quais o varejo e o food service não vivem sem. Diferentemente das vozes contrá-rias aos técnicos estrangeiros na seleção, são os gringos que regem o campeonato dos filés brancos aqui no Brasil – e ainda temos muito o que aprender com eles.

Uma ótima leitura a todos!

/seafoodbrasil

/user/seafoodbrasil

Redaçã[email protected]

Publishers: Julio Torre e Ricardo TorresEditor: Ricardo TorresRepórteres: Léo Martins, Marcelo Tárraga, Mariana Diello, Mariana Naviskas e Thais ItoDiagramação: Emerson FreireDistribuição: Marcus Vinicius Crisóstomo AlvesColaboraram nesta edição: Gustavo Angimahtz (texto)

[email protected]

Sede – BrasilAv. Bosque da Saúde, 599Praça da Árvore - São Paulo (SP)CEP 04142-091Tel.: (+55 11) 4561-0789

Escritório comercial na ArgentinaDefensa 441 / 6º G/H (C1065AAG)Buenos Aires (1065)Tel.: (+54 11) 4342-0236

ImpressãoVox Editora

A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. MECNPJ 18.554.556/0001-95

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A capitalização aquícolaEntrevista

5 Perguntas

Com carteira estimada em R$ 6 bilhões, Riviera quer atrair e convencer investidores de que a aquicultura brasileira é uma aposta rentável, desde que haja profissionalismo

Texto: Marcelo Tárraga

Há dois anos alguns empresá-rios começaram a enxergar um brilho maior no olhar de cada peixe despescado. Para

eles, o que saía das águas era a visão de um novo agronegócio para o País. É a próxima e mais promissora fronteira nas proteínas animais: a produção de pescado em cativeiro. Os executivos se deram conta, portanto, da real possi-bilidade de transformar a aquicultura brasileira em uma grande força do mercado mundial.

E a premissa inicial era relativa-mente simples. Formar um fundo de investimentos para a cadeia produ-tiva do pescado. Com o objetivo de ajudar financeiramente empresas a se desenvolver e alavancar o setor como um todo.

O principal entusiasta do projeto é André Barbieri, diretor da Riviera In-vestimentos, uma importante gestora de fundos estruturais. Em entrevista ao Seafood Brasil, o executivo res-

a André Barbieri, diretor da Riviera Investimentos

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saltou os motivos pelos quais crê que o setor é promissor para a economia nacional. “Vejo a aquicultura com grande otimismo. Hoje a importação é grande, crescente, e não faz sentido trazer de outros países se temos re-cursos hídricos no País. A aquicultura tem sim uma possibilidade de igualar essa balança”, enfatizou.

Barbieri não revela números, mas entidades e empresas em contato com a Riviera estimam que será possível cap-tar mais de R$ 100 milhões com o fundo em pouco tempo. E então duplicar esses números conforme o desenvolvimento do setor. Hoje, a Riviera já cuida de quatorze fundos estruturais. Possui uma carteira estimada em cerca de R$ 6 bilhões. “O que precisamos é ajudar as empresas com financiamento para aprimorarem as técnicas de negócios.”

1 Como surgiu a ideia de criar um fundo de um investimentos

para o setor? Na realidade a ideia veio por conta da proximidade com o Ministério da Pesca e Aquicultura. O ex-ministro Marcelo Crivella nos chamou para conhecer o setor e, com isso, fizemos viagens internacionais para enxergar seu potencial. Quando enxergamos que essa proteína animal tem muito a crescer, vimos ali uma oportunidade. O início foi identificar empresas-alvo. E é nesse processo em que estamos agora. Queremos transformar essa oportuni-dade em um modelo de investimento. Não é uma questão simples, porque não estamos acostumados a investimentos nesta área. Mas estamos mostrando aos envolvidos o potencial, a força e a gover-nança positiva existente nestas empre-sas, além de mostrar que elas estão fazendo um bom trabalho; muitas ainda serão analisadas. Em 2012, começamos a fazer o levantamento do segmento. Fomos para Israel e Bélgica e tive-

mos uma visão clara de como captar investidores, de como fazê-los entender o objetivo do fundo. O que precisamos é ajudar as empresas com financia-mento para aprimorarem as técnicas de negócios, seja em software, genética, maquinário etc. Vejo a aquicultura com grande otimismo. A atividade ainda é pequena, mas o potencial é gran-de, a importação é grande. Não faz sentido trazer de outros países se temos recursos hídricos no País.

2Qual é o impacto esperado do fundo exclusivo para a

aquicultura na economia nacional?Acreditamos que na balança comercial terá um impacto positivo. Estes núme-ros sofrerão reflexos, temos de suprimir parte do que é importado e até mesmo exportar. Vemos empresas no exterior bem interessadas e acreditamos forte-mente nessa inversão. A aquicultura tem sim uma possibilidade de igualar a balança. Claro que bacalhau e salmão não produzimos aqui, esses ainda con-tinuarão a ser importados. Mas, mesmo assim, apostamos que o beijupirá, por exemplo, pode ser um substituto do bacalhau no País. Temos alternativas internas. Ainda é cedo para falar nisso para produtos de consumo, mas vemos a pescada branca e a tilápia Saint Peter como alternativas bem grandes ao mer-cado de peixes que hoje são trazidos da Ásia. Muita coisa vem da Ásia porque tem preço melhor. Se aumentarmos o consumo o preço do nosso pescado também vai baixar.

3Como vê o cenário nos próximos anos?

Hoje não temos centenas de empresas, mas duas dúzias de empresas que estão bem maduras e veem esse bom cenário do País. Grandes companhias hoje já estão entrando no segmento da aquicul-tura. Eu enxergo o Brasil positivamente e neste momento existe uma política de

governo para desenvolver esse setor. O Brasil está voltado para agricultura, por isso acho que na área de proteína animal – na qual já lideramos o merca-do de suínos, bovinos e aves – é mais do que natural ocuparmos também um lugar de destaque com a aquicultura. O brasileiro é ligado à saúde e dá muita importância a isso. E o pescado está com mais espaço na alimentação, seja escolar, fora do lar ou nas famílias.

4 Como a Riviera mapeia os segmentos promissores?

Na realidade a gente tenta estar perto de destaques do setor. Na aquicultura, tivemos a participação da Embrapa, do Ministério, e do BNDES. E a partir daí o que fizemos? Semestralmente, organi-zamos seminários, chamamos empresas do setor, para falar com os investidores, apresentar cases. E agora estamos indo para o terceiro seminário. Fazemos a aproximação entre empresas e inves-tidores. Nosso foco é o private equity, e hoje temos muito trabalho alinhado com o mercado imobiliário do Brasil com proteína animal bovina. Somos responsáveis por 14 fundos estruturais.

5 Muito se fala em sustentabilidade no segmento. Como as empresas

enxergam tais questões sustentáveis?Somos signatários do PRI (Princípios para o Investimento Responsável). Temos também de atrair investimentos responsáveis. Temos de seguir esse organismo no que tange à sustenta-bilidade. O que tenho visto é que as empresas se atêm sim à sustentabili-dade como norte e vêm se importando com isso. Para nós é um alívio, porque levamos isso muito a sério. Vejo com bons olhos esse momento. No Brasil ainda estamos em estágio inicial em relação a outros países, mas como tudo o que acontece lá fora respalda aqui, digo que é um caminho sem volta. De maneira geral, os empresários veem com bons olhos essa questão.

“O brasileiro é ligado à saúde e dá muita importância a isso. E o pescado está com

mais espaço na alimentação, seja escolar, fora do lar ou nas famílias”

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Balcão de novidadesVimos de perto os lançamentos, as novas estratégias e as expectativas de mais de 30 players do pescado presentes na maior feira de supermercados do Brasil; o panorama é desbravador e dinâmico

O saldo bom para o pescado na 30a feira Apas (Associação Paulista dos Supermercados) já começou

logo na coletiva de imprensa de abertura. A pesquisa Apas Tendências do Consumidor, realizada com a

Nielsen e a Kantar, mostrou que produtos como refrigerante, cigarro e cerveja sofreram retração nas vendas enquanto os alimentos frescos, como a peixaria, ganharam destaque. “As categorias de maior retração mostram a busca do consumidor por

saudabilidade”, constata o presidente da Apas, João Galassi. “O pescado vem crescendo dentro das vendas por diversos fatores, entre eles o maior incentivo ao consumo”, afirma o gerente de economia e pesquisa da Apas, Rodrigo Mariano.

Marketing& Investimentos

Texto e fotos: Thais Ito

Pontos de encontroUma profusão de cartões de visita. Descobertas, reuniões, reencontros. Tecnologia e novidades, perspectivas de investimentos, contatos profissionais e pessoais para toda uma vida. Foi assim que a segunda metade do primeiro semestre do ano se desenrolou para aqueles que puderam visitar as feiras de negócios mais importantes para o segmento no período. Afortunada que é, a equipe da Seafood Brasil teve a chance de estar simultaneamente nas duas maiores vitrines do pescado no Brasil e no exterior: a Apas (São Paulo) e a Seafood Expo Global, em Bruxelas (Bélgica). E já no alvorescer dos primeiros seis meses do ano, estreamos um estande em eventos do gênero na Sial Brazil 2014. Veja a partir de agora o resultado deste esforço.

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A maioria das conversas com os participantes de seafood na feira reflete esse crescimento em 2013, que deve vigorar em 2014, mas em proporções mais modestas. Para justificar esse tímido otimismo, os motivos mais citados foram a Copa do Mundo e as Eleições. Além desses

“vilões”, “há a inflação e o alto nível de endividamento, inclusive na classe C, público que estava incrementando bastante o consumo”. O comentário é de Luis Martinez Manglano, gerente de marketing corporativo da Gomes da Costa, que cresceu 19% em vendas e faturou R$ 1,1 bilhões em 2013, mas

espera para 2014 um crescimento na casa dos 10%. “Temos focado em duas tendências importantes que não sofrem com os problemas de preço de mercado: saudabilidade e praticidade”, observa Manglano.

Player ainda mais antigo, o Frigorífico Jahu comemora 70 anos com uma completa reformulação da marca, conceito e embalagens de produtos. Renovou sua missão, visão e valores e até o nome. A agora Frescatto Company reposicionou suas marcas – Frescatto e Buona Pesca – com os slogans “sabor com saúde” e “praticidade com saúde”, respectivamente. Para completar, lançou em junho três pratos prontos sob a marca Frescatto: a moqueca de dourado, o filé de linguado ao molho de alcaparras e o polpetone de salmão.

“Esse trabalho de branding faz parte do nosso plano de expansão”, comenta Mariana Vilela, gerente de marketing, relembrando ainda o centro de distribuição inaugurado em janeiro que aumentou em quatro vezes a capacidade de distribuição em São Paulo. Para 2014, a empresa, que comercializa cerca de 25 mil toneladas de pescados por ano, espera atingir um crescimento de 20% no seu faturamento.

O varejo continua em voga entre os distribuidores. A Karam’s, que

Uma das duas exceções à fraca presença de empresas argentinas do ramo na Apas, a Congelados Artico, apresentou localmente medalhões de merluza com e sem espinafre, merluza à milanesa e barrinhas de merluza, além de anéis de lula. Os produtos vêm em embalagem de 500g para o varejo e de até 10kg para o food service

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De cara nova

Por que as marcas estão renovando a apa-rência, formato e conteúdo das embalagens? “Queremos que essa marca seja a porta de entrada para o consumo de pescado, então a embalagem é bem didática com elementos icônicos mais divertidos e muitas instruções”, explica Mariana Vilela, da Frescatto Company, referindo-se à marca Buona Pesca. A Brascod também está atenta à roupagem dos seus produtos Bom Porto. Para o gerente de marke-ting da empresa, Sergio Karagulian, o cliente tem dificuldade de diferenciar a qualidade dos produtos e acaba priorizando o preço.

No caso da Karam’s, a repaginada na emba-lagem foi motivada por sua entrada no varejo.

ingressou no meio há cerca de um ano e meio, contou à Seafood Brasil que pretende destinar a este canal 60% da sua capacidade de produção – mensalmente produz em torno de 600 toneladas –, deixando 40% para a área institucional (hospitais, cozinha

Acostumada a fornecer para distribuidores, hospitais e cozinha industrial, investiram em uma apresentação mais vistosa para atrair o consumidor final. O impacto no ponto de venda do varejo também incentivou a Camil a adotar um um novo color code nas embalagens da marca Coqueiro. “Estão com um visual mais moderno com cores mais vivas, trazendo mais alegria para o ponto de venda”, comenta Adriane Azevedo, gerente de pescado.

A Potiporã apostou no entusiamo da Copa do Mundo para fazer uma embalagem temática e re-batizar alguns produtos – camarão inteiro cozido congelado, camarão descascado cozido conge-lado e camarão sem cabeça cozido congelado,

todos de 200g – como “O Petisco da Torcida” em edição limitada até julho. “A expectativa é de vender 400 mil pacotes nesse período de dois meses”, conta Sérgio de Lima Cavalcante, diretor da Queiroz Galvão/Potiporã.

Já a portuguesa COFACO Açores relançou o atum em lata redonda, para se adaptar ao formato típico brasileiro. “Nos três primeiros meses de 2014 obtivemos um incremento de 150% nas vendas em comparação ao mesmo período de 2013, principalmente por conta do aumento de 20% na venda de sardinha e o resto se deve ao incremento da distribuição da lata redonda”, comemora o diretor de exporta-ção, Francesco Galleti.

industrial, atacadistas, entre outros), seu antigo canal principal. “O varejo é uma aposta muito grande e quem o impulsionou foram os produtos da China, como a polaca”, analisa o diretor de produção, Antoine Karam. “Popularizou o peixe no Brasil com

seus preços mais baixos e deu um boom no setor.”

Sob o olhar chileno de Diego Undurraga, diretor da Agrosuper Brasil, a análise do mercado brasileiro envereda para outro assunto: a

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diferença de suas demandas. “Os EUA, por exemplo, compraram mais filés frescos, enquanto o Brasil faz o contrário: muito mais peixe inteiro”, conta. Segundo ele, o Brasil já começou a “evoluir”. “O aumento de filés importados pelo País entre janeiro e fevereiro de 2014 já é maior que o crescimento percebido no período equivalente em 2013”, relata. “Ainda existe a percepção de que o peixe inteiro é melhor, como acontece em restaurantes japoneses onde o próprio sushiman gosta de cortar, por exemplo, mas queremos que o brasileiro também compre no supermercado e prepare em casa, como costumam fazer com o bacalhau.”

Para Danilo Silveira, gerente comercial da Polipescado, segmento que representa cerca de 25% do faturamento da Polialimentos (grupo Multifoods), o crescimento do consumo de peixe no Brasil é alto. “Uma das marcas com que trabalhamos, por exemplo, cresceu 235% no ano”, diz. Silveira não entrega qual é, mas compartilha outras informações: a Polipescado está preparando novidades com maior praticidade e tem planos de trabalhar com tilápia. Das marcas de seu portfólio, a que mais cresce, segundo

Silveira, é a Riberalves. Em seguida vem a Maris, que, só no primeiro trimestre de 2014, atingiu o volume de vendas de todo 2013, conforme contou seu diretor, Gustavo Pedrosa.

A Riberalves sinaliza otimismo, mesmo depois da Quaresma. “O consumo nesta época cai, a venda de bacalhau seco quase para, mas a do dessalgado não mais. Percebemos que os números das vendas de maio estão muito melhores que há dois anos atrás”, pondera Marcelo Nasser, diretor comercial.

Bons resultados também permearam a trajetória da portuguesa COFACO Açores, que atua em território brasileiro com a bandeira Bom Petisco. “Nos últimos três anos triplicamos nosso faturamento no Brasil”, conta Francesco Galletti, diretor de exportação. Ele conta que este foi um ano de adaptações ao mercado brasileiro (ver box).

