revista rock meeting #35

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Revista Rock Meeting #35. Nesta edição: Capa – Madame Saatan, O que estou ouvindo?, Homenagem a Jon Lord, World Metal, Doomal, Review: Claustrofobia, Mythological Cold Towers e Titãs, Pussy Riot, Arapiraca. www.rockmeeting.net |@rockmeeting | [email protected]

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EDITORIALMuseumPor que viver do passado? Qual a razão

de ainda continuar olhando para trás? O que foi que você perdeu e que agora

se arrepende de ter ou não feito? Este e ou-tros questionamentos em relação ao passado transcendem qualquer bom senso. Você, ele e eu já paramos, um dia, e constatamos (ou não), “naquele período, eu era mais feliz do que hoje”. Mas o norteamento deste editorial não é a vida, até porque precisaria de muito mais que algumas linhas discorridas em qualquer que seja a revista/jornal/ensaio/livro... Como o foco desta Revista é a música, é sobre ela que devemos nos questionar. Então por que há tantas pessoas que ainda vivem do passa-do? Pode ser um incontrolável resgate ao que já foi. É sempre bom ter referências para compor o seu gosto musical. O que não dá para entender é um certo movimento indivi-dual e/ou constante de fãs que não aceitam as novas tendências. Tudo bem que não é preci-so consumir tudo o que é divulgado nesta teia pós-contemporânea da música, mas o que custa abrir um pouco o horizonte? Independente de, a cada dia, novas bandas que despontam no cenário Rock/Me-tal não serem do gosto de uma parcela, mas sim de outra, até o “desgosto” sobrou para as

bandas já consagradas, que sofrem por seu novo trabalho ser aquém do esperado pelos fãs mais conservadores. A pergunta que fica é: aquela banda“das antigas” que você tanto gosta, bate no peito para dizer que é sua preferida, conti-nua na música pelos ganhos, ou porque de-seja mudar um pouco a sonoridade e tentar experimentar? Ao sofrer a mudança sonora e receber feedback negativo, a banda começa a reviver o passado de glórias, que era o supos-to melhor período, e sofre pressão para voltar àquilo que era. Bem, colega... Sentimos mui-to ao informar que é um caminho sem volta. Muita gente quer ser famoso hoje pelo que produz e, principalmente, para ver alguns ze-ros a mais na conta bancária todo mês. Revival ou não, não estamos julgando os que gostam de ouvir as músicas do passa-do: quem seríamos nós para fazer isso?Hápreferências para tal. Sim, claro, não há o que discutir com preferências. Questionamos mesmo os que, ao que parece, gostam de criar mal estar por conta do passado, citar tal ban-da e seu álbum que o levou à glória. De todo modo, cada um escuta o que quer. No entan-to, questione outros sentidos do passado, ao invés de continuar com o mesmo discurso. O tempo passa.

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CONTENTS04 Doomal

07 Jon Lord - Especial

11 World Metal

15 Review - Mythological Cold Towers

17 capa - Madame Saatan

29 Pussy Riot

31 Review - Claustrofobia acional

37 Review - Titãs

43 Titãs - Entrevista

51 Interior tem Rock

54 O que estou ouvindo?

EXPEDIENTE

Direção GeralPei Fon

RevisãoYzza Albuquerque

CapaPei Fon

EquipeDaniel LimaJonas SutareliLucas MarquesPei FonYzza Albuquerque

ColaboradoresBreno Airan João Marcello CruzRodrigo Bueno (Funeral Wedding)Thiago Santos (Ilustração)

CONTATOEmail: [email protected]: Revista Rock MeetingTwitter: @rockmeetingVeja os nossos outros links:www.meadiciona.com/rockmeeting

Maria Fernanda Calls

Madame Saatan

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Por Rodrigo Bueno (Funeral Wedding | [email protected])

Eu não me recordo de alguma outra banda vinda lá da terrinha que tenha causado tanto impacto no metal e co-

locado o mundo a voltar os olhos para Portu-gal.ClaroquemerefiroaoMoonspell,masnão posso me ater a ele neste texto. Apesar da sonoridade próxima ao Doom,elesflerta-vam com o black e o gothic metal.Assim como o Sepultura foi a banda que abriu os olhos dos gringos para o que acon-tecia por aqui, com o Moonspell foi exata-mente o mesmo. Sendo assim, a banda ex-pôs uma cena em expansão na época. Por volta de 1992, surgiu a banda In-carnated, praticante do doom/death metal. Eles registraram a demo “Death Blesses by

a God”, em 1993, para no ano seguinte mu-darem de nome e se tornarem uma das pri-meiras bandas do estilo a serem reconheci-das nos 4 cantos do mundo, a Desire. Como Desire, lançaram uma demo em 1995, para noanoseguintedebutaremcom“Infinity…A Timeless Journey through an Emotional Dream”. Tiveram mais alguns lançamentos nofinaldadécadapassada, e seu “último”registro havia sido o “Locus Horrendus -The Night Cries of a Sullen Soul”, para pos-teriormente entrarem num hiato que durou 7anos,quandolançaramoEP“Crowcifix”. Em 1993, tivemos o surgimento da Drawned in Tears, praticante de um doom/death metal. Lançaram em 1995

Doom em PortugalBefore The Rain

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Why Angels Fall

Process of Guilty

sua demo, “Abstract Melancholy”, e em 96, “Deep”. Mantiveram o nome/estilo até o finaldadécada,e jáem2001mudaramparaBlueSoundTrafficemigraramparaoGothic Metal. Lançaram 1 demo e 2 Eps, para depois encerrarem as atividades. Ambas as demos da Drawned in Tears são facilmente encontradas para download grátis. A Sculpture surgiu em 1994 e registrou, em 1997, o seu debut EP, chamado “Like a Dead Flower”, trazendo em seu death/doom uma enormeinfluênciadeAnathema(old).Emsualine-up, continha pelo menos 3 dos membros que hoje formam/formaram a Before the Rain.A Before the Rain teve seu início em 1997, mas debutousomenteem2002,comsuademo“…and with the Day Dying Light”. Após algumas mudanças em seu line-up, no decorrer de 5 anos,lançaramotãoaguardadofull-length“…One Day Less”, para novamente entrar em um hiato de 4 anos até lançarem o maravilhoso “Frail”, e na sequência um split com Shape of Despair,ambosem2011. Nesse hiato, tivemos a debandada de al-guns membros para a chegada de novos, como GaryGriffith,queficouconhecidoporterfeitoparte do Morgion (USA) e hoje faz as linhas de vocais/guitarra adicional. Já o ex-vocalista da Before the Rain, Carlos d’Água, fez os vocais na banda francesa de Atmospheric Doom, Le-thian Dreams, num passado recente.Durante um breve período, a Before the Rain teveemseuline-upoguitarristaHugoSantos,queposteriormenteficariaconhecidoporsuaoutra banda, a Process of Guilt. Praticante de um Sludge/Doom, a Process of Guilt vem

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angariando muitos admiradores a cada lançamento. Em 1997, tivemos o surgimento da “Childen of Lir”, que mudou para “Te Devm”. A banda registra, em 1999, sua demo, para depois mudar para “Why Angels Fall”, e estão na ativa até hoje, sem mudar de nome. Em 2005, tivemos osurgimento de uma das bandas/projetos mais ativos, tendo em seu som a vertente do Funeral Doom.

A banda (sic) Bosque vem nos brindando com suas melodias desesperadoras e angustiantes, tendo em sua discografia inúmeros splits,demos e um full-length. No ano de 2008,surge a Mourning Lenore, trazendo em sua bagagem uma sonoridade voltada ao Melodic Doom/Death Metal.Lançaram,em2009,umsplit,eseudebut,em2010.Noanoseguinte,abanda teve uma pequena ruptura, com alguns membros saindo e outros entrando. Hoje,encontra-se“parada”,devidoàsinfluênciasdosnovos membros e mudança de direcionamento musical, o que possivelmente poderá culminar com o encerramento das atividades para o surgimento de um novo projeto. Estas bandas são uma pequena parcela

do que vem acontecendo por lá. Sei que muitas bandas ainda não chegaram aos nossos ouvidos,masparafraseandouma citaçãodeOzzyOsbourne: “Enquantohouver garotosrevoltados, haverá rock n’ roll”. Eu faço a minha versão: “Enquanto houver garotosentristecidos, haverá o doom metal”.

Desire

Bosque

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O poeta dos teclares

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família até seu último suspiro e tilintar de dedos aos 71 anos, na London Clinic. Lorddeixouuma esposa, doisfilhos emilhares de admiradores mundo afora. Não por ter sido apenas um dos fundadores de umadasbandasmaisrespeitadaseinfluentesde todos os tempos, o Deep Purple, nos idos de1968,masportersidoumdosprimeirosajuntaroclássicocomosujoHardRock. O resultado não poderia ser mais seminal e encantador. Canções como “Lazy”, “Highway Star”, “Smoke on the Water”,“SpeedKing”,“Hush”,“WomanFromTokyo”,“Perfect Strangers” e “Burn” são apenas uma deixa do que realmente o músico era capaz de fazer nos teclados. Além de tocar no Purple, o britânico,

Em meados de julho, o mundo da música perdia um de seus nomes mais representativos, Jon Lord, cujo dom era fundir o

clássico com o sujo Rock and Roll

Por Breno Airan (@brenoairan | [email protected])Fotos: Divulgação

A força e a vontade de Jon Lord, eterno tecladista do Deep Purple, eram impressionantes. A prova disso é que, enquanto travava uma luta covarde contra um câncer no pâncreas, ele estava trabalhando num projeto antigo, originalmente registrado pela sua banda, em 1969. No entanto, desta vez, num projeto solo, o britânico resolveu por no estúdio toda a nova aura do “Concerto For Group And Orchestra”. A regravação – por sinal, definitiva –da obra-prima de Lord junta o conceito de música erudita e rock e tem participações de figuras como Bruce Dickinson, vocalistado Iron Maiden, Joe Bonamassa, bluesman à frente das seis cordas do Black Country Communion, e Steve Morse, guitarrista do Deep Purple e do Flying Colors, a serem conduzidos pelo maestro Paul Mann com a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra. O lançamento deste álbum – que vem com um documentário – está programado para sair neste mês de setembro. Mas não estava previsto para que ele fosse póstumo.

