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É possível aprender jogando videogames? A educação precisa descobrir novas estratégias. Protagonismo Jovens participam de manifestações, coletivos culturais, startups, plenárias da ONU e muito mais. Entrevistas com: Betty Monteiro, Gilson Schwartz, André Conti e Fause Hatem. revista y ano 2 | número 2 | outubro 2013 ymag.com.br

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Page 1: Revista Y | outubro 2013

É possível aprender jogando videogames? A educação precisa descobrir novas estratégias.

ProtagonismoJovens participam de manifestações, coletivos culturais, startups, plenárias da ONU e muito mais.

Entrevistas com:Betty Monteiro, Gilson Schwartz, André Conti e Fause Hatem.

revista yano 2 | número 2 | outubro 2013

ymag.com.br

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O FUTURO É CONECTADOVENHA FAZER PARTE DELE. OBJETIVOSOROCABA.COM.BR

FUTURO SEM LIMITES

O Objetivo Sorocaba tem como um de seus eixos educacionais o domínio da linguagem.Estimulamos o jovem não apenas a ler e escrever, mas também a compreender o mundo,

a sua comunidade, os movimentos sociais, as situações que o cercam e as quese passam do outro lado do globo.

Os projetos são desenvolvidos com a missão de oportunizar a vivência, a interação e a exploração das novas e tradicionais formas de comunicação e expressão.

Faça parte da geração que está mudando o mundo.Conheça um lugar onde o futuro é sem limites.

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Revista Y Ano 2 | No 2 | Outubro/2013

Conselho Editorial Miguel Angelo Thompson Rios Luciano Cacace Rafael Ribeiro

Jornalista Responsável Mtb 35.254

RevisãoKátia Chiaradia

Projeto Gráfico e Diagramação MonteCristo Creative

Ilustradores Paulo Terzi ItoLuiz Augusto Ribeiro

Leia a versão digital em: www.ymag.com.br

Contato: [email protected]

Unidade Centro: Rua Arthur Gomes, 51. Unidade Portal: Rua Romeu do Nascimento, 777. Unidade Zona Norte: Av. Itavuvu, 4.115. www.objetivosorocaba.com.br

Tiragem: 10.000 exemplares.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial de textos e imagens sem prévia autorização.

Caro leitor,

Chega a suas mãos o 2º número da Revista Y, preparada com muita alegria.

Iniciamos essa segunda edição com a responsabilidade de corresponder às expectativas criadas. Pretensiosos, não esperamos ser editores de um único sucesso.

Para tal, elaboramos uma pauta repleta de assuntos bastante atuais, com gente muito bacana liderando ideias, ações e projetos, no mundo da educação, da cultura e da crítica social.

André Conti e Gilson Schwartz, intelectuais de primeira grandeza e gamers apaixonados, nos trazem a pergunta: “É possível aprender jogando videogames?”

Em mais um capítulo de nossa jornada em prol do protagonismo, relatamos ações de jovens empreendedores e de ativistas sociais sedentos por promover transformações em suas vidas e, de quebra, em toda a sociedade. De startups a coletivos artísticos, de microempresas tradicionais às plenárias internacionais da ONU. E, se a moda é protagonismo, nada melhor que Fause Haten para falar de moda e protagonismo.

Perguntamos ainda: quais as consequências dos manifestos de junho para nossa sociedade? E protagonista não é só o nosso aluno: nossos professores também fazem das suas, promovendo reflexões e desenvolvendo projetos que, gradativamente, ampliam a autonomia dos nossos jovens. Que profissão é essa e quais seriam as competências necessárias para um docente ser esse agente transformador? A Y foi buscar em mestres renomados essas respostas.

Em se falando de transformação social, não podemos deixar de salientar o importante papel da CORESO e de um de seus líderes, Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, minerador de conhecimento entre montes de lixo e chorume, a quem Viki Muniz retratou tão belamente em seu documentário “Lixo Extraordinário”.

Por fim, discutimos seriamente a questão do vício em internet, relatado por Marion Strecker, jornalista e cofundadora do UOL. É necessário ficarmos atentos a esse problema junto aos estudantes e aos nossos filhos.

Então, caro leitor, esperamos que aprecie esses doces finos e muitos outros presentes nesta Y, preparada com atenção e carinho para você.

Até a próxima edição!

Miguel Angelo Thompson Rios Diretor Executivo Objetivo Sorocaba

Editorial

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Page 4: Revista Y | outubro 2013

10 Linguagem Games podem ter função educacional

20 Empreendedorismo O momento é das startups

26 Infância Babá, avós ou berçário?

34 Sociedade Manifestações nas ruas marcam nova era

38 Cultura Das ruas aos grandes palcos

48 Leio, Logo Aprendo

52 Lições de Vida Planejamento pode levar ao êxito

54 Esportes Caminho para aprender sobre ética

56 Drops

58 Formação Licenciaturas oferecem múltiplas habilidades

62 Sétima Arte

66 Políticas Públicas E a Cultura, como vai?

72 Comportamento Corpo, cabeça, membros e... celular

82 In Loco Estudantes aprendem a riqueza do lixo

92 Twitter

Sumário

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Linguagem

Liga o videogame e vai estudar, menino!Ops! Não seria “desligar o videogame e ir estudar”, não? Defini-tivamente, não. Hoje é impossível ignorar o potencial dos games eletrônicos como ferramenta que contribui na educação e na forma-ção das novas gerações. Não há mais como deixar a tecnologia de castigo pra fora da sala de aula. Nesta reportagem, o leitor da Revis-ta Y conhecerá projetos educacionais bem sucedidos que colocam os games eletrônicos não como vilões que roubam a atenção dos alunos, mas como parceiros que auxiliam no processo pedagógico.

Também vai poder conhecer opiniões de quem cresceu e se desen-volveu jogando videogame, e como isso pode ajudar na formação de pessoas criativas.

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Linguagem

“Meu filho perde muito tempo com o videogame.” Essa é uma queixa rotineira das mães em relação a crianças e adolescentes. Você, que desfrutou e desfruta dessa tecnologia até hoje, concorda com a ideia de que videogame é perda de tempo?

Conti – Jamais. Primeiro porque os jo-gos fazem parte da formação de qual-quer criança, sejam eletrônicos ou não. Quem advoga a pureza do pega-pega ou do esconde-esconde em relação à violência dos games certamente não se lembra de todo o tipo de violência, física ou não, que faz parte da infância e desses jogos. E isso nem vem ao caso. Ao jogar, a criança está tendo contato com um universo narrativo muito rico. E não estou falando da trama dos jo-gos, que de fato às vezes deixa a de-sejar. Estou falando da narrativa inte-rior que a própria criança cria ao jogar. Quem acha que o videogame mata a imaginação certamente nunca jogou. Do lado de fora, a criança pode pare-cer, mesmo, apenas responder a estí-mulos etc. Mas a trama que ela está jogando não é a que aparece na tela, e sim a que ela cria ao longo (muitas vezes como “protagonista”) da partida. Essas narrativas emergentes, como são chamadas, fazem parte do desenvol-vimento de qualquer criança e consti-tuem boa parte da graça de jogar.

Gostaria que você relatasse como os videogames contribuíram para sua formação.

Conti – De um ponto de vista prático, fiz amigos, encontrei meus grupos na escola, aprendi a me virar com tecno-logia, aprendi a pesquisar e descobrir coisas novas, descobri meus gostos pessoais e percebi como eles podiam estar ligados ao cinema, literatura etc. Na formação em si, não sei se há um efeito “palpável”, mas esses jogos desa-fiam o raciocínio, estimulam os refle-xos e, não raro, apresentam questões morais e de outras naturezas que, no geral, atribuímos ao campo da arte, e não do entretenimento.

Quanto tempo você despende com o videogame diariamente? Quais são os seus jogos preferidos do momento?

Conti – Não dá para contabilizar, de-pende do volume de trabalho/tempo livre. Mas uma ou duas madrugadas por semana sempre acabam indo para os jogos. No momento, detestando o SimCity novo e gostando bastante de Antichamber, de quebra-cabeças, e do Marchofthe Eagles, de estratégia nas guerras napoleônicas.

Com os jogos conectados em rede, ainda podemos falar sobre videogames como inibidores do contato social?

Conti – Nem hoje e nem antes. A figura do nerd isolado e solitário é uma cons-trução externa. Jogos sempre ligaram as pessoas, aproximaram grupos de amigos. Eu mesmo não sou um jogador “social” no sentido moderno, de redes sociais etc, mas costumo jogar bastan-te com os amigos.

Mito ou verdade: games violentos podem ser prejudiciais à formação de um adolescente?

Conti – Cientificamente, não sei dizer. Mas passei a infância jogando games violentos e assistindo a filmes de terror extremos e nunca matei uma barata. Ainda assim, acho ótimo quando os jogos eventualmente levam essa dis-cussão ao centro da narrativa, como em Bioshock e no recente SpecOps: The Line. Novamente sem nenhuma base científica, acho que a histeria em tor-no dos jogos violentos é a mesma pela qual já passaram filmes, livros e HQs, por exemplo.

Além de ser um jornalista especializado em tecnologia, também é editor na Companhia das Letras. Existe algum flerte entre literatura e videogame?

Conti – Há muitos flertes, porque essa geração de “novos escritores” nascidos no fim dos anos 1970 cresceu com isso. Então, elementos de jogos começam a pipocar, menos e mais explicitamente, em obras literárias. Desde casos como Scott Pilgrim, que segue uma estrutura de jogo e é francamente pop e trabalhos literários como o recente “Mr. Peanut”, do Adam Ross, em que o protagonista é um programador de jogos. E lembrando que o Martin Amis escreveu, na década de 1980, um livro chamado “Invasion of the Space Invaders”, uma espécie de guia afetivo de fliperamas.

“Esses jogos desafiam o raciocínio,

estimulam os reflexos e, não

raro, apresentam questões morais

e de outras naturezas que no geral atribuímos

ao campo da arte, e não do

entretenimento”

“Passei a infância jogando games violentos e assistindo a filmes de terror extremos e nunca matei uma barata”

Essa é a opinião do jornalista An-dré Conti, colunista do caderno Tec, do jornal Folha de São Paulo, e também co-nhecido pelo trabalho desenvolvido na editora Companhia das Letras.

Para aqueles que torcem o nariz para o videogame e acham que os jo-gos eletrônicos resumem-se à perda de tempo, é interessante rever alguns con-ceitos: a mesma pessoa que se dedica a projetos intelectuais do vulto da reedi-ção de “Ulysses”, de James Joyce, é a que dedica de “uma a duas madrugadas da semana” a jogos de videogame.

Por isso, atenção, pais de plantão, vale a pena conferir o que André Con-ti tem a dizer sobre videogames e de como eles ajudaram e ajudam em sua formação. Confira a entrevista:

Ping pong com André Conti

“Quem acha que o videogame mata a imaginação certamente nunca jogou”

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Linguagem

Jogar videogame na véspera de prova... E o que é melhor: com incentivo do professor!

“Seu objetivo é conquistar a Euro-pa, a América do Sul e mais um tercei-ro continente à sua escolha.” Quem já jogou o clássico War, com certeza, deve lembrar das acirradas disputas territo-riais empreendidas sobre o tabuleiro. Aliás, garanto que muita gente nascida na década de 1980 sabe que Sumatra é uma ilha da Oceania ou que Vladivos-tok faz fronteira com a Sibéria graças ao jogo em que vence quem tiver mais estratégia e, claro, sorte nos dados.

E é apostando no potencial edu-cacional dos jogos de tabuleiro e dos games digitais que o professor Ailton Luiz Camargo, que ministra a aula de História no Colégio Objetivo Soroca-ba, deixa suas aulas mais divertidas e, consequentemente, mais proveitosas aos alunos do colégio.

Ailton, que tem 31 anos e lecio-na desde 2006, já desenvolveu cerca de 10 jogos de tabuleiro e de cartas para trabalhar os mais diversos te-mas com os alunos: da antiguidade egípcia, passando pela idade média ou mesmo o período colonial brasi-leiro. “Eu cresci comprando jogos de tabuleiro e acredito que eles me en-sinaram muitas coisas. Por isso, achei que seria interessante aplicá-los com os alunos e os resultados têm sido muito bons”, avalia o professor, que ministra aulas para alunos do 6º ao 9º anos. “Os jogos trabalham com desa-fios e isso estimula a busca por mais conhecimento”, reitera.

Ailton defende que os jogos – se-jam de cartas, tabuleiros ou mesmo os games digitais – devem ser cada

vez mais utilizados dentro de sala de aula. A justificati-va é pertinente: “Na hora do intervalo, vemos os estudantes super entusiasmados e foca-dos em seus jogos nos tablets. Então, por que não utilizarmos os jogos como estratégia de en-sino?”, cutuca o professor.

Aliás, Ailton mantém um blog (www.historiamirim.blo-gspot.com.br) em que interage com os alunos sobre os mais diversos assuntos da História do Bra-sil e do mundo. Eles acompanham os posts e fazem diversos comentários sobre os conteúdos divulgados. É bo-nito de ver adolescentes discutindo a História do Brasil ou mostrando seu posicionamento crítico em relação a algum emblemático acontecimento político ou social. É lá também que está elencada uma senhora lista de games disponibilizados gratuitamen-te pela internet e que tem como tema os mais diversos assuntos da história mundial. “Aconselho os jogos na hora de fazer a revisão das provas. Os re-sultados nas notas mostram que têm dado resultado.” Agora, não dá nem mais para a mãe brigar com o filho quando ele estiver jogando videoga-mes nas véspera da prova de História. Jogando não, estudando!

Aplicativo de estudo está disponível pelo Facebook

Um aplicativo desenvolvido pelo Objetivo Sorocaba, inédito na região, ajuda na preparação para as provas dos mais disputados vestibulares do País. Trata-se do game “Desafio Vireobixo”, disponível na página da escola no Face-book (www.facebook.com/objetivosor).

No ar desde o início de 2013, o jogo fica na aba “Desafio VireoBixo” e tem mais de mil questões, com níveis de dificuldade diferentes. Nesse espaço, os internautas podem testar seus co-nhecimentos e desafiar os seus amigos em uma competição. Depois de assinar o aplicativo, o usuário deve escolher a área do conhecimento para responder às questões e já pode começar a jogar.

O diretor-executivo do Objetivo So-rocaba, Miguel Thompson avalia que a nova ferramenta se apropria das prin-cipais características dos jovens em fase pré-vestibular e oferece a opor-tunidade de preparação num ambien-te que eles já conhecem e dominam. “Além disso, o projeto apresenta alta possibilidade de se tornar viral, poden-do ser espalhado exponencialmente pela rede social”, conclui.

A ideia surgiu do princípio de que os estudantes gastam boa parte do seu tempo em redes sociais. Em Soro-caba, mais de 330 mil pessoas são ca-dastradas no Facebook. “Pesquisamos em toda a região e não encontramos nada parecido”, conta o diretor de Marketing e Serviços da escola, Lu-ciano Cacace. “Já que a rede social é tão utilizada, nada mais coerente do que aproveitar essa ferramenta para a prendizagem”, pondera.

Kiduca: um game educacional, gerado em Sorocaba, que quer conquistar o mundo

Conhecido por projetos bem-su-cedidos como o Pérola (associação de caráter social que visa desenvolver a consciência protagonista nas comu-nidades assistidas), Jorge Proença não esconde o entusiasmado com sua nova empreitada: o Kiduca. Trata-se de um game educacional voltado a alunos do 1º ao 5º anos. “Mas quere-mos expandir para estudantes até o

9º ano”, trata logo de adiantar Proen-ça, que recentemente foi convidado a dar uma palestra sobre o Kiduca na Campus Party (considerado o maior evento de inovação tecnológica, in-ternet e entretenimento eletrônico em rede do mundo).

A ideia do Kiduca parte do princí-pio de que é possível aprender brin-cando e, em se falando de século 21, brincadeira e tecnologia são parcerias indissociáveis. Nessa caso, o lúdico é palavra-chave em todo o processo. Todo o conteúdo tratado no game - em que o estudante cria e estiliza seu próprio avatar, que será protagonista de diversas aventuras - segue as dire-trizes curriculares nacionais, ou seja, traz o conteúdo tratado em sala de aula. “O game é a linguagem da nova geração, portanto não podemos igno-rar esse fato e temos que trabalhar essa linguagem a favor da educação”, reitera Proença, que também é vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Games.

Segundo ele, que já aplicou o pro-jeto em escolas públicas e também em escolas particulares da região (inclu-sive, há possibilidades do Kiduca ter vazão internacional), ainda é possível verificar resistência por parte dos pro-fessores com a ferramenta. “Nos cursos de Pedagogia, ainda hoje a tecno-logia não é pensada como uma ferramenta educacional. Por-tanto, essa resistência por parte de muitos professores é natural, mas acredito que processos de capacitação, nesse sentido, aca-bam por diminuir a resistência por parte do professor.”

Mas se por um lado os docen-tes veem com certa desconfian-ça os games educacionais, já as crianças... “Pelo contrário. Princi-palmente em escolas públicas, o entusiasmo é muito grande”.

Se você quer conhecer mais sobre o Kiduca, basta acessar www.kiduca.com.br

“Na hora do intervalo, vemos os estudantes super-entusiasmados e focados em seus jogos nos tablets. Então, por que não utilizarmos os jogos como estratégia de ensino?”

“O game é a linguagem da nova geração, portanto não podemos ignorar esse fato e temos que trabalhar essa linguagem a favor da educação”

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Linguagem

Ao se descobrir que o videogame, tão lúdico, ensina, pode-se esperar que o homem aprenda ‘brincando’ ao longo de toda sua vida?

Schwartz – Se você observa os animais, os bichinhos, eles aprendem brincan-do. Depois, isso vira uma prática e ele vai sobreviver com o que ele aprendeu brincando. Isso merece uma reflexão. A sociedade - e aí não só os animais - criou uma cisão ao longo da história, que sugere que o jardim da infância é o momento em que se pode brincar. E no momento em que você é educado, aí você não pode mais brincar. Essa ci-são não existe no mundo animal, mas, entre os humanos, houve isso. E isso há muito tempo. Já entre os gregos, há uma curiosidade entre as palavras paidia e paidea. A primeira se refere ao jogo, à brincadeira e a segunda, ao ensino, à pedagogia. Platão e os gre-gos começaram com essa distinção. O brincar era a poesia, o sonho. Mas che-ga um momento em que é preciso ficar sério. Essa ruptura ficou na civilização.

E como se pode mudar isso?

Schwartz – A própria tecnologia nos traz a oportunidade, não só de aprender ao longo de toda a vida, mas de brincar a vida toda. Os videogames, o facebook, as interfaces... elas são lúdicas, usadas para causar um prazer como entreteni-mento e como aprendizado.

Parece que o videogame ainda é um universo predominantemente masculino. É isso mesmo ou as meninas também jogam?

Schwartz – Isso está mudando, tem cada vez mais meninas jogando. Alguns jogos do Games for Change, como o Half The Sky, afetam principalmente as mu-lheres. Na Índia, em países da África, há ainda uma questão enorme sobre a violência contra as mulheres. Temas como esse, de desrespeito aos direitos das mulheres, acabam atraindo-as para esses jogos. Em tudo que tem a ver hoje em dia com educação e cultura na área de games já se uma presença femini-na maior. Ainda não está equiparado. E existe ainda um preconceito: muitas vezes as meninas que entram nos ga-mes dos meninos são hostilizadas. Mas isso está mudando.

