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GUIA DE EPISÓDIOS DE GA-REI Miguel Carqueija

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GUIA DE EPISÓDIOS DE GA-REI

Miguel Carqueija

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A HISTÓRIA COMOVENTE DE TSUCHIMIYA KAGURA, A “SACERDOTISA BRANCA”

Miguel Carqueija

“A marca de excelência do destino pode repousar sobre uma única pessoa. Se esta pessoa falhar, o mundo poderá se perder.”

(Clifford D. Simak, “O último gentleman”)

Este pensamento de Simak parece vir a calhar em relação a Tsuchimiya Kagura, a nova Messias dos seriados japoneses de animação, estrela de GA-REI ZERO, produção de 2008, do estúdio AIC Spirits, com direção de Aoki Ei, e baseada em mangá de Hajime Segawa. O seriado tem apenas doze episódios e, pelo que consta, relata acontecimentos anteriores aos do mangá, e deverá ser seguido por um novo arco. Assim esperamos.

“Ga-Rei Zero” passa-se num mundo alternativo, diferente do nosso. Neste outro mundo, tornaram-se comuns as invasões de seres malignos vindos do plano espiritual, demônios, espíritos malignos ou bestiais e zumbis. Formou-se no Japão a “Agência de Prevenção contra Desastres Sobrenaturais” e esquadrões especiais, utilizando-se de armas curiosas como a “água espiritual” e pistolas e espadas capazes de danificarem espíritos, zelam pela segurança do mundo material diante de tais ameaças. A agência pertence ao Ministério da Defesa, mas o Ministério do Meio Ambiente também se mete na história, com seus próprios agentes.

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Os senhores Tsuchimiya e Isayama são os patriarcas de duas famílias tradicionalmente envolvidas com a defesa mística da Terra, que controlam dois “espíritos bestiais”, o Ranguren, espécie de leão gigantesco e cheio de olhos, que lança um jato energético, e o Byakuei, o “devorador de almas”, um dragão-serpente. O Sr. Tsuchimiya por morte da esposa passa a controlar o Ga-Rei Byakuei através de uma “pedra da morte” domesticada, e por entender que não poderia mais dar atenção à filha adolescente, entrega Kagura à família Isayama, e a menina, a princípio muito triste, vai morar em casa de Isayama Naraku e sua filha adotiva, Yomi. Como Isayama não luta mais, já passou o bastão de comando da família para Yomi, e é ela quem utiliza a espada Shishi-ou e controla o Ranguren, participando das missões de combate aos espíritos malignos.

Yomi tem um noivo arranjado pela família, Izuna Noriyuki, exorcista como ela, e que controla um grupo de espíritos guardiães em forma de doninhas (sic). O relacionamento entre os dois é meio tumultuado, pois Yomi aceitou o noivado para atender ao pai e às conveniências de família, mas no trato com Noriyuki eles chegam até aos bofetões, embora acabem se entendendo. Enquanto isso, Yomi recebe Kagura e a treina para as artes de guerreira-exorcista. O carinho de Yomi para Kagura vai forjando uma amizade linda, e Kagura cada vez mais se sente aconchegada com sua irmã de criação, que compensa a secura e o afastamento do pai.

Por trás de tudo, nos muitos eventos de agressões sobrenaturais (inclusive de um monstro enorme em forma de tartaruga, eles são meio etéreos e transparentes, mas causam danos físicos) percebe-se que existe um grande vilão discreto, o Manipulador, o “espírito vingativo” que se apresenta na forma de um rapaz vestido como grumete e cercado de borboletas azuis fantasmagóricas. Ele possui uma “pedra da morte” não domesticada e procura fazer experiências com seres humanos, em busca de um que tenha compatibilidade com o objeto, que é maligno.

Passam-se três anos e Yomi e Kagura são como duas irmãs inseparáveis. Kagura acaba participando das missões, fazendo uso de uma espada que corta espíritos. Embora demonstre repugnância em atacar, fato esse que se torna evidente no confronto com um grupo de zumbis (e sua hesitação quase leva a um desastre e faz com que ela seja punida pelo pai), o fato é que aprende

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depressa as técnicas, segundo Yomi, mais depressa do que ela própria aprendeu. Deste modo, Kagura está em vias de superar a sua mestra.

Mas a tragédia ronda essas pessoas que ainda se sentem felizes. O Manipulador percebe a inveja que existe no tio de Yomi, Yuu, e sua filha Mei. Esta recebe a pedra da morte do manipulador (ela se entranha no corpo) e, inteiramente tomada pelo ódio e pelos sentimentos negativos, ataca e mata o pai de Yomi, Isayama Naraku. Yomi estava com o noivo, e seu tio a responsabiliza pela morte do irmão, por não estar por perto para defendê-lo do assassino desconhecido. Assim, na reunião da família, Yuu aproveita para usurpar a chefia de Yomi, de modo que Mei toma da prima o quarto, e a espada. Yomi tem de ir para o quarto de Kagura, que por sua vez é expulsa de volta para a casa de seu pai. Kagura se espanta com o estoicismo de Yomi, que se submete em silêncio. Ao conversar com Yomi, esta lhe diz tranquilamente: “Está tudo bem, apenas voltei a ser o que era. Eu nunca tive nada mesmo.” E acrescentou: “Ainda tenho Kagura: o meu último tesouro”.

