roteiro gramatica anglo 2010

120
A N G L O PORTUGUÊS 1 Gramática e Texto GRAMÁTICA Francisco Platão Savioli TEXTO Eduardo Antonio Lopes Eduardo Calbucci Francisco Platão Savioli Paulo César de Carvalho anglo sistema de ensino ROT_Ab_Lit_10.indd 1 ROT_Ab_Lit_10.indd 1 6/8/10 4:07:01 PM 6/8/10 4:07:01 PM

Upload: edy-johnson-lacerda-pinheiro

Post on 08-Aug-2015

724 views

Category:

Documents


52 download

TRANSCRIPT

PORTUGUS 1Gramtica e TextoGRAMTICA Francisco Plato Savioli TEXTO Eduardo Antonio Lopes Eduardo Calbucci Francisco Plato Savioli Paulo Csar de Carvalho

A

NGLO

anglo sistema de ensino

ROT_Ab_Lit_10.indd 1

6/8/10 4:07:01 PM

CONSELHO EDITORIAL Guilherme Faiguenboim Nicolau Marmo COORDENAO EDITORIAL Assaf Faiguenboim ASSISTNCIA EDITORIAL Beatriz Negreiros Gemignani Creonice de Jesus S. Figueiredo Denise da Silva Rosa Hosana Zotelli dos Santos Ktia A. Rugel Vaz Paula P. O. C. Kusznir REVISO TCNICA Flvia M. de Lima Moreira (Biologia) Fredman Couy Gomes (Histria) Gae Sung Lee (Matemtica) Matheus Rodrigues de Camargo (Portugus) Moiss J. Negromonte (Geograa) Nelson Vicente de Souza Jnior (Qumica) Rodrigo C. dos Anjos Barbosa (Fsica) PROJETO GRFICO E FOTOLITO Grca e Editora Anglo Ltda. ARTE E EDITORAO Grca e Editora Anglo Ltda. (0XX11) 3273-6000

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Roteiro RevisAnglo. So Paulo : Anglo, 2010.

Vrios autores.

1. Ensino mdio Grca e Editora Anglo Ltda. MATRIZ Rua Gibraltar, 368 - Santo Amaro CEP 04755-000 - So Paulo - SP (0XX11) 3273-6000 www.angloconvenio.com.br 02-2941 CDD-373.19

ndices para catlogo sistemtico: 1. Ensino integrado : Ensino mdio 373.19 Cdigo: 829315110

2010

NDICE

GramticaCaptulo 1 Generalidades sobre as classes gramaticais ...................................... 5

Captulo 2 Processos de formao de palavras 21 Captulo 3 Seleo e combinao de palavras. 27 Captulo 4 Estrutura sinttica do perodo simples ............................................. 32 Captulo 5 Sintaxe (uso) dos pronomes pessoais ........................................... 37 Captulo 6 Estrutura do perodo composto ..... 41 Captulo 7 Pontuao ........................................ 52 Captulo 8 Verbo ................................................ 57 Captulo 9 Regncia verbal .............................. 71 Captulo 10 Crase ................................................ 74 Captulo 11 Colocao das palavras ................. 80SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Captulo 12 Concordncia .................................. 85 Captulo 13 Variaes lingusticas ..................... 97

TextoCaptulo 14 A noo de texto ............................ 100 Captulo 15 Apreenso e compreenso ............ 101 Captulo 16 Intertextualidade ............................ 105 Captulo 17 Funes de linguagem .................... 107 Captulo 18 Figuras da linguagem .................... 111 Captulo 19 Temas e guras ............................... 116 Captulo 20 Tipos de discursos ........................... 118

SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Generalidades sobre as classes gramaticais1A

CAPTULO 1

CLASSIFICAO DAS PALAVRAS DA LNGUA

Sabe-se que uma lngua de cultura, tal como o francs, o ingls, o espanhol e o portugus modernos, possui uma grande quantidade de palavras: em torno de 500 mil. Um estudioso da lngua que pretenda depreender as caractersticas e o comportamento de cada uma dessas palavras, isoladamente, no ter tempo para terminar sua tarefa durante o seu tempo de vida. Por outro lado, trat-las todas como se tivessem as mesmas caractersticas seria to pertubador quanto misturar remdios com venenos. A melhor soluo proceder como procedem as cincias em geral: agrupam-se em classes as palavras com caractersticas e comportamentos comuns. Em vez de esquadrinhar palavra por palavra, descrevem-se as marcas e os traos tpicos de cada classe, com base no pressuposto de que esses traos so, em princpio, vlidos para todos os constituintes da mesma classe. Evidentemente, sempre haver casos de palavras que se desviam de certas propriedades da classe como um todo. o caso das conhecidas excees gramaticais que, por sinal, no so to numerosas quanto se pensa. No por outra razo que a primeira informao dada pelos dicionrios vernculos a indicao da classe a que pertence a palavra. Veja, por exemplo, o registro de uma palavra no Dicionrio Houaiss.

Segundo a proposta da Nomenclatura Gramatical Brasileira (abreviadamente NGB), as palavras do portugus dividem-se em dez classes: substantivo; verbo; adjetivo; advrbio; numeral; preposio; artigo; conjuno; pronome; interjeio. Como se trata de uma classicao morfolgica, o esperado seria que o critrio adotado para o estabelecimento das classes fosse baseado apenas nas propriedades formais na forma das palavras. Contrariando, no entanto, essa exigncia de rigor metodolgico, a verdade que nossas gramticas tm usado uma mistura de critrios.3

O SUBSTANTIVO E O VERBO

O substantivo e o verbo so duas classes que podemos chamar de bsicas ou nucleares, porque elas podem funcionar como ncleos, respectivamente, do sujeito e do predicado, os dois constituintes da grande maioria das oraes. Vejamos cada um desses conceitos. Verbo a classe de palavras em torno da qual se constri a orao. a palavra essencial da orao, isto , aquela sem a presena da qual no existe orao. De nenhuma outra classe se pode dizer isso. Embora no seja comum, h no portugus oraes formadas apenas por um verbo, como o caso das que vm exemplicadas a seguir. Choveu. Geou. Nevou. Mas o mais normal no isso. Na grande maioria dos casos, o verbo, ao entrar na frase, requer, no mnimo, o acompanhamento de um substantivo. Desse modo, podemos dizer que as duas classes nucleares da orao so o substantivo e o verbo. Com um representante de cada uma dessas duas classes, montamos o esqueleto mnimo de uma orao. Observao Nos exemplos que seguem, o substantivo vem transcrito em vermelho; o verbo, em azul. Exemplos:

A letra v. abreviatura de verbo, e dizer que a palavra pertence a essa classe j implica dizer que ela tem as caractersticas tpicas das palavras desse conjunto. Se, porventura, houver algum desvio, este indicado em notas especiais.2

CRITRIOS DE CLASSIFICAO DAS PALAVRAS

A classicao das palavras inscreve-se num tpico da Gramtica chamado de Morfologia, palavra formada do grego (morfo forma; logia estudo, tratado). Por isso que se chama de anlise morfolgica ao trabalho de dividir as palavras em classes gramaticais.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

gua evapora.

Ferro oxida.

Barulho incomoda.PORTUGUS

5

A vantagem de considerar o substantivo e o verbo como dois elementos nucleares que, depois, podemos tom-los como referncia para denir outras classes que gravitam em torno de um ou de outro desses ncleos. Mas vamos antes denir com mais pormenores cada uma dessas classes tomadas como nucleares.4

O SUBSTANTIVO

Sob o ponto de vista semntico (ou do signicado), o substantivo uma classe constituda de palavras que designam os seres do mundo real ou imaginrio e noes gerais. Exemplos: coisas: mesa, rvore, estrela; pessoas: cantor, peregrino, pescador; animais: cachorro, hipoptamo, gavio; entidades mticas: lobisomem, saci, Zeus. Incluem-se na classe dos substantivos palavras que indicam um conjunto de seres ou uma realidade complexa, formada de vrias partes. Exemplos: Continente Tambm se incluem entre os substantivos palavras que designam realidades existentes apenas no mbito da conscincia, sem existncia real ou concreta no mundo dos objetos e das coisas. So noes abstratas, criaes da mente, como aes, estados, qualidades, sentimentos. Essas noes no podem ser representadas por ilustrao direta, j que s existem como qualidades ou modos de ser das realidades concretas. Exemplos: Cardume

Experincia

Cidade

FlorestaSISTEMA ANGLO DE ENSINO

Velocidade

6

PORTUGUS

O substantivo, diferente do adjetivo, jamais admite suxos superlativos (-ssimo, -rrimo, -imo). Exemplos:

Adjetivo (compatvel com suxo superlativo)largo largussimo Concentrao Como se v, as noes abstratas no podem ser representadas em si mesmas, pois elas so palavras criadas para designar propriedades ou modos de ser das realidades concretas. Sob o ponto de vista mrco (ou da forma), o substantivo uma classe que faz o plural com o acrscimo de -s e essa marca importante para distingui-lo do verbo, sobretudo em casos de substantivos abstratos que designam aes. Exemplos: feliz felicssimo

Substantivo (no compatvel com superlativo)largura *largurssima felicidade *felicidadssima

Observao: O asterisco indica impossibilidade.

Sob o ponto de vista sinttico (das relaes entre as palavras), o substantivo uma classe de palavra que pode, sozinha, funcionar como ncleo do sujeito. Exemplos:

Ouro no enferruja.

Singularcomida salto combate

Pluralcomidas saltos combates designam seres ou noes; fazem o plural em -s e no so compatveis com suxo superlativo (-ssimo, -imo); podem, sozinhas, funcionar como ncleo do sujeito. Futebol a paixo do brasileiro. Em sntese, podemos denir substantivo como a classe das palavras que:

H substantivos que designam qualidade ou estado, tomados como noes separadas (abstratas) dos seres que as suportam. Nesses casos, no se confundem com os adjetivos, por um trao diferenciador fcil de testar:5

O VERBOSob o ponto de vista semntico, as palavras pertencentes classe dos verbos designam: Ao: atividade resultante de um agente. Exemplos:

PedalarSISTEMA ANGLO DE ENSINO

Saltar

Voar

7

PORTUGUS

Processo: um acontecimento que afeta um sujeito.

Exemplos:

Exemplos:

Amadurecer O cavalo quadrpede ( indica estado permanente).

Florescer

O cavalo est cansado (est indica estado transitrio).

Derreter No seria apropriado dizer, por exemplo, que a uva fez a ao de amadurecer; a flor, a ao de florescer; o gelo, de derreter. Amadurecer, florescer e derreter, no so verbos que indicam ao, mas um processo que afeta o sujeito. Estado (ou mudana de estado): indica a presena

ou ausncia de certo atributo num sujeito.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

O cavalo cou assustado (cou indica mudana de estado).

8

PORTUGUS

Sob o ponto de vista mrco, o verbo uma classe de palavras muito rica, mas, para distingui-la de todas as demais, basta levar em conta o dado de que o verbo a nica classe que possui desinncias tpicas para marcar o tempo. Em outras palavras, o verbo a nica classe que possui desinncias para indicar se a ocorrncia est localizada no presente, no passado ou no futuro. Exemplos:

Sob o ponto de vista sinttico, o trao mais marcante do verbo ele ser um constituinte essencial do predicado. Isso quer dizer que no existe predicado desprovido de verbo, mesmo que este venha elptico. Sob o ponto de vista semntico, pode acontecer de o verbo no ser o ncleo do predicado, como se d no predicado nominal. No entanto, mesmo esse tipo de predicado no se constitui sem a presena obrigatria de um verbo. Exemplos: est atrasado. chegou ao aeroporto. chegou ao aeroporto atrasado.