Os videogames têm dispositivos cada vez mais avançados, com o Kinect (sensor de movimentos do jogador, sem necessidade de controle). O que mais vem por aí?

Schwartz – Já existe uma nova frontei-ra, que é a internet das coisas. (Novo paradigma no qual tudo que se possa ima-ginar, tudo que existe a sua volta pode se comunicar pela Internet, mandando e rece-bendo informações). Através dela, tanto os games quanto tudo que envolve um fluxo de informações, deixa de ser ape-nas uma informação na tela e passa a envolver sensores, câmeras de vídeo. O Kinect funciona com sensor, com o movimento do corpo. Haverá cada vez mais comandos de voz, objetos que se tornam mais inteligentes - a geladeira que avisa que está acabando o leite, o carro que avisa que está perto demais do carro estacionado atrás. A câmera

Vem aí a internet das coisas

Diretor do Games for Change no Brasil analisa o uso do videogame

Ele tem um currículo de causar inve-ja. Gilson Schwartz é economista, soció-logo, jornalista, professor e pesquisador brasileiro. Estudante da USP, tornou-se professor da mesma universidade, onde criou, em 1999, no âmbito do Instituto de Estudos Avançados da USP, o projeto de pesquisa Cidade do Conhecimento.

Além disso, dirige o Games for Chan-ge no Brasil. Trata-se de uma rede lati-no-americana para pesquisar, inovar e valorizar a relação entre jogos, apren-dizagem e transformação social. Foi fundada em 2004, nos EUA.

Schwartz, que esteve na rede de conversa do Objetivo, no último mês de junho, falou com a Y sobre os ga-mes como forma de linguagem e meio de aprendizado. No dia seguinte, ele partia para Nova Iorque para as co-memorações de dez anos do Games for Change nos EUA.

“Passa a ser uma realidade a conexão dos humanos com

objetos que têm sensores. Em

tese, inclusive, para ajudar os

humanos, como na casa de

um idoso, por exemplo, onde

sensores podem monitorá-lo

e avisar caso algo esteja fora

da rotina.”

cria uma interação fora da tela, a in-formação passa a ser gerada não ne-cessariamente por alguém que clicou ou digitou em alguma coisa. Pode ser por alguém que se mexeu, que passou na rua. Passa a ser uma realidade a co-nexão dos humanos com objetos que têm sensores. Em tese, inclusive, para ajudar os humanos, como na casa de um idoso, por exemplo, onde sensores podem monitorá-lo e avisar caso algo esteja fora da rotina.

Os jovens que jogam videogames, mas não os considerados educativos, têm algum ganho com isso?

Schwartz – Hoje se discute muito duas questões ligadas a isso. Uma é o vício. É muito gostoso ficar brincando, mas a vida não é só brincadeira. Se você ficar o tempo todo vivendo aquela adrenali-na e começa a ter abstinência daquele prazer enorme quando deixa de jogar, isso se tornou um vício. Existe uma preocupação muito grande com rela-ção a essa difusão tremenda de jogos. O outro problema dos jogos habituais é sobre que tipo de comportamento é estimulado, caso o usuário só jogue games violentos, com mensagens de ódio, hostilização, agressividade. Será que isso não está reforçando uma vio-lência que está na sociedade, será que não é melhor controlar isso ou dar ou-tras opções? Há, por outro lado, quem diga que esses games podem servir para dar vazão às pulsões de violência que todo ser humano tem. É preciso observar e dialogar.

Saiba mais: http://gamesforchan-ge.org.br/sobre-2/quem-somos/

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Linguagem

Expedição Mobile Learning expande ferramentas pedagógicas

Na primeira quinzena de março, um grupo de escolas brasileiras participou da Expedição Mobile Learning, que re-presenta a busca de novas estratégias sobre o uso da tecno-logia como ferramenta educacional.

O evento contou com as presenças de Maria Fernanda Tabacow, executiva do Conselho Ágathos Educacional, Lu-ciano Cacace, diretor de Marketing e Serviços do Objetivo Sorocaba, além do diretor-executivo do Objetivo Sorocaba, Miguel Angelo Thompson Rios. “A escola tem essa preocu-pação em tentar identificar tendências educacionais, que possam ser transformadas em práticas educativas. Por isso participamos!” lembra Miguel.

A expedição visitou o Centro de Mobile Learning do Mas-sachusetts Institute of Technology (MIT) em Boston, a Avenues School e Quest to Learn, em Nova Iorque, o Children’s Creativity Museum, em São Francisco, o Krause Center for Innovation, a San Antonio School e a Milpitas School, todos no Vale do Silício. Na mesma região, também foi possível conhecer os projetos SMILE e Fablab@school, da Escola de Educação de Stanford.

Entre as inovações apresentadas estavam a da Quest to Learn, baseada em jogos, e, de Stanford, o programa SMILE, que avalia os alunos pelas perguntas que elaboram.

Para os participantes, apenas o uso da tecnologia em sala de aula não é o aspecto mais importante do ensino contemporâneo, mas sim permitir que isso faça parte do currículo escolar, não se limite à vida do estudante fora da escola. Isso reafirma a posição do professor como figura fa-cilitadora do processo de aprendizagem, na medida em que reúne o conteúdo pedagógico com as ferramentas tecnoló-gicas, ao planejar suas estratégias de sala de aula.

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Ideias que mudam o mundo

Era uma noite de sexta-feira e Mark Zuckerberg estava querendo ação. Ha-via acabado de levar um fora da namo-rada e estava disposto a descontar em todas as mulheres da Universidade de Harvard. A maneira que ele escolheu foi criar um website para medir a be-leza das estudantes. Os homens pode-riam escolher, entre duas fotos apre-sentadas, quem era a mais atraente e o cruzamento desses dados dava forma a um ranking.

O que ele fez não foi muito elegan-te, mas foi deste jeito, digamos, despre-ocupado que surgia o embrião de uma corporação multinacional com mais de 4 mil funcionários, patrimônio líquido estimado em 11,75 bilhões e lucro de 53 milhões de dólares, em 2012. Esta-mos falando do Facebook, um rede so-cial que ultrapassou o número de 1,15 bilhões de usuários ativos, segundo empresa (dado de julho/2013).

O que foi narrado acima pode ser mais bem conferido no filme “A Rede Social” (EUA/2010/David Fincher) ou no livro que o inspirou, “Bilionários por Acaso: A Criação do Facebook”, do autor Ben Mezrich, embora tanto o fil-me quanto o livro — é bom lembrar —, não tenham sido realizados com o aval de Zuckerberg.

Startup – o início

Se hoje o Facebook é uma multina-cional, no início, ele poderia ser classi-

Empreendedorismo

ficado por um termo um pouco mais desconhecido. Empresas de pequeno porte em fase inicial que tenham um projeto ligado ao desenvolvimento de uma ideia inovadora, com custos de manutenção baixos e possibilidade de rápida e consistente geração de lucros são chamadas de companhias “star-tup”. No meio corporativo, costuma-se dizer que essas empresas atuam num modelo de negócios de repetição e escala, o que significa ser capaz de entregar o mesmo produto em escala potencialmente ilimitada, sem mui-tas customizações ou adaptações para cada cliente. E com uma receita que cresce bem mais do que os custos, fa-zendo com que a margem seja cada vez maior, acumulando lucros.

É claro que isso tudo não é uma fórmula mágica. As condições de retorno de uma startup são de extrema incerteza. A empresa precisa ser mantida até começar a gerar receita, embora os custos de manutenção iniciais sejam baixos. Muitas vezes, a empresa precisa dedicar meses ou até anos apenas no desenvolvimento de pesquisas até que inicie sua operação.

Todas essas características ao re-dor do conceito de startup fazem do campo da tecnologia de informação e comunicação o ideal para o desen-volvimento de uma startup. Por este motivo, o termo costuma ser associado principalmente a empresas do ramo, mas isto não é uma regra. Elas só são

Google, Facebook, Twitter, YouTube, Apple, Adobe... Além de estarem presentes em nossas vidas diariamente, essas marcas têm algo mais em comum: a forma como começaram: com investimentos baixos (para o padrão de mercado), embora incertos, aplicados em uma ideia inovadora. As empresas “startups” têm sido cada vez mais objeto de análise, não só na área econômica, mas também nas áreas de tecnologia e até para o público leigo. Não é para menos: além do crescimento astronômico, essas empresas mudaram nossa cultura e nossos hábitos nos últimos anos.

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mais frequentes na internet porque costuma ser bara-to criar uma empresa de software (não há investimentos em matéria-prima), além de a web tornar a expansão do negócio bem mais fácil, rápida e barata. Mesmo assim, um grupo de pesquisadores com uma patente inovadora pode também ser uma startup – desde que ela comprove ser um negócio repetível e escalável.

Paul Graham, programador, investidor e ensaísta, além de fundador da Viaweb (aplicação que foi vendida para o Yahoo! em 1998 por 455 mil ações da carteira, avaliadas em aproximadamente 49 milhões de dólares), afirma que uma startup é uma companhia projetada para crescer rapidamente. De acordo com Graham, ser fun-dada recentemente não faz com que uma empresa seja uma startup. Não é necessário trabalhar em tecnologia ou tomar financiamento de risco. O único item essencial é o crescimento.

Apesar de tudo isso, não há característica mais im-portante nas startups do que a inovação. É esta palavra que une desde os garotos que estão neste exato momen-to trabalhando em suas ideias, dentro do quarto, até as grandes companhias que geram milhões em receita. Muito mais do que os lucros que geram e a expectativa de grande crescimento, quando dão certo, empresas que começaram como startups são responsáveis por grandes mudanças ocorridas nos últimos anos nos hábitos, no comportamento e até na cultura da sociedade nas diversas partes do mundo

.Crio, logo existo

É no inovar que está o principal fascínio das startups. As tecnologias de informação e comunicação ampliaram a uma escala ilimitada a possibilidade de propagação de uma ideia. Mais do que nunca, no ambiente corporativo, é este o mundo em que vivemos: com uma ideia, podemos chegar longe. Nossas tecnologias fazem com que perceba-mos cada vez mais que este sempre foi o item principal.

“Tudo o que o mundo precisa é de inovação, criação”, afirma Alexandre Le Voci Sayad, articulista do jornal O Estado de São Paulo e autor do livro “Idade Mídia: a Co-municação Reinventada na Escola” (Editora Aleph, 2011),

responsável pelo inovador projeto de “educomunicação” que leva o mesmo nome de seu livro e é desenvolvido há 12 anos em escolas de ensino médio. 

Nas escolas por onde passa, o “Idade Mídia” é uma ex-ceção ao modelo tradicional de comunicação. E faz isso mostrando o óbvio: educação e comunicação fazem parte um do outro, estão intrinsecamente ligados. Educamos quando comunicamos e vice-versa.

Para formar sábios, ensina-se a questionar. O Idade Mídia é um programa que trabalha a expressão dos alu-nos. Em uma imersão na área da comunicação social, os jovens têm contato com os meios de comunicação e pro-duzem o seu próprio produto. Muito mais do que técnica, o trabalho é voltado ao olhar. A habilidade e disposição para comunicar, aparentemente restrita aos profissionais da área, como jornalistas e publicitários, são itens pre-sentes no cidadão consciente.

“O que o mundo mais precisa hoje é de pessoas que tenham cultura, que saibam refletir e saibam se expres-sar. A habilidade técnica é o menor problema. O pro-blema é repertório, é reflexão”, afirma Sayad. A comu-nicação é a ferramenta do criativo. “Criatividade não é algo inato. É algo que precisa ser desenvolvido”, afirma Sayad. Com histórias impressionantes, reunidas no livro Idade Mídia: A comunicação reinventada na escola, publicado quando o projeto fez dez anos de existência, Sayad sabe que comunicar é uma habilidade fundamental para os empreendedores. Ele próprio lançou há dois anos, com mais dois sócios, o aplicativo MyFunCity (disponível gra-tuitamente em www.myfuncity.org), que foi um dos cin-co finalistas no World Summit Award Mobile, prêmio de cidadania realizado pela ONU (Organização das Nações Unidas), em fevereiro.

Com a proposta de possibilitar a gestão pública por meio da tecnologia digital, MyFunCity permite que os ci-dadãos avaliem a qualidade de vida das cidades, a par-tir de 11 indicadores relacionados a trânsito, segurança, meio ambiente, saúde, educação e bem-estar. O banco de dados resultante forma uma mapa preciso sobre o índice de satisfação da população, a respeito dos serviços públi-cos oferecidos pelos municípios.

Empreendedorismo

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EmpreendedorismoTalvez o próprio Zuckerberg não

soubesse no começo, e o mesmo vale para os criadores do Google e tantas outras empresas, mas parte fundamental do sucesso dele foi ser uma pessoa empreendedora, e isso é indispensável para iniciar e admi-nistrar qualquer empresa, inclusive uma startup.

Desenvolver o espírito empreende-dor em jovens do Ensino Médio e En-sino Fundamental é justamente a pro-posta da Junior Achievement, entidade sem fins lucrativos que começou a ofe-recer seus ensinamentos aos alunos do Objetivo Sorocaba.

Por falar em startups, os programas desta entidade trabalham atitudes fun-damentais para que alguém possa tocar um projeto candidato a startup, como: tomar decisão, planejar, confiar nas ati-tudes e assumir responsabilidades so-bre as decisões tomadas. “Nossa propos-ta é de mudança de comportamento e

atitude nos jovens”, explica Cibele Lara, diretora executiva da entidade.

Se tantas startups se tornaram exemplos de sucesso e tantas outras surgem a cada dia, isto não é por acaso. Mais do que o êxito comercial, empresas de tecnologia influenciam nossa cultu-ra, nossos hábitos e comportamentos. E mesmo que não soubéssemos antes, elas propõem soluções para nossas ne-cessidades individuais e coletivas.

Segundo Cibele, entre as neces-sidades urgentes da sociedade hoje, está a de pessoas que colocam ideias em prática, não tenham medo de as-sumir riscos, sejam proativas, que busquem informação, tenham atitu-des empreendedoras, saibam plane-jar, que tenham metas claras e o ca-minho para atingi-las.

MetasNão que todos os jovens acolhidos

pelo trabalho devam ser empresários

no futuro. A meta da Junior Achieve-ment é oferecer aos jovens uma vivên-cia a mais para transitar no mercado de trabalho e para que possa ser o em-preendedor de sua própria vida.

Fundada em 1919, nos Estados Uni-dos, a Junior Achievement é a maior e mais antiga organização de educa-ção prática em negócios, economia e empreendedorismo do mundo. Atual-mente está presente em 120 países. No Brasil, iniciou suas atividades em 1983 e hoje possui unidades em todos os es-tados e no Distrito Federal.

O trabalho é realizado por voluntá-rios, com programas desenvolvidos em sala de aula. Os programas são pensa-dos de acordo com a idade escolar do aluno, com diferentes temas como sus-tentabilidade, finanças pessoais, habili-dades para o sucesso, carreiras, comér-cio exterior, empreendedorismo, numa metodologia de aprender fazendo e com abordagens interdisciplinares.

No Objetivo Sorocaba, os trabalhos

da entidade envolvem 270 alunos e 50 voluntários, em nove turmas das três unidades do Colégio. A proposta é transformar os envolvidos em pessoas mais proativas, que lidam com os con-flitos, desafios e dificuldades de uma forma mais confiante, que saibam se comportar em diferentes situações e trabalhar em equipe. Uma das prin-cipais abordagens deste trabalho é o autoconhecimento, para que a pessoa consiga refletir sobre qual carreira ela pode optar. “O que passamos para eles é que não precisamos esperar para começar a fazer a diferença na nossa vida. E que ainda sendo jovens eles po-dem começar a construir o seu futuro”, explica Cibele.

Usina de Projetos estimula reflexão

Levar a comunicação — em todos os sentidos — para dentro da sala de

aula e, ainda, aplicá-la como instru-mento de educação tem sido a meta do programa Usina de Projetos, inse-rido neste ano no Objetivo Sorocaba. Participam dele alunos do Ensino Médio das unidades Centro e Zona Norte, e Ensino Médio Next, da uni-dade Portal.

Alexandre Le Voci Sayad, que tam-bém é idealizador desta atividade, explica que o conceito de “educomu-nicação” — uma junção das palavras educação e comunicação vem sendo estudado por alunos e professores.

A Usina de Projetos tem reuniões presenciais mensais e um grupo no Facebook, para maior integração de alunos e professores. “A escola é um espaço para desenvolver a criação e a criatividade. Justamente por isso, da-mos autonomia aos estudantes para que concebam e executem um proje-to de mídia”, comenta Alexandre

O aluno Estevam Carlos Magno, do segundo ano do Ensino Médio na

Unidade Centro, diz que está gostan-do muito de participar do programa. “A gente é um grupo de jovens que se reúne para discutir assuntos sociais e a gente quer ajudar, participar da so-ciedade. Ele conta que participou de visitas a exposições, discutiu cultura, questões sociais e que isso o ajudou até mesmo a firmar sua escolha pro-fissional: jornalismo.

A professora de inglês, Patrícia Ri-beiro Silva, apresentou-se voluntaria-mente para fazer parte do programa e avalia que fez uma ótima escolha. “Uma das coisas que mais me surpre-endeu foi o quanto o grupo permite que a gente reflita sobre nosso traba-lho como docentes. E os adolescentes têm uma capacidade de análise sur-preendente também”, comenta.

O produto final da Usina neste ano deve ser um documentário que mostrará as principais ideias que nortearam os encontros do grupo, de aproximadamente 20 pessoas.

“Nossa proposta é de mudança de

comportamento e atitude nos

jovens”

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Infância

“Era o que eu precisava, para poder trabalhar tranquila”

Renata Pinheiro optou por ser mãe somente aos 38 anos e achou que, sendo mais velha, teria mais tranquilida-de para educar e tomar decisões relativas ao filho. Porém, quando Breno fez seis meses e ela voltou ao trabalho, ficou cheia de dúvidas sobre o que fazer.

Acabou optando por deixar seu filho com as avós, especialmente a materna. Mas logo esta avó adoeceu e Renata literalmente entrou em pânico. Às pressas, colocou o filho na escola. Bastaram três dias para que o bebê fi-casse com otite e a rotina da família toda desandou.

Ela e o marido se desdobraram em horários de trabalho para cuidar de Bre-no. Foi tempo suficiente para ela decidir: contrataria uma babá que, na medida do possível, seria supervisionada pelas avós de Breno. E assim tem sido há um ano, para tranquilidade da família

Por sua vez, desde que optou por colocar Sophia Valentina, de 2 anos, na escola, Adriana Aparecida Silva Chaves não teve dúvidas de que fez o melhor por sua filha e pela família. “Ela está no Berçário do Objetivo So-rocaba desde novembro de 2012, bem adaptada”, comenta.