LUTO

Jonathan Douglas Lord morreu no último dia 16 de julho, por conta de uma embolia pulmonar. Ele foi amparado por sua

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nascido em Leicester, também deixou sua marca no Paice, Ashton & Lord, no The Artwoods, no Floot Pot Men e nos primeiros anos do Whitesnake. De sua banda “original”, o Purple, ele saiuapenasem2002–dandovagaparaDonAirey, ex-Ozzy Osbourne e ex-Rainbow – para investir em sua carreira solo (quando o grupo foi formado, chamava-se “Roundabout” [carrossel, em português], e todos os integrantes se revezavam nos instrumentos em torno da bateria. Daí o nome). Em 2010, lançou o ótimo “To NoticeSuch Things”, e, no ano seguinte, se tornou Doutor em Música pela Universidade de Leicester. Numa recente entrevista ao jornal Northern Echo, Jon Lord expressou toda a sua tristeza em sair do grupo que o consagrou, afinal, ele não se ausentou por divergências

musicaisoubrigascomosdemaisintegrantes:“Foi terrível sair. Era a minha banda, eu era um membro fundador e os caras eram grandes amigos meus. Eu passei noites e noites sem dormir, mas percebi que estava começando a gostar menos da situação e ficando apenas acostumado com a mesma. De repente me descobri pensando que não gostaria de tocar noite após noite, e quando percebi aquilo, eu sabia que tinha de tomar uma decisão. Eu verifiquei se seria possível tirar um ano de férias, mas eles disseram que não achavam isso viável. Então eu disse que, naquele caso, teria de sair”. Assim que Jon faleceu, uma breve mensagem deixou fãs com os olhos marejados aoleremapáginaoficialdoDeepPurple.Ládizia,aofinal,que“Jonpassoudaescuridãopara a luz”. Mas ele já era iluminado.

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Novo Dylan

Em seu 35º álbum estúdio, “Tempest, Bob Dylan resolveu fazer uma singela homenagem ao eterno cantor dos Beatles, o britânico John Lennon, morto por um fã em dezembrode 1980.A canção “RollOn John” - que fechao álbum “Tempest”, a ser lançado no dia 11 de setembro - tem vários versos em referência a músicas dos Fab Four, a exemplo de “A Day In The Life” e “Come Together”.

Sound City Dave Grohl é um incansável. Um artista nato. O vocalista e guitarrista do Foo Fighters se dedicou nesses últimos meses a um documentário sobre o lendário estúdio’SoundCity’,ondetocaramfigurascomoNeilYoung,Metallica, Cheap Trick, Rage Against The Machine e, claro, o Nirvana. Ele mesmo produziu e dirigiu o documentário, que leva o mesmo nome do estúdio estadunidense que consagrou sua antiga banda – foi onde acabou sendo gravado o divisor de águas “Nevermind”, em 1991. Dave tocava bateria no grupo. Muita história há para se contar sobre as experiências vividas naquele local e foi o que Grohl buscou.

Linkin Park no Brasil

A banda de metal alternativo Linkin Park fará quatro apresentações em solo tupiniquim. A informação foi repassada no último dia 19. Os shows acontecerão todos no mês de outubro. Eles trazem a turnê do quinto disco de estúdio, o bem recebido “Living Things”. A última vez queoLinkinParkestevenoBrasilfoiem2010,no festival SWU, em São Paulo. Mas, desta vez, a coisa se expandiu. Além de um show em São Paulo, na Arena Anhembi, no dia 7 de outubro, haverá apresentações no Rio de Janeiro (CitibankHall,nodia8),emCuritiba (ParanáClube,nodia10)eemPortoAlegre(EstádiodoZequinha, no dia 11).

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Pra mais de mil

Lemmy Kilmister. Gene Simmons. Mick Jagger. Nomes que fazem boa parte das mulheres tremer. E, segundo o livro “Mick:TheWildLife andMadGenius ofJagger”,anovabiografiadofrontmandosRolling Stones, ele teria feito sexo com mais de 4 mil mulheres. O autor Chris Andersen garantiu em entrevista ao Extra TV que esta, inclusive, “é uma estimativa baixa”. Angelina Jolie, Carla Bruni, Uma Thurman e Luciana Gimenez foram algumas das “vítimas” deste que era um viciado em sexo. O livro traz também detalhes sobre o affair de Jagger com David Bowie, no início dosanos1970.

Voo solo

O primeiro disco solo do fundador, compositor e baixista do Iron Maiden, Steve Harris, será lançado no dia 24desetembro,confirmouagravadoraEMIMusicnoúlti-modia18.Intitulado“BritishLion”,oálbumtem10faixas,compostas e produzidas entre lançamentos e turnês da ban-da britânica.

Queen reinando O Queen reina na Inglaterra, com efeito. É o que diz uma pesquisafeitapelaOfficialChartsCompany,apontandoacanção“Bohemian Rhapsody” como o single favorito do Reino Unido. O levantamentofoifeitoentreasmúsicaslançadasnoúltimos60anos (!). Composta por Freddie Mercury em 1975, a faixa – uma das melhores do álbum “A Night At The Opera” – teve produção deRoy ThomasBaker e figurou no topo das paradas durantenove semanas. Apenas neste período, o single vendeu mais de ummilhãodecópias.AlistadaOfficialChartsCompanyaindateve “Billie Jean”, de Michael Jackson, em 2º lugar; “Someone LikeYou”,hitdadivaAdele,logodepois;“Don’tLookBackInAnger”,doOasis,em4º;eadobradinha“HeyJude”,dosBeatles,e“Imagine”,deJohnLennon,emseguida.

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Novo do Green Day

O trio punk do Green Day lançou no dia 16 a pri-meira canção da trilogia de álbuns a serem lançados em quatro meses. O single “Oh Love” estará no registro em estúdio “¡Uno!”, que chegará às prateleiras no dia 25 de setembro deste ano. Já o álbum “¡Dos!” será lançado no dia13denovembroeo“¡Tré!”,em15dejaneirode2013.Em recente entrevista, o frontman Billie Joe Armstrong afirmouque“omomentoémaisfértildenossasvidas”.[Oh Love] É a melhor música que já escrevemos”.

Fleetwood Bac(k)

A cantora e compositora Stevie Nicks, quefigurahojeseus64anosde idade,afirmouem entrevista ao CBS News que o grupo de Blues Rock a qual ela faz parte, o Fleetwood Mac, vai voltar “no máximo, até o ano que vem. Esse é o plano”. “Eu não sou muito diferente de quando comecei na banda. Continuo escrevendo músicas e, no palco, procuro me inspirar nas performancesdaJanisJoplinedoJimiHendrix”,contaela,quelançouumálbumsolo,o“InYourDreams”,no ano passado, e está em turnê com o Rod Stewart.

Pior não pode ficar

O vocalista do Soundgarden e ex-Audioslave, Chris Cornell, já havia dito em março último que o Rock havia morrido. O que parece é que seu discurso tem mudado com o passar dos meses. Cornell viu nisso, no fato de a música estar hoje tão defasada, uma oportunidade de o Rock ressurgir a todo vapor. Em entrevista recente, o cantor grunge afirmou que da atual cena da PopMusic só se salva a britânica Adele, a voz marcante por trás dos sucessos “Rolling In TheDeep”e “SomeoneLikeYou”. “OPopatualnãotemcomoficarpior...AcreditoqueopontopositivodissoéquepodesurgirdaíumbommomentodoRock,afinal,hácontraoqueserevoltarnocenáriomusical”,pontuouChrisCornell.

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Slash famoso

Dois meses após lançar o já clássico álbum “Apo-calyptic Love”, com Myles Kennedy assumindo de vez os vocais, o ex-gunner Slash ganhou uma estrela na Calçada daFama,emHollywood,nodia.Acerimôniateveapresen-çairreverentedoatorCharlieSheen,quealfinetouocantordo Guns N’ Roses, Axl Rose. “É bem apropriado que Slash receba uma estrela na rua onde Axl Rose dormirá um dia”, ironizouoex-protagonistadeTwoAndAHalfMen,antesde o guitarrista discursar. À imprensa, o cartoludo falou que nunca tinha se sentido assim desde sua época no Guns.