Os acontecimentos, porém, se precipitam. Mei, possuída pelo poder da pedra, ataca covardemente Yomi, com o auxílio do “espírito bestial” Ranguren. Na luta entre elas, Mei despeja todo o seu ódio contra aquela que nem era da família, pois fôra adotada, e revela ser ela, Mei, a assassina do patriarca. Nesse ponto o manipulador, que detinha controle sobre a pedra da morte, a chama de volta e Mei, subitamente despojada de poder, é subjugada por Yomi, que a estende no chão e lhe toma a espada. Mei implora compaixão: “Não era eu”. Mas Yomi, tomada de fúria, responde: “Não diga mais nada!” E enterra a espada no peito da prima. No entanto, sofre um ataque mágico do manipulador, que a fere com estiletes místicos.

Encontram o cadáver de Mei e o corpo gravemente atingido de Yomi. Esta, levada para o hospital, encontra-se sem capacidade de falar e com inúmeros ferimentos. Ninguém sabe direito o que aconteceu, mas percebe-se que houve uma luta entre as duas. Kagura, arrasada, consegue falar com ela, e Yomi ainda consegue expressar seu carinho pela amiga.

A colheita do manipulador, porém, está madura. Yomi está sendo acusada de assassinato e a família aguarda sua recuperação para responsabilizá-la. Yuu toma a Shishi-ou que voltara à posse de Yomi. Agora, só Noriyuki e Kagura

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acreditam nela. Nesse ponto, o manipulador penetra no hospital quando Iomi está só e mostra-lhe a possibilidade de se recuperar, com a pedra da morte.

Yomi desaparece do hospital e logo em seguida ocorrem pela cidade diversos incidentes sobrenaturais gravíssimos, com ataques ferozes de monstros e demônios sortidos. Finalmente a terrível verdade aparece: transformada num “demônio categoria A” (mas sem perder sua forma humana e graciosa) é Yomi quem está comandando a legião das trevas que assola a região.

O Manipulador, tendo encontrado mais potencialidades em Yomi que em Mei, despertou nela todos os ódios e ressentimentos enrustidos, causados pela perseguição do tio e da prima e até pela emulação de Kagura, que a adora. Uma das primeiras providências de Yomi foi retomar a Shishi-ou e, portanto, o controle do Ranguren.

Os combates ocorrem em campo aberto e Yomi, ajudada pelo espírito-guardião Ranguren (o leão de muitos olhos) e pelos espíritos malignos comandados, devasta os esquadrões enviados contra ela, e se interna numa imensa tubulação. Kagura e Nori (Noriyuki) vão atrás, mas se separam e em seguida Yomi captura Kazuki, amigo de Nori, e o trucida na frente do noivo, que não tem coragem de impedi-la (esta cena é terrível). Noriyuki, covardemente, deixa Yomi ir embora, não sendo capaz de tocá-la. Em seguida Yomi captura Kagura, que é presa pela mandíbula de Ranguren, e prepara-se para matá-la a espada. Kagura indaga: “Por que? Por que, irmã?” Porém Yomi grita: “Não me chame de irmã!”

Não consegue, porém, matar Kagura, porque o patriarca Tsuchimiya interfere, chegando bem na hora com seu dragão-serpente. Segue-se um grande combate que inclui os dois demônios Ranguren e Byakuei. O velho Tsuchimiya, porém, já alquebrado, não consegue enfrentar a juventude de Yomi e é mortalmente ferido. Yomi se afasta, afirmando sua intenção de destruir a humanidade, já que odiava tudo.

Outros personagens, como a diretora da Agência (Jinguuju Ayame, a mulher da cadeira de rodas) e sua assistente Nikaidou Kiri, interferem, e um grande aparato é armado para perseguir e liquidar Yomi, que se tornou um flagelo de grande poder e periculosidade. Mas tudo é inútil e, ao fugir para a

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floresta, Yomi mata diversos personagens e parece que não há mais poder humano que a detenha.

Mas o pai de Kagura, antes de morrer, passou à sua filha a pedra da morte que dá poder de controle sobre o Byakuei. A garota dirige-se ao já muito ferido Iwahata, comandante do esquadrão, e lhe diz: “Leve-me a Yomi”.

Kagura sabe que tem um dever ineludível a cumprir, por mais difícil que seja. Com o coração despedaçado de dor, ela vai ao encontro de Yomi. A batalha titânica entre as duas irmãs de criação é o ponto alto, o clímax da história. A jovem, inocente, amorosa e meiga Kagura confronta a mais cruel das opções: ou ela mata a pessoa a quem mais ama no mundo, ou será morta por essa pessoa, que prosseguirá em sua obra destruidora.

Tal é o emocionante, trágico, grandioso e pungente desfecho do seriado GA-REI ZERO.

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GA-REI, tragédia e morte

GA-REI, tragédia e morte: história de Tsuchimiya Kagura

Reprodução de resenha publicada originalmente em 29 de março de 2011 na coluna "Anexos da Realidade" do Portal Entretextos, dando início às minhas avaliações do mangá "Ga-Rei" (a propósito, está publicada no Recanto a resenha "A história comovente de Tsuchimiya Kagura", sobre a série de animação)

(Miguel Carqueija)

Atualmente, poucos personagens da ficção apresentam nobreza de caráter. Pois nobreza é o que não falta em Tsuchimiya Kagura, heroína de "Ga-Rei", criação em mangá de Hajime Segawa.

A Editora JBC acaba de lançar nas bancas brasileiras "Ga-Rei", uma História Alternativa mesclada com Terror. Para quem não sabe, História Alternativa é um subgênero da Ficção Científica, onde se imagina que os acontecimentos históricos tenham seguido um rumo diferente (um exemplo clássico é o romance "O homem do castelo alto", de Philip K, Dick, onde a Alemanha nazista ganhou a II Guerra Mundial).

