(sc) - cristiany martins
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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
CRISTIANY MARTINS
PLANTAS MEDICINAIS: LIMITES E POSSIBILIDADES PARA O
DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC)
CANOINHAS-SC
2015
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CRISTIANY MARTINS
PLANTAS MEDICINAIS: LIMITES E POSSIBILIDADES PARA O
DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC)
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado – UnC, Canoinhas, SC, sob orientação do Prof. Dr. Jairo Marchesan e Coorientação da Profa. Dra. Graciele Viccini Isaka.
CANOINHAS (SC)
2015
2
PLANTAS MEDICINAIS: LIMITES E POSSIBILIDADES PARA O
DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC)
CRISTIANY MARTINS
Esta Dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca
Examinadora para a obtenção do Título de:
Mestre em Desenvolvimento Regional
E aprovada na sua versão final em 28 de fevereiro de 2015, atendendo às
normas da legislação vigente da Universidade do Contestado e Coordenação do
Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional.
_____________________________________ Prof. Dr. Sandro Luiz Bazzanella
Coordenador do Mestrado em Desenvolvimento Regional
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________ Prof. Dr. Jairo Marchesan – UnC
(Orientador)
_____________________________________ Prof. Dr. Milton Satoshi Matsushita – EMATER – PR
(Membro externo)
_____________________________________ Prof.ª Dra. Graciele Viccini Isaka – IFSC
(Co-orientadora e membro interno)
_____________________________________ Prof.ª Drª. Maria Luiza Milani – UnC
(Membro interno)
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Dedico este trabalho
às luzes mais brilhantes,
meus cristaizinhos, meus pedacinhos:
minhas filhas!
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AGRADECIMENTOS
À FAPESC/CAPES e UnC, pelo apoio financeiro à realização deste estudo.
Ao IFSC, por oportunizar esta empreitada e incentivar de diversas maneiras a
capacitação de seus servidores.
Ao meu orientador, professor Jairo Marchesan, pela confiança e liberdade ao
conduzir a orientação desta pesquisa.
À coorientadora e colega, professora Graciele Viccini Isaka, por ter aceitado
este desafio e pelas pertinentes considerações.
À professora Maria Luiza Milani, por não me deixar desistir, por sua exigência
e puxões de orelha, bem merecidos e oportunos.
Ao Daniel Uba, pelos esclarecimentos, por sua sempre pronta ajuda e por me
emprestar seu gravador. Muito obrigada!
À Aninha, pela incansável paciência, por me emprestar seus ouvidos atentos
e seu conhecimento para enriquecer este trabalho.
Aos agricultores do Grupo Nova Esperança e demais entrevistados, pelo
tempo e atenção dispensados a esta pesquisa e pela confiança do correto uso das
informações a mim confiadas.
Às mulheres da Pastoral da Saúde, em especial da paróquia do Campo
d’Água Verde, pela longa conversa e por seu trabalho voluntário junto à comunidade.
Aos colegas do IFSC, muitos dos quais me incentivaram durante a caminhada
e tornaram o caminho mais prazeroso.
Aos professores do programa de mestrado, pelo aprendizado e por me
abrirem as portas a um mundo inexplorado.
À Andressa pelo profissionalismo e aos colegas de mestrado, em especial os
do IFSC, que compartilharam pela amizade e companheirismo.
Ao professor Cesar Simionato, que em 2001 plantou uma semente. Este é
apenas um dos pequenos frutos da sua imensa colheita.
E um agradecimento especial aos meus familiares:
5
Aos meus antepassados, que transmitiram seus conhecimentos sobre os
preciosos benefícios das plantas medicinais, fazendo-os chegar até esta geração e
além.
Ao Gert, pela paciência – quase esgotada – neste período em que estive mais
ausente que presente, mais promovendo o caos que zelando. Obrigada por sempre
me lembrar que “éramos apenas pedras”. Obrigada por estar por aqui.
Às minhas filhas, Isabela e Alice, por entenderem minha ausência. Por
correrem para mim com os braços abertos e me envolverem em abraços apertados.
Meu amor por vocês é sem fim.
Aos meus pais, Zélia e Luiz, e à minha sogra, “super” Renate, pelo cuidado
com minhas filhas, por estarem sempre prontos a me ajudar.
Sem vocês eu ainda estaria na página 2.
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“De onde vem a esperança, a sustança espalhando o verde dos teus olhos pela plantação?
Ô - ô Vem debaixo do barro do chão.”
(GILBERTO GIL)
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RESUMO
Este trabalho teve como objetivo pesquisar os limites e as possibilidades de uso das plantas medicinais no município de Canoinhas (SC), como alternativa ao desenvolvimento regional. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, que se utilizou da revisão bibliográfica e documental e pesquisa de campo. Seus objetivos específicos foram: contextualizar o cenário socioeconômico, histórico e cultural canoinhense relacionado às plantas medicinais; identificar a articulação dos atores locais entre si e com a cadeia de produção, comercialização e utilização de plantas medicinais; e, analisar as fragilidades e potencialidades da cadeia de produção e aplicação de plantas medicinais no referido município, relacionadas à implantação de políticas públicas sobre o tema. Na pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com duas amostras distintas. A primeira compreendeu pessoas estratégicas com atuação na área de plantas medicinais e a segunda contou com agricultores familiares que compuseram um grupo de cultivo de plantas medicinais no município, além de um extensionista rural. Os dados coletados em entrevistas foram gravados e, posteriormente, transcritos, tabulados e analisados de acordo com os referenciais adotados. Algumas das conclusões do presente estudo foram: a dificuldade na interlocução entre Secretarias Municipais; a existência de um programa municipal estruturado com ações pontuais e descontinuadas e, por fim, parco investimento neste programa. Em contrapartida, o município de Canoinhas apresenta características de ordem técnica e ambiental que permitem a aplicação das políticas públicas de plantas medicinais e fitoterápicos nas esferas de saúde e agricultura, mediante a articulação e planejamento dinâmicos envolvendo os atores do município, compreendendo-a como alternativa para o desenvolvimento regional.
Palavras-chave: Plantas medicinais. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Desenvolvimento regional.
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ABSTRACT
This research aimed to investigate the limits and possibilities of action with medicinal plants in Canoinhas (SC) as an alternative to regional development. Was characterized as an applied research, with a qualitative approach, which used bibliographical and documentary review and field research as data collection instruments. Its specific objectives were to: contextualize Canoinhas socioeconomic, historical and cultural scenario related to medicinal plants; identify the articulation of local actors related to medicinal plants among themselves and with the production chain; and analyze the weaknesses and strengths of the production chain and application of medicinal plants in the municipality, related to the implementation of public policies on the subject. In the field research, semi-structured interviews were conducted with two different samples. The first included key stakeholders operating with medicinal plants, and the second comprised family farmers who formed a medicinal plants cultivation group in the city, and was attended also by a rural extension agent. Data collected in interviews were recorded and later transcribed, tabulated and analyzed so that they could be interpreted in accordance with the standard references. Some of the conclusions of this study were: the difficulty in communication involving municipal departments; the existence of a municipal program structured with punctual and discontinued actions and, finally, meager investment in this program. In contrast, Canoinhas presents technical and environmental characteristics that allow the implementation of public policies of medicinal plants and herbal medicines in health and agriculture spheres, through the articulation and dynamic planning involving stakeholders in the municipality, understanding it as an alternative for regional development. Keywords: Medicinal plants. National Policy of Medicinal Plants and Herbal medicines. Regional development.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Monge João Maria .............................................................................. 37
Mapa 1 – Localização da Comunidade de Matão/Canoinhas (SC) .................... 54
Mapa 2 – Localização do Planalto Norte Catarinense e do Município de
Canoinhas (SC) .................................................................................. 57
Figuras 2 e 3 – Hortas Medicinais Cultivadas em Escola Municipal de Canoinhas
(SC) – Projeto Interdisciplinar de Educação do Campo ...................... 73
Figura 4 – Demonstração dos Usos das Plantas no Conceito do Projeto
Interdisciplinar de Educação do Campo ............................................. 73
Figuras 5 e 6 – Construção de Estufa em Madeira para a secagem de plantas ...... 89
Figuras 7 e 8 – Estufa para a secagem de plantas medicinais em alvenaria ........... 89
Figuras 9 e 10 – Estufa de secagem adaptada em cômodo da residência da
agricultora 3 ........................................................................................ 90
Figura 11 – Primeira colheita de camomila, semeada a lanço ............................... 92
Figura 12 – Bandejas com calêndula, prontas para o início da secagem .............. 93
Figura 13 – Calêndula florescida e pronta para a colheita na propriedade ............ 93
Figura 14 – Preparação de área de plantio para a melissa com adubação verde
pronta para o corte .............................................................................. 94
Figura 15 – Área preparada com a palhada da adubação verde, recebendo mudas
de melissa ........................................................................................... 95
Figura 16 – Melissa pronta para a colheita ............................................................ 95
Figura 17 – Adaptação do plantio de camomila na segunda safra – 2008............. 97
Figura 18 – Colhedor de camomila desenvolvido por participantes do Grupo Nova
Esperança ........................................................................................... 97
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LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 – Referências Normativas Relativas às Plantas Medicinais ..................... 44
Quadro 2 – Perfil dos Entrevistados por Grupo de Amostragem .............................. 52
Quadro 3 – Principais Ações Institucionais com Plantas Medicinais no Município de
Canoinhas (SC) no período de 2005 a 2015 ......................................... 62
Quadro 4 – Metas da Secretaria Municipal de Saúde de Canoinhas (SC) –
Quadriênio 2010 a 2013 – Complexo de Plantas Bioativas ................... 70
Tabela 1 – Perfil Atual dos Agricultores Familiares Entrevistados e suas
Propriedades ......................................................................................... 78
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LISTA DE ABREVIATURAS E/OUSIGLAS
AMPLANORTE – Associação dos Municípios do Planalto Norte Catarinense
AMURC – Associação dos Municípios da Região do Contestado
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APS – Atenção Primária de Saúde
AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial
CEME – Central de Medicamentos
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
FIESC – Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina
FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná
FOM – Floresta Ombrófila Mista
ha - hectares
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
MB – Microbacias
PDI – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
PM – Plantas Medicinais
PMF – Plantas Medicinais e Fitoterápicos
PMS – Plano Municipal de Saúde
PMDRS – Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável
PNAF – Política Nacional de Assistência Farmacêutica
PNM – Política Nacional de Medicamentos
PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
PNPMF – Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
PP – Políticas Públicas
PPM – Programa de Plantas Medicinais
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PT – Partido dos Trabalhadores
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RDC – Resolução da Diretoria Colegiada
RENAME-Fito – Registro Nacional de Medicamentos Fitoterápicos
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SINTRAF – Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
SDR – Secretaria de Desenvolvimento Regional
SUS – Sistema Único de Saúde
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS – Unidade Básica de Saúde
UnC – Universidade do Contestado
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 20
2.1PLANTAS MEDICINAIS E RACIONALIDADE TÉCNICA: APREENDENDO
CONCEITOS E COMPREENDENDO CAMINHOS .............................................. 20
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL ................................. 39
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................... .... 51
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE PESQUISA .............................................. 56
4 A PESQUISA DE CAMPO: RESULTADOS E ANÁLISE ................................. .... 59
4.1PLANTAS MEDICINAIS E AÇÕES DESENVOLVIDAS NO MUNICÍPIO DE
CANOINHAS (SC) .......................................................................................... .... 59
4.2 GRUPO NOVA ESPERANÇA: ANTES, DURANTE E DEPOIS DA EXPERIÊNCIA
COM PLANTAS MEDICINAIS ......................................................................... .... 76
4.2.1 Caracterização do Grupo ........................................................................... .... 77
4.2.2 Histórico e Análise de Atuação do Grupo ................................................... .... 83
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. .. 107
REFERÊNCIAS ................................................................................................... .. 113
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................ .. 124
APÊNDICE B – Instrumento de Coleta de Dados para Gestores Públicos ............ 126
APÊNDICE C – Instrumento de Coleta de Dados para Agricultores que Atuaram com
Plantas Medicinais em Canoinhas (SC) ........................................ 127
ANEXO A – Lei 4.565/2010 ................................................................................. .. 129
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1 INTRODUÇÃO
Este estudo analisa os limites e possibilidades que as plantas medicinais
oferecem ao município de Canoinhas (SC), enquanto ferramentas ao
desenvolvimento. Trata-se de um estudo do tipo exploratório e descritivo, com
abordagem qualitativa. Tem a finalidade de pesquisar as ações desenvolvidas com
as plantas medicinais no referido município, as contribuições oferecidas e as
possibilidades de implantação de políticas públicas referentes ao tema.
Desde os tempos remotos, diferentes civilizações utilizam plantas para fins
curativos e promoção da saúde humana e animal. Seu uso varia de acordo com as
circunstâncias históricas, os hábitos, as crenças culturais, as tradições, os modelos
de transmissão do conhecimento e a disponibilidade de espécies de determinado
espaço.
No Brasil há relatos de usos de plantas medicinais pelos nativos em épocas
anteriores à colonização portuguesa (CALAINHO, 2005; CAMINHA, 2014;
CARNEIRO, 2011). Durante a colonização, as missões Jesuíticas foram
disseminadoras dos saberes trazidos da Europa e também as responsáveis por
resguardar e se apropriar dos conhecimentos dos que aqui ocupavam originalmente
o território, utilizando-se da flora nativa, devido à escassez de recursos vindos do
além-mar.
Já no século XIX, o avanço da ciência na modernidade tornou possível a
síntese química, dando início a uma nova fase para o tratamento de enfermidades. A
industrialização dos medicamentos, principalmente após a Revolução Industrial1,
promoveu desigualdade no acesso aos tratamentos de saúde, principalmente nos
países com maior disparidade social. Os tratamentos mais onerosos foram,
gradativamente, destinados àqueles pertencentes aos estratos da sociedade
economicamente dominantes; as formas tradicionais e alternativas de tratamento e
cura, presentes na cultura popular, continuaram representando uma alternativa
viável aos estratos populares, marcadamente caracterizados por forte tradição oral
1 A Revolução industrial pode ser caracterizada como um conjunto de mudanças que inicialmente
aconteceram na Europa, nos séculos XVIII e XIX. Sua principal particularidade foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado, com o uso das máquinas, fator que desencadeou profundas mudanças socioeconômicas (JAGUARIBE, 2001).
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na comunicação dos seus costumes para as gerações subsequentes2, entre os
quais encontramos o uso preventivo e terapêutico de plantas medicinais.
Com a redemocratização brasileira na década de 1980, estabeleceu-se um
ambiente favorável à discussão das questões que tangem aos direitos civis, políticos
e sociais, entre eles a luta por salvaguardar um Sistema de Saúde cujo acesso fosse
universal e irrestrito.
A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde em Brasília (DF), em
1986, foi um marco histórico importante que antecede a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Nesta Conferência, a concepção de saúde foi
modificada, passando a ser assim definida:
[...] Em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Sendo assim, é principalmente resultado das formas de organização social, de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida [...] (BRASIL, 1986)
A Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, a criação e implantação
do Sistema Único de Saúde (SUS), no início dos anos 1990, possibilitaram a
organização e sistematização dos serviços de saúde brasileiros sob a égide de cinco
princípios básicos: universalidade, integralidade, equidade, descentralização e
participação social. A saúde passa a ser oficialmente considerada como DIREITO
DO CIDADÃO, preconizado nos artigos 1963 e 198 da Constituição Federal de 1988,
cabendo ao Estado o dever do “atendimento integral, com prioridade para as
atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais” (BRASIL, 1988).
Desta forma, pode-se afirmar que desde o início da década de 1990, políticas
públicas visando a promoção da saúde com equidade à população têm sido
construídas e aprimoradas. Exemplos são a Política Nacional de Medicamentos
(BRASIL, 2001), a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (BRASIL, 2004a) e
2 Aqui se considera a contribuição teórica de Thompson (1991), para quem a cultura representa a
tradição oral e a transmissão de experiências e sabedoria às gerações subsequentes. Embora o objetivo do presente trabalho não consista na análise dos conhecimentos e práticas populares a respeito das plantas medicinais, registra-se a importância do enfoque para futuras pesquisas. Mesmo assim, resgata-se o argumento nas considerações finais.
3 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
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o Programa Farmácia Popular (BRASIL, 2004b). Estas políticas e programas visam,
principalmente, ampliar o acesso da população aos medicamentos essenciais,
salvaguardando os princípios norteadores do SUS. Em virtude da desigualdade
social que se configura em sociedades ocidentais capitalistas, a execução dessas
políticas no Brasil apresenta desafios, entre eles a garantia do acesso aos
medicamentos a todos os brasileiros e, também, a disponibilização destes de forma
contínua e em quantidade adequada, por meio do SUS.
O uso de plantas medicinais representa uma via de tratamento satisfatória ao
SUS pela defesa de seus princípios norteadores, tanto quanto com apoio na
concepção de saúde da VIII Conferência Nacional de Saúde e também pelo fato de
integrarem a cultura popular. Além do potencial em saúde, as plantas medicinais são
interessantes do ponto de vista agrícola, principalmente para a agricultura familiar.
Este potencial pode contribuir devido à possibilidade de valor agregado na
comercialização e processamento dessas plantas.
No Brasil os estabelecimentos ocupados pela agricultura familiar chegam a
aproximadamente 4,4 milhões (BRASIL, 2010a). No estado de Santa Catarina, as
propriedades da agricultura familiar são a maioria, sendo que estas propriedades
predominam no município de Canoinhas (SC).
Considerando as disparidades econômicas existentes na realidade brasileira
e o perfil socioeconômico das famílias agricultoras, as propriedades da agricultura
familiar buscam alternativas às crescentes monoculturas. A estruturação de cadeias
de produtos alternativos proporcionam maiores chances de geração de renda e da
fixação das famílias no campo. O fomento às alternativas existentes além das
monoculturas e o desenvolvimento de ações mais profissionalizadas por parte dos
agricultores justificam a criação e implementação de políticas públicas neste sentido.
Em consonância com estas perspectivas e seguindo a recomendação de
órgãos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS)4, nos últimos
dez anos políticas públicas interministeriais vinculadas ao desenvolvimento regional
foram instituídas pelo governo federal brasileiro. Para as plantas medicinais o ano de
2006 foi um marco, pela instituição da Política Nacional de Práticas Integrativas e
4 Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma agência especializada subordinada à Organização
das Nações Unidas. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada logo após a Segunda Guerra Mundial para tentar manter a paz entre os países do mundo.
17
Complementares (PNPIC) e da Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos (PNPMF) (BRASIL, 2006b).
Mesmo antes da implantação das referidas políticas nacionais, alguns
estados e municípios da federação já haviam implantado suas políticas e programas
de utilização de plantas medicinais na rede pública de saúde. O estado de Santa
Catarina regulamentou o uso de plantas medicinais em 2002.
Passada quase uma década da instituição da PNPMF, sua implantação ainda
não é uma realidade e carece de força para se concretizar na maioria dos entes
federados.
No estado de Santa Catarina, municípios como Presidente Castello Branco,
Florianópolis (ANTONIO, 2013), Itajaí (ANTONIO, 2013; CAVALLAZZI, 2006),
Joinville, Bombinhas e Blumenau (CAVALLAZZI, 2006) oferecem tratamentos
baseados em plantas medicinais no serviço público de saúde. Alguns destes
programas desenvolvem ações que promovem a integração de outros setores de
importância.
O município de Canoinhas (SC), situado no Planalto Norte de Santa Catarina
é o único município desse território que apresenta legislação específica sobre
Plantas Medicinais. A Lei 4.565 de 2010, intitulada “Programa Municipal de Produção
de Fitoterápicos e Plantas Medicinais (PMPMF) “Vitalina de Lima”5, posteriormente
apresentado nesta dissertação, não representa a real implantação de uma política
de Plantas Medicinais (PM) no município, mas sim uma carta de intenções que
pode, ou não, ser representativa da vontade das forças presentes no território.
A partir do exposto, é pertinente questionar: as ações realizadas com plantas
medicinais no município de Canoinhas (SC) serviram para a efetiva implantação de
uma políticas públicas sobre este tema?
Esta dissertação apresentou como objetivo geral pesquisar os limites e
possibilidades de uso das plantas medicinais no município de Canoinhas (SC), como
alternativa ao desenvolvimento local.
A pesquisa investigou quais foram e são as facilidades e dificuldades
encontradas pelos atores locais (algumas pessoas que atuaram com plantas
medicinais na história recente do município de Canoinhas), para inserirem ações de
5 Ver mais informações sobre Vitalina de Lima na página 37 desta dissertação.
18
implantação dos planos e programas governamentais relacionados às PM no
município e se estas fazem parte de um planejamento maior, motivado pela
priorização do governo local. Pretendeu-se reunir dados sobre as ações já
realizadas com relação aos programas e políticas de plantas medicinais em
Canoinhas, com o propósito de contribuir e fomentar reflexões pertinentes ao tema.
Como objetivos específicos, o estudo buscou: a) contextualizar o cenário
socioeconômico, histórico e cultural canoinhense relacionado às plantas medicinais;
b) identificar a articulação dos atores locais relacionados às plantas medicinais entre
si e com as cadeias de produção, comercialização e utilização; c) analisar as
fragilidades e potencialidades da cadeia de produção e aplicação de plantas
medicinais no referido município, relacionadas à implantação de políticas públicas
sobre o tema.
O estudo foi dividido em cinco capítulos. No primeiro é apresentada a
introdução e um panorama geral das questões que serão abordadas no decorrer do
trabalho escrito.
O capítulo seguinte fundamenta, do ponto de vista teórico, quatro grandes
questões. A primeira aborda um breve histórico da importância histórico cultural das
plantas medicinais no mundo, trazendo-as para o cenário brasileiro e local. Elegeu-
se como categoria de análise a Racionalidade Técnica Instrumental, enquanto
contraposição à primeira questão, para a compreensão do processo que
estabeleceu a hierarquia de tratamentos de saúde em curso atualmente e os meios
que levaram a este cenário, posto que a Racionalidade Técnica Instrumental propõe
a aplicação de soluções técnicas rápidas para questões ou situações problemáticas
(MARCHESAN, 2007). A terceira questão traz as políticas públicas e sua interface
com as plantas medicinais, para abordar, articuladamente, a quarta questão – o
desenvolvimento regional. Os dados históricos, geográficos e sociais do município
de Canoinhas (SC) apresentados, assim como o que são e representam as políticas
públicas sociais em arranjos societários como este, fundamentam a compreensão do
desenvolvimento regional sob a perspectiva da dinâmica socioespacial.
O terceiro capítulo delineia as opções metodológicas adotadas e esclarece
questões acerca do território no qual a pesquisa foi realizada.
Os resultados da pesquisa, juntamente com a respectiva análise e discussão,
são apresentados no quarto capítulo, apoiados na revisão da literatura realizada. A
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exposição dos resultados está dividida em duas partes. A primeira traz a
contextualização do cenário canoinhense e o registro das ações desenvolvidas no
município sobre plantas medicinais, oriunda dos levantamentos realizados através
de pesquisa documental e bibliográfica e de pesquisa de campo com pessoas
estratégicas. A segunda refere-se aos dados da pesquisa de campo realizada com
agricultores do município que formaram o Grupo Nova Esperança.
Por último, são apresentadas as considerações e análises finais, bem como
as recomendações para estudos futuros apontados por esta pesquisa.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O presente capítulo apresenta conceitos teóricos para fundamentar a
pesquisa. Posteriormente, dialoga com os dados coletados em campo.
Para instituir e consolidar uma política pública efetiva relativa às plantas
medicinais é necessário estabelecer resistência ao modelo de saúde hegemônico e
à racionalidade técnica que o integra, compreender o significado e quais são os
fundamentos da racionalidade técnica é uma necessidade, assim como a
compreensão sobre o lócus das políticas públicas e sociais no âmbito das
sociedades ocidentais capitalistas, entre as quais o município de Canoinhas (SC)
está incluso.
Políticas públicas relativas às plantas medicinais podem também representar
uma estratégia de desenvolvimento local, fato que se pretende sinalizar neste
capítulo.
2.1 PLANTAS MEDICINAIS E RACIONALIDADE TÉCNICA:
APREENDENDO CONCEITOS E COMPREEDENDO CAMINHOS
Como toda a dinâmica das relações sociais estabelecidas no interior das
sociedades sustentadas sob a égide do capitalismo como modo de produção, a área
da saúde apresenta uma arena de disputa entre interesses distintos e/ou
contraditórios: um focado na prevenção, na atenção primária, universalizante e
inclusivo; outro – hegemônico e dominante – que privilegia a medicalização e as
instituições pertencentes ao complexo médico-hospitalar.
Pode-se afirmar que a realidade dos tratamentos de saúde revela duas
vertentes principais: a primeira relaciona-se às aplicações da medicina convencional
e seus tratamentos com medicamentos sintéticos. Esta vertente propõe soluções
técnicas imediatas e pode ser explicada à luz da Racionalidade Técnica
Instrumental. A segunda fundamenta-se nos conhecimentos empíricos de construção
histórica e cultural.
Para Shils (1978), a Racionalidade Técnica Instrumental pode ser
compreendida como um conjunto de teorias que se materializam em práticas
21
derivadas da filosofia positivista moderna (SCHÖN, 2000). Donald Schön (2000),
sugere que a racionalidade técnica propõe as técnicas que solucionam problemas
instrumentais segundo os rigores científicos, optando pelos meios técnicos
específicos mais apropriados aos seus propósitos. Segundo o autor, a lógica
estabelecida pela racionalidade técnica instrumental estabelece que “profissionais
rigorosos solucionam problemas instrumentais, através da teoria e da técnica
derivadas do conhecimento sistemático, de preferência científico”.
Para melhor compreensão dos conceitos e implicações da Racionalidade
Técnica Instrumental, faz-se necessário entender os meios em que tais conceitos
são produzidos. Para Santos (2006), as técnicas e a forma como a humanidade
realiza ações por meios instrumentais e sociais são a maior expressão da relação do
homem com o meio (natureza).
Saint-Simon (1760-1825), teórico sobre o tema, associava o progresso
humano à ideia da força e da energia. Para ele, a garantia de existência da
sociedade era representada pela indústria, vista como fonte de riquezas e
prosperidade e como o mecanismo mais eficaz de dominação do homem sobre a
natureza (BONETI, 1998).
Pierre George (1974) explicita as dimensões que a técnica e a tecnologia
tomaram na sociedade atual, por meio de suas considerações acerca da distinção
entre a cidade atual e a cidade existente na metade do século XIX são oportunas.
Segundo o autor, a cidade anterior era um produto cultural e a cultura era nacional
ou regional. Recentemente, a cidade passa por uma rápida transformação, a
caminho de ser um produto técnico, posto que a técnica é universal (SANTOS,
2006).
Para Boneti (1998) a implantação do modelo de desenvolvimento tecnológico
acarreta na eliminação de fatores de produção ditos tradicionais, sem espaço para
sua incorporação ao modelo atual. Para o autor, os sistemas de produção
tradicionais são inseparáveis dos elementos que os constituem, como é caso dos
ciclos naturais e os hábitos culturais. O desenvolvimento tecnológico promove um
processo de exclusão em bloco, do homem (e seus hábitos culturais) e dos fatores
ecológicos.
Segundo Habermas (1988), os procedimentos técnicos orientam a lógica
racional. Grupos ou segmentos de uma estrutura social podem explicitar uma
22
necessidade, demanda ou exigência histórica à qual a técnica deve responder. É o
interesse capitalista quem delineia e conduz o desenvolvimento científico-
tecnológico, uma vez que “as ciências modernas servem ao progresso técnico, ao
fomento de crescimento capitalista e à administração racional”.
Os conceitos sobre racionalidade técnica instrumental podem ser aplicados a
diversas áreas do conhecimento. Não apenas quanto ao interesse capitalista na
produção, mas as formas de transmissão e registros dos conhecimentos populares
podem ser abordados sob esta ótica.
O conhecimento que foge aos padrões científicos rigorosos pode ser
denominado de conhecimento tácito. Donald Schön (2000) descreve a importância
destes conhecimentos que muitas vezes, embora não possuam uma descrição
detalhada dos mecanismos que levam à ação, conseguem ser transmitidos pela
própria ação. Valorizar o conhecimento adquirido pela prática não significa
desvalorizar o conhecimento acadêmico científico.
Para Schön (2000, pág. 31):
qualquer que seja a linguagem que venhamos a empregar, nossas descrições do ato de conhecer-na-ação são sempre construções
6.
Elas são sempre tentativas de colocar de forma explícita e simbólica um tipo de inteligência que começa por ser tácita e espontânea. Nossas descrições são conjecturas que precisam ser testadas contra observações de seus originais [...]
Marchesan (2007) afirma que a separação entre a teoria e a prática, o sujeito
e o objeto, o corpo e a mente, o homem e a natureza são características da
racionalidade técnica instrumental, desde o princípio da modernidade. Reitera,
ainda, que a racionalidade técnica parece impedir a reflexão dos atores envolvidos
em alguns processos produtivos acerca de suas ações e práticas, que são, muitas
vezes, “nocivas à própria sociedade e à natureza”.
Santos (2006), comenta que no processo de difusão das técnicas e de sua
implantação seletiva sobre o espaço, estas podem se propagar de forma desigual, o
que implica na existência de subsistemas técnicos convivendo em sobreposição. O
autor faz referência a Perrin (1988), que afirmou que as estruturas pertencentes a
um sistema precedente podem ser absorvidas por um sistema técnico mais atual,
quando existe compatibilidade.
6 Grifo do autor
23
No caso dos conhecimentos relativos às propriedades de cura pelas plantas
medicinais, não se faz objeção aos dados científicos. Estes são necessários para
embasar e substanciar os usos, garantir a ação e não toxicidade das plantas,
estabelecer padrões e dosagens, e permitir que se continue avançando no rol de
tratamentos disponíveis para a humanidade e seus males. Entretanto, a ciência
moderna conhecida atualmente, com seus recursos técnicos e tecnológicos, está em
curso há pouco mais de cem anos, enquanto os conhecimentos tradicionais são
datados de mais de 5 mil anos, segundo os compêndios escritos (PARKY, 1966;
TEIXEIRA, 1994; MIGUEL & MIGUEL, 1999, apud DEVIENNE; RADDI; POZETTI,
2004).
