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TRANSPORTE O QUE FIZERAM COM A EDUCAÇÃO Impasse do poder público deixa 612 alunos sem estudo e frustra expectativas | 12 e 13 | ESPECIAL DIÁRIO DE SANTA MARIA SÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE MARÇO DE 2008 DIÁRIO DE SANTA MARIA SÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE MARÇO DE 2008 FOTOS CHARLES GUERRA – 26/03/08 MAIS Conquista No Brasil, o direito à educação foi reconhecido na Constituição Federal de 1988. Antes disso, o Estado não tinha a obrigação formal de garantir ensino de qualidade a todos os brasileiros. A educação pública era tratada como assistência, um amparo dado àqueles que não podiam pagar TRISTEZA ESTAMPADA Rosiane Ilha, 15 anos, passou para o sexto ano na Escola Almiro Beltrame, em Boca do Monte. A fecilidade pela conquista dá lugar à angústia. Ela não tem condução para ir à aula e não sabe quando terá DELES? O PROBLEMA Em 2007, as escolas estaduais de Santa Maria ficaram sem trans- porte porque Estado e prefeitura não se acertavaram quanto ao valor que cada um deveria pagar pelo serviço Em outubro de 2007, o Juizado Regional da Infância e Juventude de Santa Maria determinou que, em 2008, o Estado seria responsá- vel pelo transporte 2008 começou, o Estado não garantiu o serviço e ofereceu R$ 1,91 por aluno, ao dia. A prefei- tura considerou que o valor era insuficiente Em 6 de março, o Tribunal de Justiça (TJ) suspendeu a deter- minação do juizado. Quatro dias depois, a prefeitura fez nova pro- posta: pagar 50% do valor do ser- viço se o Estado assumisse a outra metade. O Estado não aceitou Na última sexta-feira, houve uma reunião do prefeito Valdeci Oliveira com a secretária de Educação do Estado Mariza Abreu. Ficou definido que o Estado se respon- sabilizaria por pagar 50% do valor do transporte (R$ 1,91 por aluno) e a prefeitura, os outros 50%.Na segunda-feira, haverá uma reunião para oficializar a proposta. Deve ser aberto um leilão para escolher as empresas que farão o transpor- te, ainda sem data para voltar Quem ficou sem condução Na zona rural Escola Boca do Monte, em Boca do Monte – 72 alunos Escola Almiro Beltrame, em Boca do Monte – 84 alunos Escola Princesa Isabel, em Arroio do Só – 96 alunos Escola Arroio Grande, em Arroio Grande – 174 alunos Classes especiais (na zona urbana de Santa Maria) Escola de Educação Especial Doutor Reinaldo Fernando Coser – Aproximadamente 50 alunos Escola Cícero Barreto – 3 alunos Escola Coronel Pilar – Aproxima- damente 100 alunos Instituto de Educação Olavo Bilac – 26 alunos Instituto de Estadual Padre Cae- tano – 7 alunos O TEMPO PASSA DEVAGAR Enquanto aguarda, Rosiane revisa os conteúdos que aprendeu em 2007 e ajuda a avó, com quem mora, na horta da família Só eles sabem a falta que faz TUDO PRONTO Vinícius (a partir da esq.), Taís, Maurício e Diego estão com as mochilas feitas. Só esperando a hora de voltar Quem tem um filho em casa, quando ele deveria estar na escola, sabe da preocupação que toma con- ta da dona-de-casa Zenaide da Silva Teixeira, 38 anos, desde o dia 3 de março. Ela não tem apenas um, mas cinco filhos sem estudar porque não há transporte para levá-los à Escola Almiro Beltrame, que fica a 10 qui- lômetros da casa onde mora a famí- lia, em Boca do Monte. – Eu nunca botei os pés numa sala de aula. Sou analfabeta. O meu mari- do também estudou pouco. Sempre quisemos que com os nossos filhos fosse diferente. Vê-los faltar às aulas é uma dor que não tem explicação – afirma Zenaide. As três crianças e as duas ado- lescentes estudam em diferentes turnos e séries. O pai, o agricultor Ciomar Martins da Silva, 40, bem que pensou em levá-las à escola em um trator, emprestado pelo patrão. O problema é que, para fazer isso, Silva teria de deixar o trabalho na lavoura que serve para o sustento da família, afinal, seriam quatro via- gens diárias. Os filhos de Zenaide e Ciomar, Sa- brina, 15 anos, que está no 7º ano, Taís, 14, do 5º ano, Maurício, 11, do 3º ano, Vinícius, 8, e Diego, 6, ambos no 1º ano, sabem que os colegas já voltaram das férias. A tristeza é geral porque eles não têm nada a fazer a não ser esperar pela mesma sorte. Enquanto não volta para a sala de aula, Taís ajuda a mãe nas tare- fas de casa. A adolescente, que tinha até feito uma decoração especial no caderno para esperar março che- gar, está com saudade das lições de português, sua disciplina preferida. Ela acha que aprender a gramática é bem melhor do que suar no tanque de casa para lavar toda a roupa da família ou cuidar dos cinco irmãos Há um mês, crianças e adolescentes estão em casa porque não há ônibus para levá-los às escolas MARILICE DARONCO O despertador tocando cedinho, o ônibus escolar parando na frente de casa, os temas para fazer ao chegar da aula, as dúvidas sobre o conteúdo... O que para muitos dos 29 mil alunos das escolas estaduais de Santa Maria é uma rotina, para cerca de 612 que moram na zona rural ou têm necessi- dades especiais é só lembrança. As férias forçadas, causadas pela falta de um acordo entre Estado e pre- feitura que garanta o transporte esco- lar, estão deixando frustrados alunos como Rosiane Sttelo Ilha, 15 anos. Com a mochila pronta para recome- çar o ano, ela e outras adolescentes e crianças não têm a menor idéia de quando vão ter um reencontro com a educação que lhes foi negada. Na sexta-feira, um avanço nas negocia- ções trouxe um pouco de alento, mas como nada está resolvido ainda, per- manece a agonia da espera. Nesta e nas próximas duas pá- ginas, o Diário conta a história de pais, professores e alunos do Colégio Coronel Pilar e da Escola Estadual Almiro Beltrame, um dos colégios da zona rural que está em situação mais difícil. Além de ter as maiores distâncias em relação às casas dos alunos, a escola perdeu 41 estudan- tes neste ano. Eles pediram transfe- rência no começo deste ano, já pre- vendo que o problema que ocorreu em 2007 se repetiria (veja quadro). As histórias de Rosiane, Maurício, Taís, Sabrina, Diego, Vinícius, Gean- dra e suas famílias são exemplos do que o impasse entre dois poderes públicos pode fazer. Desde o dia 3, quando o ano letivo recomeçou, pais estão deixando o trabalho de lado para poder ficar de olho nos filhos. Para passar o tempo e tentar segurar a angústia e o medo de perder o ano, eles brincam, ajudam em casa, revi- sam os conteúdos do ano anterior. Só não conseguem fazer uma coisa: ter a educação que a Constituição diz que é um direito de todos. E não são só os pais que se desdo- bram. Os alunos também. Para não esquecer o que aprendeu na quinta série, Rosiane passa a maior parte do dia revirando os cadernos do ano passado. É ali que encontra inspira- ção para continuar confiante de que mais cedo ou mais tarde vai voltar para a sala de aula. – Muita gente da minha escola já mudou de colégio. Não vou fazer isso. Um dia vai chegar o transporte até aqui. Tomara que seja logo – crê a adolescente. Rosiane também ajuda a avó,Zelin- dra Martins Ilha, 72 anos, com quem mora. Apesar de o pensamento dela estar a 10 quilômetros da proprieda- de rural, dentro da sala de aula, é na horta que a garota passa boa parte do tempo. Ela ajuda a limpar os cantei- ros e a colher alimentos. – Assim que recebi o dinheiro do Bolsa-Família, corri para comprar o material escolar dela. Eu, que não te- nho estudo, sei o quanto essa distân- cia da sala de aula está prejudicando a minha filha – afirma Zilma Sttelo Martins, 37 anos, mãe de Rosiane. Fio de esperança – Na sexta-feira, o prefeito de Santa Maria, Valdeci Oliveira, esteve em Porto Alegre para uma audiência com a secretária es- tadual de Educação, Mariza Abreu. Ficou definido que o Estado se res- ponsabilizará por bancar os custos determinados pelo Programa Esta- dual de Transporte Escolar (Peate/ RS): R$ 1,91 por aluno por dia para a cidade. A prefeitura deve dar uma contrapartida do mesmo valor. O total será de R$ 3,82 ppor aluno. Na segunda, representantes do Estado e do município vão à Vara da Infância e Juventude oficializar a proposta. O problema é que não se sabe se haverá empresas candidatas a fazer o serviço por R$ 3,82, já que o pre- ço dos roteiros para transportar os estudantes dos distritos varia entre R$ 3,50 e R$ 6,02. Conforme o vice- presidente da Cooperativa de Trans- portes Alternativos de Santa Maria (Cootransporte), Alex Colpo, para de- terminados roteiros, especialmente em Boca do Monte, será difícil achar uma empresa que concorde em fazer o transporte por esse valor. De acordo com o secretário muni- cipal de Comunicação Social, Tiago Machado, na próxima semana deve ser aberto um leilão para que as em- presas se inscrevam. As que se ade- quarem ao valor, serão contratadas. (Colaborou Fernanda Mallmann) menores – dois deles ainda nem têm idade para ir à escola. A garota que sonha em seguir adiante nos estudos, apesar de ainda não ter es- colhido uma profissão, teme que os constantes problemas do transporte escolar se transformem num obstá- culo no futuro. Passatempo – Enquanto Taís toma conta da casa, os irmãos menores encontram outras formas de passar o tempo: levam a cadela Pantera, a xodó dos pequenos, para passear, brincam de carrinho, jogam bola no pátio de casa e assistem à TV. Mas não era isso o que os cinco queriam estar fazendo em pleno março, com- pleta a mãe deles: – Eles estão com as mochilas pron- tas, perguntam a toda hora quando a aula vai começar. ENQUANTO ISSO... Taís diz que preferia estar estudando português do que cuidar dos irmãos e fazer os serviços domésticos SEGUE