Em "Ga-Rei" a ação se passa num mundo semelhante ao nosso atual (arquitetura das grandes cidades, tecnologia, costumes) com a diferença de que a Terra foi invadida por maus espíritos de todos os tipos - almas penadas, demonios, zumbis, espíritos bestiais - e a guerra é permanente. No Japão existe o Escritório de Prevenção de Desastres Sobrenaturais, órgão secreto do Ministério do Meio Ambiente. Duas famílias, Tsuchimiya e Isayama, detêm tradicionalmente o comando do combate aos seres malignos.

Já neste primeiro volume, que acompanha a iniciação de um novo agente, Kensuze Nimura - um rapaz irritadiço que enxerga fantasmas - já ficamos sabendo que, anteriormente, acontecimentos trágicos ocorreram, envolvendo a misteriosa jovem Tsuchimiya Kagura, a controladora do dragão-serpente Shiro, o Ga-Rei (espírito devorador). A prequela da história acha-se no excelente animê "Ga-Rei Zero" - uma obra-prima da animação japonesa - que mostra como Kagura foi entregue à família Isayama, como desenvolveu uma profunda amizade com sua irmã de criação, Yomi, e como seus caminhos se separaram quando Yomi foi cooptada pelo Mal em estado puro e Kagura perseverou na bondade e na justiça. É uma situação emblemática, como em Star Wars ou Ben-Hur. A partir daí, virá a guerra sem fim entre o Bem e o Mal, entre Kagura e Yomi.

Kagura é uma das mais notáveis e carismáticas figuras dos mangás e animes.

GA-REI: O PASSADO E O PRESENTE DE TSUCHIMIYA KAGURA, A GUERREIRA MÍSTICA

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O interessantíssimo mangá “Ga-Rei”, de Hajime Segawa, está em seu segundo volume, na edição brasileira da JBC (edição original japonesa de 2006, da Kadokawa Shoten). A história vai se aprofundando, com “flash-backs” do passado, neste mundo alternativo onde seres sobrenaturais invadem constantemente o plano físico. A origem da luta entre Kagura e Yomi é revelada em linhas gerais.

Após a morte da mãe, Kagura, com dez anos, é rejeitada pelo pai, patriarca da família Tsuchimiya, que controla o poder ancestral do Byakuei, a “fera espectral” (ga-rei) em forma de dragão. A menina é entregue à família Isayama, e passa a conviver com a adolescente Yomi, guerreira exorcista que porta a espada shishi-ou e com ela controla outro ga-rei, o Ranguren ou Nue, que parece um leão com muitos olhos.

Kagura emerge da sua crise de auto-estima e entrega sua afeição a Yomi, que a acolhe com o maior carinho. Nos anos seguintes as duas serão as maiores amigas do mundo. Porém, um dia, em circunstâncias apenas entrevistas nas recordações de Kagura no volume 2 do mangá — e detalhadas no anime de 2008 — Yomi é cooptada pelo Mal, através do uso de uma “ses-shôseki” — “o poder demoníaco cristalizado” (ou pedra da morte) — e se torna um monstro assassino, sem perder sua aparência de garota bonita. Com seu grande poder, Yomi extermina muitas pessoas e boa parte do esquadrão de combates sobrenaturais. Por fim, o próprio pai de Kagura é trucidado.

Herdeira do Byakuei, o “devorador de almas” que há gerações pertence à família Tsuchimiya, Kagura enfrenta Yomi num combate mortal. Tudo isso aconteceu dois anos antes do início do mangá. Kagura matou Yomi, mas esta reapareceu como um fantasma maligno que deseja destruir Tóquio pela liberação de um poder bestial selado sob a superfície.

Li alguns comentários que definem Yomi como a figura mais marcante de “Ga-Rei”, mas não concordo. A meu ver, Kagura é a personagem mais importante. A guerra entre as duas é emblemática: Yomi é aquela que era bondosa e gentil mas que, dando ouvidos à serpente, perverteu-se; e aprendemos com Jesus na Bíblia, na metáfora

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do sal (Marcos 9,50) que o ótimo, quando corrompido, torna-se péssimo. Enquanto Kagura é aquela que, em meio às provações, permaneceu boa; é “a justa que persevera na justiça”, a guerreira branca, aquela que jamais se tornará má.

Kagura versus Yomi: o Bem e o Mal se defrontam em GA-REI

O emblemático confronto entre o Bem e o Mal, personificados

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em Kagura e Yomi.

Resenha do volume 3 de "Ga-Rei", mangá de fundo xintoísta, originalmente publicada em 7 de junho de 2011 no Portal Entretextos.