Antes disso, desde os 3 meses, quando Adriana — que é representante

farmacêutica — voltou a trabalhar, So-phia ficava com uma babá. Mas o que tanto a mãe temia, aconteceu. “A gente vê os casos de maus tratos em notici-ário e fica preocupada, né”. E sua filha acabou não tendo os cuidados de que necessitava:chegou a subir uma escada sozinha, correndo o risco de uma que-da, e até a levar uns chacoalhões.

Transtornada com isso, Adriana fi-nalmente seguiu sua intuição, de que era melhor que sua filha fosse para uma escola. “Na verdade, eu já estava procurando, mas esperava mais um pouco, para que minha filha soubesse se virar um pouco, me contar sobre a escola”, comenta.

“Colocá-la no berçário foi a melhor coisa. Ela fica em período integral e tem estado super feliz, adora a profes-sora e os amiguinhos”, relata Adriana. A mãe diz que sente um acolhimento e um suporte muito bons por parte da escola. “Era do que eu precisava, para poder trabalhar tranquila”, acentua.

Bebês na escola

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Infância

ConfiançaSheila Borges Sant’ana Eid também afirma ter confiança

na escola que escolheu. Seu filho, Vinícius, está no Berçário do Objetivo Sorocaba desde março de 2013, quando tinha um ano e três meses. Mas, até que chegasse lá, passou-se uma ‘novelinha’. Foi depois de seis anos de casamento e um de tratamento, que Sheila conseguiu engravidar.

Quando acabou a licença maternidade, trabalhou ape-nas um mês, enquanto o filho ficava numa escolinha. Descontente com o estabelecimento de ensino e sem po-der contar com a ajuda das avós - am-bas trabalham e uma delas mora longe - voltou a ficar em casa para cuidar do filho. Uma babá não era considerada uma hipótese, pois, assim como Adria-na, Sheila temia não encontrar uma profissional adequada.

De volta para casa, Sheila fazia al-guns trabalhos em home office, até que a empresa da qual pedira demissão, con-vidou-a para trabalhar em meio período. Sheila aceitou e então inscreveu Vinícius no berçário. A escolha da escola, desta vez, foi fácil - sua sogra dirige o Objetivo da cidade de Novo Horizonte e gostou da estrutura e do método que encontrou na unidade de Sorocaba. “Além disso, meu marido sempre estudou lá”, conta.

“No comecinho, me sentia mal por-que queria acompanhar cada segundo da vida do meu filho. Quando ia deixá-lo na escola, não sabia se ficava feliz ou com ciúme de ele estender os bra-cinhos para a professora”, conta, rindo.

“Mas aí eu comecei a perceber a fe-licidade dele e vi seus trabalhinhos na reunião de pais. Fui me tranquilizando. Nem mesmo o fato de Vinícius ter leva-do um tombo de um brinquedo e que-brado a clavícula mudou sua opinião. “Vimos o vídeo do incidente e ficou claro que não houve qualquer descuido; ele caiu lá como poderia ter caído em qual-quer lugar. Não foi negligência”, conclui.

Berçário: mães que fazem essa opção devem deixar culpa de lado

Apesar da tosse e da voz rouca, Betty Monteiro atende a reportagem com a mesma simpatia com que estrela a cam-panha publicitária de uma marca famosa de cosméticos. Sim, além de pedagoga e psicóloga, ela é atriz e já gravou diversos comerciais.

Essa mãe de 4 filhos, aos 64 anos, faz parte da nova ge-ração de avós que ainda trabalham fora e que, por isso mes-mo, não são uma opção para cuidar dos netos.

Ou seja: as mães de hoje em dia podem optar cada vez menos por deixar seus filhos com os avós. Restam ainda as opções das babás e dos berçários.

A própria Betty, quando mãe, deixou o trabalho por 12 anos para cuidar dos 4 filhos. Não tinha sequer uma empre-gada, mas os tempos eram outros...

A psicóloga enfatiza que não condena em absoluto as mães que continuam trabalhando após terem filhos.

Acha que podem deixá-los aos cuidados de terceiros, mas que é absolutamente necessário que o façam sem sentir culpa.

“O berçário, digamos, é um mal necessário. O ideal seria que as crianças fossem para a escola com 3 anos, quando já podem elaborar a angústia da separação, que teoricamente sentem desde os oito meses. A criança tem muito medo de se separar da mãe, mas por volta dos 3 anos já é capaz de entender que a mãe sai, mas depois volta’, explica.

Porém, para muitas mães, o berçário é a opção mais tranquilizadora. E por isso mesmo deve ser feita sem cul-pa. “Senão, a maternidade vira um peso. Se a mãe sente culpa, a maternidade vira um peso e a criança vai perce-ber tudo isso. Essa mãe vai sentir dó dessa criança e de si mesma e não vai conseguir educar, não vai ter coragem de por limites”, analisa.

Para Betty, as mães devem procurar fazer do tempo em que estão com as crianças, os melhores momentos possíveis.

“A criança, através do seu corpo, capta tudo e incorpora. É algo properceptivo. Quando a mãe vai deixá-la no berçário, por exemplo, deve dizer - e falar com o coração - que vai deixá-lo, mas logo volta para buscá-lo. Se a mãe fica angus-tiada, a criança vai sentir essa angústia da mãe”

Essa coisa de tempo e qualidade é muito relativa, ressalta Betty. «A mãe que fica meia hora brincando com seu filho, mas tá pensando no trabalho, tam-bém não está presente».

Betty considera o tema tão profun-do, que recentemente resolveu contar suas próprias experiências no livro A Culpa é da Mãe, em que conta sobre os próprios erros na educação dos filhos e como aprendeu com eles. “Quem faz a gente ser mãe são os filhos”, comenta.

“Pensam que criei meus filhos de forma perfeita. Absolutamente, inclu-sive porque não se pode ser psicóloga dos próprios filhos... dei muita bronca, mas o importante é não se culpar. A gente não tem culpa daquilo que não sabe”, emenda.

Como escolherPara finalizar, Betty Monteiro faz questão de elencar algumas dicas para as mães que vão escolher um berçário para seus filhos:

– Se possível, que seja perto da sua casa pra você não ficar horas com a criança no carro, com fome e sem poder ser atendida;

– Que seja um berçário recomendado por outras mães;

– A mãe tem que visitar a escola em um dia, de surpresa, e ver como funciona e depois aparecer de vez em quando sem avisar também;

– Observar se a criança volta feliz da escola (brincar é um excelente sinal do bem estar infantil);

– Se a criança chora muito, durante um longo período de dias, quando vai ao berçário, não é bom sinal;

– Verificar se o berçário tem boa estrutura, incluindo nutricionista, enfermeira e médico;

– E principalmente saber se os cuidadores são pessoas afetuosas.

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Infância

Já neste ano, em 2013, o trabalho foi mais voltado a formações e discussão de muitos assuntos relacionados à prá-tica docente. Por exemplo, iniciamos com as professoras um curso de for-mação para refletir sobre Letramento.

“Nessa fase, crianças de 6 e 7 anos passam do brincar, valorizado na pri-meira infância, para uma proposta mais escolarizada, começam a cres-cer. Passam a sentar-se em carteiras, por exemplo, o que não é uma rotina na Educação Infantil. A ideia é que as professoras façam com que essa mu-dança não seja tão drástica, que seja aos poucos”, explica Priscila.

Para a pedagoga, “sempre tivemos um cuidado com este processo, mas, a cada ano, precisamos rever essa prá-tica, pois cada grupo constitui-se de uma maneira distinta do anterior e do próximo. É um processo”.

E acrescenta que “às vezes, a preo-cupação maior é da família, que precisa acreditar nas mudanças que seus filhos vão vivenciar e na tranquilidade possí-vel nesse momento tão importante”.

“às vezes, a preocupação maior é da família, que precisa acreditar nas mudanças que seus filhos vão vivenciar e na tranquilidade possível nesse momento tão importante”

Transição do Infantil para o Fundamental pode ser um caminho leve

Quando passou do Infantil para o Ensino Fundamen-tal, na cidade de Votorantim, a pedagoga Priscila Puccetti Rodrigues viveu uma experiência marcante. Com apenas 5 anos, ela teve uma transição tranquila, apesar de ter mu-dado também para uma escola bem maior do que aquela em que estava. Mas até hoje se lembra dos amiguinhos que choravam, com dificuldades de adaptação —“lembro até os nomes deles”, comenta.

“Era bem diferente de hoje, as professoras não eram prepa-radas para isso. Era um modelo antigo, e já na educação infan-til a linha era a da escolarização. E quem não era proficiente para a leitura, por exemplo, acabava sendo excluído, e muitas vezes até saia da escola”, recorda.

Ela ainda se lembra da cartilha que usava — A Toca do Tatu — de quantas histórias a mãe e a avó contavam, da-queles enredos inventados, palavras que flutuavam sobre o mar doce da imaginação – “Lia o mundo e nem sabia que o fazia”, esse processo hoje é conhecido como letramento, que está ligado à prática social da escrita.

Toda essa história só poderia ter dado no que deu, con-ta Priscila: formada em Pedagogia e em Letras, e algumas especializações na área da Educação e é co-autora do livro Histórias Mínimas, com Celso Antunes. Na Unesp (Univer-sidade Estadual de São Paulo), campus de Itapeva, atua em um curso de especialização como orientadora das professo-ras alfabetizadores.

Sua irmã também é professora e Priscila a considera exemplo e modelo em sua formação. “Tudo isso foi me dan-do repertório, e sem repertório a gente não cria”, comenta.

De formanda a formadoraVinte anos depois da experiência que viveu na escola,

Priscila trabalha hoje justamente com esse processo de pas-sagem das crianças de 6 a 7 anos, do Ensino Infantil para o Fundamental, no Objetivo Sorocaba.

O trabalho começa com as docentes do 2º ano, pois a Educação Infantil tem uma proposta diferenciada do Fun-damental, ela lembra.

Questionada sobre a cisão que se dá entre o tempo de brincar e o de apren-der, Priscila explica que hoje faz-se de tal modo que isso não se acentue e nem seja um momento de ansiedade. E lem-bra o poeta Manoel de Barros, que es-creveu: “O mundo não foi feito em alfa-beto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore. Depois lagartixas. Apare-ceu um homem na beira do rio. Apare-ceu uma ave na beira do rio. Apareceu a concha. E o mar estava na concha. ...”

No trabalho com docentes, Prisci-la conta que “no ano de 2012 promo-vemos um encontro entre as profes-soras de 1º e 2º anos. para dialogar sobre suas especificidades. Esse é um dado importante, pois é nessa conver-sa que entendemos um pouco mais sobre nossos alunos. Sabemos que é momento delicado, o professor precisa estar preparado para isso. A mudança precisa ser pensada e avaliada por to-dos envolvidos neste processo”, relata.

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Manifestações nas ruas do país

marcam uma nova era

O ano de 2013 passa a fazer parte da História do Brasil de maneira marcante. Manifestações surgiram para protes-tar contra os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Além da força do movimento, duas questões fizeram com que a população envolvida se avolumasse: a repressão violenta e despropor-cional por parte da polícia. E a disseminação das informa-ções em tempo real, através das redes sociais.

Assim, as mobilizações se espalharam por todo o país. Até mesmo no exterior, manifestos de apoio aconteceram. Os temas se ampliaram: gastos públicos, corrupção, refor-ma política, saúde, mobilidade urbana e educação passa-ram a gerar discussões.

Consideradas as maiores manifestações populares reali-zadas no Brasil desde as mobilizações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, as inicia-tivas populares fizeram com que o governo brasileiro anun-ciasse várias medidas para tentar atender às reivindicações dos manifestantes, entre as quais, tornar a corrupção como um crime hediondo, arquivar a chamada PEC 37 e proibir o voto secreto, no caso de se cassar o mandato de legisladores acusados de irregularidades. E a revogação do aumento das tarifas nos transportes, em várias cidades do país.

O fato de as manifestações alcançarem enorme expres-são nas redes sociais, especialmente no Twittter e no Facebook, trouxe a necessidade de inúmeras análises por parte de es-tudiosos, que atentam também para a falta de lideranças e outras características peculiares desse momento político.

A Y reúne aqui algumas dessas análises.

Sociedade

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“A classe média descobriu a brutalidade policial que os pobres e negros nunca ignoraram. Polícia tornou-se um dos temas chave, nas ruas”

Luiz Eduardo Soares, sociólogo e professor da UERJ, no site www.geledes.org.br

“Minha proposta é a de organização de outro tipo de movimento. Um que use plataformas digitais para construir propostas. Ele não precisa de líderes. Não tem nome nem endereço. Não pode ser cooptado. É invisível e onipresente. Sua ordem se baseia em reputação, não em cargo. No discurso competente, não no outorgado. Um presidente e um faxineiro têm, nele, o mesmo direito à expressão. Vence quem tiver melhores argumentos.”

Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos, no site www.boainformacao.com.br

“O movimento não tem uma liderança e não poderá ser rotulado ou vencido. A grande arma do movimento é não ter identidade. O que o torna absolutamente livre, plural, heterogêneo e capaz de, a qualquer momento, ressurgir e enfrentar novas formas de contraposições”

Massimo Di Felice, sociólogo italiano e pós-doutor pela Universidade Sorbonne – Paris V, no site www.defatoonline.com.br

“Na Espanha, saem às ruas para protestar pelo que perderam. Aqui, saem para pedir o que ainda não têm e que acham que têm que ter”.

Juan Arias, correspondente no Brasil do jornal El Páis, da Espanha, no www.g1.com.br

“Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância.”

Antonio Prata, escritor, na Folha de São Paulo www.folha.uol.com.br

”Esse fato das multidões nas ruas me faz lembrar a peça teatral de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes escrita em 1975: A Gota d’água. Atingiu-se agora a gota d’água que fez transbordar o copo. Os autores de alguma forma intuíram o atual fenômeno ao dizerem no prefácio da peça em forma de livro: “O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro…Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira”

Leonardo Boff, teólogo e filósofo, é também escritor, no www.jb.com.br

Um dos méritos é tornar os jovens protagonistas

Analistas sociais têm destacado que um dos aspectos mais importan-tes das manifestações populares que vêm ocorrendo neste ano, no Brasil, é fazer dos jovens protagonistas da So-ciedade e da História.

Alunos do Objetivo Sorocaba têm essa experiência de protagonismo po-lítico, como, por exemplo, através da participação, neste ano, da nona edição do Fórum Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) de Discussão Estu-dantil. O tema central foi “Um Mundo de Possibilidades”, entre 29 de maio e 2 de junho, em São Paulo.

O evento reproduz o ambiente da ONU e a escola participou com uma delegação formada por 13 alunos do Ensino Médio e dois professores orien-tadores – André Algibur e Ubirajara Ra-mos – e representou a Federação Russa. “Em 2005, estivemos na primeira edi-ção do Fórum Faap. Foi uma honra ter voltado nesse ano”, contou o professor

André. “Essa atividade é um destaque para o eixo protagonismo, um dos pi-lares educacionais da escola”, afirmou.

As estudantes Helena Nogueira e Mariana Kawachi pontuaram o valor da atividade para o futuro. “Percebi o quanto as pesquisas me ajudaram nos debates, que serão importantes na hora de estudar para o vestibular”, lembrou Helena. “Essa oportunidade será muito útil em diversos momentos; principalmente no vestibular, pois pu-demos avaliar o nível dos concorren-tes”, ressaltou Mariana.

Para todos os alunos, a experiência foi única. O contato com colegas de ou-tras escolas e a defesa das suas ideias foram os pontos altos do fórum. “Obser-vei como os veteranos se comportam e percebi que estou preparada. O que aju-dou a me sair bem nos debates foi a au-toconfiança”, comentou Giovanna Zalla.

“O que mais me impressionou foi a cultura dos outros participantes e a chance de fazer novos amigos”, des-tacou Luciano Zago. “A participação no Faap me ajudou a escolher qual

carreira quero seguir”, assegurou Dé-bora Graziosi.

De acordo com os estudantes De-borah Marinoni, Rodolfo Espinosa, Na-thália Marcom e Maria Clara Luques, o encontro contribuiu para formar valores que levarão para toda a vida. “Aprendi a debater e a impor minha opinião, mas sempre respeitando o próximo”, ponderou Nathália. “Perdi a vergonha de falar em público, além de aprender a ouvir e a respeitar outras ideias”, disse Deborah.

Já a participante Helena Oliveira confessou que não conseguiu sobre-por os interesses do país que defendeu (Federação Russa) aos seus princípios e valores pessoais: “Na hora, minhas ideias falaram mais alto”.

A aluna Miriam Algarra foi premia-da entre as três melhores do comitê de Direitos Humanos e garantiu que fez o possível para levar propostas inovado-ras. “A minha capacidade de argumen-tação me deu mais confiança. Pude treinar minhas falas e percebi o quan-to gosto da área de direitos humanos.”

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As noites de segunda-feira

nunca mais foram as

mesmas em Sorocaba...

Cultura

Era uma vez, em Sorocaba, um grupo de jovens em So-rocaba que, em vez de ficar elencando as diversas pedras no meio do caminho que teriam de enfrentar para transformar a maneira de fazer, produzir e divulgar cultura em sua cidade, resolveram simplesmente começar, sem colocar obstáculos na frente das ações. As armas para dar o “start” a essa trans-formação? Dois geradores, que custaram R$ 800,00 — valor captado, por meio de “vaquinha”, entre oito bandas amigas. Estava dada a largada ao projeto “Guerrilha Gerador”, nome com o qual foi batizada a ação que consistia em fazer do es-paço público um... espaço público. Um local vivo, pulsante, em que a convivência entre os cidadãos se desse em torno da música. Foram vários shows em diversas praças de Sorocaba, da região e até da capital (uma apresentação emblemática foi realizada durante a Virada Cultural de 2010). Bastava chegar, ligar os instrumentos musicais aos geradores e o espetáculo já podia começar e prosseguir até o fim do show ou até que a polícia chegasse para dar fim ao “terrorismo poético”. Aliás, por mais contraditório que possa parecer, a polícia se tornava

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você que lê esta matéria, usa a sua energia produtiva para realizar algo em que realmente acredita, ou desempenha alguma função apenas para ganhar dinheiro e, nas poucas horas que lhe sobram, usa esse dinheiro para ser você mes-mo e fazer aquilo em que realmente acredita?

Enfim, esses jovens de vinte e poucos anos tiveram co-ragem de enfrentar esse primeiro grande inimigo: o inimi-go íntimo e passaram a apostar suas fichas, criatividade e energia em algo em que realmente acreditassem. Pode até parecer um pensamento fácil e óbvio ou mesmo conversi-nha de autoajuda (do tipo: faça o que o seu coração man-dar), mas basta alguma reflexão para entender que esse é um dos grandes dramas da sociedade contemporânea: co-locar vida e trabalho como valores dicotômicos.

Bom, e foi assim, fazendo de um projeto de vida um pro-jeto profissional, que oito jovens formaram o Rasgada Co-letiva, cujo objetivo é produzir e divulgar cultura em suas mais diversas linguagens, promovendo shows, debates, pro-jeções de cinema, saraus, esquetes teatrais...