O Vivenda do Camarão comemora o sucesso de seu camarão empanado no food service, alimenta altas expectativas para a venda do produto no autosserviço e celebra as duas primeiras lojas internacionais Shrimp House, nos EUA. Segundo o

sócio-diretor Rodrigo Perri, os planos para 2015 incluem novos produtos para a linha de supermercados e food service e a inauguração de 16 lojas no Brasil, além da sua expansão internacional. “Até o fim de 2014, devemos investir em torno de US$5 milhões para terminarmos com seis lojas em operação nos EUA”, comenta Perri. Em 2015, o plano é lançar mais duas novas lojas na terra do Tio Sam.

A Mar Nobre, nova bandeira brasileira no segmento alimentar do grupo português Metalcon, abriu definitivamente as portas no Brasil com investimentos na importação e comercialização de peixe congelado e salgado (bacalhau e derivados). Embora não tenha concedido entrevistas à nossa reportagem durante a feira, o Seafood Brasil apurou que o grupo estima um crescimento de 50 milhões de euros com a operação no Brasil nos próximos três anos.

Com mais de 40 rótulos aprovados pelo Dipoa, a peruana Produmar esteve na feira em busca de parceiros para vender a granel em outros Estados do País, além de São Paulo, onde já atua. A empresa produz 1500 toneladas

Pescado ao vivo

Um tanque com moluscos e crustáceos vivos atraiu a atenção dos visitantes em torno do estande do Grupo 5. Tratava-se de um dos diversos modelos de viveiros e berçários da Adriatic Sea Aquarium. “Essas máquinas têm água purificada e as condições ideais para conservar a qualidade e sabor dos animais”, explica Ugo Carboni, porta-voz da empresa. Com um portfólio que inclui desde pequenas unidades com capacidade de 10 kg até versões industriais que armazenam 100 toneladas de produto, a Adriatic Sea Aquarium ainda oferece serviço de manutenção e capacitação do cliente para lidar com o animal vivo.

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Novos players e jogadas

Novata na feira, a Ayamo Foods deixou de ir a Seafood Expo Global, em Bruxelas, para estar mais próxima ao mercado brasileiro e afinar sua atuação como player de importação. Este ano suas metas são oficializar os produtos trabalhados pela marca própria de importação, Brava Mares, e aumentar em 50% seu volume de vendas.

O Equador contou com cinco expositores do ramo, dos quais três estrearam na feira. Um deles é a FrescoDegfer, também debutando no Brasil. A empresa se dedica ao processamento e comer-cialização de pescado fresco e congelado e traz ao Brasil filés de atum, dourado, merluza, corvina, entre outros.

A ExpoTuna é outra iniciante, que pretende vender peixe congelado, principalmente cação e atum, além de corvina. “Nossa grande vantagem é que manejamos nossa própria frota e captura-mos a pesca que vendemos”, conta Ramón Fernández, gerente geral. Já a PromaRosa estreou na feira mas já atua no mercado brasileiro há aproximadamente sete anos. O Brasil representa 10% das suas exportações, que são direcionadas a mais de 20 países. “Entre os nossos produ-tos-estrela estão a cavala e merluza”, diz Carla Paez de Cárdenas, gerente geral.

Mar Nobre foi uma das estreias da Apas este ano

mensais de produtos, de acordo com seu gerente comercial Draguich Balarin Ridoutt, e atualmente fornece para o Pão de Açúcar e Extra produtos como anchoveta, lombo de dourado-do-mar, lula em tubos, vieira, entre outros.

No estande da Fundación Exportar, da Argentina, o gestor de negócios da Alpha Tango, Paulo Kojo, contou que a novidade deste ano é a possiblidade de produzir anéis e tubos de lula para o mercado brasileiro. A empresa, que produz, comercializa e exporta, opera no Brasil através de sua bandeira Charlie Tango em parceria com a Pioneira da Costa, Opergel, Bacalhau Dias, entre outros. Seu principal mercado em território brasileiro é São Paulo, seguido de Santa Catarina e o Nordeste.

Ainda no ramo dos empanados, a Copacol optou por levar à feira seus produtos destinados à alimentação escolar, como os empanados de tilápia em formatos de barquinhos, estrelinhas e peixinhos.

Para este ano, a Geneseas decidiu incluir salmão congelado e fresco, tambaqui, pirarucu e camarão ao seu mix de produtos. Tambaqui, pirarucu e outros peixes de água doce do Brasil representam um enorme potencial ainda pouco aproveitado na opinião de Diego Fávero, diretor de Supply-Chain do Grupo 5. Para ele, a vasta variedade de peixes, empresas e tipos de atuação desnorteiam o mercado nacional de pescado, mas ao mesmo tempo lhe permite se renovar o tempo todo. “Esta é a grande vantagem do nosso setor: sempre está se reinventando, seja em ‘porcionamento’, em produto novo, embalagem ou na tendência de prato pronto.”

Trending topic: praticidadeMuitas empresas estão apostando

na criação de pratos prontos. “É uma tendência e faltam opções de pescado nesse segmento”, atesta Sergio

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Karagulian, da Brascod/Bom Porto, que faz mistério sobre os novos pratos prontos que a empresa planeja lançar.

Este gap está atraindo até novos players. A Vapza, por exemplo, indústria de alimentos cozidos a vapor e embalados a vácuo, lançou na feira seu primeiro produto na categoria de pescado, o Bacalhau cozido com Batatas. “O bacalhau já está dessalgado e cozido, pronto para ser consumido ou para preparar um prato como a bacalhoada, por exemplo”, conta Andressa Miranda, do marketing da empresa.

Para o último trimestre de 2014, duas empresas equatorianas também esperam lançar novidades. A Marbelize, que obtém 15% do seu faturamento do mercado brasileiro, vem com opções congeladas: hamburguer de atum (pré-cozido e pré-cozido empanado), almôndega de atum (pré-cozida e pré-cozida empanada), nuggets de atum e azeitonas empanadas recheadas de atum. De acordo com Marcelo Fabara, diretor de vendas, as azeitonas são artesanais – mais singulares – e são a aposta gourmet da marca para conquistar a classe A.

A também equatoriana Asiservy investe no seu arroz com atum enlatado, disponível no Equador, Peru e Colômbia. “Não tem líquido de abertura, está pronto para consumo e não vem com o arroz empapado, o que o torna mais atrativo”, conta Santiago Pinto, diretor comercial. “Vendemos cerca de um contêiner (aprox. 96 mil unidades) por país a cada mês e vemos no Brasil um grande consumidor de arroz e de atum.”

A tradicional tortilha espanhola ganhou uma versão de bacalhau com a Casa de Aranaz, indústria brasileira que traz a culinária espanhola e mediterrânea. Este e outros sabores (calabresa e quatro queijos) foram produzidos exclusivamente para o

Brasil e são vendidos para padarias, supermercados, hospital e restaurantes.

Ainda na linha da praticidade, a outra moda são as porções pequenas. A brasileira Árticos, por exemplo, apresentou sua linha de postas e filés embalados individualmente de 300g a 500g. “O objetivo é levar um produto mais prático e cômodo para o consumidor final”, resume o diretor Axel Pétur Ásgeirsson.

Facilitar a vida do cliente para que ele possa armazenar e consumir apenas o que precisa, sem ter que congelar, é a meta da chilena Blumar, conforme o gerente de vendas Sebastián Goycoolea espera de seu próximo lançamento. “Estamos trabalhando para produzir porções individuais de salmão congelado a vácuo sem adição de água nem químico, que garante à dona de casa um produto 100% natural”, conta.

Segundo Goycoolea, o Brasil representa aproximadamente 35% de suas vendas. “Em 2013 vendemos cerca de 4.500 toneladas de produto terminado totalizando em torno de US$ 30 milhões e projetamos para 2014 um crescimento de cerca de 10% em vendas neste mercado”, afirma. “Vemos que o Brasil é um mercado onde a distribuição e disponibilidade de salmão no food service está bem abastecida, mas no mundo do retail há um espaço enorme para crescer.”

Na contramão da apresentação individual, a Pascoal tem intenção de trazer ao Brasil o Gadus morhua em versões de 500g, 800g e 1kg até dezembro deste ano. “É raro encontrar porções grandes dessa espécie; a maioria vem em postas de 300g, no máximo”, justifica Daniela Pereira, da Dan-Bru, representante da Pascoal no País. De acordo com João Miguel Vieira, gerente comercial da Pascoal, o objetivo da empresa é atingir 1, 5 milhão de euros de faturamento no mercado brasileiro até o fim do ano.

Há quem acredite que o seafood fresco ainda tem espaço para aprimorar o food service nacional. “Nos restaurantes do Brasil ainda não existe a cultura de adotar um cardápio de inverno ou de verão”, argumenta José Madeira, diretor do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI). “O peixe da estação sempre será o mais fresco.”

Em relação ao frescor trazido pelo pescado selvagem do Alasca, os envolvidos presentes no estande da ASMI vêm colhendo bons frutos. Um deles é a Noronha, que comemora o aumento de 60% nesta Semana Santa em relação a do ano passado e o dedica aos produtos do Alasca (salmão pink e chum em filés e postas, bacalhau em filés e postas, polaca em postas), além do camarão de cultivo descascado. Tanto é o otimismo que já fecharam um volume de 1.200 toneladas de pescados do Alasca para a próxima Semana Santa, conforme informação do diretor Guilherme Blanke.

Um bom prognóstico também traçou a trading Orleans & Castro, que oferece bacalhau dessalgado congelado da Soguima, produtos chineses, as cinco espécies de salmão do Alasca (pink, chum, coho, king e sockeye), e a linha de peixes brancos do Alasca (peixe solha, cod e polaca). “A expectativa para 2014 é de um crescimento em torno de 50% nas vendas do salmão do Alasca, bem como a diversificação dos demais produtos de lá”, revela Igor Andrade Lima, gerente da divisão de pescado de Orleans & Castro.

Outro case é o da Kalena, que fornece principalmente para restaurantes japoneses de públicos A e B. A aceitação desses peixes é muito grande, conforme explica Alan Nusbaum, sócio-diretor. No entanto, a introdução é lenta por conta do burocrático processo de decisão para trocar o cardápio. Nusbaum afirma que o foco da empresa permanece no food service, mas admite ter planos a médio e longo prazo de investir mais no varejo.

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Diretores, gerentes, representantes e parceiros das empresas que

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Joana D’Arc, Marcondes Oliveira, Axel Pétur e José Rinaldo, da Árticos

Ugo Carboni e Paulina Galegos, da Adriatic Sea

Fabrizzio Cañizares e Ramón Fernandez, da Expotuna

Lorena Andrade, Amanda Brasil, KarlaNunes, Tony De Luca, Mariana Vilela e CátiaMonteiro, da Frescatto Company

Rafael Molina e Aldo De Genna, da FrescoDegfer

Rodrigo Joaquim e Diego Fávero (Grupo 5), Hugo Campos (Casa do Mar) e Tomoo Ohtaki (Marukai)

João Miguel Vieira, Daniela Pereira e Bruno Pereira, da Danbru

Carla Cárdenas e Jasmin, da Promarosa

Jeovane Bezerra, da Vivenda do Camarão

José Madeira, do ASMI Brasil

Luiz Carlos Ribeiro e Roberto Tardin Jr. (Tardin Perry), Raúl Duralde e Sebastián Goycoolea (Blumar)

Pedro Pereira e Sérgio Karagulian (Bom Porto) e Gonçalo Guedes Vaz (Rui Costa e Sousa Irmão)

Francesco Galleti, da Cofaco

Antonio Castillo, do Escritório Comercial do Peru no Brasil

Caio Amadesi e Emmanuel Valente (Geneseas) e Rodrigo Joaquim (Grupo 5)

Luis Manglano e Marcelo Marinho, da Gomes da Costa

Oscar Páez Gamboa (ProChile) e o embaixador do Chile no Brasil, Jaime Gazmuri Mujica

Draguich Balarin e Gonzalo Bachmann, da Produmar

Rodolfo Assis, Kleber Gondin, Antonio Guimarães, Sidónio Barros e Daniel Guimarães, da Soguima

Diego Undurraga, da AgroSúper

Carlos Leguizamon e Paulo Kojo, da Alpha Tango

Felipe Pereira, Vinícius Orsi e Marcelo Reis, da Ayamo

Alan Nusbaum, da Kalena

Antoine Karam e Fábio Karam, da Karam’s Mar

Chef Luiza Hoffman Hoffman preparando salmão selvagem selado

Carlos Leite, da Damm

Gustavo Leão e Esmeralda Alves, da Noronha

Igor Andrade Lima, da Orleans & Castro

Sérgio Lima e José Robson, da Potiporã

Marcelo Nasser e João Alves, da Riberalves

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Fomos a MecaEstreamos na maior feira de pescado do mundo, a Seafood Expo Global, em Bruxelas e constatamos: o futuro já existe

Se Meca, na Arábia Saudita, é a cidade sagrada para os muçulmanos, Bruxelas, na Bélgica, tem a mesma

importância para a indústria mundial de pescado. É lá que, a cada ano, os maiores fornecedores mundiais de peixes e frutos do mar, além dos expositores de tecnologia para processamento, encontram-se para cativar mais de 25 mil compradores de todos os continentes na Seafood Expo Global.

A feira, realizada este ano entre 6 e 8 de maio, é sempre um colosso. Mas

desta vez a gigante cresceu ainda 9% em área de exposição. Sete pavilhões completamente cheios – 1721 exposito-res – que, ao final da feira, já tinham re-servados praticamente todos os espaços para 2015. É certo que os estandes não são tão deslumbrantes como os que se vê por aqui na Apas, por exemplo, mas a impressão é que a preferência é pelo pragmatismo e não a estética.

De fato, tudo é orientado para que a feira seja um palco exclusivo para negócios. A sensação que se tem é que não há tempo a perder, desde o deslo-camento à feira até as visitas e reuniões

nos estandes. Tudo começa com um mês ou mais de antecedência, quando começam a chegar os convites de even-tos, coquetéis e reuniões simultâneos, paralelos e até complementares à feira – como no caso da Master Conference da Noruega (Veja o BOX).

A organização também se encarre-ga de oferecer cortesias, em parceria com o escritório de turismo da cidade, como descontos em hotéis e restau-rantes e o ticket do metrô válido para os dias de feira. O visitante recebe por e-mail um voucher com um número, que insere na máquina automática de

Texto: Ricardo Torres

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bilhetes em qualquer estação e ga-nha um passe-livre para o transporte público.

Uma vez no metrô, em pouco mais de meia hora a partir do centro se chega ao Brussels Expo. Esqueça o movimento frenético dos carros e estacionamentos lotados. Aqui é o transporte público que impera. E é de dentro do vagão, já na estação Heizel, que os visitantes já conseguem contem-plar o Atomium, estrutura de 103 metros de altura que simula as moléculas de um cristal de ferro. É sintomático que o principal cartão-postal de Bruxelas depois do Manneken-Pis e das excelen-tes cervejas locais emoldure o pavilhão de exposições. É a coroação de uma cidade que se consolidou como um ambiente mais do que propício para fomentar negócios.

Imbuído deste espírito, o visitante chega ao pavilhão para três dias de uma intensa rotina com horários rigoro-sos: de 10 às 18h nos dois primeiros dias

e de 10h às 16h no derradeiro. Esqueça o chopinho depois das 18h: ao término de cada dia, a organização do evento anuncia nos alto-falantes que já é hora de fechar os estandes e deixar o local. Seguranças fecham determinadas ruas para bloquear a passagem e garantir a evacuação completa.