O eterno confronto entre o Bem e o Mal perpassa o genial mangá “Ga-Rei”, de Hajime Segawa, personificado na heroína Tsuchimiya Kagura e na vilã Isayama Yomi. No volume 3, que já está nas bancas (edição da JBC), o conflito se intensifica. Yomi, no passado irmã de criação de Kagura e sua melhor amiga, hoje está transformada num espírito maligno e destruidor, pela ação da pedra da morte (ses-shozeki) que lhe foi entregue pelo Manipulador (Kazuhiro Mitogawa), responsável pelo desastre contado em prequela no seriado de animação (a perversão de Yomi e o extermínio de metade dos esquadrões dos escritórios de prevenção de eventos sobrenaturais de Tóquio). Agora, Yomi tenta cooptar Kenzuke, discípulo de Kagura, implantando-lhe parte da pedra da morte. Vendo que seu pupilo está prestes a ser possuído pela força maligna, em desespero de causa Kagura acerta-lhe um soco de arrebentar a cara, interrompendo o processo de possessão. Kenzuke passará a administrar um delicado problema, o de conviver com a pedra em seu corpo sem ser dominado por ela.Pode-se supor que a própria Kagura é imune à ses-shozeki, já que carrega uma na orelha, domesticada, para controlar o Ga-Rei (fera espectral) da família, o Byakuei, que a auxilia nos combates sobrenaturais. O efeito da pedra da morte é potencializar os maus sentimentos, tipo ódio, ciúme, inveja, ressentimento, que a pessoa cultiva mesmo enrustidos. Ora, Kagura é santa, não nutre tais sentimentos negativos em seu coração.Entretanto, Yomi, obcecada pelo desejo de insana vingança, tenta liberar um poderoso elemental de seu selo no subsolo, para com ele destruir a metrópóle. Assim, Kagura, Izuna, Kenzuke e outros sustentam um apoteótico combate com as

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forças do mal num dos distritos de Tóquio, numa das cenas mais dramáticas mostradas em mangá.Talvez para aliviar a tensão, há também uma sequência hilariante: quando três mulheres (inclusive Kagura), dois homens e várias feras espectrais brigam dentro de um banheiro masculino (sic). Detalhe: Kagura encara a briga, mesmo com um dos braços na tipóia.O grau de literariedade dos mangás, especialmente do tipo shojo, é tão grande que chega a ser como estivéssemos lendo romances densos. A fértil imaginação de Hajime Segawa criou um complexo universo ficcional, num mundo onde os humanos mortais têm de lutar pela sobrevivência (ao menos os iniciados nesses problemas) contra monstros e espíritos malignos invasores. E cristalizou em Kagura e Yomi o emblemático e eterno confronto entre o Bem e o Mal.

FOLCLORE JAPONÊS EM MANGÁS E ANIMÊS

Resenha do volume 4 do mangá "Ga-Rei", de Hajime Segawa, originalmente publicado no Portal Entretextos em 27 de junho de

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2011.

    O rico folclore japonês — sendo o Japão uma civilização antiquíssima e que teve, inclusive, a sua Idade Média — influencia muito na criação de mangás e animês. Criaturas fantásticas povoam o imaginário daquele país arquipelágico.    As youmas, por exemplo, surgem em “Sailor Moon”, de Naoko Takeushi, e "Claymore”, de Norihiro Yagi; os youkais dão a tônica em “Inuyasha”.     A tradição da raposa — ligada a poderes fantásticos — aparece no primeiro episódio daquele filme maravilhoso de Akira Kurosawa, “Sonhos” (1990).    Lendo mangás, assistindo animês, volta e meia deparamos com nomes curiosos, conceitos estranhos, criaturas fabulosas e próprias das tradições japonesas.    Em “Sailor Moon”, youmas são demônios que possuem corpo, que se materializam em nosso mundo por chamado de invocadores malignos como os “caçadores da morte”. Em “Claymore” são monstros antropófagos dotados de imensa força. Os “youkais” são seres fantásticos geralmente hostis aos humanos; Inuyasha (criação de Rumiko Takahashi) é um meio-youkai (“hanyou”), filho de mãe humana.    Outras criaturas estranhas do folclore nipônico aparecem profusamente em “Rosário e vampiro”, de Arihisa Ikeda, como a mulher da neve, presente também no já citado filme “Sonhos”.    Falemos de “Ga-Rei”, uma incrível história de Hajime Segawa, e que chega às bancas brasileiras em seu quarto volume, pela JBC. A história fala na maldição da “raposa de nove caudas”, recorrência folclórica japonesa, uma “fera espectral” que, segundo o mangá, surgiu em Kyoto em 1140 provocando grande destruição; e teria gerado outras feras ou ga-reis como o Byakuei, afinal controlado pela família Tsuchimiya, herdado enfim por Kagura, a jovem heroína mística da série.    Outro elemento folclórico do “Ga-Rei” é a sesshôseki ou “pedra da morte”, que pode ajudar no controle de uma fera espectral ou pode dominar a pessoa, levando-a para as trevas, como aconteceu com Yomi, irmã de criação de Kagura. No volume 4, Kagura, personagem que representa a bondade e a nobreza de sentimentos, se questiona

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por não saber o que é o amor (já que está absorvida pela sua missão) e por sua prisão ao Byakuei, a fera espectral a ela ligada por uma corrente espiritual. A análise de Kagura mostra uma das mais fascinantes criações dos quadrinhos, em meio a uma ambientação impregnada de folclore japonês. Mas, além disso, a trama se envolve agora com o submundo das máfias japonesas.    Mais uma vez, Tsuchimiya Kagura mostra que a bondade é mais importante que tudo, ao salvar a vida de Shizuru, sua inimiga declarada, fato esse que trará consequências para o desenrolar da saga.               

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GA-REI: KAGURA EM FUGA

“Pode ser que a gente nunca consiga escapar deste mundo sombrio em que vivemos.” (Imawano Shizuru)

“No momento precisamos da confiança mútua dos sobreviventes, e de um lugar para dormir em segurança. Pois o nosso contra-ataque... ainda está por vir.” (Tsuchimya Kagura)

Trágicos acontecimentos fazem subir ao máximo o clima emocional de “Ga-Rei”, notável mangá de Hajime Segawa, no seu volume 5 já distribuído no Brasil pela JBC.

