revista superficies primavera
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se você quer participar da próxima edição de Super-fícies, ou ver seu trabalho divulgado em nosso blog, envie-nos um e-mail com um pequeno texto e suas [email protected].
Visite também o nosso blog: revistasuperficies.com.br
M A N D A - P R A - C Á
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Indice
08
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editorial
avesso
pix
copa dos invisíveis, por Pierre Souza
6006
ensaios
O que lixo digital tem a ver com pulsão sexual?
erros e acasos da fotografia de Dirceu
Maués
negativo
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60
6264 114
memória
ensaios
varal
lambe-lambe,fotografia e muitashistórias
dicas de arte narua e na internet
102superfícies
106únicas
cidades censuradasreveladas em palavras e pixels
negativo
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Em meio ao emaranhado de imagens que flutuam na rede, Superfícies emerge com uma nova proposta: jogar luz sobre projetos fotográ- ficos que apresentam um caráter autoral e ex-perimental, capazes de valorizar os processos, a concepção e o tempo próprio de cada imagem. A revista busca compartilhar fotografias que in-corporam em sua poética, temas e questões que povoam a contemporaneidade seja a partir da técnica utilizada e/ou do conteúdo fotografado. Neste primeiro exemplar, Superfícies não apresenta tema específico, mas inaugura uma série de edições que tem como proposta ques-tionar os processos de produção da sociedade e da própria imagem. Algumas perguntas atraves-sam o conteúdo desta edição: Como temos ocupa-do os espaços? Como temos lidado com o tempo? Aonde foi parar a duração? Para dar início a essa publicação, a editoria “Avesso“ apresenta o trabalho “Copa dos invisíveis”, onde o artista Pierre Souza, se apropria da fotografia para construir um gesto poético-político-social-artístico no espaço urbano. Mais à frente, a editoria “Pix”, traz um artigo do
PROCESSOS jornalista Bernardo Carneiro, que faz uma relação en-tre a geração de lixos digitais fotográficos e a pulsão sexual, a partir da proposta do pensador Antonio Quinet. Em “Negativo”, é a vez de Superfícies mostrar de forma prática, como a fotografia pode se valer dela mesmo e de outras tecnologias para question-ar os seus próprios processos [ou a ausência deles]. Na editoria “Memórias”, a revista repensa os tempos de fotografia analógica a partir da história de um lambe-lambe de Belo Horizonte relata-da por uma de suas netas. Rodrigo Campanella coroa a edição com um texto sobre os mecanis-mos de censura à cidade e um registro fotográfi-co que revelam as dinâmicas deste fenômeno. Além das matérias, os leitores vão encon-trar ao longo da revista oito ensaios fotográficos selecionados para compor a primeira edição. A partir de um intenso processo de encontro, con-versa e escolha desses fotógrafos e suas obras, Su-perfícies busca dar destaque a novas produções que muitas vezes se encontram invisíveis em meio a grande quantidade de imagens em circulação.
Pode mergulhar em Superfícies. Boa leitura!
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Editorial
PROCESSOS jornalista Bernardo Carneiro, que faz uma relação en-tre a geração de lixos digitais fotográficos e a pulsão sexual, a partir da proposta do pensador Antonio Quinet. Em “Negativo”, é a vez de Superfícies mostrar de forma prática, como a fotografia pode se valer dela mesmo e de outras tecnologias para question-ar os seus próprios processos [ou a ausência deles]. Na editoria “Memórias”, a revista repensa os tempos de fotografia analógica a partir da história de um lambe-lambe de Belo Horizonte relata-da por uma de suas netas. Rodrigo Campanella coroa a edição com um texto sobre os mecanis-mos de censura à cidade e um registro fotográfi-co que revelam as dinâmicas deste fenômeno. Além das matérias, os leitores vão encon-trar ao longo da revista oito ensaios fotográficos selecionados para compor a primeira edição. A partir de um intenso processo de encontro, con-versa e escolha desses fotógrafos e suas obras, Su-perfícies busca dar destaque a novas produções que muitas vezes se encontram invisíveis em meio a grande quantidade de imagens em circulação.
Pode mergulhar em Superfícies. Boa leitura!