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Page 1: SÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE MARÇO DE 2008 SÁBADO … · Instituto de Educação Olavo Bilac – 26 alunos Instituto de Estadual Padre Cae-tano – 7 alunos O TEMPO PASSA DEVAGAR

TRANSPORTE

O QUE FIZERAMCOM A EDUCAÇÃO

Impasse do poder público deixa 612 alunos sem estudo e frustra expectativas

| 12 e 13 |

ESPECIAL

DIÁRIO DE SANTA MARIASÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE MARÇO DE 2008

DIÁRIO DE SANTA MARIASÁBADO E DOMINGO, 29 E 30 DE MARÇO DE 2008

FOTOS CHARLES GUERRA – 26/03/08

MAIS

Conquista

No Brasil, o direito à educação foi reconhecido na Constituição Federal de 1988. Antes disso, o Estado não tinha a obrigação formal de garantir ensino de qualidade a todos os brasileiros. A educação pública era tratada como assistência, um amparo dado àqueles que não podiam pagar

TRISTEZA ESTAMPADARosiane Ilha, 15 anos, passou para o sexto ano na Escola Almiro Beltrame, em Boca do Monte. A fecilidade pela conquista dá lugar à angústia. Ela não tem condução para ir à aula e não sabe quando terá

DELES?

O PROBLEMA

■ Em 2007, as escolas estaduais de Santa Maria ficaram sem trans-porte porque Estado e prefeitura não se acertavaram quanto ao valor que cada um deveria pagar pelo serviço

■ Em outubro de 2007, o Juizado Regional da Infância e Juventude de Santa Maria determinou que, em 2008, o Estado seria responsá-vel pelo transporte

■ 2008 começou, o Estado não garantiu o serviço e ofereceu R$ 1,91 por aluno, ao dia. A prefei-tura considerou que o valor era insuficiente

■ Em 6 de março, o Tribunal de Justiça (TJ) suspendeu a deter-minação do juizado. Quatro dias depois, a prefeitura fez nova pro-posta: pagar 50% do valor do ser-viço se o Estado assumisse a outra metade. O Estado não aceitou

■ Na última sexta-feira, houve uma reunião do prefeito Valdeci Oliveira com a secretária de Educação do Estado Mariza Abreu. Ficou definido que o Estado se respon-sabilizaria por pagar 50% do valor do transporte (R$ 1,91 por aluno) e a prefeitura, os outros 50%.Na segunda-feira, haverá uma reunião para oficializar a proposta. Deve ser aberto um leilão para escolher as empresas que farão o transpor-te, ainda sem data para voltar

Quem fi cou sem conduçãoNa zona rural■ Escola Boca do Monte, em Boca do Monte – 72 alunos■ Escola Almiro Beltrame, em Boca do Monte – 84 alunos■ Escola Princesa Isabel, em Arroio do Só – 96 alunos■ Escola Arroio Grande, em Arroio Grande – 174 alunos

Classes especiais(na zona urbana de Santa Maria)■ Escola de Educação Especial Doutor Reinaldo Fernando Coser – Aproximadamente 50 alunos■ Escola Cícero Barreto – 3 alunos■ Escola Coronel Pilar – Aproxima-damente 100 alunos■ Instituto de Educação Olavo Bilac – 26 alunos■ Instituto de Estadual Padre Cae-tano – 7 alunos

O TEMPO PASSA DEVAGAREnquanto aguarda, Rosiane revisa os conteúdos que aprendeu em 2007 e ajuda a avó, com quem mora, na horta da família

Só eles sabem a falta que faz

TUDO PRONTOVinícius (a partir da esq.), Taís, Maurício e Diego estão com as mochilas feitas. Só esperando a hora de voltar

Quem tem um filho em casa, quando ele deveria estar na escola, sabe da preocupação que toma con-ta da dona-de-casa Zenaide da Silva Teixeira, 38 anos, desde o dia 3 de março. Ela não tem apenas um, mas cinco filhos sem estudar porque não há transporte para levá-los à Escola Almiro Beltrame, que fica a 10 qui-lômetros da casa onde mora a famí-lia, em Boca do Monte.

– Eu nunca botei os pés numa sala de aula. Sou analfabeta. O meu mari-do também estudou pouco. Sempre quisemos que com os nossos filhos fosse diferente. Vê-los faltar às aulas é uma dor que não tem explicação – afirma Zenaide.

As três crianças e as duas ado-lescentes estudam em diferentes turnos e séries. O pai, o agricultor Ciomar Martins da Silva, 40, bem que pensou em levá-las à escola em um trator, emprestado pelo patrão. O problema é que, para fazer isso, Silva teria de deixar o trabalho na lavoura que serve para o sustento da família, afinal, seriam quatro via-gens diárias.

Os filhos de Zenaide e Ciomar, Sa-brina, 15 anos, que está no 7º ano, Taís, 14, do 5º ano, Maurício, 11, do 3º ano, Vinícius, 8, e Diego, 6, ambos no 1º ano, sabem que os colegas já voltaram das férias. A tristeza é geral porque eles não têm nada a fazer a não ser esperar pela mesma sorte.

Enquanto não volta para a sala de aula, Taís ajuda a mãe nas tare-fas de casa. A adolescente, que tinha até feito uma decoração especial no caderno para esperar março che-gar, está com saudade das lições de português, sua disciplina preferida. Ela acha que aprender a gramática é bem melhor do que suar no tanque de casa para lavar toda a roupa da família ou cuidar dos cinco irmãos

Há um mês, crianças eadolescentes estão em casa porque não há ônibus para levá-los às escolas

MARILICE DARONCO

O despertador tocando cedinho, o ônibus escolar parando na frente de casa, os temas para fazer ao chegar da aula, as dúvidas sobre o conteúdo... O que para muitos dos 29 mil alunos das escolas estaduais de Santa Maria é uma rotina, para cerca de 612 que moram na zona rural ou têm necessi-dades especiais é só lembrança.

As férias forçadas, causadas pela falta de um acordo entre Estado e pre-feitura que garanta o transporte esco-lar, estão deixando frustrados alunos como Rosiane Sttelo Ilha, 15 anos. Com a mochila pronta para recome-çar o ano, ela e outras adolescentes e crianças não têm a menor idéia de quando vão ter um reencontro com a educação que lhes foi negada. Na sexta-feira, um avanço nas negocia-ções trouxe um pouco de alento, mas como nada está resolvido ainda, per-manece a agonia da espera.

Nesta e nas próximas duas pá-ginas, o Diário conta a história de pais, professores e alunos do Colégio Coronel Pilar e da Escola Estadual Almiro Beltrame, um dos colégios da zona rural que está em situação mais difícil. Além de ter as maiores distâncias em relação às casas dos alunos, a escola perdeu 41 estudan-tes neste ano. Eles pediram transfe-rência no começo deste ano, já pre-vendo que o problema que ocorreu em 2007 se repetiria (veja quadro).

As histórias de Rosiane, Maurício, Taís, Sabrina, Diego, Vinícius, Gean-dra e suas famílias são exemplos do que o impasse entre dois poderes públicos pode fazer. Desde o dia 3, quando o ano letivo recomeçou, pais estão deixando o trabalho de lado para poder ficar de olho nos filhos. Para passar o tempo e tentar segurar a angústia e o medo de perder o ano, eles brincam, ajudam em casa, revi-sam os conteúdos do ano anterior. Só não conseguem fazer uma coisa: ter a educação que a Constituição diz que é um direito de todos.

E não são só os pais que se desdo-bram. Os alunos também. Para não esquecer o que aprendeu na quinta série, Rosiane passa a maior parte do dia revirando os cadernos do ano passado. É ali que encontra inspira-ção para continuar confiante de que mais cedo ou mais tarde vai voltar para a sala de aula.

– Muita gente da minha escola já mudou de colégio. Não vou fazer isso. Um dia vai chegar o transporte até aqui. Tomara que seja logo – crê a adolescente.

Rosiane também ajuda a avó, Zelin-dra Martins Ilha, 72 anos, com quem mora. Apesar de o pensamento dela estar a 10 quilômetros da proprieda-de rural, dentro da sala de aula, é na horta que a garota passa boa parte do tempo. Ela ajuda a limpar os cantei-ros e a colher alimentos.

– Assim que recebi o dinheiro do Bolsa-Família, corri para comprar o material escolar dela. Eu, que não te-nho estudo, sei o quanto essa distân-

cia da sala de aula está prejudicando a minha filha – afirma Zilma Sttelo Martins, 37 anos, mãe de Rosiane.

Fio de esperança – Na sexta-feira, o prefeito de Santa Maria, Valdeci Oliveira, esteve em Porto Alegre para uma audiência com a secretária es-tadual de Educação, Mariza Abreu. Ficou definido que o Estado se res-ponsabilizará por bancar os custos determinados pelo Programa Esta-dual de Transporte Escolar (Peate/RS): R$ 1,91 por aluno por dia para a cidade. A prefeitura deve dar uma contrapartida do mesmo valor. O total será de R$ 3,82 ppor aluno. Na segunda, representantes do Estado e do município vão à Vara da Infância e Juventude oficializar a proposta.

O problema é que não se sabe se haverá empresas candidatas a fazer o serviço por R$ 3,82, já que o pre-ço dos roteiros para transportar os estudantes dos distritos varia entre R$ 3,50 e R$ 6,02. Conforme o vice-presidente da Cooperativa de Trans-portes Alternativos de Santa Maria (Cootransporte), Alex Colpo, para de-terminados roteiros, especialmente em Boca do Monte, será difícil achar uma empresa que concorde em fazer o transporte por esse valor.