Tempo é dinheiroTodos os fatores citados acima

consolidam uma dinâmica de foco em resultados. Como em outras feiras, poucos negócios são fechados ali. Mas é o relacionamento aprofundado e a atualização profissional que conta. Ir à Bruxelas deveria fazer parte de um MBA voltado para o mercado de pescado: aprende-se tanto, em um ritmo frenético, sem tempo para pausas.

A maior lição de Bruxelas é a clara demonstração de que o futuro já existe. E o mundo inteiro está atento a isso: 150 países enviaram representantes à feira. Noruega, Chile, China, Vietnã, Marro-cos, Equador, Espanha, Estados Unidos, Japão, Portugal, Tailândia, Argentina, Brasil, para citar alguns, escalaram suas gigantes para participar. Marine Harvest, Trident Seafoods, Ocean Beau-ty, Viciunai, Noribérica, Nigel, Fandi-costa, The Saucy Fish Co., Interatlantic, Iberconsa, South Vina, Pacific Gold, Nordic Seafood, Multiexport, Icelandic, Aquachile, Moscuzza, Coomarpes e Copelit são algumas das grifes presen-tes com quem o Seafood Brasil estabe-leceu contato.

A ascensão do consumo de pescado em um mercado superior a 200 milhões de habitantes enche os olhos destas empresas, segundo fontes relataram à reportagem. Existe uma intensa movimentação das multinacionais para vender ao Brasil ou até mesmo abrir escritórios locais. Caso da gigante de congelados Pickenpack, que estuda o ingresso no País, ou da Trident Seafoods, que está em fase de estruturação de suas atividades

por aqui. “Nos últimos anos estivemos focados em trabalhar com o Brasil, que ainda representa uma parcela pequena de nossos negócios, mas vai crescer”, conta Danny Alva, responsável pelos mercados da América Latina da Ocean Beauty. Até maio, a empresa tinha constatado aumento de 80% nas vendas ao Brasil: até maio, 250 contêineres de 20 pés com um mix de salmão chum e pink, polaca e bacalhau haviam sido exportados.

O País se tornou um dos princi-pais mercados da South Vina, que já responde por 40% de toda a exportação do panga disponível aqui (Leia mais na reportagem de Capa). “O Brasil é um mercado muito importante para nós, principalmente no filé untrimmed (com aparas)”, conta o gerente do Depar-tamento de Comércio Exterior, Tran Hoang Thuan. Os vietnamitas adotaram uma postura assertiva neste ano para defender o panga como uma opção segura e para o dia a dia (Panga – your fish everyday é o nome da campanha). Convocaram os jornalistas para mos-trar as bases do VietGAP, um sistema de certificação que se alinha ao Global-GAP, Aquaculture Stewardship Council (ASC) e outros.

Antigos conhecidos dos brasileiros também reforçam o interesse no Brasil. É o caso dos argentinos, como a Coomarpes e a Iberconsa. “O Brasil sempre foi um mercado importante para nós, porque tem distintas gamas de negócios, tanto em pescado inteiro como filés”, indica Rubén Dario Burkhard, gerente geral de Coomarpes. “Estamos no Brasil há 12 anos e fomos desenvolvendo produtos premium a bordo, como tubos de lula. Agora estamos introduzindo os filés de merluza congelado a bordo”, relata o diretor comercial da Iberconsa, Pablo Basso.

Há três anos no mercado brasileiro, a Noribérica anunciou em Bruxelas novidades para o Brasil. “Estamos

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Inovações a toque de caixa

preparando uma linha de empanados, incluindo o próprio bacalhau empanado, mas também anéis de lula e bolinhos de bacalhau”, conta Miguel Bregieira, responsável pelo Brasil na multinacional espanhola. A aposta para os próximos meses é no food service, que hoje representa apenas 5% do faturamento com o Brasil. “O consumidor brasileiro está começando

a exigir a mesma qualidade que encontra em outros locais, porque viaja mais e quer mais produtos saudáveis”, conta. O desperdício, segundo o executivo, ainda é um grande problema a ser combatido. “O País desperdiça 60% do pescado que está disponível.”

Grande fornecedor de matéria-pri-ma para as conserveiras Gomes da

Costa, Camil e Robinson Crusoe, a Co-pelit Group trabalha com o Brasil há 9 anos e só quer incrementar seu market-share. “O Brasil é um mercado poten-cial e importante para nós no Marrocos. As coisas estão indo bem, com altos e baixos, claro, como qualquer mercado. Fornecemos cerca de 10 mil toneladas de sardinha e cavalinha HGT anuais”, indica Rida Sentissi el Idrissi, CEO da Copelit/Damsa, que tem o País como 10% a 15% de seu faturamento.

Atrás apenas dos Estados Unidos na demanda pelo salmão, o Brasil compra 20% do mix de produtos da MultiExport Alimentos. “O Brasil foi tomando uma importância muito grande nos últimos 10 anos e agora nosso foco está em incrementar a participação de produtos de valor agregado”, conta Derek Kohn, Diretor de Vendas. O salmão defumado é a próxima barreira a ser vencida pela companhia, garante o executivo.

Estande nº 2441, pavilhão 11Como é de praxe em qualquer

viagem internacional, os brasileiros estão em todo o lugar. E isso foi ainda mais flagrante em Bruxelas, já que a casa brasileira abrigou a maior delegação brasileira da história das participações. Foram 12 empresas convidadas pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e a Embaixada Brasileira em Bruxelas: Oceanos, Bomar, Leardini, Blaze, Blazfish, Sindifrios, Produmar, Ranac, Compex, Condessa, Maris e Santa Lavínia.

O espaço, de 256 m², foi dobrado em relação à última edição, proporcionando um eficiente ambiente de negócios para os brasileiros. “A participação brasileira vem evoluindo a cada ano e os negócios tem crescido a partir desta participação. Este ano, segundo prévios levanmtamentos, os negócios e os contatos foram além das expectativas”, conta o Diretor do Departamento de Fomento do

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Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Sebastião Saldanha.

Soma-se ao diagnóstico oficial o balanço das participantes. “A feira foi menos movimentada este ano, mas mais efetiva em termos de negócios”, diz Diretor Comercial da Blaze Comex, José Silveira. “A procura por gente que pretende realmente fechar negócios foi muito grande. Nunca perdemos uma edição, é uma feira fundamental para nós”, completa o executivo, que comer-cializa peixe-sapo (conhecido como tamboril ou monkfish), as ovas de tai-nha (bottarga), arraias, peixe-espada e peixe-galo, principalmente ao mercado francês.

A lagosta também atraiu muitos compradores à casa brasileira na Seafood Expo Global. Os asiáticos, ávidos por lagosta viva, ainda consomem muito o crustáceo inteiro. Os importadores buscam pacotes de 100/120 (100 a 120 peças por kg) e têm no Brasil um fornecedor confiável e com bom prazo de entrega, conforme relata Gleidson Gomes, Gerente de Vendas Internacionais da Maris Pescados, marca da cearense Celm Aquicultura. “Por questões logísticas, não conseguimos competir na lagosta viva, mas na inteira congelada temos boa penetração.” O camarão também entra no mix da Maris, com uma quantidade exportada de 4.400

toneladas, mas imagina que este dado pode crescer mais até o fim de 2014 com equilíbrio de preços. Para Gomes, os preços internacionais em novembro de 2013 estavam em US$ 4,50 o kg para os camarões 100/120, enquanto o Brasil só conseguia chegar a US$ 7,20 o kg. Em abril deste ano, o preço já beirava os US$ 7,00.

O aumento da competitividade nacional também anima outros exportadores. Pela terceira vez, a Leardini novamente encantou os presentes com um expositor com uma oferta abrangente de pescado, incluindo pargo, ariacó, guaiuba, lagosta, tamboril e camarão pitu – seus principais itens de exportação. “Com dólar a US$ 2,30, podemos exportar com preços competitivos até a cavalinha, algo que não pode faltar em diversos países”, conta Francisco Benvenuti, do Departamento de Comércio Exterior. “Recebemos cerca de 60 contatos por dia e tem sido muito gratificante o retorno que esta feira tem nos proporcionado”, completa.

Outro entusiasta da participação brasileira, o diretor da Produmar Pes-cados, Arimar França Filho, vislumbrou novos mercados para o atum nativo. “O consumo de salmão cresce muito no Rússia, por conta dos restaurantes japoneses, então imaginamos que isso pode beneficiar a entrada do atum fres-

co”, relata. Além dos atuns, a empresa comercializa peixe-espada, lagosta e os snappers, como o pargo.

No fim da feira, o Seafood Brasil organizou uma pequena mesa-redonda entre alguns dos representantes do Sindifrios, como o presidente, Paulo Gonçalves, Armando Medeiros, da Santa Lavínia, e Maximiliano Carvalho Mapurunga, diretor da RB Aquicultura. A avaliação positiva foi unânime. “Não é uma feira de comprar e vender, mas de relacionamento”, diz Mapurunga. “O governo federal tem que se comportar como protagonista no setor. E este estande mostra que ele assume a responsabilidade”, completa Medeiros. “A iniciativa é louvável e este estande é o mais importante para nós aqui, pois temos uma base para buscar informação e ver o que os outros estão fazendo”, avalia Gonçalves. Bruxelas é uma escola, e os brasileiros parecem ter sido aplicados alunos.

Cobertura multiplataforma

A equipe do Seafood Brasil registrou as principais atrações da Seafood Expo Global em texto, vídeo e fotos. Acompanhe nesta edição os finalistas da14ª edição do prêmio Prix D’Elite, na seção Na Gôndola, e as fotos dos participantes nas páginas seguintes. Acesse ainda o seafoodbrasil.com.br e veja a cobertura diária que fizemos na feira. Além disso, leia o QR Code abaixo com seu tablet ou smartphone e assista aos vídeos que gravamos com os brasileiros que visitaram Bruxelas.

Leia este QR Code e veja vídeos gravados com brasileiros que visitaram Bruxelas

Saldanha (MPA), André Amado (Embaixada na Bélgica) e Attílio Leardini (Leardini) conferem oferta no estande de 256 m² do MPA

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Durante quatro dias, Bruxelas reuniu mais de 25 mil visitantes,

entre os quais fisgamos alguns que estiveram em contato com a nossa equipe.

André Amado (Embaixada Brasileira em Bruxelas), Érika Cunha (Bomar), Marluci Martins (Ranac) e Alexandre Reis (Bomar)

Sebastião Saldanha (MPA), José da Silveira Jr. (Blaze), André Amado (Embaixada do Brasil na Bélgica), Glauco Hassmann (Blaze)

Luis Cabaleiro e Vanessa Salomão (Interatlantic)

Ligia Holanda (Nyord), Alexandre Reis (Bomar), Lia Linhares e Gentil Linhares (Bomar) e Wilmar Spengler (Wam Brasil)

Fagner Rodrigues (Nativ), Geraldo Beier (Siar), Sidnei Cordeiro (Centro Oeste Pescados), Yasser Cordeiro (Centro Oeste Pescados) e Barbosa (Manso Aquicultura)

Sebastián Guridi (Moscuzza) e Arimar França Filho (Produmar)

Aldo Pedro Claverie e Maria Ines (Oceanos)

Emerson Raiol (MPA)

Nelson Oliveira (J.A. Oliveira) e Miguel Bregieira (Noribérica)

Guilherme Blanke (Noronha), Mark Palmer e Danny Alva (Ocean Beauty), James Loureiro e Marcelo Uchôa (Noronha)

Aline Mattos, Maria Nunes, Attílio Leardini e Francisco Benvenuti (Leardini)

Derek John (Multiexport), Rafael Barata (Frescatto Company) e Guillermo Staudt (Ventisqueros)

Stephan Verhamme (Viciunai)

Andrew Jenssen e Marcelo Eiger (Trident Seafoods)

Rida Sentissi El Idrissi (Copelit/Damsa)

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Entre 24 e 27 de junho, parte do setor foi ao Salão Internacional de Alimentação, em

São Paulo, junto à Fispal Food Service. A cobertura completa você confere em nosso site; as fotos, aqui.

Roberto Imai (Compesca) e Marcelo Eiger (Trident)

Marcelo Eiger (Trident), Rafael Camacho, Eilon Schreiber (Kalena) e José Madeira (ASMI)

Susi Richter Lapa (Legali) e Roberto Hoff (Adido agrícola EUA)

Xavier Maldonado (Quirch Foods) e Danny Alva (Ocean Beauty)

Igor Andrade (Orleans & Castro) e Eilon Schreiber (Kalena)

Rafael Barata e Amália Marques (Frescatto Company)

Wang Zheng (Erican) e Anderson Sina (Sina Trader)

João Luis da Silva Silveira e Joycenir Sarmento (Komdelli)

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Eles vieram para ficar

Os argentinos comemoraram e não foi por conta da Copa do Mundo. O Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MPA), por meio do De-partamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, da Coordenação Geral de Inspeção e da Divisão de Inspeção de Pescados e Derivados, publicou, no

dia 10 de setembro de 2013, uma circu-lar que tinha por objetivo “esclarecer os novos padrões de certificação sanitária internacionais para a importação de pescado e seus derivados no País”.

Na teoria, desde janeiro, quando a Organização Mundial do Comércio (OMC) notificou seus membros sobre

Capa

O pangasius e a polaca fazem longa jornada das águas à mesa do brasileiro, mas sua introdução no mercado nacional, porém, foi acelerada nos últimos anos. Até a introdução das novas restrições do Mapa para a importação, que podem ter mudado definitivamente as regras do jogo

Texto: Gustavo Angimahtz e Ricardo Torres

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a circular brasileira, os contêineres oriundos do exterior com pescado passariam a ser fiscalizados para constatar a inexistência de fosfatos e níveis aceitáveis de glazing e os fosfatos, cujo uso em excesso permitiu níveis de preços baixíssimos e a popularização destas espécies em solo nacional.

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23atingiu patamares de preços mais acessíveis às classes mais baixas nos últimos quatro anos, em particular para a polaca do Alasca (Theragra chalcogramma) processada na China – desde janeiro de 2012 proibida de ser chamada de merluza do Alasca – e o pangasius vietnamita (Pangasius hypophthalmus). A merluza passou a ser a terceira opção frente aos preços que chegam na ponta final do consumidor a R$ 6.

Não se sabe se o cenário desfa-vorável aos produtores nacionais foi

uma das motivações à determinação do Mapa, mas é fato que a circular antecipava efeitos catastróficos para o comércio da polaca e do panga. De fato, grandes empresas relataram à re-portagem a título de confidencialidade a suspensão de dezenas de contêineres sem a documentação necessária, o que já gerou prejuízos milionários.

Entre 9 e 10 de julho, o governo chinês aproveitou a reunião do Co-mitê de Medidas Sanitárias e Fitos-sanitárias da OMC para requisitar a liberação de cargas retidas no Brasil

As fontes da polaca

Os filés brancos de polaca do Alasca dão a volta ao mundo para chegar ao Brasil. A aventura começa na região gelada do Mar de Behring, entre a Rússia e o Alasca, no Círculo Polar Ártico. Um lugar onde a temperatura passa por -40ºC e -60ºC. O produto da captura segue congelado às indústrias chinesas, que realizam um novo congelamento após o processamento.

Os preços são tão competitivos que fica difícil imaginar como dar um bypass na China para exportar diretamente ao Brasil, mas nos últimos dois anos já surge um movimento em favor do single frozen. O Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) indica que a produção de polaca nos últimos dois anos foi de 1,3 milhões de toneladas em cada ano. Por meio de parcerias com indústrias brasileiras, parte ainda pequena deste montante já não faz mais a escala chinesa. O preço, claro, sofre impacto.