Neste sentido, conhecimentos têm sido transmitidos desde tempos remotos,
quando os indivíduos aprenderam a observar a natureza. Movidos pela necessidade
de suprir a demanda alimentícia e garantir sua sobrevivência, aprenderam a
distinguir entre compostos tóxicos e não tóxicos. Tais noções foram obtidas
experimentando e percebendo suas próprias reações e também observando o
comportamento de animais que obtinham melhoras após ingerir alguma espécie
vegetal. Não somente plantas benéficas foram descobertas, mas também aquelas
nocivas, capazes de intoxicar, matar e produzir alucinações. O que está presente na
humanidade são transmissões que passaram pela hereditariedade, através de
referências orais e comunitárias (PARKY, 1966; TEIXEIRA, 1994; MIGUEL &
MIGUEL, 1999, apud DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2004).
O ser humano trabalha com a técnica disponível em seu tempo. A medicina
tradicional modernizou-se, inclusive, em seu aparato técnico e tecnológico. O que se
produz atualmente por meio dela, tomando como exemplo os medicamentos
fitoterápicos, também é fruto da Racionalidade Técnica Instrumental sem, no
entanto, desvalorizar os conhecimentos tradicionais, históricos e culturais ali
contemplados.
Medicamentos fitoterápicos devem seguir as legislações específicas para sua
regulação. Apresentam embalagens, bula, controle de qualidade, dentre outras
formas de aplicação de conhecimentos, oriundos de necessidades e viabilizados
pela técnica e tecnologia. A fitoterapia conquistou espaço enquanto tratamento
devido à sua aceitação pela população e tradição de uso. Mas, também pelo fato de
que dados da ciência empírica de conhecimentos tradicionais foram confirmados por
24
meio de pesquisas científicas. Não se pode separar a fitoterapia da ciência moderna.
Esta é formada pelas duas e pode-se até afirmar que, no decurso da história, a
medicina convencional apropriou-se dos conhecimentos oriundos do saber popular
para salvaguardar seus próprios interesses, incluindo a lucrativa indústria da
produção de medicamentos.
Como descrito anteriormente, a origem dos tratamentos tradicionais à base de
plantas com propriedades medicinais é antiga e acompanha a trajetória da
humanidade em todas as civilizações. Está fundamentada no acúmulo de
informações pelas sucessivas gerações (BRASIL, 2006a). Seu uso varia de acordo
com circunstâncias históricas, hábitos, crenças culturais, tradições, modelos de
transmissão do conhecimento e disponibilidade de espécies inerentes ao meio em
que se encontram.
As plantas são fontes importantes de compostos naturais biologicamente
ativos, contribuindo de forma considerável com a medicina moderna. Esses produtos
disponíveis na natureza, apresentam diversidade de estruturas, propriedades físico-
químicas e biológicas (WALL; WANI, 1996 apud VARANDA, 2006). Muitos destes
compostos constituíram modelos para a síntese de grande número de fármacos.
Tratamentos à base de plantas, minerais e animais de civilizações antigas
como a dos sumérios, egípcios, chineses e gregos foram descobertos registrados
em compêndios. Estes registros demonstram, por exemplo, que babilônicos e
sumérios (2.600 a.C.) faziam uso de frutos, flores, folhas, cascas e raízes de oliveira,
lótus e alho como remédios7.
Parky (1966) relata a descoberta, entre 2.500 a 2.000 a.C., de uma
compilação que descreveu 365 drogas utilizadas na cultura Chinesa. São citadas
plantas como o ginseng, cinamomo, ruibarbo, podofilo e efedra. Este foi o primeiro
Pen-ts’ao.8 (DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2004). O Pen-ts’ao foi atualizado ao
longo do tempo e suas versões foram se complementando até os dias atuais.
7 O mais antigo tratado de medicina que se conhece é a “Tabuinha Sumeriana”. Coleção de textos
redigidos em tabletes de argila, com as descrições dos primeiros sintomas de doenças e a prescrição para cada enfermidade. (PARKY, 1966; TEIXEIRA, 1994; MIGUEL & MIGUEL, 1999, apud DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2004). 8 Pen-ts´ao são documentos escritos, que sistematizam resultados de experimentos realizados com
plantas. O primeiro Pen-ts’ao foi corroborado pelo imperador chinês Shen-Nung, considerado o fundador e patrono da farmácia chinesa.
25
Para os egípcios (1.500 a.C.), azeite, figo, cebola, alho, funcho, açafrão,
pimenta, ópio, hortelã, salgueiro, acácia e sedativos extraídos da efedra são alguns
exemplos de plantas e de derivados com poderes curativos. Eles, juntamente com
mais cerca de 700 drogas vegetais, minerais e animais, estão descritos numa
coleção contendo 811 prescrições, chamada “Papyrus Ebers”9 (PARKY, 1966;
TEIXEIRA, 1994; TAVARES, 1996; apud DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2004).
Na Europa do Renascimento, as práticas médicas interessaram-se em
compilar informações sobre plantas medicinais em coleções crivadas
cientificamente, dando origem às farmacopeias. Farmacopeias oficiais são o registro
de compostos e substâncias de origem vegetal, animal ou mineral com propriedades
terapêuticas reconhecidas cientificamente com suas preparações e formas de uso.
Apoiadas em estudos científicos de plantas e suas propriedades farmacológicas,
foram publicadas por juntas de órgãos oficias e utilizadas como referência para
estudos, políticas, regulamentações, dentre outros usos. Obteve-se a primeira
compilação da Farmacopeia Britânica no ano de 1618 (NARANJO, 1995; HALLER-
JR, 1982). Em língua portuguesa, a primeira farmacopeia – Farmacopeia Geral para
o Reino e Domínios de Portugal – data de 1794 e contava com 30 produtos de
origem mineral, 11 produtos de origem animal e aproximadamente 400 espécies
vegetais (SCHENKEL; GOSMANN; PETROVICK, 2003).
Dentre as plantas que marcaram o uso e as descobertas por meio de
produtos naturais, pode-se destacar o ópio (Papaver somniferum), utilizado como
analgésico desde a época dos Sumérios, em 4.000 a.C. O início dos primeiros
estudos sobre a constituição química do ópio deu-se em 1803, quando Derosne10
descreveu o “sal de ópio”. No ano seguinte, Armand Séquin conseguiu isolar o
constituinte majoritário do ópio – a morfina – e Sertürner tornou públicos seus
trabalhos a este respeito (principium somniferum). Esses são considerados pioneiros
na busca por utilizar substâncias naturais na forma pura (VIEGAS; BOLZANI;
BARREIRO, 2006).
9 Os Papyrus Ebers, ou Papiro de Ebers foi decifrado em 1873 pelo egiptólogo Georg Ebers. É o
primeiro tratado médico egípcio conhecido que descreve a utilização da fitoterapia como forma de tratamento, descrevendo plantas, fórmulas medicamentos e formas de utilização (SILVA, 2003, apud BASTOS, 2007) 10
Derosne foi um importante farmacêutico Francês, que viveu entre 1780 e 1846. Armand Seguin foi
um químico, também Francês, falecido em 1880. Satürner foi um importante farmacêutico alemão, falecido em 1841. Por serem contemporâneos, evidencia-se o ambiente intelectual e científico da época, marcado por grandes e importantes descobertas.
26
A descoberta dos compostos ativos de plantas medicinais alavancou a
revolução científica e tecnológica acerca do cabedal terapêutico disponível para
tratamentos na época. Em 1820, cientistas isolaram das cascas de quina (Cinchona
officinalis) o composto quinina da (SCHENKEL; GOSMANN; PETROVICK, 2003;
VIEGAS; BOLZANI; BARREIRO, 2006). Este princípio ativo foi, por quase trezentos
anos, o único eficaz contra a malária. A quina, nativa da floresta Amazônica, também
denominada popularmente como china, casca dos Jesuítas ou cinchona, era
conhecida pelos Jesuítas desde a colonização espanhola do Peru (1630), por ser
utilizada pelos índios Amazônica no tratamento de alguns tipos de febre. Ambos os
princípios derivados do ópio e da cinchona ainda são utilizados atualmente
(VIEGAS; BOLZANI; BARREIRO, 2006).
Avançando no tempo e nas descobertas da química, cada vez mais
relacionadas intrinsecamente à medicina, foi o momento do salgueiro (Salix alba)
protagonizar o cenário. Em 1828, após anos de estudos sobre as propriedades
analgésicas e antipiréticas do extrato das cascas do salgueiro, cientistas alemães
conseguiram isolar a salicina11. Os estudos para melhorar seu rendimento e
qualidade prosseguiram até que, em 1860, Hermann Kolbe e seus alunos
sintetizaram o ácido salicílico e seu sal sódico, a partir do composto químico fenol.
Passados catorze anos, um destes pesquisadores (Friedrich Von Heyden) montou a
primeira grande fábrica para produção de salicilatos. Na sequência, em 1897/1898,
inspirados no modelo molecular do ácido salicílico, cientistas desenvolveram o Ácido
Acetil Salicílico (AAS), versão menos ácida e que apresentava menos efeitos
colaterais que seu precursor. Esta é a origem do primeiro fármaco totalmente
sintético e que vem sendo utilizado por mais de 100 anos, até os dias atuais
(VIEGAS; BOLZANI; BARREIROS, 2006; SCHENKEL; GOSMANN; PETROVICK,
2003). A partir daí, buscou-se na natureza inspiração para novas descobertas e
outros compostos foram sintetizados, abrindo caminho para o crescimento da
indústria farmacêutica.
A Revolução Industrial, ocorrida no século XIX, provocou profundas
mudanças sociais, comerciais, científicas e tecnológicas. Atreladas a elas,
cresceram e ganharam consistência as ciências modernas e as diversas disciplinas
11
Salicina é um composto químico fenólico que se obtém em estado puro da casca de salgueiro e de
algumas espécies de choupos; outrora usado em medicina como antipirético, anti-reumático e tônico.
27
básicas e aplicadas envolvidas direta ou indiretamente com o cuidado em saúde. Os
progressos da ciência na área de medicamentos corresponderam aos avanços da
técnica instrumental. Os países que hoje detêm grandes investimentos de indústrias
farmacêuticas e conseguem acompanhar as necessidades do mercado são os
países com tradição de maiores investimentos nas áreas de Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e altamente tecnificados.
A racionalidade técnica está presente, pois as novas drogas disponibilizadas
no mercado nas últimas décadas propõem soluções técnicas rápidas aos problemas
de saúde da humanidade, sem levar em conta os fatores culturais e os saberes
tradicionais. Além disso, implicam em efeitos colaterais e impactos ambientais
muitas vezes não mensurados. Este fato fez com que se estabelecesse uma lacuna
quanto aos usos e os conhecimentos sobre as plantas medicinais, que agem de
maneira menos específica e com ação farmacológica, muitas vezes, mais sutil e/ou
lenta. No período após a II Grande Guerra, a prosperidade dos fármacos sintéticos
era grande e houve queda de interesses e investimentos da indústria farmacêutica
nos produtos naturais. Os medicamentos de síntese ganharam a frente da
terapêutica (CARVALHO et al, 2007; DHAMI, 2013). Os pacientes, que também
podem ser entendidos pela lógica de mercado como consumidores, adaptaram-se a
esta nova realidade. Muitos dos jovens nascidos no final do século XX passaram a
conhecer a realidade dos fármacos sintéticos como a primeira opção de tratamento
de saúde.
Esta lógica condiz, também, com alguns representantes e setores da classe
médica. Estes e outros profissionais da área da saúde, como odontólogos e
enfermeiros, quando pesquisados por Tomazzoni (2004), demonstraram ter um
conhecimento mínimo sobre as propriedades terapêuticas, formas de preparo,
dispensação e utilização de plantas medicinais e fitoterápicos. A autora explica que,
muitas vezes, o conhecimento destes profissionais é adquirido em palestras, por
intermédio da abordagem indireta de professores em disciplinas não específicas
sobre o assunto ou até mesmo por meio do conhecimento empírico, como o restante
da população, sem terem cursado disciplina específica sobre o tema durante sua
formação acadêmica.
Alicerçados pelas propagandas das indústrias farmacêuticas a fazer uso
desta quantidade de produtos eficientes e lucrativos, muitos médicos tornam-se
28
disseminadores da prática de uso dos medicamentos sintéticos, também conhecidos
como alopáticos ou convencionais, por serem a opção de escolha de prescrição
médica. Este fato ampliou a lacuna quanto ao uso de fitoterápicos.
Apesar dos avanços oferecidos pela indústria farmacêutica, o alto custo dos
medicamentos compromete a acessibilidade aos tratamentos convencionais. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 15% da população mundial
consome 90% da produção farmacêutica (OMS, 2004). De acordo com estimativa da
Organização das Nações Unidas (ONU), no início do século XXI, a cada três
pessoas no mundo, uma não dispunha de acesso aos medicamentos essenciais,
embora o acesso a estes medicamentos seja reconhecido como um dos cinco
indicadores relacionados a avanços na garantia do direito à saúde. Nos países que
contribuíram mais significativamente para o resultado deste índice, apenas em cerca
de um terço das vezes que os pacientes procuram os medicamentos essenciais, os
encontram nas instituições públicas.
Recentemente, a quantidade de novos compostos químicos e fármacos
sintéticos criados e disponibilizados no mercado não têm correspondido aos
investimentos (VIEGAS; BOLZANI; BARREIROS, 2006). Mesmo com orçamentos
estratosféricos direcionados à pesquisa e desenvolvimento (P&D) e testes clínicos
para novas drogas, os lançamentos ao mercado não avançaram significativamente
(BUTLER, 2004). A solução está sendo voltar os olhares para os conhecimentos
populares e tradicionais e buscar alternativas na biodiversidade (HALLER-JR, 1982).
Nas últimas três décadas, as terapias naturais, incluindo a fitoterapia,
ganharam notoriedade não apenas em países em desenvolvimento, mas também
naqueles considerados mais desenvolvidos. Este fato chamou a atenção de
companhias farmacêuticas, que antes deixavam o mercado de plantas medicinais e
de fitoterápicos para empresas menores. O mercado europeu é um dos principais
movimentadores desse setor. No ano de 1997, a comercialização de fitoterápicos na
Comunidade Europeia atingiu 7 bilhões de euros, e 50% deste valor corresponde ao
mercado alemão, país de tradição no uso de fitoterápicos e berço de outros
tratamentos tradicionais, como a homeopatia (CALIXTO, 2000) .
Atualmente, a utilização da fitoterapia encontrou respaldo em muitos
profissionais médicos, uma vez que ações e conceitos levantados por estes são
comumente interpretados pelo povo como legítimos e aceitos (VASCONCELOS,
29
1996 apud ROSA et al, 2011). Neste intento, pressupõe-se politizar e publicizar o
debate a fim de mobilizar esses atores aos benefícios desta terapia medicamentosa,
socializando as informações sobre a segurança e a eficácia do uso de fitoterápicos,
a redução de custos dos tratamentos e suas formas de prescrição. Países ocidentais
como a Alemanha, a França e a Inglaterra têm como parte de sua cultura a utilização
de fitoterápicos, prescritos sem preconceitos por médicos, difundidos por
farmacêuticos e bem-aceitos pela comunidade em geral.
A apropriação da fitoterapia e de outras formas alternativas de tratamento
pelos profissionais médicos e pela indústria de medicamentos tem um viés positivo
no que se refere à segurança de administração, à minimização dos possíveis
agravos à saúde decorrentes do uso contínuo de drogas sintéticas, ao
reconhecimento de sua eficácia e, também, à validade dos conhecimentos
perpetuados oralmente pela população ao longo da história. Entretanto, há que se
considerar não estar isenta de uma intencionalidade econômica. O custo final dos
medicamentos nem sempre é acessível às classes populares, de onde o
conhecimento para a produção dos medicamentos partiu e foi apropriado.
Depreende-se disso, também, a necessidade da garantia do acesso irrestrito aos
medicamentos via SUS, possível pelo fortalecimento de uma política específica de
plantas medicinais e fitoterápicos, tendo em vista a amplitude, variação cultural e
socioeconômica da população brasileira.
De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a população brasileira é de mais de 202 milhões de habitantes (IBGE, 2014).
Há nesta população uma mistura de origens (nativos/índios, brancos/europeus,
negros/africanos), que acompanha o processo colonizador brasileiro. Desta
diversidade étnica surgiu uma cultura permeada de saberes e valiosos
conhecimentos tradicionais, que encontraram nas plantas o uso popular como
tratamento (BRASIL, 2006b). Ao longo dos mais de quinhentos anos desde a
chegada das naus portuguesas e de sua colonização, a população foi se moldando
por uma mistura de origens, que trouxeram consigo seus próprios saberes e valores
sobre as PM, que ultrapassaram as barreiras do tempo.
Os conhecimentos tradicionais sobre plantas e tratamentos alternativos são
vastos, como o é a biodiversidade mundial. A construção do conhecimento sobre o
uso de plantas medicinais é predominantemente oral e tem sua fonte principal na
30
família na qual, historicamente, as mulheres desempenham papel fundamental
(CEOLIN, 2011).
São amplamente utilizadas tanto plantas nativas quanto exóticas, que podem
ser cultivadas nos quintais das casas, adquiridas na forma de plantas desidratadas,
bem como padronizadas em medicamentos fitoterápicos.
A transição entre o saber tradicional e o científico requer investimentos em
ciência, tecnologia e inovação. Ainda há um leque de conhecimentos a se descobrir.
Além disso, há benefícios a disseminar sobre as potencialidades do uso de plantas
medicinais. Estas potencialidades ainda estão longe de estar esgotadas, pois:
[...] novos conhecimentos e novas necessidades certamente encontrarão, no reino vegetal, soluções, por meio da descoberta e do desenvolvimento de novas moléculas com atividade terapêutica ou com aplicações tanto na tecnologia farmacêutica quanto no desenvolvimento de fitoterápicos com maior eficiência de ação (SCHENKEL, GOSMANN e PETROVICK, 2003).
Neste contexto, a biodiversidade brasileira é destaque no mundo todo. Cerca
de 20% do total de espécies do planeta encontram-se no Brasil (CALIXTO, 2003;
PRANCE, 1977 apud BRASIL, 2006b). É o país de maior biodiversidade do planeta
(BRASIL, 2006b; CALIXTO, 2003). Da ampla gama de plantas com potencial
farmacológico, apenas uma pequena parte já foi completamente estudada. Este
patrimônio genético precisa ser explorado com sustentabilidade, pois pode gerar
descobertas na área farmacêutica e, com isso, proporcionar desenvolvimento
socioeconômico e com preservação ambiental.
Várias são as espécies vegetais encontradas no Brasil que possuem
comprovada eficácia curativa. Da ampla gama de plantas com potencial
farmacológico, apenas uma pequena parte já foi estudada e elucidada.
Dentre os biomas brasileiros, a Mata Atlântica predomina no sul do Brasil e é
considerada como um dos 25 “Hotspots”12 mundiais, devido à biodiversidade e
endemismo de espécies. Pelos levantamentos apontados por Schaffer e Prochnow
12
O conceito Hotspot foi criado em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers para resolver um dos maiores dilemas dos conservacionistas: quais são as mais importantes áreas para preservação da biodiversidade. Hotspot é, portanto, toda área prioritária para conservação, isto é, de alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. (MYERS et al. , 2000; GALINDO-LEAL, CÂMARA, 2005)
31
(2002), a cobertura florestal por Mata Atlântica em Santa Catarina, no ano de 1500,
era de 81,50% do território. Restam, atualmente, cerca de 17% da área inicial neste
estado.
Dentro desse bioma, uma das formações florestais é a Floresta Ombrófila
Mista (FOM), também conhecida como Mata de Araucárias. Essa formação e suas
subdivisões estão presentes no Planalto Norte Catarinense, incluindo o município de
Canoinhas (SC). Espécies vegetais medicinais nativas à FOM e exógenas,
adaptadas ao Planalto Norte Catarinense, constam da Relação Nacional de
Medicamentos Fitoterápicos (RENAME-Fito) que podem ser ofertadas pelos SUS.
Dentre elas estão a espinheira santa (Maytenus ilicifolia), a carqueja (Baccharis
trimera) e o guaco (Mikania glomerata) – nativas – além da camomila (Matricaria
recutita), do eucalipto (Eucalyptus globulus L.), calêndula (Calendula officinalis L.), e
da erva-cidreira (Melissa officinalis) – exóticas.
A utilização racional da biodiversidade brasileira tem na produção de
medicamentos fitoterápicos um emprego importante. Atualmente, em países pobres
ou ricos, estes medicamentos são amplamente comercializados como preparações
de extratos padronizados de uma ou mais plantas. Analisando o setor de
medicamentos, percebe-se que um terço dos medicamentos mais prescritos e
vendidos mundialmente foram desenvolvidos a partir de produtos naturais. Este
percentual sobe para cerca de 70% no caso de drogas anticancerígenas e
antibióticos (CALIXTO, 2003). A produção de medicamentos a partir de plantas
medicinais apresenta melhor relação custo-benefício se comparada aos produtos
sintéticos. Possuem ação biológica com baixa incidência de efeitos toxicológicos,
colaterais e reações adversas, além de apresentar custo de produção e venda
inferiores aos medicamentos convencionais (VIEIRA, 2008).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define medicamentos
fitoterápicos como sendo os medicamentos “obtidos com emprego exclusivo de
matérias-primas ativas vegetais, cuja eficácia e segurança são validadas por meio
de levantamentos etnofarmacológicos13, de utilização, documentações
13
Etnofarmacologia é a ciência que estuda o conhecimento específico sobre fármacos que determinado grupo étnico-social possui. O método etnofarmacológico investiga as possibilidades e hipóteses referentes aos conhecimentos tradicionais, buscando empiricamente o que provoca os efeitos dos fármacos tradicionais (LEITÃO, 2002).
32
tecnocientíficas ou evidências clínicas”. A Resolução RDC14 nº 14/2010, dispõe
sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diz ainda que “os medicamentos
fitoterápicos são caracterizados pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu
uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade” (BRASIL,
2010b).
Farmacopeias são compêndios nacionais, geralmente fomentados por órgãos
públicos. Nelas se estabelecem, dentre outras, os requisitos mínimos de qualidade
para fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para saúde.
Nem todos os países possuem farmacopeias estabelecidas. Nesses casos ou em
caso de ausência de alguma monografia oficial na farmacopeia, costuma-se adotar
como válidas outras farmacopeias oficiais. Na América Latina, apenas Brasil e
Argentina possuem farmacopeias. Outras farmacopeias oficiais são a Alemã,
Americana, Britânica, Europeia, Francesa, Internacional (OMS) e Portuguesa
(ANVISA, 201-).
A Farmacopeia Brasileira é o Código Farmacêutico Oficial e segue
rigidamente os padrões internacionais, procurando adaptações às necessidades do
país. A primeira edição da Farmacopeia Brasileira ocorreu em 1929, obra de um
único autor – Rodolpho Albino Dias da Silva- que descreveu aproximadamente 200
plantas medicinais, em sua maioria de origem brasileira. A segunda edição foi
publicada em 1959, a terceira em 1976 e, em 1988, a quarta edição. Até 2005, foram
produzidos fascículos de atualização desta edição. Em 2010, a quinta edição da
Farmacopeia Brasileira foi lançada, num projeto de revisão e inclusão de novas
monografias, e que revogou as demais edições anteriores (ANVISA, 201-).
As plantas medicinais podem ser estudadas do ponto de vista farmacológico,
voltado à saúde, mas também apresentam potencial sob a ótica do cultivo,
principalmente para a agricultura familiar. Este potencial existe devido ao alto valor
agregado na comercialização dessas plantas, fato que se evidencia quando se
compara ao preço no mercado externo de 1 Kg de soja (US$0,23) - uma
commodity15 tradicional, ao de 1 Kg de produtos oriundos da biodiversidade vegetal
14
RDC: Resolução de Diretoria Colegiada 15
A palavra Commodities é oriunda do inglês e significa “produto”. Commodities são, pois, produtos de exportação importantes à balança comercial, sujeitos às regras e intempéries do mercado internacional. Possuem características uniformes e que geralmente podem ser estocadas por um
33
(US$41,10). Apesar da diversidade vegetal presente e do alto valor agregado, existe
um déficit comercial do segmento de plantas medicinais in natura no Brasil, já que os
interesses que ditam quais são os produtos prioritários à balança comercial
extrapolam os limites nacionais. No período entre 1996 e 2006 houve um
crescimento da ordem de 6,6% nas exportações de plantas medicinais in natura,
enquanto as importações cresceram 40,5% (JOLY et al, 2011).
No Brasil, aproximadamente 4,4 milhões de estabelecimentos rurais são
ocupados pela agricultura familiar (BRASIL, 2010a). No estado de Santa Catarina
(SC), em 2006, este número chegava a 168.544, correspondendo à 87%
estabelecimentos agropecuários. Em área, este percentual cai para 44%, sendo os
outros 56% pertencentes aos 13% de estabelecimentos agropecuários que não se
enquadram como agricultura familiar (IBGE, 2006). No município de Canoinhas,
assim como no estado de Santa Catarina, há uma predominância de propriedades
rurais vinculadas à agricultura familiar.
Para ir além da subsistência, as propriedades da agricultura familiar buscam
diversificação e dinamismo como alternativas às monoculturas. Em países europeus,
as pequenas propriedades rurais são vistas não apenas como opção de vida. Os
agricultores atuam com profissionalismo, atentos ao gerenciamento das
propriedades, algo ainda distante da realidade brasileira. Estruturar cadeias de
produtos alternativos podem ser possibilidades de geração de renda e manutenção
da fixação das famílias no campo (MATTEI, 2010).
As plantas medicinais e fitoterápicos foram tema de políticas públicas
interministeriais com grandes possibilidades ao desenvolvimento regional instituídas
pelo governo federal brasileiro ao longo da última década, alinhadas a estas
perspectivas e seguindo a recomendação de órgãos internacionais, como a
Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2006 foram instituídas a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) - que regulamenta,
dentre outras, o uso da fitoterapia como uma opção de tratamento a ser ofertado
pelo SUS na rede de atenção básica de saúde - e a Política Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), com intuito de “garantir à população brasileira o
período determinado de tempo, sem perda da qualidade do produto. As principais commodities produzidas e exportadas por nosso país são: petróleo, café, suco de laranja, minério de ferro, soja e alumínio (RICHARD, 1993).
34
acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o
uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da
indústria nacional” (BRASIL, 2006b). Em 2008 a PNPMF foi regulamentada pelo
Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
No estado do Ceará, Matos (1994) registrou o início do programa de utilização
de plantas medicinais Farmácias Vivas, com hortos medicinais comunitários
cultivados próximos aos Postos de Saúde, agregando levantamentos bibliográficos e
experimentos científicos. Outros entes da federação com programas na área de
plantas medicinais com datas anteriores às políticas nacionais são: Brasília (DF),
Curitiba (PR), Vitória (ES), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ) (CAVALLAZZI,
2006). O estado de SC também apresenta regulamentação com data anterior às
políticas nacionais. Em 16 de agosto de 2002 foi aprovada pela Assembleia
Legislativa a Lei 12.386, que cria o “Programa Estadual de Fitoterapia e Plantas
Medicinais no Estado de Santa Catarina e adota outras providências”, com o objetivo
de:
[...] estimular o desenvolvimento de atividades intersetoriais voltadas à fitoterapia e contribuir para a promoção da saúde, à produção de plantas medicinais como insumos para a indústria farmacêutica e produtos de valor agregado, à adequação tecnológica dos setores farmacêutico e agronômico catarinenses e à geração de emprego e renda, fundamentadas no desenvolvimento sustentável e no manejo racional da biodiversidade do Estado, considerando-se os aspectos sociais, econômicos e ecológicos inerentes (SANTA CATARINA, 2002).
Um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde no ano de 2004 apurou
que, dos mais de 5500 municípios da federação brasileira, somente em 116
municípios apresentavam ações institucionalizadas com plantas medicinais e
fitoterápicos na Atenção Primária de Saúde (APS), distribuídos em 22 estados
(BRASIL, 2006a).
No estado de Santa Catarina, municípios como Presidente Castello Branco,
Florianópolis (ANTONIO, 2013), Itajaí (ANTONIO, 2013; CAVALLAZZI, 2006),
Joinville, Bombinhas e Blumenau (CAVALLAZZI, 2006) oferecem tratamentos à base
de plantas medicinais no serviço público de saúde e alguns destes programas
desenvolvem ações que promovem a integração de outros setores de importância.
Dentre as principais ações podem ser citadas o treinamento de equipe de saúde
35
(ANTONIO, 2013) e a gestão e implantação de hortos (ANTONIO, 2013;
CAVALLAZZI, 2006).
Neste contexto, o município de Canoinhas (SC) aprovou no ano de 2010 a Lei
4.565 – PMPMF “Vitalina de Lima”, já citado no capítulo introdutório.
Estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina
(FIESC) (FIESC, 2013) em parceria com o Sistema da Federação das Indústrias do
Paraná (FIEP) apontou os setores portadores de futuro16 para a indústria
catarinense, numa prospecção para o ano de 2022.
O estudo utilizou o recorte do IBGE (1990), em que o estado de Santa
Catarina é dividido em seis Mesorregiões, sendo que o município de Canoinhas está
inserido na Mesorregião Norte Catarinense. Dentre as tendências levantadas pelo
estudo para esta mesorregião está o setor de Fármacos, sendo que a produção de
Medicamentos Fitoterápicos e a valorização da biodiversidade por eles
proporcionada são citados como ações emergentes a serem trabalhadas para
dinamização dessa mesorregião (FIESC, 2013). Portanto, este é um setor que
merece atenção por parte dos gestores e interessados em investir na dinamização
socioeconômica e cultural da região.
No município de Canoinhas (SC) poucos dados foram encontrados na
literatura consultada sobre os usos das plantas medicinais. Destacam-se as marcas
deixadas pelos monges na região do conflito do Contestado, a ação de benzedeiras
e a ação da Pastoral da Saúde.