De acordo com o secretário muni-cipal de Comunicação Social, Tiago Machado, na próxima semana deve ser aberto um leilão para que as em-presas se inscrevam. As que se ade-quarem ao valor, serão contratadas.

(Colaborou Fernanda Mallmann)

menores – dois deles ainda nem têm idade para ir à escola. A garota que sonha em seguir adiante nos estudos, apesar de ainda não ter es-colhido uma profissão, teme que os constantes problemas do transporte escolar se transformem num obstá-culo no futuro.

Passatempo – Enquanto Taís toma conta da casa, os irmãos menores

encontram outras formas de passar o tempo: levam a cadela Pantera, a xodó dos pequenos, para passear, brincam de carrinho, jogam bola no pátio de casa e assistem à TV. Mas não era isso o que os cinco queriam estar fazendo em pleno março, com-pleta a mãe deles:

– Eles estão com as mochilas pron-tas, perguntam a toda hora quando a aula vai começar.

ENQUANTO ISSO...Taís diz que preferia estar estudando português do que cuidar dos irmãos e fazer os serviços domésticos

SEGUE

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DIÁRIO DE SANTA MARIA Sábado e Domingo, 16 e 17/06/2007 15DIÁRIO DE SANTA MARIA14

Lucas (à esq.) canta um rap que pede esperança. Nei (à dir.) tem medo de perder a sua Cães (à esq.) vivem no lixão com catadores como Flávio (à dir.), que desistiu do horto

GERALGERALMARILICE DARONCO

mmaarriilliiccee..ddaarroonnccoo@@hhoottmmaaiill..ccoomm

É noite. No meio da paisagem onde olixo toma conta de todos os espaços,surgem homens, mulheres e crianças

com lanternas amarradas na cabeça. Elestentam enxergar algo que a cidade nãoviu quando desprezou sacos e sacolas.

Às 18h, chega um caminhão carregandosete toneladas de promessas de conse-guir levar para casa material suficientepara comprar a comida de alguns dias. Eleanuncia que chegou a hora do rush no li-xão da Caturrita. Começa a vir o lixo doCentro. Mais de 60 catadores invadem amadrugada, garimpando para encontrar la-tas, plásticos, papel ou algo que possa ser

vendido. No meio de tanto lixo,garimpeiro não tem sexo, ida-

de ou cor. São iguais, e ashistórias se confundem.

À medida que os ca-minhões despejam o li-xo, começa a caçada.Cada veículo é acompa-

nhado de mais gentependurada, como se o nú-

mero de garimpeiros não ti-vesse fim. O frio não assusta,

pois a necessidade do dinheiro daalimentação da semana é mais urgente.

No meio de tantas vozes gritando porespaço, uma ganha destaque. Lucas deAlmeida, 20 anos, não grita. Ele canta pe-dindo que os catadores tenham esperan-ça. “Ei, irmão, nunca se esqueça, naguarda, guerreiro, levanta a cabeça, ondeestiver seja lá como for, tenha fé, porqueaté no lixão nasce flor”, diz a letra do rapque ele aprendeu com o seu grupo favori-to – os Racionais MC’s.

– O CD que mais queria (dos Racio-nais), achei aqui. Estava inteirinho, na ca-pa, parecia presente – diz Lucas, que vi-rou garimpeiro com menos de 10 anos.

Tentando imitar os adultos, crianças eadolescentes procuram driblar o atoleiroformado pela chuva da manhã anteriorpara também garimpar entre as 150 tone-ladas de lixo que chegam diariamente.

– O meu medo é que isso feche. Daí agente vai viver de quê? – questiona NeiNunes, 30 anos, um dos mais antigos.

Nunes é um dos que vivem em tempointegral no lixão. Para aliviar a solidão,ele tem os cães que acompanham aten-tos a abertura dos sacos, na expectativade que, em um deles, chegue o jantar.

Fim do aterro é anunciado desde o ano de 2005

O fim do aterro sanitário já é anunciadodesde 2005, quando a Fundação Estadualde Proteção Ambiental (Fepam)pediu a interdição do local.De lá para cá, o volume delixo cresceu mais rápidodo que as soluções. Napróxima semana, a pre-feitura pretende levartécnicos municipais eda Fepam ao lixão, paraconseguir mais prazo pa-ra depositar o lixo.

Segundo o secretário deProteção Ambiental, Carlos Rempel,serão, pelo menos, mais três meses atéque haja uma vencedora para a licitaçãoda coleta do lixo da cidade.

– As pessoas não entendem o que pas-samos aqui e que, se enfrentamos tudoisso, é porque precisamos. Da outra vez,quando fecharam o lixão, tinha gente rou-bando o lixo daqui para não morrer de fo-me – diz Flávio Santos, 28 anos, que sus-tenta quatro filhos e a mulher.

Flávio foi um dos que chegou a aderir aum projeto da prefeitura e foi para o hortomunicipal, dois anos atrás. Ele diz quenão suportou o ronco na barriga dos fi-lhos e preferiu voltar a viver do lixo.

Garimponoturnono lixão

EEmm mmeeiioo aaooss ccããeess ee àà qquuaannttiiddaaddeeiinnffiinniittaa ddee lliixxoo,, aattéé ccrriiaannççaass,,mmuullhheerreess ee iiddoossoosspprrooccuurraamm ssuuaassoobbrreevviivvêênncciiaa nnoo aatteerrrroo ddaa CCaattuurrrriittaa

Lição do dia: sobrevivência

O lixo é velho conhecidoCláudio Estivalete Bastos (foto), 28 anos, virou

garimpeiro há pouco mais de um mês. Isso nãoquer dizer que os restos da cidade não são velhosconhecidos. Bastos é ex-lixeiro. Quando perdeu oemprego, tratou de largar currículo em vários luga-res. Mas o Ensino Fundamental completo não ga-rantiu a ele mais do que um não nas entrevistas.

– Eu me inscrevi em tudo quanto foi lugar paratrabalhar e não consegui emprego. Sem serviço, agente não é nada. E sem dinheiro a gente não vive– lamenta o catador.

Depois de muita procura, Bastos conseguiu va-ga de auxiliar de pedreiro. O problema é que,quando a obra acabou, ele teve de voltar a buscaremprego. Depois de um tempo, aceitou o conse-lho de um amigo e foi garimpar no lixão. O maiororgulho dele é que, agora, conseguiu alugar umacasinha. Ainda que, para o aluguel, tenha de pas-sar a semana toda em um barraco no lixão.

– A gente faz carreteiro, arroz campeiro... Quan-do um não tem uma coisa, o outro empresta. Umcuida do outro – conta Bastos, enquanto se prepa-ra para cortar os temperos da janta do dia.

Ele tem apenas 15 anos, mas trabalhapara ajudar no sustento de nove pessoas.O sonho de ter uma profissão que pudessemudar a vida dos pais foi deixado de lado.A família achou que aprender matemática,

geografia, ciências eportuguês não era tãoimportante quantoconseguir dinheiro paraque ninguém passassefome em casa. Há umano e meio, o garoto(foto acima) abando-nou a 5ª série e foi

aprender uma lição que não poderia ser en-sinada com quadro e giz: virou garimpeirodo lixão da Caturrita.

Para ajudar a encontrar em meio a tantolixo algo que possa ser vendido, usou um

truque que virou moda entre os catadores.Uma pequena lanterna amarrada ao bonédá conta de clarear o que a lua não conse-gue. Depois de poucos minutos revirando olixo, o garoto volta com uma dezena de car-tuchos de arma na mão (foto ao lado).

– Olha só o que eu achei. Nem foramusados ainda – comemora.

Mais alguns minutos de trabalho, e elevai juntando com latinhas, garrafas, plásti-cos e papéis, um pequeno patrimônio quenão sai um segundo sequer de suas costas.

– Manda uma sacola para cá com o meunome? Não sei se vou achá-la no meio des-se lixo todo, mas pelo menos vou ficar so-nhando que um dia ela vai chegar – pede omenino à equipe do Diário, no único mo-mento em que tirou do rosto o sorriso queo acompanhou durante toda a garimpagem.

Duas maratonas por diaMal o caminhão chega, e João Soares

Brito (foto), 36 anos, começa a separar ra-pidamente os materiais recicláveis que en-contra pelo caminho. Em poucos minutos,ele junta um saco inteiro de coisas que po-derá vender. Mesmo assim, não pára umsegundo sequer de revirar os resíduos. Afi-nal, o que conseguiu juntar não é suficien-te para garantir o sustento da família.

Apesar de trabalhar no lixão há seisanos, Brito confessa que ainda não seacostumou completamente à escuridão eque, muitas vezes, já se cortou com os vi-dros que as pessoas jogam no lixo. Ape-sar de não considerar os acidentes sérios,ele conta que já teve de dar pontos devi-

do à profundidade dos cortes. – Eu trabalhava de pedreiro, mas acabei

aqui. O pior que eu já encontrei no lixo foio próprio lixo. É muito ruim trabalhar aqui,mas, para a gente, isso significa sobrevi-ver – afirma Brito.

Ao contrário de muitos outros garimpei-ros, Brito não dorme no lixão. Toda noite,depois que separa o material que vendeno dia seguinte para pagar as despesasdele, da mulher e da enteada, começa ou-tra maratona. O catador caminha novequilômetros, do lixão da Caturrita até o Al-to da Boa Vista, onde mora.

– No dia seguinte, é tudo de novo –conclui o catador.

Surpresas que a noite trazNo lixo, João Gonçalves da Silva (foto), 64

anos, já encontrou tudo o que se possa imagi-nar. Segundo ele, a maioria das pessoas se as-sustaria diante do que chega nos caminhões.Mas, na noite de 19 de agosto de 2005, o ho-mem acostumado à vida dura teve vontade dedesistir. Acabou continuando no serviço porquenão tinha outro jeito de ganhar a vida.