O avio

Esta rvore crescer. FUTURO

Como observao suplementar, convm acrescentar que, na orao, o verbo pode ocorrer sob a forma simples, isto , constitudo por uma palavra apenas, ou sob a forma de locuo verbal, constitudo de um (ou mais) verbo(s) auxiliar(es) seguido(s) de verbo principal. Exemplo: A gua ocorre na natureza sob a forma lquida, mas tambm pode ocorrer sob a forma slida ou gasosa. Ocorre

verbo na forma simples locuo verbalverbo principal

Pode ocorrer

verbo auxiliar

Esta rvore j enfeita a paisagem. PRESENTE

Nas locues verbais, o verbo auxiliar vem antes do principal. Qualquer inverso dessa ordem s ocorre para criar efeitos de sentido especiais. Exemplo: Fale de mim. Quem falar quiser!Locuo verbal verbal na ordem inversa: verbo principal (falar) verbo auxiliar (quiser). impossvel no sentir certa estranheza nessa inverso.

6

O SUBSTANTIVO E SEUS SATLITES

Dependendo da situao, pode bastar o substantivo sozinho para produzir o signicado pretendido pelo enunciador. Observe uma frase como esta: Acidentes acontecem. Nessa frase, no necessria outra palavra alm do substantivo e do verbo para traduzir, por exemplo, o comentrio de um tcnico de futebol, lamentando a m sorte de ser obrigado a substituir o melhor jogador da equipe por este ter sofrido uma distenso muscular logo no incio da partida.

Esta rvore cresceu muito. PASSADOSISTEMA ANGLO DE ENSINO

9

PORTUGUS

Para consolar o jogador que sai contrariado do campo, bastam as duas palavras: Acidentes acontecem. Mas, dependendo da situao, uma frase formada apenas por um substantivo e um verbo pode gerar desespero. Imagine que um lho, tendo ido viajar, ligue para casa, do meio da estrada, dizendo para a me apenas estas duas palavras:

7

O ADJETIVO

Sob o ponto de vista do signicado (semntico), o adjetivo uma classe de palavras que indica qualidades ou propriedades dos seres designados pelos substantivos. Os seres no possuem todos as mesmas propriedades e, mesmo os que so da mesma natureza, podem diferenciar-se uns dos outros por meio de qualidades ou caractersticas tpicas. Os adjetivos formam uma classe de palavras que servem para designar essas propriedades. Exemplos:

Acidentes acontecem. Como agravante, suponha a me ouvindo rudo de sirenes e vozerio volta do telefone. A informao precisa ser expandida imediatamente para satisfazer a necessidade de aliviar a angstia da me. Em casos como esses, claro que tanto o substantivo como o verbo precisam vir acompanhados de outras palavras esclarecedoras. O lho, presumindo a ansiedade da me, poderia acrescentar imediatamente as seguintes palavras: Aconteceu um grave acidente de moto. Sabendo que o lho estava viajando de nibus, a ansiedade da me cai consideravelmente. Sem dvida, o dilogo prosseguiria com outros esclarecimentos, mas vamos observar apenas esta ltima fala. Para prestar melhores esclarecimentos, o lho teve o cuidado de associar algumas palavras ao substantivo, como se pode perceber no esquema abaixo.

Casa rstica.

Casa trrea.

Aconteceu um grave acidente de moto. um vem associado ao substantivo, pois o lho pres-

supe que a me ainda no sabia de que acidente se tratava; grave est indicando uma caracterstica do acidente; de moto uma expresso que vem associada ao substantivo para esclarecer qual foi o veculo envolvido no acidente. Esse exemplo serve para ilustrar o dado de que certas palavras se associam ao substantivo para acrescentar signicados que ele no consegue traduzir sozinho. s palavras que se associam ao substantivo para acrescentar-lhe informaes podemos chamar pelo nome genrico de satlites do substantivo, que so: o adjetivo; a locuo adjetiva; o numeral; o artigo; o pronome adjetivo.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Casa geminada. Como se v, as trs fotos retratam uma casa, mas cada uma delas possui caractersticas diferentes, que so designadas pelos adjetivos: rstica; trrea; geminada.

10

PORTUGUS

8

Locuo adjetiva

Muitas vezes, a lngua no dispe de adjetivos apropriados para designar determinadas qualidades. Nesses casos, pode-se fazer uso de uma expresso formada por, no mnimo, uma preposio e um substantivo. D-se a essa expresso o nome de locuo adjetiva. Exemplos:

Como se v, usou-se a locuo de madeira para designar uma caracterstica da casa para a qual no dispomos de um adjetivo adequado. Existem em portugus os adjetivos lgneo ou lenhoso (de lenha, de madeira), mas no seriam adequados para indicar algo que feito de madeira. A locuo de joo-de-barro foi usada para designar um tipo de ninho (ou abrigo) construdo pelo pssaro. Para indicar a propriedade de uma casa construda no limite da calada, tpica do interior, usou-se a locuo sem recuo. Convm lembrar que, s vezes, a locuo adjetiva possui o adjetivo correspondente, mas no so sinnimos perfeitos. Pode ocorrer que o adjetivo tenha uma conotao erudita, contrastante com a conotao popular da locuo. o que ocorre sobretudo nos casos em que o adjetivo formado sobre uma base latina em contraste com a locuo, formada de um substantivo j transformado historicamente. Exemplos: O adjetivo plmbeo (do latim plumbum chumbo) corresponde locuo adjetiva de chumbo. Mas o adjetivo bem mais erudito do que a locuo. I) Nuvens plmbeas cobriam o Sol. II) Nuvens de chumbo cobriam o Sol. O enunciado II bem mais popular que o I.

Casa de madeira.

9

Adjetivo descritivo

O adjetivo pode ser usado para traduzir dominantemente uma qualidade do objeto. Exemplo:

Casa de joo-de-barro.

O cabelo da cantora est longo.

10

Adjetivo valorativo

Casa sem recuo.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Pode-se usar o adjetivo para traduzir dominantemente uma apreciao do enunciador, criando o que se chama de efeito de subjetividade.

11

PORTUGUS

Exemplo:

12

Plural do adjetivo composto

No adjetivo composto s varia o ltimo elemento, tanto em gnero quanto em nmero. Exemplo:

Lente cncavo-convexa

Lentes cncavo-convexas

Os adjetivos compostos formados de nome de cor substantivo cam invariveis: Exemplo:

Olho verde-mar

Olhos verde-mar

Azul-marinho sempre invarivel. Exemplo:

Camisa azul-marinho O cabelo da cantora est indecente.

Camisas azul-marinho

GRAU DO ADJETIVO13

11

Posio do adjetivo

Comparativo Igualdade:

Em portugus, de modo diferente do ingls, mais comum o adjetivo vir colocado depois do substantivo. Nessa posio, o adjetivo designa uma qualidade dominantemente descritiva, dando impresso de objetividade. Exemplo:

Pedro to alto quanto Paulo. Inferioridade:

Pedro menos alto que Paulo. Superioridade:

Pedro mais alto que Paulo. Crianas alegres corriam por entre canteiros coloridos. Colocado antes do substantivo, o adjetivo indica uma qualidade mais valorativa, criando a impresso de subjetividade. No exemplo anterior, a anteposio dos adjetivos criaria outro efeito de sentido: Embora o comparativo, em geral, seja formado pelo processo analtico, h alguns comparativos sintticos. Exemplos: Bom melhor Grande maior Quando se comparam duas qualidades do mesmo indivduo, usa-se obrigatoriamente a forma analtica. Exemplo: Pedro mais grande do que forte.14

Alegres crianas corriam por entre coloridos canteiros.

Superlativo Absoluto

Nesse caso, a qualidade parece ser produto mais da impresso do enunciador do que um estado de alma das crianas e uma propriedade dos canteiros. Numa sequncia em que faz sentido interpretar a primeira palavra como substantivo e a segunda como adjetivo, e vice-versa, a ordem das palavras que dene a funo: interpreta-se a primeira como substantivo e a segunda como adjetivo. o caso de:

a) Sinttico: bonssimo b) Analtico: muito bom Relativo

Pedro o mais alto da classe.15

Superlativos eruditos

Um amigo cachorro / um cachorro amigo.adjetivo substantivo SISTEMA ANGLO DE ENSINO adjetivo substantivo

H certos superlativos absolutos sintticos que so formados de radicais latinos. So os chamados superlativos eruditos. Exemplos: Soberbo superbssimo Amargo amarssimo

12

PORTUGUS

16

DIMINUTIVO E AUMENTATIVO DOS ADJETIVOS

Tanto o diminutivo quanto o aumentativo dos adjetivos no indicam tamanho, mas intensidade, associada a noes de afetividade (diminutivos) ou depreciao e grosseria (aumentativos). Exemplos:

Pessoa quietinha

Colega gordo

17

NUMERAIS

Os seres diferem entre si no apenas em qualidade, mas tambm em quantidade. A classe dos numerais constituda de palavras que servem exatamente para indicar a quantidade dos seres designados pelo substantivo. Exemplos:

Trs andares

Dez andares

Quinze andares

Como se v, as palavras trs, dez e quinze esto indicando quantidade.18

Subdiviso dos numerais

Cardinais: designam uma quantidade determinada de seres (um, dois, trs etc.). Fracionrios: designam o nmero de partes em que se divide uma quantidade (meio, tero, quarto etc.). Multiplicativos: designam o nmero de vezes que a quantidade multiplicada (duplo, triplo, qudruplo etc.). Ordinais: designam a ordem numrica em que se localiza determinado ser (primeiro, segundo, terceiro etc.).

SISTEMA ANGLO DE ENSINO

13

PORTUGUS

19

Efeitos de sentido dos numerais

Os numerais, devido preciso que conferem aos dados, tm grande importncia argumentativa, pois criam o chamado efeito de verdade. Exemplo: O vencedor fez o percurso em 1 hora, 12 minutos, 6 segundos e 2 dcimos. A mesma exatido que cria o efeito de verdade, costuma ser usada tambm para designar frieza, ausncia de emoo. Exemplo:

com quem se fala) no tem ainda conhecimento certo daquilo a que o substantivo est se referindo. De forma mais sinttica, costuma-se dizer que os interlocutores no compartilham o mesmo conhecimento. Exemplo:

Uma padaria da cidade foi interditada pela vigilncia sanitria.

Esta carta veio errada: para o 151 do nmero 53 e no para o 53 do nmero 151.

Ao dizer uma padaria e no a padaria, o falante est contando com o pressuposto de que na cidade existem ao menos duas padarias e, por isso mesmo, o seu interlocutor pode no saber de que padaria se est falando.23

Ausncia do artigo antes do substantivo

Sob o ponto de vista do signicado, a ausncia do artigo (denido ou indenido) antes do substantivo serve para conceb-lo no mais alto grau de generalidade. Exemplo: Padaria uma pequena indstria. Nesse caso, a ausncia do artigo serve para dizer que o substantivo se refere a qualquer tipo de estabelecimento designado pelo nome de padaria.24 20

O ARTIGO

O artigo denido como indicador de conceito universal

O artigo uma classe fechada, isto , formada de um nmero limitado e xo de palavras: o a os as artigo denido um uma uns umas artigo indenido Sob o ponto de vista semntico, o principal papel do artigo indicar se o signicado do substantivo dado como j conhecido pelo interlocutor ou no. Desse modo, h trs ocorrncias que merecem comentrio.21

tambm necessrio registrar o uso do artigo definido como indicador de um conceito de extenso universal.