O senso comum e o pensamento mítico presentes nos discursos e nos
símbolos encontrados na comunidade Canoinhense trazem para o presente a figura
dos monges que por aqui passaram, mesmo que de forma mais sutil que em outros
tempos.
Dos marcos históricos do município, ressalta-se a importância da Guerra do
Contestado para a população. Vivenciada em todo o chamado “Vale do Contestado”
entre os anos de 1912 e 1916, a luta armada dos caboclos desprovidos de terras ou
“despossuídos” mediante a sessão de terras do governo para a companhia norte-
americana Lumber (Southern Brazil Lumber and Colonization Company) contra o
poder estadual e federal, em terras disputadas entre os estados de Santa Catarina e
16
Setores reconhecidos no referido estudo como promissores.
36
Paraná, deixou marcas que remanescem acesas na memória do povo canoinhense.
Dentre elas o extrativismo madeireiro e o caráter religioso e místico do cotidiano da
vida sertaneja, simbolizado pelos monges.
Dentre os monges comumente citados, os relatos indicam que o primeiro a
passar pela região foi o italiano Giovanni Maria de Agostini, conhecido em território
brasileiro como monge João Maria. Este vivia de forma módica e frugal, habitando
perto de rios, realizando práticas mágico-religiosas ligadas ao tratamento de
enfermidades e à proteção. Ao deixar o local onde habitava para tomar novos rumos,
a população erguia cruzes e considerava o local e as águas “santos”. O monge
sumiu do território brasileiro e não se tinha mais notícias de seu paradeiro até
recentemente, quando o historiador Alexandre de Oliveira Karsburg (2012)
reconstituiu a trajetória do monge até a cidade estadunidense de Mesillas (Novo
México) onde veio a falecer em 1869, demonstrando por onde se tem registro de sua
passagem, o mesmo modo de vida por aqui registrado.
O segundo monge, João Maria de Jesus, tem sua identidade muitas vezes
confundida com o primeiro. Surge nos relatos que Valentini (2000) apreendeu sobre
a memória dos sertanejos da região do Contestado como conselheiro e curandeiro.
Segundo os relatos, ensinava religião e benzia a água que era usada como remédio.
Também fazia uso de ervas para alívio de enfermidades. A vassourinha do campo
(Baccharis dracunculifolia DC), que é popularmente chamada na região de erva ou
vassourinha-de-São-João-Maria era usada em forma de chás (LUDKA; FEITOSA;
FRAGA, 2012, VALENTINI, 2000). Esta erva é citada por Valentini (2000) como
curativo para “bronquite, gripe, febre e uma porção de coisas”.
Segundo Tomporoski (2013), o terceiro monge, José Maria, circulou pela
região na época em que foi deflagrado o movimento sertanejo do Contestado, tendo
se tornado seu líder religioso. O autor afirma, ainda, que a devoção, primeiramente
por João Maria “e, mais tarde, por José Maria, representava práticas religiosas
coletivas arraigadas ao modo de vida do morador do planalto contestado e
fomentaram a proximidade, a sociabilidade e a união dos sertanejos”.
A influência que curandeiros e benzedeiras ainda assumem na cultura popular
pode ser pontuada pela presença de imagens do Monge João Maria, como na
Figura 1, encontradas em residências e que também são avistadas em áreas
centrais de uso público, como no pátio de fundos do Museu Histórico Orty
37
Magalhães Machado e no escritório do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura
Familiar de Canoinhas (SINTRAF).
Figura 1 – Monge João Maria
Fonte: http://www.uel.br/com/agenciaueldenoticias/fotos/11-7-2013-g-monge.jpg
Outro detalhe importante a ressaltar é a homenagem do vereador João Grein,
do Partido dos trabalhadores (PT) à Sra. Vitalina de Lima, que tem seu nome
associado ao Programa Municipal de Plantas Medicinais, projeto de lei deste
vereador. Vitalina residiu no Bairro Campo d’Água Verde, em Canoinhas, onde,
segundo esse verador, realizou mais de dois mil partos, além de ser benzedeira e
curandeira.
Atualmente, o número de pessoas que assumem procurar por benzedeiras é
pequeno. Saibel (2008) apurou que, dentre os usuários do Programa Bolsa Família
do Governo Federal do município de Canoinhas entrevistados, 98% procuram
atendimento médico quando apresentam problemas de saúde. Apenas 1% citou
procurar por benzedeiras. A autora constatou, com isso, que as famílias em questão
têm acesso a serviços de saúde ofertados no município.
A baixa procura por benzedeiras e curandeiros coincide com a popularização
dos medicamentos sintéticos, a crescente hospitalização dos partos, o maior acesso
da população ao SUS, que não abordava até 2006, ações institucionalizadas com
Plantas Medicinais.
Ainda, dentre as entidades mais atuantes com plantas medicinais no
município de Canoinhas está a Pastoral da Saúde. Esta Pastoral é uma organização
sem fins lucrativos da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Esta, bem
38
como outras Pastorais Sociais, possui atuação nacional e apresenta uma
organização cívico-religiosa. Quanto à ação na comunidade, tem como uma de
suasdiretrizes valorizar o conhecimento, sabedoria e religiosidade popular em
relação à saúde. Alicerça sua ação na organização da comunidade (CNBB, 2008).
Além desta, as diretrizes de atuação da Pastoral da Saúde são:
- priorizar ações de educação, implementando uma verdadeira cultura de saúde, com ênfase em ações preventivas, permeadas pelos valores da justiça, equidade e solidariedade;
- resgatar e valorizar a sabedoria e a religiosidade popular, relacionadas com a utilização dos dons da mãe natureza e conservação do meio ambiente;
- Refletir, à luz da fé cristã e da pessoa de Jesus, a realidade da saúde e da doença, bem como as implicações da ciência, tecnologia e bioética;
- incentivar e desenvolver a formação e capacitação contínua dos agentes de pastoral da saúde, nos aspectos humanos, técnicos, éticos e cristãos, criando-se centros regionais de formação de agentes de pastoral;
- estar atento para diferentes práticas alternativas de saúde, não pertencentes a nossa cultura, que são usadas sem a necessária fundamentação e comprovação científica e que causam estranheza, insegurança, desconfiança e descrédito da ação pastoral na comunidade, evitando-se assim o fanatismo e dogmatismo;
A Pastoral da Saúde age, muitas vezes, como elo de ligação entre a
população e os serviços de saúde locais. Outras vezes, supre carências geradas
pela ação da medicina convencional e da insuficiência das políticas públicas da
área, sobretudo no que se refere ao conhecimento e ao diálogo sobre as práticas e
saberes culturais, às ações preventivas e formas alternativas de tratamento. A
intencionalidade que rege a atuação da Pastoral é valorosa, integra a realidade do
município de Canoinhas; mas, por mais que se aproxime em alguns pontos do
preconizado na legislação que estabelece a Política Nacional de Plantas Medicinais
e Fitoterápicos, não pode ser considerada como uma Política Pública instituída. Seu
desenvolvimento depende de determinações distintas, sujeitado à vontade de quem
está à frente das ações propostas pela Igreja.
Afastar e até criar certo distanciamento entre os conhecimentos científicos
rigorosos e os tradicionais, no âmbito da saúde, principalmente em atenção primária,
não fez mais do que aumentar a desigualdade social. Ações de profissionais
39
pautados na Racionalidade Técnica Instrumental ajudaram a criar compostos que
proporcionam alívio e cura para doenças. Mas, também, trouxeram agravos e
disparidades sociais relacionados ao acesso aos tratamentos, vinculados a custos
elevados. Recursos vegetais que estão disponíveis na natureza foram
negligenciados e carecem de estudos e comprovações ou, muitas vezes, de um
resgate dos conhecimentos populares ou tradicionais. Estas mesmas disparidades
instituídas no meio científico e pelas malhas econômicas requerem versatilidade,
criatividade e proatividade de ações destes profissionais que devem ajudar a
resolvê-las.
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL
Para analisar, quer a Política de Plantas Medicinais e Fitoterápicos em sua
totalidade, quer a especificidade desta e as configurações que assumiu e assume no
Município de Canoinhas, é importante compreender, por um lado, o que são e como
se estruturam as políticas públicas e sociais e, por outro, as singularidades
históricas, sociais e econômicas do município em questão.
Peters (1986) sinaliza que as políticas públicas são a soma das atividades do
governo, as quais influenciam a vida dos cidadãos, mediadas por interesses
distintos. Souza (2006) compreende na política pública o dever de “distinguir entre o
que os governos pretendem fazer e o que de fato fazem”, contemplando a
inatividade do governo como algo tão importante para a análise quanto a atividade.
Para Souza (2006), a política pública é o campo de conhecimento que busca, ao
mesmo tempo, colocar o governo em ação e propor mudanças nos rumos destas
ações, que são intencionais, apresentam objetivos a serem alcançados. Behring e
Boschetti (2006), entretanto, oferecem uma visão crítica mais aprofundada e
consistente, que tanto fundamenta as construções teóricas destes autores quanto
fornece subsídios para elucidar os encaminhamentos ocorridos no município de
Canoinhas.
Para Behring e Boschetti (2006) as políticas públicas e sociais são conquistas
civilizatórias que possuem um caráter histórico e cultural, perpassadas por
determinações econômicas e por interesses envolvidos em sua regulamentação,
desenvolvimento e efetivação. Ou seja: as políticas sociais e públicas
40
representariam um espelho da história, dos caminhos e das decisões político-
econômicas de determinado país, estado e município, sendo pertinente o seu
desvelar para que a análise crítica seja o mais fidedigna possível. Para as autoras,
as políticas públicas e sociais revelam a interação entre as determinações
econômicas, políticas e culturais, assim como as relações que se estabelecem entre
Estado e Sociedade Civil, sempre tendo como pano de fundo os complexos
processos do modo de produção Capitalista.
Problematizar as políticas públicas e sociais a partir dessa perspectiva
implica, pois, em situá-las enquanto integrantes das relações sociais burguesas,
estruturalmente marcadas por interesses contraditórios e divergentes da sociedade
capitalista.
Na obra fundante desta perspectiva analítica – O Capital – Marx (1982)
esclarece que a essência dos fatos - no interior dessa sociedade contraditória e
excludente – pode estar escondida. Por isso, é importante negar a aparência e a
realização de mediações que nos conduzam à essência geradora desses. Isto
implica em considerar, também, que a essência e a totalidade da lógica das relações
sociais burguesas/capitalistas está contida em cada fato e/ou fenômeno, por mais
pequeno ou elementar que possa parecer ser – inclusive o mais minucioso dos
detalhes contido nas políticas públicas e sociais.
Behring e Boschetti (2006) esclarecem que:
[...] o estudo das políticas sociais deve considerar sua múltipla causalidade, as conexões internas, as relações entre suas diversas manifestações e dimensões. [...] do ponto de vista histórico, é preciso relacioná-las ao surgimento das expressões da questão social. [...] do ponto de vista político, reconhecer e identificar as posições tomadas pelas forças políticas em jogo e o confronto entre grupos que constituem as classes sociais e cuja ação é determinada pelos interesses das classes em que se situam. [...]
A natureza do Capitalismo, seu grau de desenvolvimento e as estratégias de
acumulação que prevalecem, são elementos a se contemplar na análise das
políticas públicas e sociais. Da mesma forma, pode-se identificar quais são as forças
políticas que interferem em sua conformação.
Dentre as políticas públicas voltadas para PM, a Política Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos está vinculada à Política Nacional de Saúde e,
igualmente, possui interlocuções com a Política Agrária. Para que se possa realizar
uma análise consistente dos contornos que possui em uma realidade específica – o
41
Município de Canoinhas – registram-se alguns aspectos das Políticas maiores às
quais está vinculada, iluminados pelos preceitos teóricos aqui expostos.
Prevalece, no âmbito da saúde, um modelo hegemônico, discutido
anteriormente. Com um pequeno retrocesso na história, torna-se fácil compreender
os motivos que fazem com que o hospital e o modelo curativo de assistência à
saúde, de modo geral, sejam os representantes.
Luz (1986) efetua uma análise histórica, esclarecendo que o Brasil possui
uma estrutura concreta e organizada, que estabelece relações de dependência. Sua
formação sócio-histórica denota o enfrentamento de uma longa e árdua caminhada
de dissociação entre trabalho e meios de produção, considerando sua emergência
na fase de transição do feudalismo português para o capitalismo17. Nesse contexto,
a saúde era concebida como questão de domínio privado, familiar, tendência que,
sobretudo nas classes populares, continuou prevalecendo como recurso de
sobrevivência.
Foi somente após 1898, com as primeiras campanhas sanitárias, que o
Estado passou a intervir nas questões pertinentes à saúde, objetivando não
exatamente atingir um patamar satisfatório de qualidade de vida, mas produzir e
reproduzir a força de trabalho existente no país. É preciso registrar que a ciência e a
tecnologia brasileiras não estavam suficientemente desenvolvidas nesse contexto,
sendo comum a importação de técnicas de países chamados desenvolvidos,
desconsiderando as diferenças existentes. A dependência e a subordinação às
influências externas imputaram ao Brasil um caráter liberal para o trato à saúde,
concebendo-a não como resultante de todo um contexto político, social e
econômico, mas como decorrente de uma condição e capacidade individual.
A pressão da sociedade civil organizada, a partir de 1930, na primeira
república, fez com que o então presidente Getúlio Vargas buscasse alianças
diversas, rumo à industrialização do país e aos direitos trabalhistas. No que se refere
à política de saúde, surge uma política nacional que a subdivide em saúde pública e
medicina previdenciária, fazendo com que os serviços cresçam e se desenvolvam
no território nacional.
17
Buscou-se aporte teórico em Chauí (2000) e Ianni (1992), nas obras “Brasil, Mito fundador e Sociedade Autoritária” e “A Ideia do Brasil Moderno”, respectivamente.
42
As discussões acerca do processo brasileiro de industrialização passaram a
ocorrer com maior freqüência a partir da década de 1950, com a criação do
Ministério da Saúde. Esse período foi marcado por intensa busca de
desenvolvimento de instrumentais técnicos e, consequentemente, pela elevação dos
custos dos atos médicos, relacionados ao consumo dos produtos criados pelo
complexo médico-industrial18.
Em linhas gerais, é possível deduzir que o sistema econômico posto estimula
e ratifica situações determinadas como as empresas médicas, a privatização
paulatina, o ensino fragmentado, a predominância do atendimento hospitalar e a
assistência curativa.
Em contrapartida, como arena contraditória e de disputa que todas as
relações sociais representam – e não seria diferente com a saúde – há resistência
no sentido da garantia de outro modelo de saúde, fundamentado no conceito
elaborado na VIII Conferência Nacional (1986), ratificado na Constituição Federal de
1988 e com diretrizes de operação firmadas a partir da Lei 8080, que institui o
Sistema Único de Saúde – SUS.
Muito embora, desde 1988, a Constituição Federal garanta a saúde como
Direito do Cidadão, é preciso recordar que a análise das políticas públicas de saúde
implica na compreensão da concepção hegemônica de saúde da sociedade
brasileira, “historicamente marcada pelo modelo curativo, centrado na assistência
médica e nas especialidades, tendo como referência o hospital”. (SARRETA, 2009).
Para Sarreta (2009), os formatos atuais das políticas sociais e da política de
saúde brasileiras estão relacionadas com os formatos que vem adquirindo desde
suas origens. Concordando com a concepção do autor, de que embora haja a
garantia do preceito legal da saúde como direito instituído, o que se evidencia na
concretude do cotidiano é o embate entre interesses distintos por maiores espaços e
avanços, prerrogativa – infelizmente - aberta na própria legislação que institui o
SUS, quando trata da iniciativa privada, fato que não coloca em xeque o acesso
universal, gratuito e irrestrito à saúde, mas perpetua a arena de disputa econômica
pelos serviços prestados, extremamente onerosos e lucrativos.
18
Complexo médico-industrial é um termo que designa o conjunto das instituições pertencentes à indústria de equipamentos, medicamentos e aparatos médicos. Ele foi utilizado, pela primeira vez, em solo anglo-saxão nos anos 70. Cordeiro (1980) é a referência pioneira no Brasil na utilização do conceito de CMI. Seu objetivo primordial consistiu em pensar a inter-relação entre a lógica (econômica) da produção de bens e a lógica (social) da prestação de serviços na área da saúde.
43
Trata-se da luta entre duas distintas propostas e modelos de saúde. Um
centrado na universalidade, no direito, no acesso irrestrito, na atenção básica e na
prevenção. Outro alicerçado na cura e nas possibilidades de lucratividade que
possam ser conquistadas. Todas as políticas públicas e sociais – e não seria
diferente na saúde – se configuram como mais ou menos democráticas, mais ou
menos inclusivas, mais ou menos universalistas, mais ou menos abrangentes,
dependendo das opções econômicas e da pressão dos interesses contraditórios em
jogo junto ao Estado.
No que se refere especificamente às políticas públicas relativas às plantas
medicinais e aos fitoterápicos, é importante registrar quais foram os marcos
históricos que resultaram na legislação instituída hoje no país, a começar pela I
Conferência Internacional sobre Cuidados Primários em Saúde, realizada pela OMS
em Alma Ata, no Cazaquistão, no ano de 1978. A mesma trouxe para a discussão a
necessidade de incluir nos cuidados primários à saúde, os conhecimentos
tradicionais inerentes às nações. De acordo com a Declaração de Alma Ata, dentre
outros, os cuidados em atenção primária:
Requerem e promovem a maximização da autoconfiança e a participação comunitária e individual no planejamento, organização, funcionamento e gestão dos cuidados de saúde primários, fazendo o mais pleno uso dos recursos locais, nacionais e outros disponíveis, e, para esse fim, desenvolvem, por meio de educação apropriada, a capacidade de participação das comunidades;
[...] Baseiam-se, a nível local e de encaminhamento, nos que trabalham no campo da saúde, incluindo médicos, enfermeiras, parteiras, auxiliares e agentes comunitários, quando aplicável, tanto quanto práticos tradicionais quando necessários, convenientemente treinados, social e tecnicamente, para trabalharem como equipes de saúde e para responderem às necessidades de saúde expressas pela comunidade.
Estes marcos históricos não aconteceram ao acaso, mas foram resultantes de
uma prévia movimentação da sociedade civil organizada por intermédio das diversas
instituições interessadas na defesa da construção e consolidação de políticas
públicas para a fitoterapia e as plantas medicinais, entre outras práticas
consideradas alternativas ou de uso popular. Neste sentido, no Brasil, o período de
maior movimentação e importância coincide com o já citado período de
44
redemocratização da sociedade brasileira, vivenciado em meados da década de
1980 após a derrocada do Regime Militar.
A título de exemplificação, pode-se citar as iniciativas da Central de
Medicamentos (CEME), no Brasil. A CEME apoiou atividades de pesquisa em
produtos fitofarmacêuticos nas décadas de 1970 e 1980, chegando a promoverum
encontro sobre plantas medicinais em 1982, do qual resultou um documento
intitulado PPM – Programa de Plantas Medicinais - que desencadeou a realização
de inúmeros estudos na área.
Para melhor compreensão do movimento que envolveu e desencadeou a
trajetória das PM na história brasileira recente, de acordo com Cavalazzi (2006),
pode-se situar marcos e/ou referências normativas referentes às plantas medicinais
(Quadro 1).
Quadro 1 - Referências Normativas Relativas às Plantas Medicinais
Data Local Responsável Referência Normativa
1978 Alma-Ata /
Cazaquistão OMS
I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários em Saúde
1988 Chiang Mai,
Tailândia
OMS, União Internacional de Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN) e
Fundo Mundial da Vida Selvagem (WWF)
Conferência Internacional sobre Conservação de Plantas Medicinais, que resultou no documento “Salvem as Plantas que Salvam Vidas”.
1988 Brasil Ministério da Saúde Resolução CIPLAN nº 8/88, que institucionaliza e normaliza a fitoterapia no Serviço Público de Saúde nas Unidades Federadas.
1991 Brasil CFM – Conselho Federal de
Medicina
Parecer nº 06/91 do Conselho Federal de Medicina, que torna a atividade de fitoterapia,desenvolvida sob a supervisão de profissional médico, como prática reconhecida pelo Ministério da Saúde.
1995 Brasil Secretaria de Vigilância
Sanitária Portaria 6/SVS -normatiza o registro de fitoterápicos
1996 Brasil
Presidência da República (responsável por convocar a
Conferência), Conselhos Nacional, Regionais e Municipais de Saúde
Relatório da 10ª Conferência Nacional de Saúde, que orienta a incorporar no SUS a fitoterapia, acupuntura, homeopatia e contemplar as terapias alternativas/práticas populares.
1998 Brasil Sub-comissão Nacional de
Assessoramento Técnico em Fitoterápicos – MS/ANVISA
Elaboração do Documento que resultou na RDC 17/2000, que “normatiza o registro de produtos fitoterápicos e define o medicamento fitoterápico tradicional”.
2002 Estado de
Santa Catarina Câmara dos Deputados
Lei 12386, de 16 de agosto de 2002, que autoriza o Poder Executivo a criar o Programa Estadual de Fitoterapia e Plantas Medicinais no Estado.
2003 Brasil Ministério da Saúde
Relatório da 1ª Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica, que constitui o Grupo de trabalho para elaborar a Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares
2004 Brasil Conselho Nacional de Saúde Resolução Nº 338/04, que aprova a Política
45
Nacional de Assistência Farmacêutica.
2004 Brasil ANVISA
Resoluções nº 88 e 89, determinando que todos os testes referentes ao controle de qualidade de fitoterápicos deverão ser realizados em rede credenciada no sistema REBLAS ou por empresas que possuam certificados de BPFC
2004 Brasil ANVISA Revogação da RDC 17 e publicação da Resolução Nº 48
2005 Brasil
Presidência da República
Definição de Grupo de Trabalho aprovação da Política Nacional de Plantas Medicinais
2006 Brasil MINISTÉRIO DA SAÚDE PNPIC 2006 Brasil MINISTÉRIO DA SAÚDE PNPMF 2008 Brasil MINISTÉRIO DA SAÚDE Programa Nacional de PMF
Fonte: Adaptado de Cavalazzi (2006)
Paralelamente às datas registradas no Quadro 1 deve-se imaginar as
diversas Unidades da Federação, organizadas, construindo os fundamentos de boa
parte das referências normativas e dos marcos históricos aqui registrados.
Hoje, o país conta com duas grandes políticas interministeriais, geridas pelo
Ministério da Saúde, que são a PNPMF e a PNPIC, para nortear as ações referentes
às plantas medicinais no SUS, incluindo a fitoterapia.
Em relação à Política Agrária, o raciocínio segue caminho semelhante. A Lei
de Política Agrícola (8.171 de 17.01.91), do ponto de vista formal, define os
princípios fundamentais, os objetivos e as competências institucionais, enfatizando a
questão econômica ao tratar de produtividade, incremento à produção e
regularidade do abastecimento. A Constituição Federal de 1988, por outro lado, tem
como referência a garantia da função social da propriedade19. No jogo de forças
travado entre essas propostas, na história da estrutura agrária brasileira, a opção
pelo produtivismo e pela tecnificação dos processos, à revelia dos impactos sociais
e ambientais que tenham ocasionado e continuem ocasionando, tem obtido
destaque.
Em contrapartida, uma conquista recente importante foi o Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que objetiva maior
democratização do crédito rural para parte dos agricultores familiares, recursos para
infra-estrutura no município, capacitação de técnicos e agricultores familiares e
alocação de recursos para assistência técnica e extensão rural de infra-estrutura.
19
A concepção de função social da propriedade rompe com o individualismo e pressupõe que a propriedade passe a ser vista como instrumento de apoio à consecução dos fins sociais, cuja essência é o seu serviço à coletividade (DERANI, 1997, p. 239).
46
Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, coletados no decorrer de
2014, apontam para o fortalecimento e crescimento do Pronaf desde o ano de 2003,
quando começou a ser executado. Entre os meses de junho de 2013 e junho de
2014, agricultores familiares de 5.462 municípios, dos 5.570 que integram o território
nacional, haviam recorrido aos recursos da iniciativa, totalizando um o volume
contratado de R$ 20,7 bilhões, o maior da história do programa (PAOLA, 2014;
GRISA; WEZS JUNIOR; BUCHWEITZ, 2014)
A opção sobre quais produtos, em nível local, são priorizados no cultivo dos
pequenos agricultores, entretanto, não está isenta da pressão exercida pelos
grandes interesses econômicos que alicerçam o agronegócio. Dados do município
de Canoinhas são ilustrativos. Nesse sentido, demonstram que justamente as
culturas de produtos que possuem maiores possibilidades de escoamento e venda,
determinada pelos interesses do mercado que não está restrito às fronteiras
nacionais, tem sido priorizadas pelos pequenos agricultores. De acordo com a série
de três reportagens publicada pelo Jornal Correio do Norte em agosto de 2014, a
principal atividade agrícola em importância econômica para o município de
Canoinhas é a cultura do tabaco. Canoinhas é o município que lidera o plantio de
fumo no estado. Atualmente, seu plantio responde por 64% do PIB agrícola
municipal e ocupa 2,7 mil famílias (CORREIO DO NORTE, 201420).
No município em questão, o alicerce sobre o qual a matiz produtiva se
difundiu sobre o espaço é caracterizado pela extração intensiva de madeiras nativas
que ali ocorreu sistematicamente, bem como no Planalto Norte Catarinense, desde o
início do século passado. Tal fato trouxe como consequência um retrocesso
econômico entre as décadas de 1980 e 1990. Com a estagnação deste ciclo, as
atividades agrícolas que passaram a ocupar o espaço rural da região foram,
predominantemente, as monoculturas de larga escala como o fumo, grãos e
reflorestamento (PETRENTCHUK; MARCHESAN; DALLABRIDA, 2014).
A matriz produtiva do município de Canoinhas (SC) evidencia que
predominam, ainda, atividades sustentadas na exploração de recursos florestais,
atividades com baixo potencial de agregação de renda regional. Estas atividades
extrativistas e de industrialização em madeira e celulose, contribuíram e contribuem
20
FUMO responde por 64% do PIB agrícola. Correio do Norte. Canoinhas, p. 20-22. 15 ago. 2014.
Disponível em: <http://www.adjorisc.com.br/jornais/correiodonorte/editorias/rural/fumo-responde-por-64-do-pib-agricola-1.1489081#.VNyCyuNdVWk>. Acesso em: 15 jan. 2015.
47
para a redução da biodiversidade regional. Além disso, são atividades intensivas do
ponto de vista tecnológico. Mesmo que aumentem sua capacidade produtiva,
ocupam pouca mão de obra (DALLABRIDA, 2013).
A erva-mate (Ilex paraguariensis) também desempenha importante papel
social, econômico, histórico, cultural e ambiental. Segundo Souza et al (2013), há
mais de 152 anos ocorre a atividade comercial de erva-mate no Planalto Norte
Catarinense. De porte arbustivo, foi e continua sendo a principal atividade
extrativista alimentícia brasileira em quantidade produzida. Atualmente, o Planalto
Norte Catarinense responde por 55% a 60% da participação catarinense. Dados do
IBGE (2012) apontam que no ano de 2012, Canoinhas comercializou 4500 toneladas
de erva-mate cancheada. Neste território, a exploração da erva ocorre em ervais
nativos e naturalizados, manejados em formações da FOM. Ambientes manejados
podem apresentar maiores custos de produção, quando comparados com outras
regiões ervateiras, em que o sistema de monocultivo predomina (SOUZA et al,
2013). A erva-mate é um dos exemplos importantes de planta medicinal brasileira
(BRASIL, 2012).
O conhecimento tradicional que os agricultores de Canoinhas possuem em
relação a outras formas de cultivo e seus ganhos, como é o caso das plantas
medicinais, é preterido em virtude da necessidade de garantir, com o trabalho, a
sobrevivência da família. A inexistência de uma cadeia produtiva estruturada, focada
no cultivo e beneficiamento desses produtos, inviabiliza que a existente tradição
cultural do uso de plantas medicinais seja traduzida em ganhos materiais diretos,
colocando-a, no que diz respeito às opções sociais, políticas e econômicas
hegemônicas, no patamar de conhecimentos populares desimportantes.
Conforme aponta Thompson (1991), isto não significa uma submissão das
classes populares aos interesses hegemônicos. O conhecimento que lhes é próprio
continua existindo, sendo transmitido de geração a geração por intermédio da
tradição oral e representando, por um lado, resistência ao que lhes é imposto pelos
rumos econômico-políticos hegemônicos e, por outro, alternativa de resolução dos
problemas de saúde que denota clara divergência na lógica, intencionalidade e
forma do tratamento das enfermidades.
Torna-se, portanto, evidente que instituir uma Política Municipal de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos efetiva geraria efeitos positivos não somente para as
48
famílias, mas para a realidade econômica e social do Município ao melhorar a
atenção à saúde, fortalecer a agricultura familiar, gerar emprego e renda, promover a
inclusão social e minimizar a dependência tecnológica, conforme preconizado na
PNPMF. Outro relevante efeito positivo seria romper com as práticas extrativistas e
enfocadas em produtos que por suas características intrínsecas, ou pelos
desdobramentos de seu cultivo, extração e beneficiamento, trabalham na contramão
da garantia de uma saúde plena aos munícipes e moradores da região.
Quando se pondera sobre Políticas Públicas de Plantas Medicinais como
estratégias de desenvolvimento local, pensa-se primeiramente no desenvolvimento
como uma totalidade, indivisível. Desde a década de 1950, muitos autores
apresentam um olhar mais intenso aproximando o desenvolvimento ao crescimento
econômico, sem considerar primordialmente as mudanças qualitativas no modo de
vida das sociedades. Porém, este não é o único ponto de vista. O enfoque
socioeconômico vem perdendo espaço para abordagens que levam em conta outros
fatores emergentes, como os ambientais e sociais.
Embora existam diversos autores que propõe definições para o tema, não se
tem um único conceito mais aceito. Para Siedenberg (2006), o conceito de
desenvolvimento é ambíguo e difuso. O autor o aborda na tentativa de lapidar ou
estabelecer um conceito que seja o marco na explicitação definitiva do assunto, o
que ainda não foi alcançado.