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Avesso
A obra de arte no meio urbano é de livre acesso e estimula infinitas leituras e experimen-
tações estéticas em pessoas de diferentes cama-das sociais e faixas etárias. Interessa-me promover
um engajamento maior da arte com o meio so-cial de maneira que possa transformar o cotidi-ano dos indivíduos, gerando questionamentos e reações acerca dos problemas e conflitos que
compartilhamos no mundo moderno.
No trabalho Copa dos Invisíveis, de maio de 2012 essas questões que me estimulam se fazem pre-
sentes. No trabalho procuro colocar em evidência, moradores da cidade de Belo Horizonte, que de
alguma forma foram vítimas dos processos de gentrificação e limpeza social gerada pelas de-
mandas da Copa do Mundo 2014. Trabalhadores informais, moradores de rua, prostitutas, habi-
tantes de favelas e aglomerados, todos eles seres humanos que tiveram seus direitos violados.
Muitos perderam seus lares, espaços de trabalho e sua dignidade.
COPA dos
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Este projeto surge nas ruas na forma de uma contra propaganda à instituição FIFA. A fotografia e seu desdobramento se fazem fundamentais no processo de criação e construção do trabalho. Em um primeiro momento, convido esses cidadãos atingidos a posarem para uma fotografia. Na pose, erguem como campeões uma réplica da taça Fifa, taça que é entregue ao país vencedor do torneio. Mas ao invés do orgulho da vitória, os moradores ao erguerem a taça Fifa mostram sua indignação, revolta e tristeza diante da situação que se encontram.
Em um segundo momento, na instância digital, recorto os moradores das fotografias e amplio as suas imagens em impressões de tamanho real. Em seguida recoloco essas imagens nas ruas, e os cidadãos voltam a habitar os espaços dos quais foram expulsos, retornando em muros, viadutos, paredes de casas derrubadas, lugares antes fre-quentados por eles. Ao reabitar o meio urbano ao lado da taça Fifa, esses cidadãos de papel eviden-ciam quem realmente perde e quem ganha com a Copa do Mundo.
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Pierre Souza é artista plástico e residente do Programa Bolsa Pampulha, em Belo Horizonte (MG).
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Ensaios
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maputo“Fotografar é a coisa que mais gosto de fazer, desde criança. Na época, minha mãe dizia que eu arrumei ‘um hobby muito caro’, por causa da compra de filmes e revelação”. Pelo menos este problema de Melissa foi resolvido com a invenção dos dispositivos digitais. A descoberta de programas de edição de imagens tam-bém trouxe mais alegria pra vida dessa mineira residen-te em Maputo, Moçambique. A jovem, que tem gosto por experimentações cromáticas, aplicação de filtros e fusões de imagens, nunca fez um curso na área, mas já coleciona fotografias de lugares por onde andou, como Portugal, África do Sul, Japão e China.
Em Maputo, onde vive há um ano e nove meses com o marido, Melissa revela neste ensaio as entranhas de um local em crescimento, que ganha pouco a pouco cara de cidade grande. Apesar dos arranha-céus em construção e da aparência de progresso, faltam serviços básicos à população, como transporte público com mínima qualidade e oferta regular de água e luz para as periferias da cidade. O paradoxo é logo ali.
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MAPUTO
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PRÉDIOS
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PRÉDIOS
JANELAS
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FEIRA
MAPUT
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26ISUZU
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27ISUZU
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TRAVESSIAEm plena efervescência digital, Isadora tinha olhos para
os processos analógicos. A jovem estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade de Brasília, gosta
de imaginar cada foto tirada depois do filme terminado. Passa tempo memorando o momento congelado e re-
construindo cada detalhe até o momento da revelação. Belo Horizonte encantou Isadora e fez com que seu
olhar artesanal se voltasse para o movimento das ruas e para a intensidade de sua rotina.