Silva nunca ia buscar lixo durante a “em-purrada” – quando o caminhão pára e come-ça a empurrar os detritos de dentro dele –,mas naquela noite resolveu quebrar a rotina.

– Achei uma sacola que tinha um volumedentro. Vi que não era comida para porcosnem carne. Quando abri, havia uma meninade 50 centímetros de comprimento. Ela ti-nha uns oito meses. Tem tanta gente por aíquerendo um filho. Pensei nisso e chorei emcima do feto – afirma João.

No final de semana, quando não chega ne-nhuma carga de lixo, o catador vai para casa.No caminho entre o lixão e o abraço da mu-lher, sofre com o fardo pesado que é carre-gar nos ombros o que juntou na semana:

– Se não houvesse o lixão, seria muito pi-or. Todos nós já teríamos morrido de fome.

QQuuaannddoo ooss ccaammiinnhhõõeess cchheeggaamm ccoomm ooss rreessíídduuooss ddaa cciiddaaddee,, ccoommeeççaa aa ccaaççaaddaa aaooss rreecciicclláávveeiiss

Fotos Lauro Alves

Sãocerca de 150toneladas de lixodepositadas por diano lixão

21caminhões

largamresíduos

diariamenteno aterro

daCaturrita

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A situação dos morros de Santa Maria é um tema que, desde 1997, desperta a atenção do professor Luís Eduardo Robaina, do curso de Ge-ografia da Universidade Federal de Santa Maria. Ele leciona a disciplina de processos superficiais e risco e costuma levar alunos ao morro da Bilibio para que conversem com mo-radores e conheçam a realidade.

Segundo o professor, o risco de deslizamentos no morro ocorre por uma soma de fatores. Primeiro, o solo é formado por uma mistura de rocha arenosa, lama e materiais que descem do alto com a chuva. Robaina lembra também que, quando a barragem do

DNOS foi construída, muita terra foi retirada da Bilibio, o que mexeu mui-to com a estrutura do solo. A esses fatores, soma-se outro:para constru-írem as casas, os moradores tiveram de cavar os terrenos. O desmatamen-to e as escavações teriam tornado a área instável e, à medida que o esgoto das casas começou a ser jogado nas encostas, piorou a situação.

– O risco é óbvio. Já houve eventos por lá, ainda que nunca tenham ocor-rido mortes. É uma situação diferente de outros lugares, de onde as pessoas jamais sairiam para um programa de habitação popular. Quem mora na Bi-libio já viu desmoronamentos e tem

receio de passar por isso novamente. A prefeitura conversa com os mo-radores, mas não há uma ação para tirá-los de lá – afirma Robaina.

O coordenador das obras do Pro-grama de Aceleração do Crescimen-to (PAC), Altamir Campos, diz que a prefeitura já tem levantamento das famílias em áreas de risco e que, na medida do possível, elas são encami-nhadas para programas de habitação. Segundo ele, a prioridade depende do ângulo que se vê e, para a prefeitura, o lugar que precisa ser atendido com mais urgência é a Vila São Rafael, no bairro Chácara das Flores, que seria ameaçada por desmoranamentos.

ESPECIAL

DIÁRIO DE SANTA MARIASÁBADO E DOMINGO, 6 E 7 DE DEZEMBRO DE 2008

Mais de 10 anos de observação

SITUAÇÃO DE RISCO

A prefeitura e a Defesa Civil têm um levantamento dos locais em que os moradores, ou parte deles, encontram-se em risco. Uma empresa contratada pela prefeitura apontou 22 áreas de risco na cidade e que 28.184 pessoas moram ou trabalham nesses locais. Cerca de 80% dessas áreas é ocupada por casas

2) Deslizamento ■ As casas são construídas em lugares altos, como morros, onde podem rolar pedras do alto ou ocorrer deslizamentos. Como geralmente há desmatamento, os terrenos perdem a estabilidade. Como nesses locais a maioria das casas usa escoras de madeira, há o risco de, com a umidade ou chuva, a casa ficar instável

■ Vila Bela Vista■ Montanha Russa■ Passo dos Weber

4) Margens de rodovias e ferrovias■ São, na maioria dos casos, áreas de invasões em que as casas ficam às margens da rodovia ou da ferrovia podendo ser atingidas por veículos ou trens em casos de acidentes ou ainda por produtos perigosos transpor-tados por eles, como amônia, combustível e gás

■ Margens da BR-287■ Campestre do Menino Deus■ Ponte da Euclides da Cunha■ Margens da BR-158 perto da barragem do DNOS

1) Alagamento e inundação■ Ocorre em locais em que as casas são construídas muito perto de barragens, arroios ou sangas. Também afeta locais onde o curso de rios é desviado e, quando há muita chuva, o nível sobe, e ele transborda. O proble-ma aumenta mais porque o lixo e o esgoto normalmente são jogados na água, causando erosão nas margens

■ Invasão do Km2■ Invasão do Km3■ Vila Cerro Azul

■ Vila Ecologia■ Vila Renascença■ Vila Santos

3) Risco simultâneo de alagamento e deslizamento■ É um risco que ameaça casas construídas em barrancos perto, principalmente, de arroios e sangas. Com a erosão do solo, há o risco de as desmoronamen-to. Geralmente, é jogado lixo no rio ou arroio, e a água começa a subir em caso de chuva e a invadir casas

■ Bairro Urlândia■ Bairro Salgado Filho■ Vila Favarin

■ Vila Medianeira■ Vila Schirmer

2

3

1

4

■ Vila Arco-Íris■ Vila Oliveira■ Vila Bilibio

■ Cerrito

Governo liberou verbae perdoou as dívidas de moradores que foramatingidos pela enchente

Por um lado, foi mais uma sexta-feira de tristeza nas cidades catari-nenses atingidas pela enchente: mais um corpo foi encontrado, sendo 119 o número de vítimas. Por outro, foi de esperança: as seis primeiras ca-sas começaram a ser reconstruídas em Itajaí – um dos municípios mais atingidos –, e o governo federal co-meçou a liberar recursos para ajudar os desabrigados.

O corpo de Valmir Raulino, 44 anos, foi encontrado pela manhã, em Ascurra, cidade do Vale do Itajaí. A vítima morreu em um soterramento de terra no sába-do, dia 29, mas só ontem houve con-dições de retirar o corpo. Ele morava em área de risco e havia sido retirado de casa, mas, segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, Raulino insistiu em retornar para casa.

Outro motivo que causou tristeza e preocupação foi a confirmação de cinco casos de leptospirose. Desde o último dia 22, a Diretoria de Vigilân-cia Epidemiológica recebeu outras 144 notificações de casos que ainda estão sendo investigados.

Para evitar que doenças como a leptospirose se espalhem, o prefei-to de Itajaí, Volnei Morastoni (PT), participou de uma reunião com o se-cretário de Obras do município, Jean

Lana, e com donos de maquinários que serão usados para remover o lixo. A expectativa é que, em 15 dias, o en-tulho seja levado para três diferentes pontos de Itajaí e incinerado.

Na sexta-feira, a Defesa Civil de Santa Catarina contava quase 33 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas. Quatorze municípios seguiam em es-tado de calamidade pública. Já foram arrecadados mais de R$ 18,2 milhões em dinheiro, além de 2,5 milhões de quilos de alimentos, 1,5 milhão de litros de água e 180 toneladas de rou-pas e produtos de higiene pessoal.

Boa notícia – O Ministério da Inte-gração Nacional anunciu a liberação de R$ 45 milhões para a recuperação

de ruas, recons-trução de casas, escolas, postos de saúde, e demais obras necessárias. O governo federal também decidiu perdoar as dívi-das de até R$ 10 mil, vencidas há cinco anos ou

mais tempo, e a Federação Brasileira de Bancos autorizou as instituições bancárias a dispensar juros de paga-mentos de contas vencidas nos dias 24 e 25 de novembro e quitadas até o dia 28 nas cidades atingidas.

Um projeto da Companhia de Ha-bitação de Santa Catarina prevê a construção de 3 mil casas no Vale do Itajaí. Seis obras já começaram. Ou-tras 150 casas devem ser erguidas até o Natal. Terão prioridade cidades que disponibilizarem áreas para habita-ções coletivas e famílias que possuam terreno com alvará das prefeituras.

SANTA CATARINA Casas estão sendo erguidas

Um vale em reconstrução

SOLIDARIEDADEApesar das campanhas, doações ainda não são suficientes aos catarinenses

GUTO KUERTEN

Contas vencidas nos dias 24 e 25 de novembro e quitadas até o dia 28 ficaram livres de juros de pagamento

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DIÁRIO DE SANTA MARIAQUINTA-FEIRA, 16 DE JULHO DE 2009 | 10 e 11 | GERAL DIÁRIO DE SANTA MARIA

QUINTA-FEIRA, 16 DE JULHO DE 2009

Prevenir é tarefa de todos

Em duas cidades da região, as fé-rias escolares serão antecipadas por causa da gripe A. Em Santa Maria, o Colégio Centenário começará as fé-rias a partir de hoje, dois dias antes do programado. A medida foi toma-da pela direção da escola ontem à tarde como “prevenção”. Uma fun-cionária da Faculdade Metodista de Santa Maria (Fames), que fica junto à escola, está em isolamento domici-liar, com suspeita da doença.

Em São Pedro do Sul, a suspeita de que um homem de 40 anos esteja contaminado pelo vírus influenza A não levou pânico à cidade, mas já exigiu algumas medidas para controlar o avan-ço da doença. Hoje, os alunos da rede municipal já entrarão em férias. O descanso, que começaria somente na segunda-fei-ra, foi antecipado por prevenção.

O primeiro caso suspeito na cida-de, segundo o secretário de Saúde, Arezoli Pinheiro, teria feito contato com uma pessoa com suspeita da doença em Santa Maria. O homem está internado no Husm para que os médicos avaliem a situação. Familia-res e colegas de trabalho dele seguem com suas atividades normalmente e não teriam apresentado sintomas da gripe A.