Ao dizer que o livro fonte de saber, o falante pode no estar se referindo a um livro j conhecido pelo seu interlocutor, mas a qualquer obra conhecida pelo nome de livro. Esse uso do artigo muito comum em frases utilizadas para armar propriedades genricas de qualquer coisa ou pessoa. Exemplos: O ouro no enferruja. O cobre um metal muito duradouro. A vida sempre um risco.

Substantivo precedido de artigo denido

O artigo denido serve para dizer que o ouvinte j compartilha com o falante o conhecimento daquilo que o substantivo est indicando. Exemplo:

A padaria da cidade foi interditada pela vigilncia sanitria. S diz isso quem pressupe que a cidade tem apenas uma padaria e, por isso, qualquer habitante do povoado j sabe a que padaria o seu interlocutor est se referindo.25 22

O homem mortal. O amor um mistrio.

Substantivo precedido de artigo indenido

O PRONOME ADJETIVO

O artigo indenido usado antes do substantivo para estabelecer o pressuposto de que o interlocutor (aqueleSISTEMA ANGLO DE ENSINO

Tambm o pronome pode funcionar como satlite do substantivo e, nesse caso, costuma ser chamado de pronome adjetivo.

14

PORTUGUS

Exemplos:

Exemplos:

Minha carteirinha sumiu.

Este livro cheio de curiosidades.

Algumas pessoas so estranhas para ns.26

Pronome adjetivo possessivo

Os pronomes possessivos, quando se referem a um substantivo, servem para dizer a que pessoa do discurso pertence aquilo que o substantivo est indicando. Exemplo: Tua me te telefonou. Tua nesse caso um pronome adjetivo possessivo.est indicando que a me pertence pessoa com quem se est falando est associado a um substantivo

Neste relgio, a hora a mesma que nesse a e naquele l da torre da igreja.

27

O pai pediu ao lho que voltasse para sua casa

H casos em que o pronome adjetivo gera ambiguidade, pois ocorre num contexto em que pode ter como referncia mais de um elemento do texto, como o caso do exemplo dado. O pronome sua, no caso, est associado ao substantivo casa, indicando que ela pertence a algum de quem se est falando (sua de terceira pessoa). No enunciado, porm, ocorrem duas palavras que podem servir de referncia

Correlata marcao de espao a de tempo feita pelos demonstrativos este, esse, aquele. Este situa um tempo prximo ao momento da fala. Esse, um tempo anterior no muito distante do momento da fala. Aquele, um tempo anterior mais distante do momento da fala. Exemplos:

para o pronome: sua casa pode estar indicando

a casa do pai ou a casa do lho, pois ambos so pessoas de quem o enunciado est falando.28

Neste dia [13 de maio], estamos comemorando a libertao dos escravos.

Pronome adjetivo demonstrativo

Os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele), quando vm associados a substantivos, servem sobretudo para marcar a posio (o lugar) de algo (ou algum) em relao a uma das trs pessoas do discurso. Este situa algo prximo da pessoa que fala (1a pessoa). Esse, prximo da pessoa com quem se fala (2a pessoa). Aquele situa algo distante dos dois interlocutores. Para maior clareza, podemos fazer as seguintes associaes. Este aqui. Esse a. Aquele l.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

13 de maio de 1889: nesse dia foi proclamada a libertao dos escravos.

Sculo I a.C.: naquele tempo, Roma j dominava o mundo.29

Este, esse, aquele no interior do texto

No interior do texto, o uso ortodoxo dos pronomes demonstrativos pautado pelas seguintes normas. Esse anafrico, isto , refere-se a algo que j foi citado antes dele. Exemplo: Gasolina sofre aumento de 10%: esse percentual vai repercutir em outros preos.

15

PORTUGUS

Este catafrico, isto , refere-se a algo que vem depois dele.

Exemplo: Segundo alguns economistas, vir mais este aumento: 10% no preo da gasolina. Aquele sempre se refere a algo bem mais distante.

Exemplo: J no primeiro captulo, descrevemos o comportamento tpico do consumidor afetado pela propaganda. Naquela altura do texto ainda no havamos falado do cheque sem fundo.30

Este

aquele

Para referir-se a dois termos citados anteriormente, usa-se este para recuperar o mais prximo e aquele para o mais distante. Exemplo: Recebemos dois convites para a mesma data, um aniversrio e um casamento: este mais importante que aquele.(o casamento) (o aniversrio)

31

Algumas pessoas vo anular o voto nas prximas eleies.

Os pronomes indenidos, quando se referem a substantivos, servem para dizer que estes so tomados de maneira indeterminada ou imprecisa. Exemplo:

Vrios partidos negaram apoio ao governador.32

Resumo dos satlites do substantivo

Em sntese, o substantivo pode, na frase, vir determinado pelos satlites que vm representados no esquema a seguir.

Osartigo

meuspronome adjetivo

doisnumeral

melhoresadjetivo

amigossubstantivo

de escolalocuo adjetiva

me visitaram.

33

O ADVRBIO: SATLITE DO VERBOBrasil surpreendentemente derrota Argentina.

Assim como o substantivo, o verbo tambm pode vir acompanhado de certas palavras que alteram profundamente o sentido da mensagem. Chamamos de advrbio a classe de palavras invariveis que se referem ao verbo para trazer-lhe informaes suplementares. Exemplo: Brasil derrota Argentina. Uma manchete como essa anuncia, sem grande estardalhao, uma possvel vitria do Brasil sobre a Argentina no futebol, por exemplo. Mas a manchete poder ser dada de maneira bem mais provocante se agregarmos advrbios como:

Brasil sempre derrota a Argentina.

Brasil nunca derrota a Argentina. Essas palavras sempre invariveis que modicam o verbo pertencem classe dos advrbios. Como se v, as noes acrescentadas ao verbo por meio do advrbio so muito variadas. Por isso, os advrbios costumam ser classicados de acordo com as noes que acrescentam ao verbo. Existem, pois, advrbios:

Brasil derrota fragorosamente Argentina.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

de modo: O governo agiu rapidamente.

16

PORTUGUS

de tempo: O Sol sempre brilhou para ela.

Como j dissemos, em geral se apela para a locuo adverbial para suprir a falta de um advrbio tpico para traduzir a noo que se deseja. Exemplos:

de lugar: As aves gorjeiam l.

de intensidade: Papagaio fala muito.

Ele s viaja de trem. ( locuo adverbial de instrumento)

de negao: O dia no amanheceu nublado.

Inmeras vezes ocorre que o lxico da lngua no dispe de advrbios para traduzir certas noes que o enunciador deseja acrescentar ao verbo. Em casos como esses, apela-se para uma expresso formada por, no mnimo, uma preposio e um substantivo, o que costumamos chamar de locuo adverbial. Exemplos:

A terra secou com o calor. ( locuo adverbial de causa)

Todos receberam a notcia com satisfao. ( locuo adverbial de modo)

Advrbio, uma classe complexaI) O nibus estacionou calmamente. No se pode falar da classe dos advrbios sem ressaltar o dado de que se trata de uma classe um tanto quanto elstica, em que se encaixam palavras de natureza diferente. Dada essa falta de preciso, grosso modo, podemos enquadrar nessa classe toda palavra invarivel que determina outra palavra ou expresso. Com isso, consideram-se tambm como advrbio palavras que no se referem ao verbo, como as que vm exemplificadas nos itens 34 e 35.

II) O nibus estacionou com calma. fcil perceber que a locuo com calma, no enunciado II, acrescenta ao verbo noo equivalente do advrbio calmamente, no enunciado I.34

Advrbio como modicador de adjetivo ou advrbioClassica-se como advrbio todo intensicador de adjetivo ou de outro advrbio. Exemplos:

Suas

ideiassubstantivo

eram

muitoadvrbio intensificador de adjetivo

boas.adjetivo

Os pssaros

acordamverbo

muitoadvrbio intensificador de advrbio

cedo.advrbio

35

Advrbio modicador de uma orao inteira

O advrbio ou a locuo adverbial pode modicar no apenas o verbo, mas uma unidade maior, formada pelo verbo e outros termos associados a ele, abrangendo a orao inteira. Exemplo:

Miseravelmente,advrbio

o governador saiu da vida pblica riqussimo.orao

Como se v, o advrbio miseravelmente no pode estar-se referindo s ao verbo dessa orao (saiu).

Seria contraditrio dizer que algum, riqussimo, saiu miseravelmente da vida pblica. O que ocorre que o advrbio, nesse caso, usado para manifestar uma apreciao do enunciador (aquele que fala) sobre o contedo inteiro da orao que vem a seguir. como se o enunciador dissesse: O governador saiu da vida pblica riqussimo e isso, no meu modo de entender, uma constatao lamentvel, infeliz.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

17

PORTUGUS

36

PALAVRAS DENOTATIVAS

Tm grande importncia certas palavras invariveis que podem ocorrer em vrios pontos do enunciado para modicar palavras ou grupos de palavras, normalmente estabelecendo algum pressuposto ao que se diz. At e nem so dois exemplos expressivos desse tipo de palavra que a Nomenclatura Gramatical Brasileira chama de palavras denotativas. Exemplos:

I) Nem [o professor] conseguiu responder quela questo da prova. A palavra nem, nesse caso, refere-se a professor e estabelece o pressuposto de que a questo era muito difcil.

II) O professor no conseguiu responder nem quela questo da prova. Nesse caso, a palavra nem refere-se a toda a expresso sua frente e estabelece outro pressuposto, agora contrrio ao professor. Em sntese, nem, como palavra denotativa, serve para excluir algo ou algum cuja excluso causa estranheza por no ser esperada. Observe como a palavra at tem signicado oposto ao da palavra nem:

I) At [o professor] conseguiu responder quela questo. A palavra at, nesse caso, refere-se a professor e estabelece o pressuposto de que a questo no difcil. O enunciado, evidentemente, depreciativo para o professor.