Em dois golpes bem planejados e violentíssimos, Imawano Setsuna, auxiliada por Mitogawa, primeiro dá um golpe de mão na organização mafiosa Jugondô, matando o próprio pai e expulsando a irmã Shizuru, de quem toma a “pedra da morte”; em seguida penetra na sede do Escritório de Prevenção contra Desastres Sobrenaturais, explodindo o local e apossando-se de Fujiko Mine. Conseguindo escapar em dramática sequência, Tsuchimya Kagura, Kenzuke, Kyoko e Ywahata refugiam-se num esconderijo secreto da organização, onde reencontram Izuna Noriuki e Shizuru.

A situação é crítica e faz lembrar o final da saga Harry Potter: o Ministério da Justiça recusa-se a dar proteção ao escritório, por se tratar de órgão secreto e ignorado pelo público. Sem cobertura, e temporariamente sem poder conjurar o Byakuei porque teve as mãos varadas a tiro, a filha da luz agora é uma fugitiva que a Jugondô caça impiedosamente.

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O reencontro de Kagura com Shizuru é emocionante: Kagura acolhe ternamente a proscrita da Jugondô, mas, em Shizuru, a ficha ainda não caiu. Ela resiste à amizade da guerreira da luz e ainda não compreende que seu destino não é ser vilã, mas aliar-se a Kagura contra o poder das trevas.

Kagura, como Harry Potter, recusa-se a entregar os pontos e decide prosseguir a luta contra a Jugondô. Tudo leva a crer que, mais adiante na saga, Kagura confrontará a vilã absoluta. Amparada no amor incipiente de Kenzuke, no apoio de Ywahata, Kyoko e Nori, e em sua amizade pela relutante Shizuru, a jovem heroína prosseguirá na cruzada pela restauração da justiça.

Hajime Segawa, já prometeu que no próximo volume Kagura irá contra-atacar o poder do mal.

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Ga-Rei: A HORA DA HEROÍNA

Num grande momento da série “Ga-Rei”, a heroína Tsuchimiya Kagura afronta o poder total do inimigo para salvar o seu amado.

“Vão precisar de um milagre para vencer. A Setsuna pode ler a mente das pessoas com o seu “Olho de Satori”. Ela já sabe de seus planos. Ainda assim... tem coragem de enfrentá-la?”(Kazuhiro Mitogawa)

“Estou morrendo de medo. Mas, mesmo que ela já saiba do plano, vou realizar um milagre... pelo Ken.”(Tsuchimiya Kagura)

Entre os grandes mangás deve-se elencar o Ga-Rei, de Hajime Segawa, que chega ao sexto volume nas bancas brasileiras. A lamentar que a JBC não coloque comentários editoriais esclarecedores, repetindo a mesma figura nos dois lados da capa.Os mangás, pelo volume e conteúdo, afiguram-se obras literárias, apesar de serem revistas em quadrinhos. Ler um mangá é quase como ler um livro.“Ga-Rei” é a história das feras espectrais e da heroína adolescente Tsuchimiya Kagura, cujo caráter messiânico se acentua mais neste volume 6. Como o próprio intrigante Mitogawa revela, Kagura deve provar o seu valor e se apoderar das “sesshôseki” (pedras da morte) para herdar o poder da Raposa de Nove Caudas e assim salvar o mundo. Pois esta é a diferença entre Kagura e a líder da Jugondô, Imawano Setsuna; enquanto Setsuna quer dominar o mundo, Kagura deseja salvá-lo.O sexto volume é emocionante nos capítulos que apresenta (23 a 27), em cenas marcantes como o violento combate corpo-a-corpo entre Kagura e Shizuru, que ocupa todo o capítulo 24, e a

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sequência final onde Kagura apresenta-se só e majestosa no reduto da Jugondô, caminhando entre duas fileiras de inimigos, ao encontro de Setsuna. Todavia, os aliados de Kagura chegam e o cenário está pronto para o que parece, será a batalha final entre a guerreira da luz e a vilã absoluta, ficando os demais participantes em segundo plano.Os personagens coadjuvantes também são extraordinários, como o cínico e imperturbável “invocador de raposas”, Izuna, a ambígua Shizuru, que oscila entre o passado de membro da Jugondô e a redenção que Kagura lhe oferece, Kyoko com as ofudas (papéis mágicos) e outros. Acima de tudo, porém, pairam o carisma, a dignidade e a majestade de Tsuchimiya Kagura.

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Ga-rei: A ESCOLHA DE kAGURA

Com o Armageddon desencadeado sobre a cidade de Tóquio, chega a hora em que Kagura terá de derrotar o Mal em estado puro ou ser por ele aniquilada.

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Extraordinário o sétimo volume de “Ga-Rei”, mangá de Hajime Segawa originalmente publicado no Japão em 2008 e que a JBC vem distribuindo no Brasil.O confronto místico patrocinado pelo pérfido Mitogawa reúne todas as “shesshôsekis” ou pedras da morte disputadas por Kagura e Setsuna e, eventualmente, leva ao renascimento da terrível fera espectral do folclore japonês conhecida como a “Raposa das Nove Caudas”, que devastará a cidade de Tóquio. Aprisionada no corpo do gigantesco espectro, a messiânica Tsuchimiya Kagura tem a sua consciência obnubilada até lembrar do amor de Kenzuke, e só a força do amor poderá enfrentar o sobrenatural poder do Mal místico.“Ga-Rei” é uma das mais extraordinárias séries sobrenaturais em quadrinhos e apresenta uma profundidade que faz lembrar “Harry Potter”. Não falta um certo humor subjacente, como na presença do largado e cínico Izuna. Quanto a Kagura, representa a “obstinação no bem” diante dos obstáculos mais intransponíveis. É significativa a cena em que a luta sobrenatural degenera em combate físico: Setsuna repele sucessivamente Shizuru, Kenzuke e a própria Kagura; e quando Kenzuke pede ajuda a Mitogawa (que, como bom por-cima-do-muro, está flutuando no ar, vários metros acima) este responde que nem dez poderiam com a líder da Jugondô. Apesar disso, Kagura logo em seguida reage e, sozinha, encesta Setsuna. E quando esta, derrotada, pergunta se Kagura não vai matá-la, a resposta da heroína é exemplar: “Não vou matar. Não sou como você!”A história transmite a mensagem de que existe uma opção