Deftones dinâmico

Os fãs da banda de Metal Alternativo, Deftones, podem estar certos de que algo direto ao ponto vem por aí. O vocalista Chico Moreno já havia dito que o novo álbum deles seria o melhor da carreira, sendo sucessor do“DiamondEyes”,de2010,quechegouao6ºlugarda Billboard200 à época. Em entrevista, o frontmanafirmouque este não será um “registro super rápidoou lento. É muito dinâmico”. “Uma das minhas coisas favoritas sobre o Deftones é que somos dinâmicos. Sim, nós somos uma banda pesada, mas não somos agressivos o tempo todo, socando você na cara”, diz ele.

Oren Peli e Rob Zombie

O vocalista e diretor Rob Zombie deu uma pausanasfilmagensdeseunovolonga-metragemde terror “The Lords Of Salem” após a turnê conjunta com o Megadeth. Ele só volta aos sets em meados deste mês de julho. A trama se passa numa cidade que é aterrorizada por um grupo de bruxasdemais300anos.Noentanto,quandoelapõe o LP para tocar, o mal vem à tona. Também pudera. Um dos produtores do filme é nadamenos que o diretor e roteirista do fenômeno “Atividade Paranormal”, de 2009, o israelenseOren Peli. A película em questão foi gravada em apenas uma semana e custou 15 mil dólares. Os lucrosultrapassaramacasadosUS$190milhões.Istoé,suspenseecenasdeterrorcontidonãodevem/podemfaltar.Adistribuidora,aSonyEnterprises,destepossívelclássicoqueserálançadoaindaem2012.

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Mythological Cold Towers – Dordrecht Doom Day 12/05/2012

Texto e fotos: Steve WhytockTradução livre: Rodrigo Bueno (Funeral Wedding)

Pela primeira vez na Europa e em um palco holandês, pudemos finalmente dar as boas-vindas,

com muita antecipação, ao Mythological Cold Towers, do Brasil. Tem sido uma longa jornada para todos os fãs europeus destes mestres do doom/death, e eu, pelo menos, estava ansioso para este show. Como a faixa de abertura “In The Forgotten Melancholic Waves Of the Eternal Sea”, do álbum de estreia, “Sphere Of Nebaddon”, foi iniciado o set. Era óbvio que o cara do PA ainda precisava fazer um pequeno ajuste, mas durante a “Race The Fallen” isso (o “problema técnico”) foi superado e o tom foi estabelecido para uma noite soberba de doom metal melancólico e melódico. O vocalista Samej estava em boa forma, grunhindo profundamente o seu caminho através de uma memorável versão de “The Shrines Of Ibez”, chamando a multidão para mais perto do palco e agarrando a sua atenção pelo restante da noite. Como era de se esperar, a ênfase foi no último ál-bum da banda, “Imemorial”, e com “Akakor”, a próxima do setlist, com um papel proeminente para tecladista Hécate(Miasthenia)easmelodiassedutoraseriffsas-sustadores dos guitarristas Nechron e Shammash, um destaque foi alcançado, assim como, o público foi levado a uma viagem para outro mundo. Que obra-prima!

Mythological Cold Towers

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Até agora os espectadores estavam totalmente nas mãos da banda, e depois de “Like An Ode Forged In Immemorial Eras” senti subir um frio pela espinha na faixa--título, “imemorial”, em que a beleza e a tristeza andaram de mãos dadas. A banda não poderia ter feito melhor. Em seguida, veio a faixa de abertura do último álbum, “The Lost Path To Ma-Noa”, em que a banda “aumentou” um pouco o ritmo e os fãs foram bater cabeça durante a execução dela. Com “Contemplating The Brandish OfTheTorches”,doálbum“RemotiHymniMeridiani”,infelizmenteveioofimdeumanoite inesquecível do doom/death metal clássico. Sem dúvida, a cena de metal brasileira tem um novo destaque. Apenas uma nota “negativa” que eu poderia falar, e é uma questão pessoal, é que a minha faixafavorita,“EnterTheHallsOfPetrousPower”, não foi tocada, mas, hey, depois de um show como este, eu não vou reclamar! Para todos aqueles que faltaram, eu convido vocês a ver esta incrível banda quando eles vierem novamente, no próxi-mo ano, e esperemos mais datas, para que para vocês possam testemunhar esta ban-da ao vivo. Nos vemos lá!

MCT, Saturnus, Ophis, Ben (Dordrecht Doom Day), Martin (Cyclone Empi-re) e amigos

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Entrevista

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Uma madame vorazPor Breno Airan (@brenoairan | [email protected])Fotos: Flickr Oficial Madame Saatan

A banda paraense Madame Saatan é tudo, menos sutil. Suas composições vão de encontro aos tímpanos e em alto e bom português

Nada como uma frontwoman. Os olhares roquísticos dos homens na plateia, cabeceando o ar em diversas

investidas, por vezes para apreciar a beleza de uma bela madame de um ângulo melhor.Foi assim com as garotas do Vixen, The Runaways e com a cantora do Warlock, a alemã Doro. Mas a coisa ganha sempre nova forma quando a competência e o talento vêm à tona. A voz, subestimada enquanto a boca está fechada, dá um sopro de razão, e os olhos, lugar aos ouvidos. É basicamente o que se sente ao se escutar o quarteto paraense da Madame Saatan. Sammliz, a frontwoman, tem tudo para dar certo. É bonita, carismática e muito inteligente. Suas letras não apenas impulsionam o ouvinte a um universo diferente, como encarnam toda a regionalidade necessária no fazer musical no Brasil. E o resto da banda não é resto.

De Belém do Pará

A primeira banda deHeavyMetal dopaís a lançar um álbum – neste caso, um vinil - foi a Stress, banda formada em 1974, no Pará, mas que só colocou o trabalho, digamos,

àvenda,em1982,comumdiscohomônimo. Desses meandros do carimbó, o grupo Madame Saatan surge em Belém. Sim, o quarteto é de Belém. Terra de Fafá de Belém, Leila Pinheiro e a da banda brega independente Calypso.

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Em 2003, eles se juntaram para dar maisluz ao espetáculo de teatro “Ubi Rei – Uma Odisseia em Bundalelê”. A trilha sonora ficou a cargo deSammliz, nos vocais, Ícaro Suzuki, no baixo, Ivan Vanzar, na bateria, e Ed Guerreiro, nas guitarras. Desde esse primeiro contato, elaborando as canções para o espetáculo, a trupe não quis mais parar de tocar e criou-se a Madame Saatan. Com dois “as” mesmo no nome do capiroto... Comclarasinfluênciasdocarimbó,dolundu e da guitarrada em sua musicalidade, ogrupolançouseudebutem2007,deformaindependente, muito depois de colocar na praça o primeiro EP, “O Tao do Caos”, em 2004. O disco de estreia lhes rendeu olhares de soslaio da crítica e muitos deles avassaladores para a bela vocalista Sammliz. Logo, ela se mostrou competente; toda a banda. Sendo assim, conquistaram o Prêmio Dynamite de melhorálbumdeheavymetal,em2008.Decerto, a pegada em “Messalina Blues” mostra que os quatro já estavam entrosados. O regionalismo latente em “Gotas em Caos de Selva Avenida” e em “Vela” só deixam acesas as iluminuras da Madame. Hátambémdoisregistrosempelículadesse primeiro álbum. O clipe de “Devorados”, por exemplo, foi gravado numa palafita, naVila da Barca, dessa forma, mostrando outro cenário de Belém, além daquele dos cartões postais. O outro, de “Vela”, no Círio de Nazaré, em meio a devotos na tradicional festa da

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capital paraense - ambos os registros foram captados pela diretora e documentarista Priscila Brasil. O outro, de “Vela”, no Círio de Nazaré, em meio a devotos na tradicional festa da capital paraense - ambos os registros foram captados pela diretora e documentarista Priscila Brasil. Peixe-homem

A produção do “novo” disco deles, intitulado “Peixe Homem” e lançado emagosto do ano passado, foi do premiado Paulo Anhaia, o qual já trabalhou com artistas como Velhas Virgens, CPM22 e Charlie Brown Jr.A masterização não ficou muito atrás. Oengenheiro de áudio foi Alan Douches, que tem no currículo a presença de Aerosmith, Mastodon e Misfits, em seus estúdios nosEstados Unidos. Com efeito, o resultado acabou sendo o que o headbanger brasileiro estava precisando num momento de estagnação do cenário criativo: temos em mãos uma dasbandas mais coesas dos últimos tempos. A Rock Meeting conversou com a vocalista Sammliz, que tem 35 anos e é formada em Relações Públicas, Gestão Cultural e Radialismo. Ela falou a respeito dessa nova fase – já que agora todos eles estão morando em São Paulo – e o repórter

aqui (com toda a modéstia que lhe cabe) pode garantir ao leitor que as músicas “Respira”, “Fúria”, “Até o Fim”, “Sete Dias”, “Cicatriz”, “A Foice” e “Rio Vermelho” são o que há de mais forte e original no rock atual. O trabalho da cozinha e das linhas de guitarra com um quê de thrash pontuam que beleza e competência podem, sim, andar juntas.

Os clipes

A direção dos clipes dos singles “Respira”e“AtéoFim”ficouacargodeP.R.Brown, que já esteve à frente de trabalhos do Slipknot, Smashing Pumpkins, Prince e Audioslave. Tomadas gravadas no Parque dos Igarapés, em Belém, por exemplo, contam comumaequipedeprofissionaisdemaisde20 pessoas. Uma delas, comparsa de P.R.Brown,odiretordefotografiaJaronPresant,fez “retratos” realmente bem encaixados no que a música se propusera.

