revista proex ed zero

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2014 | junho | edição zero Pró-Reitoria de Extensão Revista Eletrônica de Ensino, Pesquisa e Extensão da UNIFESP

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Page 1: Revista Proex Ed Zero

2014 | j unho | ed ição ze ro

Pró-Reitoriade Extensão

Revista Eletrônica de Ensino, Pesquisa e Extensão da UNIFESP

Page 2: Revista Proex Ed Zero

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

Re i to ra

Soraya Soubbi Sma i l i

V ice-Re i to ra

Va lé r ia Pet r i

Che fe de Gabinete

Mar ia José da S i l va Fe rnandes

Pró-Re i to ra de Admin i s t ração

Jan ine Sch i rme r

Pró-Re i to ra de Graduação

Mar ia Angé l ica Pedra Minhoto

Pró-Re i to ra de Ex tensão

F lo r ian i ta Coe lho B raga Campos

Pró-Re i to ra de Pós-Graduação e Pesqu i sa

Mar ia Lúc ia Ol i ve i ra de Souza Fo rm igon i

Pró-Re i to ra de P lane jamento

Esper Abrão Cava lhe i ro

Pró-Re i to r de Assun tos Es tudant i s

Andrea Rabinov ic i

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Pró-Re i to ra de Ex tensão Un ive r s i tá r ia

F lo r ian i ta Coe lho B raga Campos

Pró-Re i to ra Ad jun ta de Ex tensão Un ive r s i tá r ia

Raque l de Agu ia r Fu ru ie

Coordenador ia de In teg ração Pedagógica

Nicanor Rodr igues da S i l va Pin to

Coordenador ia de Apoio a Programas dePo l í t icas de Es tado

Raiane Pat r ic ia Assumpção

Coordenador ia de Po l í t ica Cu l tu ra l

Renata Cr i s t i na Gonça lves dos Santos

Coordenador ia de Programas e Pro je tos Soc ia i s

Renato Nabas Ventu r

CÂMARA S TÉCNICA S DE EXTENSÃO

Pro fa. D ra.Pro fa. D ra.Pro fa. D ra.Pro f. D r.P ro fa. D ra.Pro fa. D ra.Pro f. D r. P ro fa. D ra.

CONSELHO EDITORIAL

Pro fa. D ra. F lo r ian i ta Coe lho B raga Campos

Pro fa. D ra. Raque l de Agu ia r Fu ru ie

Pro fa. D ra. Mar ia Angé l ica Pedra Minhoto

Pro f. D r. N icanor Rodr igues da S i l va Pin to

Pro fa. D ra. Ra iane Pat r ic ia Assumpção

Pro f ª . D r ª . Renata Cr i s t i na Gonça lves dos Santos

Pro f. D r. Renato Nabas Ventu r

Pro fa. D ra. A r le te En i G ranero

Ed i to ra responsáve l

Pro fa. D ra. A r le te En i G ranero

Assesso r ia ed i to r ia l

Núc leo de Es tudos Marke t ing da UFF

Pro je to Grá f ico

Caren C. L. Cos ta

Repor tagem

Lucas L. A . Bas tos

Capa

Caren C. L. Cos ta

Un ive r s idade Federa l de São Pau lo. Pró-Re i to r ia

de Ex tensão

Rev i s ta E le t rôn ica de Ens ino, Ex tensão ePesqu i sa – UNIFESP. São Pau lo

Pró-Re i to r ia de Ex tensão

Vol . 01 ( j un . /2014) .

(q tde de paginas ) p.

Semes t ra l

ISSN (número)

Rev i s ta E le t rôn ica de Ens ino,Ex tensão e Pesqu i sa da UNIFESPrev i s ta .p roex@un i fesp.b r

Av. Senna Madure i ra, 1500 , 2º andarV i la C lement ino, São Pau lo - SPSer v iço de Produção Ed i to r ia l : (11) 3385-4125www.p roex .un i fesp.b r

Page 3: Revista Proex Ed Zero

CONSELHO CIENTÍF ICO

Aimée Ve ja Mont ie l - Un ive r s idad Nac iona l Au tónoma de Méx ico - UNAM, Méx ico

Fábio Prosdóc im i - USP ( [email protected] r ) (11-999449876)

Márc io S imeone Hen r iques - Un ive r s idade Federa l de Minas Gera i s – UFMG, B ras i l .

Mar ia A rm inda do Nasc imento A r ruda – Un ive r s idade de São Pau lo – USP, B ras i l .

Raque l Pa iva – UFR J, B ras i l .

Waine r da S i l ve i ra e S i l va - Un ive r s idade Federa l F lum inense – UFF, B ras i l .

CONSELHO CONSULTIVO

Adi l son Cabra l – UFF, B ras i l

A lexandre Fa rb ia r z - UFF, B ras i l

Ana Pau la B ragágl ia - UFF, B ras i l .

A r l i ndo Conce ição- UNIFESP, B ras i l .