O termo desenvolvimento regional apresenta-se como vertente
contemporânea dos conceitos de desenvolvimento. Está associado a escalas não
globais, como a região, o local, o território ou, ainda, ao termo endógeno. Pode
apresentar várias abordagens, que costumam variar de acordo com as múltiplas
áreas de conhecimento nele envolvidas. Boisier (2000) define desenvolvimento
regional como um processo permanente de mudança estrutural de um território,
associado ao progresso de uma região, comunidade ou sociedade local, bem como
de cada indivíduo lá presente.
Concordando com os autores, o desenvolvimento passa a ser entendido
como um modelo ou processo não estático. Está ancorado temporalmente ao
delimite estabelecido e carrega consigo a dinâmica daquele local, região ou
comunidade.
49
A perspectiva de Dallabrida (2010) define desenvolvimento como “um
processo de mudança estrutural, situado histórica e territorialmente, caracterizado
pela dinamização socioeconômica e a melhoria da qualidade de vida de sua
população”. Nesse sentido, é a que mais se aproxima da defesa da direta
interlocução entre Políticas Públicas e desenvolvimento local e regional. A Política
Pública Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos poderia auxiliar na
construção das mudanças sociais, na dinamização socioeconômica e na melhoria da
qualidade de vida da população canoinhense.
Tendo a percepção de que desenvolver é mudar, transformar a realidade em
menor ou maior grau, de acordo com o dinamismo da coletividade em que está
contextualizada, cabe ressaltar a importância da cultura local para conceber ou
refutar mudanças propostas intrinsecamente, bem como por agentes externos.
Neste contexto, a importância da formação cultural pode levar em
consideração os conceitos do poder simbólico, apontados por Pierre Bourdieu. Com
referência à questão regional, Bourdieu (2004) relata o poder simbólico como “um
poder de consagrar ou de revelar as coisas que já existem”. Para ele
[...] um grupo só começa a existir enquanto tal, para os que fazem parte dele e para os outros, quando é distinguido, segundo um princípio qualquer, dos outros grupos, isto é, mediante o conhecimento e o reconhecimento (pág. 167).
Segundo Boisier (1999), para Bourdieu a cultura é o elemento que pode
simultaneamente acrescentar e separar, criando uma delimitação que unifica o que
se encontra dentro dele e o distingue do ambiente externo.
A abordagem de Bourdieu permite melhor compreensão da relação de
subordinação estabelecida em um meio. As relações culturais acontecem quando
uma classe dominada se apropria de um pensamento dominante, que é
estabelecido, normalmente, por alguém a quem este “poder” foi delegado, quer por
uma posição socioeconômica mais favorecida, ou por um reconhecimento intelectual
ou atitudinal em que a os demais indivíduos reconhecem em certas pessoas, e que
passa a ser reconhecido como verdade.
Para o autor, o capital simbólico não é outra coisa senão o capital econômico
ou cultural, onde a legitimação da ordem social resulta da percepção e apreciação
aplicadas pelos agentes às estruturas objetivas do mundo social, e não de uma ação
norteada propositalmente por propaganda ou por imposição simbólica. Em termos
50
mais concretos, a legitimação da ordem social não é produto, como alguns
acreditam, de uma ação deliberadamente orientada de propaganda ou de imposição
simbólica: ela resulta do fato de que os agentes aplicam às estruturas objetivas do
mundo social estruturas de apreciação e percepção provenientes dessas estruturas
objetivas e tendem, por este motivo, a conceber o mundo como evidente
(BOURDIEU, 2004).
Trazendo a discussão para o município de Canoinhas (SC), objeto desta
investigação, para que a PMPMF se efetive e os rumos político-econômicos do
município sejam repensados, gerando benefícios à coletividade, a mudança que
deve ser empreendida passa pela ruptura com os interesses que extrapolam os
limites municipais e regionais, como a histórica prática extrativista de monoculturas e
produtos. Esta prática representa ganho ao município, referente à ampliada e
garantida possibilidade de comercialização, mas também representa e gera
problemas socioambientais, éticos e de saúde, como é o caso do fumo e da
celulose.
Tal mudança pressupõe, concomitantemente ao processo de ruptura com os
interesses supracitados, o fortalecimento da cultura local e a análise técnica crítica
sobre as possibilidades de desenvolvimento que a região natural ou potencialmente
possui, articulando setores e os diversos atores sociais dispostos a construí-la.
Como totalidade indivisível que a realidade social representa, o tema desta
pesquisa, que defende e propõe a necessidade de uma PMPMF, esclarece que
qualquer mudança não ocorre se o conjunto das relações sociais não sofrer
alterações. Retomando a contribuição de Marx (1982), anteriormente citada, de que
a essência e a totalidade da lógica das relações sociais capitalistas está contida em
cada fato e/ou fenômeno, demonstra-se que, se mudanças ainda não ocorreram,
além da Política de Saúde, deve-se problematizar o conjunto dos atores e das forças
em jogo no território.
Quais são as atividades prioritárias? Como estão estruturadas? Onde estão
os pontos inativos? Quem são os atores sociais? Quais são os dilemas e facilidades
existentes para a transição à necessária mudança? Estes são os tópicos detalhados
no capítulo de resultados da pesquisa.
51
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para estudar as ações desenvolvidas no município de Canoinhas sobre
Plantas Medicinais (PM) e suas orientações, que subsidiaram a proposição e
desenvolvimento de programas na área, realizou-se a pesquisa exploratória,
bibliográfica e documental. Também foi realizada pesquisa de campo, utilizando
questões semiestruturadas, aplicados a pessoas que tiveram atuação em PM no
município.
A definição pela abordagem qualitativa deveu-se ao interesse em aprofundar
os conhecimentos e os significados das ações praticadas pelos atores, não
perceptíveis por meio de equações, médias e estatísticas (MINAYO, 2003).
Os entrevistados foram escolhidos por sua relação direta com ações sobre
plantas medicinais no referido município. Por meio da abordagem qualitativa, a
escolha dos entrevistados foi realizada não tanto com relação à representatividade
numérica que possibilitasse a generalização dos conceitos teóricos (abordagem
quantitativa), mas considerando o aprofundamento e abrangência da compreensão
que refletisse a totalidade de suas múltiplas dimensões (MINAYO, 2004). Neste
caso, a autora recomenda que não se esgote o elenco de entrevistados antes que
se delineie o quadro empírico da pesquisa e que se permita “prever um processo de
inclusão progressiva encaminhada pelas descobertas de campo e seu confronto
com a teoria” (MINAYO, 2004).
Para a coleta de dados, optou-se pela realização de entrevistas individuais,
com apoio em roteiros semiestruturados (Apêndices B e C). Estes roteiros
envolveram questões previamente formuladas permitindo, porém, que o entrevistado
abordasse livremente o tema proposto, partindo das perguntas norteadoras
(MINAYO, 2003). Para o segundo grupo, questões fechadas complementaram os
dados da pesquisa. As entrevistas foram realizadas entre os meses de outubro e
dezembro de 2014.
Pelos levantamentos bibliográficos e documentais realizados, percebeu-se a
necessidade das entrevistas abrangerem não apenas a área da saúde, mas outras
de relevância para a implementação da cadeia de plantas medicinais no município,
como a de educação e o desenvolvimento rural, incluindo os agricultores familiares
52
que estiveram envolvidos em projetos de cultivo de plantas medicinais, bem como as
entidades vinculadas aos agricultores.
Para melhor relatar os dados encontrados, as amostras de entrevistados
foram classificadas em duas divisões principais. A pesquisa foi realizada com sete
participantes na amostra de articuladores (Grupo 1) e seis participantes na amostra
de agricultores (Grupo 2). O Quadro 2 faz uma breve exposição dos participantes,
com ocupação e profissão que exercem, conforme descrito pelos próprios
entrevistados.
Quadro 2 - Perfil dos entrevistados por grupo de amostragem
Grupo Cód. Área de correlação Ocupação Profissão / Formação
1 A Legislativo Vereador Agricultor 1 B Executivo – Saúde Gestor municipal Assistente Social 1 C Executivo - Educação Gestor municipal Professor 1 D Executivo - Agricultura Gestor municipal Gestor Público
1 e 2 E Agricultura Extensionista rural Engenheiro Agrônomo 1 F Saúde Gestor de saúde em UBS Enfermeiro
1 G Agricultura Gestor de instituição de extensão rural e pesquisa e ex-gestor municipal
Engenheiro Agrônomo
2 1 Agricultura Aposentado Agricultor 2 2 Agricultura Agricultor Agricultor 2 3 Agricultura Agricultora Agricultora 2 4 Agricultura Agricultor Agricultor 2 5 Agricultura Agricultor Agricultor
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
O primeiro grupo foi composto por atores municipais e pessoas estratégicas,
incluindo gestores do executivo municipal e pessoas ligadas a instituições com
atuação na área de PM. A amostra envolveu atores que eram citados em cada
entrevista, levando a uma nova entrevista. Buscou-se abranger as pessoas que
desencadearam as ações citadas que foram consideradas relevantes. Quando os
fatos e ações citadas começaram a se repetir e não adicionar fatos novos, optou-se
por encerrar as entrevistas.
O início da pesquisa com o Grupo 1 foi a Lei municipal 4.565/2010 (PMPMF).
O primeiro entrevistado faz parte do legislativo municipal e teve ligação direta com a
elaboração da referida lei. A partir desta entrevista, foram sendo delineados os
estudos de campo e definidas novas pessoas para compor a amostra.
Compuseram essa amostra, ainda, articuladores das principais áreas
abordadas nesta pesquisa e que também são responsáveis pelo maior número de
ações com PM que ocorreram na última década no município. Na área da saúde,
53
foram entrevistadas duas pessoas. Uma da área de gestão municipal, com mais de
dez anos de atuação nesta secretaria. A segunda foi responsável pelas decisões
dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS) em que desenvolvia sua função de
enfermeira. Foi citada, ao longo das entrevistas, por sua participação em cursos e
ações realizadas junto à comunidade.
Na área da agricultura, participaram três entrevistados. Um destes atua como
gestor municipal na administração atual. O segundo entrevistado, extensionista rural
na Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
(EPAGRI), foi citado pelos entrevistados por sua atuação junto aos agricultores
familiares que realizaram experiência de cultivo e comercialização de PM,
contribuindo com outras ações que ocorreram neste sentido no município. O terceiro
entrevistado teve atuação como gestor municipal ao longo da última década e
atualmente é gestor em uma instituição estadual, voltada à extensão rural e
pesquisa agropecuária.
Além das áreas da saúde e agricultura, principal foco de investigação deste
trabalho, foram encontrados trabalhos com PM na área de educação do município.
Por este motivo, decidiu-se incluir um gestor municipal desta área no Grupo 1.
A segunda amostra (Grupo 2) foi composta por famílias de agricultores
pertencentes à comunidade de Matão, situada na região Norte do município (Mapa
1) que formaram um grupo de cultivo e comercialização de PM, intitulado Grupo
Nova Esperança. Apenas as famílias que participaram do grupo e chegaram a
comercializar as plantas medicinais por meio dele fizeram parte da amostragem. A
não participação no grupo até o momento da comercialização foi o fator de exclusão.
Cinco famílias compuseram essa amostra. Além destes, foi incluído no Grupo 2 o
mesmo extensionista rural que fez parte da amostra de articuladores, por ter
acompanhado a implantação e evolução do grupo durante quase todo o período de
atividade do mesmo.
Apenas um participante de cada família de agricultores respondeu ao
questionário quantitativo. A própria família escolheu seu representante. Entretanto,
as entrevistas foram acompanhadas e tiveram a participação de todos os envolvidos
no processo que se fizeram presentes no momento da coleta dos dados. Para
melhor apresentação dos dados do Grupo 2, os relatos dos agricultores são
apresentados com um termo descritor seguido do código estabelecido para cada
54
entrevista, variando de 1 a 5. Os termos descritores utilizados foram: agricultor(a),
família do agricultor, esposa(o) do(a) agricultor(a), propriedade, propriedade do(a)
agricultor(a).
Mapa 1 - Localização da Comunidade de Matão, no Município de Canoinhas (SC)
Fonte: Heloísa Dias Fuck (2014)
Localização do Município de Canoinhas / Matão
55
Relacionou-se o perfil das propriedades e famílias que lá vivem ao acesso
que as famílias têm às PP da agricultura familiar e PM. Procurou-se obter, ainda,
informações relevantes sobre a experiência de cultivar plantas medicinais, os
ganhos e perdas que ocorreram, o que precisa ser superado para que as PM
possam fazer parte do rol de produtos em que estes se dedicariam e investiriam seu
tempo.
Foram extraídas das entrevistas informações relevantes aos objetivos desta
pesquisa. Quando transcritas fidedignamente partes das entrevistas, as falas dos
entrevistados encontram-se destacadas.
Os sujeitos do estudo, após informados sobre o projeto, concordaram em
participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (Apêndice A). Após o consentimento formal dos sujeitos da pesquisa, as
entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra. Em relação ao
instrumento de registro, consideraram-se as contribuições de Queiroz (1991) sobre o
gravador, assim como as reflexões que fez sobre a sistematização do material
colhido, a transcrição e análise dos documentos e a arte contida na divisão das falas
e na construção final de um texto unificado sobre elas.
A partir da audição e leitura das entrevistas, a análise do contexto foi
realizada, buscando identificar aspectos significativos da temática, consensos e
dissensos entre os entrevistados. Os dados quantitativos auxiliaram na construção
de um perfil dos entrevistados, tornando possível a análise adequada das respostas
qualitativas obtidas.
O capítulo 4, no qual são abordados os resultados da pesquisa, foi construído
utilizando estilo redacional narrativo, a partir das questões que mais se repetiram
nos relatos dos entrevistados. Resguardou-se a identidade de cada entrevistado.
Nem todas as considerações e conclusões tecidas ao longo do texto depreendem-se
das falas dos entrevistados, mas também das observações efetuadas em campo
(falas descontinuadas, informações gestuais, não ditos) e de considerações tecidas
pelos próprios entrevistados quando, ao final das entrevistas, o gravador era
desligado.
As observações realizadas no momento das entrevistas, igualmente, foram
registradas em instrumento próprio (diário de campo), fomentando conexões teóricas
sobre o tema.
56
A análise que se buscou construir tem a pretensão de alcançar a totalidade
dos fatos e acontecimentos. As falas dos entrevistados não foram consideradas
isoladas do contexto e do lócus social por eles ocupado – e este não foi analisado
de maneira independente da realidade na qual estão inseridos – o município de
Canoinhas (SC).
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DA PESQUISA
A presente pesquisa, realizada para a elaboração desta dissertação, limitou-
se a Canoinhas (SC) por ser o único município do Planalto Norte Catarinense a
apresentar Lei aprovada sobre plantas medicinais.
Canoinhas é um dos catorze municípios da região do Planalto Norte de Santa
Catarina (Mapa 2). Está situado a 26º10'38" Sul e 50º23'24" Oeste de Greenwich e
apresenta altitude média de 765 metros acima do nível do mar. Limita-se ao norte
com o estado do Paraná (municípios de São Mateus do Sul, Paulo Freitas e Paulo
de Frontin), ao sul com os municípios de Major Vieira e Timbó Grande, a oeste com
Irineópolis e ao leste com os municípios de Três Barras, Major Vieira e Bela Vista do
Toldo (TOKARSKI, 2001).
De acordo com a divisão política estadual, o município é sede da 26ª
Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) de Santa Catarina, composta por
mais cinco municípios (Bela Vista do Toldo, Irineópolis, Major Vieira, Porto União e
Três Barras). Pertence, ainda, ao arranjo da Associação dos Municípios do Planalto
Norte Catarinense (AMPLANORTE), juntamente com os municípios da 26ª SDR,
além de outros quatro (Itaiópolis, Mafra, Monte Castelo, Papanduva). Esta
associação se sobrepõe à atuação da Associação dos Municípios da Região do
Contestado (AMURC) na qual Canoinhas também está inserida em posição
geográfica estratégica.
57
Mapa 2 – Localização do Planalto Norte Catarinense e do município de Canoinhas (SC)
Fonte: Heloísa Dias Fuck (2015)
O território que compreende o município de Canoinhas (SC) apresenta clima
temperado mesotérmico úmido, com temperatura média anual de 17°C (TOKARSKI,
2001). Segundo estimativas do IBGE, o município de Canoinhas conta com uma
população de 54.079 habitantes (IBGE, 2014), com predominância urbana (cerca de
74%) e densidade demográfica de 47,4 habitantes por Km2, em uma área territorial
de 1.140,395 Km2 (IBGE, 2010).
Canoinhas está inserida no bioma Mata Atlântica, com formação florestal
nativa predominante da Floresta Ombrófila Mista (FOM), também conhecida como
58
Mata de Araucárias. A cobertura original já foi amplamente suprimida devido aos
ciclos econômicos da madeira e erva mate, associados ao extrativismo. Restam,
atualmente, menos de 20% da cobertura original (SCHAFFER & PROCHNOW,
2002). A presença de erva mate e do pinheiro araucária (Araucaria augustifólia)
despertaram a cobiça dos colonizadores desde o final do século XIX. A exploração
vegetal foi o principal fator do ciclo econômico regional até a década de 1930
(MARCHESAN, 2013).
As áreas que sofreram a retirada das florestas nativas foram reflorestadas,
em sua maioria, com espécies exógenas de aplicação econômica, como o pinus ou
pinheiro-americano (Pinus elliiotti) e eucalipto (Eucalyptus globulus Labill). Segundo
Marchesan (2013), a opção por espécies exógenas para o reflorestamento está
firmada em parâmetros economicistas e utilitaristas, devido à demanda de mercado,
a exemplo da racionalidade técnica instrumental. Em um período de dez a quinze
anos, estas espécies já estão prontas para o corte, fato que significa alta
produtividade em reduzido tempo e espaço. Desta forma, oferecem lucros
significativos de forma rápida. De maneira geral, há predomínio destas monoculturas
florestais em grandes propriedades. Porém, em algumas pequenas propriedades
(até 25 ha), isto também já é realidade.
A motivação para a investigação sobre este município, além do protagonismo
que ele representa na região frente à normatização das PM, deu-se a partir da
constatação de que os tratamentos com plantas medicinais e fitoterápicos são
aceitos pela população. Fazem parte da cultura brasileira e regional, apresentam
legislação específica e são uma proposta concreta para o SUS rumo a um modelo
de saúde integrador e inclusivo. Além disso, as plantas medicinais permitem
aproveitamento nas propriedades e agroindústrias familiares, possuem alto valor
agregado de comercialização e, de acordo com a Federação das Indústrias do
Estado de Santa Catarina (FIESC, 2013), figuram entre os “setores portadores de
futuro” para a mesorregião Norte de Santa Catarina.
59
4 A PESQUISA DE CAMPO: RESULTADOS E ANÁLISES
Neste capítulo, fez-se a apresentação e análise dos dados da pesquisa e
seus desdobramentos de forma a dialogar com o referencial teórico.
O capítulo foi separado em duas partes. A primeira – Plantas medicinais e
ações desenvolvidas no município de Canoinhas (SC) – apresenta os dados da
pesquisa realizada com o Grupo 1 e a cronologia das ações realizadas com PM que
permeiam os últimos dez anos no município. A segunda parte – Grupo Nova
Esperança: antes, durante e depois da experiência com plantas medicinais –
relata a pesquisa com o Grupo 2, isto é, de agricultores, como o grupo se formou,
quais eram suas expectativas e qual sua visão sobre as PM como alternativa para a
pequena propriedade da agricultura familiar.
4.1 PLANTAS MEDICINAIS E AÇÕES DESENVOLVIDAS NO MUNICÍPIO
DE CANOINHAS (SC)
No âmbito da gestão, a pesquisa procurou saber o que os entrevistados
conhecem e percebem das políticas e ações com plantas medicinais, tanto no
âmbito do trabalho que desenvolvem quanto para o município de Canoinhas.
Buscou-se investigar quais limitações são percebidas e precisam ser superadas
para o avanço das práticas com as PM e quais as possibilidades existentes. Durante
o processo de investigação, foram descobertas as ações realizadas nas áreas da
saúde, agricultura e educação, fato que permitiu traçar um histórico dos
acontecimentos recentes sobre as PM no município.
O conhecimento quanto à existência de políticas públicas voltadas ao tema
PM revelou-se superficial no Grupo 1, sem conhecer ou dominar o conteúdo dos
documentos em questão. O entrevistado B, da área da saúde, afirmou ter
“conhecimento das portarias interministeriais que instituem o uso de plantas
bioativas no SUS”. O contato dos gestores com as PP, em quase todos os casos,
ocorreu por tomarem conhecimento das experiências de outros municípios, nos
estados de Santa Catarina e do Paraná. Citaram as experiências de Curitiba (PR) e
Balneário Camboriú (SC). No ano de 2005, gestores municipais da área da saúde,
meio ambiente e desenvolvimento rural verificaram in loco a experiência deste último
60
município, tendo sido este projeto a base para algumas ações que ocorreram na
sequência.
O entrevistado F, da área da saúde, afirmou ter conhecido as PP no curso que
participou, intitulado Escola de Formação em Ervas Medicinais (detalhes sobre o
curso são fornecidos na sequência), no qual um dos professores apresentou as
PNPMF, PNPIC e as plantas que poderiam ser trabalhadas no SUS.
Acerca da importância das plantas medicinais para o município de Canoinhas
e das possibilidades que elas representam em vistas ao desenvolvimento, todos os
entrevistados julgam ser uma área relevante. Ao implantar uma política efetiva de
PM, segundo eles, o município obteria ganhos econômicos, culturais e em saúde
pública. Foram citados ainda o baixo custo de implantação, a interdisciplinaridade de
abordagem, a pré-disponibilidade devido ao fator cultural e as parcerias.
O representante do legislativo entrevistado afirmou que a possibilidade de
diminuição do consumo de medicamentos alopáticos e, conforme suas palavras,
“fazer um contraponto à indústria da doença” foi um dos motivos que o levaram a
pensar em um programa de PM. Em sua concepção, tal “indústria” envolve o
tratamento compartimentalizado focado em sintomas, visando lucros econômicos e
não primeiramente à saúde. Também foi citado por este, pelo extensionista rural e
pela enfermeira entrevistados, a questão cultural que está permeada nos usos
regionais, sendo que o legislador citou que sua mãe “era curandeira e descendente
de índio”. Acrescentou ainda sobre a questão cultural:
[...] está muito presente nos índios, nos caboclos esta questão da cura pelas ervas e a gente cresceu vendo a mãe fazer toda aquela farmácia no quintal. Chazinho pra cá, chazinho pra lá. As crianças iam lá receber remédio, e ela era meio parteira também.
A saúde foi citada por todos os entrevistados como sendo a principal
beneficiada. As PM contribuiriam, segundo eles, como uma alternativa de tratamento
viável economicamente e que teria de fácil aceitação pela população que já faz uso
caseiro de plantas para tratar problemas de saúde. Conforme a enfermeira que
atuou na equipe de saúde da família:
[...] eu não tiro a necessidade de medicamentos sintéticos. [...] mas eu acho que ela [fitoterapia] melhora a qualidade de vida, ela tem menos efeitos colaterais, até a possibilidade de acesso [é melhor],
61
diminuir a questão do custo. Acho que é uma reestruturação. Não é retroceder, é avançar.
Ainda com relação à saúde, a entrevistada citou a importância de ser
realizado um trabalho de educação, não somente com as equipes de trabalho, mas
com a população. Segundo ela, a população está cada vez mais habituada a usar os
medicamentos convencionais, que já estão prontos. Esta facilidade, juntamente com
a maior necessidade de preparo das PM para uso, requer um investimento em
resgate cultural e educação para o uso racional das PM.
Sobre a questão de capacitação e educação para concretizacão da PNPMF
como alternativa de tratamento de saúde no município, é fundamental que, ao
implantá-la, as equipes de saúde sejam capacitadas continuamente para prescrição,
dispensação, orientação aos usuários, entre outras competências necessárias para
que a política prospere. Também é pertinente que na implantação da política
municipal de PM, o mesmo empenho seja feito com treinamento sobre objetivos,
metas e execução do projeto. Demonstrar, aos gestores das equipes de saúde, a
importância e benefícios decorrentes da execução da política, dão respaldo e
adesão à política, favorecendo sua continuidade. Sobre o assunto, o gestor de
saúde apontou:
Aqui em Santa Catarina não tivemos treinamento, ainda, que fôssemos convidados para tal. Mas eu lhe digo que se nós estudarmos as portarias, não precisa nem de muito treinamento.
Vale ressaltar, novamente, que apenas em 2010 o município de Canoinhas
aprovou a Lei 4.565 – PMPMF, em conformidade com o Programa Nacional de PMF.
O programa engloba, dentre outras, diretrizes para a saúde e para a agricultura.
Para que possa tomar as proporções de uma política de governo e gere resultados,
precisa ser objeto de planejamento dos setores afins, de forma que permita ser
posto em prática e gerenciado, a fim de ser aprimorado de forma contínua, com um
ou alguns responsáveis por estas ações.
A aprovação da referida lei aconteceu após várias outras ações terem sido
realizadas em âmbito municipal, desde 2005. Quase simultaneamente, houve ações
com PM comandadas pelas secretarias de saúde, agricultura e educação, como
demonstra o Quadro 3. Embora possam passar a impressão inicial de um
62
desencadeamento em sequência, estas ações não foram oportunizadas como parte
de um planejamento integrado, pertencentes a um objetivo maior.
A respeito de planejamento, anteriormente à aprovação do Programa
Municipal de PMF, as PM foram contempladas no Plano Municipal de
Desenvolvimento Rural Sustentável (PMDRS). O PMDRS foi elaborado entre julho e
agosto de 2005 pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Agropecuário, com
apoio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e do escritório municipal da
EPAGRI, vigorando desde então, e lançado oficialmente em 2007.
Quadro 3 – Principais Ações Institucionais com Plantas Medicinais no Município de Canoinhas (SC) no Período de 2005 a 2015
Data Ação
2005
Março Instituição do Projeto Interdisciplinar de Educação no Campo
Julho Marco inicial do planejamento – PMDRS
Agosto I seminário de Plantas Bioativas do Planalto Norte SC
2006
Março Inauguração do Complexo de Plantas Bioativas
Julho Primeira versão do documento que rege o Programa de Plantas Bioativas Municipal
Setembro I Seminário Regional “Fortalecimento da Cadeia de Plantas Bioativas no Planalto Norte Catarinense”
2009
2009 Programa de Plantas Bioativas passa a ser denominado Campo de Laborterapia do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
Junho/2009 Dia de Campo em Itajaí com participação do Grupo Nova Esperança e trabalhos canoinhenses da Educação no Campo
2010 Julho/2010 Instituída Lei 4.565 – Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos “Vitalina de Lima”
2011 Abril/2011 II Seminário de Ervas Medicinais
2012 Abril/2012 Formatura de 32 alunos da Escola de Formação em Plantas
Medicinais (56 horas)
Abril/2012 Palestra com o tema “Ervas Medicinais” na UBS COHAB I
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
O PMDRS apresenta um diagnóstico do meio rural do município e aponta
necessidades, problemas e potencialidades. Descreve cada tema abordado, com a
composição das comissões, objetivos geral e específicos e tabelas com a definição
de ações por grupo temático, para dar encaminhamento à retomada do
desenvolvimento rural, pautado na sustentabilidade das ações. As comissões
elegeram ações de curto e médio prazo - previstas para acontecerem no período de
2005 a 2008 - e de longo prazo, para além de 2008 (CANOINHAS, 2007).
63
Na relação de programas e projetos do referido plano, encontra-se a
Comissão de Alternativas para a Agricultura. Criar condições para permanência do
homem no campo, buscando novas alternativas de renda para as pequenas e
médias propriedades, visando diversificar o cultivo nas propriedades baseadas na
monocultura do fumo, é o objetivo da comissão. Dentre as alternativas apontadas
nos objetivos específicos, encontram-se as plantas medicinais, referidas no plano
como bioativas (CANOINHAS, 2007).
O plano de ação com propostas relacionadas às plantas bioativas
contemplou: a) a formação de associações em comunidades de agricultores e a
organização da cadeia produtiva, em curto prazo; b) a capacitação de produtores, a
organização das redes de comercialização, a construção de estufas, em médio
prazo, e; c) a expansão do número de produtores no município, em longo prazo
(CANOINHAS, 2007).
Embora consideradas no PMDRS, ações decorrentes não geraram uma
proposta concreta com PM que as incluíssem com continuidade no setor. Há que se
destacar que ocorreram desdobramentos do PMDRS, gerando ações com PM na
área agrícola do município. Dentre elas, a formação do Grupo Nova Esperança
(detalhes do grupo são fornecidos no item 4.2), em uma iniciativa da comunidade de
Matão em conjunto com a EPAGRI, por meio do projeto Microbacias II, fomentado
pelo governo do estado de SC até o ano de 2009, com a capacitação dos
produtores.
Diferentes capacitações também ocorreram de forma mais abrangente, em
conjunto com outras secretarias. Destacam-se a realização de seminários que
contaram com diversos apoiadores e permitiram o aprofundamento do debate sobre
as PM entre os participantes.
O I Seminário de Plantas Bioativas do Planalto Norte de Santa Catarina
ocorreu em 05 de agosto de 2005, realizado pela Prefeitura Municipal de Canoinhas
com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Rural, do Fórum dos Secretários da
Agricultura do Planalto Norte Catarinense e da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). Foram abordados temas que abrangeram a identificação,
etnobotânica, produção de mudas, pesquisa, legislação e experiências no serviço
público de saúde com plantas medicinais, envolvendo palestrantes das esferas
pública e privada. Oficinas de trabalho também fizeram parte deste seminário, que
64
teve participação de aproximadamente 250 pessoas21. Seis anos se passaram entre
o primeiro e o segundo seminário. Neste período, ocorreram outras ações no âmbito
municipal.