Atualmente, o carro-chefe do Rasgada é uma das noites culturais mais badaladas da cidade: o “Carne de Segunda”. O evento ocorre todas as segundas-feiras e traz as mais di-versas atrações: de moda de viola a punk rock, de teatro de boneco a teatro butô, de filmes undergrounds a filmes in-fantis, passando por saraus e exposições. São bandas e ar-tistas da cidade, mas também da região, de outros estados e até países: pelo “Carne de Segunda” já passaram músi-cos russos, belgas, argentinos, norte-americanos, chilenos, franceses, uruguaios e indianos (com direito a turbantes!). O evento acabou por se tornar, no Brasil, um centro de re-ferência para bandas que estão fora do “mercadão comer-cial” e que querem ter uma oportunidade de mostrar seu som a um público apto e interessado e propostas novas.

O legal é que o som do “Carne de segunda”, do “Guerrilha Gerador” e de outras ações do Rasgada ecoou pela ci-dade e as ideias cultivadas pelo coleti-vo acabaram por chamar a atenção do poder público. Tanto que nas últimas eleições municipais da cidade, alguns candidatos e representantes dos can-didatos à prefeitura de Sorocaba pas-saram pela sede do coletivo para apre-sentar suas propostas e ouvir o que os jovens tinham a dizer. Aliás, assim que a nova Secretaria de Cultura foi empos-sada em Sorocaba, o grupo foi convida-do para uma conversa, para falarem sobre suas propostas e como estavam trabalhando cultura na cidade. A partir dessas conversas com o poder público, firmaram parcerias e hoje coordenam diversas oficinas culturais voltadas para jovens do município, dentro dos espaços dos Territórios Jovens da ci-dade. Também desenvolvem projetos educacionais em Araçoiaba da Serra.

E, hoje, o Rasgada Coletiva, que nasceu e se desenvolveu de um modo original e paralelo ao sistema vigen-te, acaba por ser um exemplo bem sucedido para o próprio sistema: sim, é possível gerir a cultura de maneira diferente. Sim, existem jovens que querem e arregaçam as mangas para mudar o mundo.

um personagem imprescindível para a narrativa e apenas reiterava (e, agora, sob o olhar de uma plateia): sim, é pre-ciso mudar o mundo.

Mas, talvez, o primeiro grande embate desse grupo de jovens tenha ocorrido mesmo na esfera íntima. Para fazer o que realmente se acredita, foi preciso deixar o emprego para trás para se dedicar ao projeto cultural, ou melhor, ao projeto de vida. Era preciso quebrar essa dicotomia entre “empre-go X vida”. Para melhor exemplificar a ideia ao leitor, fica a pergunta: hoje,

Cultura

Banda INI no Projeto ‘Guerrilha Gerador’, na Virada Cultural 2010. Foto: Gabriel Colombara.

Uma noite no Carne de Segunda. Foto: Mariana Hungria.

Encenação da esquete teatral no Carne de Segunda. Foto: Tatiana Plens.

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Da rua aos grandes palcos

Com criatividade e ousadia, Coletivo O12, de Votorantim, trilha caminho de sucesso na dança contemporânea. Grupo, que come-çou fazendo ensaios em uma praça pública, hoje tem entre seus entusiastas críticos de arte e consultores da ONU

O Coletivo O12 não sabia que era impossível, foi lá e fez. Jean Cocteau que perdoe a adaptação de sua célebre frase, mas parece que o encaixe é bem apropriado ao grupo de dança contemporânea de Votorantim.

Com cinco anos de trajetória pelos caminhos nada fá-ceis de se produzir arte no país, o O12 começou em 2008 com um sonho e 12 jovens (metade deles já profissionais da dança e com experiências inclusive fora do país). E quando dizemos “jovenzinhos”, estamos falando numa turma em que o mais velho tinha 19 anos (o mais novo tinha 15 anos de idade).Pra se ter uma ideia, nem mesmo uma sala para ensaiar eles tinham. Mas isso não foi problema: uma mar-quise que existia na Praça de Eventos Lecy de Campos, em Votorantim, foi a solução inicial. Pois bem, e foram esses mesmos jovenzinhos que ensaiavam intensamente na pra-ça pública que, em menos de um ano de formação do grupo, foram selecionados para o Festival Contemporâneo de Dança de São Paulo (de caráter internacional) com o espetáculo “Mãos sujas de tinta e algumas ideias de dança”. O trabalho, que foi apresentado na Praça da República, na capital, chamou a atenção da crítica e o grupo estampou a página de uma das mais requisitadas publicações de cultura do país: o Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo. O texto, da crítica de dança Helena Katz, não escondia a boa surpresa causada pelo gru-po que acabava de estrear.

A poética do espetáculo selecionado dialogava exata-mente com o espaço dos ensaios: ou seja, a rua e todos os acasos que acabavam por interferir na performance dos bailarinos – transeuntes, bêbados, cachorros, buzinas, car-ros de som, carrinhos de catadores de papel... “A gente não pode ignorar as condições de produção. Produzir na rua é muito diferente do que produzir em um teatro, em que se tem um espaço fechado, sem ruídos externos, sem interfe-rências. Na rua é diferente, e o corpo tem que ter essa es-cuta”, pontua Thiago Alixandre, que está no coletivo desde sua fundação.

Mas para conseguir viabilizar mais projetos – como tra-zer convidados para workshops – e também para não ter mais que depender dos humores de São Pedro para man-ter ou cancelar os ensaios, o grupo prosseguiu em busca de

um espaço até que, em 2009, em uma parceria com a Secretaria do Meio Am-biente de Votorantim, conseguiram uma sala dentro do Parque do Matão, onde estão instalados até hoje. O lo-cal virou palco de diversos espetácu-los e ações coordenadas pelo grupo. Como para o O12 é importante que o projeto em desenvolvimento dialogue com o ambiente em que é produzido, a questão ecológica passou a ser uma temática de extrema relevância ao co-letivo, que criou diversos trabalhos de educação ambiental, levando, ao local alunos de várias escolas e também a comunidade em geral.

Além dessa parceria com o poder público, o grupo, logo em seu início, também foi atrás de parcerias com o setor privado. Uma das estratégias uti-lizadas pelo grupo tinha tudo para dar errado: ou você, caro leitor, acreditaria ser possível solicitar apoio financeiro de pessoas para a manutenção de um grupo de dança contemporânea? Mas, como eles não sabiam que era impos-sível.... Pois é, depois de mandarem

um email para críticos de arte, produ-tores, professores universitários e ou-tros entusiastas da arte conseguiram formar uma associação de amigos do O12 com 50 pessoas doando mensal-mente R$ 100 para que o grupo pu-desse continuar a desenvolver seus projetos. Tinha até incentivador da Alemanha! Hoje, são 22 que estão na associação e outras diversas pessoas que fazem doações esporádicas (se você está interessado, pode entrar em contato pelo site www.coletivoo12.com.br). O grupo faz questão de man-ter os doadores informados dos gastos feitos com a arrecadação.

Parte desse dinheiro arrecadado é utilizado para o desenvolvimento de projetos apresentados a editais de in-centivo à cultura. Nesses cinco anos de carreira, o grupo já foi agraciado por quatro prêmios federais pelo Ministé-rio da Cultura. Hoje, o O 12 conta com Preta Ribeiro e Tati Almeida, além de Thiago Alixandre. Esse é o núcleo do grupo, mas há diversos artistas parcei-ros nos projetos do coletivo.

Arte e ciência num mesmo bailado

Um dos pontos-chaves na pesquisa do O12 é ligar arte e ciência. Para isso, os artistas-pesquisadores estudam muito: filosofia, psicologia, psiquiatria, semiótica... Aliás, uma das principais referências do grupo é um astrofísico. Sim, um astrofísico! Trata-se de Jorge de Albuquerque Vieira, professor da PUC. O espetáculo “Quando se des-prendem as partes” foi inspirado em li-vros do astrofísico, que, aliás, é um dos incentivadores do grupo.

Outro grande momento do coletivo foi o espetáculo “Game Cênico” (que inclusive já foi apresentado no colégio Objetivo Sorocaba). Ao invés de partir do pressuposto de que o público está despreparado para a arte contemporâ-nea, o O12 fez o caminho inverso nesse trabalho: será que a arte está prestan-do a atenção em seu público? O resul-tado é um espetáculo absolutamente dinâmico, com cenas surgindo de três

em três minutos. Ao mesmo tempo em que os bailarinos dançam no palco, os espectadores são convidados a inte-ragir, mandando mensagens de texto pelo celular ou mesmo através das re-des sociais como o Facebook.

A estreia de “Game Cênico” foi tam-bém muito marcante para o coletivo O12. O grupo transformou uma pedrei-ra de Votorantim, que se encontrava absolutamente abandonada (com mato alto, lixo e sendo utilizada como ponto de consumo de drogas) em palco. A ini-ciativa chamou a atenção da consulto-ra da Organização das Nações Unidas (ONU), Ana Carla Fonseca, que desen-volve uma pesquisa sobre cidades cria-tivas. Além da beleza do local – que era um antigo ponto de extração de calcá-rio -, a acústica é bastante interessante. Fora isso, a localização é privilegiada, na região central de Votorantim. Depois de “Game Cênico”, a Pedreira de Icatu foi palco de outras diversas atividades do grupo. Ana Carla, inclusive, esteve no local e ministrou palestra durante atividades desenvolvidas pelo coletivo.

Cultura

Coletivo O¹² Foto: Rogério Ortis.

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Girls Rock Camp Brasil: uma legítima atitude rock and roll

Uma garota do alto de seus 7 anos de idade empunha uma guitarra cor de rosa e se ajoelha no chão dedilhando, com atitude, as cordas de seu instrumento, tal qual uma estrela de rock. A imagem, além de fofa, é muito representativa para co-meçar a descrição sobre a proposta encabeçada pelo Girls Rock Camp Brasil, projeto promovido no começo deste ano, pela primeira vez na América La-tina, mais precisamente em Sorocaba.

A experiência, ocorrida em apenas cinco dias de janeiro, com certeza fará diferença na vida das 60 meninas que participaram do acampamento diur-no e também das 52 voluntárias que viabilizaram o desenrolar do projeto, coordenado por aqui pela socióloga e guitarrista Flávia Biggs.

A ideia central do Girls Rock Camp Brasil é oferecer aulas de guitarra, bai-xo, teclado, vocal e bateria para me-ninas de 7 a 17 anos. Mas, durante as atividades, muito além de instrumen-tos musicais, guitarra, baixo, teclado e bateria se revelaram também como instrumentos de transformação de postura perante a vida.“A ideia é tra-balhar o empoderamento feminino por meio da música, do rock”, resume Flá-via, que diz que o rock, nesse caso, é muito mais pensado como atitude do que como gênero musical em si.

Além das aulas de música, as meni-nas participam de oficinas de serigra-fia e fanzine. Também estão na pauta discussões e reflexões sobre imagem e identidade. “Falamos de como filtrar os padrões de comportamento e beleza tão disseminados pela mídia”, comple-ta Flávia. Aliás, até noções de defesa pessoal estão entre os ensinamentos propostas no Girls Rock Camp Brasil.

O evento realizado aqui em Soroca-ba é uma ramificação de um projeto que acontece nos EUA desde 2001 (outros países, como Inglaterra e Canadá, tam-bém realizam o Girls Rock Camp). Foi nos EUA que Flávia Biggs entrou em contato pela primeira vez com a proposta, quan-do, em 2005, participou como monitora de um Girls Rock Camp, em Portland. “Fi-quei encantada com o projeto e pensei: nossa, temos que fazer isso no Brasil. Era incrível como eles trabalhavam a questão do protagonismo feminino, a autoestima das meninas”, completa.

Assim que voltou ao Brasil, Flávia tratou de colocar em prática seus so-nhos: o primeiro passo foi promover oficinas de guitarras para meninas em Sorocaba, região e até capital. Mas foi em 2012, após muitas oficinas bem-sucedidas, que Flávia decidiu dar um passo mais largo: estava mais do que na hora de promover o primeiro Girls Rock Camp no país. As redes sociais fo-ram imprescindíveis para disseminar as ideias e atrair voluntárias para em-barcar no processo. Para surpresa de Flávia, em pouquíssimo tempo, mais de 100 pessoas se inscreveram para voluntárias do projeto. “Gente de todo o Brasil e até da Argentina”, comenta. Para selecionar o grupo que trabalha-ria, Flávia empreendeu um criterioso processo seletivo. “Privilegiamos pesso-as que têm ligação com criança e que tem algum envolvimento com música.”

Apesar do enfoque em música, Fla-via tem bastante claro que a ideia do

Girls Rock Camp Brasil não é formar musicistas, mas sim des-pertar nessas meninas a autoestima e que elas se sintam mais fortes para passar por uma fase tão importante que é a adolescência. “A gente quer plantar uma sementinha de ati-tude libertadora nessas meninas. A gente quer mostrar que cada uma tem sua identidade e que é importante valorizar o seu eu. E foi impressionante ver os resultados que con-seguimos nessa primeira edição. Vi menina tímida que em 5 dias se transformou em uma menina empoderada, mais segura de si.”

Para fechar o Girls Rock Camp Brasil 2013 com chave de ouro, as meninas que participaram do projeto formaram suas bandas (nove, ao total) e fizeram uma apresentação no bar Asteroid. “Foi a coisa mais linda do mundo”, ressalta Flavia.

Todas as emoções desses cinco dias de atividades estão registradas — inclusive a menininha citada no início deste texto que arrasa com sua guitarra cor de rosa — em um documentário que deve ser lançado ainda este ano. Agora, Flávia já trabalha nos preparativos da segunda edição do Girls Rock Camp Brasil, que acontecerá no ano que vem. Veja mais no site: www.girlsrockcampbrasil.org.

Aliás, se a intenção de Flavia era plantar uma semen-tinha de atitude nessas meninas, algumas já brotaram e o fruto não poderia ser outro: rock and roll. Três bandas sur-gidas no Girls Rock Camp Brasil — Lady Girls, Power Girls e Framboesas Radioativas — foram destaque nas comemora-ções do Dia Internacional da Mulher em Sorocaba.

“Privilegiamos

pessoas que

têm ligação

com criança e

que têm algum

envolvimento

com música.”

Cultura

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VENHA FAZER PARTE DELE. OBJETIVOSOROCABA.COM.BRO FUTURO É SEM LIMITES

O Objetivo Sorocaba tem como um de seus eixos educacionais o protagonismo.Uma escola onde cada aluno é o protagonista das suas conquistas e descobertas.

Aqui, crianças e jovens recebem apoio a suas próprias produções, o que lhes dá condições de empreender projetos particulares e sociais, estimulando sua criatividade,

seu pensamento crítico, sua autoria e a consciência de seu poder de transformar realidades.

Faça parte da geração que está mudando o mundo.Conheça um lugar onde o futuro é sem limites.

FUTURO SEM LIMITES

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Literatura

Leio, logoaprendo

A revista Y traz quatro sugestões de livros para quem deseja qualidade, quando dedica seu tempo para a leitura. São obras escolhidas pelo professor de Português e Literatura do Objetivo Sorocaba, Nelson Fonseca Neto.

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“Os ratos” Dyonelio Machado

Imaginem que a literatura brasileira é um mapa. Imaginem que cada autor é um país. Imaginem que o tamanho de cada país é proporcional à fama de cada escritor. Imaginando assim, Machado de Assis é do tamanho de um continente. A mesma coisa para Graciliano Ramos. Pena que muitas vezes só olhamos para as grandes potências. Deixamos as ilhazinhas de lado. Dyonelio Machado é uma ilha a ser explorada. Meio escritor, meio psiquiatra, escreveu, em 1935, o romance breve “Os ratos”. Há vários bons romances que mexem um pouquinho conosco. Vocês conhecem a situação: nos momentos da leitura, o livro empolga; mal percebemos o tempo correr; terminada a leitura, lamentamos; mas, poucos dias depois, esquecemos a obra. Garantimos que isso não ocorrerá com “Os ratos”, romance de menos de 200 páginas, que acompanha, pelas ruas de Porto Alegre dos anos 30, o desespero de Naziazeno Barbosa, funcionário público de baixo escalão apertado por dívidas que colocam em risco sua família. O livro nos derruba. Pudera: seguimos as 24 horas das andanças de Naziazeno com o coração apertado e com a boca amarga. É que as miudezas ganham proporções épicas. O pouco dinheiro que Naziazeno deve ao leiteiro transforma-se, pelas mãos de Dyonelio Machado, em fortuna. Andar de bonde vira pesadelo. Encontrar um conhecido na rua é um desastre. A fome aperta. A boca fica seca. Um copo de água é a redenção. Os ratos podem roer o dinheiro duramente obtido. Nunca é demais lembrar que “Os ratos” foi escrito na década de 30, período em que romancistas como Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Raquel de Queirós olharam com lucidez e compaixão para os “pobres diabos” do Brasil. Não é à toa que “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, foi escrito nos anos 30. Interessante notar que “Vidas secas” e “Os ratos” são irmãos literários. O primeiro mostra a família de Fabiano tentando escapar do sertão e sonhando com a cidade grande. O segundo, Naziazeno encurralado na metrópole. Recomendamos a leitura de “Os ratos” para aqueles momentos em que tentamos fechar os olhos para a realidade que nos cerca.

“A comédia humana”Balzac

Estamos, aqui, diante de uma construção descomunal, daquelas que desnorteiam o observador e fazem surgir a seguinte pergunta: é possível alguém, sozinho, escrever uma coisa dessas? Foi possível para Balzac, símbolo máximo do extenuante ofício da escrita. “A comédia humana”, milhares de páginas reunidas em 17 volumes, não assombra apenas por seu volume. Balzac - e aqui nos deparamos com um dos traços de sua genialidade -criou uma série de vasos comunicantes que ligam uma parte a outra na vastidão que é “A comédia humana”. Por exemplo, uma personagem que aparece apenas de passagem num romance, passa a ser protagonista noutro. E o espantoso é que esse procedimento é repetido inúmeras vezes ao longo da obra. Claro que, por si só, isso não garantiria Balzac entre os grandes da literatura de todos os tempos. Balzac é gigante porque, aliada à técnica literária inovadora, encontramos nele a observação minuciosa da sociedade — a França da primeira metade do século XIX — do seu tempo e a análise dos impulsos do homem. Não recomendamos a leitura de “A comédia humana” em períodos de muitos afazeres. Recomendamos o corpo a corpo com Balzac em períodos de férias. Balzac merece dedicação exclusiva.

Esses livros estão disponíveis

nas grandes livrarias e

nos sites que comercializam

literatura, entre eles o

www.estantevirtual.com.br, que

reúne inúmeros sebos do Brasil.

“200 crônicas escolhidas” Rubem Braga

A crônica é um gênero literário sofredor. Não tem o prestígio do romance ou da poesia. Está associada a uma prática mais leve e inofensiva. Dá para entender o porquê. Normalmente, a crônica usa o jornal ou a revista como plataforma. Precisamos, no entanto, tomar cuidado com os julgamentos precipitados. A crônica pode, dependendo de quem a escreve, ser duradoura. É a arte de extrair ouro do cotidiano trivial. Neste aspecto, o Brasil é um país privilegiado. Entre o final do século XIX até os dias de hoje, vimos surgir vários cronistas de primeira grandeza: Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio, Manuel Bandeira, Drummond, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Antonio Maria, Nelson Rodrigues etc. Sempre é complicado estabelecer hierarquias entre autores. Muita coisa depende do temperamento de quem avalia. Eu posso achar Drummond o maior poeta nacional; outra pessoa, Manuel Bandeira. Na crônica brasileira, fato raro, não há muita margem para polêmica: Rubem Braga é o nosso maior cronista. Nas duzentas crônicas escolhidas pelo autor, ajudado por outro gigante, Fernando Sabino, encontramos uma excepcional panorâmica de sua obra. Destacamos, aqui, “A borboleta amarela”, texto em que o autor, carregado de preocupações, se vê seguindo uma borboletinha pelas ruas do Rio de Janeiro. É o ouro que Braga nos entrega. Pode-se ler uma crônica de Rubem Braga por dia. De preferência, logo pela manhã. Fica mais fácil enfrentar esta vida bandida.