A polaca também pode ser extraída na Rússia, mas como o Brasil ainda não tem acordo sanitário com aquele país, teoricamente não há produtos russos em território nacional. No entanto, isso pode estar prestes a mudar: em meados de maio, representantes do governo russo se reuniram com o governo brasileiro para estudar uma abertura recíproca dos mercados para pescado. A Rússia quer atum, tilápia, camarão, linguado, peixe-espada, lagosta, polvo e cavala e, ao mesmo tempo, tornar-se uma nova fonte para a própria polaca, bacalhau seco, arenque e até salmão.

O glazing, prática muito conhecida, é uma camada de gelo que aparece nos peixes durante o processo de refrigeração. A aplicação possui restrições normativas de espessura máxima. Ou seja, é permitida e até recomendada como fator protetor, mas desde que corresponda a no máximo 20% do peso e seja indicada ao consumidor. A adição de tripolifosfato de sódio, por sua vez, consiste em injetá-lo no peixe para induzir uma maior absorção de água, o que também aumenta o peso do filé.

Mas como na panela o consumidor começou a constatar que comprava água por peixe, assim como ocorreu com o frango, era o sinal de que as duas práticas estavam sendo adotadas em excesso. Devido à maior absorção de líquido, ao ser aquecido para o preparo ou ter a cadeia do frio interrompida, o peixe tem a água extraída das células e estas arrebentam. A destruição das células fazem com que o filé perca a textura e a rigidez, ficando com aparência flácida e sem consistência, afetando também o sabor.

Antes dominado pela merluza argentina, o segmento de filés brancos

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que, segundo os asiáticos, já respei-tam as novas exigências. Na ocasião, o jornal Valor Econômico noticiou que 117 cargas de pescado estariam retidas em portos brasileiros.

Até o fechamento desta edição não havia uma resposta oficial de Brasília, mas é possível que o excesso de cau-tela esteja associado a graves boatos de que já há fraudes para burlar a fiscalização. Fornecedores chineses estariam propondo a importadores brasileiros colocar carga fora da especificação solicitada pelo governo brasileiro no fundo dos contêineres, deixando o produto regularizado na frente. A informação foi confirmada por mais de dois importadores consultados pela reportagem.

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Processamento de polaca do Alasca: Brasil importou 20,8 mil toneladas em 2014

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Ivan Lasaro, presidente da Associa-ção dos Distribuidores e Importadores da Indústria de Pescados (Andip) e diretor da Opergel, confirma o prejuízo. “Só de armazenamento são US$ 2 mil por dia”, ressalta Lasaro, para quem a medida é benéfica para o País. Ainda assim, ele reclama que a fiscalização não deu tempo para as empresas se adaptarem. “Eu tinha carga já compra-da antes da publicação, e que foi para-da porque, quando chegou, a medida tinha mudado”. A Opergel comercializa cerca de 1500 toneladas de peixe por mês, e o prejuízo estimado pelos contê-ineres retidos desde o segundo semes-tre de 2013 até o momento ultrapassa os R$ 5 milhões.

Igor Andrade, gerente de vendas de pescados da Orleans e Castro, que representa empresas do Alas-ca, conta que a novidade deixou os importadores apreensivos. “Importar a polaca da China ainda não é uma certeza para os importadores depois da fiscalização. Muitos vão comprar a merluza argentina, que antes era 20% a 30% mais cara, porque no Brasil não há indústria de processa-mento”, enfatiza.

O impacto não ocorre apenas nos contêineres parados, mas já começa a promover uma diversificação nas matérias-primas, conforme ilustra Vinicius Orsi, sócio da Ayamo Foods, empresa localizada no pólo pesquei-ro de Itajaí (SC). “A gente não sentiu muito impacto. Tivemos alguns pedidos cancelados e ainda não fizemos novas vendas no novo padrão”, argumenta o empresário. Segundo o empresário, alguns clientes também estão com medo e estão começando a importar da Argentina e do Peru. “Está valendo mais a pena trazer filé de merluza da Argentina que o panga ou a polaca nos novos moldes. É 100% sem químico, demora 10 dias pra chegar e o preço é o mesmo, cerca de três dólares o quilo”, justifica Orsi.

Para Guilherme Blanke, da Noronha Pescados, a realidade é distinta. A Noronha importa o filé da China, mas, hoje, 85% do peixe que nacionaliza é em HG, diretamente do Alasca, e seus contêineres chineses que haviam sido apreendidos já foram todos liberados. “A princípio, a indústria está tendo muita dificuldade”, afirma o executivo. Guilherme conta que, na polaca, era acrescentado 30% a 50% de água. “Essa mudança vai ser muito benéfica pra indústria brasileira por colocar todos em pé de igualdade. A retirada do glazing e do fosfato ocasionarão o aumento do custo do produto, que passará a ser comercializado pelo preço correto”, explica Blanke. “Com a retirada desse artifício, o preço no Brasil será competitivo com o da China”, conclui.

Do lado dos fornecedores, também se divide a preocupação. Doreen, do departamento de impor-tações e exportações da indústria chinesa Dalian DongLin Food, con-firmou ter sido afetada pela notifica-ção da OMC, mas enfatiza que isso faz parte do jogo. “Eu costumava

E no varejo?

Para Guilherme Blanke, a questão é muito sensível à reação de grandes varejistas. “O atacadista quer ser competitivo. Se todos respeitarem, ele vai seguir, mas quando um importa a preço baixo, a outra rede terá interesse neste produto”, explica o executivo. “Num primeiro momento, a polaca deve aumentar de 25% a 30% e a queda no consumo será na mesma proporção. Na medida em que o consumidor parar de comer bucha e começar a comer peixe, isso superará em médio prazo a questão do preço e a população comerá um peixe saudável”, pontua Blanke.

As redes de supermercados Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour foram questionadas sobre um eventual impacto das novas normas nos seus estabelecimentos. A assessoria do Grupo Pão de Açúcar diz que a rede trabalha apenas com a polaca do Alasca importada da China, mas não com o panga do Vietnã. Desde dezembro do ano passado não houve alterações significativas no preço do filé de polaca, que manteve o padrão em torno dos R$ 12 por quilo. De fato, ocorreu um aumento no consumo, já que a comparação entre o primeiro quadrimestre do ano passado com o primeiro quadrimestre de 2014 resulta em um saldo positivo em 17,5%.

O Carrefour, a APAS e a ABRAS (as duas últimas associações de supermercadistas de São Paulo e do Brasil, respectivamente), por sua vez, não comentaram o assunto ou não tinham dados sobre o mercado.

vender a polaca para o Brasil, mas não vendo mais porque o seu gover-no hoje restringe os meus produtos com tratamento químico”, conta a executiva. “Eu pretendo recuperar esse mercado, mas como tenho outros não estou desesperada, mas é claro isso me chateia. Meus preços subiram 27% para o Brasil por causa disso”, completa.

Entrevistado em maio, o gerente da vietnamita South Vina, Tran Hoang Thuan, disse que não houve alteração das exportações. “Nada mudou. Nosso glazing não supera 10% e não tivemos problemas com os fosfatados”, conta. A empresa afirma ser responsável por 40% de toda a venda de panga do Vietnã ao Brasil, que prefere o filé untrimmed, ou seja, sem acabamento ou remoção de aparas.

Importadores endossam a visão de que, no caso do panga, os fosfatos não são prática corrente para baratear o preço. Desde que entrou no Brasil, há cinco anos, a espécie é comumen-te associada a cultivos em regiões poluídas do rio Mekong, no Vietnã,

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e alimentação com baixo padrão de higiene. Missões do governo brasileiro já constaram um nível de profissiona-lização incompatível com os boatos, como no caso da South Vina: a empre-sa, situada no sul do país, foi fundada em 2005 e já conta com uma área de 13 mil m², nas proximidades no rio Hau. Mais de 1200 funcionários traba-lham no local, que produz anualmente em torno de 15 mil toneladas.

Para Rui Barreto Filho, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Vietnã, a indústria deve simplesmente se adaptar à decisão do governo brasileiro. “No caso do Vietnã, ou se adapta, ou sai do mercado”, coloca o presidente, “Isso é uma guerra comercial com barreiras técnicas que impedem certos produtos de entrar no

mercado para defender outros”, expõe. “O Brasil é um país que importa US$ 200 milhões de panga anualmente”, ressalta Barreto, acrescentando que, recentemente, o Vietnã teve aprovada a exportação de seu filé para o Japão, país conhecido por ter normas sanitárias muito rígidas para pescado, além de já exportar para os EUA. “O glazing dá 10%, no máximo 15%. Tem cabimento importar um peixe do Vietnã e sair mais barato que a tilápia? O consumidor suporta a má qualidade até certo ponto”, conclui o presidente da Câmara.

A Andip está buscando, junto às autoridades, uma fórmula para estabelecer uma isonomia do setor, objetivando cooperar na fiscalização das boas práticas de qualidade e de

comércio. Lasaro fala em protecionis-mo do pescado nacional. “Os boatos que estão sendo espalhados com relação aos filés brancos importados estão alinhados com o protecionismo de mercado, com base em questões sanitárias, mas com o objetivo de pura e simplesmente subir o preço do pescado nacional, seja de captura selvagem ou de cultivo.”

De regresso de uma recente viagem para a Ásia, Lasaro defende o Vietnã dos boatos. “Fica claro que exporta-ções de filés brancos da China para os Estados Unidos, para a Europa ou para o mundo não se sustentariam caso os boatos apresentassem algum fundamento. O Vietnã cultiva o panga e exporta mais de US$ 1 bilhão deste produto. Atingiu um estágio de profis-

Cultivo profissionalizado: panga recebe alimentação industrializada no Vietnã

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Tran Hoang Thuan, da South Vina

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O seu passaporte para o mercado brasileiro• Representação institucional• Procedimentos burocráticos• Aprovação de registros de embalagens• Análises de mercado, • Campanhas promocionais• Planos de comunicação,• Eventos

Your passport to the Brazilian market• Institutional Representation,• Bureaucratic Procedures,• Packaging registration approval,• Market Analysis,• Promotional Campaigns,• Communication Plans and• Events

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sionalização somente comparado aos produtores de salmão no Chile e na Noruega”, argumenta.

No caso da China, empresas consul-tadas pela reportagem indicam que o país é perfeitamente capaz de exportar sem fosfatos, mas a demanda por preço no Brasil estimulou essa necessidade. É por isso que alguns fornecedores preten-dem desovar seus estoques misturando

caixas com produto com químicos em contêineres sem fosfatos. A tentativa de fraude expõe a falta de credibilidade do sistema de inspeção no Brasil. Importa-dores dizem que a deficiência de fiscais federais e de laboratórios de análise favorecem tais comportamentos.

Na ponta do lápis, é grande a diferença. A aplicação do fosfato na polaca chinesa pode reduzir o preço da carga em até 30 centavos por quilo. Um filé sem a adição da substância custa hoje o equivalente a US$ 2,47 o quilo e pode ser encontrado a US$ 2,17 com o químico, fora os ganhos com o peso.

Como explica o BOX em destaque, o produto chinês é, na verdade, pescado

no Alasca. Por conta do custo da mão de obra, as empresas de pesca ameri-canas despacham o peixe às provín-cias chinesas. A exceção a essa regra ocorre por conta de indústrias como a Noronha, que processam o pescado HG importado dos EUA diretamente ao Brasil, sem adição de químicos. Neste caso, o preço sobe. José Madei-ra, representante do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI), avalia que o brasileiro estava acostumado a pagar um preço mais baixo, mas comprava água. “Eventualmente o consumidor vai reconhecer que agora está pagando o preço real”, atesta Madeira.

Gabriel Freitas, representante de vendas da Quirch Foods, empresa

Lasaro, da Andip: entidade busca isonomia na fiscalização da qualidade

Danny Alva, executivo de vendas para a América Latina da Ocean Beauty, empresa que vende a polaca do Alasca em HG (head and gutted, sem cabeça eviscerada) para o Brasil e estuda o mercado nacional há três anos e meio, aponta ainda outra falha no mercado brasileiro. “Há alguns varejistas que vendem bandejas como merluza que, na verdade, são polaca e outras espécies não necessariamente do Alasca”, denuncia. “O consumidor precisa saber de onde vem o produto que está adquirindo”, completa.

Não é à toa que causou celeuma a recente Operação Poseidon, da Polícia Federal, que foi deflagrada em plena preparação para a Semana Santa e constatou como a fraude era feita desde as indústrias de pesca. Sete empresas de Itajaí, Navegantes e Itapema, em Santa Catarina, foram acusadas de trocar o rótulo de produtos e até industrializar espécies consideradas em extinção. A prática ocasionou multas e a adoção de um regime especial de fiscalização que ainda afeta a rotina das indústrias locais.

Bacalhau, polaca, panga, linguado ou merluza?

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POLACA-DO-ALASCA - 1º SEMESTRE DE 2014 X 2013

Espécie Polaca do Alasca (theragra chalcogramma) País China Vietnã EUA Portugal

US$ FOB KG US$ FOB KG - - 2.819 900 - - - - 111.008 79.578 69.064 45.360 17.386 3.115 12.357 2.030

US$ FOB KG US$ FOB KG

41.577.919 20.303.944 68.806.961 35.565.648 1.243.416 563.560 - - 33.738 7.008 - - 6.637 1.260 6.246 1.120

Granel Filé2014 20142013 2013

PANGA - 1º SEMESTRE DE 2014 X 2013

Espécie Panga (Pangasius hypophthalmus) País Vietnã

US$ FOB KG US$ FOB KG 67.347.492 33.987.334 45.890.055 23.075.550

Filé2014 2013

MERLUZA - 1º SEMESTRE DE 2014 X 2013

Espécie Merluza (Merluccius hubbsi) País Argentina

US$ FOB KG US$ FOB KG

1.137.263 582.954 1.531.916 883.298

US$ FOB KG US$ FOB KG

43.266.974 14.309.074 41.058.994 12.963.199

Granel Filé2014 20142013 2013

Fonte: AliceWEB/MDIC

A polaca do Alasca começou a ser trazida diretamente para o Brasil, sem passar pela China, apenas em 2012. No primeiro semestre de 2014, importamos dos EUA 86,5 toneladas a um preço médio sem incluir despesas logísticas (FOB) de US$ 1,67. “A polaca é mais de 50% da produção de peixe do Alasca e na China esse número já vai pra casa dos milhões”, argumenta Madeira.

A China, maior responsável pelos envios da polaca, vendeu ao Brasil nos primeiros seis meses do ano 43% menos do que havia vendido no mesmo período de 2013. E em 2014, deixou de comercializar a polaca a granel, para processamento local.Já o panga só cresce. O Vietnã aumentou em 32% os embarques de filés para o Brasil em 2014, a um preço médio de US$ 1,98. Em 2013, foram 23 mil toneladas, enquanto neste ano o volume subiu para 33,9 mil toneladas.

A Argentina também se beneficiou com o aumento das restrições sanitárias à importação. Somando a merluza exportada em filés e a granel, foram 14,9 mil toneladas – 7% mais que em 2013. O preço médio ficou em US$ 2,98.

Os números do segmento de filés brancos

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norte-americana que já mira o mercado brasileiro para a polaca do Alasca, vê um cenário similar. “Os processadores do Brasil terão maior participação no mercado. Os importadores no Brasil precisam ter mais vigilância nos produtos deles e uma participação maior. Eu acho que eles [os chineses] se adaptariam, mas em longo prazo. Estou vendo muito medo no mercado agora, muitos ficaram com contêineres parados, então plantou-se uma semente que agora está brotando”, revela.

Para Phan Thi Kim Hoa, executi-va da Vinh Hoan Corp., produtora de pescados vietnamita, “sempre existirão produtos de boa qualidade e de má qualidade no mercado, então quanto melhor o consumidor souber escolher

os seus produtos, melhor será. Ainda, o varejista pode não saber o que está comprando, o que é um problema.”