Com pouco mais de um ano de intervalo, em 13 de setembro de 2006 foi
realizado outro evento – Seminário Regional “Fortalecimento da Cadeia Produtiva de
Plantas Bioativas no Planalto Norte Catarinense”. Foi organizado pelos escritórios de
negócios de Campinas (SP) e Canoinhas (SC) da Embrapa Transferência de
Tecnologia, em parceria com a EPAGRI e com o apoio da Prefeitura municipal de
Canoinhas, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Bento do Sul e
Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA). Este
seminário teve como principal foco a troca de informações e experiências entre
produtores, cooperativas, empresa e institutos de pesquisa. Estes temas foram
abordados durante o evento, que contou com a participação de cerca de 200
pessoas22, dentre as quais estavam agricultores do Grupo Nova Esperança.
Não só em caráter didático, mas também comercial, em 03 de junho de 2009,
a Secretaria do Estado de Agricultura e a EPAGRI promoveram um Dia de Campo
de Plantas Bioativas, sediado em Itajaí (SC). Com o objetivo de reunir os trabalhos
que vinham sendo realizados com PM no estado em todos os âmbitos, propiciou a
aproximação entre os elos da cadeia de PM. O município de Canoinhas foi
representado no evento pelos trabalhos da Educação do Campo23, com a
demonstração de seus projetos e uma comitiva do Grupo Nova Esperança, com os
produtos comercializados pelo mesmo. No evento, o grupo fez contatos comerciais e
trocou informações com outros produtores de PM.
Sobre a participação dos agricultores do Grupo Nova Esperança nos eventos
e capacitações apontados, percebe-se o intento e empenho para viabilizar a
capacitação dos produtores e a comercialização dos produtos, conforme metas do
PMDRS.
Em 2010, realizou-se no município um curso sobre PM, que foi denominado
Escola de Formação em Ervas Medicinais. Segundo o legislador entrevistado,
responsável pela iniciativa e organização deste curso, a escola foi proposta como
21
1o. Seminário de Plantas Bioativas reuniu mais de 250 pessoas. In: http://www.portaldecanoinhas.com.br/noticias/1447 22
Canoinhas sediou Seminário Regional sobre Plantas Bioativas. In: http://www.portaldecanoinhas.com.br/noticias/3834 SANTA Catarina (2006). 23
Ver dados sobre a Educação do Campo na página 71.
65
forma de dar início à implantação da lei 4.565 – PMPMF “Vitalina de Lima”, tendo
como objetivos a capacitação da comunidade para a produção, manipulação e uso
correto e seguro das plantas medicinais. As vagas foram oferecidas a pessoas
ligadas às PM em Canoinhas e região, dentre as quais, representantes da saúde do
município, indicados pela secretaria de saúde. Deste setor-chave, participaram
efetivamente três pessoas das equipes de saúde do município de Canoinhas – uma
delas, a enfermeira que participou desta pesquisa. Também participaram do curso
representantes dos assentamentos da Reforma Agrária Mimo - do município de
Irineópolis - e Terra Livre, de Canoinhas; representantes da Pastoral da Saúde de
Canoinhas, uma técnica agroecológica e alguns agricultores. O curso teve 56 horas
de duração, contou com professores com diferentes enfoques e formou 32 pessoas.
Já em 2011, foi realizado o II Seminário de Ervas Medicinais, no pavilhão da
Igreja São Francisco, no bairro Campo da Água Verde. No evento, foram expostas
experiências bem sucedidas realizadas pela prefeitura de Araquari, pela Pastoral da
Saúde e pelo Centro de Atenção Psicosocial (CAPS) de Canoinhas, bem como a lei
que institui o PMPMF “Vitalina de Lima”; também foram definidas parcerias e início
da implantação do programa.
No que tange à esfera municipal, não existia um plano orçamentário com uma
rubrica específica para a realização das ações com as PM citadas; mas, segundo o
ex-gestor da agricultura entrevistado, que participou do planejamento e execução
destas ações, “existia a rubrica de apoio a pequenos agricultores, de onde saíam os
recursos para ações nesta área”. Atualmente, não há nenhuma ação ou
planejamento com PM por parte da iniciativa pública no município de Canoinhas.
O entrevistado da atual gestão municipal na área da agricultura corrobora
com a assertiva de que as PM podem ser uma opção viável para o desenvolvimento
do município. Esse entrevistado afirmou que existe a intenção de incluir as PM no
planejamento, pelos seus benefícios à saúde e como alternativa para agricultura
familiar, mas a ideia ainda está sendo pensada entre as secretarias de agricultura e
saúde. Reiterou não haver plano orçamentário para as PM e que as mesmas não
entraram em nenhum planejamento recente. Afirmou também que entre os
agricultores familiares, a monocultura do tabaco ainda é a primeira escolha, cabendo
ao município oferecer o revés para a transição. Segundo o entrevistado, dentre as
66
alternativas que vêm sendo trabalhadas com estas famílias estão a piscicultura, a
horticultura e a fruticultura. As ervas medicinais seriam mais uma opção:
Preparando o produtor, tem campo. Porque a gente tem conhecimento de cidades onde exploram bem mais a medicina natural. Eu vejo que Canoinhas tem potencial, tem terreno pra isso, tem pessoas pra fazer isso. Então, agora cabe a nós montar um projeto, um plano, e dar sequência.
Retrocedendo no tempo e voltando o olhar mais para a área da saúde,
realizaram-se ações contempladas no projeto intitulado Programa Municipal de
Plantas Bioativas. Iniciado em março de 2006 e concretizado na forma do Complexo
de Plantas Bioativas, contou com a parceria de outras secretarias e instituições.
Segundo a pessoa da secretaria de saúde entrevistada para esta pesquisa, o projeto
foi idealizado em moldes similares ao vislumbrado no município de Balneário
Camboriú, após uma comitiva municipal conhecer a experiência daquele município.
Para início das atividades, contou com a consultoria de um participante do projeto
neste município (Prof. Lobato). De acordo com o Portal do Cidadão24, neste mesmo
ano, foram empregados vinte e três mil reais com a contratação de pessoa (Carmen
Maria Ribas) para prestação de serviços de assessoria, capacitação para produção,
manipulação e controle de qualidade de plantas bioativas no laboratório municipal.
O Complexo de Plantas Bioativas foi instalado no Parque Municipal de
Exposições Ouro Verde, às margens da BR 280, no bairro Piedade. Era composto, à
época, por um horto medicinal e uma construção em alvenaria, denominada de
“Laboratório de Manipulação” onde, após a coleta das plantas, eram realizadas as
operações de higienização, seleção, secagem, processamento e embalagem das
plantas e onde também eram produzidos xaropes, sabonetes, loção capilar. No
decorrer da pesquisa, um dos entrevistados apresentou a primeira versão do
documento (CANOINHAS, 2006). Segundo consta no documento, as plantas do
programa foram selecionadas:
[...] baseando-se em estudo realizados pelas farmacêuticas da SMS, buscando-se utilizar plantas com estudos científicos, que assegurem sua eficácia e ausência de toxicidade e que possuam a agrologia compatível com a região, e também considerando o perfil epidemiológico da população.
24
Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (2006).
67
O objetivo geral do projeto, segundo o documento, era “garantir à população
canoinhense o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicas,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia
produtiva e indústria”. É pertinente explicitar, ainda, os objetivos específicos do
projeto que constam no documento:
- Ampliar as opções terapêuticas aos usuários, com garantia de acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados a fitoterapia, com segurança, eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde, considerando o conhecimento tradicional e científico sobre plantas medicinais; - Estabelecer estratégias para produção, distribuição e uso de plantas medicinais e fitoterápicos a partir dos modelos e experiências existentes no Brasil e em outros países; - Promover pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e inovações em plantas medicinais e fitoterápicos, utilizando plantas da região. - Estimular a agricultura familiar, com a produção de plantas como forma de renda. - Investigar os conhecimentos que a população do Município de
Canoinhas têm a respeito das plantas medicinais (CANOINHAS, 2006).
Segundo palavras do gestor da secretaria de saúde, “o programa se acabou
por falta de atuação das parcerias”. Percebe-se a ampla abrangência do projeto
proposto. O planejamento, porém, não amarrou as parcerias em um sentido comum,
nem estabeleceu ações sequenciais específicas com respectivos responsáveis para
atingir os objetivos propostos, o que pode ter contribuído para a descontinuidade do
programa. As primeiras ações descontinuadas foram a fabricação e a distribuição de
manipulados, pois o local onde eram realizadas as manipulações necessitava de
ajustes para entrar em conformidade com a legislação em vigor. Além disso, como
não foi nomeado um responsável técnico, não poderia caracterizar um laboratório
com manipulação de produtos. Foram mantidos o horto, secagem e distribuição de
chás em saquinhos com as plantas “a granel”.
Percebe-se que, ao colocar em prática o Projeto Plantas Bioativas, as ações
não contemplaram o treinamento sistemático e contínuo das equipes. As decisões
foram tomadas no âmbito da gestão, centralizadas na secretaria de saúde, sem o
envolvimento ativo dos gestores das UBS que seriam contempladas com o projeto, o
que também pode ter contribuído para sua descontinuidade.
A implantação do Programa de Plantas Bioativas, a exemplo de outras ações
com as PM no município, sofreu execução desarticulada. Verificou-se que uma das
68
metas propostas no projeto era a “Implantação dos serviços de FITOTERAPIA (grifo
no original) em todas as unidades de Saúde do Município de Canoinhas, por meio
da capacitação dos profissionais de saúde e acadêmicos da UnC-Canoinhas”. As
capacitações ocorridas no período de funcionamento do programa, catalogadas com
base nas entrevistas e referências, foram seminários de abordagem multidisciplinar,
abertos à população em geral, com enfoque tanto em saúde quanto em agricultura.
Na tentativa de manter o projeto em andamento, a secretaria de saúde atuou
em conjunto com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município, já não
contando com outras parcerias. Em meados de 2009, o horto medicinal passou a ser
utilizado como espaço para laborterapia, em que os pacientes do CAPS, com
capacidade para tal, faziam a manutenção dos canteiros. No ano de 2010,
esporadicamente havia distribuição dos chás, segundo o relato da enfermeira
entrevistada: “um dia chegaram uns pacotinhos pra deixar numa cesta pro pessoal
pegar”.
O Curso de Formação em Ervas Medicinais, já mencionado anteriormente,
ocorreu na fase final de vigência do projeto de Bioativas. A enfermeira entrevistada,
que participou do curso, relatou que a estrutura e os conhecimentos foram
adequados e proveitosos, mas poderiam ter sido mais bem aproveitados: “éramos
três ou quatro equipes de saúde da família [no município,] na época e nós éramos a
única [equipe] que estava lá e concluiu”.
Ainda a respeito das equipes de saúde, há que se considerar a aptidão para
trabalhar com PM. Como já foi escrito anteriormente, os profissionais da área da
saúde, em sua maioria, não possuem formação voltada para o conhecimento e a
valorização das PM. A racionalidade técnica presente no escopo das grades
curriculares dos cursos de saúde diminui o espaço dos métodos tradicionais e
chamados alternativos, que acabam por ser suprimidos da grade ou condensados
em pequenas pinceladas dentro de disciplinas afins. É o caso do curso de Farmácia
oferecido pela UnC, campus Canoinhas que, apesar de apresentar as PM como
tema de pesquisas e contemplar sua aprendizagem pontuadamente em algumas
disciplinas obrigatórias, não apresenta uma disciplina exclusiva para capacitar seus
alunos à atuarem com PM, acompanhando o que se vê em outros cursos
semelhantes.
69
Para que projetos desta magnitude ganhem adeptos, muito pode ser sanado
com treinamentos bem planejados, explicitando os meandros e delineamentos do
projeto e a importância do mesmo para a saúde pública e para a população. Estas
assertivas se confirmam no discurso da entrevistada com atuação na equipe de
saúde da família, que ressalta que seu trabalho com PM não ganhou o espaço que
poderia ter alcançado pela baixa adesão de alguns profissionais, ao uso e à
prescrição de PM e fitoterápicos, até mesmo em decorrência da formação destes
profissionais que não era voltada para a aplicação destes recursos: “por mais que
todos estes trabalhos aconteciam dentro da nossa unidade de saúde, o próprio
médico, ele não era contra, ele não dizia eu não vou fazer, mas ele [demonstrava
que] não estava ali pra isso”.
A propósito do treinamento das equipes de saúde, percebe-se que não
sofriam constante repasse de informações sobre o projeto e seus objetivos. A
enfermeira entrevistada relata que trabalhos foram realizados na UBS em que esta
trabalhava, por iniciativa própria. A ideia surgiu após a participação no curso de
formação e ganhou força por uma questão cultural. Juntamente com as outras duas
participantes da escola de formação que compunham sua equipe na UBS, iniciaram
a elaboração de material que serviria como base para a implantação de um horto
medicinal na mesma, e para a orientação dos usuários. Concomitantemente,
organizaram e realizaram um evento no dia mundial da saúde – 07 de abril de 2011.
Os participantes assistiram à palestra sobre o tema e mudas de medicinais foram
entregues às famílias abrangidas pela UBS e para os demais interessados
presentes ao evento, o que gerou resposta positiva por parte da comunidade.
O material didático não foi concluído, principalmente devido à saída da
enfermeira do quadro de servidores municipais, que implica na rotatividade de
profissionais que devem ser constantemente preparados sobre as políticas que o
município deseja que prevaleçam à população.
Confirmando a desarticulação das ações entre gestão e equipes de saúde,
nem todos os servidores das equipes de saúde da família possuíam conhecimento
sobre o Complexo de Plantas Bioativas, existente à época no município e as ações
lá realizadas. A mesma entrevistada relata:
[...] eu não sabia que isso [Complexo de Plantas Bioativas no Parque de Exposições Ouro Verde] existia. Fiquei conhecendo esta estrutura
70
através do curso de formação. (...) que o objetivo era conhecer a Farmácia Viva lá em Florianópolis com o professor Alécio. Mas daí a gente acabou indo aqui. Por uma questão de deslocamento nós acabamos visitando esta estrutura que eles tinham.
Faz-se pertinente, ainda, registrar que o Plano Municipal de Saúde para o
Quadriênio 2010-2013 (PMS 2010-2013) contemplou as plantas medicinais no seu
quadro de metas, conforme transcrito do documento para o Quadro 4
(CANOINHAS, 2010).
No PMS 2010-2013 consta também o Laboratório de Plantas Bioativas como
parte da Infraestrutura da Secretaria Municipal de Saúde.
Quadro 4 – Metas da Secretaria Municipal de Saúde de Canoinhas (SC) – Quadriênio 2010 a 2013 –
Complexo de Plantas Bioativas
ESTRATÉGIAS / AÇÕES INDICADORES METAS PERÍODO
1 Firmar parcerias com Sec. De
Agricultura, Sec, Meio Ambiente e EPAGRI
Cooperacao interinstitucional
Todos os parceiros envolvidos no projeto
2010/2013
2 Definição de responsável técnico
pelo programa municipal de Plantas Bioativas
Responsável Técnico nomeado
Indicar responsável técnico
2010
3 Definição de responsável pelo viveiro
de plantas bioativas Jardineiro nomeado
Nomear jardineiro, através do concurso
público 2010
4
Educação em saúde voltada ao uso adequado das plantas medicinais
pela população, através da promoção de cursos, seminários, confecção e
distribuição de materiais educativos e de divulgação
Cursos, seminários, materiais educativos
Realizar atividades educativas para
população 2010/2011
5 Educação continuada para
profissionais de saúde Curso de fitoterapia
realizado
Realizar curso de fitoterapia
2010/2013
6 Revisar projeto inicial, atualizando-o Projeto atualizado
Equipe multiprofissional
empenhada no serviço 2010/2011
7 Implantação de farmácia de manipulação de fitoterápicos
Farmácia de manipulação implantada
Implantar farmácia de manipulação de
fitoterápicos 2010/2011
8 Implantação de serviços de
fitoterapia em todas as unidades de saúde
Serviço de fitoterapia nas
unidades de saúde
Implantar serviço de fitoterapia nas
unidades de saúde 2011/2012
Fonte: adaptado de Plano Municipal de Saúde para o Quadriênio 2010-2013 (2010).
Em suma, as investidas da secretaria de saúde para com a inclusão das PM
no rol de tratamentos ofertados na atenção primária à saúde do município incluíram
a criação de um programa com manipulação e dispensação de PM (nele referidas
como bioativas), contribuições em seminários e outras capacitações de âmbito
municipal e regional, além do desejo de articulação com outros setores do município
e instituições afins. Porém, não foram encontrados dados que comprovassem que a
71
implementação de políticas públicas com PM tenha apresentado um planejamento
articulado que a colocasse na pauta de prioridades do setor de saúde para a
população de Canoinhas (SC).
No âmbito educacional do referido município, também contemplada em 2005
no PMDRS, foram encontradas ações considerando as plantas medicinais tanto na
educação regular, quanto na educação do campo.
A educação do campo teve, como marco nas políticas públicas brasileiras
vinculadas ao Ministério da Educação (MEC), a aprovação conjunta da Resolução
001/2002 – Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo,
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e Coordenação de Educação Básica
(CEB). O documento define a identidade da escola do campo, assim ancorada:
[...] pela vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciências e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no País. (MEC, 2002, p. 37).
Nesse sentido, a escola pode representar um lugar privilegiado para a
formação de conhecimento, cultura, identidades e valores (ARROYO; CALDART;
MOLINA, 2004).
O Projeto de Educação do Campo do município de Canoinhas foi apresentado
pela Secretaria Municipal de Educação e Secretaria de Desenvolvimento Rural ao
Conselho Municipal de Educação em dezembro de 2005. Após sua aprovação,
passou a vigorar em 2006. Dentre os eixos norteadores da Educação do Campo,
estão as hortas, pomares e jardins, inclusos no Projeto Interdisciplinar trabalhado em
contraturno nas escolas do campo, desde 2006, até os dias atuais (CANOINHAS,
2007b).
A Educação do Campo representa uma oportunidade de inserir a educação
no contexto do cotidiano dos alunos do meio rural. Nesse processo de trabalho,
segundo Blaka (2010), os alunos se mostram mais interessados, melhorando o
aproveitamento educacional e reduzindo os índices de faltas.
Neste contexto, no município, as PM são trabalhadas inseridas nas hortas,
muitas vezes no formato de mandalas ou no formato de “relógio do corpo humano”.
Segundo a gestora em educação entrevistada, o relógio é um modelo didático que
72
especifica algumas PM e as correlaciona ao melhor horário de uso e as partes do
corpo-humano beneficiadas.
[...] trabalha toda esta questão biológica com a criança, e também já está trabalhando os horários, pra ela entender o relógio, entender os números. Então veja, é a interdisciplinaridade. É o valor da erva, é o conceito da erva e as diversas, amplas, multifacetárias ações que elas possibilitam.
Segundo a entrevistada, cada escola trabalha o conteúdo com certa liberdade
e algumas não chegam a utilizar PM. A utilização depende fundamentalmente dos
professores e do perfil do técnico que atende as escolas, posto que alguns tenham
aptidão maior para lidar com as PM. Blaka (2010) afirma que a inserção de técnico
agrícola, a partir de 2006, por meio das experiências práticas e pesquisas
realizadas, contribuiu para o desempenho das atividades escolares e o
entendimento da teoria. Nas palavras da entrevistada, “depende muito também dos
professores e do técnico que entram, às vezes ele tem uma aptidão maior, gosta de
lidar com as ervas”.
A interdisciplinaridade é sempre o principal enfoque nos projetos. Alguns
professores trabalham a Matemática por meio do entendimento do processo de
colheita e secagem das plantas ou pela medição da área a plantar. Uma destas
escolas construiu um secador solar. Também é uma oportunidade de o professor sair
da sala de aula e levar os alunos para um ambiente natural. Diz a entrevistada:
[...] Isso tudo num trabalho pedagógico, plantando, cuidando, identificando, desidratando e conhecendo[...] Na verdade, é plantar, cultivar, conhecer, entender e saber trabalhar com esta erva, trabalhar matemática, trabalhar ciências. Ao invés de o professor trabalhar no livro o tipo da erva, ele vai trabalhar lá no pezinho mesmo, sentir o cheirinho, pegar na folhinha, entende? Identificar mesmo... quem sabe uns futuros biólogos também. Este é o objetivo.
Desta forma, as PM são introduzidas no cotidiano das crianças, que
reproduzem seus conhecimentos no ambiente familiar, trazendo-as para o cenário
de novas possibilidades. A gestora relata que em algum momento, no clube de mães
de uma das comunidades atendidas pela educação do campo, as PM foram motivo
de discussão, demonstrando que também podem ser uma alternativa de geração de
renda para elas e para as propriedades.
73
Do ponto de vista educacional, contextualizar o ensino e aprendizagem na
escola pode despertar o empreendedorismo e a autonomia nos alunos, valores que
farão a diferença na fase adulta dos alunos (BLAKA, 2010).
Figuras 2 e 3 – Hortas Medicinais Cultivadas em Escola Municipal de Canoinhas (SC) – Projeto
Interdisciplinar de Educação do Campo
Fonte: arquivo pessoal da pesquisadora (2014)
Figura 4 – Demonstração dos Usos das Plantas no Conceito do Projeto Interdisciplinar de Educação
do Campo
Fonte: arquivo pessoal da pesquisadora (2014)
Plantas medicinais continuam sendo trabalhadas no âmbito da educação no
campo, de acordo com as possibilidades de cada escola e habilidades técnicas
oportunizadas pelo quadro de pessoal por período de atuação. A educação
municipal apresentou ainda projetos em algumas escolas do perímetro urbano.
No ensino técnico e superior, ofertados no município, as PM também são
abordadas. Na Universidade do Contestado (UnC), eventualmente, alunos e
professores realizam pesquisas com PM na grade do curso de Farmácia. Já foram
temas de pesquisa, dentre outras plantas, a erva-mate (Ilex paraguariensis) e o pau
74
andrade (Persea cordata), nativos da região. As PM foram apenas tema de ações
pontuais realizadas pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), como a Oficina
de Preparo e Uso Racional de Plantas Medicinais, oferecida na 2ª Semana de
Ciência e Tecnologia (SNCT) - Câmpus Canoinhas, em 2013; e como tema de
palestra em evento sobre Agroecologia, na mesma instituição, em 2014.
Cabe registrar os serviços gratuitos que a Pastoral da Saúde continua
prestando à população há mais de 20 anos. Com sedes na Igreja Matriz do Centro e,
mais recentemente, na Igreja do Campo da Água Verde, dentre os serviços estão
abordagens com PM.
Exceto no âmbito da educação, não foram encontrados registros de ações
específicas sobre PM na esfera municipal após 2012.
Para além das ações documentadas e relatadas pelas entrevistas, a pesquisa
buscou obter dos entrevistados sua visão acerca das limitações que precisam ser
superadas para que as PM façam parte do cenário canoinhense de forma a ser uma
ferramenta de desenvolvimento.
Foram citadas a falta de cooperação entre as secretarias municipais, a baixa
priorização, tanto na esfera municipal quanto nas instituições parceiras, e a
rotatividade de profissionais da área técnica e operacional.
A rotatividade de pessoal nas diversas áreas interligadas à implantação da
PNPMF tendem a diminuir com a efetivação do quadro de profissionais vinculados a
ela. Também é necessário que a equipe responsável priorize a política e acredite nos
seus resultados, delineando no projeto quais profissionais são necessários para que
se tenha uma política de continuidade.
Apreende-se, ainda, que a PNPIC e a PNPMF não foram o ponto de partida
para a elaboração de ações com PM em Canoinhas. Não houve instalação de um
grupo ou comissão, com discussões periódicas, que pudesse estabelecer ações
articuladas para gerar uma política perspicaz a ser revertida em benefícios
duradouros para a população.
Desta forma, as ações efetuadas no município com PM não promoveram
modificação do estado em que as políticas de saúde e agrárias se encontravam
antes das mesmas. Na esfera da educação, apesar de ser o único setor em que
ações com PM são recorrentes desde 2006, estimuladas por um programa de
75
governo estabelecido, elas são trabalhadas ocasionalmente, conforme a aptidão e
oportunidade em cada escola.
Em suma, prevalece no discurso dos entrevistados o reconhecimento da
importância das PM e o desejo de torná-las uma realidade nas suas áreas de
atuação. Algumas ações realizadas demonstram o potencial das PM e o interesse da
população por elas.
Analisando do ponto de vista da Racionalidade Técnica Instrumental,
percebe-se que no âmbito da gestão do município de Canoinhas (SC) ainda
prevalecem ações pautadas nos saberes técnicos hegemônicos, de cunho
economicista, com resultados rápidos, em relação à utilização dos saberes
tradicionais e incorporação de técnicas que resgatam estes conhecimentos, como é
o caso da agricultura agroecológica para cultivo de PM, dos hortos e da utilização de
PM como opção terapêutica.
Os ganhos que uma política efetiva sobre PM traria ao município são
inúmeros e podem ser traduzidos pelos objetivos da política nacional: ampliação das
opções terapêuticas e melhoria da atenção à saúde aos usuários do Sistema Único
de Saúde (SUS); uso sustentável da biodiversidade brasileira; valorização e
preservação do conhecimento tradicional das comunidades e povos tradicionais;
fortalecimento da agricultura familiar; crescimento com geração de emprego e renda,
redução das desigualdades regionais; desenvolvimento tecnológico e industrial;
inclusão social e redução das desigualdades sociais; participação popular e controle
social; fortalecimento das cadeias e dos arranjos produtivos.
Para que os recursos vegetais disponíveis na flora brasileira, principalmente
das plantas nativas da região, presentes no município de Canoinhas, gerem os
benefícios apontados por estes objetivos da PNPMF, o conhecimento científico
tecnificado, com modelo na racionalidade técnica instrumental, precisa estar aliado
aos conhecimentos tradicionais, incorporando seus fatores de produção e tornando-
os compatíveis.
A falta de planejamento da secretaria municipal de saúde e falta de
articulação entre as secretarias municipais, entidades de apoio e demais atores
relacionados, levaram ao fracasso dos projetos propostos por iniciativa da esfera
municipal de saúde. Referenda esta afirmativa a existência de um Programa de
Plantas Bioativas e a contemplação deste no Plano Municipal de Saúde 2010-2013,
76
sem que de fato tenha havido resultados consistentes e continuados, envolvendo um
desencadeamento de ações que vão desde a configuração de uma equipe técnica
dedicada à gestão do projeto, o cultivo de plantas medicinais em hortos
comunitários, a capacitação sistemática das equipes de saúde, até a gestão e
controle social da Política, passando por conselhos comunitários, instituições de
ensino, projetos de extensão e o controle social.
Utilizando o já citado enfoque dado por Milton Santos (2006), atingir esta
mudança requer reflexão dos atores e a modificação da sua relação com o meio
(natureza), concretizando ações com diferentes meios instrumentais e sociais.
Contudo, implica em garantir que os segmentos interessados na defesa da
construção de um modelo de saúde e de uma política agrária mais universalizantes
e inclusivos estejam organizados para repensar os rumos político-econômicos do
município.
Políticas públicas com propostas integradoras e multissetoriais podem
apresentar possibilidades de desenvolvimento local. As dificuldades de articulação
entre os diferentes atores e gestores presentes em cada região são conhecidas e,
muitas vezes, dificultam ou até mesmo inviabilizam ações. Ainda assim, a
implantação de políticas públicas é necessária e depende de um conjunto de
esforços que possam dar subsídio à legitimação e construção do saber local,
servindo de orientação para o modelo de implantação desejado.
A contraposição entre a racionalidade técnica e as plantas medicinais,
somada à possibilidade de conceber políticas públicas como estratégias de
desenvolvimento regional, sinalizam a construção desses caminhos.
4.2 GRUPO NOVA ESPERANÇA: ANTES, DURANTE E DEPOIS DA
EXPERIÊNCIA COM PLANTAS MEDICINAIS
Busca-se neste item desvelar os impactos que as Plantas Medicinais tiveram
nas propriedades e na vida dos agricultores familiares envolvidos com o Grupo Nova
Esperança.
77
4.2.1 Caracterização do Grupo
Para traçar o perfil dos agricultores familiares e das propriedades onde estes
cultivaram e comercializaram PM, na comunidade de Matão, os dados objetivos
apreendidos nas entrevistas foram condensados na Tabela 1.
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1, a idade dos
principais responsáveis pelo cultivo nas propriedades varia entre 39 e 70 anos.
Apesar de 60% (três entrevistados) dos agricultores pesquisados terem filhos,
apenas 20% (um dos entrevistados) apresenta sucessor que reside na propriedade,
ainda em idade escolar. Não obstante à sucessão patrimonial, os agricultores
entrevistados demonstraram em seu discurso que os filhos não têm interesse em
suceder gerencialmente os pais. O agricultor 1 e a esposa, que tiveram sete filhos,
relataram que um deles possui uma casa ao lado da sua residência, pois
frequentemente vai à propriedade auxiliá-los na casa e no quintal de subsistência,
apesar de trabalhar na construção civil na cidade. Os demais não estão tão
próximos ao cotidiano da propriedade. Ambos são aposentados e apresentam uma
saúde que não lhes permite o cultivo de lavoura.
Os agricultores 2 e 3 são os de menor idade que integraram o grupo e
pretendem continuar na lavoura, sempre em busca de alternativas que permitam
melhorar a renda da família com o aproveitamento da propriedade. A agricultora 3 é
casada, vive na propriedade do sogro com o marido e o filho, sua mãe e seu tio,
cultivando uma pequena área desta. A filha mais velha do casal não reside
atualmente na propriedade e o filho está em idade escolar. O marido trabalha por
contrato para empresas da região e não cultiva mais a propriedade. Conforme relato
da agricultora, sua mãe e seu tio vivem na propriedade de favor.
O agricultor 2 reside na propriedade com a esposa e os pais, sendo um de
seus sucessores. O agricultor trocou o emprego anterior, em uma das indústrias de
celulose do município vizinho – de Três Barras (SC) – para voltar à propriedade dos
pais, na qual sua esposa, além de auxiliá-lo na lavoura, também cuida dos pais do
agricultor. Este possui um irmão que, segundo ele, não se interessa pelo cultivo na
lavoura. O casal ainda não tem filhos e relatou que, primeiramente, quer se
estabelecer na propriedade.