“Contos reunidos” João Antônio

Não é nenhuma novidade afirmar que o prestígio literário varia de tempos em tempos. Houve um período em que, por exemplo, Anatole France era leitura obrigatória nos círculos cultos. Hoje, Anatole ocupa uma nota de rodapé. No Brasil, por muitos anos, Nelson Rodrigues era visto como um escritor menor. Hoje, merecidamente, é um dos nossos gigantes. Um processo interessante se deu com João Antonio. No início da carreira, final dos anos 50, despontou como um escritor digno de atenção. Desfrutou, por alguns anos, dessa fama. Depois, nos anos 80, 90 e início de 2000, pouco se falou de João Antônio. Felizmente, entre o final dos anos 2000 e o início de 2010, sua obra voltou a despertar interesse. Temos, aqui, um bom exemplo de justiça literária. Impossível excluir os contos de João Antonio do mapa da literatura brasileira. Encontramos, nesses escritos, o olhar afiado e carinhoso para os pobres e ofendidos das grandes cidades, notadamente a cidade de São Paulo. Não é disparate afirmar que João Antônio, seguindo as pegadas de Mario de Andrade e Oswald de Andrade, foi o autor que melhor capturou a alma paulistana. Percorrendo os inferninhos e bocas do lixo, João Antônio dá vida a marginais, malandros, prostitutas, cafetões, mendigos, menores abandonados, bandidinhos e bandidões. Em suma, personagens para os quais costumamos fechar os olhos. Trata-se de exercício ousado de humanismo. Reconhecemos que, nos contos reunidos de João Antônio, há oscilações. Mas isso é parte do jogo. Praticamente impossível encontrarmos autores que só escrevem obras primorosas. Tem mais: quem escreve “Malagueta, Perus e Bacanaço”, “Abraçado ao meu rancor” e “Paulinho Perna Torta” merece todos os louvores. Recomendamos a leitura dos contos de João Antonio para os momentos em que bate aquela tentação besta de sair eliminando tudo que não for higiênico e bonitinho no cenários das grandes cidades.

Literatura

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Fause Haten:Uma trajetória guiada por sonhos e, especialmente, por realizações

Lições de vida

Quando Fause Haten tinha 16 anos, cismou que queria viajar para fora do Brasil. Embora tenha tido o apoio da fa-mília, ficou certo que os custos da empreitada ficariam por conta dele. Isso serviu de estímulo, ele diz.

Filho de imigrantes libaneses que montaram uma con-fecção no Brasil, ele não teve dúvidas e optou pelo mesmo ramo, passando a costurar para juntar esse dinheiro. Um ano depois, seguia viagem.

E esse aspecto do planejamento norteia até hoje a vida desse profissional, que se denomina um performer, juntando as funções de estilista, figurinista, ator, cantor.

Para toda essa trajetória, não faltou tenacidade, mas, com um rigor mais direcionado à realização dos sonhos do que aos padrões pré-estabelecidos.

Para se ter ideia, Fause iniciou quatro faculdades — Administração de Empresas, Comércio Exterior, Ar-quitetura e Belas Artes — mas não concluiu nenhuma delas.

Paralelamente, empreendia — e muito. E esse aspecto mesmo é que interferia nos estudos — “era muito lento, quando o ritmo do trabalho já estava acelerado”

Para os estudos, voltou anos mais tarde, quando fez o curso técnico de Moda da Anhembi Morumbi, que an-tecedeu o curso superior do mesmo tema, na mesma instituição. E mais: a partir de 2006, estudou 4 anos de te-atro na Escola Célia Helena, uma das mais bem conceituadas no país.

Na última edição do São Paulo Fashion Week (SPFW), a semana de moda mais importante do país, Fau-se surpreendeu ao realizar um desfile com marionetes - cada uma repre-sentando uma modelo famosa e ain-da a atriz Julianne Moore e a cantora Maria Rita. Foi uma das maiores ino-vações do SPFW.

Outra empreitada recente dele foi lançar-se como cantor e já tem dois CDs no mercado - CDFH e Vício. Mas quem pensa que as coisas aparecem ‘do nada’ na vida desse filho de imi-grantes, engana-se. Ele estudou piano ainda pequeno e quando decidiu que a música ia fazer parte de sua vida foi estudar canto lírico.

Também não são poucos os mu-sicais para os quais Fause Haten tem feito o figurino - entre eles, O Médico e o Monstro, A Madrinha Embriagada, O Mágico de Oz e Mônica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta.

Com todos esses êxitos, Fause, que diz que “não tem idade”, acha que o ônus colocado sobre os jovens hoje em dia é muito pesado – “precisam ser ven-cedores, não é isso que importa. Impor-ta é que saibam que suas atitudes sem-pre reverberam, a vida é assim. Tudo tem resultados. E que saibam princi-palmente que são fortes o suficiente para estarem na vida, para seguir em frente. Quando executarem um sonho, um projeto, partam pra outro”.

É assim que ele próprio funciona, numa sucessão, cada dia de uma vez, realizando planos curtos.

Organizado, Fause diz que tem tudo planejado – neste momento, para o prazo de pouco mais de um ano aproximadamente. Mas, no meio do caminho, pode ter novas ideias, criar mais. Porém, o seu maior trunfo — ele insiste em dizer — não é tanto o fato de ser criativo, mas o de executar suas próprias ideias.

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“Arremesso para o Amanhã” formando craques da vida

Esportes

Ao longo de dezesseis anos de existência, o projeto Ar-remesso para o Amanhã já atendeu cerca de mil crianças e adolescentes em Sorocaba. Atualmente, são 150 alunos que, de duas a três vezes por semana, dedicam um período do dia à prática do basquete. Mas, muito além de treinarem os arremessos na cesta, o projeto trabalha o potencial do esporte em muitas outras facetas. “Aqui a gente também está preocupado com a formação do caráter desses garotos. E o esporte pos-sibilita isso”, reitera Rinaldo Rodrigues, coordenador do projeto e também trei-nador da Liga Sorocabana de Basquete.

Rinaldo explica que a prática de um esporte possibilita passar lições de dis-ciplina, dedicação, senso de coletivida-de, equilíbrio emocional e outros apren-dizados que podem ser usados na vida de qualquer pessoa, independentemen-te de que carreira seguirá no futuro. “A gente também acompanha o desempe-nho deles no colégio e sempre estamos de olho no boletim”, completa Rinaldo.

Projeto voltado ao ensino do basquete já atendeu cerca de mil

crianças e adolescentes em Sorocaba. Muito mais do que ensinar

essa modalidade esportiva, o objetivo é trabalhar na formação

ética dos indivíduos

Os alunos frequentam as aulas gratuitamente e os professores são voluntários do projeto. “Os atletas da Liga Sorocabana de Basquete são professores do projeto. E acho esse convívio dos garotos com os atletas fundamen-tal. Essa integração é muito estimulante aos que estão co-meçando”, acrescenta.

Diego Gomes, de 22 anos, é um bom exemplo surgido no projeto Arremesso do Amanhã. O atleta começou no projeto por influência do irmão. Hoje, ele é um dos jogadores da Liga Sorocabana de Basquete e um dos professores do Arre-messo para o Amanhã. “O projeto nos ensina a ter respon-sabilidade na vida, a ter foco. Foi fundamental para a minha formação”, explica. “Eu sempre falo pro pessoal que está co-meçando: eu sempre sonhei em jogar profissionalmente. Se a gente unir a força do sonho com a determinação e muito treino, a gente consegue realizar o sonho”, ressalta o jovem, que diz que dar aula para os mais novos é, além de mui-to gratificante, uma experiência de aprendizagem. “A gente sempre aprende com eles.”

Assim, como Diego Gomes, outros atletas profissionais surgem do projeto Arremesso para o Amanhã. “O projeto foi fundamental para popularizar o esporte na cidade”, pontua Rinaldo.

As aulas ocorrem no Ginásio Municipal e são voltadas para garotos de 8 a 14 anos de idade. Os interessados em participar desse projeto podem comparecer ao local para efetivar a inscrição. Vale lembrar que o Arremesso para o Amanhã tem parceria com o colégio Objetivo, que cede sua quadra para treinos, e também oferece bolsas de estudos aos jogadores.

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Quase 7 milhões de brasileiros moram sozinhos

Um estudo publicado recentemente na revista especiali-zada Thorax, afirma que alimentos do tipo fast-food contêm altas doses de ácidos gordos transsaturados, conhecidos por afetar a imunidade. O levantamento, que analisou 500 mil crianças em mais de 50 países, indica que comer fast-food três vezes por semana pode levar crianças a contrair asma ou eczemas, analisando padrões de dietas e doenças globais.

Mas a pesquisa indica ainda que o consumo de frutas pode ajudar a reduzir os efeitos negativos do consumo ex-cessivo de comidas tipo fast-food, já que futas são ricas em antioxidantes e outros componentes benéficos.

E você, quantas vezes por semana, vai a um fast-food? Sua família preocupa-se com os malefícios e benefícios da alimentação?

Hábitos alimentares podem agravar condições alérgicas

Lançado celular para deficientes auditivos Felicidade

tem a ver com bem-estar

Drops

Os dados preliminares do IBGE mostram que 6.980.378 de pesso-as moram sozinhas, o que equivale 12,2% dos domicílios particulares per-manentes do país. No censo anterior, eram 4.085.568 de indivíduos, o que representava 9,1% do total.

Entre 1996 e 2011, o número de pessoas que vivem sozinhas no mundo foi de 153 milhões para 277 milhões, um aumento de 80% - pes-quisa do Euromonitor International. Esse fenômeno tem diversas razões, como o aumento do poder aquisitivo, e a expansão da internet e das redes sociais, que permitem estar conec-tado aos familiares e amigos mesmo quando se está sozinho.

Pesquisa da Target Group Index apu-rou que, do total de pessoas que moram sozinhas, a maioria é homem (54%). Tal grupo se concentra na faixa etária entre 45 e 54 anos (24%), com predominância dos homens (57%) em relação às mu-lheres (43%). A idade em que a maior quantidade de homens que moram so-zinhos é de 35 a 44 anos, com 73% de representatividade. Já as mulheres são maioria na faixa de 65 a 75 anos (69%).

Os estudantes universitários, muitas vezes, também experimentam morar sozinhos, principalmente logo que in-gressam numa faculdade em uma cida-de longe de sua família. Você poderá fa-zer parte desta estatística e, certamente, será uma experiência enriquecedora.

“Para você, o que é felicidade?” foi uma das perguntas que o Instituto Akatu fez a 800 brasileiros de todas as regiões do país, no final de 2012. O resultado mostra que os entrevista-dos – independentemente de fatores como classe social ou faixa etária – associam sua felicidade muito mais ao bem-estar físico e emocional e à convivência social, do que aos aspec-tos financeiros e à posse de bens. Dois terços dos entrevistados indicaram que estar saudável e/ou ter sua famí-lia saudável é um fator essencial. Para 60% do público que respondeu à pes-quisa, conviver bem com a família e os amigos também os aproxima mais da felicidade. Apenas três em cada 10 brasileiros indicaram a tranquilidade financeira em suas respostas.

Cabe uma boa reflexão pessoal, não é?

A empresa israelense DreamZon desenvolveu o “Lighton”, uma solu-ção inovadora especificamente para pessoas com deficiência de audição. O celular avisa aos usuários quando uma ligação ou um SMS é recebido por meio de uma luz de LED brilhante, que conti-nua piscando até que o usuário perceba a ligação e pegue o aparelho. O dispo-sitivo se baseia em sensores especiais que captam unicamente as vibrações produzidas pelos celulares, ignorando as demais perturbações procedentes de fontes externas. Os usuários podem levá-lo consigo a qualquer lugar, ou colocá-los em diferentes cômodos da casa ou do escritório. É extremamente seguro, fácil de usar e compatível com todos os telefones móveis que têm modo de vibração. Projetado para fun-cionar como um dispositivo indepen-dente, também pode ser conectado aos sistemas de sinalização de disparo ex-terno e “wireless”, o que permite uma melhor comunicação e qualidade de vida. Uma invenção inteligente!

Notícias que podem fazer a diferença no seu dia a dia

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Licenciatura oferece habilidades que

fortalecem qualquer escolha profissional

Formação

A vocação para ensinar surgiu cedo na vida de Rivadávia Correa Drummond de Alvarenga Neto. Enquanto os amigos focavam as energias somente nos estudos, o então garoto de 14 anos já dava aulas particulares de música e de inglês em Belo Horizonte, para juntar uma grana no fim do mês. O tempo passou e foi testemunha da transformação daquele jovem mineiro em uma referência mundial em sua profis-são. Em 2012, ele foi indicado ao prêmio de melhor professor de negócios do ano — promovido pela revista “The Econo-mist” - e venceu uma votação popular que envolveu 221 profissionais de 129 universidades em mais de 30 países.

Atualmente, Rivadávia administra o seu tempo nas funções de reitor do Centro Universitário de Belo Horizon-te (Uni-BH) e de professor da Funda-ção Dom Cabral (FDC). A experiência adquirida no ambiente educacional também foi a base para ele migrar ao universo do empresariado e abrir uma empresa de consultoria. “Das aulas de música e de inglês, eu aperfeiçoei a minha didática, mas é o ofício que faz você melhor todos os dias”, comenta.

Segundo Rivadávia, existem no país poucos exemplos de professores bem sucedidos que migraram com o mesmo sucesso para o meio empre-sarial. “No Brasil há essa ideia: ou você é professor ou você é executivo. Nós usamos muito o ‘ou’, mas a vida é dialética. Por que você não pode ser um bom professor e um bom executi-vo?”, diz. “Você pode ser um bom pro-fessor, um bom pai, um bom executi-vo, um bom filho, ser uma referência na sociedade. Depende da sua vonta-de e capacidade de realizar, pois o ser humano não tem limites”, completa.

Rivadávia diz ainda que “foi o que aconteceu comigo. Eu não escolhi a carreira de professor, eu fui escolhido por ela. Quando eu descobri, eu percebi que era aquilo que eu queria fazer para o resto da vida”, relata. “Eu fui profes-sor em todos os níveis que você pos-sa imaginar. Eu comecei com 14 anos dando aulas de inglês e de música. Eu fazia aquilo como um algo passageiro, um bico. Depois comecei a dar aula em cursinho pré-vestibular, fui sendo reco-nhecido. Fui para a faculdade, fiz uma carreira em minha área de Administra-ção, mas nunca consegui largar a sala de aula. Em um belo dia eu descobri que o que me traz alegria é isso aqui, não o que está lá como executivo”.

Ao conhecer a trajetória profissio-nal de Rivadávia, fica a pergunta: o que é preciso fazer para ser bem sucedido? Na opinião do professor, o bom profis-sional tem como base uma boa edu-cação, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. “Eu tive uma formação muito forte, que me deu as bases para o meu crescimento profis-sional”, conta. “Você ter os seus filhos em uma boa escola e os pais entende-rem qual é a proposta, o que é a escola e auxiliar a instituição a ter sucesso nessa proposta é fundamental”, diz.

Para Rivadávia, é essencial o jovem entender que a carreira de professor depende de “vocação”. Evidentemen-te, quando você escolhe alguma coisa por que você tem paixão, vocação, o sucesso profissional é consequência da escolha. Você não pode é direcionar a escolha de sua carreira. Por exemplo, vou escolher uma área que tem dado dinheiro. Isso não adianta se não tiver alegria, se não tiver vocação, paixão. Não vai se aprofundar e não vai se tor-nar o melhor da profissão”, relata.

Para Rivadávia, é essencial o jovem

entender que a carreira de professor depende

de “vocação”.

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Formação

A docência como metaEssa “vocação”, como denomina Rivadávia é exempli-

ficada na carreira de Cintia Vequi-Suplicy, cuja meta é ser docente de uma importante universidade do país. Atual-mente, ela cursa pós-doutorado em Física na área de Biofí-sica, onde sistemas biológicos são estudados com a utiliza-ção de técnicas e metodologias físicas.

Com o título de doutora, Cintia já está apta para prestar os concursos para professor de nível superior. Esses exames são bastante rigorosos. “Todo esse processo tem sido bastante ár-duo, mas também muito recompensa-dor. Poder trabalhar diretamente com o desenvolvimento de conhecimento e poder passar isso para outras pesso-as através das aulas e das orientações é muito estimulante”, relata.

A vontade de Cintia ser professora surgiu juntamente com a percepção de como a carreira na universidade é desafiadora. “O quanto criar e passar o conhecimento me faz repensá-lo a todo momento. Cada dia se tem um novo desafio intelectual para resolver, seja descobrir uma nova maneira de ensinar um assunto mais simples ou um desafio mais complexo na pesqui-sa científica. A satisfação de resolver um problema que até o momento não tinha solução é muito grande, assim como a satisfação de ver que foi pos-sível transmitir o conhecimento para outras pessoas que estão começando na área”, diz.

Questionada se o docente tem uma visão diferente do mundo, graças ao convívio direto com outros profes-sores e alunos, Cintia diz que é difícil dizer o que vem primeiro: se a visão diferente do mundo é uma causa ou consequência na vida de um profes-sor. “Certamente, o convívio com ou-tros professores e alunos de diferen-tes idades sempre me faz repensar o mundo ao redor. Mas, para ser do-cente em uma universidade, é preciso estar sempre disposto a se adaptar às diferentes situações. Algumas vezes é preciso conseguir olhar as coisas sob outro ponto de vista, para poder ensi-nar aos alunos que estão apenas co-meçando na carreira”, ressalta.

De acordo com Cintia, os profes-sores que perderam essa perspectiva e acham que tudo é simples e fácil, normalmente não são bons no que fazem. “Ensinar algo para alguém não pode ser uma estrada de mão única, onde o conhecimento somente vai do professor para o aluno. Uma aula pre-cisa ser uma estrada de mão dupla, é muito importante saber como o alu-no está interpretando o que está sen-do ensinado. Dando aula, sempre se aprende muito e não podemos ter ver-gonha de falar para um aluno que não sabemos responder a alguma de suas perguntas; são justamente perguntas assim que enriquecem e que fazem os professores terem outra visão sobre o assunto ensinado”, completa.

“Certamente, o convívio com outros professores e

alunos de diferentes idades sempre me faz repensar o

mundo ao redor”

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Sétima Arte

Assistir a filmes e ler livros são grandes prazeres na vida de muita gente. Muitas vezes, quando lemos um livro, o au-tor consegue criar em nossa cabeça imagens, uma espécie de filme imaginário. Pois isso inspirou inúmeros cineastas a levar a literatura para as telas, diz o professor de história do Objetivo Sorocaba, Carlos Alberto Jacomuci.