II) O professor conseguiu responder at quela questo da prova. Nesse caso, a palavra at refere-se expresso inteira, que vem frente e estabelece o pressuposto de que a questo era muito difcil e que o professor era bom, a ponto de responder mesmo a uma questo que ningum esperava ser respondida. Desse modo, ca claro que a palavra at serve para incluir algo ou algum cuja incluso causa estranheza por ser inesperada.37

O PRONOMEOs maiores linguistas podero ser convocados e, na falta de contexto, no tero como decifrar o sentido mais do que se fez. Suponhamos agora que um superdetetive pegue a folha de papel e, por meio de tratamento qumico, ou por meio de raio X, descubra que estejam escritos com letras invisveis os dados completos de um famoso conde e de uma lha ento desconhecida. Nesse caso, o sentido dos dois pronomes ca plenamente esclarecido (eu = conde; ti = a lha). Essa suposio permite-nos ento dizer que: O pronome uma classe de palavras que indica apenas uma das trs pessoas do discurso ou algo relacionado a elas. Assim, o sentido pleno do pronome s se esclarece quando a situao ou o contexto permitem identicar a que elementos ele faz referncia.38

Como se sabe, o pronome uma palavra quase vazia de sentido. Prova disso que, fora da situao concreta da fala ou fora do contexto de um texto, o pronome no indica nada alm de uma das trs pessoas do discurso. Tome-se como exemplo uma frase como esta:

Se no houver marca nenhuma para identicar a quem se referem as palavras eu e ti, jamais algum vai colocar a mo nessa herana. As nicas pistas para a compreenso desse enunciado so: eu um pronome de 1a pessoa e, como tal, indica a pessoa que fala (ou escreve, no caso); ti um pronome de 2a pessoa e, como tal, indica a pessoa com quem se fala (ou para quem se escreve).SISTEMA ANGLO DE ENSINO

As referncias dos pronomes: os diticos

Os pronomes podem ter como referncia pessoas ou coisas que esto presentes na situao concreta de uma conversa. Nesse caso, diz-se que eles funcionam como diticos, isto , servem para apontar a pessoa a que fazem referncia, como nos exemplos a seguir.

18

PORTUGUS

Este animal tem a tua cara!

Catafricos so os pronomes que se referem a palavras ou termos que ocorrem frente deles. Em outros termos, os catafricos remetem-nos a algo que vem frente deles no texto. Exemplo: Ningum sabia a sua idade, nem onde ele nascera. Chamavam-no de Joo-da-estrada. Os pronomes sua, ele e no (forma variante do artigo o) so todos catafricos, pois se referem a Joo-da-estrada, que vem a seguir no texto.41

CONECTORES

E a tua inteligncia.

H duas classes de palavras que no ocorrem no enunciado para modicar uma palavra ou expresso, mas para estabelecer conexo entre dois segmentos. Dependendo dos segmentos conectados, os conectores se classicam como preposies ou conjunes. As marcas distintivas dessas duas classes de palavras so estas: trata-se sempre de palavras invariveis; seu papel no enunciado conectar, isto , estabelecer conexo ou ligao entre dois segmentos.42

Preposies

Nesse caso, o pronome este um ditico, isto , situa a sua referncia (o asno) prximo das pessoas que falam. O pronome tua tambm um ditico: ambas as pessoas a que se referem esto presentes na situao concreta da fala. Convm notar que o mesmo pronome muda de referncia quando mudam os papis de falante e de ouvinte.39 Os

A preposio uma classe de palavras limitada. Prova disso que podemos enumerar as preposies da lngua portuguesa numa pequena lista: a, ante, aps, at; em, entre; com, contra; para, por*, perante; de, desde, dentre; sem, sob, sobre.* A preposio por substituda pela variante per

anafricos

Diferentemente dos diticos, os pronomes com funo anafrica ou catafrica so aqueles que se referem a termos situados no interior do prprio texto. Chamam-se anafricos aqueles que se referem a palavras ou expresses que j ocorreram antes deles. Exemplo: O tropeiro percebeu que a tropa estava exausta e parou para que ela descansasse. Nesse trecho, ela est funcionando como um anafrico, pois se refere palavra tropa que ocorreu antes do pronome (anfora, do grego, palavra formada do prexo ana para trs phor ao de levar, transportar). Muitas vezes o termo anafrico retoma uma passagem anterior mais extensa que uma palavra apenas. Exemplo: Dizem que os remdios podem causar srios prejuzos. Eu digo o mesmo. O pronome mesmo, no caso, um anafrico que retoma todo o trecho anterior transcrito em vermelho.40

quando vem combinada com o artigo denido (o, a, os, as). No portugus moderno, em vez de polo, pola, polos, polas, usa-se pelo, pela, pelos, pelas. Exemplos: O ms de maio tem 31 dias. Nesse caso, a preposio de est conectando um substantivo (maio) com outro substantivo (ms). O povo no gosta de mentira. Aqui, a preposio de est conectando um substantivo (mentira) com um verbo (gosta). Nada aconteceria sem ela. A preposio sem est conectando um pronome (ela) com um verbo (aconteceria).43

Signicado das preposies

Os catafricos

O prefixo cat (do grego) significa de cima para baixo, para diante.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

H certas preposies que, com o passar do tempo, perderam o signicado, esvaziando-se de sentido. So as preposies exigidas pela regncia do verbo e de certos nomes. So muito teis como marcadores de funo da palavra na frase, mas perderam o signicado.

19

PORTUGUS

Exemplo: Ningum duvida de voc. Essas preposies esvaziadas de sentido so impostas pela regncia do verbo e no so escolhidas pelo falante. Alm destas h outras que preservam sentido prprio e so usadas pela escolha do falante, e no pela imposio do verbo ou de um nome. Exemplos modelares desse tipo so as preposies sob ou sobre, indicadoras de espao inferior ou superior respectivamente:

Note-se que a escolha de sobre ou sob no imposta pelo verbo (estacionou) mas pelo signicado que o falante quer dar ao seu enunciado. No se pode terminar esse item sem salientar que a traduo do sentido de uma preposio depende muito do contexto em que ela ocorre. Exemplos: O rio vem do leste para o oeste. A preposio de (combinada com o artigo do), nesse contexto indica ponto de partida, origem; para indica destino. O salrio do meu pai era usado para as despesas da

I) O veculo estacionou sobre o viaduto.

casa. Nesse contexto a preposio de (na combinao do) indica posse; para indica nalidade; de (na combinao da) indica local.

II) O veculo estacionou sob o viaduto.44

A conjuno

A conjuno, como a preposio, constituda de palavras invariveis, seu nmero tambm limitado, mas no to reduzido quanto o das preposies. Elas ocorrem no enunciado para conectar termos e oraes entre si. Exemplos:

O dia estava chuvosoorao 1

econjuno

as estradas estavam escorregadias.orao 2

O governo garanteorao 1

queconjuno

a inflao est sob controle.orao 2

Exceto em casos raros, a conjuno no s conecta uma orao com outra, mas tambm estabelece entre elas certas relaes de sentido. Como no caso das preposies, o sentido estabelecido pelas conjunes depende quase sempre do contexto em que ocorrem. No existe exemplo melhor que a conjuno que para demonstrar a variao de sentido da conjuno de acordo com o contexto. Exemplos:

Fez tantas exigncias,orao 1

queconjuno

perdeu o negcio.orao 2

Nesse caso, a conjuno que estabelece uma relao de consequncia entre a orao 2 e a orao 1.

J faz algum tempoorao 1

queconjuno

samos de l.orao 2

Nesse contexto, a conjuno que est estabelecendo uma relao de tempo entre a orao 2 e a orao 1.

O governo baixou severas ordensorao 1

queconjuno

no perdoassem aos contrabandistas.orao 2

Nesse terceiro exemplo, a conjuno que est estabelecendo relao de nalidade entre a orao 2 e a orao 1.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

20

PORTUGUS

Processos de formao de palavras1

CAPTULO 2

INTRODUO

Toda lngua produto da criatividade humana e, como tal, est em constante movimento, para acompanhar e exprimir as mudanas por que o homem vai passando ao longo da sua histria.

Um dos domnios em que mais sensivelmente se manifestam as mudanas na lngua no lxico, isto , no vocabulrio: palavras envelhecem e caem de uso, mudam de sentido ao longo do tempo e nos diferentes lugares; palavras novas surgem e ocupam o lugar de outras. o que se nota nos fragmentos de textos reproduzidos a seguir.

SISTEMA ANGLO DE ENSINO

21

PORTUGUS

Como se v pelos exemplos recortados e colados na abertura desta unidade, o mundo das palavras um mundo agitado, dinmico e nervoso, reexo do prprio universo dos homens que fazem uso desses instrumentos para as mais diversas nalidades. Uma observao mais metdica dos exemplos apresentados permite-nos concluir que a inveno de palavras novas corresponde a uma necessidade natural dos homens na sua relao com o mundo e com os seus semelhantes. Essa necessidade pode ser provocada por duas grandes motivaes: uma, de natureza objetiva; outra, de natureza subjetiva.2

4

PROCESSOS DE FORMAO DE PALAVRAS

Pelos exemplos apresentados na abertura desta unidade, nota-se que, para suprir necessidades, objetivas ou subjetivas, pode-se tambm apelar para a importao de palavras de outras lnguas, embora o mais comum no seja isso, j que toda lngua possui recursos prprios para a criao de palavras. Tais recursos costumam ser chamados pelo nome genrico de processos de formao de palavras, que sero objeto de nossa ateno a partir daqui.5

Trs conceitos bsicos

Necessidade de denominao

Transformaes no mundo dos objetos que nos rodeiam criam a necessidade de denominao, isto , de criar palavras para dar nome a novos objetos ou utenslios inventados ou descobertos pelas foras de criao e de investigao prprias do homem. Segundo o Dicionrio Houaiss, a palavra batiscafo, por exemplo, que se referia a um veculo usado na explorao de guas profundas, entrou em nosso lxico em 1947. Tambm a palavra rob foi usada para designar um novo objeto, este da indstria tecnolgica. Muitas vezes no a criao de um novo objeto que exige a inveno de palavras para denomin-lo, mas novas interpretaes que a cincia passa a fazer do mundo das pessoas e das coisas. A palavra factoide, que ultimamente tem aparecido sobretudo no noticirio poltico da nossa imprensa, um exemplo muito apropriado da criao de palavras para traduzir interpretaes diferentes de dados j existentes. Essa palavra designa o hbito de lanar certas notcias para testar a reao do povo diante do fato noticiado. O hbito sempre existiu na estratgia poltica, mas o nome para design-lo foi criado recentemente. Prova disso que a h bom pouco tempo a palavra ainda no vinha registrada nos dicionrios.3

As palavras novas nunca surgem do nada: elas sempre so criadas a partir da recombinao de formas preexistentes na lngua. A importao de formas de lnguas estrangeiras (os chamados emprstimos lingusticos) comum na linguagem cientca, mas no usual na evoluo natural e espontnea das lnguas. Para compreender os elementos que se articulam para a formao de palavras, convm conhecer trs conceitos bsicos: radical, prexos e suxos.6

Radical

O radical um segmento constituinte da palavra, que pode ser denido por trs propriedades: sempre base do signicado da palavra; indivisvel em unidades de sentido menores (ao menos dentro do idioma em que estudado); comum a uma srie de palavras da lngua. Exemplos: real real real real i(n) (r) real real real ista ismo izar idade izvel

Necessidade de expresso pouco comum o radical ocorrer na forma simples ou pura: em geral, ele vem acompanhado de outros segmentos da palavra. H, alis, certos radicais que nunca existem como formas livres: sempre vm agregados a outros elementos. o caso, por exemplo, de um radical como o que aparece no verbo conduzir. O radical apenas a forma duz, de um verbo latino que significa levar, transportar, o mesmo que aparece no lema do braso da cidade de So Paulo: Non ducor, duco ( No sou conduzido, conduzo). Esse radical aparece em muitos verbos do portugus, mas sempre como forma presa e no como forma livre. Exemplos: conduzir produzir reduzir induzir Convm observar tambm que o radical pode sofrer alteraes de natureza fontica, para acomodar-se aos segmentos a que se agrega. Um exemplo ilustrativo a esse respeito o radical apt, que ocorre em: apto aptido

Outro tipo de motivao para a criao de palavras de ordem subjetiva, isto , o falante vai em busca de novas formaes vocabulares para satisfazer a necessidade subjetiva de exprimir uma forma pessoal e diferenciada de ver ou de sentir o mundo. A linguagem potica o arquivo mais bem provido de exemplos de criaes vocabulares provocadas pela necessidade de expresso. o que vem ilustrado no trecho do poeta Drummond de Andrade reproduzido a seguir. () Uma torneira pinga e o chuveiro chuvilhaCarlos Drummond de Andrade. A um hotel em demolio.