78
Tabela 1 – Perfil Atual dos Agricultores Familiares Entrevistados e suas Propriedades
Cód. Idade
Sucessores que
residem na
propriedade
Número
de filhos
Total de
pessoas
na lavoura
Alimentos para
subsistência na
propriedade (%)*
Produtos
cultivados para
comercializar
Utilização de
agrotóxico
Utilização
do
PRONAF
Possível
retorno ao
plantio de PM
1 70 0 7 0 50% Pinus
Eucalipto Não Não Não**
2 44 0 0 2 < 50% Pepino
Hortaliças Sim Não Não
3 39 1 2 1 < 50% Pepino
Hortaliças Sim Sim Não
4 56 0 2 2 > 50% Pepino
Eucalipto Sim Não Sim
5 59 0 0 1 > 50% Pepino
Milho Sim Não Sim
* percentual estimado ** os agricultores não trabalham mais a lavoura como sustento da família. Fonte: dados da pesquisa
79
Os agricultores 4 e 5 também cultivam a lavoura e buscam alternativas de
renda, porém apresentam idade mais avançada. O agricultor 4 reside na
propriedade com a esposa, aposentada. Sofre de problemas na coluna e está à
espera da aposentadoria. O casal de filhos migrou para a cidade e não pretende
retornar para a lavoura. O agricultor 5 reside na propriedade com sua mãe, idosa,
auxiliando-a e cultivando a lavoura. Este é o único dos agricultores entrevistados
que não possui veículo próprio para locomoção.
A análise destes dados, aliada aos relatos dos agricultores, leva a constatar
que há uma incerteza quanto ao processo de sucessão geracional nas propriedades
avaliadas.
Segundo Stropasolas (2011), a sucessão geracional vem ocupando espaço
como tema emergente, particularmente em Santa Catarina. No âmbito da produção
agrícola familiar, considera-se o processo sucessório como a transferência de poder
e do patrimônio entre gerações na qual, paulatinamente, há a retirada das gerações
mais idosas da gestão, com concomitante formação profissional de um novo
agricultor que executa a sucessão gerencial. Esta transmissão geracional implica
ainda em transmissão de um patrimônio histórico e sociocultural, que normalmente
se faz presente na agricultura familiar.
Observa-se que os filhos dos agricultores entrevistados buscaram alternativas
para traçar um novo caminho migrando para a cidade e para outros municípios,
desconectando-se da vida no meio rural, fato que evidencia a ruptura do processo
de sucessão gerencial.
A preocupação com o tema é evidente na fala da entrevistada 3. Ao iniciar a
entrevista, ela ressalta que a filha é técnica agrícola e está trabalhando em outro
município de Santa Catarina. Afirma também que pediu para a filha voltar a residir
com a família e tentar trabalhar na área de formação, para permanecer na
propriedade.
Ressalta-se que a ruptura da transmissão deste patrimônio histórico e
sociocultural, implícitos no processo sucessório, inclui a transmissão dos
conhecimentos tradicionais acerca dos usos e importância das plantas medicinais.
Com relação à finalidade de subsistência, percebe-se uma variação entre a
idade e a quantidade de mão de obra familiar e o percentual da alimentação da
família que vem das propriedades. As famílias dos agricultores 2 e 3 são as que
80
garantem maior subsistência com a propriedade (mais que 50%), seguidos pela
propriedade dos agricultor 1 (50%). Os itens não produzidos e comprados por todos
os entrevistados, incluem commodities como farinha de trigo, óleo, açúcar, café e
arroz. Na propriedade do entrevistado 1, produzem itens para subsistência, como
hortaliças, frutas, algumas raízes, grãos, ovos e frango. Na propriedade 2, foram
citados hortaliças, leite, feijão, ovos, frango. Quanto à propriedade 3, em conjunto
com a área cultivada pelo sogro, a agricultora destacou ter para a subsistência
hortaliças, aipim, feijão, milho, ovos, carne de gado e porco, mel e algumas frutas,
restando poucos itens que necessitam adquirir fora da propriedade. O agricultor 4
possui uma pequena horta. Além dos itens da horta, pouco é produzido na
propriedade, como ovos e milho. O agricultor 5, por sua vez, relatou ter para a
subsistência feijão, aipim, milho, batata, ovos, pepino e algumas hortaliças. As duas
últimas propriedades são as únicas que adquirem mais de 50% dos itens em
comércios locais.
Quando questionados sobre o uso de agrotóxicos, atualmente apenas a
propriedade 1 não os utiliza na propriedade. O casal mantém a propriedade segundo
o que aprendeu cultivando as medicinais, com soluções agroecológicas. Segundo
relatos da agricultora, nenhuma árvore é derrubada, nenhum mato arrancado,
nenhum “veneno” é passado. Reitera ainda o esposo que “pras formigas eu uso
água quente, ela [a esposa] não deixa passar nada, já acostumei”. Mesmo estando
há cerca de cinco anos sem comercializar medicinais, nesta propriedade ainda é
possível encontrar ampla variedade de espécies no quintal cultivado pelo casal. As
PM são utilizadas para consumo próprio e para o preparo de produtos
disponibilizados à comunidade pelo trabalho do casal na Pastoral da Saúde de
Canoinhas.
Além do quintal cultivado, os entrevistados citam algumas das várias plantas
que são encontradas naturalmente na propriedade, sem nunca terem sido plantadas.
Dentre elas estão macela (Achyrocline satureioides), espinheira santa (Maytenus
ilicifolia), guaco (Mikania glomerata), guaçatonga ou erva de bugre (Casearia
sylvestris) e sabugueiro (Sambucus nigra), permitidas para uso em fitoterapia no
SUS; sassafrás (Ocotea odorifera), cujo óleo essencial pode ser utilizado em
medicamentos homeopáticos permitidos pelo SUS (ANVISA, 2010) e outras plantas
81
que vêm sendo mais recentemente investigadas cientificamente por suas
propriedades, como pau andrade (Persea cordata).
Dentre os demais agricultores, todos utilizam agrotóxicos no plantio do
pepino. Porém, alguns deles fizeram questão de citar na entrevista que, para o
consumo da família, não fazem uso de agrotóxicos, mantendo a produção de modo
orgânico. Este é um fato considerado positivo pelo grupo acerca do cultivo das PM:
não estarem em contato com “veneno”:
Era um serviço bom pra lidar [...] até porque não vai veneno, né. O pepino, dia sim, dia não, tem que passar. (Agricultor 4) Pra nós eu separo uma área e planto orgânico, mas pra vender, a gente não dá conta, daí vai o veneno. (Agricultor 5, acerca do plantio de feijão)
Além dos dados já analisados, as fontes de renda familiar atuais também
foram apontadas. Percebe-se que, para os agricultores entrevistados, a propriedade
é fonte de sustento e arrimo familiar, subsistência, além de promover o vínculo com
a terra e a segurança. Atualmente, nenhuma família cultiva PM para
comercialização. Na Tabela 1, pode-se perceber que 80% dos entrevistados
migraram das PM para o cultivo do pepino, incluindo ou não, outras culturas na entre
safra. 20% (uma família) tem parte da propriedade coberta por reflorestamento de
pinus e eucalipto.
O entrevistado 1 e a esposa não cultivam mais a lavoura para a obtenção de
produtos para a comercialização. Além da aposentadoria, a comercialização do
pinus e do eucalipto, plantados na propriedade, complementam a renda familiar,
quando necessário. Por 16 anos, o casal teve sua principal renda atrelada à
comercialização de leite para a cooperativa de Canoinhas. Além disso, plantaram
milho, arroz, feijão e soja.
Para a agricultora 3, a renda familiar atual não depende exclusivamente da
propriedade. O plantio de pepino é realizado em uma pequena área que, na entre
safra, servirá para o plantio de hortaliças a serem comercializadas para o Programa
de Alimentação Escolar. Das demais áreas, uma parte é cultivada pelo sogro. Outras
estão arrendadas para terceiros. Ela relata que o marido, após sofrer seguidos
prejuízos no plantio de feijão, decidiu arrendar parte da terra e passou a trabalhar
para indústrias madeireiras da região, cortando toras.
82
Avaliando a migração dos agricultores de PM para o cultivo do pepino,
percebe-se um desencadeamento em sequência. A agricultora 3 foi a primeira a
parar com as PM, após duas safras. Esta relata que um agricultor da região
comentou sobre os contratos com certa empresa de conservas, que estava
procurando mais agricultores para o plantio de pepino. A agricultora fez contato e um
representante da empresa veio à propriedade com a proposta, que incluía as
sementes, suporte técnico, atrelando a comercialização e abrandamento das dívidas
em caso de perda da produção por intempéries. A agricultora fornece até hoje sua
produção para esta empresa do município de Irineópolis (SC), que tem mais
contratos na região e revende esta matéria-prima para indústrias de conservas.
Na sequência, os agricultores 5 e 4 pararam com o cultivo de PM e iniciaram
o plantio de pepino, em modelo de contrato semelhante ao citado pela agricultora 3,
porém para outra empresa, situada em Blumenau (SC). O agricultor 2 foi o último a
deixar o plantio de medicinais. Sua propriedade também tem como fonte de renda
atual o pepino. A comercialização está atrelada à mesma empresa que a agricultora
3.
Para que uma pequena propriedade rural tenha um rendimento adequado às
necessidades de sustento da família, o agricultor familiar precisa superar alguns
obstáculos. Uma das dificuldades a enfrentar é a captação de recursos financeiros
que permitam o acesso a tecnologias e melhorias na propriedade. O Pronaf faz parte
de uma política que visa suprir estas dificuldades e diminuir as desigualdades no
meio rural.
Quando questionados sobre a utilização do Pronaf na propriedade, apenas
um agricultor citou ter feito uso deste programa.
Esta pesquisa não procurou elucidar os motivos pelos quais os agricultores
familiares da comunidade de Matão não conhecem devidamente, nem utilizem este
recurso com familiaridade. No entanto, para que uma política pública atinja seu
público-alvo, ela deve ser trabalhada em todas as esferas da administração pública,
sendo a administração municipal e as entidades de apoio de fundamental
importância para promover o acesso a elas.
Sobre a possibilidade de voltar a cultivar PM como alternativa de renda, dos
quatro entrevistados que continuam cultivando a terra para comercialização, metade
respondeu negativamente pela opção. Os 50% restantes (agricultores 4 e 5) se
83
mostraram mais receptivos, desde que houvesse mais apoio na questão da
secagem. Maiores considerações sobre isso fazem parte da análise realizada no
item subsequente.
4.2.2 Histórico e análise da atuação do grupo
Tendo em vista situar o leitor no momento em que o grupo começou a se
articular, antes de iniciar a análise sobre ele, cabe uma pontuação a respeito do
Projeto Microbacias e seus desdobramentos em uma política pública que vigora há
vinte e quatro anos no estado de Santa Catarina.
Ele surgiu da vontade que movimentos ambientalistas e cientistas tinham de
trazer a temática ambiental para a pauta de discussões do desenvolvimento do
estado. Estes entendiam que a produção econômica tem como fatores primordiais o
meio ambiente e a profunda dependência humana à base biofísica para sua
sobrevivência (TREVISAN e BELLEN, 2009).
Este projeto desenvolvimentista teve início no ano de 1991, como Projeto de
Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias
Hidrográficas, mas ficou conhecido como Microbacias I. Iniciou-se com
financiamento de organismos financeiros multilaterais, com contrapartida de 50%
dos recursos do governo estadual. O acordo previa a duração do mesmo até o ano
de 1997. No entanto, foi prorrogado até o ano de 1999.
O segundo estágio (Microbacias II) ocorreu de 2002 a 2009, sendo a EPAGRI
sua principal executora. O objetivo geral era o de promover a redução da pobreza
rural. Visava, também, o desenvolvimento econômico, ambiental e social. Buscou a
participação da população rural no planejamento de ações locais, de modo a
organizar as comunidades ao coletivo, sendo que os projetos apenas recebiam
apoio financeiro, de cunho individual, para os agricultores familiares mais
vulneráveis.
Atualmente, uma terceira fase, com um enfoque mais amplo, está em vigor –
o SC Rural. Com início no final de 2010 e previsão de término em 2016, busca
qualificar os grupos de agricultura familiar, como os criados na etapa anterior,
fortalecendo e estruturando suas cadeias produtivas, tornando os agricultores mais
84
competitivos, com estímulo à organização em seus empreendimentos rurais e
possibilidades de consolidação no mercado.
Enquanto política pública, o Microbacias se modificou ao longo do tempo. As
mudanças ocorreram para satisfazer as discussões, agendas e modelos mais
adequados às novas realidades socioeconômicas e ambientais do meio rural
catarinense, com foco na agricultura familiar, mediante o olhar dos atores inseridos
na referida discussão. Por não se tratar do objeto principal deste estudo, não se fará
aprofundamento sobre o tema, nem uma avaliação sobre a adequação ou não das
adaptações, a eficiência, eficácia e resultados alcançados pelo Microbacias.
Entretanto, é pertinente apontar que entre o fim de um estágio e início do
subsequente, houve uma lacuna de tempo. Para o percurso de mais de vinte anos
da referida política de governo, estas lacunas podem parecer pouco significativas.
Contudo, para as propriedades familiares ou grupos que estão em processo de
organização e construção de um novo saber e agir, estas lacunas podem significar a
ruptura no andamento dos projetos e uma brecha para a perda de interesse e
desmotivação.
Isto posto, a análise do conteúdo das entrevistas do Grupo 2 tem início pelo
relato da formação do Grupo Nova Esperança.
O princípio das atividades do grupo com as (PM) na comunidade de Matão
tem como pano de fundo a busca por alternativas de renda, que emerge nos
relatos dos agricultores familiares.
Os agricultores entrevistados citaram que, anteriormente às PM, trabalharam
com leite (entrevistados 1 e 2), grãos (entrevistados 3, 4 e 5), olerícolas como o
tomate e cebola (para comercialização das sementes- entrevistados 3 e 5). Um dos
agricultores (entrevistado 4) relatou ter trabalhado para terceiros em lavouras de
fumo, alternativamente à produção em suas próprias terras.
Percebe-se a abertura dos entrevistados a novas oportunidades de geração
de renda na propriedade. Além disso, a necessidade de que as alternativas
apresentadas cumpram com alguns requisitos, que podem variar de acordo com a
situação socioeconômica, apoio familiar e condições edafoclimáticas, dentre outras.
Sobre a possibilidade que as PM representaram e a escolha do grupo pelo
seu cultivo, ilustram a fala da entrevistada 3:
85
[...] Nós mesmo [decidíamos o que queríamos plantar], cada família que dizia que queria uma alternativa de renda. Quem tinha interesse já ia participando das reuniões. [...] quando começou o projeto MB II, uma das coisas que a comunidade aqui precisava era alternativa de renda. [...] Como produtor, a gente tá sempre buscando alternativa [..]) participamo da produção de tomate. Alguns tiveram prejuízo, até pelo fato de não ter as técnicas. Nós tivemos muito problema com as estufa por causa do vento. Então, as olerícolas, que seriam uma alternativa, foi por água abaixo. Então, quando veio este projeto da MB, a gente [...] se jogou nessa ideia.
O extensionista rural da EPAGRI participou à época da formação do grupo.
De acordo com o mesmo, o grupo teve início após uma primeira troca de
informações entre a agricultora 1 e o escritório da EPAGRI local. Relata que a
agricultora participou de um curso que envolvia conceitos de Agroecologia e
procurou saber sobre as possibilidades de trabalhar com PM para a revitalização
destas na comunidade onde residia. Sua família participava ativamente da Pastoral
da Saúde e fazia uso de seus conhecimentos com a própria família e a comunidade
rural local. A iniciativa vinha como uma ferramenta para ampliar os conhecimentos
sobre PM e melhorar o acervo de plantas no horto medicinal da família, para
trabalhar as necessidades do uso com a Pastoral da Saúde, em uma iniciativa
pessoal da agricultora. Somou-se a isso o fato de que o cultivo poderia ser
transformado em fonte de renda para as famílias da comunidade local onde a
mesma residia.
Dentre os relatos dos agricultores entrevistados, alguns não apontam
precisamente quem lançou a ideia como alternativa para as propriedades.
Entretanto, três dos agricultores (entrevistados 1, 2 e 4) citam a EPAGRI, na figura
do extensionista entrevistado, como a origem da ideia para o grupo.
Sobre a visão de desenvolvimento rural na EPAGRI, Moro (2012) identificou a
existência de dois grandes modelos agrícolas inseridos na Instituição. Uma rede de
atores associada ao modelo que o autor chama de exógeno, ligada à agricultura
convencional, hegemônica; outra associada ao modelo endógeno e ao
desenvolvimento rural sustentável, ligada à agricultura não convencional, outrora
chamada de alternativa. O autor atenta para o fato de que despontam naturalmente
dentro da instituição grupos que priorizam a forma de trabalho que varia entre
agroecológica e orgânica e grupos que trabalham de forma convencional.
86
Como já exposto anteriormente, as propriedades familiares requerem
versatilidade e agregação de valor para irem além da subsistência e conseguirem
dar conta das necessidades socioeconômicas familiares. Justifica-se, por este
motivo, as PM serem uma alternativa proposta pela instituição para as famílias que
se identificassem com o projeto.
Em dezembro de 2005, foi realizada a primeira reunião, que contou com a
presença de quase 20 famílias da comunidade. Segundo o extensionista, o escritório
da entidade no município não tinha muito conhecimento acerca do tema, mas foi
realizado um levantamento prévio para esta primeira reunião. O perfil do projeto de
medicinais se encaixava no projeto Microbacias II (MB II).
A presença das famílias neste primeiro encontro demonstrou o interesse delas
em conhecer mais uma possível alternativa de renda para as propriedades,
corroborando com a ideia de que as famílias da agricultura rural estão em constante
busca por alternativas.
Para melhor cumprir com as diretrizes do MB II e dar sequência nas
atividades, os agricultores se organizaram em grupo. Assim, teve início o Grupo
Nova Esperança. Constituído de maneira informal, ele não foi oficializado. As atas
foram arquivadas com os secretários do grupo e a presidência ficou ao encargo de
um dos agricultores presentes, que aceitou o desafio e se manteve na função até o
fim das atividades do grupo. Como equipe técnica de apoio e articulação, o grupo
contava com um técnico facilitador do MB II, além de um engenheiro agrônomo e um
extensionista da EPAGRI.
Desta forma, iniciou-se o processo de capacitação para a produção e
processamento de PM. As reuniões mensais do grupo tiveram início em dezembro
de 2005, com cerca de doze famílias presentes, número menor do que o da primeira
reunião. De acordo com o extensionista, a diminuição na participação não significou
desinteresse dos agricultores, mas insegurança perante o novo. O trabalho em
grupo era uma inovação para as famílias e o aspecto do cooperativismo e
protagonismo nas ações precisou ser trabalhado.
Desde a formação inicial, cinco famílias permaneceram no grupo a ponto de
produzir e comercializar as PM.
O extensionista acompanhou o desenvolvimento do grupo desde seu
embrião. Tomou a frente das reuniões mensais, com o aval do grupo. Organizou e
87
conduziu-as, propôs pautas, delimitou áreas para o plantio, prospectou mercado e
trouxe os primeiros contatos comerciais até o grupo. Ele também proporcionou
treinamentos, capacitações e trouxe orientações técnicas. Tudo isto com o
acompanhamento e auxílio dos facilitadores da MB II, que trabalharam no projeto.
O primeiro ano serviu para a organização e planejamento de ações, tanto por
parte do grupo, quanto por parte dos apoiadores. A EPAGRI esteve à frente do
planejamento, realizado de acordo com a evolução do grupo, sem passos rígidos
pré-estabelecidos. Não houve produção naquele ano.
Para resgatar o uso das PM na comunidade e propiciar maior integração ao
grupo, foi realizada uma oficina de preparação de sabonetes, xaropes e infusões.
Ministrada na propriedade do casal de agricultores 1, pela própria agricultora, seguiu
os moldes das oficinas da Pastoral da Saúde, na qual o casal tem participação
voluntária.
Segundo o extensionista, além das reuniões mensais e da oficina citada, no
ano de 2006 foi realizada visita à propriedade modelo com PM em Canelinha (SC),
que contava com a EPAGRI Itajaí como parceira. Outra capacitação foi ministrada
pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), também na propriedade
dos entrevistados já citados. Nesta última, além de aprenderem sobre identificação e
utilização de algumas PM e sobre o cultivo, as famílias viram como construir um
pequeno secador caseiro a partir de uma secadora de roupas de varal. Outras
capacitações e visitas ocorreram, custeadas pelo MB II.
Quando começaram a estudar o cultivo das PM como uma alternativa, os
agricultores se depararam com a necessidade de adaptar as formas de cultivo ao
plantio em sistema agroecológico (uma novidade para a maioria), pois as plantas
medicinais não devem ser cultivadas com uso de agrotóxicos. Apenas o agricultor 1
e esposa possuíam algum conhecimento acerca do novo modo de cultivo.
Esta lacuna precisou ser superada com o repasse de técnicas e informações
por parte da equipe técnica. Enquanto capacitava os agricultores, a equipe de apoio
buscou informações que respaldassem técnica e comercialmente o grupo em sua
empreitada.
Foram estudadas quais culturas melhor se adaptariam aos fatores
edafoclimáticos da região e que também teriam viabilidade econômica. Após
descartar algumas opções, decidiu-se pela melissa (Melissa officinalis) como cultura
88
de verão e pela camomila (Matricaria recutita) e calêndula (Calendula officinalis)
como culturas de inverno. Foi delimitada uma área de 1000m² para cada uma das
três plantas e mais uma área de igual dimensão para pousio. O grupo relata que
teve apoio técnico suficiente e encarou com naturalidade o desafio de se adaptar às
novas técnicas de produção:
Ficamo um ano e meio só em reunião, o que plantar o que não plantar, o que dá mais lucro. Optaram pela a melissa no verão e calêndula e camomila no inverno. (Agricultor 2)
Em 2007, as reuniões mensais continuaram na forma de rodízio nas casas
dos agricultores. Mais visitas foram realizadas para verificar a produção e o processo
de secagem e comercialização de PM. Foram feitas, ainda, capacitações em
Agroecologia. Alguns integrantes do grupo participaram de outras capacitações,
como o Simpósio de Plantas Medicinais em Joinville e o Seminário de Agroecologia,
em Lages. Os agricultores que, antes faziam uso de agrotóxicos quando havia
necessidade, passaram por uma adaptação ao sistema agroecológico, aprendendo
a utilizar biofertilizantes, preparar e manejar o solo de forma adequada ao sistema.
As PM são, em sua maioria, comercializadas desidratadas (secas). Algumas
das vantagens da utilização do processo de secagem são: aumento da vida útil,
manutenção de qualidade dos componentes químicos e menor volume e peso para
o transporte. Para atingir estas condições, a secagem deve ser realizada a baixas
temperaturas.
O MB II custeou algumas visitas de participantes do grupo e técnicos para
conhecer equipamentos que poderiam servir como modelo para o projeto.
Como já citado anteriormente, o grupo precisou decidir sobre a construção do
secador, que teria seus materiais custeados pelo MB II. Após deliberar e não se
chegar a um consenso de onde deveria ser construído o secador, os agricultores
optaram por dividir a verba igualmente entre as famílias. Cada família providenciou
seu próprio equipamento, dentro das suas possibilidades. Duas estufas foram
construídas, uma em alvenaria e outra em madeira. Outras três foram adaptadas em
cômodos das casas dos agricultores (Figuras 5 a 10).
Neste ponto, os dados levam ao entendimento de que as condições
financeiras variam entre os agricultores, sendo um empecilho maior para alguns
89
investirem em processos que agregam maior valor aos produtos a serem
comercializados.
Figuras 5 e 6 – Construção de estufa em madeira para secagem de Plantas Medicinais
Fonte: acervo pessoal do agricultor 2 (2007)
Figuras 7 e 8 – Estufa para secagem de Plantas Medicinais em alvenaria
Fonte: acervo pessoal do extensionista da EPAGRI (2008)
90
Figuras 9 e 10 – Estufa de secagem adaptada em cômodo da residência da agricultora 3
Fonte: Arquivo pessoal do extensionista da EPAGRI (2007)
Neste ponto, os dados levam ao entendimento de que as condições
financeiras variam entre os agricultores, sendo um empecilho maior para alguns
investirem em processos que agregam maior valor aos produtos a serem
comercializados.
Quanto à visão que os integrantes do grupo tiveram acerca da importância do
MB II para o andamento do projeto, existem opiniões diversas. Alguns agricultores
reconhecem o MB II como propiciador do conhecimento técnico. Outros citam que o
MB II concedeu pouca ajuda em recursos financeiros ao grupo. A alta rotatividade
dos técnicos facilitadores também foi citada como um fator negativo. São exemplos
das falas dos agricultores que ilustram estas afirmações:
No grupo de medicinais, o primeiro plantio que foi feito, foi com recurso do MB que foi comprado as sementes pra esses plantios [...] Também ajudou na orientação, que os técnicos eram pagos pelo MB. Ajudaram na assistência técnica, também no início da comercialização. Levando e também programando essas visitas técnicas que a gente fez. (agricultora 3) [Auxílio] financeiro, não tinha. Era pra vir um dinheiro, mas não veio.[...] O governo [estadual] liberava lá o dinheiro, não sei quantos mil por projeto. Mas pro grupo não veio nada. Ganhemo umas muda de melissa, só veio um pouco, acho que era uns vinte e cinco reais [por agricultor], era só uma diferença. (agricultor 2) Disse que ia ganhar um secador [para secar as PM], tinha que fazer um secador só pro grupo. Tinha que entrar em consenso e decidir onde e como que ia ser feito [...] daí virou em nada. Daí a gente resolveu dividir o dinheiro e cada um ia fazer o seu [secador]. (agricultor 2)
91
Dinheiro não chegava [...] nem pra paga nossas muda.Tinha o microbacia, mas não funcionou [...] Minhas muda de melissa, a microbacia ia pagar. Pagou nada. Eu tive que pagar [...] Tinha muita gente esperta [...] (agricultor 1) Isso [o facilitador] trocava a cada passo. Teve um que foi o primeiro. Entrou uma, não sabia nada. Perguntava de medicinais, ela dizia que não sabia. Teve muita rotatividade. O outro era bom. (agricultor 2)
No decorrer da pesquisa, não se teve acesso a registros dos recursos que
chegaram de fato até o grupo. Percebe-se, entretanto, que o nível de compreensão
acerca dos objetivos e formas de operação do MB II divergem entre os agricultores.
Com os agricultores devidamente capacitados e as estufas providenciadas,
iniciou-se o plantio. No primeiro ano, as mudas e sementes não foram produzidas
pelos agricultores. Eles receberam um pequeno custeio do MB II para arcar com
parte das mudas e sementes.
A camomila e a calêndula foram as primeiras a serem plantadas. As maiores
dificuldades, segundo os agricultores, foram enfrentadas com a camomila, até que
se chegasse a um modelo de plantio e colheita satisfatórios. Neste primeiro ano,
quando foi semeada “a lanço” (Figura 11), conforme descrição do grupo, a colheita
foi muito trabalhosa. A planta era pisoteada à medida que se avançava a colheita.
Como ambas as plantas são baixas e somente as flores devem ser colhidas, a
ergonomia era prejudicada.
[...] camomila era difícil semear. A semente é bem ‘pequeninha’, semeava com umas ‘peneirinha’. (Agricultor 2 e sua mãe) No começo, o que dava serviço muito era a camomila, nós não ‘tinha’ como colher ela e eles queriam só a flor, foi difícil pra nós ‘colher’ aquilo lá. (Agricultor 4)
Logo após a colheita, iniciava-se o processo de seleção e separação em
bandejas, sendo que a calêndula era cortada ao meio para facilitar a secagem.
Alguns integrantes relataram que tiveram dificuldades com a secagem das plantas,
pois o secador não operou da maneira mais correta, como foi o caso do agricultor 5.
Pelos relatos dos agricultores, percebe-se que alguns tiveram mais facilidade
em realizar o processo de secagem e até se identificaram com o processo, enquanto
outros tiveram dificuldade e/ou citaram a secagem como um empecilho ao cultivo de
PM:
92
Secar não era tão trabalhoso. Era coisa boa de fazer. Se fosse só secar, sem precisar ir pra roça, eu só secava. (Agricultora 3) Medicinal você tinha que providenciar lenha pra secar, daí no inverno tinha que levantar de noite várias vezes, no frio pra colocar lenha. (Agricultor 2) Eu levantava uma vez só a noite pra por um pau de lenha. Que tinha que ser três dias, dia e noite. Não podia passar de 40 graus. A gente já sabia como era, tinha uma janelinha, um termômetro, a gente nem precisava entrar lá pra ver [...]A secagem não era problema, é menos exigência que o fumo. [...] Eu gostava de lidar, eu senti a gente ter que parar. (Agricultor 1 e esposa) A minha [estufa] não funcionou direito. Eu fiz depois [do restante do grupo]. Eles tinham ido fazer visita, viram como fazia [a construção da estufa]. Eu copiei deles. (Agricultor 5)
Figura 11 – Primeira colheita de camomila, semeada a lanço
Fonte: arquivo pessoal do agricultor (2007)
93
Figura 12 – Bandejas com calêndula, prontas para o início da secagem.
Fonte: arquivo pessoal do agricultor 2 (2007)
Figura 13 – Calêndula florescida e pronta para a colheita na propriedade
Fonte: arquivo pessoal do extensionista da EPAGRI (2008)
94
Após a colheita das culturas de inverno, procedeu-se o plantio da melissa,
para a safra de verão. Os relatos dos agricultores demonstram que a melissa teve
uma boa aceitação pelo grupo, apesar de os agricultores 3 e 5 relatarem que
gostavam muito de trabalhar com a calêndula também.
A melissa foi a única PM que todos os agricultores do grupo cultivaram. Foi
também a de maior produção.
No início da comercialização, os produtores do grupo vendiam a melissa in
natura (sem passar pelo processo de secagem), para uma ervateira do município,
que a secava e adicionava à erva-mate para preparo da tradicional bebida
chimarrão. Dos cinco participantes da pesquisa, 80% tiveram a melissa como a
cultura de PM preferida, em termos de cultivo, comercialização, margem de lucro,
principalmente quando esta não precisava sofrer o processo de secagem para
comercializar.