A leitura de um livro é única, a forma como interpre-tamos o que está escrito é permeada por nossas vivências, nossa forma de entender o mundo. Tanto é assim que, aos lermos o mesmo livro, com anos de diferença entre uma leitura e outra, nossa percepção é diferente.

A indicação dos filmes a seguir procura reunir a leitu-ra de grandes diretores de cinema sobre grandes clássicos da literatura. A pergunta recorrente, ‘o livro é melhor que o filme ou o contrário’, para mim não tem muito sentido. Literatura e cinema são artes diferentes, são percepções di-ferentes. O prazer de ler o livro não é substituído pelo ato de assistir ao filme, mas ver como um grande diretor de cine-ma leu o livro e o levou para a tela é uma experiência única.

Os títulos selecionados evidentemente passaram pelo crivo do gosto pessoal deste professor cinéfilo: vão de fil-mes ‘fáceis’, por adotarem uma linguagem clássica, a que as pessoas estão habituadas, até outros, com uma linguagem hermética, com experimentações estéticas. Não ter medo em aventurar-se por novos caminhos é o primeiro passo para abrirmos as ‘portas da percepção’ para um cinema que pretende ir além da simples diversão.

Aos pais e adultos, a sugestão de que assistam a filmes com suas crianças e jovens, pois isso pode gerar uma dis-cussão importante.

Acompanhe a classificação indicativa. Os filmes e os li-vros que os inspiraram podem ser encontrados em locado-ras e em sites como:www.mercadolivre.com.brwww.fnac.com.brwww.livrariasaraiva.com.br e outros do gênero.

Que os filmes os levem aos livros e que os livros os levem aos filmes!

Grandes diretores lendo grandes

clássicos da literatura

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CARMEN(Carmen / Espanha / Carlos Saura / 1983). Classificação indicativa: livre

O cineasta Calos Saura é um apaixonado pela música e pela dança de seu país e sua obra é marcada por esta paixão.   A ópera Carmem, escrita por Bizet, é leva-da para a tela como uma alegoria, em que atores preparam um espetáculo de flamenco e, gradualmente, histórias de paixões e traições envolvem os persona-gens de tal forma que realidade e ficção se confundem. O filme reúne ícones da música espanhola, como Paco de Lucia, e da dança flamenca, como Antonio Gades, Laura del Sol. O filme consegue reunir com brilhantismo diversas artes que tor-nam Carmen um filme inesquecível.

Sétima Arte

O PROCESSO(Le Procès / França / Orson Welles / 1962). Classificação indicativa: 10 anos

O livro de Franz Kafka, escrito na década de 1920, é uma obra atemporal. Ali encon-tramos uma das mais eficientes críticas ao sistema judicial e aos regimes autoritá-rios de qualquer tempo e qualquer lugar. Impossível não pensar que o diretor Or-son Welles leva o texto de Kafka às telas numa clara referência ao macarthismo que transformava seu país, os EUA, em um local inseguro, onde acusações abstratas de ligações com o comunismo destruíam a carreira e a vida das pessoas.

LOLITA(Lolita / EUA / Stanley Kubrick / 1962). Classificação indicativa: 12 anos.

O tema do livro adaptado por Kubrick é a pedofilia. Um professor de meia idade apai-xona-se por uma adolescente e, para ficar próximo dela, casa-se com sua mãe que logo morre em um acidente, abrindo a pos-sibilidade do romance proibido.  O estúdio não deu paz ao diretor, que teve que mudar a idade da personagem central (no livro ela tinha 12 anos, no filme terá 14), as cenas de sexo foram veementemente vetadas.   Ao contrário do que poderíamos esperar, o filme tornou-se um clássico. Nas mãos ha-bilidosas de Kubrick, as proibições dos pro-dutores geraram cenas inesquecíveis pela sutileza, pela sugestão, pelas informações nas entrelinhas.

AS VINHAS DA IRA(The Grapes of Wrath/ EUA/ John Ford / 1940). Classificação indicativa: livre

Adaptação do romance de John Steinbeck, o filme é ambientado nos EUA da década de 1930, sob os efeitos da crise econômica iniciada em 1929. Uma família se muda para a Califórnia, em busca de trabalho, em um velho caminhão sob a liderança de Tom Joad (uma das melhores interpre-tações de Henry Fonda). O filme é um ‘ro-admovie’ que atravessa um país devastado pela miséria.  Sem dúvida, um dos melho-res retratos da Grande Depressão feita pelo cinema norte-americano.

MOBY DICK(Moby Dick / EUA / John Huston/ 1956). Classificação indicativa: livre

O diretor John Huston é um especialista em retratar as fraquezas humanas (em ‘O Tesouro de Sierra Madre’ isso é feito de maneira esplêndida). O capitão Ahab, in-terpretado por Gregori Peck, é guiado pelo insano desejo de vingança contra a baleia que arrancou sua perna. O filme é fiel ao romance homônimo de Herman Melville e uma das cenas mais impressionantes, re-constitui o cotidiano de um navio baleeiro do século XIX com a caça, o animal sendo partido em pedaços e a fabricação do óleo com sua gordura. O suspense criado em torno da aparição do capitão e da baleia é dos melhores já criados pelo cinema.

DECAMERON(Il Decameron / Itália / Pier Paolo Pasolini/ 1971). Classificação indicativa: 16 anos.

Pasolini, em toda sua carreira, sempre teve seus filmes tratados como ‘malditos’ pela crítica mais conservadora. O amor sensual é um dos temas preferidos do diretor. Neste filme, o diretor resgatou o espírito de uma obra do século XIV, de Giovanni Bocaccio, que tinha como objetivo central atacar um dos pilares da sociedade européia de fins da Idade Média, a Igreja Católica. Pasolini capta com perfeição o conflito entre os de-sejos humanos e as tentativas da religião de encarcerá-los.   O sexo e o humor são presenças constantes nas nove histórias curtas pinçadas do livro medieval e trans-formadas em um clássico do cinema.

HAMLET(Hamlet / Reino Unido / Laurence Olivier / 1948). Classificação indicativa: livre

Existem outras adaptações para o cine-ma da obra de Shakespeare, mas esta é a que conseguiu transportar para a tela o sentido da tragédia do texto do dra-maturgo inglês, que conta a história do príncipe Hamlet, que procura vingar a morte do pai, cujo fantasma narra que fora vítima do próprio irmão. O diretor Laurence Olivier utilizou as inovações ci-nematográficas criadas por Orson Welles em ‘Cidadão Kane’, como a profundidade de campo para explorar os aspectos psi-cológicos do drama de forma magistral. A história tornou-se menos política e mais psicológica. A relação de Hamlet com a mãe Gertrudes adquire ares edipianos.

FAUSTO (Faust / Rússia / Aleksandr Sokúrov / 2011). Classificação indicativa: 10 anos.

O filme do cineasta russo não é fácil para quem está habituado com a estética hollywoodiana. As distorções das imagens, a fotografia soberba, as experimentações estética pontilham toda a obra de Sokúrov, inspirado na pintura impressionista de William Turner (1775-1851), criando um filme que nos lembra um sonho, ou um pe-sadelo. A lenda alemã tem várias versões literárias, mas é em Goethe que o diretor se inspira.  A história do doutor Fausto, que em sua sanha pelo poder faz um pacto com o diabo para atingir seus objetivos, é um repensar sobre a própria humanidade.

MACUNAÍMA(Macunaíma / Brasil / Joaquim P. de Andrade / 1969). Classificação indicativa: 12 anos

O filme, baseado na obra de Mário de Andrade, mais do que uma adaptação da literatura para o cinema, é um diá-logo entre dois movimentos culturais, o modernismo do começo do século XX e o Cinema Novo dos anos 60. A discussão sobre a identidade cultural do brasileiro é a marca dos dois movimentos. O herói sem nenhum caráter criado pelo escritor é retratado de forma fiel pelo filme. As aventuras de Macunaíma adquirem uma comicidade perfeita na tela, onde tudo é metáfora do Brasil e dos brasileiros.

MEMÓRIAS DO CÁRCERE (Memórias do Cárcere /Brasil /Nelson P. dos Santos / 1984). Classificação indicativa: 14 anos

Este é daqueles filmes sobre história que fizeram história. Foi lançado em 1984, mo-mento em que a ditadura militar agoniza-va, sendo seu tema outro período autoritá-rio, o período que antecede a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.

O livro de Graciliano Ramos é um relato do período em que o escritor passou na cadeia, acusado de ser membro do pros-crito Partido Comunista, uma fascinante reconstrução histórica da gestação de um regime autoritário. O diretor, apesar de ser pioneiro do Cinema Novo, não leva para a tela experimentalismos estéticos, o que não diminui a grandeza do filme. As interpretações dos atores e a leveza do roteiro fazem com que as 3 horas de filme se tornem imperceptíveis.

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Políticas Públicas

“Defendo o direito cultural”. Com essa frase, o secretário de Educação

e Cultura de Sorocaba, José Simões de Almeida Júnior, iniciou a apre-

sentação de seu trabalho aos estudantes do segundo ano do Ensino Mé-

dio Next, que o entrevistaram em uma tarde, semanas atrás.

Antes de formarem uma verdadeira mesa redonda, os estudantes fo-

ram convidados a conhecer o valor histórico do prédio em que fun-

cionava a Secretaria da Cultura em Sorocaba: o Palacete Scarpa, no

Centro. Através de uma pequena porta, chega-se à varanda suntuosa

do prédio, onde Simões diz que costumava ir quando precisava refletir

ou renovar suas energias. Nas paredes de sua sala, quadros históricos

e a mobília toda contavam muito sobre a história do prédio, um edifício

em estilo neoclássico, de 1922, que sediou o Banco União, o primeiro

banco da cidade, que tinha como proprietário o Grupo Scarpa. Simões

contou aos estudantes que foi o primeiro prédio de Sorocaba e da re-

gião a possuir elevador.

Depois, esclarecendo que faz questão de abrir sempre as portas para

estudantes, respondeu as perguntas dos alunos do Ensino Médio Next:

De estudioso do strombus pugilis a gestor públicoSecretário da Educação em Sorocaba é a favor da diversidade

Esta entrevista foi realizada antes de José Simões deixar a Secretaria de Cultura. Depois disso, passou a ser titular da secretaria de Educação

Os alunos Rafaela Orsi Pasiani, Vitor Ippólito, Maria Clara Lopes Rolim, Rebecca Kappler. Fotos: Acervo Objetivo Sorocaba.

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Vitor Ippolito: como é a sua rotina de trabalho, o que você faz, como é o seu dia a dia?

Simões – Sabe que a noção de cultura na política é uma coisa muito nova no país, agora que as cidades estão tendo suas secretarias. Antes, isso ficava com a secretaria da educação. Só em mea-dos de 80 começa a ser emergente, os municípios começam a entender que uma coisa é a educação e outra coisa é a cultura. Mas, aqui, o que eu defen-do é o direito cultural, principalmente os bairros vulneráveis culturalmente. Porque a gente percebe que a cultura não está relacionada à questão finan-ceira, por exemplo.

Queremos construir uma política cultural, baseados na convicção de que todos têm direito à cultura e com di-versidade. E isso pode incluir sertanejo universitário na festa Junina, por exem-plo. Não tem que prevalecer o gosto do secretário ou de quem quer que seja.

Desejamos apresentar espetáculos para idosos, teatro de rua, atividades para crianças, mostrar os espaços cul-turais da cidade, enfim. Quem detém o poder não quer abrir mão dele. Sou um técnico indicado pelo prefeito Anto-nio Carlos Pannunzio, que determinou prioridades para a cultura. Converso com artistas e com a população e ana-liso centenas de documentos todos os dias. E engana-se quem diz que o ser-viço público é ineficiente. Ele é lento, mas não ineficiente. Para tudo que fa-zemos, é preciso três orçamentos.

Maria Clara Lopes Rolim: você não acha que a cidade tem poucos teatros e que o acesso a eles é caro?

Simões – Infelizmente, sim. Temos apenas o Teatro Municipal, o do Sesc e o do Sesi. Há ainda o auditório da escola Municipal Getúlio Vargas - mas veja a distinção, auditório é feito para ouvir, mas podemos usá-lo também como teatro. E é preciso que saibam que um teatro novo custa entre 5 e 8 milhões e que é muito difícil construí-lo quando o que a população pede é um novo hospital. De qualquer modo, estou tentando buscar dinheiro exter-no para um novo teatro em um CEU (Centro Educacional Unificado - um complexo educacional, esportivo e cul-tural caracterizado como espaço pú-blico múltiplo) no Parque Laranjeiras para ficar pronto em 2016. O Sesi tam-bém deve construir mais um teatro na cidade. Considero Sorocaba muito pro-pícia para as artes, há cursos de teatro na Oficina Grande Otelo e nas escolas particulares de teatro.

Rafaela Orsi Pasiani: li que você é biólogo e gostaria de saber como foi sua trajetória até chegar aqui.

Simões – Estudei microbiologia e es-pecialmente o strombus pugilis, um molusco muito encontrado em Ubatu-ba. Mas em determinada fase, reparei que eu ficava menos no laboratório e mais no café marcando festas. Aí mi-nha irmã resolveu prestar Medicina na Unicamp e eu queria acompanhá-las nas provas e me inscrevi em Artes Cê-nicas. Ela não passou, mas eu sim e fui fazer. A biologia havia me atraído porque nasci em Itapetininga e pesca-va lambari de peneira, tirava leite de vaca, andava a cavalo e aprendi muito com meu sábio avô. Mas minha vida foi sempre assim - eu não salto, eu con-tinuo. Fiz artes cênicas e me envolvi profundamente com isso, mas, depois, chegou a fase em que eu queria falar com as pessoas e comecei a dar aulas, falar com o mundo. Creio que a gente não pode passar pelo mundo sem ter a possibilidade de transformá-lo. É preci-so coragem. Aí vim para a política, que resumo como sendo o exercício da ci-dadania. Se eu dissesse “não”, alguém viria em meu lugar. É preciso coragem. Fico aqui todos os dias, das 7h às 22h.

Rebecca Klapper: gostaria que me falasse sobre o Carnaval em Sorocaba.

Simões – Penso que se falamos em gas-tos e em quantidade de pessoas aten-didas com um evento, caímos em uma arapuca. Vale lembrar que um quadro como o da Monalisa, por exemplo, está exposto apenas para alguns. Na arte não tem essa lógica da massa. A gen-te precisa ficar antenado. Quero dizer que, ao mesmo tempo, muitas pessoas podem não gostar de carnaval, mas a população tem que ter esse direito à festa. Em Sorocaba, neste ano, a mídia mostrou que adolescentes se exce-deram na bebida durante o desfile de blocos. O fato é que os adolescentes, e não só eles, bebem em qualquer fes-ta. Creio que toda festa pode propiciar transgressões. Há vários assuntos mis-turados nessa questão do carnaval de Sorocaba. A Secult tem pouco dinheiro e ainda vamos reduzir os custos com o Carnaval, mas mantendo a festa. Por exemplo, cancelamos a Virada Cultural Paulista em Sorocaba neste ano, por-que me recusei a gastar cem mil reais com banheiro e palco. Fiz isso com con-vicção, mas teremos a nossa própria Vi-rada, com artistas daqui, no aniversário da cidade. Com a festa junina, através da terceirização, deixamos de gastar 385 mil e ainda ganhamos 17 mil. E no ano que vem vamos fazer um circuito de festas juninas, para que as pessoas escolham o evento de seu gosto ou vá em todos, como quiserem. Vamos ter que conviver com a diversidade.

Queremos construir uma política cultural, baseados na convicção de que todos têm direito à cultura e com diversidade.

Políticas Públicas

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O FUTURO É LIVREVENHA FAZER PARTE DELE. OBJETIVOSOROCABA.COM.BR

O Objetivo Sorocaba tem como um de seus eixos educacionais a cultura, seja ela popular ou erudita, nossos alunos a vivenciam de forma ampla e profunda, dentro e fora das salas de aula, enriquecendo seu

repertório com uma grade curricular que privilegia o contato com a diversidade cultural.

Faça parte da geração que está mudando o mundo.Conheça um lugar onde o futuro é sem limites.

FUTURO SEM LIMITES

Page 37: Revista Y | outubro 2013

Confira entrevista com a jornalista e cofundadora do UOL, Marion

Strecker, que fala de quando percebeu que estava “totalmente viciada

em internet”

Uma caixa de e-mails lotada com centenas (em alguns casos até milhares) de mensagens a serem lidas. Ah! Ainda é necessário dar uma checada nos principais noticiários do país para se manter atualizado. Sem contar com aquela “xeretadi-nha” básica no Facebook, afinal, é preciso estar a par do que anda acontecendo com nossos amigos e conhecidos.

O problema é que quando você vê, passou horas e horas nessa função e se perdeu pela vastidão da internet, muitas vezes deixando suas obrigações mais importantes em segundo plano.

É, navegar é preciso, mas muitas vezes sentimo-nos remando sem sair do lugar. A angústia é inevitável.

A jornalista e cofundadora do UOL, Marion Strecker, escreveu recentemente sobre o assunto em sua coluna no jornal Folha de São Paulo. No texto, intitulado “Vício”, ela fala de quando se deu conta de que estava “totalmente viciada em internet”. “A produtividade em queda, a ansiedade em alta, a mania de pular de aparelho em aparelho, de aplicativo em aplicativo, de rede social em rede social, sem necessidade nenhuma, sem objetivo definido, vagando pelo mundo on-line como zumbi”, escreveu no referido texto.

Quando percebeu a enrascada, Marion passou a se policiar em relação ao uso da internet.

Navegar é preciso... mas remar sem sair do lugar é perigoso!

Celulares

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Celulares

A revista  Y  bateu um papo com a jornalista, que faz apontamentos muito importantes para reflexão. Se você foi um daqueles que se identificou logo no primeiro parágrafo deste texto, desconecte-se um tempinho da rede e leia esta entrevista:

terminava nunca! Eu vivia o sofrimen-to de querer estar sempre num lugar diferente do que eu estava, como se eu estivesse perdendo alguma coisa. E desenvolvi alguns comportamentos compulsivos, como checar e-mails e redes sociais o tempo todo, como jo-gar jogos eletrônicos para me acalmar. Só que eu não me acalmava. Também comecei a trocar o dia pela noite e a arrumar um milhão de desculpas para usar meus aparelhos eletrônicos, quando não usava escondido. Um dia “a ficha caiu.”  

informação errada pode correr o mundo em minutos. Mas noto que as pessoas vão aos poucos entendendo isso.

“Quando crio uma página no Facebook, sou eu que possuo

o Facebook ou é ele que me possui e que me vende para

seus anunciantes?”

“Não vamos poder — nem querer — evitar o avanço da tecnologia em nossas vidas, mas tirar proveito dela é bem diferente do que virar um sujeito com patolas enormes de tanto clicar e digitar, desses que tropeçam na calçada, pois seu mundo ficou reduzido a uma telinha”

Em recente coluna para a Folha de São Paulo, intitulada “Vício”, você fala da possível compulsão que tem em relação à internet. Quando a tecnologia passa de aliada e de facilitadora da vida moderna para algo prejudicial, um problema que consome muito tempo? Como detectar isso em nossas vidas?