São Gabriel – Na cidade que che-gou a decretar situação de emergên-cia em junho em função da gripe A, o número de casos suspeitos se esta-bilizou em 38. Um aluna de São Ga-briel ainda está internada no Husm.

O médico infectologista do Hos-pital de Caridade Reinaldo Ritzel faz um alerta importante: todas as pes-soas que apresentarem sintomas de gripe – independentemente do tipo – devem tomar cuidado para não transmiti-la a quem não está doente. Ele reafirma que esse deveria ser um cuidado mantido sempre, mas que em tempos de gripe A, precisa ser redobrado. Entre as recomendações, está repousar.

– Quem está gripado deve ficar em repouso, sem sair de casa. Se for necessário sair, deve-se usar más-caras, para evitar que o vírus fique circulando – recomenda Ritzel.

Ter uma alimentação saudável e manter o máximo de cuidados em relação à higiene, como lavar bem as mãos com frequência (veja qua-dro ao lado), também são cuidados recomendados para evitar e para ajudar no tratamento das gripes co-muns. Segundo os especialistas, eles também se aplicam à gripe A.

– É preciso que as pessoas sigam as recomendações dos médicos. Elas precisam colaborar, principalmente quando estão com suspeita de gri-pe A – completa o infectologista do Husm Fábio Lopes Pedro.

Férias chegam antes em

duas cidades

DIÁRIODA REGIÃO

Vítima teve pneumoniae complicação respiratória seguida de parada cardíaca. Quatro já morreram no país

MARILICE DARONCO*

Um paciente de 24 anos que esta-va internado no Hospital Universi-tário (Husm) desde a última sexta-feira,com suspeita de gripe A morreu às 6h22min de ontem. No dia em que Santa Maria pode ter tido a primeira morte da região por causa da do-ença, autoridades e especialistas em saúde se reuniram para tentar conter o avanço (leia tex-to ao lado).

O homem que morreu ontem trabalhava como segurança terceirizado em duas bo-ates da cidade e em festas na região. Ele não resistiu a uma insuficiência respiratória seguida de parada cardí-aca após cinco dias de internação. O exame para saber se ele tinha o vírus da gripe A foi feito, mas o resultado ainda não chegou ao hospital.

– Não temos o resultado. Porém, a suspeita de que ele estava com a do-ença é muito forte – diz o infectolo-gista do Husm Fábio Lopes Pedro.

Ontem pela manhã, funcionários terceirizados que trabalham na lim-peza do Husm usaram máscara, rou-pas especiais e luvas para fazer a de-sinfecção do leito de isolamento onde estava o segurança. Como o local fica dentro do pronto-socorro do Husm, pacientes e familiares que estavam internados no local assistiram à lim-peza pela vidraça.

Uma irmã do segurança foi ontem pela manhã ao Husm. Ela contou que ninguém da família está em isolamento e que o irmão viveu um drama em busca da cura para a sua doença (veja qua-dro ao lado).

Ele teria bus-cado ajuda no PA do Patronato e no Husm na última terça-feira, mas só teria sido internado na quinta-feira, quando os sintomas ficaram bas-tante graves. Uma das divergência entre os médicos e a família da víti-ma é quanto a uma suposta viagem à Argentina.

– Quando ele esteve no Husm, omitiu que tinha ido até a Argentina

e não foi considerado um caso sus-peito da doença. Depois, no PA do Patronato, contou que tinha feito a viagem e que teria tido contato com outras pessoas do Mercosul – expli-ca o infectologista Lopes Pedro.

De acordo com a coordenadora de enfermagem do PA do Patronato, Cleci Cardoso, no prontuário médico do jovem do dia da internação ficou registrado que ele disse ter ido ao país vizinho. A família garante que o jovem não teria saído do Brasil.

– O mais perto disso que ele che-gou foi uma festa em Santa Maria, na qual havia pessoas de fora do país – afirma um primo do segurança.

Se for confir-mado que o se-gurança – que foi enterrado ontem

à tarde– morreu tinha gripe A, esta será a quinta morte do Brasil e a ter-ceira do Rio Grande do Sul. Por mais que seja apenas uma suspeita, a no-tícia da morte do segurança chegou com preocupação ao Husm. Há 17 dias, não chegam ao local os resulta-dos dos exames feitos em pessoas da região com suspeita da nova gripe.

– Sabemos que há poucos labo-ratórios fazendo a análise e que há uma demanda muito grande no país, mas os resultados são importantes para nós – afirma Lopes Pedro.

Medicamento – Outra preocupação do infectologista é que ontem termi-naram as doses de Tamiflu, medica-mento que deve ser administrado nas primeiras 48 horas de sintomas da doença. O medicamento é forneci-do pelo Ministério da Saúde.

Mais doses foram solicitadas ao Estado, mas, até ontem, não ha-viam chegado. O Diário procurou o

ministério para que a assessoria se manifestasse sobre a falta de remédios e sobre a demora nos exames, mas não obteve retorno.

Ontem, havia cinco pacientes internados em

hospitais da cidade por suspeita de gripe A. No Husm, além de uma adolescente de São Gabriel que está estável, há dois pacientes graves. No Hospital de Caridade, há um paciente em estado grave e outro gravíssimo.

[email protected]*Colaborou Mauren Rigo

SAÚDE Segurança morreu ontem. Resultado de teste não saiu

Gripe A pode ter provocadoa quinta morte

A DOENÇA E OS CUIDADOSO que é a gripe A?■ É uma infecção respiratória aguda, causada pelo vírus A (H1N1). Esse novo subtipo do vírus da influenza (gri-pe) é transmitido de pessoa a pessoa, principalmente por meio da tosse ou do espirro, ou por contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Há uma frequência de casos mais graves entre pessoas com doenças crônicas pré-existentes

Quais os sintomas?■ São semelhantes aos da gripe comum: febre de 37,8°C, dores pelo corpo, cansaço e tosse. Para ser considerada suspeita de ter a doença, além de ter esses sintomas, a pessoa precisa ter ido a um país onde há casos confirmados de gripe A ou ter tido contato próximo com pessoas que tiveram a doença. O risco de morte surge quando ela não é tratada ade-quadamente. A pessoa pode morrer do próprio vírus, mas a morte pode ser causada também por infecções bacterianas secundárias, que surgem porque o organismo fica debilitado com a gripe. É o caso da pneumonia

Há cuidados especiais?■ Sim. Algumas pessoas devem ter atenção redobrada. São elas:1. Cardiopatas – As infecções virais ou bacterianas podem piorar o chamado débito cardíaco, ou seja, um funciona-mento considerado abaixo do ideal do coração, e provocar problemas gerais na saúde da pessoa2. Imunodeficientes – Portadores do vírus HIV, diabéticos ou quem passa por tratamentos com medicação forte por tempo prolongado, como quimio-terapia e radioterapia, costuma estar com o sistema imunológico em baixa, ficando mais suscetível 3. Idosos – Devido à idade, a pessoa tende a ficar com a imunidade natural-mente mais baixa e mais suscetível4. Crianças – Crianças abaixo dos 2 anos merecem cuidados especiais porque seu organismo ainda não está maduro o suficiente nem preparado para enfrentar os inimigos externos. São alvos mais fáceis para o vírus e possíveis complicações, como a pneumonia5. Portadores de doenças respi-ratórias crônicas – Fumantes ou qualquer um que sofre com doenças crônicas do sistema respiratório, como asma, bronquite e enfisema, também apresentam riscos maiores de compli-cações por causa das alterações estru-turais e inflamatórias dos brônquios e dos pulmões 6. Gestantes – Como a gripe é recente e não há comprovação do efeito sobre o bebê, é recomendado que grávidas tomem cuidado

O que fazer em caso de suspeita da doença?■ As pessoas com sintomas de gripe devem procurar ajuda médica. Há duas opções: pronto-atendimentos de hospitais particulares e clínicas (para quem tem plano de saúde) ou as sete unidades básicas de saúde de Santa Maria, que são referência no atendi-mento da gripe A (para quem não tem plano de saúde). É desses locais que, quando necessário, as pessoas são encaminhadas ao Husm■ Unidades básicas de referência na cidade são Kennedy (Vila Kennedy), Oneyde de Carvalho (Vila Lorenzi), Rosário (Rosário), PA da Tancredo Neves (Tancredo Neves), Wilson Paulo Noal (Camobi), São José (São José) e Itararé (Itararé)

Como prevenir a doença?■ Lave bem as mãos. Como a conta-minação se dá por meio de secreções, quanto mais higienizada a pessoa esti-ver, menor chance de contrair o vírus ■ Ao tossir ou espirrar, cubra o nariz e a boca com um lenço, preferencial-mente descartável■ Os equipamentos de proteção, como máscaras, devem ser utilizados por pessoas com suspeita de contami-nação, por pessoas que têm contato direto com elas e por profissionais envolvidos no seu atendimento ■ Ninguém deve tomar medicamento sem indicação médica. A automedi-cação pode mascarar os sintomas, retardar o diagnóstico e até causar resistência ao vírus ■ O risco de disseminação do vírus aumenta com o frio. É importante se alimentar bem, dormir bem, usar agasalhos para se proteger do frio e evitar ambientes fechados com grande aglomeração de pessoas ■ A vacina sazonal para influenza oferece pouquíssima proteção contra a gripe A, mas é importante tomar a vacina para evitar a gripe comum■ O vírus H1N1 não resiste a tempera-turas muito altas. Cozinhar bem a carne é uma recomendação. Não há risco com embutidos ■ Um cuidado deve ser redobrado com o avanço da gripe A: repouso. As pessoas com gripe não devem ficar circulando em meio as que não estão com o vírus porque ele se transmite pelo ar. Elas devem procurar o médico que dará o atestado necessário para que fiquem em casa. Quando saem de casa, elas devem usar máscara