A Vinh Hoan Corp. tem como estratégia produzir produtos premium, então o enrijecimento da fiscalização no Brasil, país que está em estudo pela empresa para iniciarem operações, pode ser um bom sinal. “Existem muitos produtos de baixa qualidade e sem controle, especialmente no Brasil. O escândalo com o peixe chinês tratado quimicamente precisa ser exposto e as pessoas precisam entender a importância de produtos de qualidade. Os importadores e distribuidores deveriam checar a origem do produto também”, alerta a executiva. Phan conta que no Vietnã

é processado de 80% a 90% do panga consumido no mundo.

A questão, obviamente, refletiu um impacto no bolso do consumidor, difícil de ser mensurado, pela redução da oferta do produto importado, já que apenas ele atendia à demanda. “Nos últimos anos, o aumento da renda dos brasileiros, a preocupação com a saúde e o desejo por uma alimentação saudável foram determinantes para um aumento no consumo da proteína dos pescados, que antes era desproporcionalmente menor no mix das proteínas animais”, aponta Lasaro. No momento em que o consumo de pescado ainda amadurece, o peso no bolso e na embalagem – de preferência sem água – é que dita regras.

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Ponto de Venda

A quarta maior varejista do Brasil revela seus campeões de vendas e credita às importações diretas o sucesso do pescado

Texto: Thais Ito

Reduzir custos em 30% e manter a qualidade dos produtos? É um sonho para qualquer empresa, mas que se tornou

realidade no departamento de pes-cado do Cencosud Brasil. A empresa registrou um faturamento bruto na casa dos R$ 9 bilhões em 2013 e é a quarta maior empresa supermercadis-ta no País, segundo o ranking de 2014 da Associação Brasileira de Supermer-cados (Abras) e da Nielsen.

Cencosud: direto ao ponto

Quem explica a fórmula para resolver essa emblemática equação é Márcio Santana Silva, gerente de perecíveis da empresa. “Nossas principais espécies – filés de polaca, linguado, merluza, salmão, corvina e bacalhau dessalgado congelado – estão ganhando mais espaço nas vendas das nossas lojas por conta das importações diretas”, afirma. “Assim controlamos bem os nossos custos, conseguimos determinar um padrão

de qualidade e vender com bom dife-rencial competitivo.”

Mas, por que recorrer a importações diretas? Silva conta que, anteriormente, compravam de fornecedores brasileiros, “que importam a granel, embalam no País e vendem como produto nacional”, mas quando lidam com itens de alto giro, como as espécies supracitadas, passam a negociar diretamente com os produtores do exterior. Na sua lingua-

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gem, “alto giro” significa encomendas de aproximadamente um contêiner de 40 pés. Atualmente, o Cencosud Brasil importa de 50% a 60% do total vendido na peixaria.

As importações diretas são uma prática estimulada por todo o grupo Cencosud, maior varejista da América Latina, com operações na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru. Desde que chegou ao Brasil, em 2007, vem aplicando a medida gradualmente em suas bandeiras. Atualmente são cinco – GBarbosa, Bretas, Prezunic, Perini e Mercantil Rodrigues – distribuídas em oito Estados.

A variedade de pontos de venda, inclusive, potencializa a vantagem de negociar grandes volumes com fornece-dores externos sem intermediários. Com

encomendas maiores em uma deter-minada bandeira, permite-se que um produto esteja ao alcance das demais com um valor mais competitivo.

É o que acontece com o bacalhau dessalgado congelado importado de Portugal, altamente demandado no Rio de Janeiro, mas com saída menor na região Nordeste. “Aproveitando o custo reduzido e a ótima qualidade do produ-to que encomendamos para o mercado carioca, fazemos encomendas às outras bandeiras; é uma bandeira ajudando a outra”, conclui Silva. “Com as importa-ções diretas, dependendo do produto, chegamos a ter um ganho de 50%, mas em média essa porcentagem gira em torno de 30%.”

Não é apenas nas importações que o Cencosud encontra essa vanta-

gem. No caso do camarão, o grupo se abastece com fornecedores brasileiros e consegue diminuir o custo em aproxi-madamente 15% por conta do grande volume demandado em todas as re-giões onde opera, a Nordeste, a Sudeste e a Centro-Oeste.

No cômputo geral, o pescado representa 10% do consumo geral de proteínas animais e vêm ganhando participação pela crescente busca de alimentação saudável. O segmento de perecíveis representa 3% do fatura-mento total do grupo.

No entanto, Silva assume que não houve incremento desde o ano passa-do, mas sim comparado a 2012, quando a participação de pescado nesse setor beirava os 6%. Mesmo assim, novas empreitadas parecem estar a caminho:

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Silva sinaliza que o Cencosud está tra-balhando no desenvolvimento de sua própria marca de pescado, mas não dá detalhes sobre o plano.

Demandas regionaisO alcance do grupo ainda é restri-

to a três Regiões brasileiras, não em suas totalidades, mas já é suficiente

para a diferença entre os mercados saltar à vista. De acordo com Silva, o caso do camarão é um bom exemplo. No Sudeste costuma-se consumir mais camarão sete-barbas, enquanto no Nordeste prevalece o vannamei. Com o bacalhau, as regiões também destoam: no Nordeste o saithe é o mais visado, enquanto no Sudeste o Gadus morhua reina soberano.

Os filés de peixe branco, como a polaca e o panga, são unânimes em todas as bandeiras. Mas o bacalhau é o campeão de vendas absoluto. Ele é líder na Mercantil Rodrigues, única atacadista do grupo, com atuação na Bahia, Sergipe e Minas Gerais e mais de 10 mil clientes diários. Na segunda posição do seu ranking de vendas apa-rece a corvina.

“Mesmo em áreas nordestinas com consumidores de poder aquisitivo mais baixo que na região Sudeste, o filé de linguado, que é considerado um peixe caro, é líder na bandeira Perini, perden-do apenas para o bacalhau”, comenta Silva. A Perini é a cadeia de delicates-sen voltada para públicos A e B. Sob o

Campeões de vendas

GBarbosa (88 super/hipermercados)1º - Bacalhau2º - Corvina3º - Polaca Bretas (81 lojas)1º - Bacalhau2º - Polaca3º - Piramutaba Prezunic (40 lojas)1º - Bacalhau2º - Polaca3º - Linguado Perini (9 lojas)1º - Bacalhau2º - Linguado3º - Polaca Mercantil Rodrigues (7 lojas)1º - Bacalhau2º - Corvina3º - Polaca

Ponto de Venda

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comando do grupo desde 2010, oferece suas iguarias – mais de 21 mil produtos nacionais e importados e 2 mil itens de fabricação própria – na Bahia e, desde 2012, em Pernambuco. O grupo intitula a loja de Recife (PE) como o primeiro supermercado gourmet do Nordeste.

O filé de linguado também é desta-que na Prezunic, bandeira com 40 lojas que passou a fazer parte do Cencosud a partir de 2011, marcando a entrada do grupo no mercado do Rio de Janeiro. No entanto, neste estado, o principal concor-rente do bacalhau é a polaca. No Bretas,

rede com 81 lojas nos estados de Minas Gerais e Goiás, a segunda colocação no ranking de vendas também é da polaca.

Já na GBarbosa, maior rede do gru-po, com 88 pontos de vendas distribuídos em formatos de super e hipermercados, é a corvina que predomina como vice-campeã. Presente em Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe, também é a mais antiga: inaugurou a participa-ção do grupo no Brasil em 2007.

No Nordeste em geral, a corvina em postas é um forte concorrente do baca-

lhau. Em todas as bandeiras, o filé de sal-mão costuma marcar presença entre os cinco mais vendidos. Destaque também para o camarão, que representa 10% das vendas de pescado de todo o grupo.

Tendências e desafiosSilva atenta a uma mudança de

hábito de consumo: mais da metade de suas vendas vem dos filés. “Pela facili-dade de preparo, em vez de comprar o peixe inteiro, é uma alternativa para o consumidor”, argumenta. “A indústria

Marcio Santana Silva: importações diretas são prática estimulada pela matriz

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em geral, no mundo inteiro, aumentou a produção desses itens e nós estamos importando direto para conseguir dimi-nuir seu preço.”

Outro tema importante levantado por Silva diz respeito aos frescos e con-gelados. “Existe um mito: o consumidor pensa que fresco é somente aquele que está resfriado, mas não sabe que também pode ser um peixe congela-do”, diz. O especialista defende que a qualidade do congelado pode ser inclusive superior ao fresco, desde que não ocorram quebras.

Silva conta ainda que tem sido difícil conseguir garantia de qua-lidade dos fornecedores em toda a cadeia logística. Por vezes ocorreu de o produto ser congelado, mas se descongelar durante seu transporte. “Inclusive, nós nos dispusemos a re-duzir a quantidade de pescado fresco

lojas e a ampliação de um centro de distribuição. No geral, a empresa pre-tende destinar US$ 425 milhões às suas operações na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru. O plano é atingir uma receita entre US$ 20,4 a US$ 21,3 bilhões para encerrar 2014 com níveis de dívida três vezes menor.

O Cencosud Brasil também divul-gou seu plano de fortalecer a regiona-lização de sua gestão com a implanta-ção de uma diretoria geral para suas bandeiras de maior porte, a qual passa a dirigir áreas locais de supply chain, planejamento comercial, marketing e segurança patrimonial.

Essas áreas terão foco nas neces-sidades de cada negócio e estabeleci-das nas cidades onde ficam as sedes das bandeiras GBarbosa, em Aracaju (SE), Bretas, em Belo Horizonte (MG) e Prezunic, no Rio de Janeiro (RJ). As quatro áreas citadas deixarão de ser gerenciadas pelo escritório de São Paulo. No entanto, este continuará operando como centro das decisões estratégicas do grupo no Brasil.

Cencosud Brasil em números• 10% do consumo de proteínas ani-mais é de pescado

• 8 estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Sergipe)

• 5 bandeiras (GBarbosa, Bretas, Prezu-nic, Perini e Mercantil Rodrigues)

• 225 lojas

• 35 mil colaboradores

• US$ 41 milhões é o investimento previsto pela Cencosud para suas ope-rações no Brasil em 2014

• 10 novas lojas devem ser inaugura-das e um centro de distribuição amplia-do em 2014

• 3% do faturamento do grupo vem do setor de perecíveis

• 50% da venda de peixaria vem dos filés

• 55% da peixaria é importada

para garantir que sejam realmente resfriados e que sigam os critérios de qualidade”, reclama. “Chegamos a trabalhar com mais de 15 espécies e hoje trabalhamos com a metade.”

Para aprimorar a qualidade, a empresa realiza uma espécie de aná-lise redundante, como explica Silva. “Realizamos avaliações constantes de qualidade a cada recebimento nos centros de distribuição feitas por uma equipe de técnicos em segurança ali-mentar, que avalia desde as condições do veículo usado no transporte até as características físicas dos produtos en-tregues”, acrescenta. “Mesmo após esta avaliação nos CDs, o produto é rea-valiado quando chega nas lojas para garantir que todo o produto em nossos balcões estejam em perfeitas condições de consumo.”

Investimentos e reorganização interna

O ano começou com o anúncio de que o Brasil receberia do grupo Cenco-sud um investimento na ordem de US$ 41 milhões para a inauguração de dez

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Fornecedores

Durante todas as etapas da cadeia de processamento do pescado, desde a pesca, ou despesca, processamento,

embalagem, logística e exposição ao consumidor, é necessário mantê-lo refrigerado a baixas temperaturas. O cuidado é demandado para que sejam preservados o sabor, a textura e

Numa fria, mas do jeito certoSeja na produção, indústria ou varejo, o pescado e a refrigeração funcionam muito bem juntos, desde que se mantenha a eficiência na conservação das temperaturas

Texto: Gustavo Angimahtz

a integridade nutricional do produto, evitando também possíveis perdas ou danos à saúde.

O pescado é altamente sensível e os eventuais riscos oriundos de um descuido com sua conservação, muitas vezes, não são perceptíveis a olho nu. “É de importância fundamental

a conservação das propriedades do produto ao longo da cadeia de distribuição, visto que o produto é bastante suscetível a alterações indesejáveis quando as condições não são devidamente controladas”, frisa Lincoln de Camargo Neves Filho, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.

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Produção: Pesca / Aquicultura ProcessoResfriamento, congelamentoe estocagem

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O gelo é ainda a principal forma de conservação do pescado, ainda que estejam disponíveis no Brasil câmaras frigoríficas, túneis de congelamento e refrigeradores especiais. O preço das tecnologias mais avançadas ainda é um grande inconveniente, mas a escala de produção pode fazer com que o investimento valha a pena.

As indústrias têm oferecido equi-pamentos cada vez mais eficientes, modernos e adequados à necessidade dos diversos tipos de aplicação. “Falta também as autoridades perceberem a importância desses mesmos equi-pamentos, desonerando-os da pesada carga tributária a que são submetidos, para estimular ainda mais o seu uso,

em benefício de todos. A tecnologia está disponível”, constata Neves Filho.

João Alberto Rodrigues, diretor de vendas da São Rafael, fabricante de câmaras frigoríficas, acredita que a cadeia do frio é pouco sofisticada na pesca extrativa. “Alguns barcos possuem câmara frigorífica própria, mas a maioria não. O máximo que eles têm é gelo. No porto, carregam o barco com gelo e saem para o mar. Eles vão jogando os peixes no porão e fazendo camadas”, conta João Alberto.

Marcelo Nicioli, gerente de produto da divisão Truck and Trailer da Thermoking para a América Latina, vislumbra espaços mal explorados

na refrigeração. “Conversamos com pescadores e transportistas e nem todos na cadeia de transporte utilizam equipamentos de refrigeração. Muitos usam o gelo, o que é muito custoso e amassa e estraga o peixe, além que tem que ser reposto”, explica Nicioli.

No caso de barcos com câmara frigorífica própria, ela já deve ser pensada no próprio projeto da embar-cação. As especificações técnicas são diferentes, já que os barcos e navios possuem padrões de peso e volume de carga que variam com a movimentação da embarcação. “No mar, o peixe não congela no gelo e fica próximo à zero grau, mas se mantém fresco”, continua. “Quando chega ao porto, o peixe deve-

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Transporte Comercialização

Food Service/Varejo Consumidor

Resfriamento, congelamentoe estocagem

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Também no processamento, a manutenção do intervalo do frio é fundamental

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38Fornecedores

ria ir para uma antecâmara, onde pode ficar por até dois dias aguardando ser processado”.

Já no processamento, o congelamen-to precisa ser rápido e pode variar de 2 horas, para filés mais delicados, até 10 horas, para os demais. “Existem proces-sos ainda mais rápidos de criogenia, ni-trogênio liquido e CO2, mas o custo não compensa e aí se faz em câmara”, con-ta João Alberto Rodrigues. “O pescado é então encaminhado para a fábrica, onde ocorre o preparo e a embalagem, e um novo transporte também refrige-rado para o centro de distribuição. Tem que sair e chegar com a mesma tempe-ratura”, finaliza Rodrigues.

Frio em trânsitoAs câmaras, carrocerias e

expositores têm a função de preservar e manter a temperatura, e não de recuperá-la. Esse talvez seja o principal ponto sobre o qual a cadeia produtiva

não entra em acordo. Conforme a cartilha do professor Lincoln, o transporte não deve ter como objetivo principal congelar ou resfriar, mas sim atender à carga térmica de estocagem.

Em teoria, o pescado já deve estar na temperatura desejada quando embarca no transporte, previamente resfriado por outro sistema como uma antecâmara frigorífica, e por isso a atenção deve estar voltada para essa manutenção. “Antes do carregamen-to, a temperatura da carroceria deve estar previamente reduzida a um nível próximo ao da conservação do produ-to, como ressalta a norma NBR 14701”, lembra o professor.