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consciente e definitiva pelo bem ou pelo mal, e Kagura é o exemplo marcante de pessoa que optou pelo bem em grau heróico, “heroína para sempre” como diz o título do capítulo 32, último dos cinco capítulos incluídos no volume sete.

DESMEMÓRIA

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Uma nova fase da saga de Kagura.

Ao criar uma espécie de Harry Potter japonesa (a estudante Tsuchimiya Kagura), Hajime Segawa fez história nos quadrinhos japoneses (mangás). No volume 8 de “Ga-Rei”, após a devastação do centro de Tóquio pela fera espectral “Raposa das Nove Caudas” (nem a Torre de Tóquio escapou), a trama entra em seu terceiro arco. Surgem novos personagens: o anódino Tanaka, a decidida Tsuína e a misteriosa Izumi Isoyama. O centro da capital japonesa passou a ser uma “zona interditada”, povoada por fantasmas.“Ga-Rei” é uma história mística, mas de misticismo japonês, com influência da religião local, o xintoísmo. Daí a estranha idéia — para ocidentais e cristãos — de que o mundo esteja repleto de almas penadas errantes, que ficam por aqui perturbando ao invés de atravessarem o umbral do Além, para o julgamento. É, também, uma história de folclore.A trama se sustenta pelo charme da personagem Kagura, que mesmo desmemoriada (em conseqüência das recentes lutas contra o mal) ainda é capaz de se arriscar espontaneamente na busca da verdade e na libertação das almas atormentadas. O personagem Kenzuke é admirável por sua lealdade a Kagura. O caráter japonês, tão pudico em relação ao sexo, faz com que o namoro óbvio custe a acontecer. É de crer, porém, que Kagura e Kenzuke estejam juntos ao fim da saga. O futuro dirá.

O charme discreto da Tsuchimiya

Na grande fantasia, a saga de Kagura ombreia com a de Harry

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Potter

(texto originalmente publicado no Portal Entretextos, em 21 de dezembro de 2011)

“Como fui me esquecer de alguém tão importante para mim?”(Tsuchimiya Kagura, no volume 9 de “Ga-Rei”, mangá de Hajime Segawa)

A análise psicológica de Tsuchimiya Kagura, personagem dominante na saga de “Ga-Rei”, é fascinante. É um vívido exemplo de como os criadores japoneses são, em média, mais profundos que os seus colegas norte-americanos onde, afora o universo Disney, predominam os super-heróis.No volume 9 da novela gráfica o presente e o passado se reencontram. A invasão do sobrenatural no Japão deriva para consequências imprevisíveis. A destruição causada no volume 7, pela Raposa de Nove Caudas, produziu uma “zona fantasma”, cercada e interditada, no centro de Tóquio, onde evolui o assustador fenômeno do “Naraku” ou aglomerado de espíritos malignos (isso existe também na série “Inuyasha”) e onde surgiu uma garota de origem desconhecida, Izumi, que faz lembrar a falecida Yomi.Kagura, após o combate com Setsuna e a Raposa, perdeu a memória. Mas ao cair em estado comatoso após novos combates com os zumbis Naraku, a memória do passado abre caminho de seu subconsciente. Os sonhos mostram o que se passou há poucos anos: entregue pelo próprio pai à família Isayama, Kagura, então quase uma criança, é acolhida por Yomi, filha adotiva do patriarca desta família. “Era eu quem estava gripada ontem”, diz a lembrança de Kagura, “ e ela cuidou de mim, a noite inteira, sem dormir... por isso... ela pegou a minha gripe...” Entra o pensamento de Yomi: “Acho que sempre quis ter uma irmã. Eu também sempre estive só. E por isso, não vou deixar a Kagura sozinha.”

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É nesse ponto que Kagura acorda e, deparando com Izumi velando por ela, na beira da cama, murmura: “Yomi... minha irmã?” Só então fica claro, aos leitores, que de alguma forma Yomi retornou, materializou-se como Izumi, sofrendo também de amnésia. A comoção de Kagura, levada ás lágrimas pela recordação, é pungente: “Ela sempre me protegia... como se fosse minha irmã. Nós éramos como uma família de verdade... e ela me amava. Ser gentil... o meu jeito de viver... aprendi tudo com a Yomi... Foi tudo graças á Yomi. Tudo porque ela apareceu na minha vida.” E o abraço em Izumi é sincero e profundo.Mas Kagura ainda não se lembrou do que aconteceu depois — a perversão de Yomi, que foi tomada pelo poder maligno da pedra da morte controlada por Mitogawa, o manipulador de almas. Como Yomi se tornou uma assassina diabólica, dotada de poderes sobre-humanos e que, inclusive, matou o pai de Kagura. E como Kagura foi obrigada a matar Yomi num combate encarniçado.Qual será a solução desse tremendo impasse espiritual? A alma pura e abençoada de Kagura redimirá Yomi?NOTA: “Ga-Rei” é uma franquia baseada em elementos místicos típicos do Japão.