- Pouca gente sabe, mas uma das primeiras bandas efetivamente de Heavy Metal é de Belém do Pará, a Stress. Como é carregar esse legado e essa bandeira hoje em dia? Fazemos parte de uma cena que tem um bom e vasto histórico ligado ao rock, e ela

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vive em processo de renovação. Temos muito orgulho em fazer parte dela.

- Como é, então, a cena no Pará? Certamente não há somente carimbó e Calypso. A cena musical no Pará é rica e diversa. Carimbó, lundu, siriá, guitarrada, tecnobrega, pop, MPB e rock dão o tom da cidade, e há uma quantidade expressiva de ótimos artistas atuando no estado, com alguns até despontando nacionalmente. A cena atual do Pará é o que há.

- Falando na banda Calypso, que veio do meio independente, vocês também tiveram dificuldades no começo. Como foi essa fase? O Calypso ainda é a maior banda independente no Brasil, e nós, para construir uma carreira, assim como qualquer banda, precisamos nos dedicar e trabalhar muito. No começo e durante todo o processo, você encontradificuldades,eodesafioésuperá-lase continuar. Tivemos, e ainda temos, muitas dificuldades. Viver somente da música quefazemos ainda não é possível.

- A história de vocês começou em 2003, depois do quarteto fazer uma trilha sonora para a peça “Ubi Rei – Uma Odisseia em Bundalelê”. Como

decidiram se juntar para tocar rock? Todos nós já havíamos passado por diversas bandas. Comecei com 15 anos, e os meninos começaram muito cedo também. Éramos amigos, e quando nos reunimos para esboçar o que viria a se tornar o Madame Saatan, estávamos fartos de tocar na noite e queríamos voltar a fazer som autoral. Logo nesse início, quando a banda nem nome tinha e estávamos trabalhando em nossas primeiras composições, fomos convidados para compor a trilha desse espetáculo em que eu trabalhava na produção na época, que é baseado no clássico Ubu Rei. A banda fez sua estreia dentro do teatro, já que, além de compor a trilha, a executamos ao vivo durante toda a temporada, que durou cerca de 2 meses.

- Como vocês veem os rótulos direcionados à banda? O que na verdade vocês se consideram Somos uma banda de rock.

- Sammliz, alguém já te comparou com alguma outra cantora, em se tratando de timbre ou presença de palco? Quais suas principais referências vocais? Entreoscantoresquejáfizeramalgumtipo de comparação, a maioria não faz parte do mundo rocker, como Ivete Sangalo, Elis Regina e Ney Matogrosso. Já vi comentários

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onde criaram alguns “cruzamentos” para meexplicar,como:“ah,elaétipoumaIveteSangalo com James Hetfield”, ou “parecea Shakira com Phil Anselmo”. Acho bem divertido, e é bem normal e previsível as pessoas se servirem da comparação em um primeiro momento para explicar algo. Tenho muitas referências, entre elas, cito Bessie Smith, Nina Simone, Aretha Franklin, Tina Turner, Freddie Mercury, o próprio Phil Anselmo e Robert Plant.

- Que lembrança mais marcante vocês têm dos primeiros shows? Verdade que vocês já tocaram até em boate GLS? E dos espetáculos recentes? Como é a reação do público, digamos, “não acostumado” com um som pesado e elaborado? Nosso primeiro show como Madame Saatan foi na Praça da República, como parte

de divulgação do espetáculo do qual fazíamos parte. Foi durante a tarde, em um domingo, e caiu uma chuva daquelas típicas de Belém, enquanto desmontávamos o equipamento. Curiosos, bêbados, mendigos e hippies eram a grande maioria do público nesse dia, e fizemosa festacomeles.Não lembrode tertocado com a banda em boate GLS, mas é uma ótima ideia. Se alguém nos convidar, iremos com todo prazer, porque temos muito respeito pelo público LGBT. Gostamos de tocar para todo tipo de público, e ano passado aconteceu bastante de tocarmos com artistas de outros estilos, variando do rap ao popular, efoiexcelenteaaceitação.Aofinaldemuitasdessas apresentações, não raro vêm até nós pessoas que dizem não gostar de rock, mas que gostaram de nós. Conseguir fãs improváveis é bemgratificante(risos).

- É impossível não notar a evolução

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do grupo. Não sei se “evolução” seria a palavra mais adequada, mas vocês estão muito mais entrosados do que no primeiro play. Somos amigos há muitos anos e o processo de amadurecimento é natural. Quase10anostrabalhandojuntosinfluenciabastante um trabalho.

- A Madame Saatan, apesar de ser da região Norte, tem algo que o conecta com o Nordeste. Refiro-me ao fato de a banda ter saído da terra natal para “tentar a sorte grande” em São Paulo. O que acabaram absorvendo nessa estadia? Estamos há quatro anos em São Paulo, e decidimos ficar na cidade para facilitarnossa circulação. A primeira vez que viemos para SP foi para participar de um projeto no CCBB e para gravar um programa da MTV. Logo depois, voltamos para divulgar o disco anterior, e foi quando uma empresa, a Equipo, nos ofereceu contratos como endorsers de algumas marcas (ESP/Groovin/Stagg/Samson/Hartke)eaindabancounossaprimeira tour pelo Nordeste. Achamos que era umótimosinalparaficar,eassimfoi.Nessesquatro anos, passamos por muita coisa e nos fortalecemos através das dificuldades quesurgiram. Muitas coisas boas aconteceram; conhecemos pessoas maravilhosas e cá estamos, na missão.

- Essa nova moradia acaba influenciando de alguma forma no processo criativo e de composição? Tudo pelo qual você está passando, vivendo e sentindo, assim como um lugar novoparaondevocêsemudou,influenciadealguma forma seu processo criativo.

“Somos amigos há muitos anos e o pro-cesso de amadure-cimento é natural. Quase 10 anos tra-

balhando juntos in-fluencia bastante um

trabalho”.

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- Se eu fizesse um Top 5 dos melhores lançamentos nacionais de 2011, certamente o mais recente trabalho da Madame Saatan, o “Peixe Homem”, estaria no meio. O que mais você tem escutado ultimamente? Obrigada! Fico feliz de saber que nosso trabalhoestejaentreseus favoritosde2011.Voltei a escutar o último da PJ Harvey, o“Let England Shake”, alguma coisa da Anna Calvi, Ghost, o último do Anthrax – o ótimo “Worship Music” – e umas coisas do Edu Lobo.

- Afinal, qual seria o conceito do peixe-homem? Ele fala sobre nós e nossas mudanças internas e externas. Nossa metade peixe, fazendo referência às nossas raízes, e a outra

metade urbana, caótica e passional. A água, como símbolo de “impermanência”, costura o disco todo.

- A referência para isso aparece já na primeira faixa, “Respira”, que inclusive ganhou clipe assinado pelo renomado diretor P.R. Brown. Como foi a gravação desse registro? Uma sequência com “Até o Fim” também foi feita, não? Nosso produtor entrou em contato com P.R Brown pelo Facebook, apresentou nosso trabalho a ele, que gostou muito e veio ao Brasil em parceria para realizar o trabalho. Gravamos os dois clipes (“Respira” e “Até o Fim”) em Belém, em maio do ano passado, em lugares como Parque dos Igarapés, Cidade Velha e Ruínas de Murucutu. Passamos uma

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semana em Belém atrás dessas locações junto com o P.R. e o Jaron Presant, que fez a direção defotografia.

- A “cozinha” da banda está mais precisa. Dá para notar referência do regionalismo em canções como “Sete Dias”, “A Foice” e “Sombra em Você”. Isso é algo intrínseco, ou vocês querem soar como tal? Deixamos as coisas rolarem e não ficamos preocupados se alguma dessasreferências vai ou não aparecer. Não pensamos nisso enquanto compomos. Faz parte de nós.

- Ed Guerreiro tem uma pegada bem thrash nas guitarras, e Ícaro Suzuki encaixa muito bem suas linhas de baixo

em cada lacuna. Contexto ideal para se cantar em inglês. Mas vocês vão na contra-mão, provando que dá para fazer diversas nuances interessantes em português. Isso foi definido desde o começo da Madame? Nunca pensei em compor em outra língua que não fosse o português, e não acho que o Metal, apesar de não ter sido um estilo criado aqui, não possa ser incorporado ao nosso idioma. Acho que a língua só é um entrave quando a banda tentar emular uma banda gringa. Aí, é provável que soe estranho realmente, mas é onde justamente mora o desafio. Não tenho absolutamente nadacontra bandas brasileiras que fazem seu som em inglês; adoro várias, mas explorar o potencial do nosso idioma junto ao som pesado poderia ser um bom “novo” caminho.

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Gostaria de ver cada vez mais bandas fazendo isso.

- Suas letras são idiossincrasias puras. O modo como você vê o mundo, tateia, sente, sofre. Poesia sem frescura. Mas as melodias, os arranjos vêm antes ou depois de você anotar tudo no papel? Não tenho uma regra para compor e escrever. Às vezes, vem tudo junto, às vezes, letra somente, ou então só uma ideia de melodia que gravo e escrevo em cima depois.