Não faltam ferramentas para controlar o problema, conforme explica Marcos Augusto, diretor da Frigoking. “O produto precisa ter sido bem armazenado e estar bem

congelado”, explica o executivo. “Além disso, o equipamento tem que estar ligado algumas horas antes. Se o baú não estiver frio o suficiente, o produto vai esquentar”, completa. “É absurdamente comum a falta de antecâmara. As docas de carga, muitas vezes, não têm borrachas de vedação, e a carga fica exposta à essa fenda”, conclui o especialista, que montou um manual de boas práticas para instruir os operadores de carga sobre o transporte refrigerado. Adriano Peter Cabral, gerente comercial da Couto e Lemos, fabricantes de baús refrigerados, concorda com Augusto. “Hoje não há um treinamento legal para quem faz logística. O pessoal está despreparado”, avalia.

Indicadores que controlam e estabe-lecem métricas podem assegurar esse controle, de forma a manter a seguran-ça e a qualidade do produto. O profes-sor Neves Filho chama a atenção para o uso desses recursos e recomenda a utilização de registradores de monito-ramento contínuo na carroceria. “Este ponto também é abordado na norma NBR 14701, assim como a exigência da anotação da temperatura recomendada do produto na nota fiscal ou nos docu-mentos que acompanham a carga”, completa o docente.

Vale lembrar ainda a importân-cia do rastreamento de procedência da carga. Popularmente, no setor, estes registros de temperatura são conhecidos como “cães de guarda” ou “dedo-duros”. Para o professor, a tendência para a cadeia de refrige-ração de pescado é o RFID, sistema composto por integradores de tempe-ratura e tempo que funcionam por rádio frequência na forma de etique-tas adesivas. É um tipo de ferramen-ta que poderá ser usada para que dados, como o histórico acumulado de tempo de temperatura, apareçam e para simular-se um tempo de pra-teleira para o produto.

Caminhão do Peixe, projeto do MPA: refrigeração em temperaturas mais baixas que o convencional não recupera qualidade do pescado

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Fernando Reis, chef de cozinha e sócio da Intelikit – que fabrica equipamentos resfriadores ultrarrápidos –, explica que o excesso de gelo no produto que o consumidor encontra algumas vezes também se deve ao uso de equipamentos impróprios, que forçam o frio. “O produto evapora por dentro, pois é mais quente no núcleo, a água congela e formam-se macro cristais no produto”, conta Reis, que faz treinamento operacional após a venda de um produto, além de uma análise das necessidades para verificar o equipamento mais indicado antes da venda. “A maior dificuldade que temos é inserir na mentalidade do cliente que ele precisa de espaço de armazenagem adequado. No transporte, também, às vezes o produto fica muito tempo sem refrigeração e começa a perder

características e o cliente acusa o equipamento. Na verdade, são processos, é preciso armazenar e resfriar rapidamente com o equipamento adequado”, complementa o empresário.

Luiz Henrique Freire é consultor em refrigeração na Klimaquip, fabricante de túneis de congelamento, e também alerta para a necessidade de um padrão. “Se o produto perde água, perde peso, e quanto menos perda, mais peso agrega ao produto”, aponta o consultor. “Não adianta fazer congelamento, gastar uma baita energia para manter a qualidade do produto e depois mandá-lo em caixas de isopor. Às vezes, até a dona de casa faz isso ao pegar os congelados primeiro nas compras. Tem que ser a

última coisa. Toda a cadeia tem que ter esse cuidado, em cada etapa”, descreve o especialista.

O consumidor percebe a diferença do produto bem conservado, ainda mais com a cada vez mais habitual utilização de expositores refrigerados com vidros, onde é possível visualizar o produto sem o manuseio e sem a neces-sidade de abrir a porta, economizando energia. “Há, inclusive, filmes metálicos especiais que evitam a condensação no vidro, mas é evidente que cada loja tem a liberdade para escolher seus refrige-radores”, aponta Neves Filho.

No caso do ponto de venda, as ilhas expositoras são boas ferramentas. De acordo com Gean Cavalcante, diretor comercial da Fricon, a utilização de

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FORNECEDORES

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Frio no caminhoEntre as marcas mais conhecidas na refrigeração associada ao modal rodoviário, a Thermoking se destaca pelos baús refrigerados acoplados em caminhões. O controle climático oferecido permite o monitoramento em todas as etapas do transporte.

Especial para o varejoA área de congelados nos supermercados está re-pleta delas. As ilhas de exposição, expositores ver-ticais, freezers baú e outras equipamentos são for-necidos pela Fricon, com customização de tamanho e especificações.

Armazenagem com garantiaAs câmaras frigoríficas da São Rafael são presença constante nas indústrias brasileiras. A empresa oferece soluções que variam entre pequenas insta-lações a grandes complexos frigorificados.

Túneis de congelamentoPara evitar formação de macro-cristais e descon-gelamento sem perda de líquidos, a Klimaquip dispõe de túneis de congelamento. Seja para uso profissional, industrial ou estocagem, são diver-sas as opções.

De Jaraguá do Sul para todo o BrasilA catarinense Frigoking é outra especialista no ramo de refrigeração para transportes e facilita a compra de equipamentos por meio de linhas de fi-nanciamento. São três linhas para uso urbano ou rodoviário para resfriados, congelados e supercon-gelados.

um refrigerador fechado, que mantém a temperatura entre -18 e -22, vertical ou horizontal, evita problemas. “As ilhas expositoras suprem essa necessidade”, diz. Ainda assim, tudo deve ser feito com rigor.

João Alberto, da São Rafael, vê dificuldades com investimentos na cadeia. “Cabe a nós mostrarmos quais são os procedimentos corretos. Evidentemente, às vezes, topamos com algum cliente que quer fazer errado

porque não tem conhecimento. Mas há clientes que querem fazer errado para investir menos”, aponta o diretor.

O nível de comprometimento com a qualidade ainda varia muito no Brasil, mas o número de profissionais que “optam pelo certo” cresce aos poucos, como indica o professor Neves Filho. “O Brasil é um país extraordinário”, diz, “tem excelente tecnologia na área do frio quando o comprador sabe especificar, discutir e exigir qualidade.

Problemas de cultura, formação, preço ou pressões podem levar a situações desagradáveis. Por que não consultar um projetista, o instalador, o respon-sável pela obra, procurar a formação do quadro de colaboradores, a recicla-gem, o comissionamento etc?”, ques-tiona. Na visão do especialista, o leitor sabe perfeitamente o que acontece quando a empresa fornecedora e o comprador apenas se preocupam com o quadradinho no lado direito, ao final da nota fiscal.

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42 Parece castigo divino, mas a culpa é mesmo do El Niño. O fenômeno climático que ocorre em intervalos de 2 e

7 anos mudou o padrão dos ventos em todo o País, afetando drasticamente a regularidade e quantidade de chuvas no Sudeste do País e, em especial, regiões como o Noroeste do Estado de São Paulo. O nível de precipitação de águas dos céus no local é considerada

Com as mãos para o céu

por alguns pesquisadores consultados como o pior em 100 anos.

É um duro golpe para a cadeia produtiva da tilápia na região, que enfrentava até o fim do ano passado a fase mais promissora de toda sua história (Leia mais na Seafood Brasil #3). De acordo com o Centro Avançado do Pescado Continental do Instituto de Pesca/Apta, em São José do Rio Preto,

Tilapicultores apelam à fé e ao bom-senso das autoridades para minimizar os efeitos da maior estiagem da história nos reservatórios do Estado de São Paulo

Texto: Marcelo Tárraga e Ricardo Torres

o Noroeste Paulista responde por 80% das 66 mil toneladas de tilápia que o Estado produz.

A estiagem fora de época nos meses de verão se juntou à tradicional seca invernal e produziu um cenário adver-so nos reservatórios utilizados para a produção. A pior situação é em Ilha Solteira, onde o nível caiu 93,45% na última análise disponível da Operadora

Direto da Produção

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Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em maio, ante o mesmo mês do ano passa-do – quando tinha 69% da capacidade (Veja BOX com os outros reservatórios). Só no município de Santa Fé do Sul, um dos principais pólos produtivos, a chuva foi de 350 mm no período, equivalente a 25% da capacidade anual.

A queda no ritmo da atividade na região chega a 30% e o prejuízo pode chegar a R$ 30 milhões. “Ninguém saiu, mas a maior parte está segurando investimentos”, conta Emerson Esteves, presidente da Câmara Setorial de Pescado do Estado. É uma reação em cadeia: “Primeiramente, quem vende alevino já teve queda. Ração também. Os piscicultores vão diminuir [a produção] e, consequentemente, haverá uma falta do produto ao longo do ano. O que vai produzir será inferior ao que o mercado procura”, opina Daniela Castellani, pesquisadora científica do Instituto de Pesca/Apta.

O setor produtivo faz a mesma avaliação. “Também acredito que faltará peixe no final do ano. Ninguém está alocando nada neste período e, como o período de produção leva sete meses, faltará”, diz Cláudio Masocatto, diretor geral da Zippy Alimentos. “A nossa região é muito profissionalizada, por isso creio que a perda foi menor do que em outros locais que dizem chegar a 30%. Mas deixamos de produzir e nosso custo continua. O certo seria continuar colocando tilápia todo mês”, conta Antonio Ramon do Amaral Neto, Sócio-Diretor da Âmbar Amaral. “Se não fosse uma unidade nova que abrimos para aumentar nossa produção estaríamos sofrendo. Esse ano a meta era aumentar e 100% a produção de nossa piscicultura, mas não vai acontecer nada disso.”

Além da fé, são poucas as medidas que podem ser adotadas para minimizar os efeitos da estiagem. Entre elas está o deslocamento dos

tanques-rede para regiões com uma profundidade de ao menos 7 m, com 10 m como patamar ideal – o que gerou um problema legal. Como as áreas públicas já estão licitadas para produção e, por lei, não poderiam ser alteradas, isso automaticamente colocou na ilegalidade os piscicultores que adotaram a medida. No entanto, uma comitiva de produtores foi à Brasília e, após negociação com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e a Agência Nacional de Águas (ANA), conseguiu em maio a autorização para os deslocamento em caráter emergencial, por um período de três meses, renovável por mais três caso persista a situação de anormalidade. É a primeira vez que isso acontece, segundo o MPA.

A perda do volume de água obriga a mudança, o que acarreta custos adicionais com obras de adaptação da estrutura produtiva, como a terraplanagem. Uma piscicultura de porte médio, com 150 tanques, pode chegar a gastar R$ 6 mil com a regularização da declividade do acesso, por exemplo. Existe ainda a possibilidade de os tanques serem avariados. “Quando baixa o nível, por exemplo, aparecem árvores. E ao mover um tanque desses ocorre risco de rasgar, o que só vamos perceber quando o arrastamos”, conta Masocatto. “Nós já tivemos quatro tanques avariados.”

Agora a reivindicação se concentra no volume de água liberado pelos reservatórios, também usados para geração de energia elétrica. De acordo com Esteves, o problema é o fluxo de entrada e saída. “Se entram 3000 m³ de água e saem 3009 m³ de água, a conta não fecha. Queremos manter o nível do reservatório estável.” Mas como a atividade é “peixe pequeno” diante das centrais hidrelétricas, a luta deve ser grande. “A prioridade da União é a geração de energia e não a

piscicultura”, avalia Amaral Neto. “A briga nossa é não gerar liberação dessa água em demasia, mantendo o mesmo nível de outras barragens regionais. Se continuar do jeito que está, daqui a 90 dias prevejo momentos críticos.”

E quando a chuva voltar?Se as previsões se confirmarem, a

partir de setembro a água deve voltar a cair e reabastecer os reservatórios, porém, pode ser que a atividade ainda pague juros sobre o preço cobrado pela prolongada estiagem. “A diminuição do volume de água ocasiona uma piora a qualidade da água, porque a quantida-de dos nutrientes será maior e a água estará mais eutrofizada (com excesso de nitrogênio e fósforo)”, projeta Daniela. “Isso pode baixar o nível de oxigênio, o peixe tem stress e podem ocorrer algu-mas enfermidades”.

A primeira chuva é a mais preocu-pante, porque pode gerar um excesso de matéria orgânica nos cultivos e sua mineralização, prejudicando também a qualidade da água. Para se antecipar ao problema, a pesquisadora indica que se deve monitorar constantemente a qualidade da água. “É preciso ficar

Daniela Castellani, do Instituto de Pesca/Apta: vai faltar tilápia ao longo do ano

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atento quando iniciarem as chuvas para verificar nível de oxigênio e outras mudanças, pois onde não tem mais água hoje cresceu vegetação e isso altera o ambiente.”

A temperatura da água é outro ponto sensível. Como o verão deste ano foi seco e quente, 30° se tornaram regra nos reservatórios do Noroeste paulis-ta. Apesar de a tilápia ser um peixe sabidamente resistente, a partir de 32° podem começar a surgir doenças pela

diminuição de oxigenação. Não se sabe ainda como ficará a temperatura no ve-rão 2014/2015, mas ao menos no inverno este ponto está controlado. “A tempera-tura hoje está 10 graus mais baixa que no verão passado”, diz Daniela.

Não se pode arriscar também com a densidade de peixes em um sistema considerado superintensivo. A maior parte dos tanques-rede da região tem de 6 a 18 m³, com densidades próximas a 150 kg por m³. Também

existem tanques de grande volume, de 1.500 m³ com densidade de 45 kg por m³. Aumentar a densidade para recuperar o tempo perdido pode sair pela culatra.

Daniela estima que só a partir de janeiro de 2015 a situação apresentará uma melhora. Enquanto isso, a reza é brava. “Tem de chover bastante. Dois ou três anos de chuva regular para vol-tar ao que era. Ninguém esperava um negócio desses”, suspira Amaral Neto.

FURNAS

NÍVEL DE ÁGUA DOS PRINCIPAIS RESERVATÓRIOS QUE ABASTECEM OS CULTIVOS PAULISTAS - EM % DO TOTAL

ILHA SOLTEIRA BARRA BONITA PROMISSÃO 2014 2013 %

Jan 46,26 32,25 43,44%

Fev 34,14 50,26 -32,07%

Mar 27,27 62,58 -56,42%

Abr 29,11 71,51 -59,29%

Mai 29,37 70,72 -58,47%

Jun 29,11 71,29 -59,17%

Jul 0 67,64 -100,00%

Ago 0 60,61 -100,00%

Set 0 53,69 -100,00%

Out 0 50,32 -100,00%

Nov 0 47,56 -100,00%

Dez 0 49,89 -100,00%

2014 2013 %

Jan 45,03 57,94 -22,28%

Fev 38,87 55,71 -30,23%

Mar 42,64 79,49 -46,36%

Abr 31,02 87,54 -64,56%

Mai 4,56 69,67 -93,45%

Jun 0 86,05 -100,00%

Jul 0 84,78 -100,00%

Ago 0 78,23 -100,00%

Set 0 57,13 -100,00%

Out 0 59,78 -100,00%

Nov 0 61,21 -100,00%

Dez 0 57,33 -100,00%

2014 2013 %

Jan 78,07 83,31 -6,29%

Fev 77,53 85,32 -9,13%

Mar 83,54 93,57 -10,72%

Abr 84,65 99,64 -15,04%

Mai 83,54 98,31 -15,02%

Jun 81 97,24 -16,70%

Jul 0 90,78 -100,00%

Ago 0 74,44 -100,00%

Set 0 78,07 -100,00%

Out 0 77,32 -100,00%

Nov 0 80,24 -100,00%

Dez 0 78,93 -100,00%

2014 2013 %

Jan 34,63 69,94 -50,49%

Fev 20,64 84,95 -75,70%

Mar 34,63 98,01 -64,67%

Abr 31,44 99,5 -68,40%

Mai 26,02 99 -73,72%

Jun 26,47 98,51 -73,13%

Jul 0 92,56 -100,00%

Ago 0 74,51 -100,00%

Set 0 59 -100,00%

Out 0 46,59 -100,00%

Nov 0 38,75 -100,00%

Dez 0 40,12 -100,00%

Deslocamento de tanques e obras consequentes geram custos adicionais em momento sensível

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Onde não tem seca, tem peixeOutros polos produtivos não afetados pela seca já se prontificam a atender à demanda em alta por pescado no País, especialmente no Sul e em regiões mais afeitas aos tanques escavados em proprie-dades particulares ou próximas a reservatórios que não passaram pela mesma longa estiagem. “Embora as represas do Paranapanema estejam mais baixas do que o normal, porque tiveram que verter água para Itaipu, mas não estamos contando com um impacto tão grande”, conta Mauro Nakata, gerente da Piscicultura Cristalina. A empresa produz em torno de 150 toneladas de tilápia por mês e abate 8 toneladas por dia em média para clientes paulistas.