Para traduzir a ideia de um hotel em estado de demolio, o poeta escolhe a figura de um chuveiro que no derrama gua mas chuvilha. O sufixo -ilhar, acrescentado ao substantivo chuva, cria o verbo chuvilhar, que sugere a ideia de escassez de gua num chuveiro velho, de um hotel em runas.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

22

PORTUGUS

Precedido do prexo in (negativo), altera-se para ept: inepto O mesmo acontece com o radical barb, que ocorre em palavras como: barba barbeiro barbear barbeador Precedido do mesmo prexo in, altera-se para berb: imberbe ( aquele que no tem barba). s vezes, a alterao se d apenas na escrita, sem afetar a pronncia. Exemplos disso so os radicais iniciados por r, que dobram a letra inicial quando a eles se agregam prexos que terminam por vogal. Exemplo: real irreal O prexo in negativo perde o n e o r inicial duplicado.7

Como ocorre com os prexos, ao se agregarem ao radical ou palavra-base, os suxos podem sofrer alteraes de forma, ou provocar alteraes na palavra-base. Na palavra socialismo, a agregao do suxo no acarretou alterao alguma em nenhum dos lados. Em pianista, a vogal nal da palavra-base sofreu queda; o mesmo ocorreu com costureiro. Na palavra formao, o suxo provocou a queda do r nal do verbo.10

Palavra-base

Axos: prexos e suxos

Axo o nome genrico que se d a certos segmentos que vm agregados a um radical, ou a uma palavrabase, para formar palavras novas. O nome axo (de ad junto xo xado, agregado) se deve ao fato de que esses segmentos na sua grande maioria s ocorrem como formas presas, nunca como formas livres. Os axos recebem o nome especco de prexos, quando se agregam antes do radical, e de suxos, quando se agregam depois.8

Como j foi dito no item 6, muito comum o radical da palavra no ocorrer isolado, mas apenas como forma presa. Com isso, os axos podem no se agregar ao radical para formar palavras novas. possvel ainda que os axos se agreguem a palavras j acompanhadas de outros axos. Vamos exemplicar, para esclarecer o que estamos dizendo. A palavra desleal foi formada pela agregao do prexo des ao radical leal que, no caso, existe em estado puro. A palavra novamente foi formada pela agregao do suxo mente no ao radical nov, mas palavra nova, formada do radical nov mais a desinncia feminina a. A palavra enforcamento j mais complexa: ela foi formada pela agregao do suxo mento ao verbo enforcar, uma palavra que j contm um prexo (en) e um suxo (ar). No ltimo caso, no rigoroso dizer que o suxo mento foi agregado ao radical enforcar (h quem chame essa base de radical secundrio). Como pode haver radical secundrio, tercirio etc., melhor usar outra nomenclatura mais simples, que a que vamos adotar daqui para a frente. Chamaremos de base qualquer forma que serve de suporte para a formao de outra palavra. bem mais conveniente do que palavra primitiva ou palavra derivada, j que uma palavra derivada pode provir de outra que, por sua vez, j derivada de outra. Para exemplicar essa terminologia, vamos tomar uma palavra como abrasileiramento e descrever todos os passos da sua formao: abrasileiramento proveio da base abrasileirar o suxo -mento; abrasileirar proveio do prexo a a base brasileiro o suxo ar; brasileiro proveio da base Brasil o suxo eiro.11

Prexos

So formas presas que se agregam ao incio de um radical ou de uma palavra-base para formar novas palavras. Os prexos alteram o sentido das palavras, mas no a classe gramatical a que elas pertencem. Exemplos: infeliz ilegal (in + legal) desleal conviver Como se nota, muitas vezes o prexo se agrega ao radical sem alterao na forma de nenhuma das partes. s vezes, h alteraes no radical, no prexo ou em ambos. O prexo in, por exemplo, transforma-se em i antes de palavras iniciadas por l: ilegal ilegvel iletrado9

DOIS PROCESSOS DE FORMAO: DERIVAO E COMPOSIO

Suxos

Os suxos so formas que se agregam ao nal de um radical ou de uma palavra inteira para formar palavras novas. muito comum o suxo ser usado para promover a mudana da palavra de uma classe para outra. Exemplos: formar o formao piano ista pianista social ismo socialismo costura eiro costureiroSISTEMA ANGLO DE ENSINO

Observe o mecanismo pelo qual se formou a palavra tristeza: TRISTEbase

+ EZAsufixo

= TRISTEZApalavra nova

Houve a formao de uma palavra nova pela concorrncia de apenas um elemento de signicao prpria (uma base) e um elemento modicador (suxo). Tal mecanismo se classica como derivao.

23

PORTUGUS

DerivaoDerivao o processo pelo qual se criam novas palavras pela anexao de elementos modificadores (prefixos e sufixos) a apenas uma base.12

ComposioVejamos agora como se formou a palavra pontap: PONTAbase

+ Pbase

= PONTAPpalavra nova

Na formao dessa palavra houve a concorrncia de dois elementos providos de signicao prpria (base). Tal processo se caracteriza como composio. Composio o mecanismo pelo qual se criam palavras novas pela agregao de, no mnimo, duas bases.

Nesse caso, dizemos, pois, que empalidecer uma palavra formada por parassntese. Deve-se observar que o prexo en escreve-se em antes de base iniciada por b ou p. Uma observao importante a propsito da parassntese que, por esse processo, quase s se formam verbos e, quanto ao sentido, os verbos assim formados implicam sempre o pressuposto de fazer algo passar a ser o que no era antes. Exemplos: entristecer significa tornar-se triste. envelhecer significa tornar-se velho. apassivar significa tornar passivo.* Como j vimos, o asterisco indica impossibilidade

na lngua portuguesa. Obviamente, seria contraditrio, em sentido literal, uma proposta para abrasileirar o samba brasileiro. Isso s poderia ser entendido em sentido no literal e irnico, baseado no pressuposto de que o samba brasileiro mascarou-se, perdeu a autenticidade, distanciou-se da origem etc.16

TIPOS DE DERIVAO13

Prexao

Forma-se a palavra pela anexao de prexo a uma base. Exemplo: retro agir retroagir14

Regressiva

Suxao

Forma-se a palavra pela anexao de suxo a uma base. Exemplo: nal izar nalizar15

Parassntese

Pelo processo de derivao regressiva como o nome sugere no se formam palavras por acrscimo, como o caso dos trs primeiros tipos j vistos, mas por subtrao. Por esse processo, a derivao que merece registro aquela que se costumou chamar de deverbal, isto , procedente do verbo. A derivao regressiva caracteriza-se por formar substantivos abstratos por meio da subtrao da desinncia -r do verbo. Exemplos:

Forma-se a palavra pela anexao simultnea de prexo e suxo a uma base. Exemplo: en tarde ecer entardecer preciso observar que, se o prexo e o suxo no forem agregados simultaneamente base, no ca caracterizada a parassntese. Na verdade, se o prexo e o suxo no so simultneos, forosamente um anterior ao outro. Nesse caso, temos, em tempos distintos, antes uma prexao e depois uma suxao ou vice-versa. Nem sempre possvel determinar qual dos dois processos ocorreu antes. Vamos exemplicar com a palavra infelizmente. Nela h um prexo e um suxo agrupados base, mas no se trata de uma formao por parassntese, j que ambos no foram agregados simultaneamente. Prova disso que existe tanto a palavra infeliz como felizmente. Nesse caso, no possvel determinar se antes houve uma derivao prexal e depois uma suxal ou vice-versa. Dizemos ento que a palavra infelizmente foi formada por derivao prexal e suxal. Vejamos agora a palavra empalidecer. Nela, o prexo e o suxo foram agregados simultaneamente base (plido), j que no existe a palavra emplido*, donde teria provindo empalidecer por suxao, nem palidecer*, de onde teria provido empalidecer por prexao.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Do verbo (com subtrao do -r)combater atacar revoltar assaltar roubar

Para o substantivo abstratocombate ataque revolta assalto roubo

Observe-se que, ao cair o r, a vogal nal pode manterse no substantivo ou sofrer alteraes. Pode ser problemtico decidir, neste caso, qual seja a palavra derivada e qual a primitiva. Exemplo: plantar / planta Podemos formular as duas hipteses seguintes. a) Planta a palavra primitiva, da qual proveio plantar por derivao sufixal (planta + ar). b) Plantar a palavra primitiva, da qual proveio planta por derivao regressiva (plantar (-r) = planta).

24

PORTUGUS

Para nos decidirmos por uma hiptese ou por outra, h o famoso artifcio proposto por Mrio Barreto: se, pelo processo de derivao imprpria, formam-se substantivos a partir de verbos, os substantivos assim formados devem guardar o contedo de ao dos verbos; portanto, no podem ser estticos. Assim, se o substantivo denota ao, ser palavra derivada, e o verbo, palavra primitiva; mas se o substantivo denota algum objeto ou substncia, vericar-se- o contrrio. Exemplos:17

planta distnciasubstantivo que denota entidade esttica palavra primitiva

plantar distanciarverbo palavra derivada por sufixao

combate ataquesubstantivo que denota ao do verbo de que deriva palavra derivada por regresso

combater atacarverbo palavra primitiva

Derivao imprpria o mecanismo pelo qual uma palavra muda de classe gramatical sem alterar a forma. Observe como a palavra pobre, dependendo de sua ordenao na frase, varia de sentido.

O homem

pobreradical

merece ajuda.

O

pobreradical

merece ajuda.

Essa mudana de classe gramatical, sem alterao de forma, caracteriza a derivao imprpria. No caso, a derivao feita pela mudana de contexto. Por este processo ocorrem derivaes como as seguintes. De adjetivo a substantivo

O cu estava azul. De particpio

O azul do cu no indicava chuva. a substantivo

A testemunha tinha dito a verdade. De innitivo

Segundo o dito popular, nem tudo que brilha ouro. a substantivo

O dia estava para amanhecer. De advrbio

O canto dos pssaros alegra o amanhecer. a substantivo

Eu no vos convidei. De adjetivo

Ele respondeu com um solene no. a advrbio

Comprei camisas caras. De substantivo

As camisas custaram caro. a adjetivo

Os relmpagos faziam medo.

Houve uma guerra-relmpago.