Tomei consciência de que a inter-net tinha se tornado uma espécie de doença para mim, quando minha pro-dutividade caiu a um nível muito bai-xo. Eu estava morando na Califórnia e por mais que eu passasse horas e ho-ras na frente do computador todos os dias, como fazia desde os anos 1990, a dispersão era imensa. Perdi a capaci-dade de decidir o que fazer e quando. As redes sociais, os novos aplicativos e aparelhos, o fluxo da comunicação eletrônica, ditado por qualquer um, menos eu, mandavam no meu tempo. Comecei a ficar muito angustiada e não sabia por quê. Quando começa-va a escrever, a ansiedade em buscar mais informações e informações sem-pre mais recentes me tiravam a con-centração da escritura, então eu não

O filme “Meu Tio”, de Jacques Tati, é considerado uma referência bastante interessante sobre as “facilidades” da vida moderna. Em seu longa datado do final da década de 50, a família “moderna” acaba sendo escrava dessa modernidade. Em alguns momentos, não podemos estar caindo nessa mesma cilada no que se refere à internet?

Acho que sim. As pessoas acham que possuem tecnologia, computa-dor,smartphones, internet, redes sociais mas ... será que possuem ou são possu-ídas? Quando crio uma página no Face-book, sou eu que possuo o Facebook ou é ele que me possui e que me vende para seus anunciantes? Perceber essa relação ambivalente é importante para não ficar iludido. Não devemos ficar paranoicos, mas não precisamos ser ingênuos! O que, da tecnologia,

Num mundo com muita informação disponível, você acredita que as pessoas estão realmente mais informadas ou aparentemente mais informadas?

Quero crer que as pessoas estão mais informadas, sim. A disponibilida-de de informação cresceu demais. Isso é maravilhoso. A dificuldade agora é localizar e selecionar informação, por isso Google é tão importante e se tornou tão poderoso. Agora mais do que nun-ca é preciso saber diferenciar rumor de informação, não se deixar enganar por pessoas ou instituições mal-intenciona-das que disseminam desinformação. Há muita bobagem em redes sociais. Uma

Ainda em seu texto “Vício”, você disse que ia tentar se privar da internet em alguns momentos. E aí, conseguiu? Ajudou? O que tem feito com esse tempo “extra”?

Sim, consegui. Mas nem todos os dias eu consigo. Tento me disciplinar. Sempre que não levo eletrônicos para o quarto ganho em horas de leitura e de sono. Às vezes saio sem celular e percebo melhor o que se passa ao meu redor, dou mais atenção às pessoas que estão comigo. Quando estou concen-trada num trabalho evito abrir e-mails e redes sociais, com isso a produtivi-dade aumenta muito. Tenho recaídas e às vezes me pego com comportamen-tos “junkies” de novo, mas estou bem mais controlada e reconquistei minha produtividade e  certa paz de espírito. Reconhecer o problema é o primeiro passo. Não vamos poder — nem que-rer — evitar o avanço da tecnologia em nossas vidas, mas tirar proveito dela é bem diferente do que virar um sujeito com patolas enormes de tanto clicar e digitar, desses que tropeçam na cal-çada, pois seu mundo ficou reduzido a uma telinha. Quero a internet para ampliar meus horizontes e me fazer ganhar tempo e qualidade de vida. Não quero a internet para me aprisio-nar, adoecer ou emburrecer!

realmente me alimenta, me diverte e me enriquece? E o que me chateia, desperdiça meu tempo, me envenena? São questionamentos que todo mundo deveria se fazer. Uma forma de ter consciência de quanto tempo se gasta na internet é verificar as estatísticas do telefone ou dos jogos que se usa. Acho que, se o  Facebook  divulgasse essas informações, muitas pessoas ficariam chocadas em ver quanto tempo gastam ali. Sem falar que muita gente substitui os relacionamentos pessoais por relacionamentos virtuais, perdendo o traquejo social e às vezes adotando o anonimato para esconder comportamentos estranhos. 

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Celulares

Aparelho permite experimentações artísticas

Giuliano Chiaradia faz arte com o celular desde 2003. Não é arte pequena – ele é autor do curta 5#Calls, de 2012, primei-ro filme completamente feito no telefone a ser selecionado pelo Festival de Cannes.

De um tempo para cá, o fotógrafo e diretor faz do celular um workshop para ensinar jovens e crianças a fazer arte, cha-ma-se ArtMobile (www.artmobileproject.com). Trata-se de um projeto de arte digital e inclusão social, que vem percorrendo o mundo - já esteve na Tanzânia, no Marrocos, no Uruguai e está no Brasil.

Ele prova, assim, a possibilidade de usos inusitados e po-sitivos para o aparelho que mudou a comunicação no mundo nas últimas décadas.

E continuará mudando: “por enquanto, nos longínquos 5 anos, essa será a mídia de comando, só por enquanto”, ga-rante Chiaradia, acrescentando: “o celular já tem comando de voz e passou a ter recentemente comando óptico, um sensor acompanha sua pupila enquanto você lê.  Do celular virão co-mandos de muitas coisas, que tendem a ficar dentro do con-ceito “smart” como sua tv, sua geladeira, seu carro, sua casa...”

Chiaradia é autor e diretor da Rede Globo. Formado em Comunicação Social, com pós-graduação em cinema na Itá-lia, fez cursos de especialização pela EICTV em Cuba e na Escola Internacional de Cinema e TV de RockPort Maine, nos Estados Unidos. Também soma um MBA em Novas Mídias pela Coppead Business School - UFRJ em Gestão Estratégica de Tecnologia da Informação, Inovação de processos e Novos Negócios. É palestrante requisitado sobre os temas “novas mídias” e “conteúdo transmídia” no Brasil e no exterior.

Depois do Master Class em Inovação Digital pela Hyper Island em Londres, criou o ArtMobile.

“O celular é uma mídia democrática. Seu imediatismo e praticidade devem jogar a seu favor. Use como você usa no seu dia a dia. Busque ângulos inusitados, novas linguagens, mas, sobretudo, pense o imediatismo e a praticidade”, recomenda.

Em seu cotidiano, ele diz: “utilizo o celular para facilitar a minha vida, já que tenho uma agenda bem corrida. Quanto ao conteúdo, me atenho a publicar em redes sociais e produ-zir conteúdo com o mesmo imediatismo que essa nova mídia permite”. É exatamente o mundo de hoje: imediatismo. Com arte, tanto melhor.

O jornalista Thiago Arioza tem, atu-almente, cerca de 260 aplicativos em seuIphone  e não hesita em assumir: sim, ele se sentiria desconfortável se passasse um dia sem seu smartphone. “Talvez seja um vício, mas não um vício prejudicial, pois isso não interfere em minha saúde mental ou física. Também não atrapalha em meus relacionamen-tos familiares e pessoais. Na verdade, acho que é um hábito que optei por ter em minha vida”, pontua o jornalista, que não larga do celular nem na hora de dormir. “Deixo no modo “não pertur-be” e a última coisa que faço antes de dormir é dar uma olhada nas notifica-ções dos aplicativos e, assim que acordo, já tateio a cama na procura do celular para me atualizar”, explica Thiago, que é responsável pelo site do jornal  Cru-zeiro do Sul e tem, em sua profissão, a necessidade de estar sempre antenado.

Thiago acredita que muitas pessoas ainda subutilizem seus celulares. Por isso, sempre que pode, tenta abrir os olhos de amigos e conhecidos que pou-co usam as ferramentas que têm em mãos. Segundo ele, há muitos aplicati-vos que facilitam diversas ações cotidia-nas. “Mas não sou daqueles que diz que é impossível viver sem o celular e seus aplicativos. No Brasil, ainda temos pes-soas que vivem sem saneamento bási-co, sem moradia... Por isso, é exagerado dizer que não dá mais para viver sem o celular e seus aplicativos”, pontua.

Um celular e mais de 250 aplicativos

Thiago Arioza tem

seu smartphone como aliado

e alerta: muitas pessoas ainda

subutilizam seus aparelhos

Thiago Arioza aceitou o convite da revista  Y  e fez uma pequena lista de aplicativos bastante úteis e outros curio-sos que tem em seu Iphone. Confira:

Mail Box: Ajuda a ler e organizar men-sagens do Gmail de forma mais eficien-te. Permite gerenciar em listas, excluir ou adicionar lembretes aos e-mails com simples toques e gestos. (iOS)Quora: Rede social que se baseia nas dúvidas e conhecimento dos usuários. Neste ambiente, você pode fornecer ou pedir informações sobre diversos as-suntos. (Android e iOS)Wake N Shake: Despertador que só para de tocar se o usuário sacudir in-tensamente o smartphone. Impossível voltar a dormir e perder a hora. (iOS)Couple: Exclusivo para casais. Serve para facilitar a comunicação, geren-ciamento e compartilhamento de tarefas entre os pares, além de não deixar esquecer datas importantes. (Android e iOS)EvernoteFood: Para registrar, compar-tilhar ou descobrir experiências gas-tronômicas. Permite guardar receitas e encontrar lugares para comer. (An-droid e iOS)Timehop: Recupera e faz você relem-brar o que postou no Twitter, Facebook, Instagram e Foursquare há um, dois ou três anos. (iOS)

“O celular é uma mídia democrática. Seu imediatismo e praticidade devem jogar a seu favor. Use como você usa no seu dia a dia. Busque ângulos inusitados, novas linguagens, mas, sobretudo, pense o imediatismo e a praticidade”

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Celulares

O analista de mídias sociais Tia-go Oliveira passa 24 horas por dia conectado à internet. Bom, quase 24 horas, já que abriu uma concessão à noiva que solicitou algum tempo de atenção integral. Ele achou justo: as-sim, em alguns momentos de seu dia dedicados à família, deixa o celular no modo avião. “Além de ser a ferra-menta de meu trabalho (Tiago admi-nistra as redes sociais de mais de 10 clientes, cujos conteúdos precisam ser gerenciados, seja dia, tarde, noite ou madrugada!), uso diversos aplicativos em minha vida”, explica o rapaz, que atualmente utiliza muito mais o celu-lar do que o  tablet  ou o computador. Para quem passa quase o dia todo conectado, mobilidade e praticidade são requisitos fundamentais.

Para se ter uma ideia de como o celular já se tornou imprescindível na vida de Tiago, basta mencionar que todo seu novo apartamento está sendo mobiliado através da telinha do smar-tphone. “Teve vez de eu ir a uma loja qualquer, por exemplo, pegar o código de barras de uma máquina de lavar,

jogá-lo no aplicativo e ver onde seria mais viável financeiramente de com-prar aquele produto”, explica. Daí, no celular mesmo, já efetivava a compra e solicitava a entrega em casa. Resulta-do: tudo ou quase tudo – “não comprei espelho pela internet, por exemplo, pois seria um transporte mais arris-cado” – foi comprado pela telinha do celular. “Esses dias mesmo, chegou a cuba da pia aqui na agência onde tra-balho. Foi engraçado.”

Sim, Tiago já teve problemas com compras na internet e dá um conse-lho: é mais seguro fazer as compras via celular pois é mais difícil que haja um vírus para um aplicativo específico de celular do que em computadores.

Aliás, a noiva de Tiago também participa em tempo real de todas essas decisões do novo apartamento. Através de um aplicativo, ele coloca um item em sua lista do mobílias desejadas e automaticamente chega um aviso para a amada, que pode analisar todos os pormenores do produto. Foi-se o tem-po em que o casal tinha de ir de loja em loja procurar produtos, analisar preços, barganhar.

(O leitor há de convir que isso aju-da a manter os pombinhos bem longe dos desgastes de shoppings e afins: o romance agradece).

Tiago conta também que em um momento da vida, em que estava com

a meta de poupar dinheiro, trabalhava simultaneamente com quatro apli-cativos que ajudam a gerenciar suas finanças. Um dos aplicativos fornecia um gráfico que possibilitava ver onde estavam os grandes gastos. Ao analisar os resultados, ficou claro que sim,“es-tava na hora de repensar o montante gasto em baladas, barezinhos e afins”.

Outros aplicativos que fazem a ca-beça de Tiago são os relacionados a música como o  Soundhound, que con-segue identificar a música que está tocando no ambiente e selecioná-la no itunes, caso haja interesse do usuá-rio em comprá-la. “Existe esse recurso pra filme também”, comenta.

Tiago ressalta também que se foi o tempo em que as pessoas tinham de fi-car reféns da programação das rádios abertas e locais. Hoje, com o celular, você está livre para sintonizar rádios do mundo todo. “Já escutei em meu carro rádios de Londres, da Argentina...”

Até para andar de bicicleta o celu-lar é útil para Tiago, que usa um apli-cativo que traz um mapa do caminho que está percorrendo, dando informa-ções como quilômetros percorridos, tempo dispendido e balanços da traje-tória. Se o cliclista quiser, o aplicativo compartilha a rota percorrida. “Mas de uns tempos pra cá, estou mais caute-loso com isso. Não sei se quero mais compartilhar tudo que está acontecen-do em minha vida. Se não, você acaba sendo o chato da internet.”

Tiago não acredita ser um viciado em celular e diz que a melhor maneira de verificar isso é fazendo uma refle-xão sobre se a tecnologia está ou não comprometendo a vida privada. Por isso, nada mais justo do que utilizar o modo avião em pelo menos alguns mi-nutinhos do dia.

Celular para mobiliar o apartamento, para administrar as finanças e até para andar de bicicleta

Analista de mídias sociais, Tiago

Oliveira conta como os aplicativos

auxiliam em suas tarefas mais

rotineiras

Você já ouviu falar em nomofobia?

O termo  nomofobia  se origina do inglês. “Nomo” é uma abreviação de “no-mobile”, que significa sem celular. Portanto,  nomofobia  é a fobia de ficar sem celular,  mas também está asso-ciada ao medo de ficar sem computa-dor ou internet.

Mas, calma, muita calma nessa hora. Se você é um desses que utiliza o celular o tempo todo e já não consegue se imaginar sem as facilidades embu-tidas no aparelhinho não significa que você sofra de nomofobia, como explica a Doutora em Saúde Mental, Anna Lucia Spear King, do Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ). Segundo a especialista, que desenvolve pesquisas sobre o tema desde 2008, tem gente que não desgru-da do celular ou do computador mas não desenvolve uma dependência pa-tológica dessas novas tecnologias, uti-lizando-as de maneira produtiva para o   trabalho, para as relações sociais e também para o crescimento pessoal. “A nomofobia está relacionada geralmente a um transtorno de ansiedade primário que pode ser um transtorno do pânico, um transtorno de fobia social, um transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros”, explica.

“Já escutei em meu carro rádios de Londres, da Argentina...”

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Celulares

Para crianças pequenas, a orientação de adultos é indispensável

O celular utilizado por crianças pe-quenas, lá pelos sete anos, pode trazer alguns danos, como o de ter uma im-portância excessiva, que seja conside-rado totalmente indispensável. A psi-canalista Andréa Freire diz: “a relação das crianças com o celular dependerá do comprometimento dos pais para orientar uma utilização saudável do aparelho. Infelizmente, como centenas de adultos, muitas delas tornam-se de-pendentes, fazendo dele a extensão do próprio corpo. A retirada do aparelho é sentida como a perda de um pedaço de si mesmas. O celular passa a agregar valor de existência. Sem ele, há criança que diz: não vivo!

Para Andréa, “cabe aos pais, res-ponsáveis diretos pela educação dos filhos, colocar os limites necessários, definir tempo de uso e local, gastos e importância real do objeto. O celular é positivo quando utilizado para o con-tato de pais e filhos, dos amigos, para um pedido de ajuda, localização das crianças e também para ensinar a elas a administração dos gastos”.

E acrescenta: “Outra questão: nele, é possível acessar a internet. A crian-ça que dedica maior parte do tempo ao celular e seus aplicativos, deixan-do de lado o convívio familiar e social, estará se fechando numa fantasia in-dividual, perdendo oportunidades de aprendizado com os familiares e co-legas. Além do perigo de distanciar-se da afetividade expressa no toque, nos olhos e nos diálogos, que aproximam amigos, pais e filhos”.

O uso excessivo do celular pode ser apenas um indicativo de que algo vai mal. É a fumaça, mas é preciso ver de onde vem o fogo.

Anna Lucia, que já realiza seu pós-doutorado na área e deve lançar um li-vro sobre o assunto em breve, dá exem-plos para melhor ilustrar a situação. “Um indivíduo com transtorno do pâ-nico poderia estar apresentando uma dependência patológica do telefone celular com o objetivo de se sentir mais seguro e confiante para sair de casa e ir a locais mais distantes. Ou, um indi-víduo com transtorno de fobia social que dependeria patologicamente do computador para fazer amizades e evi-tar a ansiedade dos contatos pessoais. Nestes casos, o sujeito costuma usar o computador como escudo para se sen-tir protegido, e evitar o estresse de se relacionar pessoalmente”, explica.

 Segundo ela, os sintomas nomofó-bicos observados com mais frequência são: nervosismo, ansiedade, angústia, suor e tremores, entre outros, quando da impossibilidade de comunicação por meio desses aparelhos como celu-lar e computador. “O tratamento da no-mofobia é sempre direcionado à causa, ou seja, ao diagnóstico primário (como pânico, fobia social, transtorno obsessi-vo-compulsivo) que esteja produzindo os comportamentos indevidos.”

Anna Lucia King disponibilizou seu email aos leitores da revista Y que tiverem dúvidas em relação ao assunto. E também para aqueles que se sentem dependentes possam participar de uma pesquisa de avaliação.

O email é [email protected]

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Estudantes aprendem a riqueza do lixo Matheus compartilhou com os colegas suas experiên-

cias durante o período em que morou no Japão. “Todo sába-do pelo menos uma pessoa de cada casa descia para ajudar a limpar o quarteirão, o parque, a praça... e desse jeito era fácil manter a cidade sempre limpa. Ninguém tinha vergo-nha de fazer isso”. O lixo, aliás - ensina o garoto -, era mí-nimo, já que todo mundo separava o material para a coleta seletiva e levava até postos de coleta.

Os seis alunos acompanharam todo o processo de sepa-ração e armazenamento daquela unidade da Coreso. Apren-deram que existem muitos tipos de plásticos e que papel molhado, por exemplo, não serve para reciclagem.

“É sempre bom receber informações e melhor ainda é quando podemos colocá-las em práticas”, destaca Natiél-len. “A visita a Coreso foi tão boa em questão de ensinamen-tos, que em breve começaremos algumas pesquisas e saire-mos em busca de novos caminhos para orientar as pessoas sobre o assunto.” Natiéllen conta que o grupo que participou da visita está com um projeto importante em mãos, desen-volvendo muitas questões, e tem como objetivo multiplicar cada vez mais os participantes. “Queremos levar a todos de fora, — de fora mesmo, por toda Sorocaba, o que estamos pesquisando e aprendendo”, ambiciona.

Ela também conta que em sua casa separam o material reciclável, mas que é inevitável algo passar despercebido. “Já fazíamos antes, mas depois de passar a tarde na Coreso acredito que não apenas eu, mas todos que foram apren-deram a ver com outros olhos tudo ao redor, e ver que nem tudo é lixo”, acrescenta a garota.