OS LIMITES EXTREMOS DA AMIZADE

Kagura Tsuchimiya vai às últimas conseqüências para salvar sua irmã de criação, numa sucessão de dramáticas

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reviravoltas da série “Ga-Rei”.

“A humanidade criou este mundo arrogante e hostil fazendo distinção a tudo que é diferente, e usando como instrumento a difamação e a perseguição.”(Tochigami)“Por dentro, a Kagura sempre se culpou pela morte da Yomi.”(Iwahata)“No instante em que ela resolve agir a sério... a Kagura não é uma simples colegial.”(Kenzuke Nimura)“Ela continua amando você como uma irmã de verdade, Tsuchimiya.”(Isoyama Izumi)“Mesmo que tenha que ser inimiga do mundo inteiro, eu tomei uma decisão. Desta vez eu vou proteger você, Yomi.”(Tsuchimiya Kagura)“Como você cresceu... Kagura.”(Isayama Yomi)

O mangá de Hajime Segawa, que já gerou um seriado de tv, é um brilhante exemplo de universo ficcional de fantasia, comparável, por sua grandiosidade e conteúdo, a criações tão extraordinárias como “Harry Potter”, de J.K. Rowling, “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien, e “Crônicas da Guerra de Lodoss”, de Ryo Mizuno. “Ga-Rei” (Besta Espiritual) é uma história movimentada e terrificante, recheada de elementos do Xintoísmo e do folclore japonês, e nela pontifica a figura ímpar e exemplar de Tsuchimiya Kagura, a adolescente que herdou o poder ancestral de sua família, o poder de controlar o ga-rei Byakuei, o “devorador de almas”.No décimo volume da saga (Editora JBC; edição original japonesa de Kadokawa Shoten) os acontecimentos se precipitam e se tornam ainda mais apoteóticos. O “Naraku” ou aglomerado de almas penadas que se formou no centro de Tóquio provoca a incorporação da alma atormentada de Yomi no corpo da garota Izumi Isoyama, de origem desconhecida e

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encontrada na zona fantasma. Quando Kagura reconhece Yomi, cuja personalidade agora reveza com Izumi no mesmo corpo, o Escritório de Defesa contra Acidentes Sobrenaturais toma atitudes drásticas. Yomi/Izumi é confinada cruelmente e se estuda um meio de eliminar Yomi. Revoltada, Kagura assalta a prisão, neutralizando seus companheiros, inclusive nocauteando Kenzuke com um chute nos testículos (mas pedindo desculpas; afinal ela tem amor por ele), liberta Yomi e foge com ela, praticamente rompendo com o Escritório. Kagura já perdoou Yomi, pois sabe que os crimes passados desta foram praticados sob influência da “pedra da morte” (sesshôseki).Uma das cenas mais tocantes — e, de fato, os melhores momentos de “Ga-Rei” não são os de combate, de aparições de seres monstruosos, mas aqueles que envolvem os sentimentos — é quando, caminhando as duas fugitivas, Kagura, indo um pouco atrás, pergunta quem está, realmente, naquele momento, se Izumi ou Yomi. A outra olha ligeiramente para trás e diz: “Quem você acha que eu sou?” E voltando-se, toca gentilmente o cabelo de Tsuchimiya e comenta: “Como você cresceu... Kagura.” E fica claro que se trata de Yomi.Mas parece que no mundo já não existe espaço para as duas meninas que apenas desejam ser irmãs. O Escritório as persegue pensando em matá-las, e somente os fiéis Kenzuke e Tsuina seguem a sua pista com intenções conciliadoras. Afinal, Kenzuke ama sinceramente Kagura.Entretanto, as entidades cósmicas que manipulam os acontecimentos interferem com a fuga de Yomi e Kagura. Pois, agora se configura o julgamento do mundo: e a destruição ou preservação deste planeta passam a depender da decisão ou da escolha das duas sacerdotisas: a “sacerdotisa negra” (Isayama Yomi) e a “sacerdotisa branca” (Tsuchimiya Kagura).Colocadas em campos opostos por uma fatalidade, mas irmãs de criação e grandes amigas — o que farão Kagura e Yomi?Hajime Segawa vem conseguindo construir uma epopéia cada vez mais complexa, apoteótica, densa e imprevisível.

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A SAGA XINTOÍSTA APROXIMA-SE DO DESFECHO

Tremendas revelações agitam o universo Ga-Rei.

“As sacerdotisas Yin e Yang foram escolhidas automaticamente para servirem de juízas finais para o início do extermínio.” (...) “Se existe alguém que pode adiar um pouco esse fim é você... sacerdotisa branca.”

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(Mitogawa)

No volume 11 de “Ga-Rei” — que há pouco saiu no Brasil pela JBC (edição original japonesa da Kadokawa Shoten, 2009) — Hajime Segawa leva a saga das bestas espirituais a um clima de insuportável suspense, com as forças cósmicas envolvidas empurrando a situação para o que parece, será o confronto final entre a sacerdotisa negra (Isayama Yomi) e a sacerdotisa branca (Tsuchimiya Kagura). As duas irmãs de criação parecem destinadas a se oporem, fato que ocorre em três fases diferentes da história.Para complicar, elementos do Escritório de Prevenção contra Acidentes Sobrenaturais resolvem perseguir mortalmente Kagura e Yomi, que consideram responsáveis pelo ressurgir da Raposa de Nove Caudas e do aparecimento do Naraku, ou aglomerado de espíritos malignos que ameaça o mundo de destruição. Por conta disso, todos os que estão com Kagura correm perigo, e trágicos acontecimentos se sucedem num ritmo alucinante. A certa altura o clima lembra o “Arquivo X”, com a brutalidade e o obscurantismo daqueles que julgam poder impor a sua lei de arbítrio, terror e abafamento da verdade.Mas não será possível assassinar Kagura, pois dela dependerá o destino do mundo, conforme está ficando cada vez mais claro na epopéia “Ga-Rei”.