SISTEMA ANGLO DE ENSINO

25

PORTUGUS

TIPOS DE COMPOSIO18

Justaposio

o tipo de composio em que os elementos agregados conservam a mesma pronncia que possuam em separado. girassol gira sol19

A propsito das palavras cognatas, preciso lembrar o que j foi dito no item 6: que o radical pode sofrer alteraes na sua forma. As alteraes, s vezes, so de tal forma, que ca difcil at para especialistas determinar se uma palavra cognata de outra. Como lei geral, vale o princpio de que palavras iguais ou semelhantes na forma e no sentido so da mesma famlia. Na dvida, no h como no recorrer a um dicionrio etimolgico. Hoje, no Brasil, temos o Dicionrio Houaiss, que timo. A seguir exemplos de alguns cognatos. Moral, moralista, moralismo, moralidade, imoral,

Aglutinao

Tipo de composio em que ao menos um dos elementos agregados perde a pronncia que possua em separado. lobisomem lobo homem Observaes O que caracteriza a composio por justaposio no a presena do hfen, pois existem compostos por justaposio que no se separam por esse sinal: girassol, pontap, claraboia etc. H compostos por justaposio que no conservam a mesma graa das formas separadas. Isso no importa, desde que a pronncia seja a mesma: a palavra girassol (gira sol) deve ser considerada como justaposta.20

moralizar, desmoralizar, desmoralizao, imoralidade. Rever, prever, antever. Leal, lealdade, desleal, deslealdade. Forma, formar, formao, reforma, reformar. Como nota nal, no se pode deixar de fazer referncia aos falsos cognatos, muito conhecidos dos que estudam lnguas estrangeiras. Palavras como manga (parte do vesturio) e manga (a fruta) so exemplos de falsos cognatos no portugus. A forma idntica, mas o sentido no tem semelhana nenhuma. Trata-se de pura coincidncia: manga (parte do vesturio) palavra derivada do latim (manica); manga (fruta) palavra proveniente do malaio (a fruta foi trazida da Malsia para o Brasil, no sculo XVI, com esse nome).

PALAVRAS COGNATAS

Cognatas (do latim cognatus nascido junto) so palavras que possuem o mesmo radical, isto , que nasceram da mesma raiz. i(n) legal legal legal legal legal legal ista idade izar ismo

SISTEMA ANGLO DE ENSINO

26

PORTUGUS

Seleo e combinao de palavras1

CAPTULO 3

INTRODUO

conhecer as regras que determinam o modo de com-

Sabe-se que toda lngua um cdigo e, como tal, sua principal nalidade a construo de signicado. O objetivo nal de todo aprendizado de um idioma adquirir a competncia de produzir sentidos e compreender sentidos produzidos por outros. Todos os demais compartimentos do ensino da lngua se subordinam a este: compreender e produzir textos. Um dos requisitos indispensveis para atingir essa meta conhecer os mecanismos produtores de sentido e aprender a operar com eles.

bin-las. Usando termos mais especializados, a montagem de uma frase requer a contribuio de dois tipos de saber: a semntica, que diz respeito a tudo o que se refere ao signicado das palavras; a sintaxe, que trata das leis que governam as relaes das palavras entre si. Para montar uma frase, opera-se sempre com dois mecanismos: seleo de uma palavra para cada lugar da cadeia da frase; combinao com outra palavra j previamente escolhida (obviamente a primeira palavra da sequncia no se associa a nenhuma anterior a ela). Tomemos uma frase qualquer do idioma, como esta: Alegres toques de trombeta soaram festivamente. Como se v, as palavras desse enunciado no foram jogadas ao acaso sobre o papel, mas foram selecionadas dentre outras possveis e combinadas entre si como mostra o esquema que vem a seguir:

2

COMO SE CONTROEM FRASES

Para construir frases numa lngua qualquer, no basta conhecer o seu vocabulrio: preciso saber combinar as palavras entre si, de acordo com as regras tpicas de cada lngua. Uma frase no resultado da mera aglomerao de palavras, mas da combinao entre elas, comandada por determinadas regras. Para fazer a frase produzir o resultado desejado, um falante do idioma precisa de dois requisitos: conhecer o signicado das palavras;

1 AlegresNo eixo 1: a) selecionamos a palavra alegres em vez de: fracos longquos leves b) combinamos com a palavra do eixo 2.

2 toquesNo eixo 2: a) selecionamos a palavra toques em vez de: sons clamores vozes... b) a ela associamos as palavras dos eixos 1, 3 e 4.

3 de trombetaNo eixo 3: a) selecionamos a expresso de trombeta em vez de: de clarim de trompa de berrante... b) combinamos com a expresso do eixo 2.

4 soaramNo eixo 4: a) selecionamos a palavra soaram em vez de: reboaram ecoaram ressoaram... b) combinamos com a palavra do eixo 2.

5 festivamente.No eixo 5: a) selecionamos a palavra festivamente em vez de: solenemente ruidosamente ameaadoramente b) combinamos com a palavra do eixo 4.

O falante nativo de um idioma qualquer usa esses dois mecanismos de maneira intuitiva, mesmo sem tomar conscincia dos critrios utilizados tanto para selecionar quanto para combinar as palavras. possvel, no entanto, pr em evidncia esses critrios, o que ser feito a seguir.3

CRITRIOS DE SELEO DE PALAVRAS

A escolha das palavras determinada basicamente por quatro critrios: preciso conceitual, valor social da palavra, sonoridade resultante da escolha e compreensibilidade.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

27

PORTUGUS

A preciso conceitualCom base nesse critrio, vamos sempre em busca da palavra que traduza de maneira mais precisa o conceito que temos em mente. Muitas vezes, por pressa ou comodismo, acabamos usando uma palavra menos signicativa porque outra melhor no ocorre de pronto na nossa memria. Em casos como esse, convm sempre teimar com a memria e insistir at que nos ocorra a palavra certa. Quem escreve em casa, podendo fazer consulta, pode recorrer a dicionrios de sinnimos que servem exatamente para esses momentos. Suponhamos que, numa narrao, se queira dizer que: Fulano de Tal uma pessoa de olhar (e aqui nos falta a palavra). Sabemos que existe um adjetivo para caracterizar o olhar de pessoas que, como as cobras, so capazes de imobilizar aquele que est sob sua mira. Puxando pela memria, podemos nos lembrar de imobilizante, magntico. Mas, se formos ao dicionrio, vamos achar a palavra mais ajustada: hipntico. E a a frase car perfeita: Fulano de Tal uma pessoa de olhar hipntico. essa a melhor forma de proceder para encontrar a palavra mais precisa e, com isso, ampliar o vocabulrio.

Se a inteno era consolar o amigo, haveria outro modo de elaborar o texto.5

Sonoridade resultante da escolha

Muita gente no leva em conta que as palavras so formadas de sons e que, mesmo escritas, elas so elaboradas mentalmente como imagens sonoras. A escolha das palavras para compor uma frase precisa levar em conta o dado de que certas sequncias sonoras, umas vezes, sugerem um segundo sentido chulo ou grosseiro, outras produzem rudos desagradveis de ouvir. Exemplo: Eu nunca ganho nada em sorteios. Para dissolver o segundo sentido gerado pela expresso nunca ganho, seria possvel escolher jamais no lugar de nunca ou acerto no lugar de ganho: Jamais ganho nada em sorteios. Nunca acerto nada em sorteios. H casos em que a sequncia de palavras no sugere um segundo sentido grosseiro, mas produz sons desagradveis de ouvir ou difceis de falar. Exemplo: Hoje, na mesma jaula, vivem trs tristes tigres espera de remoo. Nesse caso, a troca de tristes por melanclicos resolve o rudo criado pela sequncia anterior. Exemplo: Hoje, na mesma jaula, vivem trs melanclicos tigres espera de remoo.

4

Valor social da palavra

Como na moda, existem palavras que em certa poca esto no apogeu e, em outra, quase em desaparecimento. H umas que so tidas como charmosas e chiques; outras, como ordinrias e depreciadas. H palavras polidas e grosseiras; palavras preconceituosas e palavras neutras. Essas impresses no devem ser desconsideradas, pois podem comprometer a boa comunicao, havendo casos em que uma m escolha pode pr a perder todo o esforo de aproximao entre dois interlocutores. Uma palavra mal colocada pode dar origem a constrangimentos ou a inimizades insuperveis. Exemplo: Imagine um trecho da conversa em que um amigo tenta consolar o outro que foi prejudicado por ter feito um mau negcio, pois, por distrao, no leu direito as clusulas do contrato que regulava as condies de pagamento. Bom. Um dia da caa, outro do caador. Nesse caso, voc deu uma de vacilo; num outro dia, voc ser o leo e o vendedor, o veado. Convenhamos, a escolha das palavras no foi nada apropriada inteno de consolar. Pondo de lado o uso de frases feitas e de argumentos prontos e desgastados (um dia de caa, outro do caador), a escolha das palavras vacilo e veado foi totalmente infeliz. Vacilo uma gria, que nem consta dos nossos dicionrios. Caracteriza de maneira depreciativa o indivduo que cai com facilidade em trapaas, que vacila. um sinnimo aproximado de otrio. A palavra veado, nem preciso dizer, traduz de maneira grosseira e preconceituosa o homossexual masculino. Escolhemos propositalmente um exemplo com palavras marcadas por fortes interpretaes negativas para deixar claro que uma palavra mal colocada pode pr tudo a perder.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Colocao de pronomes tonosOs pronomes tonos (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos) somente se colocam junto a verbos, em trs posies: antes do verbo ( = prclise). Exemplo: No me deixe s. depois do verbo ( = nclise).

Exemplo: Fala-me de tuas lembranas. no meio do verbo ( = mesclise).

Exemplo: Mostrar-lhe-ei exposio.

todos

os

modelos

da

A colocao dos pronomes tonos junto dos verbos pura questo de sonoridade: a melhor posio a que soa mais agradvel. Com o verbo no futuro (cantarei, venderei, cumprirei) e no particpio, a nclise soa mal. Exemplo: O mdico examinar-te soa pior do que o mdico te examinar. O mdico tinha examinado-te soa pior do que o mdico tinha te examinado. As chamadas regras de colocao pronominal no so mais do que a explicitao dos casos em que uma das trs posies do pronome tono soa mais agradvel do que as outras duas. Nesse particular h algumas diferenas entre a lngua escrita formal e a lngua falada informal.

28

PORTUGUS

6

Compreensibilidade

9

Polissemia

O produtor da frase, ao selecionar as palavras que vo comp-la, deve levar em conta a competncia interpretativa do seu interlocutor. Sem esse cuidado, um enunciado pode deixar de cumprir um dos mais importantes papis da linguagem, que a comunicao. Exemplo: Em virtude do blecaute, vimo-nos coactados a procrastinar a entrega dos trabalhos. A escolha de certas palavras desse trecho torna-o completamente inadequado para ser axado num quadro de avisos de uma escola brasileira. Mais compreensvel seria um aviso nestes termos: Por causa do apago, fomos obrigados a adiar a entrega dos trabalhos.

Chama-se de polissemia a possibilidade de uma mesma palavra adquirir mais de um sentido no idioma. Existem certas palavras da nossa lingua que so exemplares para demonstrar esse fenmeno, dado o grande nmero de signicados que podem adquirir. o caso de palavras populares, muito usadas em linguagem informal, tais como negcio, troo, treco, coisa. Exemplos: As coisas de cozinhas ela guarda no armrio fechado, para proteger das moscas. Nesse caso, coisas equivale a utenslios. Quem tem medo de altura, sente uma coisa esquisita

quando olha para baixo. Coisa a signica algo como sensao, impresso. A construo de ferrovias foi a coisa mais importante

ANOTAES SOBRE PRECISO CONCEITUAL7

Signicado e contexto

Quando se trata de preciso conceitual, um aspecto de grande importncia a se considerar que o signicado da palavra depende do contexto em que ela ocorre. Deve-se entender por contexto a unidade maior na qual se encaixa a unidade menor: a palavra, por exemplo, pode servir de contexto para um suxo; a orao, de contexto para a palavra. Ao escolher a palavra para traduzir certo signicado, preciso considerar se o signicado que se deseja compatvel com o contexto em que ela vai ser encaixada. O verbo bater, por exemplo, pode ter inmeros signicados, mas no em qualquer contexto. Exemplos: O carteiro bateu na porta. (bater = dar golpes) O jogador bateu o pnalti na mo do goleiro. (= chutar) O nadador bateu o prprio recorde. (= superar)8

do governo passado. Coisa, nesse contexto, equivale a realizao, acontecimento. Vocs falam de coisas que no entendem.