A série Travessia foi feita em plena Praça Sete, centro da capital mineira, e ganha esse nome pelo fato de Isadora
ter priorizado as dinâmicas de corpos e olhares que se desdobram nos cruzamentos de sinais. “Quis registrar
o que pra mim representa muito da vida moderna, das cidades, o corre-corre do cotidiano, o anonimato dos
espaços públicos, a falta de interesse das pessoas pelas pessoas que cruzam seus caminhos, uma sobrecarga de
estímulos, visuais, sonoros, de várias naturezas. Pensei em tudo isso enquanto tirava as fotos”, comenta.
por Isadora Cardoso
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29TRAVESSIA 1
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TRAVESSIA 2
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TRAVESSIA 2
TRAVESSIA 3
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TRAVESSIA 4
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34 TRAVESSIA 5
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35 TRAVESSIA 5
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TRAVESSIA 6
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temporada de compras
Gestos e comportamentos que se manifestam no es-paço urbano são o ponto de partida dos trabalhos de
Wenderson Fernandes, que tem se lançado em pro-duções independentes e autorais. Para o fotógrafo de Belo Horizonte, a expressão do conceito, da ideia, im-
porta mais do que a fotografia em si, e é esse processo de investigação e busca que lhe permite perceber os
fenômenos ao seu redor. Em seu trabalho Temporada de Compras, Wenderson registra um fenômeno comum
entre a população de rua das grandes cidades: a troca de carroças manufaturadas por carrinhos de compra.
Nas palavras do próprio autor, “essa atitude acaba por subverter ícones do capitalismo, ao deslocar um objeto
tão marcante, e ao mesmo tempo provoca um estra-nhamento quando os vemos cheios de embalagens
vazias, caixas e outros vestígios da nossa sede por con-sumir”. Nesse sentido, Wenderson consegue trazer à
tona um fenômeno ambíguo, em que aqueles que se encontram em situação de exclusão pela ausência do poder de compra, se apropriam e subvertem um dos
maiores símbolos do consumo.
por Wenderson Fernandes
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TEMPORADA DE COMPRAS 6
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TEMPORADA DE COMPRAS 8
TEMPORADA DE COMPRAS 4
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TEMPORADA DE COMPRAS 7
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TEMPORADA DE COMPRAS 5
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TEMPORADA DE COMPRAS 11
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DAY DREAMERSNo chão de uma sala, sobre a mesa de trabalho, em cima de uma bicicleta ou em praças públicas. O fo-
tógrafo francês Eric Leleu, hoje fixado em Xangai, descobriu por meio das lentes de sua câmera um
fenômeno social que revelam aspectos de uma China contemporânea: o ato de dormir durante o dia. Depois
de fotografar cochilos em Xanghai, Pequim, Guangzhou e Hong Kong durante quatro anos, ele concluiu que as noções de espaço público e privado no oriente se mis-
turam radicalmente. As ruas se tornam uma extensão das casas e a privacidade é compartilhada sem temor.
Saltam nas imagens os corpos tombados, rendidos ao sono, que se equilibram nos objetos e na própria com-
posição do frame, garantindo o momento solene de descanso durante o dia. O peso do sono revelam ainda aspectos sobre o modo de vida vivenciado nas grandes
cidades daquele país, onde a cidadãos se engajam em uma extensa jornada de trabalho, capaz de exaurir as forças e o tempo. O registro sociológico e fotográfico
deve virar livro em breve.
por Eric Leleu
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por Eric Leleu
DAY DREAMER 1
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DAY DREAMER 8
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DAY DREAMER 13
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DAY DREAMER 2
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DAY DREAMER 22
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DO LIXO DIGITAL FOTOGRÁFICOou DA PULSÃO IMAGÉTICA/SEXUAL
Satisfação constante e ausência de satisfação é o paradoxo da pulsão, formulado pelo psiquiatra e psicanalista Antonio Quinet, que inspira elocubrações pseudopsicanalíticas a respeito do recente fenôme-no social da produção do lixo fotográfico digital. A ânsia pelo registro de imagens digitais talvez seja fruto de uma ne-cessidade de ser visto, de marcar uma existência, de tornar-se indivíduo. O sujeito cartesiano morreu, existir nos dias atuais não significa pensar, basta ser visto. Toneladas de gigabytes com rostinhos adesivos, típicos de fotos de colunas sociais, são a marca registrada do lixo digital fotográfico, para o qual não se encontra comprador, nem entre os mais especializa-dos. Assinalar a existência por meio de imagens e representações sem-pre esteve presente na História, seja em pinturas rupestres, em peles de animais, em papiros, em paredes, em esculturas, em grandes rochas, em telas e fotografias. A pulsão imagética levou o homem a aprimorar sua capacidade de expressão e hoje clica-se freneticamente. É tão fácil, bara-to e acessível. A libido está para a pulsão sexual assim como a necessidade de ser alguém está para a pulsão imagética. A pulsão sexual leva, de um modo geral, à produção de fluidos e a pulsão imagética gera o lixo digital.