EM BUSCA DE AJUDAO segurança que morreu em Santa Maria ontem com suspeita de gripe A buscava

ajuda médica desde terça-feira. Confira o drama dele em busca da cura:

■ Dia 7 – Com febre alta e dores pelo corpo, o segurança procura o PA do Patronato, onde foi atendido pelo médico, que não teria considerado um caso grave. Ele volta para casa

■ Dia 8 – A mãe da vítima faz uma visita a ele e percebe que os sintomas se agrava-ram. Um primo do segurança, que trabalha em uma unidade de saúde, é contatado para ajudar. Ele consegue um carro da

Secretaria Municipal de Saúde para levar a vítima até o Hospital Universitário. No hospital, o paciente recebe atendimento médico e uma receita de remédios para tratamento da gripe comum e volta para casa, de ônibus

■ Dia 9 – O segurança piora ainda mais e procura pelo PA do Patronato. Ele teria relatado estar com dores na cabeça e no corpo e ter feito uma viagem de vários dias

à Argentina. Ele foi internado, com suspeita de gripe A. Segundo o PA, não havia leito disponível no Husm, e a vítima ficou internada no próprio pronto-atendimento, em isolamento

■ Dia 10 – O segurança é internado no Husm e faz o exame para a gripe A

■ Ontem – A vítima morre às 6h22min, com pneumonia, seguida de insuficiência respiratória e parada cardíaca

Família reclama que vítima foi em busca de atendimento no PA do Patronato e no Husm até ser internado, na quinta

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MAIS

No Estado

Em Passo Fundo, três pessoas morreram nos últimos cinco dias com suspeita da gripe A, mas resultados dos exames ainda não estão prontos. Em virtude do risco do aumento no número de mortes, o secretário da Saúde, Osmar Terra, pediu ajuda do Exército para conter o avanço da doença. Cerca de 60 militares irão reforçar as fronteiras do país com o Paraguai, Uruguai e Argentina

LIMPEZA TOTALQuarto de isolamento do Husm onde o segurança estava internado desde sexta-feira passou por processo de desinfecção ontem. Funcionários da limpeza usaram máscara e roupas especiais

A preocupação com a gripe A che-gou forte ao campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). On-tem, o Husm, hospital de referência no tratamento da doença na Região Central, suspendeu os atendimentos no pronto-socorro. O PS se dedicará apenas aos casos de urgência e emer-gência e de suspeita ou investigação de doença. A iniciativa é uma forma de evitar a contaminação de outras pessoas, já os leitos de isolamento da gripe A ficam dentro do PS.

Além disso, uma reunião entre o reitor da UFSM, Clóvis Lima, e os pró-reitores, hoje pela manhã, deve decidir se a instituição estenderá o período de férias, que começam no sábado, para evitar que alunos con-traiam a doença. O segundo semestre recomeçaria em 10 de agosto.

Além da morte do segurança, ou-tro fator que pesou na convocação da reunião é o caso de uma universitária que mora na Casa do Estudante, no campus, que pode estar com o vírus.

Emergência – Ontem à tarde, a direção do Husm fez uma reunião emergencial com autoridades e espe-cialistas em saúde da cidade para to-mar providências que possam evitar a propagação do vírus. As medidas, reunidas em documento (veja qua-dro), foram enviadas ao prefeito, Ce-zar Schirmer. O pedido era para que ele decretasse situação de emergên-cia no município.

Infectologistas do Husm estão bem preocupados. Faltam remédios para tratamento, e exames demoram

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UFSM decide hoje seadia a volta às aulas

CHECAGEMOntem pela manhã, funcionárias do Husm (à esq.) fizeram coleta de material do exame em um jovem (à dir)

FOTOS MARILICE DARONCO

Fontes: infectologistas Fábio Lopes Pedro e Reinaldo Ritzel

ARTE FERNANDO BASTOS SOBRE FOTO BANCO DE DADOS

AS SUGESTÕESApós reunião, Husm sugere medidas para conter a doença:■ Decretar situação de emergência em Santa Maria ■ Contratar médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para o Husm■ Aumentar o número de leitos de UTI no Husm bem como em outros hospitais terciários da região

Schirmer descartou essa possibili-dade ainda ontem. Segundo sua as-sessoria, o prefeito debateu a sugestão do Husm com o secretário Municipal de Saúde, José Haidar Farret, e com secretário Estadual de Saúde, Osmar Terra. A decisão é que a medida é desnecessária e poderia gerar mais pânico entre a população. O que será feito, por enquanto, é a distribuição de panfletos para esclarecer a popu-lação. Uma infectologista do Estado deve chegar hoje a Santa Maria para ajudar nas medidas de contenção.

Segundo o diretor do Husm, Jorge Freire, poderiam ser abertos 10 leitos de UTI e 10 de isolamento para os ca-sos suspeitos de Gripe A, mas o hos-pital não tem pessoal suficiente para colocá-los em uso. Para isso, seria necessário dinheiro para contratar mais 130 técnicos de enfermagem, 20 enfermeiros e 10 médicos.

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GERAL DIÁRIO DE SANTA MARIAQuarta-feira, 28/03/200710

Logo depois de saber da morte da mãe, Maria Medianeira (de azul) se desesperou e precisou ser consolada

PRONTUÁRIO DOS NOSSOS HOSPITAIS

FERNANDA MENEGHELE MARILICE DARONCO

Q uase 24 horas depois deconseguir uma ordemjudicial para que a mãe,

Julia Betin da Silva, 70 anos,fosse internada em um Centrode Terapia Intensiva (CTI), aserviços gerais Maria Media-neira Silva da Silva, 39 anos, re-cebeu a má notícia e caiu emprantos. Na manhã de ontem,Julia foi a segunda pessoa em11 dias a morrer no Pronto-Atendimento (PA) do Patro-nato, por causa da falta de umleito em CTI pelo SistemaÚnico de Saúde (SUS).

– Não posso afirmar que, seela (Julia) estivesse internadaem um CTI, estaria viva agora.O fato é que o estado da pa-ciente era grave e, para fazer oatendimento ideal, seriam ne-cessários equipamentos quenão temos em um local desti-nado para casos de emergência– avalia a médica RosaneWink, que atendeu a idosadesde o domingo, quando elachegou ao PA.

Somada ao caso do aposen-tado Erny Schafer, que, no dia16 de março, também morreuantes de ser internado no CTI,a história de Julia é o reflexodo estado em que se encontrao sistema público de saúde emSanta Maria. O único hospitalque tem leitos de terapia in-tensiva pelo SUS é o Universi-tário. Mas como ele está segui-damente lotado, a Justiça é oúnico caminho para quem pre-cisa de atendimento. Além dis-so, faltam médicos e remédios.Quem paga a conta é o cida-dão que depende do SUS.

Na cidade, o Hospital Uni-versitário (Husm) é o únicoque oferece leitos de CTI pelo

AASS ÚÚNNIICCAASS IINNSSTTIITTUUIIÇÇÕÕEESS QQUUEE TTÊÊMM LLEEIITTOOSS EEMM CCTTII SSÃÃOO OO UUNNIIVVEERRSSIITTÁÁRRIIOO,, OO CCAARRIIDDAADDEE EE OO RREEGGIIOONNAALL UUNNIIMMEEDD,, SSEENNDDOO QQUUEESSÓÓ OO PPRRIIMMEEIIRROO FFAAZZ AATTEENNDDIIMMEENNTTOOSS PPEELLOO SSIISSTTEEMMAA ÚÚNNIICCOO DDEE SSAAÚÚDDEE ((SSUUSS)).. PPOORR IISSSSOO,, PPRROOCCUURRAARR AA JJUUSSTTIIÇÇAA AACCAABBAASSEENNDDOO AA ÚÚNNIICCAA SSAAÍÍDDAA.. OONNTTEEMM,, NNEENNHHUUMM DDOOSS HHOOSSPPIITTAAIISS DDAA CCIIDDAADDEE IINNFFOORRMMOOUU QQUUAANNTTOOSS LLEEIITTOOSS EESSTTÃÃOO DDIISSPPOONNÍÍVVEEIISS

Palavras sobre a crise dos leitos

No dia 16 de março...... Erny Schafer, 71 anos, morreu quando aguardava para ser internadoem um CTI. Familiares até conseguiram ordem judicial, mas uma insu-ficiência respiratória o matou antes de ele ser transferido do PA

“O governo do Estado está fa-zendo o que pode que é tentarum convênio para que a Casade Saúde continue funcionandoe buscando recursos para aconstrução do Hospital Regionalna cidade. Santa Maria é histo-ricamente a cidade do Estadocom a pior situação de falta deleitos. E a situação ficou comoestá porque a prefeitura fez pou-co para tentar ajudar.”

OOssmmaarr TTeerrrraa,,sseeccrreettáárriioo eessttaadduuaall ddee SSaaúúddee

“Se o governo do Estado ad-mite que a cidade tem a piorcrise de leitos, confessa quedeveria investir mais nessaárea. Essa obrigação não énossa. O mais importante é in-vestirmos para que só chegueaté o hospital quem realmenteprecise desse tipo de atendi-mento, e a prefeitura tem in-vestido em programas voltadospara que isso aconteça.”

EEllaaiinnee RReesseenneerr,,sseeccrreettáárriiaa mmuunniicciippaall ddee SSaaúúddee

“Essa situação do PA não énovidade. Desde que abriu, vi-ve com problemas. Sempreestá faltando alguma coisa outem equipamentos quebrados,o que respinga no Husm. Nósencaminhamos um projeto pa-ra o Estado, pedindo para auniversidade administrar a Ca-sa de Saúde. Mas ignoraram anossa proposta. Não recebe-mos sequer a resposta.”