Coisa nesse caso sinnimo de assunto, tema. Como se pode notar, o contexto impede que a polissemia traga problemas de compreenso e interpretao.10

Denotao e conotao

Sentido literal

sentido no literal

Sentido literal o mesmo que sentido prprio, ao

p da letra. Diz-se que a palavra est usada nesse sentido quando ela ocorre com o signicado que tem habitualmente. Por isso mesmo, a interpretao do sentido literal depende pouco do contexto em que ela ocorre, j que esse signicado corresponde ao da maioria dos contextos. Exemplo: A pedra h muito tempo vem sendo usada como material para pavimentao de ruas. Sentido no literal o que se desvia do habitual,

isto , o que se distancia do sentido prprio. A interpretao do sentido no literal da palavra depende muito do contexto em que ela ocorre, j que tal sentido no corresponde ao da maioria dos textos do idioma. Exemplo: As pedras atiradas pela boca ferem mais do que as pedras atiradas pela mo.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

Denotao o signicado a que uma palavra nos remete habitualmente, sem interferncia de impresses ou associaes paralelas. Em outras palavras, signicado denotativo aquele que indica ou aponta aquilo a que a palavra faz referncia. A denotao denida, portanto, pelos traos de sentido constantes da palavra, estveis e no variveis de situao para situao. Conotao so os signicados adicionais que se associam ao signicado denotativo. Isso quer dizer que ao signicado de base estvel acrescentam-se outros traos ocasionais, tais como impresses provocadas por associao a certas circunstncias especiais. A comparao entre palavras sinnimas o melhor procedimento para se perceber a diferena entre denotao e conotao. Sob o ponto de vista denotativo, as palavras sinnimas so praticamente iguais, j que nos remetem basicamente a um mesmo ncleo de signicados. Mas, sob o ponto de vista conotativo, as diferenas podem ser radicais. Os dicionrios registram, por exemplo, as palavras otrio e inexperiente como sinnimas. Sob o ponto de vista denotativo, de fato, so: ambas remetem caracterstica de algum ingnuo, sem malcia, inocente. Mas sob o ponto de vista conotativo h diferenas marcantes: otrio vem associado a traos de signicado muito mais depreciativos que inexperiente. A otrio se associam traos como bobalho, sujeito sem capacidade de reao, que se deixa enganar por qualquer um. lnexperiente nem sempre tem essas conotaes: pode-se ser inexperiente, mas temporariamente. O otrio denitivo, sem recuperao e, por isso mesmo, tem uma conotao muito mais ofensiva.

29

PORTUGUS

11

Sinnimos e antnimosII) Tracante depe sobre o trco no Senado. No caso I, o Senado o local do depoimento; no caso II, o Senado o prprio local onde ocorre o trco. preciso saber que regra de combinao permite essa dupla possibilidade. Para dar resposta a essa questo, vm expostas a seguir as principais regras que indicam as relaes entre as palavras do texto.14

Sinnimos so palavras que, com formas distintas, tm o mesmo signicado ou quase o mesmo signicado. Na verdade, levando-se em conta sobretudo a diferena de conotao, praticamente no existem sinnimos perfeitos. A rigor, consideram-se como sinnimas palavras que possuem vrios traos de signicado em comum. Exemplos: honrado / distinto / decente / conceituado / digno / honesto / honroso / ntegro. Antnimas so palavras que possuem signicados opostos. Exemplos: engordar emagrecer sensatez insesatez estreito largo longe perto12

Compatibilidade de sentido

Parnimos

Nem todas as palavras so compatveis entre si no plano do signicado: o substantivo quarto, por exemplo, compatvel com os adjetivos limpo, iluminado, mas no com o adjetivo pensativo. Podemos, pois, sem risco de ambiguidade, construir um enunciado como este:

Parnimas so palavras que possuem forma muito semelhante, mas sentido diferente. Exemplos: raticar reticar (conrmar) (corrigir) enumervel inumervel (que pode ser (que no pode ser enumerado, contado contado) por meio de nmeros)13

O menino saiu do quarto pensativo. Em nome da regra da compatibilidade de sentido, pensativo s pode estar se referindo a menino e no a quarto. O mesmo no se poderia dizer de um enunciado como este:

REGRAS DE COMBINAO DAS PALAVRAS

O menino saiu do quarto limpo. Limpo, nesse caso, pode estar associado tanto a quarto quanto a menino: o enunciado ambguo.15

J vimos que o sentido de um enunciado depende da escolha das palavras que o constituem e do modo de combin-las. Por isso, quem deseja aprender a compreender e produzir textos com procincia, deve conhecer as regras que indicam a correlao entre as palavras para no apreender um sentido que o texto no diz e tambm para no construir frases que no traduzam com propriedade a inteno do redator. Exemplo: Tracante depe sobre o trco no Senado. Pelo conhecimento que se tem do mundo, mais provvel que o redator queira dizer que certo tracante compareceu a uma sesso no Senado para depor sobre problemas de trco de drogas no pas. Mas, do modo como est redigida, a frase permite tambm uma outra interpetrao: que o tracante compareceu a certo lugar para fazer depoimento sobre trco ocorrido dentro do Senado. Nesse caso, o depoimento passa a ser politicamente muito mais comprometedor, sugerindo que, dentro do prprio Senado, ocorre trco, talvez de inuncia: senadores que compram ou vendem votos, por exemplo. A ambiguidade dessa frase no foi provocada por uma questo de m escolha, mas pela dupla possibilidade de combinao que uma expresso admite, como indicam as echas do esquema a seguir.

Concordncia

Pelo mecanismo de concordncia, certas palavras devem acomodar suas desinncias palavra a que vm associadas. O enunciado transcrito no item anterior, por exemplo, no provocaria ambiguidade alguma se fosse assim alterado:

A menina saiu do quarto limpa. Pela regra da concordncia, a palavra limpa s pode estar associada palavra menina. Do mesmo modo, a frase no seria ambgua com esta outra alterao:

A menina saiu do quarto limpo.16

Colocao

H situaes em que nem a compatibilidade de sentido nem a concordncia so suficientes para resolver a ambiguidade. Nesses casos, a colocao das palavras pode ser o fator de desempate. Observe a frase a seguir: O vigilante pastor, com calma e sossego, seu rebanho seguia.

I) Tracante depe sobre o trco no Senado.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

30

PORTUGUS

Esse enunciado ambguo, pois do modo como est redigido no se sabe se o rebanho estava seguindo o pastor (vindo atrs dele) ou se o pastor que estava seguindo seus carneiros. A ambiguidade ocorre porque: pela compatibilidade de sentido seguia pode ser uma ao atribuda tanto a pastor quanto a rebanho; pela regra de concordncia seguia est no singular, portanto pode se referir a pastor ou a rebanho. A ambiguidade seria desfeita se houvesse mudana de ordem das palavras: O vigilante pastor, com calma e sossego, seguia seu rebanho. Seu rebanho, com calma e sossego, seguia o vigilante pastor.17 Regncia

18

Marcas prosdicas

Prosdia, entre outros sentidos, pode ser entendida como conjunto de caractersticas sonoras que acompanham a produo de um enunciado, tais como as pausas, a maior ou menor durao de uma slaba, a elevao ou o rebaixamento da voz etc. Sobretudo as pausas (em geral marcadas por sinais de pontuao, na escrita) so um importante marcador das correlaes entre as palavras do enunciado. A esse respeito, confrontem-se os dois enunciados que seguem: I) No era da sua conta aquela mesma desculpa velha. II) No era da sua conta aquela mesma desculpa, velha. Em I a ausncia de vrgula indica que velha um adjetivo e est associado ao substantivo desculpa; em II a vrgula indica uma pausa na fala, sinal de que velha no um adjetivo associado palavra desculpa, mas sim um substantivo usado para designar o interlocutor. Para dar mais uma ideia da importncia das marcas prosdicas como indicadores das relaes sintticas entre as palavras, podemos ainda ampliar o mesmo enunciado com as alteraes seguintes: I) No era da sua conta aquela mesma desculpa minha velha. II) No era da sua conta aquela mesma desculpa minha, velha. III) No era da sua conta aquela mesma desculpa, minha velha. Em sntese, podemos concluir que, no sem motivo, na grande maioria das vezes o interlocutor apreende as palavras produzidas pelo falante nas mesmas relaes que este quis estabelecer entre elas: que ambos conhecem ainda que sem ter conscincia as mesmas regras que organizam os arranjos entre as palavras do enunciado.

As preposies, mesmo quando no tm sentido prprio, so um importante marcador das correlaes entre as palavras do enunciado. O enunciado transcrito no item anterior poderia ter a ambiguidade resolvida por uma marca de regncia, entendendo-se aqui a regncia em sentido amplo: a preposio, mesmo que no seja exigida obrigatoriamente pelo verbo, sempre marca a subordinao de um termo consequente a um antecedente na cadeia. Assim, seria possvel dizer: O vigilante pastor, com calma e sossego, a seu rebanho seguia. Ao vigilante pastor, com calma e sossego, seu rebanho seguia.

SISTEMA ANGLO DE ENSINO

31

PORTUGUS

Estrutura sinttica do perodo simples1

CAPTULO 4

INTRODUO

Tendo em vista que o sentido do enunciado resultado tanto da escolha quanto da correlao das palavras, para decifr-lo necessrio saber apreender essas correlaes. esse, basicamente, o propsito daquilo que a nossa tradio escolar decidiu designar por anlise sinttica. Trata-se, na verdade, de uma volta reexiva sobre os enunciados para: depreender as correlaes entre seus termos; interpretar os signicados decorrentes dessas correlaes. Para facilitar esse trabalho, convm saber que as correlaes possveis entre os diferentes termos da frase so limitadas e previsveis. Prova disso a possibilidade de descrever, em poucas pginas, todas as correlaes possveis dentro de uma orao em portugus. o que os estudiosos costumam chamar de estrutura sinttica do perodo simples, que vamos estudar a partir daqui.2

Mas necessrio dizer que s se enquadra na denio de predicado uma armao ou um comentrio que se faz por meio de um verbo ou por um segmento da frase que contenha um verbo. Desse modo, ca estabelecido que, sem verbo, no h predicado. Qualquer substantivo pode ser tomado como sujeito, ao qual podemos agregar predicados que lhe sejam compatveis. Exemplos: educa. custa caro. faz o progresso de um povo. uma inveno relativamente moderna. leva o leitor para outros mundos.

Livro

O sujeito o tema ao qual associamos predicados de vrios tipos. Todos eles, porm, ou so constitudos por um verbo ou por uma expresso maior, que inclui necessariamente um verbo.