Pix
Bernardo Carneiro*
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ou DA PULSÃO IMAGÉTICA/SEXUAL Bernardo Carneiro*
Simples assim, basta deletar, ou talvez não. Desejos sempre satisfeitos e nunca satisfeitos é o paradoxo que nos mantém vivos. Gozo total sig-nificaria a morte (QUINET), logo é mais seguro não atingir o gozo pleno. Cada vez mais os rostos serão fotografados e as paisagens continuarão sendo coad-juvantes, apenas para mostrar a capacidade financeira de chegar a lugares paradisíacos, da moda, chiques, intelectualóides, aventureiros, despojados ou seja lá o que possa representar algum lugar qualquer. Mes-mo a negação das categorias citadas também é uma espécie de afirmação de status: “não sou e não vou em nenhum destes lugares das fotos, o meu mundo é diferente”. Outra parafilia recente da pulsão imagética con-siste em fotografar pratos solicitados em restaurantes ou bares. Marca-se presença com a comida, seja pela excentricidade, pelo suposto preço, beleza, sabor requintado ou coragem de comer algo bem esquisito. Quando voltarmos a fotografar parentes e amigos mortos, hábito em alguns países nos primeiros anos da fotografia, será necessário muito mais do que psi-canálise para tentar entender tal prática. Provavelmente as fotos sejam usadas para iden-tificação no além, e para saber como era o morto em suas últimas horas na terra. Aquele que chamar estas futuras imagens de lixo digital correrá o risco de ser enquadrado em crime hediondo.
*Jornalista e fotógrafo, 48 anos, carioca, naturalizado mineiro, casado e pai do Guilherme (8 anos), ex-profissional de hotelaria, ex-guia de turismo, ex-professor de História, ex-pesquisador em projeto de História Oral com bolsa da FAPERJ, ex-protético espe-cializado em Ortodontia, quase aluno da Escola Nacional de Circo e quase monge beneditino.
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Negativo
poéticas do acaso
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O tempo, a luz e uma câmera arte-sanal são os insumos de trabalho de Dirceu Maués, fotógrafo, artista e paraense, que trocou a câmera industrial e o trabalho como fotojornalista para se lançar no universo da duração. Dirceu fabrica suas próprias “pin holes” e a cada novo trabalho é surpreendido pelos experimentos for-jados por próprias mãos. Com pequenas câmeras feitas de madeira, Dirceu de-safia a lógica de produção de imagens no tempo contemporâneo, convidando seu público a uma reflexão sobre os pro-cessos relacionados ao ato fotográfico. Entre suas produções, des-taque para a imersão realizada no tradicional mercado de Belém, o Ver-o-peso. Após um ano de pesquisas e experimentos fotográficos no local,
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Dirceu se lançou em uma tentativa de mixar tecnologias: animou as imagens colocandos-as em sequência, numa tomada de 360 graus. Para isso, o artis-ta se valeu de 45 câmeras pin hole, dois amigos e 4 horas de fotografias tiradas. Outros trabalhos, como “Do so-nho que eu não acordei” e “Em um lugar qualquer - Outeiros” continuam a revelar o rompimento de Dirceu com o tratado de uma imagem perfeita. O fotógrafo as-sume sua busca por uma estética marcada por vazamentos de luz, pela presença de grãos, por ruídos inesperados, pelo pre-cariedade. Em sua poética do acaso, Dir-ceu não nega a tecnologia, mas se apro-pria dela para revelar uma imagem viva, artesanal e humana, e delatar o movimen-to impensado de produção de imagens.