O sonho de Natiéllen é parecido com o de todos os coo-perados da Coreso: que as pessoas pensem mais a respeito, vejam o dano que já causamos em nosso meio ambiente, e que incorporem os 3 Rs em seu dia a dia. “É tão fácil e sim-ples, basta apenas querer”, finaliza.

in Loco

Alguns alunos do ensino médio conheceram de perto o núcleo da Co-operativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso) da Vila Hortência e tiveram uma experiência e tanto! Natiéllen Lima Oliveira, 16 anos, da 2ª série, con-tou que ficou curiosa e ansiosa pelo dia. “Confesso que, ao chegar lá, fiquei um pouco decepcionada em relação ao ambiente, esperava outra coisa, porém não fui a única. Mas, com o passar da tarde, eu gostei muito. Aprendi a ver com outros olhos, e recebi toques sim-ples, de coisas que podemos mudar em nosso dia a dia”.

Esse sentimento de estranhamento foi compartilhado pelas colegas, Laura Duarte Uliana e Jéssica Camila Alexan-dreli, ambas com 16 anos e alunas do 3ª série. E, ao final da visita, todos esta-vam com excelentes ideias para colo-car em prática tudo o que aprenderam com os cooperados da Coreso.

Hudson Nardi, 17 anos, 3ª série; Matheus Yuji e Gustavo Cadina, ambos com 16 anos e do 2ª série, completavam o time de exploradores.

Alunos Objetivo Sorocaba. Foto: Acervo Objetivo.

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in Loco

O que são os 3 Rs?Os 3 Rs são atitudes de responsa-

bilidade que as pessoas podem adotar para preservar o meio ambiente, lem-brando que meio ambiente é o lugar onde a gente vive e não algo muito longínquo, com florestas e rios. O pri-meiro R é de REDUZIR: reduzir o con-sumo. Conseguimos isso, por exemplo, quando recusamos embalagens desne-cessárias, como as sacolinhas plásticas na padaria para acondicionar pães que já estão embalados em sacos de papel (não é louco isso?). Optar por produtos que não usem isopor na embalagem também é uma alternativa. O isopor ainda não é reciclado, mas existe uma porção de produtos que são comercia-lizados assim, desde bandejas de carne e legumes até salgadinhos. Com essas ações é possível diminuir a quantidade de lixo residual.

O segundo R é de REUTILIZAR. Vale para o vidro de palmito, que guarda material de escritório, transformar garrafas pet em horta vertical e outras sacadas legais O último dos 3 Rs é o de RECICLAR. É a última chance que te-mos de contribuir para o planeta; re-ciclar é transformar quimicamente o resíduo, antes inútil, em matérias-pri-mas ou novos produtos. É um grande benefício tanto para o aspecto ambien-tal como energético. Quando recicla-mos, economizamos recursos naturais necessários para produzir produtos. A latinha de alumínio que separamos para a reciclagem promove a economia de bauxita, matéria-prima necessária para a fabricação de alumínio, sem contar com gastos energéticos.

Há alguns anos, porém, quem luta pela sustentabilida-de acrescentou mais 2 Rs aos 3 conhecidos:o R de REPEN-SAR hábitos de consumo e descarte. E aí vale uma porção de questionamentos ao comprarmos algo: preciso mesmo disso? Não dá pra reaproveitar o que já não está na moda? O computador velho pode ser doado? Meu celular precisa mesmo ser trocado? Separo o lixo seco (reciclável) do lixo orgânico (do banheiro e da cozinha)? O R de RECUSAR é uma versão mais detalhada do REDUZIR. Escolha produtos fabricados por empresas que respeitam o meio ambiente, que não realizam testes em animais e recuse, por exemplo, lâmpadas fluorescentes.

O óleo que vai pelo ralo é um problemão para o cano

A gente sabe que fritura não é mui-to legal para a saúde, mas como resis-tir a uma batata frita? E depois de usar o óleo para fritar as delícias de que não abrimos mão, o que fazer com o óleo da fritura? Jogar no ralo nem pensar! E mandar para o aterro também não é o mais adequado.

Saiba que 1 litro de óleo contami-na 1 milhão de litros de água, e não é só isso. Se jogado no ralo da pia, o óleo pode causar mau cheiro, aderir às tu-bulações da rede de esgoto, aumen-ta a pressão interna e vazamentos, além de provocar o entupimento da rede coletora. No final da trajetória, a substância atinge córregos e represas, ocasionando a impermeabilização do solo e das margens dos rios. Ao des-tinar corretamente o material para uma unidade de reciclagem, além de estar em sintonia com a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que determina a responsabilidade compartilhada pelos resíduos sólidos, você também está ajudando na preservação e conserva-ção da natureza, ajudando a manter a oxigenação das águas dos rios, preve-nindo a contaminação do solo, entu-pimentos, diminuindo o material que vai erroneamente para o aterro e ainda ajuda a reduzir os gastos públicos com tratamento de esgoto.

Convencido agora? Só falta uma coisinha: o sabão ecológico de ecológi-co não tem nada. Quer ver?

Desmistificando o tal sabão ecológicoMuitas pessoas acreditam que estão ajudando o meio

ambiente ao utilizar o óleo de cozinha para fazer sabão, que alguns até chamam de ecológico. Mas de ecológico ele não tem nada. O produto continua sendo contaminante - com o agravante de que, para fabricá-lo, é preciso adicionar soda cáustica, substância corrosiva extremamente tóxica. Além dos riscos de acidentes domésticos, tanto o óleo quanto a soda, ao serem utilizados para a lavagem de roupas ou utensílios, acabam voltando para o esgoto; ou seja, continu-am sendo prejudiciais ao sistema de encanamentos e mes-mo ao rios onde o esgoto acaba sendo despejado.

As famílias de quatro dos seis alunos que participaram da visita guardam o óleo usado para fazer sabão. Depois de saberem o quanto essa mistura pode ser prejudicial ao meio ambiente, eles vão passar essa informação pra frente, para familiares e amigos.

“O sabão feito com soda e óleo usado pode até ser con-siderado gerador de renda, mas não pode ser chamado de ecológico”, enfatiza Naiçara Garbin, da Coreso.

O Programa Limpa Óleo, organizado pelo Ceadec (Centro de Estudo e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidada-nia de Sorocaba e Região) consiste de recipientes espalhados em vários pontos da cidade, onde qualquer um pode deposi-tar o óleo usado, acondicionado numa garrafa pet. Verifique onde fica o mais próximo da sua casa e comece já a coletar o óleo para destiná-lo corretamente. As garrafas pet são co-letadas, o óleo passa por um processo de clarificação, pas-sando por peneira a filtragem das impurezas mais sólidas. Depois disso o óleo segue para um decantador, que separa as partículas de água do óleo, e para um centrifugador . De-pois de todas as etapas concluídas, o óleo está pronto para a comercialização. Mas não se preocupe, ele não vai voltar para a sua mesa. O óleo reciclado tem destinação certa para a fabricação de outros itens, como biodiesel e ração animal.

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Onde entregar seu material reciclável

Caso o bairro ou condomínio em que você mora não seja contemplado pela coleta da cooperativa, isso não é motivo para não cuidar do planeta. Você deve entregar seu mate-rial em um dos núcleos da Cooperativa. No núcleo da rua Chile, onde os alunos visitaram, diariamente pessoas entre-gam o material, assim como nos outros núcleos. “Nos fins de semana é comum as pessoas jogarem pelo muro sacolas e mais sacolas de material reciclado. A pessoa que participa dessa forma é consciente, traz o material limpo e separa-do. São pessoas acostumadas a pensar no planeta”, destaca Naiçara. Para saber se seu condomínio ou sua rua podem ser adicionados na rota de coleta, ligue para (15) 3227-6608. E, caso queira entregar o material diretamente no núcleo, veja os endereços dos núcleos da Coreso:

Núcleos Zona Leste: Rua Chile, 401 — Barcelona. Rua Encarnação Rando Castelucci, 70 — Além Ponte

Núcleo Zona Oeste: Rua Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, 371 — Jd. Capitão

Núcleos Zona Norte: Avenida Itavuvu, 2853 — Jd. Santa Cecília. Rua José Henrique Dias, 215 - Parque Vitória Régia

Colabore com os catadoresOs catadores cooperados não são como os catadores

individuais. Fazendo parte de uma cooperativa, o catador segue regras básicas como por exemplo, não poder abso-lutamente levar menores de idade durante a coleta, nunca rasgar os sacos para pegar apenas o que interessa e usar sempre luvas. O material reciclável deve estar separado do lixo comum; entregue-o pessoalmente ao catador ou deixe-o num local acertado anteriormente com ele.

Retire o excesso de resíduos orgânicos das embalagens. Isso evita a contaminação de outros materiais e também a proliferação de insetos e mau cheiro da sua residência. Uma simples enxaguada com a água usada na lavagem da roupa facilita para todo mundo e respeita o meio ambiente.

Armazene o óleo usado em garrafas pet e entregue-as fechadas junto ao material reciclável.

O que não é reciclável:

Resto de comida, papel molhado, guardanapos usados, papel higiênico, fraldas descartáveis comuns, bitucas de cigarro, fotografias, louças, cerâmi-cas e espelhos, embalagens metaliza-das, latas de tinta, verniz, solventes e outros materiais semelhantes, ade-sivos, etiquetas e fita crepe, grampos, clips, esponjas de aço, espuma e isopor

O que é reciclável:Embalagens PET, papel seco, sacos

plásticos, lata de alumínio e aço, me-tal, embalagens de vidro, jornais e re-vistas, copos de café e água, panelas sem cabo, potes de conserva, tampas de garrafa, embalagens tipo Tetra Pack, frascos de plástico, papelão, cartolinas e cartões

O príncipe de GramachoSebastião Carlos dos Santos, catador de material reciclável que já fez até palestra em Harvard, conta um pouco de sua trajetória em prol da causa da sustentabilidade

Tem histórias da vida real que de tão fantásticas fariam inveja a uma boa ficção. Pois o que dizer de um catador de material reciclável, que nunca cursou faculdade, ser convidado a dar uma palestra sobre a importância de sua profis-são em um dos maiores centros de conhecimento do mundo: a Universidade de Harvard? Pois é. Sebastião Carlos do Santos, o Tião, é o dono dessa história e de muitas outras, como a de ter dividido a atenção com outras estrelas do cinema ao pisar no tão aclamado tapete vermelho do Oscar.

Mas Tião é taxativo ao afirmar: “Não, eu não sou o cara do Oscar. Meu nome não é Oscar, meu nome é Sebastião Carlos do Santos, o Tião, catador de material reciclável”. E é exatamente essa lucidez, que blindou qualquer possível deslum-bramento, que faz a história de Tião ainda mais fantástica.

Mas, para entender todos esses desdobramentos da trajetória de Tião, volte-mos ao fio da meada. O cenário onde essa história começa é o antigo aterro sani-tário de Gramacho (o lixão que inspirou a novela “Avenida Brasil”, da TV Globo), considerado um dos maiores do mundo. Foi lá que a mãe de Tião trabalhou e de onde retirou o sustento de sua grande família — Tião tem mais sete irmãos. Foi lá que Tião desenvolveu seu apreço pela leitura. Aliás foi lá também, no meio do

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Aliás, Tião e seu amigo Zumbi, também catador de ma-terial reciclável, encontraram tantos livros no antigo ater-ro de Gramacho que chegaram a fazer uma biblioteca no local. (Hoje, são mais de 7 mil livros – editoras, ao saberem da iniciativa, também fizeram doação – que estão acomo-dados em um polo de reciclagem localizado no bairro de Jardim do Gramacho).

E foi trabalhando como catador de material reciclável no aterro de Gramacho que Tião conheceu Vik Muniz, um dos artistas plásticos brasileiros de maior projeção interna-cional. Vik Muniz desenvolveu no local, junto com Tião e outros catadores de material reciclável, um projeto artístico registrado no documentário “Lixo Extraordinário” (se você não assistiu, corra à locadora), que, em 2011, foi indicado ao Oscar.

Taí porque Tião, umas das figuras centrais do filme, pi-sou, em grande estilo, o tapete vermelho mais famoso do mundo. Mas, um adendo necessário: quando soube da via-gem a Hollywood, Tião logo tratou de agilizar seu visto para os EUA, que, num primeiro momento, foi negado. Depois, com o “empurrãozinho” do Oscar, o impasse se resolveu ra-pidinho. “A sociedade é muito hipócrita, julga por estereó-tipos. E eu, que continuava sendo a mesma pessoa, passei a ser julgado e tratado de maneira diferente por causa do Oscar”, desabafa.

Oscar à parte, o que importou mesmo para Tião foi a convivência com Vik Muniz. “Ele olhou pra nós, catadores, como seres humanos. Quebrou o paradigma de que a arte é feita apenas para e por intelectuais. E ele conseguiu fa-zer com que as pessoas olhassem para nós. Ele humanizou a imagem da gente pro mundo. A gente não é mendigo. A gente é catador de material reciclável, que trabalha com sustentabilidade, algo imprescindível para o mundo”, expli-ca e completa: “E o que é mais importante: Vik Muniz fez a gente se enxergar de outra maneira. Pois, afinal de contas, o mundo nos vê da maneira que a gente também se vê. Se a gente se vê como lixo, seremos lixo”.

Hoje, Tião, que é uma liderança entre os catadores de material reciclável, tem como sua missão ser “embaixador da causa no Brasil e no mundo”. “O lixo é um problema mundial. É preciso mudar essa situação.” Tião não mede e não medirá esforços.

“Ele olhou pra nós, catadores, como seres

humanos. Quebrou o paradigma de que a arte é feita apenas para e por

intelectuais. E ele conseguiu fazer com que as pessoas

olhassem para nós. Ele humanizou a imagem

da gente pro mundo. A gente não é mendigo.

A gente é catador de material reciclável,

que trabalha com sustentabilidade,

algo imprescindível para o mundo”

lixo, que encontrou, já meio surrado e sem capa, um exemplar de “O Prínci-pe”, de Maquiavel, que veio a se tornar uma das grandes referências em sua vida. “O pessoal liga Maquiavel a uma pessoa do mal e não tem nada a ver. Esse livro é muito bom e traz reflexões importantes sobre poder e liderança. O livro é uma ferramenta que, como todas as outras, pode ser usada para o bem ou para o mal. Daí, vai de cada um”, ensina Tião. No meio do lixo, Tião também achou outras preciosidades, que leu com muita atenção e encan-tamento, como: “Quando Nietzsche Chorou” , de Irvin D. Yalom, e também o clássico “Assim falou Zaratustra”, de Friedrich Nietzsche.

OBJETIVO SOROCABAPARCERIAS

Nós, do Objetivo Sorocaba, estamos sempre em busca de parcerias e projetos que ampliem nossos horizontes.

Conheça algumas das instituições e atividades que, hoje, somam-se aos nossos esforços de proporcionar o melhor para cada aluno:

FUTURO SEM LIMITES

Sorocabaindependently organized TED event = x

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José Armando G Pinho @Jagpinho

O cara é acusado de racismo, homofobia, responde a processso por estelionato e é eleito Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?

Manoel de Barros @Poeta_ManoeldB

‘’Minhocas arejam a terra, poetas a linguagem.’’

Marina W. @realwmarina

Pessoa no FB acha o LHuck um gato. Fiquei chocada, mas n espero nada do FB. Se tiver aqui alguém que tb acha me avisa pra eu dar block?

Mario Vázquez Amaya @marioamaya Palavras podem ser armas. Mas e se o seu inimigo for analfabeto?

Mia Couto @mia_couto

A mãe é eterna, o pai imortal!

Meryl Streep @Meryl_Streep

What are you all doing today? I think it’s time I get a bit more interactive with you all!

Twitadas

Ricardo Amorim @Ricamconsult

Agora que já há carros que se autodirigem, só faltam governos que se autogovernam.

Rosana Hermann @rosana

Felizmente eu parei de almoçar na FARMÁCIA, comendo barrinha de cereal + isotônico.

Padre Wagner @padrewagner

Problemas não provam a inexistencia de Deus, assim como as nuvens escuras e carregadas não provam a inexistencia do sol!

Alysson Villalba @aalyssonbr

O único problema da internet é que ela fez com que a babaquice humana tomasse proporções jamais imaginadas.

Revista Vida Simples @vidasimples

No Brasil, mais da metade das famílias (50,3%, segundo o IBGE) já não segue o modelo Doriana.

Yoani Sánchez @yoanisanchez

Me hace muy feliz que varios activistas de #Cuba puedan viajar y explicarse a sí mismos y a sus proyectos

Cristiane Parente @Cris_Parente

‘Acho fundamental o diploma de jornalismo e quem é contra é por motivos mesquinhos’ Arnaldo Niskier #Sem.Democracia&Comunicação # CIEE

Sérgio Vaz @poetasergiovaz

Chamei os moleques no canto do Sarau e disse: “Quem Lê, xaveca melhor.” Um gritou: Vou comprar uns livros amanhã.”

Jean Boechat @jampa

Pela diminuição da maioridade penal: prendam os espermatozóides e óvulos de uma vez

The New York Times @nytimes

President Obama on when Syria’s Assad should go: “The sooner the better.”

Oprah Winfrey @Oprah

“People you don’t love can’t hurt you”.. @IyanlaVanzant

Sir Ken Robinson @SirKenRobinson Every life is a process of improvisation between our talents and dispositions and the opportunities we take or turn away from.

Paul Auster @PaulAusterFans

--Because they’re hungrier than we are. Because they know what they want.

Homer J. Simpson @HomerJSimpson

I’m having a hard time working on my New Year’s resolutions. I just can’t think of any after “Continue To Be Awesome”.

Papa Francesco @Pontifex_it

Preghiamo per tanti cristiani nel mondo che ancora soffrono persecuzione e violenza. Che Dio dia loro il coraggio della fedeltà.

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O FUTURO É FELIZVENHA FAZER PARTE DELE. OBJETIVOSOROCABA.COM.BR

O Objetivo Sorocaba tem como um de seus eixos educacionais o esporte.Nossos alunos são incentivados à prática de modalidades esportivas que

contribuem para o seu desenvolvimento.

Assim, aprendem a socializar, trabalhar em equipe, respeitar regras, a ganhar, a perder e a conhecer todo seu potencial.

Faça parte da geração que está mudando o mundo.Conheça um lugar onde o futuro é sem limites.

FUTURO SEM LIMITES

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FAÇA PARTE DA GERAÇÃO QUE ESTÁ MUDANDO O MUNDO.

PARA QUE VOCÊ APRENDEU TUDO O QUE SABE?PARA QUESTIONAR O MUNDO.Os desafios de hoje são maiores que estudar, decorar e passar em provas. O que realmenteconta, no final, é você, seus anseios e os desafios, em um universo de informações e conhecimento em constante mutação.

O Ensino Médio Next é um novo modelo de ensino médio que busca libertar de forma absoluta o potencial de cada aluno. O reconhecido conteúdo do Objetivo Sorocaba trabalhado de forma contemporânea e conectada com atividades práticas e significativas.

Inovação, projetos, criatividade e autoria em um curso onde o aluno põe a mão na massa.

FUTURO SEM LIMITES