Sujeito e predicado: os dois constituintes bsicos da orao

3

MARCAS TPICAS DO SUJEITO

O primeiro par que conseguimos separar dentro de uma orao : o sujeito

e o predicado

Tomemos a orao abaixo. As chuvas provocaram inundaes. Podemos dividi-la em duas partes fundamentais:

O sujeito possui marcas tpicas, o que facilita a sua identicao entre outras palavras do enunciado. Analiticamente, podemos dizer que o sujeito da orao facilmente reconhecvel por meio dessas quatro propriedades: na grande maioria dos casos a palavra (ou expresso) que responde pergunta quem que (ou que que), feita antes do verbo da orao; o termo com o qual o verbo concorda em pessoa e nmero; sua posio usual antes do verbo (ou esquerda dele, na escrita); quando formado por substantivo, permutvel pelos pronomes do caso reto (ele, ela, eles, elas). Exemplo: Ganharam cada vez mais prestgio entre os consumidores produtos agrcolas sem adubo. Que que ganhou cada vez mais prestgio? pro-

As chuvassujeito

provocaram inundaes.predicado

Sujeito: o termo ao qual o predicado se refere para

dutos agrcolas sem adubo Produtos agrcolas sem adubo ganharam cada

fazer alguma armao. Ou, numa denio mais sucinta, sujeito o elemento ao qual o predicado atribui algo. Predicado: o termo que faz alguma armao sobre o sujeito. o termo que projeta alguma atribuio sobre o sujeito. Apesar de redundante, essa denio tem a vantagem de pr em evidncia o dado de que, na frase, o sujeito o tema ou o assunto ao qual o predicado agrega armaes ou comentrios.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

vez mais prestgio entre os consumidores. Ganharam (3a pessoa do plural) est concordando

com produtos (3a pessoa do plural). Eles ganharam cada vez mais prestgio entre os consumidores. Ento, nessa orao: Sujeito produtos agrcolas sem adubo Predicado ganharam cada vez mais prestgio entre os consumidores

32

PORTUGUS

4

TIPOS DE SUJEITONossa gramtica classica o sujeito em: determinado; indeterminado; inexistente.

Sujeito composto: aquele que tem mais de um

ncleo. Ncleo do sujeito: o elemento central do sujeito,

Vejamos cada um desses tipos. Observe as seguintes oraes.

quando o isolamos de todos os seus determinantes. Morfologicamente, o ncleo do sujeito sempre constitudo de substantivos ou pronomes substantivos, no precedidos de preposio. Observao Numa orao como Chegaste tarde, por exemplo, o sujeito determinado, mas no aparece explicitamente na orao. Tal sujeito costuma ser classicado como sujeito oculto, elptico ou como sujeito determinado implcito na desinncia verbal (ou seja, que pode ser identicado pela conjugao do verbo).6

I)

As alunassujeito

chegaram tarde.predicado

II)

?sujeito indeterminado

Chegou-se tarde.predicado

SUJEITO COM VERBO ACOMPANHADO DO PRONOME SE

III)sujeito inexistente

Choveu ontem.predicado

Considera-se como determinado o sujeito que venha representado por qualquer palavra da orao (caso I) ou que possa ser identicado pelo contexto e/ou pela forma do verbo. O sujeito indeterminado quando no vem representado por nenhuma palavra e o contexto no permite identicar a quem o predicado se refere. Sabe-se que existe um sujeito, mas no h pistas no texto para identicar quem , nem quantos so (caso II). O sujeito inexistente quando a orao constituda de um predicado puro, isto , um predicado que no endereado a sujeito algum (caso III). Quando o sujeito inexistente, diz-se que o verbo impessoal.5

Quando o verbo vem acompanhado do pronome se, h contextos em que o reconhecimento do sujeito ca dicultado por causa da diferena que existe, no portugus atual, entre a variante culta escrita e a variante popular. Na variante popular, trata-se como idntica a estrutura dos dois enunciados a seguir. I) Duvidou-se do professor. II) Elogiou-se o professor. Segundo a intuio da grande maioria dos falantes do portugus moderno, o sujeito dos dois enunciados indeterminado. Prova disso que, na grande maioria dos casos, no se faz mais a concordncia do verbo com o sujeito em ambos os casos. Mesmo que se coloque professores no plural, o verbo dos dois enunciados caria no singular (na variante popular do portugus moderno, bem entendido). Na variante culta escrita, porm, sobretudo na escrita mais formal, trata-se de maneira diferente cada um desses enunciados. Se colocarmos a palavra professores (no plural), no portugus culto escrito, o comportamento dos dois enunciados ser o seguinte. I) Duvidou-se dos professores. II) Elogiaram-se os professores. Essa diferena de comportamento das duas frases tem como pressuposto o dado de que, na variante culta escrita, ainda se tem noo de que, em II, professores est funcionando como sujeito da orao, caso contrrio no se faria a concordncia do verbo com essa palavra. Ainda se preserva a noo de que a orao Elogiou-se o professor uma estrutura equivalente a O professor foi elogiado. Como essa percepo no mais intuitiva para a grande maioria dos falantes, vamos ento comentar enunciados como esses e observ-los com outro olhar. preciso saber distinguir duas funes tpicas do pronome se: partcula apassivadora; ndice de indeterminao do sujeito. Em outros termos, o pronome se pode agregar-se ao verbo: ou para apassiv-lo, caso em que ele funciona como partcula apassivadora;

Sujeito simples e composto

Alm dessa classicao em trs tipos, que acabamos de ver, costuma-se dividir o sujeito em: simples e composto. Vejamos cada um deles:

I)

As neves friassujeito simples

descem dos montes.predicado

II)

A lua e as estrelassujeito composto

brilham no cu.predicado

Na orao I, o sujeito tem um s ncleo (neves); na orao II, tem mais de um ncleo (lua, estrelas). Ento, conclumos o seguinte. Sujeito simples: aquele que tem um s ncleo.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

33

PORTUGUS

ou para impedir que se determine o sujeito do ver-

8

bo, caso em que funciona como ndice de indeterminao do sujeito. Como distinguir um desses dois papis do outro? Seguramente no vamos conseguir distingui-los por intuio, j que, como vimos, na variante popular, a tendncia igualar duas funes que, na variante culta escrita, no se igualam. Procede-se ento por meio de uma anlise monitorada por certos princpios: quando o pronome se funciona como partcula apassivadora, sempre haver na frase um sujeito com o qual o verbo deve concordar; quando o pronome se funciona como ndice de indeterminao do sujeito, o sujeito obviamente indeterminado e o verbo car sempre no singular. Vejamos isso mais detidamente.7

Pronome se, ndice de indeterminao do sujeitoObservemos o enunciado: Duvidou-se do professor. Nele: h um verbo na 3a pessoa do singular (duvidou); h o pronome se junto ao verbo (duvidou-se).

Mas no h um substantivo sem preposio, nem possvel proceder s transformaes que zemos anteriormente: * Do professor foi duvidado.* O asterisco indica um enunciado impossvel na ln-

gua portuguesa.

Pronome se apassivadorS o fato de haver a preposio antes do substantivo impede que ele seja considerado como sujeito. Ento, a anlise do enunciado ser a seguinte: Duvidou-se do professor.complemento do verbo ndice de indeterminao do sujeito verbo na voz ativa

Quando o pronome se apassivador, sempre ocorrero as seguintes condies no enunciado: Um verbo na 3a pessoa (singular ou plural, de acordo com o sujeito). O pronome se (antes ou depois do verbo). Um substantivo no precedido de preposio (colocado aps o verbo). Havendo essas trs condies, testa-se a seguinte possibilidade: Desloca-se o substantivo sem preposio para a esquerda do verbo. Permuta-se o pronome se pelo verbo ser (conjugado no mesmo tempo e modo que o verbo da frase matriz). Se todas essas condies forem satisfeitas, ento: o pronome se apassivador; o verbo est na voz passiva (que se chama sinttica ou pronominal); o substantivo sem preposio o sujeito e o verbo deve concordar com ele. o que acontece com o enunciado II: Elogiou-se o professor.substantivo sem preposio pronome se verbo na 3 pessoa -

Se passarmos professor para o plural, o verbo car no singular mesmo assim, j que no se trata do sujeito: Duvidou-se dos professores.

9

Duas formas de se indeterminar o sujeito

Do que cou exposto, podemos concluir que h duas formas de se indeterminar o sujeito em portugus: por meio do pronome se ndice de indeterminao do sujeito (no caso, associado a verbos intransitivos ou transitivos seguidos de preposio); Exemplos: Vive-se bem na praia. Discordou-se do projeto apresentado. por meio de um verbo na 3a pessoa do plural, sem

Deslocando o substantivo e permutando o se pelo verbo ser teremos: O professor foi elogiado. Ento, o enunciado se analisa assim: Elogiou-se o professor.sujeito partcula apassivadora verbo na voz passiva

referncia a nenhum antecedente que possa estar elptico antes do verbo. Exemplo: Falam muito pouco do Brasil na Europa. Mas preciso notar que, havendo um antecedente a quem o predicado se rera, o sujeito ser determinado elptico. Exemplo: Os conferencistas convidados para falar sobre poltica internacional decepcionaram a plateia brasileira. Falaram muito pouco do Brasil. Nesse caso, o contexto permite depreender que o sujeito de falaram est elptico, ou seja, foi omitido mas existe (eles, os conferencistas).

Com professores no plural, teremos: Elogiaram-se os professores.SISTEMA ANGLO DE ENSINO

34

PORTUGUS

TERMOS LIGADOS AO VERBO10

Exemplo:

Objeto direto Sempre associado a verbo. Sem preposio obrigatria. Indica o paciente (o ser, coisa etc.) afetado pela ao

Naturalmente, a testemunha estava mentindo.13

ou o resultado dela. Exemplo:

Agente da voz passiva Vem sempre associado a verbo passivo. Sempre por meio de preposio (no portugus mo-

Os pssaros fazem seus ninhos.

derno, quase sempre com a preposio por). Indica o executor da ao verbal.

Objeto direto preposicionadoLiga-se ao verbo por meio de uma preposio que no obrigatoriamente exigida pelo verbo. Exemplo:

Exemplo:

O fogo foi apagado pela gua.

O bandido sacou do revlver.11

TERMOS LIGADOS A NOMES14

Objeto indireto Sempre associado a verbo. Por meio de preposio obrigatria. Indica o paciente ou o destinatrio da ao.

Adjunto adnominal Vem sempre associado a um nome. Sem verbo intermedirio. Indica propriedade ou caracterstica no moment-

nea, isto , no marcada pelo tempo do verbo. Exemplo:

Exemplos:

Ele duvidou do vendedor. Asadjunto adnominal

O embaixador escreveu ao presidente.12

fortesadjunto adnominal

chuvasnome

de veroadjunto adnominal

esto caindo.

Adjunto adverbial Vem associado a um verbo. Com ou sem preposio. Indica circunstncias que envolvem a ao verbal. 15

Predicativo Vem sempre associado a nome. Sempre por meio de verbo. Indica propriedade ou caracterstica momentnea,

Exemplo:

isto , marcada pelo tempo do verbo. O cortejo seguia pelas ruas. Observao 1 Classificam-se tambm como adjuntos adverbiais os intensificadores do adjetivo e do advrbio. Exemplos: Exemplos:

As ruassujeito