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Sashimi defumadoA chilena Puerto de Humos, cujo salmão em cortes de sashimi prontos – defumados ou in natura –, teve seu representante apresentado oficialmen-te na Apas: o grupo Multifoods. O produto é fabricado na planta da em-presa, em Puerto Montt, e serve tanto ao varejo quanto ao food service.

Petisco bom e redondoA COFACO Açores, que atua em território brasileiro com a bandeira Bom Petisco, reservou três novidades: a expansão da linha de sardinhas em azeite com mais dois novos sabores, filés de atum em frasco de vidro, e o atum em lata re-donda, para se adaptar ao formato típico brasileiro.

Estreia nos filésA Coqueiro aproveitou a feira para apresentar oficialmente novos produtos que marcam sua entrada na categoria de filés de atum - um em azeite de oliva e outro com azeite com alcaparras –, disponíveis aos clientes finais a partir de outubro, além de exibir a nova roupagem de suas embalagens.

“Azeitum” e processadosA Marbelize, que obtém 15% do seu faturamento do mercado brasileiro, vem com opções con-geladas: hambúrguer de atum (pré-cozido e pré-cozido empanado),

almôndega de atum (pré-cozida e pré-cozida empanada), nuggets de atum e azeitonas empa-nadas recheadas de atum.

Na lata, com arrozA também equatoriana Asiservy investe no seu arroz com atum enlatado, disponível no Equador, Peru e Colômbia. O produto não contém líquido, está pronto para consumo e não vem com o arroz empapado.

Clássica tortillaA tradicional tortilha espanhola ga-nhou uma versão de bacalhau com a Casa de Aranaz. Este e outros sabores (calabresa e quatro queijos) foram produzidos exclusivamente para o Brasil e são vendidos para padarias, supermercados, hospital e restaurantes.

Black Cod já nas lojasAs novidades da Damm são o Black Cod do Alasca, disponível na Casa Santa Luzia, e o salmão defumado em fatias, já presente no Pão de Açúcar e outras redes, um produto que a empresa quer expandir para o dia a dia das pessoas como frios convencionais.

NaGôndolaA oferta de peixes e frutos do mar

60 anos de conservasA Gomes da Costa levou à meca do varejo uma nova linha comemorativa de produtos prontos: salmão em azeite de oliva com alcaparras, filé de sardinha em azeite de oliva e filé de atum em azeite com tomate seco e azeitonas. Os produtos estarão disponíveis até dezembro.

O primeiro semestre carregado de feiras de negócios gerou um fluxo intenso de lançamentos de produtos, embalagens e edições comemorativas na área de pescado. Presentes à Seafood Expo Global, à Apas e à Sial, para ficar só nas três últimas de relevância ao segmento, apresentamos aqui o que de mais novo apareceu por lá.

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Atlântico defumado com molho cremoso branco, coberto de queijo Emmental gratinado.

Camarão “abiscoitado”O prêmio de originalidade foi para a britânica The Big Prawn Company, pelo Double Dippers Prawn Cracker. Este snack inovador inclui camarões grandes, três opções de molho e bisco-itos de camarão em uma bandeja com três compartimentos

Sopa de mexilhãoA irlandesa Kush Shellfish aproveitou os mexihões que cultiva na baía de Kenmare, na península de Beara, para criar uma sopa orgânica vendida em garrafas de 490 g. Com textura suavemente cremosa, o produto contém especiarias e vegetais.

Crepe salmonadoEspecialidade da casa, as panquecas da francesa Jacques Maës também foram finalistas do prêmio Prix D’elite. O destaque foram as duas crepes Ficelles nordiques, recheadas de salmão com molho bechamel, suco de limão e endro (uma erva aromática).

Aneis de surimiO livro de receitas da espanhola Angu-las Aguinaga com surimi é extenso, mas os destaques deste ano em Brux-

Brasil x CamarõesA Potiporã apostou no entusiasmo da Copa do Mundo para fazer uma em-balagem temática e rebatizar alguns produtos – camarão inteiro cozido congelado, camarão descascado cozi-do congelado e camarão sem cabeça cozido congelado, todos de 200g: “O Petisco da Torcida”, edição limitada até julho. “A expectativa é de vender 400 mil pacotes nesse período de dois meses”, conta Sérgio de Lima Cav-alcante, diretor da Queiroz Galvão/Potiporã.

Tudo novo aos 70 anosMarca corporativa, identidade visual e embalagens novas. O marketing do Frigorífico Jahu trabalhou duro para chegar à Apas com os novos posicio-namentos das marcas Frescatto e Buona Pesca. Além disso, lançou pratos congelados como moqueca de Dourado, linguado ao molho de alcaparras e polpetone de salmão com espinafre.

Merluza para criançasA argentina Congelados Artico apresentou como novidades os medalhões de merluza com ou sem espinafre, merluza à milanesa ou em

barrinhas. Outra novidade são os anéis de lula. Todos são empanados e chegam agora ao Brasil para o varejo, com embalagens de 500g, e o food service, com envases de até 10 kg.

Pastel de Belém (salgado)A Danbru traz ao País o Pastel de Belém de Bacalhau da Pascoal. O produto deve chegar aos supermer-cados em breve e segue o mesmo padrão de qualidade do pastel de nata da foto, também produzido pela empresa portuguesa.

O melhor do varejo...A francesa Kermarée levou o prêmio Prix D’Elite 2014, na Seafood Expo Global, na categoria de melhor produ-to para o varejo com o Coffret Plateau de Fruits de Mer, uma sequência de pratos com diferentes pescados montados em um kit.

...e o melhor do food serviceJá na categoria Food Service o maior prêmio foi dado à dinamarquesa Vilsund Blue por conta do Mussel Powder, um pó feito de mexilhões dinamar-queses que serve para melhorar o sabor de pratos e molhos à base de pescado ou com vegetais

Tortinha de salmãoA Marine Harvest VAP Europe gan-hou o prêmio de Conveniência pela sua Torta de Salmão Filo. O produto é um folhado com recheio de salmão

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elas foram os aneis com amêijoas de marca própria e os temperados com azeite, alho, salsinha e pimenta caie-na com a marca inglesa Unearthed. Os produtos são envasados na bolsa plástica Doypack com fecho ziplock.

Iguaria suecaOriginal da Escócia, o grupo MacKnight tem ramifi-cações nos Estados Unidos e Reino Unido e se notabi-lizou por muitas inovações com salmão. A mais recente delas são as almôndegas em estilo sueco, vendidas em 8 unidades de 30g cada. Salada norueguesaA Hallvard Leroy, segundo maior produtor de salmão da Noruega, apre-sentou diversas opções do pescado para compor saladas, sanduíches e outros pratos. Os produtos são envasados em atmosfera modificada.

Tradição galesaVem da Pembrokeshire Beach Food Company estes biscoitos em

forma de peixe. Os Ship’s Biscuits são feitos de laverbread, uma

massa de pão à base de algas e sal marinho

Halen Mon.

Salmão com acompanhamentoTrês novas opções em pratos prontos para microondas foram apresentadas pela alemã Laschinger Seafood: risoto italiano com ervilhas, tagliatelle com creme de espinafre e vegetais

com molho cremoso. A linha Salmon Steamers inclui dois pouches na mesma embalagem, sempre com uma porção de salmão cozida a vapor e o outro com o acompanhamento.

Para as crianças (1)Fishy Fusion é a novidade que a alemã Pickenpack, com desembarque no Brasil programado para os próximos meses, apresentou na feira. Os empanados em forma de peixe receberam a adição de milho e ervilhas no recheio.

Para as crianças (2)Originalidade é a marca desta invenção da Bornholm, um snack de salmão e bacalhau para crianças envasado em embalagem flexível, que permite grandes períodos de validade sem refriger-ação. Perfeito para lancheiras e estômagos infantis.

Especialidades do VietnãEspetinhos, bar-rinhas ou flautas de pescado, folhados e filés de salmão, polaca e barramundi temperados. As inovações asiáticas do Trangs Group colocaram o Vietnã na rota das inovações em Bruxelas.

Carne secaO jerky é uma iguaria de ampla aceitação nos Estados Unidos, mas normalmente é de carne bovina. A versão com salmão chum da Ocean Beauty é novidade e vem com três sabores: molho teriyaki, pimenta preta ou pimenta branca, apresentados em envases de 85 g e 170 g.

Cavi-artÉ o nome patenteado da linha de especialidades à base de algas da di-namarquesa Jens Moller. A empresa mostrou em Bruxelas o Frog-Art, que simula ovas de rãs com a mesma matéria-prima de outros de seus pro-dutos, como o caviar de algas.

Rã gourmetFundada em Brasília há mais de 30 anos, a Rander levou para a Sial as rãs congeladas prontas para o preparo. Dona do bar Petiscaria, ao lado da sua loja física em Brasília, a empresa também processa e vende tilápia inteira, linguiça, isca e caldin-ho de tilápia, rã frita, empanada ou em caldinho.

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Pé na portaA Komdelli estreou na Sial com cinco lançamentos de uma vez, com previsão de chegada ao varejo nos próximos meses: almôndega, hambúrguer e patê de salmão, além de dois pratos prontos para micro-ondas e forno convencional: um de ba-calhau com molho branco e outro de salmão com molho vermelho, com embalagens de 600g.

Nova fonte de conservasA tailandesa SPA está de olho no mercado brasileiro de conservas e busca distribuidores para seu atum

em lata sólido, em pedaços ou ralado. Com certificados GMP, HACCP, IFS e BRC, quer se mostrar como um novo e con-fiável player.

Conservados no temperoA chinesa Erican International foi à Sial para apresentar sua linha de conservas de sardinha, atum e cavala em óleo vegetal, água ou molho de tomate. As embalagens variam entre 125g, 425 g e até 1 kg.

Saladas chinesasDireto de Dalian para o Brasil, a Time Seafood é controlada por japoneses e quer municiar a gastronomia oriental no Brasil com novas opções. As saladas de algas, lulas e polvos são um complemen-to inovador para as entradas dos rodízios.

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Texto: Mariana Naviskas

Gastronomia japonesa cresce dois dígitos por ano e se diversifica para manter fidelidade de consumidores

Na CozinhaO peixe no food service

Paixão pelo peixe cru

Santos, 18 de junho de 1908. O navio Kasato Maru atraca no porto da cidade e traz as primeiras famílias nipônicas

– cerca de 165 – para solo brasileiro. 100 anos depois, a influência oriental atingiria o ápice de sua expressão na culinária, que se encaixou definitivamente no gosto dos brasileiros. Segundo a Associação de Restauradores Gastronômicos das Américas (Aregala), o Brasil conta hoje com aproximadamente 3000 restaurantes japoneses. Somente no Estado de São Paulo estão localizados cerca de 600, dos quais 350 estão na capital. O crescimento de restaurantes desse tipo de gastronomia foi de 3% ao ano de 2004 a 2012, de acordo com a instituição.

No entanto, para alguns fornece-dores, o crescimento registrado nos últimos anos foi ainda maior. Segundo Nilson Marques, diretor-superinten-dente da Marcomar, o número de restaurantes japoneses no país vem crescendo, em média, 20% ao ano, o que, para ele, indica uma revolução nos hábitos alimentares dos brasi-leiros. “Se em um primeiro momento os consumidores eram levados pelo impulso da moda, hoje o interesse é pela comida saudável, harmoniosa e de aparência sedutora.”

Desde 2001 com atuação em restau-rantes orientais, a Marcomar importa e distribui diferentes tipos de pescado e vê uma crescente capilaridade em suas entregas. Atualmente, 1601 restaurantes

orientais tem a empresa como fornece-dora. “Eles estão por todas as regiões do País. São 1172 no Sudeste, 293 no Sul, 84 no Nordeste, 29 no Centro Oeste e 23 no Norte.” A companhia ainda é dona da Sushi Bonsai, que faz pratos prontos orientais para varejo e food service.

Embora esteja cada vez mais difun-dida a toda a população, a culinária japonesa ainda faz parte do universo de um consumidor bem específico. Em pesquisa da Aregala, definiu-se que 85% dos frequentadores de restaurantes japoneses são de classe A e B, 60% têm nível superior e 50% estão empregados em empresas de serviços.

De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as

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redes de culinária oriental tiveram um faturamento 12% maior em 2013, se comparado ao ano anterior. E a expec-tativa para 2014 é de um faturamento 11% maior do que ano passado. A temakeria Makis Place e o restauran-te Gendai são as marcas associadas à ABF que apresentam maior número de franquias do segmento japonês na capital paulista: 160 e 118, respectivamente.

No entanto, esse crescimento pode ser observado em restaurantes japo-neses comerciais apenas. Por visar um público restrito e devido a dificuldades com impostos de importações, entre ou-tros problemas, a culinária japonesa de alto padrão, segundo o chef Jun Saka-moto, não está crescendo. “O movimen-

Jun Sakamoto: modernidade com raízes

Considerado um dos maiores chefs da culinária japonesa no Brasil, parece até mentira que Jun Sakamoto nunca fez um curso de especialização em gastronomia ou na preparação de sushis. Tudo que o dono do restaurante homônimo sabe ele aprendeu ao trabalhar com outros chefs pelo mundo. “Aos 19 anos, fui de mochila nas costas para os Estados Unidos, com o objetivo de juntar dinheiro para comprar equipamentos de alpinismo, que na época eu queria praticar. Lá, eu consegui emprego em um restaurante japonês, trabalhei como ajudante de cozinha”. Ao voltar para São Paulo, após

três meses, passou a fazer bicos em restaurantes da cidade e foi aprendendo as técnicas de um sushiman.

Paralelamente, Sakamoto ainda investia em outras áreas profissionais e chegou até a começar um curso de fotografia e a faculdade de arquitetura - mas sempre

trabalhando a noite com comida japonesa, em festas, casamentos e restaurantes. “A comida japonesa era para ser só bico, pois para a minha família eu devia ser

engenheiro, médico, não sushiman, que até então – e ainda hoje, um pouco - é considerado um subemprego. Só nos últimos anos é que a profissão de chef de cozinha

passou a ter certo destaque.”

Colecionando passagens por importantes restaurantes, Sakamoto já era experiente no preparo de sushis e percebeu que era hora de abrir o próprio negócio. E foi em 2000 que essa

vontade finalmente se concretizou. Em um ambiente requintado do Jardim Paulista é que Sakamo-to prepara seus sushis gourmet. Mas Jun gosta de lembrar: “nenhuma das receitas que faço fui eu quem criei”. Todas ele aprendeu com grandes nomes da gastronomia japonesa, em suas passagens por restaurantes de Nova York, Tóquio, entre outras cidades.

Sakamoto preparando seus famosos sushis

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to foi 20% menor ano passado. Neste ano, está diminuindo ainda mais.”