JJoorrggee FFrreeiirree,, ddiirreettoorr ddoo HHuussmm

Hospital Universitáriode Santa Maria (Husm)

▼▼ TToottaall ddee LLeeiittooss:: 275 ▼▼ LLeeiittooss nnaa CCTTII:: 38▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: um dos 10 leitos daCTI adulta não funciona, por falta de pessoal.O hospital tem 500 funcionários a menos doque precisa▼▼ QQuueemm aatteennddee:: pacientes de média (partos,extrações de hérnias e apêndices) e alta com-plexidade (cirurgias cardíacas, complicações departo) do SUS de toda a região

Hospital de Caridade▼▼ TToottaall ddee lleeiittooss:: 322▼▼ LLeeiittooss nnaa CCTTII:: 20▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: 12 leitos da CTI não fun-cionam porque estão passando por obras▼▼ QQuueemm aatteennddee:: é particular, mas tem filantro-pia (sem fins lucrativos e com direito à isençãode alguns impostos)

Hospital Regional Unimed▼▼ TToottaall ddee lleeiittooss:: 114▼▼ LLeeiittooss nnaa CCTTII:: 22▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: não tem▼▼ QQuueemm aatteennddee:: é particular e não tem filan-tropia

Hospital da Brigada Militar (HBM) ▼▼ TToottaall ddee LLeeiittooss:: 46▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: não tem▼▼ QQuueemm aatteennddee:: policiais militares e seus de-pendentes, conveniados ao Instituto de Previ-dência do Estado (IPE) e Unimed

Hospital de Guarniçãode Santa Maria (HGu)

▼▼ TToottaall ddee LLeeiittooss:: 37▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: 13 (uma das unidadesestá em reformas que devem demorar maisum mês)▼▼ QQuueemm aatteennddee:: militares e seus dependentes

Hospital Dia (Unimed)▼▼ TToottaall ddee LLeeiittooss:: 52 (24 de internação, 16 deobservação e 12 de recuperação anestésica)▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: não tem▼▼ QQuueemm aatteennddee:: conveniados

Casa de Saúde▼▼ TToottaall ddee lleeiittooss:: 88 ▼▼ LLeeiittooss ddeessaattiivvaaddooss:: 18 da Clínica Médica (fe-chada pela Vigilância Sanitária) e 5 da Pediatria▼▼ QQuueemm aatteennddee:: pacientes de média comple-xidade (cirurgias como hérnias, extração deapêndices, partos)

SEM CTICOM CTI

SUS. Segundo a defensora pú-blica Luciana Kern – queacompanhou todo o caso, ape-sar de ter sido o Ministério Pú-blico que entrou com a açãojudicial –, o local foi o primeiroprocurado por um oficial dejustiça, que foi informado so-bre a falta de vagas.

O Hospital de Caridade,que é particular e só ofereceatendimento para pacientesdo SUS a pedido da Justiça,também foi procurado, mas aresposta teria sido a mesma.No Hospital Regional da Uni-med, também particular, deacordo com Luciana, mesmocom a ordem judicial, a faltade leitos disponíveis impediu ainternação da idosa.

Procura por leito em hospital começou segunda

Desde o início da manhã deontem, Maria Medianeira nãoescondia o desespero nos cor-redores do PA:

– Será que vai precisar mor-rer mais gente aqui para que sefaça alguma coisa?

A mãe começou a passar malno domingo, quando foi levadapara a unidade. Na segunda-feira, à medida que o estado desaúde ia piorando, a médica in-formou a família da necessida-de da internação em uma uni-dade de CTI.

Na segunda-feira, a pedidodo Ministério Público (queentra em ação quando a faltade leitos ocorre com idososou em horários de plantão),começaram as buscas por umCTI para dona Julia. A causada morte foi insuficiência res-piratória, mas o estado foiagravado por problemas co-mo pressão alta, edema pul-monar e uma possível lesãono cérebro.

Mais uma morte na filado SUS

Idosa de 70 anos morreu ontem noPronto-Atendimeto do Patronato.Ela tinha autorização judicial para um leito de CTI em hospital, 11 dias depois de um caso parecido

Charles Guerra

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DIÁRIO DE SANTA MARIAQUARTA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2009 | 32 | GERAL

Foram três mortes a mais nos seis primeirosmeses do ano em relaçãoao mesmo período de 2008

MARILICE DARONCO

Homem, acima dos 40 anos, pas-sando por uma rodovia de Santa Maria. Este é o perfil da maioria das 63 pessoas que perderam a vida no trânsito da região nos seis primeiros meses do ano. São três vítimas a mais do que no mesmo período de 2008. Mas essa não é uma história só com números. Ela tem nomes e sobrenomes. João Manoel da Silva é um deles.

O lubrificador aposentado de 73 anos morreu na noite de 29 de março. Ele ia para um culto nas pro-ximidades da BR-287, quando foi atropelado por uma motocicleta, em Santa Maria. Pouco antes da tragédia, ele tinha saído de casa e se despedido de Silvana Montenegro da Silva, 73

anos, com quem foi casado durante 56 anos e teve quatro filhos. Para ela, Silva disse que não demorava a voltar, mas, para o desespero de Silvana, não cumpriu a promessa. A idosa ainda teima em olhar para o portão da casa como se houvesse esperança e não se conforma em ver a cadeira em que o marido gostava de sentar no pátio.

Giovane Montenegro da Silva, 39 anos, filho de João Manoel, tem consciência de que, para a sua fa-mília e para as das pessoas que se envolveram nos outros 55 acidentes com morte entre janeiro e junho na

região, é tarde de-mais para pensar em como as coi-sas poderiam ter sido diferentes. Mas, ele sabe que, para muita gente, ainda dá tempo de rever o com-portamento no trânsito para evi-

tar que os acidentes aconteçam. – Todos têm de prestar atenção no

que estão fazendo. O trânsito não é brincadeira. Qualquer descuido pode trazer consequências irreparáveis – afirma Giovane.

A mais violenta – Entre as vítimas no trânsito, 47 perderam a vida em rodovias, contra 15 em vias urbanas e uma em estrada de chão. Mas, desta vez, a BR-287 foi a mais violenta da região, com 10 vítimas, ocupando o lugar que, nos seis primeiros meses de 2008, foi da BR-158. Santa Maria continua a ostentar o título de cidade com mais mortos: 23 (veja quadro).

Para o delegado de Trânsito da cidade, Roger Spode Brutti, uma mudança nos números depende do comportamento dos motoristas. Ele argumenta que muitos assumem um papel violento no momento em que dirigem. Outros, na visão do delegado, usam o trânsito para aliviar o estresse e tornam comuns práticas como não respeitar a sinalização e desvalorizar a vida das outras pessoas.

Para que mais pessoas não ve-nham a fazer parte do triste enredo das mortes no trânsito, cada um pre-cisa cumprir com a sua parte. Fazer revisão no carro antes de viajar, olhar para os lados antes de atravessar uma via e respeitar a sinalização são me-didas básicas que podem ajudar a evitar que o trânsito se transforme no final triste de outras famílias.

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TRÂNSITO Número de vítimas e acidentes no primeiro semestre na região aumentou

(Muitas) vidas perdidas

ESTÁ FALTANDO ALGUÉM NESTA FOTO Silvana e o filho Giovane lamentam a ausência do marido e pai João Manoel da Silva, ao lado da cadeira em que ele gostava de ficar no pátio de casa. Aos 73 anos, o lubrificador aposentado morreu atropelado por uma moto na BR-287, em Santa Maria, em 29 de março

MAIS

Violentos

Os dois acidentes mais violentos do ano na região ocorreram no dia 3 de março, em São Pedro do Sul, e em 29 de maio, em Caçapava do Sul. Cada um deles teve três mortos

ESTATÍSTICA CRUELEntre janeiro e junho, 63 pessoas perderam a vida em 56 acidentes na região. O número de vítimas aumentou em relação ao mesmo período do ano passado, quando houve 60 mortos no trânsito. Confira as estatísticas que trazem dados curiosos, como a redução de mortes entre os mais jovens:

2008 2009Sexo das vítimasHomens 51 56Mulheres 9 7

Idade das vítimas40-49 anos 10 1760 ou mais 6 1520-29 20 1130-39 10 710-19 2 750-59 10 60-9 2 -

Rodovias com mais mortesBR-287 11 10BR-392 9 8BR-290 6 7RSC-287 4 5BR-158 12 3RS-149 2 3RS-509 1 3RS-511 1 2VRS-325 2 2BR-153 2 1RSC-348 1 1RSC-392 - 1RSC-377 - 1

Vias urbanas 8 15Estradas de chão 1 1

Cidades com mais mortesSanta Maria 21 23Caçapava do Sul 8 6São Pedro do Sul 4 6Restinga Seca 2 5Rosário do Sul 1 3Santa Margarida 1 3São Gabriel 1 3São Sepé 8 2Itaara 2 2Jaguari 4 2Tupanciretã 1 2Santiago 2 1Faxinal do Soturno 1 1Nova Esperança 1 1Paraíso do Sul 1 1Júlio de Castilhos - 1São Vicente - 1Agudo 1 -Dona Francisca 1 -

Tipo de veículo emque estava a vítimaCarro 24 26A pé 10 14Motocicleta 18 9Caminhão 4 8Bicicleta 4 5Trator - 1

Mais uma vez, Santa Maria foi a cidade com mais mortos no trânsito. De janeiro a junho deste ano, foram 23

!