Ba r t i ra A Roza -UNIFESP, B ras i l .

Caro l i na Car va lho - UNIFESP, B ras i l .

C ín t ia R. Mö l le r A rau jo - UNIFESP, B ras i l .

Den i se Tavares –UFF, B ras i l

J u l io Cesar Zor zenon - UNIFESP, B ras i l .

Luc iana Massa ro Onus ic - UNIFESP, B ras i l .

Mar ia Es the r – UNESP e UNIFACEF, B ras i l .

Mar le te Assunção- UNIFESP, B ras i l .

Mar ia A rm inda do Nasc imento A r ruda – USP, B ras i l

Mon ica F i lomena Caron - UFSCAR- campus So rocaba/SP, B ras i l .

Odai r Pa iva - UNIFESP, B ras i l .

Ram i ro A. Azevedo - UNIFESP, B ras i l .

Renata Resende – UFF, B ras i l

R ica rdo Monez i – PUC de São Pau lo, B ras i l .

Rom i lda Fe rnandez - UNIFESP, B ras i l .

S i l v io Car va lho – UNIFACEF, B ras i l

S i s sy Fontes – UNIFESP, B ras i l .

Page 4: Revista Proex Ed Zero

Sumár io

8 E D I T O R I A L

F l o r i a n i t a C o e l h o B r a g a C a m p o sM a r i a A n g é l i c a P e d r a M i n h o t o

6 A P R E S E N T A Ç Ã O

S o r a y a S o u b b i S m a i l i

10

A R T I G O S

A I N C U B A D O R A D E E M P R E S A S D E O S A S C O : u m a p r o p o s t ad e g e s t ã o t é c n i c a - c i e n t í f i c a - c i d a d ã e n v o l v e n d o aU n i v e r s i d a d e F e d e r a l d e S ã o P a u l o - U N I F E S P e aP r e f e i t u r a d e O s a s c o ( S ã o P a u l o )

C í n t i a R . M ö l l e r A r a u j o , L u c i a n a M a s s a r o O n u s i c

24 N A R R A T I V A A U T O B I O G R Á F I C A , E M P O R T U G U Ê S B R A S I L E I R O ,D E E S T U D A N T E A F R I C A N A

M o n i c a F i l o m e n a C a r o n

38 P L A N O D E M A R K E T I N G D A U N I T E V Ê : u m e s t u d o d e c a s od a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l F l u m i n e n s e

L u c a s L o p e s A l b u q u e r q u e B a s t o s

Page 5: Revista Proex Ed Zero

85 N O R M A S D E P U B L I C A Ç Ã O

79 E N T R E V I S T A

O F O R T A L E C I M E N T O D A E X T E N S Ã O N A S U N I V E R S I D A D E SB R A S I L E I R A S

S a n d r a d e F á t i m a B a t i s t a d e D e u s

59 R E L A T O S D E E X T E N S Ã O

É B R I N C A N D O Q U E S E C U I D A : t r a b a l h o e m e q u i p ei n t e r p r o f i s s i o n a l n o c o n t e x t o h o s p i t a l a r

R o s a n a A p a r e c i d a S a l v a d o r R o s s i t , S a m a r a F e r n a n d e s Q u i n t a n i l h a ,J u l i a n a M i c h e l o n i , C a i o M a r i n s T o m á s , G a b r i e l a D o n a d o n F e r r e i r a ,D i e g o V i g a t o , A n a C a r o l i n a T o r r e s A n t o n i o , J e s s i c a F e r r e i r a

Page 6: Revista Proex Ed Zero

A P R E S E N T A Ç Ã O

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S O R A Y A S O U B B I S M A I L I

Ap resentação

Univers idade Federal de São Paulo. São Paulo, Bras i l .

Re i to ra

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E D I T O R I A L

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F L O R I A N I T A C O E L H OB R A G A C A M P O S

Ed i to r ia l

Univers idade Federal de São Paulo. São Paulo, Bras i l .

Pró-Re i to ra de Ex tensão

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A R T I G O S

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C Í N T I A R . M Ö L L E R A R A U J O ¹

L U C I A N A M A S S A R O O N U S I C ²

A INCUBADORA DE EMPRESA S DE OSA SCO:uma p ropos ta de ges tãotécn ica-c ien t í f i ca-c idadã envo lvendo aUn ive r s idade Federa l de São Pau lo - UNIFESPe a Pre fe i tu ra de Osasco (São Pau lo)

Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, Brasil.¹ Professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com mestrado e doutorado na Fundação Getúlio Vargas – FGV/S.P, graduação em ciências econômicas pela Universidade de São Paulo - USP e em direito, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/S.P. Seus estudos contemplam as áreas de políticas públicas, estratégia, empreendedorismo e inovação. Atualmente é Coordenadora de Desenvolvimento Institucional e Estudos de Futuro da UNIFESP. [email protected]² Professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), possuindo doutorado e mestrado em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP e bacharel em Ciências Contábeis pela mesma Universidade. Possui trabalhos publicados em periódicos científicos com foco em estratégia e políticas públicas. Atualmente é Coordenadora de Elaboração de Orçamento da UNIFESP. [email protected]