A popularização desses hábitos de consumo passa pela diversidade de res-taurantes do gênero. O cenário nacional abriga desde estabelecimentos mais tradicionais – como os que estão situados no tradicional bairro da Liberdade, em São Paulo – como pontos mais inovadores, que mesclam diferentes estilos culinários com a gastronomia japonesa. É comum encontrar as iguarias orientais em um self-service ou em rodízios de carnes. Enquan-to o sashimi de picanha ainda não vira realidade, outras concessões foram feitas ao longo do tempo e hoje se tornaram até comuns. “Devemos observar que a comi-da servida na maioria dos restaurantes japoneses no Brasil já foi ‘americanizada’, uma vez que alguns pratos recebem maio-nese e cream cheese, alimentos que não são apreciados pelos japoneses”, lembra Laura Festuccia, proprietária da cadeia de franquias Click Sushi.

Outras tendências procuram mo-dernizar a gastronomia japonesa, mas

Uma história de luta

Segundo o Governo do Estado de São Paulo, a viagem durou 52 dias e contou com 781 imigrantes vinculados ao acordo imigratório estabelecido entre Brasil e Japão e mais 12 passageiros indepen-dentes. Os imigrantes eram, em sua maioria, camponeses de origem humilde, que vieram ao País para trabalhar em fazendas de café no Estado.

Na época, o Japão passava por uma crise demográfica e o Brasil por intensa falta de mão de obra na zona rural. Os japoneses, então, enxergaram aqui uma oportunidade de trabalhar e enriquecer, com o objetivo de posteriormente retornar ao Japão.

O número de imigrantes crescia a cada ano e, entre 1917 e 1940, mais de 164 mil japoneses cheg-aram ao país – 75% deles em São Paulo. E o sonho de retornar à terra natal ficava cada vez mais distante, devido aos baixos salários e outras dificuldades. Idioma, vestuário, diferenças climáticas e modo de vida eram problemas sérios na vida dos imigrantes japoneses. Porém, nenhum deles se equiparava a uma questão básica para a sobrevivência: alimentação.

O artigo “Gastronomia, Interação cultural e Turismo: estudo sobre a dispersão da culinária nipônica na Cidade de São Paulo – 100 anos da imigração japonesa no Brasil”, apresentado durante o IV SeminTUR – Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL, pelos professores Carlos Ribeiro e Luciana Paolucci, conta que os trabalhadores japoneses recebiam nas fazendas uma alimentação nada parecida com a culinária oriental tradicional: o arroz era difícil de ser preparado da forma ja-ponesa, farinhas de mandioca ou milho eram um mistério, o feijão era conhecido apenas no preparo de doces, o charque cheirava mal e o bacalhau, até então desconhecido, era preparado sem ser demolhado e, consequentemente, ficava salgado.

Felizmente, após certa experiência nas fazendas cafeicultoras, muitos trabalhadores japoneses puderam ter suas próprias propriedades e se dedicaram às culturas de arroz, algodão, verduras, frutas e avicultura, o que estabeleceu a culinária japonesa no país. Porém, apenas para os imigrantes e seus nisseis e sanseis (filhos e netos), com pequenos restaurantes dentro de pensões que hospedavam japoneses.

De acordo com Ribeiro e Paolucci, nos anos de 1960, a produção de alimentos por japoneses estava concentrada, principalmente, em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro. Os imigrantes e seus descen-dentes integraram-se à população urbana brasileira e começaram a trabalhar em outras áreas. Além disso, com o fim da II Guerra Mundial, a derrota do Japão provocou a imigração de moradores das grandes cidades. Tudo isso contribuiu para nossa familiaridade aos hábitos e costumes japoneses.

Em 1954, restaurantes japoneses já se concentravam no reduto da Liberdade. Em 62, chegaram à Bela Vista e, em 79, surgem nos Jardins, Cerqueira César e Ceasa. A busca por saúde e equilíbrio mental também ajuda na disseminação da gastronomia japonesa e na década de 80 o consumo de peixe cru já é expressivo na cidade.

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sem cair no uso de elementos típicos do fast-food. A mescla entre valoriza-ção da tradição e clima gourmet dá a tônica de restaurantes como o de Jun Sakamoto, em São Paulo. “Sempre tive a ideia de ter uma boutique de sushi. Eu dei um tratamento diferente ao meu restaurante exatamente para ser diferente do que já existe no mercado. Um sushi gourmet faltava na cidade. No restaurante comercial, o objetivo é vender. No artístico, é agradar”, conta o próprio chef, Jun Sakamoto.

O restaurante homônimo aten-de no máximo 30 pessoas por noite e apenas oito delas – sentadas no balcão, onde podem assistir aos movimentos precisos das facas de Jun – são servidas pelo famoso chef. Outras quatro pessoas são atendidas pelo assistente principal de Sakamoto, também no balcão, e as demais ficam em mesas e são atendidas pelos outros sushimen do restaurante.

A oferta de pescado também muda quando a comida japonesa chega ao

alto padrão. É claro que salmão e atum sempre estão presentes, mas nomes como beijupirá, carapau, sardinha, serra, roba-lo, olho de boi, linguado, lula, ovas de sal-mão, ouriço, enguia e vieira são apenas alguns dos presentes no restaurante.

Segundo Sakamoto, os fornecedores de peixes e frutos do mar são escolhidos pela qualidade dos produtos – a maio-ria acompanha o chef desde a inaugu-ração do restaurante. “Os peixes frescos eu recebo diariamente do Mercado Central [O “Mercadão” da Cantareira, em São Paulo], salmão compro com a Nordsee, beijupirá eu pego direto de uma fazenda próxima à Ilhabela, produtos congelados importados vem pela Yamato e a Tradebras, entre outros”. Para escolher novas empresas, Sakamoto costuma receber amostras de testes para poder decidir. “Infelizmente, muitos não conseguem manter a qua-lidade da amostra no dia a dia. Nesse caso, eu descarto a empresa.”

A equipe do chef é treinada para avaliar e, se for o caso, até rechaçar os produtos que não atingirem o critério de

qualidade. “Isso faz com que as em-presas me mandem apenas o melhor que têm, pois caso contrário já sabem que eu vou devolver a peça, que não poderá ser vendida novamente, e eles vão perder dinheiro”. Mesmo depois de limpos, caso Sakamoto não ache que a qualidade do peixe está no nível do restaurante, os peixes podem ser devolvidos, conforme acordos com os fornecedores. “E os peixes devem ser repostos no mesmo dia”, ressalta.

A comida japonesa é cada vez mais consumida no Brasil, na opinião de Sakamoto, por uma simples questão: é gostoso. “Comida japonesa, até se for mal feita, é gostosa. E quando você vai aprendendo a consumir, vai ficando exigente”. De qualquer maneira, a culi-nária japonesa conquistou o coração do brasileiro. “Por se tratar de uma comida leve, muito saudável e de paladar de-licado, ela caiu no gosto das pessoas”, avalia Laura Festuccia, da Click Sushi.

Laura explica que a comida japo-nesa ganhou destaque na onda da boa saúde. “Fonte de proteínas, as carnes

Temaki tradicional de salmão, cream cheese e cebolinha

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magras dos peixes carregam nutrientes e vitaminas que só fazem bem ao orga-nismo.” Segundo ela, a boa alimenta-ção é um dos aspectos que justifica a longevidade dos japoneses. “Esses dois peixes [salmão e atum] possuem ômega 3, ácidos graxos, auxiliam na produção do bom colesterol e retardam o envelhe-cimento.” O Click Sushi trabalha com os fornecedores Bom Peixe e RA Pescados. “A Bom Peixe foi indicação da franquia do restaurante e a RA Pescados nos procurou e acabamos fechando parce-ria”, conta Laura. Os peixes e frutos do mar mais utilizados no restaurante são salmão, atum, prego, lula, camarão, polvo e kani.

Sobre o crescimento de restau-rantes japoneses populares e a maior presença da culinária oriental em restaurantes de outros segmentos, Sakamoto opina: “eu acho fantástico culturalmente e também por ser uma comida tão saudável. Do volume vem a qualidade, então quanto mais pessoas aprendem a comer comida japonesa, mais pessoas vão querer buscar o refinamento dela, o que eu acho muito bom”. O único risco, expõe o chef, é a chance de contaminação, uma vez que grande parte dos ingredientes é cru. “Mas ao se fazer os controles sanitários corretamente você elimina praticamen-te todos esses riscos. Tanto que hoje em

dia a gente já não vê mais acontecer problemas quanto a isso.”

Fornecedores e tecnologiaPara a gastronomia nipônica a

Marcomar fornece salmão, tilápia, an-chova e lula. “O salmão é muito comum na culinária oriental e, além de sushi e sashimi, pode ser servido picado e temperado em muitos outros pratos. Já a tilápia é utilizada como opção de peixe branco e possui carne clara, saborosa e com baixo teor de gordura. A anchova é muito apreciada no Japão, apresenta carne com teor de gordura médio a alto, e a lula, comum na cozinha asiática, tem carne firme, suave e apresenta sabor adocicado.”

A empresa fornece os filés de salmão frescos e já cortados. “É fundamental a utilização de uma faca para sushi e sashimi, que possui como característica principal a lâmina longa e rígida para corte em uma só passa-da”. Assim, é possível conseguir cortes finos e precisos sem esforços e sem esmagamento do peixe ou sushi.

Na opinião de Marques, a relação entre fornecedores e restaurantes poderia ser melhor. “Ainda falta pro-gramações e fidelização”. E ele frisa a importância da correta manipulação e conservação dos pescados crus. “A Marcomar possui departamento de Controle de Qualidade, composto por veterinários e nutricionistas. Todas as cargas recebidas em qualquer um dos

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Sushi de ouriço Tempurá de enguia

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Temaki de atum, do Click Sushi

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nossos centros de distribuição passam por um rigoroso processo de análise, em que é feito um laudo de recebimento». Ele explica que o processo é feito em todas as cargas recebidas e, portanto, todos os clientes têm a garantia de que vão receber um pescado de qualida-de. “Seja ele da culinária japonesa ou outros segmentos.”

Além das matérias-primas com qua-lidade, equipamentos estão tornando mais fáceis as vidas dos administrado-res e sushimen. Inaugurado em junho, o restaurante Shisei é o primeiro de sua região – o bairro de Moema, em São Paulo –, a possibilitar pedidos via tablet, o que facilita muito a vida de clientes que escolhem o rodízio de sushi. “Nós trabalhamos com um tablet, tem um em cada mesa. O cliente escolhe o que quer, o pedido vai para a cozinha e o garçom apenas precisa entregar o pra- to na mesa”, explica Samuel Marquetti,

gerente do Shisei. Segundo ele, com esse método o restaurante ganha agili-dade e diminui desperdícios – já que o cliente pede exatamente o que quer e a quantidade certa. Além disso, Marquetti destaca a maior privacidade dos clien-tes à mesa, uma vez que o contato com garçons é limitado.

Atrás do balcão, também há novi-dades. Desenvolvida para o varejo e o food service, a Sushi Station é uma estação de trabalho que reúne mais de 15 máquinas desenvolvidas pelo admi-nistrador e inventor Eugênio Ferrão. Uma delas prepara um temaki em 15 segundos. “Essas máquinas facilitam muito a vida do sushiman e dos peque-nos administradores de restaurantes que oferecem comida japonesa”, expli-ca. E não é só no food service que essa opção encontra adesão. O Carrefour é uma das redes que já dispõem em mais de 40 lojas a Sushi Station monta-da por Ferrão.

A automatização parece ser uma tendência. A distribuidora Autec apre-sentou na última feira Fispal Food Ser-

Pratos tradicionais

• Sashimi - O famoso peixe cru. Carnes macias costumam ser utilizadas em cortes retan-gulares e grossos, enquanto peixes estreitos utilizam cortes diagonais e carnes firmes são cortadas bem finas.

• Sushi - Arroz ao estilo ja-ponês (temperado com vinagre) com peixes, algas, frutas e outros ingredientes. Tem vários formatos.

• Niguiri - Arroz ao estilo ja-ponês coberto por uma fatia de peixe

• Harumaki - Arroz ao estilo japonês com recheio na parte interior e alga na exterior

• Uramaki - Arroz ao estilo japonês com recheio e alga na parte interior

• Temaki - Cone feito com alga e recheado com arroz e outros ingredientes, como peixes, pepi-no, cogumelos, etc.

Sushi Station reúne diversas máquinas para acelerar produção

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Máquina de nigiris da Autec: automação é tendência

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vice (veja cobertura completa a partir da página 8 desta edição), as máquinas automatizadas de sushi. Importados do Japão, os equipamentos são capazes de fazer onigiris, nigiris e norimakis em série, com tamanhos definidos previa-mente e velocidade que pode chegar a 300 rolos de makis por hora. É assim que, da própria origem desta culinária tão bem sucedida no Brasil, surgem inovações que podem levar o segmento a outro patamar.

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Texto: Mariana Diello

É uma região pacata, mas bem agitada no que diz respeito à tilápia. O noroeste do Estado de São Paulo, onde estão situadas Santa Fé do Sul e Jales, já se tornou referência em todo o País por conta dos inúmeros cultivos da região.

É lá que mora Nilson Gomes, dono de um açougue em Jales e de um espírito empreendedor. “Eu amo peixe, sou consumidor, sempre quis trabalhar com isso e tinha boas ideias”, conta.

Em seus anos como funcionário, Gomes nunca teve ambiente para mostrar suas inovações. Até que, em 2008, ele decidiu mudar de vida. Foi assim que surgiu o Shopping da Carne, em Jales. “Eu trabalho com carne no geral, mas gosto mais de peixe e sou muito curioso, então investi em produtos inovadores, como a linguiça de tilápia, o kibe, o estrogonofe de pescado e o produto mais recente: o hambúrguer de tilápia”, descreve Gomes.

O maior desafio foi encontrar o ponto certo do peixe. Com o que misturá-lo para dar liga, como deixar o pescado perfeito e estável para novas receitas, sem a massa estourar e sem proble-mas de cozimento. Quando finalmente encontrou o ponto, a cria-tividade e o céu foram os limites para novos produtos. O primeiro surgiu há seis anos: a linguiça de tilápia. “Todos meus produtos são feitos com a tilápia, é um bom peixe para se trabalhar e eu consegui achar a estabilidade da massa com esse pescado.”

Mas a inspiração tem outra fonte, mais importante que todas as demais. Nímia Furtille Rigueira, de apenas oito anos. “Minha filha me ajuda muito, é a minha maior consumidora. Ela me ajuda a desenvolver os produtos e é minha inspiração, o nome da marca foi ela quem escolheu”, conta Gomes. Foi por conta dela que o empreendedor escolheu o nome da marca. “Vai se chamar Father Fish”, diz o orgulhoso pai.

Os produtos Father Fish já chegaram a bares, restaurantes, lanchonetes e peixarias, mas Gomes pensa mais longe. O próximo passo é levar as novidades criadas na cozinha do senhor Nilson às prateleiras dos mercados: “Eu pretendo entrar no varejo com meus produtos artesa-nais”, admite. Ele já foi convidado por uma grande empresa do setor a trabalhar na indústria e colocar seus produtos na linha de produção. “Prefiro fazer artesanalmente, ter certeza da qualidade e espaço para poder desenvolver novas criações.”

Gomes não dispensa o trabalho com a pequena Nímia. Pai e filha criam inovações a cada 30 ou 60 dias, com muito carinho pelo mundo do pescado. Enquanto novas criações já estão em fase de teste e quase prontos para ir para o mercado, fica a inspiração para qualquer porte de indústria. Afinal, a dupla mostra que existe muito sabor além dos filés.

Amor de família (e pela tilápia)É das mãos de um engenhoso açougueiro de Jales, no interior de São Paulo, que saem inovações capazes de inspirar as grandes indústrias de pescado de todo o País

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