- Com toda essa repercussão, há a possibilidade do quarteto tocar no exterior ainda este ano? Vocês, inclusive, gravaram o álbum “Peixe Homem” fora do Brasil...? Não, o disco foi gravado entre Belém e SP, mas foi, sim, masterizado nos EUA pelo Alan Douches. Planos iniciais são de circular bastante pelo Brasil, fazer muitos festivais, e só então pensar em uma ida à gringa.

- - No que o produtor Paulo Anhaia ajudou? Ele conseguiu elevar a banda ao “peso” que precisava? Bem, não era essa a meta, mas sim achar um produtor que conseguisse extrair o melhor de nós e fazer o disco soar perto de como somos ao vivo. Sabíamos que, pelo jeito que estavam as novas composições, o disco viria mais pesado e direto, e Paulo captou exatamente essa vibe.

- Vocês chegaram a tocar pelo Nordeste. Como analisam a cena da região? O Nordeste, assim como o Brasil inteiro, é cheio de boas bandas de rock e tem um dos públicos mais insanos também.

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É uma maravilha tocar por lá, e voltamos sempre energizados e com muitos CDs de bandas locais na mala.

- De onde vem o nome do grupo? Nada tem a ver com o Madame Satã, aquele transformista, certo? O nome foi dado por causa do espetáculo “Ubu”. A banda, a princípio, faria só a trilha, mas foi convidada a fazer parte do elenco e precisava de um nome que tivesse alguma conexão com aquele universo Jarryano. Obviamente, o nome remete ao famosomalandrocarioca,quelevaaofilmedeCecil B. DeMille, mas na verdade não foi nem por um e nem por outro. Foi simplesmente o nome que veio logo à cabeça e que pareceu caber exatamente na proposta do espetáculo.

- E por que com dois “as”? Para evitar problemas com o registro do nome.

- E como é sua relação com os fãs? Você é uma frontwoman muito bela. Não deve ser fácil conter alguns rapazes... Tenho uma relação de proximidade com o público, tanto em redes sociais quanto nos shows, e sou sempre tratada comcarinhoerespeito.Homensemulheres,principalmente os mais jovens, se manifestam invariavelmente com mais ardor, digamos assim, mas nunca aconteceu nada que saísse do controle. Tranquilo.

- Agradeço o tempo conosco. E sucesso sempre! Estaremos acompanhando a jornada ao topo de vocês. Imagina, eu que agradeço pelo espaço, carinho e pela força e torcida (risos).

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Protesto silenciosoPor Breno Airan (@brenoairan | [email protected])Fotos: Divulgação

Artista e fã da banda russa de punk rock Pussy Riot se solidarizou com a prisão das integrantes por fazerem oração contra presidente Vladimir Putin e costurou a boca

Mesmo depois de uma das integrantes da banda russa de punk rock Pussy Riot fazer greve de fome na prisão, nada parece mudar acerca de seu julgamento. Ela, Nadezhda Tolokonnikova, de 22 anos, e mais duas colegas de banda, Ekaterina Samutsevich, 29, e Maria Alejina, 24, estão e ficarãodetidasatéjaneirode2013porteremimprovisado uma “oração punk” em fevereiro último, na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou. As roqueiras estão sendo processadas por terem criado a canção intitulada “Maria, mãe de Deus, tire Putin”. Desta feita, podem pegar até sete anos de prisão. Há quatromeses o trio já está recluso na cadeia russa por “vandalismo”.

Tudo isso por causa da investida contra o presidente Vladimir Putin, à frente do país pela terceira vez, eleito em março deste ano.Fora da cadeia, centenas de pessoas, fãs e simpatizantes da banda punk gritam “vergonha!” a todo momento. O que chamou a atenção das agências internacionais foi um artista russo, identificado como PyotrPavlensky, que costurou os lábios como protesto máximo à repressão. Sua manifestação silenciosa foi feita em frente à Catedral Kazan, em São Petersburgo, no dia 23 de julho, em repúdio à decisão do tribunal de rejeitar o pedido de chamar Putin e o líder da Igreja Russa Ortodoxa para depor no caso.

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Pior que febre

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Pior que febre

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A banda paulistana Claustrofobia passou pela capital alagoana e trouxe consigo um novo álbum e

bastante força. O público deu um show à parte

Texto e Fotos: Pei Fon (@poifang | [email protected])

O tão aguardado dia 29 de julho demorou a chegar. A banda paulistana Claustrofobia estava em

uma mini tour pelo Nordeste e foi possível tê-los na terrinha. Mas, para chegar até Maceió, foi uma verdadeira burocracia e houve muito esforço. Pela primeira vez, o público alagoano conheceu o “crowdfunding”, um tipo de compra coletiva onde você adquire cotas para trazer a tal banda ofertada. Este modelo foi trazido para o Brasil já tem um tempinho, mas pouco colocado em

prática. Seguindo a tal tendência, foi possível implantar este método de fazer com que o público tenha uma participação mais direta noshow.Eaindaháumavantagem:casooprojeto não tenha sucesso, o valor pago deve ser devolvido àqueles que adquiriram as tais cotas. Desse jeito, o Claustrofobia veio a Maceió

SHOW

Antes de qualquer coisa, o público

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pode não ser muito pontual, mas há aqueles que chegam na hora. O ponto negativo do evento foi ter começado bem além do previsto: trêshorasdeatraso. Issoocorreupela minuciosa passagem de som que a banda principal da noite fez, que também ocasionou outros percalços. Pulando este momento ímpar, a banda local Absurdos subiu ao palco “absurdamente” bem mais agressiva que a memória possa lembrar, pelo menos desta que vos escreve. A banda fez uma apresentação muito além do previsto, tocando músicas próprias e covers do Brujeria (“La Migra” e “Brujerismo”). O grupo agradou os bangers presentes naquele último domingo de julho. A banda seguinte foi a Autopse, que vem representando Alagoas em alguns festivais e tours pelo Nordeste. Com um set reduzido, a banda apresentou algumas músicas do seu primeiro álbum, “Descontrole Mental”, e fez alguns covers, como “Walk”, do Pantera, e

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“Refuse/Resist”, do Sepultura. Vindo da Bahia, os soteropolitanos do Devouring trouxeram um Death Metal de responsa e deixaram os alagoanos impressionados. Com força e atitude, o trio baiano conquistou o público com músicas próprias, e ainda deu tempo para um cover do Deicide, “Lunatic Gods”. Como headliner do dia, a banda paulistana Claustrofobia subiu ao palco um pouco além do horário previsto. Com algumas dificuldades no som, o quartetonão se acanhou e executou as músicas impecavelmente, para o delírio daqueles que esperavam por aquele momento. Na atual turnê do CD “Peste”, a primeira música executada foi a faixa-título do álbum. Iniciado em uma só voz, a

banda imprimiu sua marca logo de primeira, deixando os bangers bem insanos. Foi um flashback: do álbum atualaos antecessores. Músicas como “Metal Malóka”, “War Stomp”, “Terror and Chaos”, “Paga pau”, “Thrasher”, “Pinu da Granada” e “Bastardos do Brasil” entraram para o impecável setlist. Em um dado momento, o vocalista Marcus D’Angelo chegou a dizer: “Vocêssão muito violentos”. Seria ultrajante ouvir isso, mas vindo de um show de Metal, é um grande elogio. O público maceioense deixou boas impressões para o Claustrofobia, que saiu satisfeito com o que viu na terrinha e deixou promessas de um retorno em breve. Vamos esperar!

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REVIEW

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Titãs faz comemoração

ao Dia Mundial do Rock em

Maceió

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Por Daniel Lima (@daniellimarm | [email protected])Fotos: Pei Fon (@poifang | [email protected])

Dia 13 de julho, dia no qual se comemora o Dia Mundial do Rock. Data comemorativa para uma legião

de fãs de camisa preta que lotam festivais, estádios de futebol, compram CDs, camisas e outros acessórios para mostrar o orgulho de ser “roqueiro”. Este dia surgiu quando em 1985, quando Bob Geldof organizou umevento simultâneo na Filadélfia (EUA) e emLondres (Inglaterra), que se chamava Live Aid, com a finalidade de acabar com a fomena Etiópia. Algumas das bandas convidadas para esses shows foram Led Zeppelin, Queen, Scorpions, B.B. King, The Who, Black Sabbath e outros artistas da época. O detalhe era que as bandas tocavam nos dois locais em que estava acontecendo o Live Aid. EmMaceió, a comemoração ficou porconta dos Titãs, que estão na estrada há 30anos, tocando rock para algumas gerações

diferentes. Eles voltaram aos anos 1980 erealizaram um show histórico na Vox Room, tocando o álbum “Cabeça Dinossauro” na íntegra, fazendo com que aqueles que viveram essa fase relembrassem de tudo. Para a geração mais nova, foi o mesmo que saber como era que os pais se divertiam naquela época. Este, que é um álbum clássico, não só do Titãs, mas do rock nacional, é um daqueles discos que não podem faltar para o conhecedor do rock brasileiro. Também se apresentou a banda Rasgando o Couro, para aumentar a expectativa do público, que esperava a banda principal. Alagoas possui bandas que podem e representam muito bem o estado, e esse foi o caso da banda Rasgando o Couro, que fez um som inovador e bastante contemporâneo, mesclando a Alfaia (instrumento de percussão bastante usado e típico do Maracatu) com