DIÁRIODA REGIÃO

RONALD MENDES, ESPECIAL – 9/07/09

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| 16 e 17 | GERALDIÁRIO DE SANTA MARIAQUARTA-FEIRA, 1º DE AGOSTO DE 2007

DIÁRIO DE SANTA MARIAQUARTA-FEIRA, 1º DE AGOSTO DE 2007

PREJUÍZOJoão Paz perdeu a descarga por causa de um buracão

LUCROBuraqueira traz movimento para Edimar (esq.) e Unício

TRÂNSITO Há buracos demais entre São Sepé e Santana da Boa Vista

Muitas armadilhasno caminho da 392Borracharias cheias ecaminhões quebradosalertam: só sorte e cautelapara não ficar no caminho

MMAARRIILLIICCEE DDAARROONNCCOO

Há mais de um ano, os motoris-tas que passam pelos 73,8 quilô-metros da BR-392 entre São Sepée Santana da Boa Vista não con-tam com reparos na estrada. Ocontrato com a empresa que fazia amanutenção terminou em junhode 2006. De lá para cá, os buracosse multiplicaram, principalmente apartir do trevo de Caçapava doSul. Muitas vezes, invadir a pistacontrária ou tomar conta do acos-tamento são os únicos jeitos de es-capar dos buracos. A viagem pelarodovia – que é a principal ligaçãoda Região Central com o porto deRio Grande – ficou muito mais pe-rigosa e também mais cara.

Como parte da safra da soja ain-da está sendo transportada, os ca-minhoneiros estão contabilizandoprejuízos. Segundo os profissio-nais, as viagens estão mais demo-radas, e o gasto aumentou porqueé preciso fazer, com mais freqüên-cia, emendas nos pneus – que cus-tam, em média, R$ 10. Alguns mo-toristas estão indignados porque jáprecisaram trocar até pneus com-prados recentemente.

– Os caminhões estão quebran-do toda hora. Agora mesmo, caiu adescarga do meu por causa deuma cratera da estrada – reclama-va o caminhoneiro João Paz, 53anos, mostrando o cano.

O temor de Paz e dos outros mo-toristas é de que, quando começara safra do trigo, em dezembro, aestrada ainda esteja cheia de pro-blemas. As notícias vindas do De-partamento Nacional de Infra-Es-trutura de Transportes (Dnit) di-zem que não será bem assim. Osuperintendente estadual do Dnit,Marcos Ledermann, afirma que, na

semana que vem, a empresa que ti-nha contrato para restaurar a BR-392 vai voltar ao local. Como so-brou dinheiro do contrato – cercade R$ 1,4 milhão –, ela terá de re-cuperar o trecho antes de entregá-lo. Depois disso, assume a empresaTécnica Viária, vencedora da licita-ção que foi encerrada este mês e

valerá por dois anos.Enquanto as prometidas refor-

mas não vêm, só quem fica felizcom o estado da BR-392 são osmecânicos e os borracheiros queestão correndo contra o tempo pa-ra conseguir dar conta do serviço.Eles já estão tão acostumados coma pouca durabilidade das opera-ções tapa-buracos que nem estãomuito preocupados com as melho-rias que devem ser feitas na estra-da a partir da próxima semana.

– Para nós, está sendo lucro cer-to. Mas, de vez em quando, nóstambém caímos na armadilha. Emoutro dia, nossa própria camionetaquebrou – afirma o mecânico Al-dovanti Chaves Carvalho, 50 anos.

Socorro – No pátio de uma dasborracharias que ficam às margensda rodovia, um terreno virou umverdadeiro cemitério de pneus. Nolocal, os motoristas estão deixandopara trás aqueles pneus que foramvítimas da BR-392 e que nem mes-mo borracheiros mais experientesconseguiram dar jeito de consertar.

– Toda hora, pára pelo menos umcaminhão com o pneu furado. Agente cobra de R$ 10 a R$ 15 peloremendo e chega a fazer 20 por dia– comemora Unício Oliveira Teixei-ra, 40 anos, que divide o trabalhocom Edimar Teixeira Soares, 18.

Com tantos carros quebrandopelo caminho, sobra para a PolíciaRodoviária Federal (PRF). Osagentes, além de controlar o tráfe-go da estrada e tentar diminuir orisco de acidentes com a fiscaliza-ção, acabam exercendo a tarefa ex-tra de serem socorristas.

– O pessoal liga pedindo socor-ro, e a gente ajuda. Busca mecâni-co, traz pneu consertado da borra-charia até o carro... Não tem comonão ajudar, afinal, há gente que en-tra em pânico quando se vê com ocarro quebrado no meio da estrada– afirma o policial militar EdisonFlores Vieira, 37 anos.

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A revolta ganhou a estradaToda vez que precisa passar pela

BR-392, o caminhoneiro AléssioLuiz Somavilla (foto), 48 anos, ficamuito revoltado por causa dos bu-racos. Tanto que ele resolveu pen-durar uma faixa de protesto na suacarreta com a frase “BR-392, rodo-via conservada com buracos é fato,é verdade! Até quando?”. Furioso,porque gasta mais com as viagens,

Somavilla chegou a filmar os bura-cos num trecho perto da cidade deCanguçu.

– Estamos gastando mais compneu e diesel, porque o caminhãoperde o embalo quando a gentepassa pelos buracos. Isso sem con-tar que estamos arriscando nossasvidas e demorando mais para en-tregar as cargas – reclama.

O PROBLEMA

■■ IImmppoorrttâânncciiaa –– Pela BR-392, éescoada a produção da região para oporto de Rio Grande. Agora, estãosendo transportados pela rodovia as3 milhões de toneladas de soja quecomeçaram a ser colhidas em março.Em dezembro, será a vez do trigo

■■ MMaauu eexxeemmpplloo –– O trecho entreCaçapava do Sul e Santana da BoaVista está totalmente esburacado. Sódo km 240 ao km 242 existem maisde cem buracos. Nas pontes sobre oRio Irapuá e o Arroio Santa Bárbara,os motoristas enfrentam crateras naentrada e na saída

Último reparo■■ CCoommoo ffooii –– Os 73,8 quilômetros daBR-392 de São Sepé até Santana daBoa Vista começaram a serrecapeados em janeiro de 2006

■■ QQuueemm ffeezz –– O trecho é um dos 15que foram transferidos para o Estadoem 2002. A empresa CompanhiaBrasileira e Mineradora (Cbemi) foicontratada para fazer as obrasemergenciais, mas o contrato delavenceu em junho de 2006

Haja remendoAs operações tapa-buracos sãousadas porque não existe um projetopara recuperar totalmente a BR-392.Segundo o Dnit, há pelo menos 20anos, a rodovia não passa porreforma geral. O asfalto velho, pormais que ganhe remendos, volta a terburacos. A chuva, o peso doscaminhões e o grande movimento darodovia são alguns dos fatores queaceleram o desgaste

PPrreessssããoo

Na última sexta-feira, umacomissão comrepresentantes daCâmara e daprefeitura deCaçapava,empresários eprodutores decalcário reuniram-se com o Dnit,para cobrar areforma da 392.De lá, elesvoltaram com aresposta de quehá um projetopara recuperartoda a estrada. Elaficaria semburacos por cercade 10 anos, masainda não há datapara que a idéiasaia do papel

MMAAIISS

Haja terra para tapar tudoPara tentar amenizar um pouco

o drama dos motoristas, os poli-ciais rodoviários federais de Caça-pava do Sul juntaram dinheiro dopróprio bolso para comprar pás.Eles vão semanalmente até osmaiores buracos para tapá-los comterra, tirada da beira da estrada. Oobjetivo principal é tentar evitaracidentes maiores. No dia 12 de ju-

lho, os agentes Edilson Flores Vieira(à dir. na foto), 37 anos, e FranciscoEder (à esq.), 64, revezaram-se notrabalho. Mesmo com pouca espe-rança, porque, segundo eles, assimque chove, os buracos voltam.

– Nós não temos mais paraquem pedir socorro. Parte da ro-dovia não tem mais nem acosta-mento – lamenta Eder.

FOTOS LAURO ALVES – 12/07/07

ADALTO SCHUSTER/DIVULGAÇÃO

VAI ENCARAR?A foto acima é apenas um dos tantos flagrantes que podem ser feitos em 73,8 quilômentros de estrada: quase há mais buracos do que asfalto

SAÚDE

PA, enfim,pode usar oRaio X novo

Desde a tarde de ontem, o Pron-to-Atendimento (PA) Municipalconta com uma ajuda a mais: é umequipamento de Raio X que estavaencaixotado desde a inauguraçãoda unidade, em maio do ano passa-do, porque uma sala precisava rece-ber adaptações. O novo “brinque-do” do PA do Patronato custou cer-ca de R$ 80 mil e promete trazerbenefícios para quem precisar dosserviços de radiografia.

A montagem do maquinário en-volveu dois especialistas vindos dePorto Alegre especialmente para atarefa. Além disso, os profissionaistreinaram uma equipe de nove pes-soas que irão operar o Raio X.

– É um equipamento moderno emuito simples, adequado ao tipo deserviço prestado aqui no PA. Ele éeconômico e tem um custo-benefí-cio muito bom – relata o técnicoem eletromedicina Norberto Dus-chitz, que presta serviço para a fa-bricante do equipamento.

Além de poupar energia, a ma-nutenção também será muito maisprática, pois as peças para a reposi-ção devem ser facilmente encontra-das. Outro ponto positivo é a quali-dade das imagens, muito superioràs obtidas com o aparelho antigo.

– Como o equipamento é recen-te, a qualidade das radiografias ébem melhor. Iremos fazer adapta-ções para expor o paciente ao míni-mo de radiação possível e aumen-tar a vida útil desse tipo de equipa-mento, que é de oito anos, aproxi-madamente – explica o técnico emradiologia Thiago Clauss.

Sem parar – Mesmo com o novoa todo o vapor, o Raio X antigo –que voltou a funcionar há cerca de20 dias, depois de ficar um mês pa-rado – não deve ser desativado.Aproximadamente 1,2 mil pacien-tes precisam fazer exames de ra-diografia a cada mês.

– Temos de lembrar que é preci-so autorização médica para a ra-diografia. Mas acredito que o nú-mero de pacientes atendidos poresse serviço deva subir – afirma ocoordenador do PA, Edilson Ribas.

DEMOROUEquipamento (foto) estava nacaixa há um ano e dois meses

DIÁRIODA REGIÃO