as fotos foram tiradas durante oficinas de pin hole realizadas por Dirceu
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Memória
Em um típico almoço de domingo começam as histórias:“Eu e o Primo trabalhávamos com o papai no parque de lambe-lambe. Não era essa moleza o que esses dois pegaram não!”. Contava em meio a gargalhadas meu pai, segundo mais velho dos quatro filhos homens do meu avô Severino, sem contar o Primo, que no fim das contas era mesmo um irmão. “Não importava o quanto chovesse, tinha que ir fazer foto no parque. E se aparecesse algum cliente? Aí eu segurava o teto da barraca do lambe-lambe de um lado e a água que acumulava em cima, caía no Primo que não segurava direito lá do outro lado!”. E a família toda ria.“E ainda tinha que cortar a chapa de uma for-ma que o sujeito meio torto, parecesse endi-reitado, pra mandar pra moça que só namora-va trocando cartas”, contava o Primo. “E se ele tinha olho preto, mas escrevia pra outra que tinha olho azul da cor do céu? Tinha que co- lorir o retrato do jeito que ele queria! Naquela época não tinha filme colorido. Seu avô nos ensinou a colocar o papel celofane na água pra soltar a tinta. A gente ia com o pincel pra
Severino no parque municipal, em Belo Horizonte (MG). As imagens
foram cedidas pela família.
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*Sarah é jornalista e neta de Severino
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colorir do jeito que o cliente pedia. Se o dia estava feio, a gente coloria o céu de azul, se a dona estava com um vestido vermelho, a gente coloria, se o menino estava segurando um carrinho amarelo, mas preferia um verde, a gente coloria também”.Em meio a tantas histórias repetidas ao longo dos anos, meu avô ficava sentado na cadeira de sempre, apenas rindo de tudo aquilo que meus tios contavam e vendo a cara de curio-sos dos netos. Pensando agora, imagino que ele deveria mesmo era pensar: “mas esses meninos são muito exagerados. Se tivessem passado metade dos perrengues que pas-sei...”.Depois que ele faleceu, perguntei para a minha avó onde é que “Seu Severino” tinha aprendido a fotografar. Ela respondeu mais ou menos assim: “Ah minha filha, pelo que sei, apareceu uma máquina de tirar retrato lá no Congo (PB) e ninguém conseguia entender como funcionava. Até que seu avô, curioso como ele só, resolveu que ia aprender a usar a máquina. E aprendeu mesmo!”
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Ensaios
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equadorMaria Portaluppi é natural de Quito, Equador, e hoje reside em São Paulo, onde estuda Pós Graduação em Fotografia. Além das experiências em produtoras de publicidade e TV, Maria também se dedica a projetos autorais, de cunho documental e conceitual. A penum-bra é tema constante de suas imagens.
A forma como a fotógrafa se relaciona com a ausência de luz denotam aspectos próprios de sua estética, que hora põe à mostra, hora esconde em meio às dinâmicas dos espaços. Os detalhes e as texturas captadas mes-mo em ambientes pouco iluminados fazem parte das cenas curiosas, quase cinematográficas reveladas por Maria. Jogos de luz e sombra quase calculados, se reve-lam naturais, espontâneos. E é nesta ambiguidade que sua fotografia se posiciona, revelando seu percurso por um Equador que só pode ser conhecido a partir de sua escuridão.
por Maria Portaluppi
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CADEATE. EQUADOR
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CUENCA. EQUADOR
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EL CAJAS. EQUADOR
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LIMONES. EQUADOR
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QUITO. EQUADOR
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Músicana pele
Transformar notas musicais em fotografias. Essa foi a ideia de Luiz Rodrigues, logo quando voltou da In-
glaterra e se fixou em Londrina, no Paraná. Enquanto olhava para a própria tatuagem, um trecho da música
“Let it be”, dos Beatles, surgiu a ideia do ensaio que ganhou grande repercussão na rede. Luiz entregava
às pessoas canetas para que escrevessem em alguma parte do corpo, versos de suas letras preferidas e logo
em seguida fotograva.