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o rock. Uma combinação rítmica que deu certo. Músicas famosas para qualquer um que ouça ou conheça um pouco de rock foram desenvolvidas de forma única, como foi o caso de “Smells Like Teen Spirit”, “Come Together”, “Sweet Child O’ Mine, “Que País É Esse”, “Quando a Maré Encher” e até uma versão de “Billie Jean”, do Rei do Pop, Michael Jackson. O público cantava junto e aplaudia o tempo inteiro a apresentação da banda, que encerrou com um “gostinho de quero mais”. Pouco depois da meia-noite começa a introdução, e os integrantes do Titãs aparecem nopalcopara,finalmente,depoisdeanos,seapresentarem em Maceió. O show se divide em duaspartes:naprimeira,acomemoraçãoaos25 anos do álbum “Cabeça Dinossauro”, onde apresentam o álbum na íntegra; na segunda, eles tocam músicas conhecidas da banda. “Cabeça Dinossauro”, que é a faixa-título do álbum histórico, abre a apresentação, para o delírio dos fãs. Em seguida, “AA UU” e mais dois grandes clássicos, “Igreja” e “Polícia”. “Polícia” foi, inclusive, regravada pela banda mineira Sepultura, que tocou a música com osTitãsnofestivalHolywoodRock,em1994.“Estado Violência”, “A Face do Destruidor”, “Porrada”, “Tô Cansado” continuaram a sequência, até chegar em “Bichos Escrotos”, bastante esperada. O show continuou até chegar em “O Que”, que é a última faixa do álbum “Cabeça Dinossauro” e encerrou a primeira parte do show. Uma pequena pausa para começar a segunda parte, e, a essa altura, os fãs já estavam subindo nas pilastras da Vox para dar mosh.Após esse pequeno intervalo, a segunda parte do show começou com “A Verdadeira Mary Poppins”, do álbum “Titanomaquia”, lançado em 1993. Em seguida veio “Amor Por

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Dinheiro”,dodisco“SacosPlásticos”,de2009,que foi o último lançado pela banda até agora. Quando o público ainda estava recuperando o fôlego veio outro sucesso, “Nem Sempre Se Pode Ser Deus”, que colocou todo mundo para pular. A regravação da música “Aluga-se”, de Raul Seixas, deu sequencia ao show. Esta foi do álbum “As Dez Mais”, lançado em 1999. De repente, todos se calaram e o silêncio foi quebrado com o coral feito pelo público na introdução de “Diversão”. A primeira frase dessa música foi a que deu nome ao documentário do Titãs, chamado “A Vida Até Parece Uma Festa”. Ano de eleições e o recado foi passado por Paulo Miklos na música “Vossa Excelência”, essa que é uma verdadeira tapa na cara dos corruptos. Daí para frente, “Televisão”, “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”, “O Pulso”, “Fala Renata”, “Será que É Isso que Eu Necessito?”, até chegarem à música “Lugar

Nenhum”, que foi a última antes de saírem do palco para o BIS. Voltaram com a música que não poderia faltar, “Flores”, que é uma daquelas que basta apenas o riff começar para o caos tomar conta do recinto. “Sonífera Ilha” seria a última música, já que eles haviam saído do palco mais uma vez, mas por insistência do público eles voltaram e tocaram a música pedida pelo público, que foi “Marvin”. Um momentodereflexão,sentimentosesensaçõesnuma simetria única. E assim, o Titãs encerrou a apresentação tão esperada para comemorar este dia tão especial.Toda espera depois de anos foi válida, e com certeza todos saíram na expectativa de ter um novo encontro com os dinossauros do rock brasileiro. O público reagia a cada acorde, riff, movimento ou qualquer outra ação que viesse do palco, aproveitando cada segundo daquela festa inesquecível. Pessoas de várias faixas

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etárias eram vistas, mostrando a importância do Titãs para o rock durante todos esses anos de estrada. Orepertórioapresentadofoi:1- Cabeça Dinossauro2- AA UU3- Igreja4- Polícia5- Estado Violência6- A Face do Destruidor7- Porrada8-TôCansado9- Bichos Escrotos10-Família11-HomemPrimata12- Dívidas13- O QueIntervalo14- A Verdadeira Mary Poppins15- Amor por Dinheiro16- Nem Sempre Se Pode Ser Deus17- Aluga-se18-Diversão19- Vossa Excelência20-Televisão21- A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana22- O Pulso23- Fala Renata24- Será que é Isso que Eu Necessito?25- Lugar NenhumBis26- Flores27- Sonífera IlhaBis28-Marvin

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O Longe da Extinção

Entrevista

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O Longe da Extinção44

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Os Titãs fizeram um show histórico em Maceió e a RM bateu um papo reto com o

guitarrista Tony Bellotto, que afirmou estar distante da aposentadoria

Por Breno Airan (@brenoairan | [email protected])Fotos: Pei Fon (@poifang | [email protected])

Logo que se fala que bandas veteranas estão se esvaindo em suas últimas investidas e solfejos em shows memoráveis, algo pesa no imaginário dos roqueiros de todo o mundo – oupelomenosempartedeles:ocometaestápara chegar. O clichê – ainda não tão habitual – é pensar que os dinossauros do estilo musical vão-se embora, sem ao menos deixar alguns ovos.Mas quem iria aquecê-los? As raízes. Talvez as raízes, lugar onde nenhum predador da indústria fonográfica poderia esmagá-los, osovos. O que se vê além da linha do horizonte alaranjado não é uma chuva de cometas, mas a noite caindo, e é nela que o medo e a esperança se renovam. Todos os dias. Ainda assim, a vontade de seguir em frente não deixa que os dinossauros do rock esmoreçam. Iron Maiden, Accept, Scorpions, Europe, Lynyrd Skynyrd, Rolling Stones, Titãs… Sim, em terras tupiniquins, os fósseis deste gigante do estilo em âmbito nacional parecem não querer se entregar. “Ou morrem jovens [os músicos], ou envelhecem no palco. Não existe aposentadoria para roqueiros”, pontua o guitarrista dos Titãs, Tony Bellotto, à Rock Meeting. O grupo dele – que agora só conta com

os também remanescentes Branco Mello, Paulo Miklos e Sérgio Britto – fez um show no mês passado em Maceió, tocando na íntegra o álbum “Cabeça Dinossauro”, um marco do rock nacional.

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Clássico

Do caos se faz uma estrela. Esse axioma do filósofo alemão Friedrich Nietzsche seaplicaaoqueaconteceucomosTitãsem1986.O octeto já tinha dois hits: “Sonífera Ilha”,do álbum “Titãs”, de 1984, e “Televisão”, dohomônimo lançado no ano seguinte. Mas a droga apareceu - não para atrapalhar as composições do grupo ou coisa do tipo. Éque,nodia13denovembrode1985,oguitarrista Tony Bellotto e o vocalista Arnaldo Antunes foram pegos com heroína. Antunes havia levado a droga para o amigo e acabou respondendoportráfico.Bellottofoiautuadopor porte, mas logo saiu da cadeia. Ambos, como eram réus primários, responderam pelas acusações em liberdade. Liberdade... “Era isso o fim da ditadura?”,

teriam pensado. E esse foi o enredo para a lapidação de um dos maiores clássicos do rock nacional, o aclamado“CabeçaDinossauro”,de1986,queestá sendo relançado em uma edição de luxo com um CD extra com 13 demos, incluindo a inédita “Vai Pra Rua”, na voz de Antunes. Canções como “Bichos Escrotos”, “AA UU”,“Igreja”,“Porrada”,“Família”,“HomemPrimata” e, claro, “Polícia” – não cantada, mas “gritada” – fazem parte desse play, que é um soco no estômago da sociedade da época, mas com um toque de dulçor. A doçura está no modo como os Titãs tratavam de assuntos sérios com a pitada de ironia que só eles sabiam fazer, nos meados da décadade1980. A bem da verdade, vários outros álbuns importantes foram lançados no período em que o “Cabeça Dinossauro” chegou às prateleiras,

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como o “O Concreto Já Rachou”, da Plebe Rude; o primeiro trabalho do Capital Inicial; o “Dois”, da Legião Urbana; e o “Selvagem?”, dos Paralamas do Sucesso. Contudo, nenhum deles mexeu tanto com o âmago e o brio de um povo que mal sabia o que era democracia, começando a tentar voar.

Rock Meeting - Primeiramente, sem querer parecer muito clichê, mas... Qual a pergunta que mais vem sendo feita a vocês a respeito dessa, digamos, nova turnê do “Cabeça Dinossauro”?Tony Bellotto: Aperguntaé:“esseéomelhordisco de vocês?”. A resposta sempre é: “umdeles, sem dúvida...”

- O álbum, com efeito, é um divisor de águas na história da banda. Depois de “Televisão”, vocês “aumentaram o ibope” com o “Cabeça”. Como foi a reação da mídia naquele 1986? Nossa última preocupação àquela altura era “aumentar o ibope”. Estávamos mais pra mandar tudo à merda! A reação da mídia foi esquizofrênica, como sempre. Uns falando bem e outros mal. Como diz o velho ditado árabe:“oscãesladrameacaravanapassa”.

- Oito cabeças de dinossauros pensantes. Esses eram os Titãs, à época, talvez. Como se deu o conceito do álbum? Não éramos dinossauros ainda. Somos agora... Mas sempre fomos pensantes – nisso vocêacertou(risos).Oconceitoeraesse:umdiscovirulento,quenãofizesseconcessões.