NOTA: as expressões “sacerdotisa branca” e “sacerdotisa negra” não têm nada a ver com etnia ou cor da pele, já que Kagura e Yomi não são brancas nem negras, mas amarelas, japonesas. É uma referência aos poderes ligados à luz ou às trevas, da mesma forma que “magia branca” e “magia negra”.

Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2012.

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“GA-REI” CHEGA AO APOTEÓTICO FINAL

A impressionante saga de Hajime Segawa mostra, em seu desfecho, uma mensagem de redenção.

“Mas aqui, tenho amigos. Amigos que estão prontos a arriscar a vida, para proteger o meu sonho imperdoável.”

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(Tsuchimiya Kagura)

“Ela pretende enfrentar aquilo para proteger bilhões de pessoas?”

(Nimura Kenzuke)

“Ainda não posso morrer. Não até rever a Yomi!”

(Tsuchimiya Kagura)

“Pare com isso, Kagura. Por que? Só fiz você sofrer. Mesmo assim... você ainda quer me estender a sua mão?”

(Isayama Yomi)

“Acorda de uma vez por todas! Mais do que qualquer pessoa no mundo, você foi amada pela Kagura!”

(Nimura Kenzuke para Isayama Yomi)

“Lembre-se, foi você e esse seu jeito que me fizeram mudar.”

(Imawano Shizuru para Tsuchimiya Kagura)

O volume 12 de “Ga-Rei”, mangá de Hajime Segawa, finaliza a epopéia das “bestas espirituais” que ainda inclui doze episódios em desenho animado que narram a prequela, ou seja, as origens de

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Tsuchimiya Kagura e Isayama Yomi, as irmãs de criação que estavam destinadas a se tornarem as sacerdotisas do Apocalipse — um Apocalipse que se derrama sobre Tóquio e ameaça exterminar a Humanidade.

Kagura, acompanhada por Kenzuke, Tsuína, Fujiko, Shizuru e outros aliados, penetra na Naraku (aglomerado de almas penadas) que ocupou o centro de Tóquio, disposta a abrir caminha até Yomi: a sacerdotisa branca deve encontrar a sacerdotisa negra, para que o destino do mundo seja decidido. E em meio aos combates e monstruosidades das cenas vertiginosas, ainda prevalecem os sentimentos, como os de Shizuru, a ex-inimiga que incentiva a messiânica Kagura a seguir em frente: “Lembre-se, foi você e esse seu jeito que me fizeram mudar”. E Kenzuke acrescenta: “Eu conheci você, Kagura, porque era para te conhecer. Por isso, vamos ter mais fé em nós mesmos”. Assim incentivada, Kagura usa o poder do seu amor diante dos monstros que tudo querem destruir. Finalmente, ela e Yomi se defrontam. Kagura enfrenta então o seu grande desafio, o seu ordálio: não eliminar Yomi mas purifica-la, arranca-la das trevas.

É preciso entender que a epopéia de Kagura baseia-se no Xintoísmo, principal religião japonesa, e não no Cristianismo. Hajime Segawa talvez seja xintoísta. Por isso, mesmo estranhando um pouco, nós do Ocidente cristão não podemos exigir uma solução pela religião cristã. Assim é que o Papa aparece, como alguns líderes políticos, mas suas aparições são anódinas e tudo se resolve no Japão, no confronto das duas sacerdotisas. Entretanto, sendo embora uma heroína xintoísta, Kagura apresenta virtudes comuns à espiritualidade cristã: senso de justiça e de lealdade, o amor profundo por todos, o valor extremo da amizade. O amor de Kagura por sua irmã de criação, que se tornou sua inimiga e adversária, faz a diferença em comparação, por exemplo, com a saga (também admirável) de J.K. Rowling, onde o protagonista Harry Potter e o antagonista Voldemort são de todo inconciliáveis. Daí, em meio ao exagero próprio dos mangás, ressalta a mensagem da redenção da humanidade pelo amor — que é, aliás, a substância da mensagem cristã.

O volume final apresenta os episódios 49 a 52 e o epílogo. Logo de início, porém, aparece um quadro fascinante que sintetiza o que vai ocorrer: uma pintura genial, onde a luz e as trevas se defrontam no

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combate decisivo. À esquerda a “Sacerdotisa Negra”, Yomi, com seu garfo maligno e sua legião infernal, em meio à assustadora escuridão; à direita a “Sacerdotisa Branca”, Kagura, com o ga-rei (fera espectral) Byakuei e os aliados; e no clímax do monstruoso combate, Kagura estende a mão para Yomi; e no olhar de Kagura não há o mínimo sinal de ódio ou raiva, mas somente a afeição pela irmã. E esta, já hesitando, esboça o estender de sua própria mão.

É comovente a construção da personalidade de Kagura, a pureza de seu coração, a sua obstinação pelo bem e o seu empenho em redimir sua irmã e salvar a todos. Poucas figuras da ficção messiânica são tão impressionantes.