O que era para ser um álbum de 20 fotos, virou uma fanpage com mais de 3 milhões de visualizações, 7 mil
curtidas e mais de 800 fotos. Tudo foi feito sem finan-ciamento algum. Com o retorno positivo, Luiz resolveu
publicar um livro com as imagens . Mas mais do que uma boa repercussão, Luiz carrega com ele as histórias
e a conexão que estabeleceu com várias pessoas graças a este projeto.
por Luiz Rodrigues
4 MÚSICA: PAPAGAIO
DO FUTURO, DE ALCEU VALENÇA
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MÚSICA: PAPAGAIO
DO FUTURO, DE ALCEU VALENÇA
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MÚSICA: A VIDA É DOCE,DE LOBÃO
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MÚSICA: SPEED OF SOUND, DE COLDPLAY
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MÚSICA: DANIEL NA COVA DOS LEÕES , DE RENATO RUSSO
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MÚSICA: NINGUÉM = NINGUÉM,DE HUMBERTO GESSINGER
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surrealPor 20 anos, o polonês Dariusz Klimczak, morador de
uma vila próxima ao mar Báltico, fotografou a realidade. Mas há dez anos, ele se cansou do ofício e iniciou seu
trabalho com fotomontagens. Apesar de suas imagens serem constantemente associadas à um mundo sem
regras, Darius prefere criar imagens surrealistas que ex-pressem aspectos de proximidade com o mundo real.
Por isso, o fotógrafo busca representar as proporções, a direção da luz e a sombras sem distorções.
Através de suas imagens, Dariusz quer contar história, criar mundos imaginários a partir da sensibilidade,
da intuição e do subconsciente. Problemas pessoais, experiências, música, leituras, relacionamentos com
as pessoas, detalhes arquitetônicos são elementos que estimulam o processo criativo do artista. Nota-se
a influência da pintura no uso das cores e na textura assumida pelos elementos gráficos que compõe seu trabalho, que chega a ser definido por ele, como um
tributo à história da arte.
por Dariusz Klimczak
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por Dariusz Klimczak
HERBALIFE
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LAND OF BUTTONS
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SZCZOTECZKI
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NON IRON
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EX-FOTOO trabalho de Rafael Carneiro, “Ex-fotos” começa em uma sala de um hospital público de Belo Horizon-te, onde há 70 anos morreu o beato Padre Eustáquio conhecido em todo o Brasil. O espaço é mantido in-tacto e recebe até hoje visitas de pessoas de diversos lugares que expressam seu testemunho público de fé e gratidão, conhecidos como ex-votos, através da cola-gem de retratos 3x4 em uma das paredes do pequeno quarto. “As imagens encontram-se em uma disposição errática e fortuita, formando um mosaico de íncrivel significação antropológica e poética”, comenta o autor da obra.
No espaço em que se encontram, as fotos são então acrescidas de um novo sentido, superando a condição de simples ferramentas de comunicação visual ao se tornarem ex-votos fotográficos, permeadas por um pro-cesso de ressignificações e pela passagem do tempo. “Imagens de pessoas desconhecidas, feitas por fotógra-fos diversos, interagem entre si, com o ambiente e com os que ali circulam. O tempo torna-se o grande agente modificador desses retratos. As imagens envelhecem e mofam, lentamente se esvaem, ganhando materiali-dade, deixando de ser fotos”, define Rafael.
por Rafael Carneiro
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EX-FOTO 4
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EX-FOTO 6
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100EX-FOTO 7
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101EX-FOTO 8
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retalhospúblicos
espelhospartidos
por Rodrigo Campanella*102
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por Rodrigo Campanella*103
Superfícies
Com a câmera nas mãos, uma pou-co discreta Hasselblad analógica e elétri-ca, fotografo a fachada de um edifício de várias torres em Vitória. O porteiro se aproxima e pergunta se tenho permissão para fazer as fotos. Explico que fotografo os novos prédios da cidade e que não tenho intenção de entrar, registro apenas a fachada. Ele retruca – “Acho que isso que você está fazendo é proibido”. En-quanto isso, duas câmeras sobre a porta envidraçada do edifício vigiam a rua, todas as horas do dia, enviando ima-gens para um monitor na guarita. Sem qualquer questionamento. Com a câmera nas mãos, uma pou-co discreta Hasselblad analógica e elétri-ca, fotografo a fachada de um edifício de várias torres em Vitória. O porteiro se aproxima e pergunta se tenho permissão para fazer as fotos. Explico que fotografo os novos prédios da cidade e que não tenho intenção de entrar, registro apenas a fachada. Ele retruca – “Acho que isso que você está fazendo é proibido”. En-quanto isso, duas câmeras sobre a porta envidraçada do edifício vigiam a rua, todas as horas do dia, enviando ima-gens para um monitor na guarita. Sem qualquer questionamento.