- Boa parte das letras teria a ver com o fato de você e o Arnaldo Antunes terem sido presos, um ano antes, sendo autuados por porte e tráfico de heroína. Vocês acharam que não só a reposta à

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sociedade foi convincente, como isso mudou os limiares do que se entendeu por Rock n’ Roll no Brasil a partir dali?O rock mudou, mas, infelizmente, a política sobre as drogas, não muito...

- Há muita mistura no “Cabeça”. Funk aqui, reggae ali. Mas a pegada punk é a mais notória. Bem como o cunho fincado nas letras, sempre contra a opressão, qualquer que seja ela. Das 13 canções, qual a que vocês creem que define o momento quando foi lançado o Long Play? Era inclusive fim da ditadura, não? São várias, mas a mais emblemática é “Bichos Escrotos”, pois ela fala com bom humor da falência de uma civilização. Foi censurada na época, inclusive. O que só aumentou sua popularidade...

- A banda está lançando o “Cabeça” remasterizado e com um CD bônus só de músicas demos. Vocês, por acaso, tocam “Vai Pra Rua” nesses shows de agora? Não. Tocamos as canções imortalizadas no disco. “Vai Pra Rua” é só uma “curiosidade” da edição comemorativa.

- Pelas demos dá pra perceber que o trabalho de produção que o registro teve foi impecável. Os grandes responsáveis por isso foram Vítor Farias, Pena Schmidt e o saudoso Liminha. A parceria com este último realmente conseguiu transpor todo o peso que vocês tinham ao vivo para o estúdio? Sim, ele conseguiu! O Liminha é um produtorexcepcional,alémdefigurahistóricano rock brasileiro, ex e eterno Mutante...

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importante é que o espírito primordial e a essência do que somos estão mantidos.

- No início de junho último, fez-se 11 anos da morte trágica do Marcelo Fromer. Deve ser sempre complicado pra vocês falarem sobre o assunto, mas os remanescentes sentem a presença dele durante as execuções ao vivo? Sim, o espírito do Marcelo permanece vivo em nosso trabalho e cada show é sempre uma homenagem a ele.

- Já que estamos falando de coisas tristes, que falemos da atual situação do rock brasileiro. Sem entrar em pormenores, já estivemos melhor, não? O que falta

- Só um detalhe: é verdade que você (risos) apostou um uísque Jack Daniel’s com o Branco Mello que as vendagens do “Cabeça” não ultrapassariam 100 mil cópias (o equivalente ao Disco de Ouro)? Apostei, sim, e perdi... Ainda bem! (risos) Eu realmente acreditava que o disco seria um fracasso comercial...

- No lançamento do “Cabeça”, vocês eram oito. Hoje são quatro. O que mudou de lá para cá? A responsabilidade fica maior? Como fica o peso da idade e o da saída de Charles Gavin? As transformações são inevitáveis quando se fica 30 anos numa banda. O

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pra essa juventude se revoltar? Ah, sei lá. Nós fizemos nossa parte edeixamos um legado de muita qualidade. Mas não concordo com você que a situação do rock brasileiroatualsejatãoruim.Hácoisasboas.Principalmente no rap, que de certa forma responde pelo rock atualmente.

- Vocês acreditam que o futuro agora é disponibilizar singles pela internet? Os Titãs têm a pretensão de fazer algo semelhante, chegando a divulgar material para download gratuito? Não sei. Sou uma múmia cibernética e não me interesso pelo assunto. Meu negócio é tocar guitarra... (risos)

- Em se tratando do amanhã, o que, nós, os fãs podemos esperar para os próximos anos? Aposentadoria nem pensar, não é? Aposentadoria?! E desde quando músico de rock se aposenta? (risos) Ou morrem jovens, ou envelhecem no palco. Não existe aposentadoria para roqueiros.

- Só mais uma pergunta: e o espetáculo? Li numa entrevista que vocês o pontuaram como “glorioso”. É a reciprocidade do público falando, exalando?A glória vem da percepção da importância que o disco tem para as pessoas. Mais que importância, o que se vê do palco por nós são declarações de amor.

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Invasão roqueira no interiorA cidade de Arapiraca é um dos maiores celeiros da boa música alagoana e eventos – sejam eles independentes ou não – estão

tomando forma e com força

Por Breno Airan (@brenoairan | [email protected])

Arapiraca, embora não pareça no mainstream, é berço de bandas fabulosas — a exemplo de Mopho,

Sub Produto de Rock, Senhora Rita, Janu e os Matutos Urbanos, My Midi Valentine, The Other Side e Valley — que movimentam as janelas e reverberam as paredes de garagens cidade afora. O que se precisa, às vezes, é apenas um empurrão, um incentivo para que grupos de rock ganhem espaço em meio à sagrada tríade forró-pagode-axé. Sozinho, o músico Júnior Domingos, mais conhecido como “Júnior Coceirinha”, angariourecursossuficientespara levantaro projeto “Rock Pró-Cultura” e mostrá-lo ao carente público da segunda maior cidade do estado. Ele é baterista da banda de pop rock Metamorfose, que tocou na concha acústica montada no Lago da Perucaba, no último dia28.Oeventofoigratuito. Ainda fizeram parte do line-up ogrupo de rock alternativo J CAP, com covers de Nirvana e Raul Seixas, por exemplo; e a já conhecida na cidade Arranha-Céus, com a frontwoman Vívian Marcella dando suas investidas em canções próprias e de bandas que foram influência para eles, comoEvanescence, The Cramberries e U2.

Patrocínio

A Prefeitura de Arapiraca só ajudou no aparato de segurança. “Eu tive que ir atrás de empresas privadas que quisessem bancar um evento desse quilate. Essa cidade precisa de mais eventos assim, porque há, sim, público,

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Invasão roqueira no interior âmbito. Os promotores de shows que trazem bandas como Chiclete com Banana e Ivete Sangalo todos os anos – nada contra, claro – deveriam olhar com mais atenção para o cenário roqueiro de Arapiraca”, diz o baterista da Metamorfose, o qual prometeu mais edições do “Rock Pró-Cultura” nos próximos meses. “Além de tudo, temos muitas bandas

começando e que merecem um lugar para mostrar seu trabalho”, conclui ele. Aguardemos, então.

Mais pontos

Naquele mesmo dia, houve mais shows: um deencerramento da Semana do Audiovisual (Seda), com as bandas Janu e os Matutos Urbanos, e outro comemorando os 20 anos de carreira dobaixista e vocalista Marcelo Cabral, da Coisa Linda Sound System. A Praça Ceci Cunha, no Centro de Arapiraca, ficoutomada de gente e de sons.Em outro ponto, no bairro Baixão, os grupos Gato Negro e L100 agitavam a noite dosconsumidores do bar Escritório.E o rock não deve dar trégua tão cedo. Já está marcado para o dia

5 deste mês um show com a volta da banda de hard ‘n’ heavy arapiraquense Stormriders, no Evento’s Bar, e a excelente Mopho, no dia 11, no Clube dos Fulmicultores, esta que foi comparada e alcunhada de “Os Mutantes da atualidade”.Hámuitacoisaporvir.

eeleéfiel”,pontuaJúniorCoceirinha. Algumas tentativas de movimentar a cena se perpetuaram, de fato, com a vindoura presença anual do “Viva Arapiraca!”, que já trouxe os renomados nacionalmente Capital Inicial, Skank, Jota Quest e CPM22. “Mas é preciso mais incentivo nesse

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Sarah Jezebel Deva

Depois de me perguntar sobre o que escrever aqui, achei o que procurava. Certamente alguns não a conhecem - até eu não sabia de sua existência, embora já tivesse ouvido ela cantar, só nunca procurei saber algo a respeito. Sarah Jezebel Deva é a “bunita” de quem vou discorrer algumas palavras. Ela é nascida na Inglaterra e por 14 anos fez parte do Cradle of Filth. Também foi frontwoman de sua própria banda, Angtoria. Em carreira solo, ela tem dois -full-length gravados e um EP, encabeçando o Symphonic Gothic Metal. É sobre o EP que irei falar um pouco. “Malediction” foi lançado um dia desses, é novinho, novinho. Não resisti em ouviresseEPefiqueimuitosurpresa.São3 músicas apenas, mas há participações de peso:Dani Filth (Cradle of Filth) eBjörn

“Speed” Strid (Soilwork). “This Is My Course”, “Lies DefineUs”e“When‘It’CatchesUptoYou”sãoasfaixas deste EP. Destaco a primeira, por ser dividida com Dani Filth. Alguns não gostam da banda dele, eu também não, porém gosto de seu vocal. Em “This Is My Course” é bem interessante a sintonia dos dois; também pudera, já tocaram juntos. Sarah é uma dessas “Divas” do metal que se destacam pela sua voz marcante e não-enjoativa, como muitas bandas com vocalfemininocostumamser:vocalguturale lírico. Não tenho nada contra, mas estou um pouco enjoada disso. Principalmente do lírico. Sarah entra para o hall das grandes solistas, junto com Tarja Turunen, Doro Pesch, Sharon den Adel, Anekke van Gierbergen e tantas outras.