Figura 14 – Preparação da área de plantio de melissa com adubação verde pronta para o corte.
Fonte: arquivo pessoal do agricultor 2 (2008)
95
Figura 15 – Área preparada com a palhada da adubação verde recebendo as mudas de melissa.
Fonte: arquivo pessoal do agricultor 2 (2008)
Figura 16 – Melissa pronta para a colheita
Fonte: arquivo pessoal do extensionista (2010)
O grupo se fortaleceu à medida que os componentes precisaram um do outro
para encontrar soluções para problemas inesperados, ou para agilizar alguma etapa.
96
Segundo os entrevistados, o grupo, apesar de algumas diferenças pessoais,
conseguia trabalhar bem em conjunto e isto não era um problema.
A camomila proporcionou ao grupo desenvolvimento de habilidades para
solucionar problemas, ocorridos no primeiro plantio. A semeadura foi realizada em
faixas com espaçamento e não mais a lanço, para evitar o pisoteamento. A
germinação foi melhorada com a compactação da terra logo após semear. Os
agricultores também projetaram e construíram um equipamento adequado à colheita
da camomila, que havia sido realizada de maneira lenta e não ergonômica na
primeira safra:
[...] camomila, por exemplo, que a gente não sabia: tinha que semear e depois compactar [a terra], senão ela não nascia. A gente não sabia. Daí a gente teve que inventar um rolo lá com uma tora, pra compactar, isso a gente aprendeu com os técnicos do Microbacias. (Agricultora 3) Antes era com os dedo, assim, ficava o dia inteiro e não colhia nada [...] daí inventaram um negócio lá. Aquele dava certo. [...] Nós ‘levava’ na mão. Era um carrinho com umas ‘roda’ de bicicleta, uma caixa, uns garfos na frente. Ia puxando e caia dentro da caixa. (Agricultor 4, sobre o equipamento construído pelo agricultor 2, com a ajuda de um tio)
O grupo também executou algumas tarefas em conjunto, como o caso das
mudas de calêndula que foram preparadas em 2008 na propriedade do Agricultor 4.
Apenas o agricultor 2 decidiu fazer as mudas sozinho, decisão que foi respeitada
pelo grupo. Outro exemplo é o caso da troca de dias para colheita da melissa. Como
a produção da PM dava maior rendimento, os agricultores se revezavam na colheita
entre as propriedades:
As mudas de calêndula chegaram a fazer juntos [...] nós achava que era melhor fazer aqui mesmo, pra não ficar puxando. Daí, às vezes, passava da hora de plantar, ou ficava muito grande as muda [...] (Agricultor 2) Eu ia lá, ajudava ele a colher, depois ele vinha aqui e me ajudava. (Agricultor 4) A melissa que apurava mais. Na época da melissa tinha que pegar até gente pra cortar [...] [nós] trocava serviço. Uns iam pra cá, depois iam pra lá. (Agricultor 2) Teve uma vez que um deles teve um problema de saúde e estava na época da colheita. O grupo se reuniu, foi até a propriedade e fez a colheita para ele. (Extensionista)
97
Figura 17 – Adaptação do plantio de camomila na segunda safra - 2008
Fonte: arquivo pessoal do extensionista (2008)
Figura 18 – Colhedor de camomila desenvolvido por participantes do Grupo Nova Esperança
Fonte: arquivo pessoal do extensionista (2008)
Embora tenha realizado tarefas em conjunto, o grupo não demonstrou estar
preparado ou ter capacidade para evoluir a uma associação mais organizada em
termos de gestão. Até mesmo no que tange a decisões de organização do grupo
98
com respeito aos processos, as decisões priorizaram ações individualizadas, a
exemplo da construção de secadores para cada propriedade, em detrimento da
baixa produção do grupo.
Sobre a cadeia de comercialização e o desenvolvimento do mercado, a
equipe técnica tomou a frente dos contatos. O mercado era prospectado e, quando
identificado um comprador interessado nos produtos, o contato era repassado para o
grupo, que fazia as negociações e a comercialização propriamente dita. Algumas
dificuldades neste ponto, apontadas pelo extensionista, eram a distância e até
mesmo o custo das ligações, minimizadas quando a EPAGRI disponibilizou a linha
telefônica do escritório para que o grupo concretizasse as negociações. No grupo,
quem assumiu a frente das finalizações foi seu presidente. Os entrevistados não
relataram problema em conseguir comprador para seus produtos. Salientaram a
questão da quantidade produzida que, mesmo no montante geral, era irrisória.
Quanto a este aspecto, a solução seria plantar uma área maior e para isso seria
necessário contar com mais mão de obra, que não estava disponível na esfera
familiar.
[...] e as medicinais é assim: tem gente que quer pouco e tem gente que quer bastante. Por isso que tem que trabalhar em grupo, porque se você trabalha sozinho e a pessoa quer 500 Kg, você não consegue atender. Por isso que o grupo era interessante. (Agricultor 2) [...] que lugar de vender tem. Quanto mais quantidade tiver, mais fácil de vender. Se tivesse de bastante, tonelada... até folhas colhidas no mato se vende. Até folha de Eucalipto se vende. (Agricultor 1)
Embora utilizassem as técnicas agroecológicas de cultivo, os agricultores do
grupo não possuíam nenhuma certificação que atestasse a qualidade orgânica dos
produtos comercializados. Este fato, segundo relato de três entrevistados
participantes do grupo, foi entrave na comercialização para alguns fornecedores,
que exigiam o selo. Segundo o extensionista, de certa forma, por serem um grupo
pequeno e por terem pouco volume para comercializar, o fato de não possuírem o
selo não foi de tamanha interferência, pois o grupo ainda encontrava empresas que
utilizavam PM sem esta exigência. As empresas que tinham o selo como um
requisito para o fornecimento, normalmente queriam comprar volumes maiores. Dois
integrantes do grupo acreditam que a rentabilidade poderia aumentar atrelada ao
selo. Independente disto, o grupo procurou uma certificação, conforme consta em
99
ata. Estava em vias de obtê-la, em meados de 2010, quando o grupo foi se
dissolvendo:
Só que a nossa agricultura aqui, antes, não era agroecológica. Então, nós tava começando a trabalhar agroecologia junto, por causa das medicinais. Então a gente não conseguiu vender com o certificado de agroecológico. [...] a gente vendia pra outros que não exigiam. Mas chegou um momento que a gente já não conseguia (Agricultora 3). Nós já tava chegando no selo. A cada três meses tinha reunião, lá em Irineópolis. Eu ia a todas as reunião. No começo a facilitadora ia com nós, depois era só eu quase [...] (Agricultor 2).
A produção de PM do grupo encontrou escoamento por meio da venda direta
para empresas catarinenses processadoras de produtos naturais e alimentícios, e
erva mate. Tais empresas estão situadas em Canoinhas, Palhoça, Gravatal, Três
Barras e São Bento do Sul.
Quanto ao retorno financeiro da comercialização das PM, existem diferentes
opiniões nos relatos. Dos cinco agricultores entrevistados, quatro (80%) relataram
que a renda era insatisfatória e um dos agricultores relatou o contrário (20%). Para
ele, a renda das medicinais era suficiente para manter a família no campo e retornar
os investimentos sobre a atividade produtiva. Relata que teve retorno, inclusive,
sobre o investimento feito na construção da estufa e bandejas:
Na época era o que a gente tinha de renda. [...] A nossa aqui dava, se cuidasse dava. Mas o pessoal, daí, tinha uns que tiravam pouco. Mas a nossa era boa, a gente sempre produziu bem. Nunca deu pra dizer que não produziu. (...) alguns [outros agricultores] não tinham terreno [adequado], outros não queriam trabalhá. Daí, dava pouco lucro. Eles queriam começar e que desse lucro. O pessoal queria começar já ganhando um monte, começar grande. Isso não é bem assim, vai devagar. (Agricultor 2) O retorno que a gente teve economicamente com as PM não foi o que a gente esperava [...] se dependesse só das PM, a gente tinha passado fome. (Agricultora 3)
Na propriedade do entrevistado 1, as plantas medicinais, ainda presentes no
quintal e perpassando a propriedade, fizeram parte das alternativas da propriedade
por cinco anos, quando um problema de saúde os impediu de continuar o cultivo.
Mesmo assim, segundo o entrevistado e sua esposa, as plantas medicinais não
representaram parte significativa da renda familiar:
100
Nunca dependimo das medicinais, nunca vivemos disso. Dava um dinheirinho, mas não era aquela coisa. E era um pedacinho de terreno.
Comparando a renda que obtinha com as PM e a opção atual pelo pepino, a
agricultora 3 afirma que não teve o retorno financeiro que precisava para se manter
no cultivo das PM e que o pepino gerava um retorno satisfatório:
[...] Porque o pepino dá uma renda boa em uma área pequena. Se fosse pra eu fazer a roça em tudo esse quadro aqui em baixo – plantar feijão, ou milho – quem sabe nem ia dar toda a renda desse pedacinho com pepino. O lucro líquido é melhor. Dá trabalho, mas dá retorno. São três meses, é a produção do pepino e ainda tem a alternativa de fazer a safrinha do pepino. Este ano eu não vou fazer a safrinha porque eu vou plantar outras hortaliças. Vou fornecer pra prefeitura, pra merenda escolar. Já fiz o cadastro, tá tudo certinho, vou fornecer no projeto da prefeitura de comprar da agricultura familiar.
Na propriedade do agricultor 2, o pepino sucedeu as PM no cultivo somente
em 2011. O agricultor (que presidiu o grupo desde sua primeira reunião) e sua
família participaram de todas as visitas técnicas, reuniões, feiras comerciais e cursos
de capacitação. Foram os últimos a parar com as plantas medicinais. Foram também
os produtores a obter maior produtividade com as PM.
Segundo o extensionista da EPAGRI, a respeito do acompanhamento contábil
da produção de PM, realizado por dois anos, a melissa tinha maior rentabilidade. As
demais culturas precisavam ser trabalhadas. Ainda, pesquisas estavam sendo
realizadas para verificar outras culturas que pudessem substituí-las.
Sobre estas diferenças de produtividade e investimentos, relata o
extensionista que o agricultor 2 sempre “puxou o grupo”. Nem todas as propriedades
tinham terras suficientemente preparadas para o cultivo, o que pode justificar o
destaque da propriedade 2 no rendimento de produção:
A produtividade do grupo estava dentro da média que a gente encontrava nas literaturas, estava dentro do esperado. O agricultor 2 tinha a terra mais fértil, mais bem preparada. Nada que, com o tempo, não desse pra melhorar a fertilidade nas demais. Mas ele sempre foi o top do grupo. Até por uma questão de fôlego financeiro, a gente percebia que ele tinha um pouco mais. Mas os demais se eforçavam. O agricultor 4, por exemplo, tudo o que se orientava, ele fazia. Ele seguia muito o agricultor 2.
101
Os entrevistados relataram os principais motivos que os levaram a parar de
plantar medicinais. Dentre eles estão problemas de saúde (agricultor 1), problemas
com a comercialização, envolvendo atraso nos pagamentos e dificuldade em
conseguir as contra notas (agricultor 2) e renda insatisfatória (agricultores 3, 4 e 5):
[...] quando vc busca uma alternativa de renda, vc trabalha, trabalha e no final não vê a renda, vc acaba desistindo daquilo, né. (Agricultora 3)
Além do retorno financeiro insuficiente, a agricultora 3 também relatou outros
motivos que a levaram a desistir das PM, como conciliar os serviços domésticos e o
cuidado com os filhos, atrelados à desaprovação do marido pela escolha das
medicinais:
[...] pra mim foi um risco grande, porque o meu marido não se interessou. Eu tinha que lidar com as PM, vaca, casa, marido, filho. Tudo sozinha [...] Na verdade, bem nesta época era a época que o feijão estava indo bem e meu marido tinha uma loucura por plantio de feijão. Então, ele dizia, porque vc vai insistir numa coisa que não tá indo bem se outras coisas tão dando bem, que nem o feijão tá?
Como houve certa rotatividade no apoio técnico, principalmente no que
tange aos facilitadores do MB II que prestavam atendimento ao grupo, todos os
agricultores entrevistados citaram o extensionista da EPAGRI como esteio e
propulsor do grupo. No final de 2009, já no terceiro ano de produção de PM pelo
Grupo Nova Esperança, este anunciou que dentro de alguns meses precisaria se
ausentar, por motivos pessoais.
No período subsequente, ocorreu a investida na passagem gradativa do
protagonismo para o grupo. Em fevereiro de 2010, segundo as atas do grupo, foi a
última reunião com a participação do extensionista. Consta nesta ata, ainda, que a
prefeitura municipal e a EPAGRI dariam continuidade ao acompanhamento do
grupo. Este fato não se concretizou imediatamente, segundo relatos de alguns dos
entrevistados. Esta assertiva corrobora com o registro das atas do grupo, no qual
consta que, em julho de 2010, um novo representante da entidade se apresentou ao
grupo, cinco meses após a saída do anterior.
Com a leitura das atas de 2010, novos nomes apareceram como participantes
do grupo, provavelmente de agricultores que estavam buscando alternativas e
verificando se iriam partir para o cultivo de PM. Houve um início de plantio em uma
comunidade próxima denominada de Paula Pereira, mas sem registros de que
102
tivesse havido a comercialização juntamente com o grupo do Matão. Estes nomes
não apareceram durante as entrevistas e não foram incluídos na pesquisa.
O grupo cita a saída do extensionista como motivo para a desarticulação e fim
do grupo. A rotatividade e interrupção, mesmo que temporária, dos serviços de apoio
técnico às famílias rurais em processo de aprendizado e imersão em um novo modo
de trabalho, bem como de programas governamentais, como o MB II, exposto neste
estudo, prejudicam o fortalecimento dos elos com o grupo e entre o grupo.
Instituições voltadas ao desenvolvimento do meio rural precisam atentar a este fator
e criar mecanismos que minimizem estes efeitos.
Voltar a cultivar medicinais como alternativa de renda não faz parte dos
planos dos quatro entrevistados que se mantêm no cultivo de pepino. Os
agricultores 4 e 5 se mostraram mais receptivos à ideia de retorno às PM,
principalmente se fosse para trabalhar somente com a melissa, descartando o
plantio da camomila e da calêndula. Porém, citaram a dificuldade na secagem como
um empecilho:
A melissa, se a empresa [ervateira de Canoinhas] tivesse continuado comprando, eu tava até hoje [cultivando]. Se alguém comprasse verde, eu plantava. (Agricultor 5)
Os mesmos entrevistados expuseram a necessidade de suporte técnico e
logístico na questão da secagem. A ideia que surgiu por parte de ambos os
entrevistados consistia em construir um secador para o grupo, em local de fácil
acesso, que funcionasse devidamente. Tal ideia expõe a fragilidade do grupo e
demonstra que alguns membros do grupo tenham tido suas necessidades mais
atendidas, em detrimento de outros, até mesmo por falta de consenso.
O agricultor 2 não se mostrou interessado em trocar a atual situação por uma
nova tentativa com PM. O mesmo desinteresse esteve presente na fala da
agricultora 3 durante quase toda a entrevista. Entretanto, em um momento final da
entrevista, falando sobre uma possibilidade de melhorar o preço de venda das PM,
com um projeto mais estruturado, abre uma brecha: “A gente tá sempre buscando
alternativa” (Agricultora 3).
Os agricultores 4 e 5 citaram outras motivações que os aproximariam de um
retorno ao cultivo de PM: a produção sem o uso de agrotóxicos (agricultores 4 e 5),
103
fator negativo no cultivo do pepino; o fato de ser agradável cultivar PM. Porém, o
cultivo das PM só seria cogitado novamente mediante garantia de retorno financeiro.
Além do trabalho em grupo ter sido uma inovação para as famílias, que
desconheciam os meandros do associativismo e protagonismo nas ações, outro
fator que pode ter influenciado no menor número de famílias presentes é a falta de
uma proposta inicial de produção atrelada a um contrato de comercialização, caso
muito comum nas pequenas propriedades da região que trabalham com a cultura
tabageira.
Corrobora com esta assertiva o estudo realizado por Uba (2012) acerca da
produção de tabaco na região. Em sua pesquisa com agricultores familiares de
Monte Castelo (SC) – município pertencente ao Planalto Norte Catarinense, próximo
a Canoinhas – o pesquisador afirma que, ao longo do tempo, foi-se criando uma
homogeneidade produtiva, ditada pelo pacote tecnológico presente nos acordos
comerciais firmados entre produtor e agroindústria:
[...] os produtores produziam tabaco da mesma maneira, uma vez que seguiam o que estava determinado pelo pacote tecnológico, que incluía assistência técnica individualizada, planejamento de produção, definição de insumos e produtos a serem aplicados à lavoura, incentivos econômicos e instrumentos financeiros e jurídicos de estímulo, controle e punição.
No entender de Uba (2012), a “cultura do fumo” foi incorporada à vida dos
agricultores a ponto de ser distintiva do modo de vida do agricultor monte-
castelense. Partindo deste ponto e tecendo uma correlação entre este agricultor e o
agricultor familiar canoinhense, pressupõe-se que este se sente mais seguro em
arriscar novas alternativas mediante modos de produção semelhantes ao da “cultura
do fumo”.
Apesar de o fumo ser a cultura de maior volume entre as propriedades da
agricultura familiar do município de Canoinhas e da suposta incorporação do modo
de produção inerente a ela à vida dos agricultores, nas propriedades pesquisadas
não se registrou a presença do fumo como opção de renda.
Percebe-se que o aspecto gerencial do grupo não foi priorizado em toda a
sequência de ações proporcionadas ao grupo. A tentativa final de promover a
autogerência do grupo foi insatisfatória, pois, apesar da continuidade das reuniões
104
registradas em atas, percebe-se mensalmente menor participação de integrantes do
grupo, até a extinção do mesmo.
Para o extensionista, os principais motivos para o término do grupo e o fim do
plantio das PM foram o fato de a cadeia produtiva ainda não estar fortalecida na
região; o grupo ter sido pequeno, bem como as áreas cultivadas – o que propicia
certas fragilidades; as práticas de manejo diferenciadas que tiveram que ser
aprendidas e adaptadas; e os apoiadores (EPAGRI e MB II) terem assumido a frente
em algumas situações iniciais do grupo e demorado a soltar as rédeas para que o
grupo desenvolvesse seus próprios percursos:
Faltou aparecer o protagonismo dos agricultores, mesmo eu tendo me afastado, se o grupo tivesse se fortalecido e se estruturado para o protagonismo das ações, não teria terminado.
Apreende-se que o protagonismo do grupo estava em estágio embrionário. O
potencial do presidente do grupo em despontar como ator principal era iminente,
mas dependia da motivação do grupo que já não estava satisfeito economicamente
com os resultados das safras de PM. Ainda sobre o fim do grupo, pressupõe-se que
a pouca experiência dos agricultores ao trabalho em conjunto dificultou o
desenvolvimento de habilidades na busca da melhor forma de evoluir enquanto tal. A
falta de um plano de trabalho dos apoiadores, devidamente delineado, prevendo as
etapas até chegar à autogestão pode ter sido um fator que contribuiu à interrupção
das atividades do grupo.
O fato de todos os agricultores terem migrado para a mesma cultura na
sequência à experiência com as PM leva a entender que o trabalho conjunto se
dissolveu enquanto grupo de medicinais; porém, continuam a existir semelhanças
socioculturais que os aproximam e os levam a confiar e se espelhar uns nos outros,
na tentativa de reproduzir experiências de sucesso.
Percebe-se, até este ponto, que os agricultores familiares da comunidade de
Matão estão em constante busca por alternativas que melhor correspondam às suas
expectativas sociais econômicas e culturais. O projeto de PM com os agricultores do
Grupo Nova Esperança foi delineado concomitantemente à formação do grupo o que
pode ter gerado insegurança, levando poucos agricultores a se sentirem confiantes
em investir nesta proposta.
105
Os agricultores precisam de alternativas mais concretas, que apresentem
maior garantia do necessário retorno financeiro. Este fato fica evidente pela atual
opção do cultivo de pepino, atrelado a empresas que garantem a compra da
produção.
Preceitos da PNPMF são percebidos nos anseios dos agricultores, que
almejam permanecer no campo. Ainda, eles percebem o cultivo de PM e o pacote
tecnológico nele inserido - sem agrotóxicos - como promotores de melhor qualidade
de vida. Porém, a investida dos agricultores no cultivo de PM não ocorreu devido à
ação planejada a partir das políticas públicas federais evidenciadas neste estudo. A
experiência do grupo, com auxílio da EPAGRI/MB II, não suscitou no município
outras investidas, que poderiam agregar volume e alavancar a cadeia de PM na
região.
Das cultivares selecionadas para o grupo trabalhar, a melissa se mostrou a
opção mais viável por sua produtividade e manejo. Esta PM pode ser considerada
como uma possibilidade para o agricultor familiar da região, apesar de ser uma
espécie exógena. Atenta-se para o fato de que a biodiversidade da FOM apresenta
outras alternativas que podem ser pesquisadas quanto à viabilidade edafoclimática e
comercial, que podem ainda servir como forma de aproveitar remanescentes
florestais de preservação obrigatória dentro das propriedades.
O fomento financeiro, citado pelos entrevistados como um percalço e
deficiente à época de existência do grupo, passou por ajustes nas políticas públicas
afins. A terceira fase do Projeto Microbacias, denominado SC Rural, que apresenta
novas formas de fomento a grupos, anteriormente inexistentes, é um desses
exemplos.
Outra possibilidade de fomento mais recente diz respeito ao Edital da
Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do MS, para fomento a
Arranjos Produtivos Locais (APL) em plantas medicinais e fitoterápicos. Lançado em
2012, tem sido relançado anualmente. Qualquer cidadão pode enviar projetos, e
inclusive os municípios têm sido contemplados. Dados de 2013 do MS
demonstraram que, por falta de aprovação de projetos, neste mesmo ano cerca de
seis milhões de reais desta rubrica retornaram à União (BRASIL, 2013).
106
Mais uma forma oficial de captação de recursos é representada pelo
Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais –
PRONAT. O Ministério do Desenvolvimento Agrário, por intermédio deste programa,
é o gestor e responsável por selecionar projetos que recebem recursos financeiros
da CEF25. Pode-se concluir que, por parte do Governo Federal, as PP de PM estão
sendo postas em prática, havendo pendência na contrapartida dos municípios.
Contudo, a existência de fontes de fomento disponíveis não significa o amplo
acesso dos agricultores familiares. Para ser efetivo, cabe aos apoiadores,
facilitadores e sociedade organizada com ênfase nestes agricultores a tarefa de
transmitir estas informações, instruir as famílias e acompanhar o processo.
Frente ao exposto, mais atores capacitados estão presentes no município e
precisam se comprometer em aplicar as políticas agrárias disponíveis, que
necessitam ser pensadas e repensadas com e para os agricultores familiares.
25
http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/assistencia_tecnica/produtos/repasses/pronat/saiba_mais.asp
107
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A década de 1980 trouxe inúmeros avanços às políticas públicas e sociais,
condensados na Constituição de 1988, considerada a Constituição Cidadã. A saúde,
oficialmente tratada como Direito do Cidadão, passa a ser concebida tal qual a
definição da VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, como
“resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e
acesso aos serviços de saúde. Sendo assim, é principalmente resultado das formas
de organização social, de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades
nos níveis de vida” (BRASIL, 1986).
Data de 22 de junho de 2006 o Decreto Lei nº 5813, que cria a Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, 18 anos após a promulgação da
Constituição Cidadã. Conforme registrado no decurso do texto, políticas públicas
sociais devem ser analisadas no horizonte dos contextos e das opções político-
econômicas que, muitas vezes, extrapolam os limites do território local, regional e
nacional, considerando a formação sócio-histórica brasileira e os vínculos
estabelecidos com outros países, sobretudo aqueles de capitalismo central.
Para qualquer que seja a Política Pública analisada, parte-se do princípio da
gestão e desenvolvimento inclusivo, agregador, sustentável, focado nos interesses
populares, que considera e salvaguarda os saberes e poderes locais e, via de regra,
estabelece resistência ao modelo oposto. Por outro lado, ações políticas possuem o
viés de gerar avanços lucrativos que, quando considerados prioritariamente, nem
sempre atentam para os desdobramentos destas ações. Especificamente em
relação às políticas de saúde e agrárias, às quais a PNPMF está diretamente
vinculada, evidenciou-se no estudo o embate entre diferentes interesses, propostas
e modelos de gestão e desenvolvimento, inerente ao modelo estabelecido nesta
sociedade.
As Políticas Públicas denotam as intenções de um governo e representam
decisões que visam reduzir os efeitos da descontinuidade administrativa ao apontar
rumos e linhas estratégicas de atuação, por meio do planejamento de programas,
projetos e ações, como proposto na PNPMF (BRASIL, 2006b). A efetivação de uma
Política Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, nestes termos, significa a
108
opção por um modelo de desenvolvimento regional que prioriza as potencialidades
naturais ou latentes no município, extrapolando o aspecto econômico e, quiçá,
rompendo com interesses econômicos extraterritoriais.
Os relatos coletados em pesquisa de campo e as reflexões efetuadas no
decorrer da revisão bibliográfica e documental evidenciaram tratar-se de um embate
entre o direito, a inclusão, universalização e ações focalizadas, descontinuadas e
excludentes.
Quanto à esfera do desenvolvimento rural, isto ocorre não em virtude do
desconhecimento legal ou de limitação de ordem técnica, mas pelos interesses
hegemônicos e pela configuração político-econômica do município, prioritariamente
focalizada em cultivar monoculturas.
O PMDRS, elaborado como norteador de ações com prazos estabelecidos
para sua concretização no município no que tange às PM, não se consolidou de
maneira satisfatória. Embora ações pontuais tenham sido empreendidas com
relativo sucesso, a meta principal de lançar as PM como alternativa para o agricultor
familiar não foi alcançada. Considere-se que apenas a monocultura do fumo,
marcadamente atrelada no município ao pequeno agricultor, representa 67% do PIB
agrícola do município.
Conclui-se que as PM fazem parte do cenário canoinhense. O fato de ter
havido no município um grupo de agricultores que atuaram por quatro anos na
produção e comercialização de PM, traz experiências que precisam ser
consideradas em futuras investidas neste campo. Enquanto alternativa de renda
estratégica para o município em PM, o grupo teve sua atuação interrompida antes
de atingir maturidade, sem poder contar com uma cadeia bem estabelecida,
sofrendo as consequências de ações focalistas.
Com intuito de contribuir com planejamentos futuros relacionados às PM,
destacam-se a seguir as limitações e possibilidades vivenciadas pelo Grupo Nova
Esperança e apreendidas das experiências relatadas no município de Canoinhas
com PM.
Ressaltam-se as características das PM enquanto cultura agrícola,
associadas à estrutura das propriedades da agricultura familiar envolvidas. As PM
necessitam de cultivo orgânico ou agroecológico, manuseio com cuidados quanto a
109
contaminações e teor de princípios ativos e secagem para armazenamento. Estas
necessidades, atreladas à parca mão de obra e a faixa etária relativamente
avançada tornam as PM uma alternativa pouco atrativa, quando desmembradas de
um planejamento bem estruturado.
Ainda, como limitações estão:
- necessidade de qualificação e infraestrutura para processar as PM;
- inexperiência dos agricultores familiares quanto ao trabalho associado;
- inexistência de cadeia integrada envolvendo desde produção, qualificação,
fomento financeiro, processamento para agregação de valor até comercialização;
- distância dos centros de comercialização;
- rotatividade dos técnicos de apoio;
- pouca capacidade de investimento por parte dos agricultores;
- falta de fomento e incentivo na esfera municipal;
- volume pequeno produzido;
- pouca rentabilidade em algumas culturas;
- limitado estudo das espécies elencáveis para plantio adaptadas à região;
- insuficiência no desenvolvimento das características de liderança e
autogestionamento do grupo.
Tais aspectos tomados como limitações podem ser trabalhados e
desenvolvidos para que se tornem fortes a ponto de viabilizar e balizar as PM como
fonte de renda para os agricultores familiares do município.
Já os aspectos positivos a destacar incluem:
- disponibilidade e interesse dos agricultores aos desafios que se
apresentaram;
- rentabilidade no cultivo da melissa;
- presença de ervateiras que utilizam PM em alguns produtos comercializados
no município e região;
- apoio técnico e treinamentos proporcionados pelas entidades de apoio.
- biodiversidade da FOM;
- presença de entidades técnico-científicas das esferas estadual e federal,
como EPAGRI, EMBRAPA, UnC e IFSC;
- a possibilidade de participar de editais de fomento de APL de PM e
fitoterápicos, disponibilizadas por meio das Políticas Públicas atreladas ao governo
110
federal, que abre possibilidades aos municípios, em conjunto com parceiros
interessados (da esfera pública ou privada), para a execução de projetos envolvendo
toda a cadeia comercial, inclusive com possibilidade de aplicação conjunta à área da
saúde.
Em suma, a carência de alternativas viáveis e articuladas de renda para os
agricultores familiares do município ainda é latente, como foi destacado nas
discussões junto aos articuladores e agricultores pesquisados.
As PM apresentam potencialidades para cobrir algumas destas lacunas, no
que tange ao Desenvolvimento Rural do município. Uma delas é organizar a cadeia
de dentro para fora, formando parcerias com as já referidas entidades
representativas atuantes em nível local, agregando valor à produção de PM colhidas
no município, transformando-as de matéria-prima de base a ingredientes mais
elaborados e padronizados, como tinturas, óleos essências, dentre outros.
Pelo viés da saúde, quando se considera o conceito firmado pela VIII
Conferência Nacional de Saúde, torna-se claro que as condições econômicas,
sociais e culturais geram demandas de saúde às quais a Política pode apresentar
soluções ou representar resistência ao modelo hegemônico, amparado na cura.
Depreende-se disso a importância do presente trabalho: sinalizar para a
necessidade de discussão e construção de alternativas, que sejam coletivamente
delineadas.