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Nas últimas décadas do século XX, no Brasil contemporâneo, o discur-so da segurança, seduzindo através do medo, substitui a ideia de que a riqueza de uma cidade é diretamente proporcional à sua liberdade e var-iedade. Ainda assim, o eco da inse-gurança apenas multiplica sua força. A militarização das fachadas amplia o desejo e a sensação de carência por mais segurança, algo notável em Goiânia(GO) e Vitória(ES), as capitais retratadas dentro do projeto “cidades censuradas”. As imagens buscam fragmentos dessa cisão entre o es-paço público e o espaço privado, que resulta no impedimento do olhar nas cidades atuais. São recortes dessa linha de fronteira, que se deixam le-var entre o registro documental e um exercício de composição abstrata.
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* Rodrigo Campanella é mestrando em comunicação social pela UFMG e realiza projetos na área de fotografia urbana.
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Únicas
retrato
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Renata ARA jornada é o destino2013Índia
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Lysandra CoulesTorn emotion2012Canadá
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Robim MartinsBelo Horizonte
Brasil
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coletivo travessãoConectar moradores de bair-ros distantes através da arte. Com este objetivo, o Cole-tivo Travessão atua desde 2010 em centros culturais e coletivos da capital minei-ra. Por meio de oficinas que misturam artes gráficas e plásticas, intervenção urbana e poesia, os participantes dão vida a ideias e conceitos que passam a circular nas trasei-ras dos ónibus e estabelecer conexões entre comunidades.
revistatangerine
Em junho deste ano, o Nú-cleo de Design e Fotografia da UEMG lançou uma pu- blicação digital que aborda a fotografia como objeto do design e afirma suas inter-
faces com a arte. Tangerine é uma revista colaborativa
e tem como foco o compar- tilhamento de projetos ex-
perimentais produzidos por alunos e artistas. Acesse o
blog e saiba como enviar seu trabalho para Tangerine.
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Varal
Compartilhar a poesia que ocupa as cidades e estam-pam o concreto. Essa é a proposta do coletivo que procura dar visibilidade a frases, ilustrações e inter-venções que se expressam nos muros. O projeto é cola- borativo, e funciona como um banco vivo de imagens atu-alizadas pelos olhares aten-tos e dispostos a registrar os muros ocupados.
geografias imaginárias
Desvendar a Amazónia a partir de uma expedição
cinematogáfica. Essa é a ideia do projeto Geografias Imaginárias, que perpassa
diversos territórios do Norte do país, recolhendo histórias,
depoimentos e imagens. Pelo Facebook do projeto, é
possível acompanhar a expe-dição, apreciar as imagens e conhecer a realidade cultural
da região.
olhe os muros
![Page 116: Revista superficies primavera](https://reader033.vdocuments.site/reader033/viewer/2022052914/568c4a1b1a28ab491696d62d/html5/thumbnails/116.jpg)
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EXPEDIENTE
Revista elaborada pelas alunas do curso de comunicação/publicidade e propaganda da UFMG, Andrea Souza e Patrí-cia Ester Mendonça, orientadas pelo professor Bruno Guimarães Martins.
Projeto gráfico: Andrea Souza e Patrícia Ester Mendonça
Colaboradores: Pierre SouzaBernardo CarneiroSarah DutraRodrigo Campanella
Fotógrafos escolhidos desta edição:Darius KlimczakEric LeleuMaria PortaluppiIsadora CardosoLuiz RodriguesMelissa AmorimRafael CarneiroWenderson Fernandes
Agradecimentos:À Elias Santos Aos fotógrafos e todos as pessoas que nos enviaram seus trabalhos, mas que não foram selecionados para esta edição.