Pei Fon (@poifang | [email protected])

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HavokYzza Albuquerque (@yzzie | [email protected])

Se há um segmento dentro do metal que se poderia considerar mais vivo do que nunca, este seria o Thrash. Não somente por conta de muitas das bandas clássicas ainda estarem na ativa, produzindo material novo, mas também pelo curioso fato de estar surgindo uma nova e numerosa remessa de jovens grupos nos quatro cantos do mundo, o que tem acontecido desde o começo dos anos2000.NosEstadosUnidos,acreditoque a Havok seja uma das bandas quecarregam a bandeira dessa nova geração, e o fazem com maestria. O que costuma me prender a atenção quando se fala de metal é a pegada, a “instiga”, como costumamos dizer aqui, e nesse quesito essa banda é mestre. Surgida em2004,noColorado,EUA,aHavoktem

dois álbuns full-length e alguns EPs e demos lançados até hoje. O mais recente dos discos, o sensacional “Time Is Up” (que destaquei como um dos melhores lançamentos de 2011, na edição 28 da RM), é, na minhahumilde opinião, ouvida obrigatória pros fãsdoestilo.Hápouquíssimotempo,vazounaWebumEPmagnífico,intitulado“Pointof No Return”, com duas músicas novas (só “sangue nozóio”, dê uma checada na primeira oportunidade que tiver!) e duas covers (“Arise”, do Sepultura, e uma “duas-em-uma” de “Postmortem” e “Raining Blood”, do Slayer). Recomendo pra quem tem a mente aberta pra bandas novas. Vá com força! Acho que ainda vamos ouvir falar muito desses caras. Estou na torcida.

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Arnaldo Antunes

Olá, caros leitores. Continuando o trabalho para falar um pouco sobre o que fiqueiescutando durante o último mês: muitasbandas acabam, outras apenas trocam de integrantes, ou um deles sai para carreira solo e cada um segue o seu caminho. Esse foi o caso do grandioso Arnaldo Antunes. Ele apareceu namídiaem1984,quandofaziapartedoTitãse o grupo lançou o primeiro álbum. Após uma década junto à banda, resolveu seguir seu caminho em 1992. O álbum que dissecarei estemêséo“IêIêIê”,lançadoem2009.

O abre-alas do álbum é a faixa-título. “Iê Iê Iê” é interessante, muito animada, bem anos 1960. Em seguida vem a minha faixapreferida, que se chama “A Casa é Sua”. Ela simplesmente fala que alguém possui “tudo”, menos uma pessoa em especial, que seria aquela que o completa. É uma baladinha muito romântica, que normalmente não é o tipo de música que eu ouviria... Mas essa é perfeita. “Aonde Você For” é bem no clima de Roberto Carlos,nosanos1960ou70,aquelerockandroll dançante. A quarta música se chama “Vem Cá” e descreve um relacionamento à moda antiga, longe de tudo e de todos. “Longe” é uma baladinha tipo dor de cotovelo. “Invejoso” é a sexta música, e como diz o título, fala de um

cara que sente inveja dos outros. É uma letra muito engraçada. No refrão diz “Invejoso, o bem alheio é o seu desgosto”. Isso é algo que acontece com todos diariamente, já que “ninguém” quer ver a vitória do próximo. Seguindo, vem “Envelhecer”, que fala que chegar à velhice é o objetivo, e isso vai meio contra a sociedade atual, já que todos querem ser jovens eternamente. Também gosto muito dessa. A oitava faixa é “Sua Menina”, fala sobre o egoísmo do homem, que se esquece de tratar bem a parceira e que no futuro pode perdê-la para outro. “Um Kilo”, “Sim ou Não” e “Meu Coração” dão seguimento ao álbum. Para encerrar, Arnaldo Antunes resolveu glorificaramulherem“LuzAcesa”,eofezdeuma forma única. Realmente, as mulheres merecem todas as homenagens possíveis.

Esse é o tipo de álbum que você precisa ficar sozinho, colocar o volume nomáximo,desligar a luz, deitar em algum lugar e esquecer do mundo. É uma viagem. Acho esse o melhor álbum solo do Arnaldo Antunes, é como se entrasse numa máquina do tempo e voltasseparaasdécadasde 1950,60ou70.Rock and roll clássico, com uma pitada de modernidade, é como consigo descrever esse álbum. Com toda certeza, “eu recomendo”.

Daniel Lima (@daniellimarm | [email protected])

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PendulumIsabela Pedrosa ([email protected])

É viciante! Que o rock combina com tudo, não temos dúvidas. Acredito que Metallica enfatizou isso muito bem ao colocar uma orquestra em um de seus shows.Mas, voltandoaomeu tópico:Rock+ Música Eletrônica. É algo que eu procuro nas “baladinhas” de Maceió e não encontro - e é uma combinação excelente -, que vai além daqueles remixes clichês de músicas pop, ou das batidas intermináveis sem música alguma no fundo, das quais acredito estarmos todos cansados.

Então vamos falar da banda. Pendulum écompostaporseis integrantes:RobSwire(vocalista/produtor), Gareth McGrillen (DJ,/baixo), Peredur ap Gwinedd (guitarra), Paul Harding (DJ), KJ Sawka (bateria) eVerse (MC). Essa banda australiana/inglesa lançousuaprimeirafaixa,“Vault”,em2002,como uma demo de “Kingz of the Rollers”, que sairia apenas no ano seguinte. O primeiro

álbumdedrumandbass,“HoldYourColour”,foilançadoem2005,sendoomaisvendido.Em 2008, eles lançaram o segundo, “InSilico”,eem2010,oterceiroemelhor(atéagora, em minha opinião), “Immersion”. Neste último, eles apresentaram uma deluxe edition com 15 faixas, mais três músicas remixadas pelos DJs Tiesto, deadmau5 e Chuckie. Vale a pena conferir.

Essa banda não sai da minha lista de reprodução – é aquela banda que instiga na hora de malhar, na hora que a Fernandes Lima está livre e eu quero dar aquela acelerada, ou quando estou atrasada e tenho que me arrumar em 5 minutos. Mas também é uma banda que, eu diria, faz uma festa completa: tem a batida do DJ, baixoe bateria; tem vocal no fundo; as letras são legais. Então, antes que aquele churrasco acabe em pagode ou Michel Teló, o lance é arrochar Pendulum!

Fica a minha dica aos músicos leitores que estão procurando inovar. Esse estilo é muito popular na Europa e está crescendo nos festivais de rock mundo afora.

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da antiga banda e da carreira solo ainda contam com a presença, numa das investidas, do baixinho invocado Udo Dirkschneider, ex-vocalista do lendário Accept. A versão que os germânicos fizerampara“BreakingtheLaw”estásimplesmenteum “brinco”.

E falando em germânicos, a língua alemã também é cultuada nesse play, com a épica “Für Immer” e “Tausend Mal Gelebt”. Mais destaques para “I Rule the Ruins”, que abre o disco com os violinos de Hye-sin Tjo. Logo, a bateria deWolfSimon e o baixo de Claus Fischer entram e cozinham tudo, com classe.

“Metal Tango” é uma ótima sequência, que faz atémãeanti-rocksebalançarumpouco.Nota10também merecem as releituras da loira para “All We Are”, “Burn It Up” e as lindas “Let Love Rain onMe”e“LoveMeinBlack”.HáduasfaixasbônusnestaediçãodoBrasil:“AlwaysLivetoWin”,queéao vivo, e “She’s Like Thunder”, esta última dedicada àboxeadoraalemãReginaHalmich,amigapessoalde Doro.

E é isso. Pra quem espera sempre de Doro só pancada, é melhor nem comprar este CD. Ela já mostrara seu lado sentimental em vários outros momentos, com baladas como “Children of the Night”, “Enough for You”, ou a cover “AWhiterShade of Pale”. Esse é o lado que muitos poucos fãs desbravaram no âmago da alemã. Ainda dá tempo de rever algumas joias em preto e branco. E lembre-se do que Lady Gaga disse...

Comprei em meados de junho do ano passado a edição 57 da revista Rolling Stone brasileira, que tinhacomocapaamusamonstrodopop:asenhoritaLady Gaga.

Confesso que não ia muito com a cara dela, nem sua proposta musical. Mas depois da matéria, vi que ela tem um quê de roqueira. A certa altura daentrevista comBrianHiatt, ela soltaquenãoépreciso guitarra pra que algo soe rock and roll.

A bem da verdade, alguns momentos do R&B-pop retrô de “Born This Way”, último álbum dela, foram inspirados - surpreendentemente - pela cover de “Then She Kissed Me”, originalmente tocada pelo grupo The Crystals e regravada pelo KISS, nos idos de 1977.

Não é preciso guitarras para tocar rock... Isso me deixou extasiado, de alguma forma. Até que algumas músicas daquele CD de Gaga têm canções realmente calcadas nas bases do rock clássico, como “Marry The Night”, “Government Hooker”, “Judas” e aprópria “Born This Way” – isso, claro, ao se analisar tirando a proposta de agitar a pista de dança.

Se, sem guitarras, dá pra fazer rock de qualidade, entãofalemosdamusaexcelsadoestilo:DorotheePesch. Nesse “Classic Diamonds”, de 2004, aproposta dela não é o heavy metal em sua essência, ou seja, esqueça o peso! Doro, como é chamada desde tempos de Warlock, quer “tocar” os roqueiros mais xiitas – e quem não quer ser tocado por ela?

Com músicas muito bem arranjadas pela Classic Night Orchestra, as releituras de canções

DoroBreno Airan (@brenoairan | [email protected])

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