A consolidação e efetivação da PNPMF e do Programa Municipal de PMF no
município, pelo que a pesquisa conduz a concluir, ainda não ocorreu. Muito embora
tenha havido um louvável movimento no sentido de antecipação à lei, traduzido em
um documento intitulado Programa Municipal de Plantas Bioativas, as ações foram
descontinuadas e paralisadas em virtude de divergências e insuficiências técnicas e
estruturais, assim como parco estímulo e envolvimento dos diversos segmentos que,
desde o princípio, poderiam garantir sua continuidade.
Tomando o desenvolvimento como um processo dinâmico, que carrega
consigo o esforço local, evidencia-se que a implementação e priorização da PNPMF
depende de mudanças estruturais que estão além dos programas e políticas de
saúde, já que a opção político-econômica do município direciona-se a outras
prioridades.
111
Sem considerar a formação sócio-histórica e as opções político-econômicas
até o momento tomadas, o município de Canoinhas possui promissoras condições
alternativas de desenvolvimento socioeconômico e enfrentamento das
racionalidades técnicas envolvidas no processo de saúde exclusivamente em curso;
devido, entre outros fatores, à riqueza natural que o caracteriza e aos saberes que
configuram a cultura popular.
Desta forma, a criação e implementação da PNPMF no município é uma
possibilidade e, acredita-se, um mecanismo de desenvolvimento regional. Os
delimites e as continuidades desta política dependem não somente da vontade
política daqueles que se encontram em cargos eletivos na gestão municipal, mas da
pressão popular fundamentada em uma análise técnica séria e aprofundada sobre
quais são os caminhos político-econômicos alternativos, naturalmente colocados ou
potencialmente existentes no município, que possam substituir e superar os atuais.
Este estímulo pode ocorrer por meio do legislativo, como foi o caso do
PMPMF “Vitalina de Lima” (CANOINHAS, 2010) ou pela sociedade civil organizada.
Também pelas instituições de ensino, pesquisa e extensão, de diferentes formas,
dentre elas na formação técnica propriamente dita, na criação de projetos de
extensão que valorizem essa proposta diferenciada de desenvolvimento regional, e
no estabelecimento de vínculos com os diversos atores sociais que dão suporte à
construção desta realidade, ainda incipiente no município.
O município de Canoinhas (SC) foi pioneiro no Planalto Norte Catarinense por
apresentar a legislação que instituiu o PMPMF “com o objetivo de proporcionar à
população acesso a medicamentos naturais eficazes, com orientação e uso
corretos” (CANOINHAS, 2010), referendando a PNPMF. Decorridos cinco anos da
sua aprovação, contudo, não existe um planejamento em vigor, em nenhuma esfera
municipal que o coloquem em prática.
Em suma, esta pesquisa apontou limites e possibilidades das plantas
medicinais diante da realidade do município de Canoinhas (SC), assinalando frentes
de desenvolvimento principalmente para as áreas da saúde e agricultura.
Embora não fosse objetivo direto da pesquisa, a importância das dimensões
cultural e simbólica relacionadas às PM no município de Canoinhas, evidenciou-se
neste estudo. As PM integram, de modo geral, a cultura da população, nos termos
112
que Thompson (1991) apresenta como tradição oral transmitida de geração em
geração ao longo do tempo, pertencente ao domínio oral. O autor trabalha o
conceito de cultura não como componente da superestrutura ou, como outros
marxistas, mero reflexo do nível econômico, mas como “[...] um conjunto de
diferentes recursos em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o
dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole. É uma área de elementos
conflitivos [...]” (THOMPSON, 1991). Para ele, o conflito de classe se manifesta
também no campo dos saberes constituídos pelas classes.
O registro e especificidade das tradições culturais presentes no município, em
relação às PM, não foram aprofundados nesta pesquisa. Não obstante, é notório que
a cultura representa, muitas vezes, resistência ao saber e poder hegemonicamente
constituídos ou, conforme compreende Bourdieu (2008), a cultura é o elemento que
pode simultaneamente acrescentar e separar, ou unificar e distinguir do ambiente
externo. Neste aspecto, registra-se a importância de estudos futuros com enfoque
na interface entre as PM e a cultura local.
Uma segunda sugestão para futuras pesquisas inclui as PM nativas da FOM
que integram o rol de PM permitidas pela ANVISA, já citadas anteriormente, como a
espinheira santa (Maytenus ilicifolia), a carqueja (Baccharis trimera) e o guaco
(Mikania glomerata). As plantas nativas podem ser um elo entre o tradicional e o
legal, ampliando as opções de exploração sustentável da biodiversidade nas
propriedades familiares e servindo de estímulo ao desenvolvimento da cadeia de PM
na região.
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124
APÊNDICES
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO1
1 Identificação do Projeto de Pesquisa
Título do Projeto: Plantas medicinais: limites e possibilidades ao desenvolvimento do município de Canoinhas (SC)
Área do Conhecimento: multidisciplinar
Curso: Mestrado em Desenvolvimento Regional
Número total de sujeitos: quinze
Patrocinador da pesquisa:UnC
Instituição onde será realizado:UnCCanoinhas
Nome dos pesquisadores e colaboradores:CristianyMartins, JairoMarchesan
2 Identificação do Sujeito da Pesquisa
Nome:
Data de Nascimento:
Naturalidade/Nacionallidade:
Estado Civil: Profissão:
CPF:
Endereço:
Telefone: E-mail:
3 Identificação do Pesquisador Responsável
Nome: JairoMarchesan
Profissão: Geógrafo / Professor do Programa de Mestrado em Desenvolvimento RegionalUnC
Endereço: Rua RobertoEhlke, 86–Canoinhas (SC) CEP89460-000
Telefone: (47)3622 6696
E-mail:[email protected]
4 Identificação do Pesquisador Principal
Nome:CristianyMartins
Profissão: Farmacêutica / Professora
N. do Registro no Conselho: CRF(SC) 6228
Endereço: RuaEstanislauSchivinski, 52–Alto da Palmeiras, Canoinhas (SC) CEP 89460-000
Telefone: (47) 9955 0636 / 3622 6500
E-mail: [email protected]
Eu, Cristiany Martins, estou desenvolvendo a pesquisa Plantas medicinais: limites e possibilidades ao desenvolvimento do município de Canoinhas (SC), orientada pelo Prof. Dr. Jairo Marchesan, para a Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Regional da UnC. Esta pesquisa tem por objetivo analisar o nível de conhecimento e implantação das políticas públicas e programas, bem como o desenvolvimento da cadeia produtiva, de plantas medicinais, no município de Canoinhas (SC). Serão realizadas entrevistas, dirigidas aos profissionais que atuam ou atuaram em atividades com plantas medicinais no município de Canoinhas (SC), inseridos na gestão municipal, na produção e comercialização de plantas medicinais e nas ações de Atenção Primária à Saúde, visando conhecer as particularidades deste meio.
125
Serão solicitados dados pessoais, de formação e de atuação profissional. Sob seu consentimento, a entrevista será gravada para maior fidedignidade na transcrição das informações, cujos tópicos principais serão também anotados. A qualquer momento a entrevista poderá ser interrompida ou não ser gravada, se assim o solicitar. Trata-se de um estudo experimental em que não há benefícios diretos aos participantes (sujeitos) e também não há despesas de nenhuma natureza para os mesmos. As informações serão utilizadas eticamente e os resultados da pesquisa poderão ser publicados, garantindo o anonimato dos entrevistados. Os resultados atualizados estarão disponíveis para seu conhecimento durante a pesquisa e após a mesma, ainda que isso venha a afetar a sua vontade de participação. Para obter mais informações, sanar dúvidas sobre a pesquisa e/ou retirar seu consentimento a qualquer momento que desejar, contate os pesquisadores (acima identificados) ou o Comitê de Ética em Pesquisa da UnC - CEP, com endereço na Av. Presidente Nereu Ramos, 1071- bairro Jardim do Moinho, Mafra (SC), telefone (47) 3641-5513, [email protected]. Se você leu atenciosamente este documento, discutiu e se sente adequadamente esclarecido da natureza do propósito desta entrevista, peço que assine o Termo de Consentimento abaixo. Atenciosamente,
Eu, ______________________________________________________, CPF ______________________, sujeito da pesquisa, considero-me suficientemente esclarecido sobre minha participação como voluntário na pesquisa acima descrita. Discuti com a pesquisadora responsável sobre minha decisão e concordo de livre e espontânea vontade em participar desta pesquisa. Declaro que obtive todas as informações necessárias e esclarecimento quanto às dúvidas por mim apresentadas e, por estar de acordo, assino o presente documento em duas vias de igual teor (conteúdo) e forma, ficando uma em minha posse.
_________________, ___ de ______________ de 201__.
________________________
Assinatura do entrevistado(sujeito)
_____________________
Prof. Dr. JairoMarchesan
Orientador / PesquisadorResponsável
Testemunhas:
________________________
CristianyMartins
Mestranda/PesquisadoraPrincipal
________________________
RG:
CPF/MF:
Telefone:
___________________________:
RG:
CPF/MF:
Telefone
_____________________________ 1 Adaptado de ANTONIO, G.D. Fitoterapia na atenção primária à saúde: interação de saberes e práticas de cuidado.
Florianópolis, 2013, 302f. Tese (Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina, nível doutorado. Florianópolis, 2013). Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/123015>. Acesso em 03 de setembro de 2014.
126
APÊNDICE B
Instrumento de Coleta de Dados para Gestores Públicos (saúde, desenvolvimento
rural e educação)
Universidade do Contestado – UnC
Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional
Questionário no._______ Data da entrevista: __________
Dados do entrevistado:
Nome: ______________________________________________________________ Empresa/Secretaria/órgão:______________________________________________ Cargo / função: _______________________________________________________ Formação: __________________________________________________________ e-mail: ____________________________________ Fone: ____________________ Questões chave: 1. O que você conhece sobre as políticas e programas a respeito de plantas
medicinais e fitoterápicos?
2. Qual a importância das plantas medicinais e/ou fitoterápicos para o desenvolvimento do município de Canoinhas?
3. Qual a importância das plantas medicinais e/ou fitoterápicos para ações no setor em que atua?
4. No órgão em que você atua, quais atividades com plantas medicinais estão contempladas em planejamento específico?
5. Quem do seu setor participa de grupo voltado à discussão das políticas e programas sobre plantas medicinais?
6. Quais as possibilidades que você vislumbra para a implantação destas políticas e programas no município de Canoinhas?
7. Quais as limitações que você vislumbra para a implantação destas políticas e programas no município de Canoinhas?
8. Sobre políticas e programas de plantas medicinais e fitoterápicos, cite as principais ações desenvolvidas pelo seu setor (ação, data, forma de registro, responsável).
127
APÊNDICE C
Instrumento de Coleta de Dados para Agricultores que Atuam ou Atuaram com
Plantas Medicinais em Canoinhas (SC)
Universidade do Contestado – UnC
Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional
Questionário no. Data da entrevista: __________
Identificação do entrevistado (principal responsável pela propriedade):
Nome: _____________________________________________________________
End.: ______________________________________________________________
Formação: ____________________________ Gen: ( )M ( )F Idade: _____
e-mail: ____________________________________ Fone: ____________________
Caracterização da propriedade: 1. Número total de membros na família:
________________________________________ 2. Quem reside na propriedade (pessoas/parentesco)? Descreva as principais tarefas:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 3. Quantos assalariados emprega? ( ) 1 fixo ( ) 2 ou mais fixos ( ) temporários ( ) nenhum
4. Utiliza agrotóxicos na propriedade?
( ) em toda ( ) só em parte
( ) utilizo defensivos compatíveis com agric. orgânica, mas não sou certificado
( ) propr. certificada orgânicos ( ) propr. agroecológica certificada
5. Utiliza o PRONAF? ( ) sim ( ) não 6. Quanto da subsistência da família vem da propriedade?
( ) menos da metade do que necessitamos
( ) mais da metade do que necessitamos
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( ) metade do que necessitamos
7. Quais os principais produtos comercializados pela propriedade?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8. Faz parte de associação ou grupo de produtores? ( ) não ( )sim, descreva:
___________________________________________________________________
Questões norteadoras
9. Quais plantas medicinais você ou sua família conhecem e utilizam como
remédio?
10. Qual a importância econômica e de geração de renda das plantas medicinais,
para sua propriedade?
11. Quais plantas medicinais você comercializa/comercializou? De que forma?
12. Como foi que começou com a produção de Plantas Medicinais? Houve incentivo
ou algum auxílio?
13. Para quem você vende/vendia? Como se deu este processo de comercialização?
14. Como poderia ser estimulada a produção de plantas medicinais na sua
propriedade.
15. Quem você acha que seriam os responsáveis por essa ação?
16. Como você se capacitou sobre as formas de produção, armazenamento e
comercialização de plantas medicinais?
17. Que outras formas de capacitação / curso / instrução você recebeu sobre plantas
medicinais? Quem forneceu e quais eram os temas?
18. Quais os problemas que precisam de solução para que as plantas medicinais
façam parte dos produtos produzidos e comercializados pela sua propriedade?
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ANEXOS
ANEXO A – Lei 4.565/2010
LEI nº 4.565/2010 Institui o Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos “Vitalina de Lima” e dá outras providências
O Povo do Município de Canoinhas, por seus representantes na Câmara de Vereadores aprovou, e eu, Leoberto Weinert, Prefeito Municipal, em seu nome, sanciono a seguinte: L E I Art. 1º Fica criado no Município de Canoinhas o Programa Municipal de Produção de Fitoterápicos e Plantas Medicinais “Vitalina de Lima”, com o objetivo de proporcionar à população acesso a medicamentos naturais eficazes, com orientação e uso corretos.
§ 1º Para os efeitos desta Lei, consideram-se medicamentos fitoterápicos aqueles resultantes de procedimentos realizados através do uso de plantas medicinais frescas ou dessecadas, sob a forma de infusões, tinturas, xaropes, pós, supositórios, pomadas, cremes, elixires, cápsulas gelatinosas, entre outras.
§ 2° Nos casos omissos nesta Lei o Município se utilizará das Diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
§ 3º Terão prioridade na produção de plantas medicinais e
fitoterápicos os pequenos produtores rurais (agricultura familiar), em especial aqueles que forneçam matéria-prima seguindo os preceitos da agricultura orgânica ou natural. Art. 2° São Objetivos do Programa Municipal de Produção de Fitoterápicos e Plantas Medicinais: 1. - Objetivo geral: garantir à população o acesso seguro e o uso de plantas medicinais através do SUS, promover o uso sustentável da biodiversidade e o desenvolvimento da cadeia produtiva. 2. - Objetivos específicos:
I. –Implantar o serviço de plantas medicinais no Município através da rede pública de saúde;
II. - ampliar as opções terapêuticas aos usuários da rede pública de saúde, possibilitando acesso às plantas medicinais, com segurança, eficácia e qualidade, respeitando os princípios do SUS, sabedoria popular e nos padrões que rege o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF);
III. - construir o marco regulatório para a produção, manipulação e dispensação de plantas medicinais e fitoterápicos, a partir dos modelos e experiências bem sucedidas nacionais ou internacionais;
IV. - promover pesquisas, desenvolvimento de tecnologias e inovações com plantas medicinais , nas diversas fases da cadeia produtiva;
V. - promover o uso sustentável da cadeia produtiva, considerando a preservação da biodiversidade;e o manejo sustentável em áreas de reserva legal e áreas de preservação permanente;
VI. – incentivar e promover a capacitação de leigos nas diversas comunidades visando a produção sustentável e o uso correto de plantas medicinais na prevenção e promoção à saúde.
VII. – resgatar o saber popular e incentivar a produção e o uso correto de plantas medicinais e remédios caseiros dentro de princípios de boas normas de produção;
VIII. – criar e manter locais apropriados para a produção e manutenção de plantas medicinais (hortos);
IX. – promover e facilitar, através do programa de educação permanente, a formação e a atualização dos profissionais de saúde envolvidos com o programa de plantas medicinais da rede pública de saúde;
X. – criar um centro de plantas medicinais e fitoterápicos com a finalidade de fazer cumprir as normas reguladoras das políticas de normas integrativas e complementares com controle de qualidade da cadeia produtiva.
XI. – promover e exercer controle fitosanitário com a finalidade de assegurar a sanidade e qualidade da matéria prima vegetal a ser utilizada no programa municipal de plantas medicinais.
Art. 3° São diretrizes do Programa Municipal de Produção de Fitoterápicos e Plantas Medicinais, a serem desenvolvidas pela Prefeitura Municipal:
I. - Regulamentar e incentivar o cultivo, o manejo sustentável, a produção, a dispensação e o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, dentro dos princípios das boas normas de produção;
II. - Promover através do processo de educação permanente a formação técnico-científica, capacitação e atualização dos profissionais (equipe multiprofissionais) da rede pública de saúde envolvidos no programa de dispensação de plantas;
III. - Divulgar e informar aos profissionais de saúde, gestores e
usuários os conhecimentos sobre plantas medicinais , considerando as metodologias participativas e o saber popular;
IV. - Promover a interação entre o setor público, escolas de ensino básico/médio e técnico, comunidades organizadas, universidades, centros de pesquisa e organizações não- governamentais na área de plantas medicinais e desenvolvimento de fitoterápicos.
V. - Reconhecer e promover as práticas populares seguras de uso de plantas medicinais e remédios caseiros.
VI. - Promover o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais e incentivar o uso sustentável da biodiversidade, nos diversos segmentos da sociedade e níveis escolares;
VII. - Promover a inclusão da agricultura familiar, rural e urbana nas cadeias e nos arranjos produtivos das plantas medicinais, insumos com ênfase na agroecologia.
VIII. - Incentivar a produção local de plantas medicinais, agregando valores e direcionar para a demanda na fabricação de fitoterápicos pelo município.
IX. - Organizar e equipar dentro das normas sanitárias, laboratório para o recebimento e estocagem de matéria prima (plantas medicinais), manipulação de fitoterápicos, estocagem e dispensação do produto final.
X. - Fortalecer o programa de plantas medicinais e fitoterápicos, mantendo um processo de atualização constante de toda cadeia produtiva na intenção de preservar a qualidade do produto final.
XI. – Identificar demandas e adequar a utilização de plantas medicinais e fitoterápicos distribuídos na rede pública de saúde, de acordo com o perfil epidemiológico da população em consonância com a farmacopéia nacional ou outras validadas pela ANVISA;
XII. – Envolver os profissionais da rede pública incentivando a pesquisa cientifica com fitoterápicos e plantas medicinais, com base na biodiversidade regional e de acordo com a demanda e perfil epidemiológico do município.
2
XIII. - Regulamentar e incentivar o cultivo, o manejo sustentável, a produção, a dispensação e o uso de plantas medicinais, dentro dos principio das boas normas de produção;
XIV. - Desenvolver o programa de acordo com a regulamentação do manejo sustentável e produção/cultivo de plantas medicinais que incentive o fomento, a organização e o associativismo e à difusão da agricultura familiar e urbana, das agroindústrias de plantas medicinais;
XV. – produzir as ervas medicinais e dispensar na rede pública de saúde conforme normas técnicas vigentes pela ANVISA, através do código sanitário;
XVI. – Elaborar protocolo de dispensação de plantas medicinais efitoterápicos para servirem de orientação para as equipes multiprofissionais
XVII. - Promover através do processo de educação permanente a formação técnico-científica, capacitação e atualização dos profissionais (equipe multiprofissionais) da rede pública de saúde envolvidos no programa de dispensação de fitoterápicos.
XVIII. - Fortalecer e integrar as redes de assistência técnica e de capacitação administrativa de apoio à cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos;
XIX. – Envolver e integrar os órgãos de ensino que atuam na formação técnica/cientifica e social no processo de desenvolvimento do Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos;
XX. – Incentivar e apoiar a participação de grupos organizados da sociedade no processo de aprimoramento do uso de plantas medicinais e fitoterápicos e fórum do setor.
XXI. - Divulgar e informar aos profissionais de saúde, gestores e usuários os conhecimentos sobre plantas medicinais e fitoterápicos, considerando as metodologias participativas e o saber popular;
XXII. – Promover debates com os vários segmentos da sociedade, gestores públicos e escolas de ensino das redes pública e privada, incentivando o resgate do saber popular;
XXIII. – Criar canais de informação com relação ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos, utilizando linguagem e metodologias adequadas a cada segmento da população a ser beneficiada;
XXIV. - Apoiar eventos na área de plantas medicinais e fitoterápicos, buscando parceiros para otimizar a troca de experiências da cadeia produtiva;
XXV. – Criar memento para dispensação de plantas medicinais e fitoterápicos a ser utilizados pelas equipes de multiprofissionais da rede pública de saúde;
XXVI. – Elaborar protocolo de dispensação de plantas medicinais e fitoterápicos visando sua utilização pelas equipes multiprofissionais da rede pública de saúde.
XXVII. - Promover a interação entre o setor público, escolas de ensino básico/médio e técnico, comunidades organizadas, universidades, centros de pesquisa e organizações não- governamentais na área de plantas medicinais e desenvolvimento de fitoterápicos.
XXVIII. – Apoiar e incentivar os profissionais da rede pública envolvidos na pesquisa cientifica com plantas medicinais;
XXIX. – Identificar e promover a interação dos centros de pesquisas de plantas medicinais existentes na região;
XXX. – Incentivar a realização de parcerias em projetos depesquisas com plantas medicinais.
XXXI. – Incentivar a construção e manutenção de hortas deplantas medicinais nas escolas da rede pública.
XXXII. - Garantir a segurança, a qualidade e o acesso as plantas medicinais XXXIII - Promover o uso racional de plantas medicinais considerando a preservação da biodiversidade;
XXXIV. – Prestar rigoroso controle fitosanitário da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos com o objetivo de produzir um produto final de qualidade superior;
XXXV. – Monitoramento permanente através de análise laboratoriais dos marcadores ativos;
XXXVI. – Nomear responsável técnico capacitado para o acompanhamento à produção de ervas medicinais;
XXXVII. – Adequar a produção de ervas medicinais de acordo com a demanda da rede pública de saúde.
XXXVIII. – Ampliar a capacitação sobre fitoterápicos e plantas medicinais dos profissionais do SUS favorecendo a divulgação e o uso correto dos mesmos.
XXXIX. - Reconhecer e promover as práticas populares seguras de uso de plantas medicinais e remédios caseiros.
XL. - Criar parcerias do governo com movimentos sociais e produtores de plantas medicinais visando o uso sustentável da biodiversidade e a preservação do meio ambiente;
XLI. - Identificar e implantar mecanismos de validação/reconhecimento que levem em conta os diferentes sistemas de conhecimento (tradicional/popular X técnico-cientifico);
XLII. - Promover ações de salvaguarda do patrimônio cultural relacionado às plantas medicinais (transmissão do conhecimento tradicional entre gerações);
XLIII. - Apoiar as iniciativas populares que preservem as boas normas de conduta no uso de plantas medicinais e remédios caseiros;
XLIV. - Criar bancos de dados resgatando conhecimento popular sobre plantas medicinais;
XLV. – Promover através de entidades de ensino conveniadas cursos de aprendizagem sobre o manejo de plantas medicinais para leigos, produtores e demais segmentos da sociedade;
XLVI. – Criar e manter horto educativo de plantas medicinais;
XLVII. – Criar viveiros de mudas de plantas medicinais com matrizes de boa procedência para dispensação ao produtor.
XLVIII. - Promover o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais e incentivar o uso sustentável da biodiversidade, nos diversos segmentos da sociedade e níveis escolares;
XLIX. – Apoiar as iniciativas setoriais que concorram para a disseminação da cultura de preservação do conhecimento popular sobre plantas medicinais;
L. - Facilitar e apoiar a implementação dos instrumentos legais relacionados à proteção dos conhecimentos tradicionais e científicos do uso de plantas medicinais e fitoterápicos;
LI. - Integrar as iniciativas governamentais e não-governamentaisrelacionadas à proteção dos conhecimentos tradicionais associados ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos;
LII. – Elaborar projeto de inclusão do uso de plantas medicinais no ensino fundamental.
LIII. - Promover a inclusão da agricultura familiar, rural e urbana nas cadeias e nos arranjos produtivos das plantas medicinais, insumos com ênfase na agroecologia.
LIV. - Estimular a produção de plantas medicinais, insumos e fitoterápicos, considerando a agricultura familiar e urbana como componente dessa cadeia produtiva;
LV. - Estabelecer mecanismos de financiamento para estruturação e capacitação contínua da rede ATER ( Assistência Técnica de Extensão Rural);
LVI. - Promover e apoiar as iniciativas de produção e de comercialização de plantas medicinais e insumos da agricultura familiar e urbana.
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LVII. - Incentivar a produção local de plantas medicinais, agregando valores e direcionar para a demanda na fabricação de fitoterápicos pelo município.
LVIII. - Incentivar a agricultura familiar de plantas medicinais para servirem de matéria prima para a produção de fitoterápicos pelo município;
LIX. - fomentar o marketing do uso de plantas medicinais e a dispensação por parte das equipes multiprofissionais que atuam na rede pública de saúde;
LX. - fornecer assessoria aos produtores rurais e urbanos no manejo de plantas medicinais através de órgãos competentes;
LXI. – promover a cultura de plantas medicinais e condimentares, utilizando os meios de comunicação;
LXII. - criar um canal permanente de comunicação com as várias secretárias municipais, principalmente a de educação, com intuito de resgatar e divulgar o saber popular sobre plantas medicinais;
LXIII. - Organizar e equipar dentro das normas sanitárias, laboratório para o recebimento e estocagem de matéria prima (plantas medicinais), manipulação de fitoterápicos, estocagem e dispensação do produto final. a. – planejar e estruturar o laboratório municipal de manipulação,para a produção de fitoterápicos, de acordo com a demanda do município; b. – buscar junto aos órgãos municipais, estaduais e federal,verbas para a construção e aquisição de equipamentos para o laboratório de manipulação de fitoterápicos; c. – definir responsabilidade técnica do laboratório municipal de fitoterápico. Art. 4° Cabe ao Município:
I - Fortalecer o programa de plantas medicinais e fitoterápicos, mantendo um processo de atualização constante de toda cadeia produtiva na intenção de preservar a qualidade do produto final. a. estabelecer mecanismos creditícios e tributários adequados à estruturação das cadeias e dos arranjos produtivos de plantas medicinais e fitoterápicos; b. - estabelecer mecanismos para distribuição dos recursos destinados ao desenvolvimento regional da cadeia produtiva de fitoterápicos; c. - realizar análise prospectiva da capacidade instalada na região; d. - definir critérios diferenciados para alocação e distribuição dos recursos orçamentários e financeiros destinados às cadeias produtivas de fitoterápicos; e. - Selecionar projetos estratégicos na área de plantas medicinais e fitoterápicos, visando ao investimento em projetos pilotos;
II. - Utilização do poder de compra do município na área da saúde para o fortalecimento da produção de ervas medicinais.
III. - Identificar demandas e adequar a utilização de plantas medicinais e fitoterápicos distribuídos na rede pública de saúde, de acordo com o perfil epidemiológico da população em consonância com a farmacopéia nacional ou outras validadas pela ANVISA;
a. – analisar o perfil epidemiológico do município e demanda da
população local com relação ao uso de plantas medicinais; b. - buscar adequar o uso popular ao perfil epidemiológico; c. – listar as plantas medicinais e fitoterápicos a serem dispensados na rede pública de saúde, levando em conta a demanda e o perfil epidemiológico em concordância com
a farmacopéia brasileira ou outras validadas pela ANVISA; d. – fortalecer e incrementar o momento básico sempre que
assim exigir a demanda e a alteração do perfil epidemiológico; e. - Manter a produção municipal de ervas medicinais constante,
de acordo com a demanda e sazonalidade; f. - Adequar e controlar a produção agrícola de plantas
medicinais para a produção ininterrupta de ervas medicinais . IV - Envolver os profissionais da rede pública
incentivando a pesquisa cientifica com fitoterápicos e plantas medicinais, com base na biodiversidade regional e de acordo com a demanda e perfil epidemiológico do município.
a. – Incentivar o profissional da rede pública na elaboração de
pesquisas envolvendo o uso de plantas medicinais e fitoterápicos;
b. – apoiar financeiramente projetos de pesquisas com plantas
medicinais. Art. 5º Será realizado monitoramento e avaliação
das ações da Política Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, através da criação da Comissão de ética e pesquisa conforme a resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que deverá criar instrumentos adequados à mensuração de resultados desta política além de incentivar parcerias técnicas com os vários setores da sociedade envolvidos com a implantação do programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
Art. 6° Fica instituído Grupo de Trabalho para elaborar, no prazo de cento e oitenta dias, contados da publicação desta Lei, o Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. §1º - O Grupo de Trabalho será constituído por:
I – Secretária da Saúde (saúde da família, vigilância sanitária, farmácia) II– Secretaria municipal de desenvolvimento agropecuário
III. – Rede ECOVIDA de agroecologia; IV. – Pastoral da Saúde;
V- Entidades religiosas idôneas que desenvolvam trabalhos com plantas medicinais;
VI. – Secretaria Municipal de Educação, Universidades, UNC,
UFSC,IF-SC e outras que desenvolvam pesquisa na área; VII. – Epagri – Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina;
VIII. – FUNDEMA – Fundação Municipal do Meio Ambiente;
IX. – Entidades governamentais e não governamentais que desenvolvam pesquisas e trabalhos na área.
X. – Conselho Municipal de Saúde § 2º O coordenador e os membros do Grupo de
Trabalho serão designados mediante indicação dos dirigentes máximos dos órgãos e entidades nele representados. §3º - O Grupo de Trabalho poderá:
I. - Constituir comissões e subgrupos de trabalho sobre temas específicos;
II. - Convidar profissionais liberais de notório saber na matéria ou especialistas de outros órgãos ou entidades e da sociedade civil para prestar assessoria às suas atividades.
4º - Caberá a Secretaria da Saúde prover o apoio administrativo e os meios necessários à execução das atividades do Grupo de Trabalho.
5º - A participação no Grupo de Trabalho será considerada prestação de serviço público relevante e não será remunerada.
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Art. 7º. As despesas decorrentes da aplicação
desta Lei correrão por conta de dotações constantes do orçamento vigente.
Art. 8º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Canoinhas, 07 de julho de 2010
Leoberto Weinert Prefeito João Grein Vereador Autor