Este projeto de extensão foi patrocinado pela Pró-Reitoria de Extensão, da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP e focaliza a Incubadora de Empresas de Osasco. O objetivo principal foi auxiliar a Incubadora de empresas de Osasco na construção de um processo de gestão profissional, isento e independente, que permita o acesso dos diversos atores ao processo de incubação, no âmbito da aludida instituição, franqueando-lhes oportunidades para que se consolidem e prosperem. Acredita-se que, a partir da consecução deste fim, será possível à Incubadora de empresas de Osasco contribuir efetivamente para o desenvolvimento da comunidade, reduzindo as desigualdades econômicas e sociais.

Palavras-chave: incubadora; gestão; desenvolvimento local.

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Resumo:

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Este trabalho é resultado de projeto de extensão avalizado pela Pró-Reitoria de Extensão, no âmbito da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, cujo foco é a Incubadora de Empresas de Osasco, localizada em município vizinho à cidade de São Paulo, onde a UNIFESP tem um campus universitário inaugurado recentemente, em 2011. De fato, no aludido campus funciona a Escola Paulista de Economia, Política e Negócios (EPPEN) que abriga, atualmente, cinco cursos de graduação (Economia, Administração, Ciências Contábeis, Relações Internacionais e Ciências Atuariais)

Neste contexto, para melhor compreensão de nosso trabalho, convém primeiramente, apreender alguns aspectos importantes do conceito de incubadoras de empresas e sua importância para o desenvolvimento socio-econômico das localidades. Com efeito, de acordo com ARANHA (2008), DORNELAS (2002), FURTADO (1998), MARTIN (1984), RICE, MATTHEWS (1995), as incubadoras de empresas são reconhecidas como atores importantes, que alavancam inovação, empreendedorismo e desenvolvimento socioeconômico, sobretudo, por meio do estímulo fornecido às micro e pequenas empresas, as quais, ao prosperarem, dinamizam as economias locais, gerando renda e emprego. De fato, os micro e pequenos empreendimentos (MPEs), segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE (2012), representavam cerca de 99% dos estabelecimentos existentes no Brasil, são responsáveis por 51,6% dos empregos formais privados não agrícolas e contribuem com aproximadamente 40% da massa salarial. Todavia, segundo o próprio SEBRAE, apesar de sua capacidade potencial de impactar o desenvolvimento socioeconômico, os micro e pequenos empreendimentos, no curso de seu primeiro ciclo de existência, isto é, nos seus primeiros anos de operação, apresentam taxa de mortalidade muito alta.

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1 Int rodução

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Por conta disso, resta claro (e as variadas pesquisas apoiam esta conclusão), que o mecanismo mais efetivo, que se tem conhecimento, para diminuir a taxa de mortalidade dos micro e pequenos empreendimentos, é, sem dúvida, a incubadora de empresas.

Adicionalmente, é evidente, conforme assegura o relatório técnico da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos e Tecnologias Avançadas - ANPROTEC (2012), o amadurecimento do movimento de incubadoras de empresas no Brasil, o qual é explicado também, com base na constatação de que os gestores destes organismos estão mais atentos para com as questões de desenvolvimento local e regional, bem como buscando sintonia com os melhores padrões internacionais de sustentabilidade econômica, social e política. Neste particular, vale dizer que o exame da experiência internacional revalidou a relevância crescente conferida às incubadoras de empresas, como organismos que tem o condão de contribuir para estimular, acelerar e consolidar novas empresas inovadoras, alcançando consequentemente, apoiar a sociedade a encontrar novas formas de atuação, num ambiente globalizado, extremamente dinâmico e competitivo. Em outras palavras, o movimento de incubação de empresas, ao buscar conjugar os avanços científicos-tecnológicos com aspirações humanísticas, pode, certamente, colaborar para a construção de uma sociedade menos desigual, ampliando o acesso de grupos mais vulneráveis, a oportunidades que não só fomentem o desenvolvimento de um espírito empreendedor, mas também o sentimento de solidariedade. Neste caso, destaque-se especialmente, as alternativas que podem ser criadas pelas incubadoras de empresas, no sentido de viabilizar aos pequenos empreendedores, a inserção em redes de relações mais amplas, constituídas não apenas por agentes locais, mas também, regionais, nacionais e até mesmo internacionais, permitindo-lhes a exposição a oportunidades de articulação e visibilidade mais abrangente e diversificada.

Com relação à trajetória das incubadoras de empresas, cabe mencionar que elas tiveram origem nos Estados Unidos, na década de 1960. Todavia, o número total de incubadoras de empresas expandiu de forma mais robusta,

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tanto no referido país, como na Europa, ao longo da década de 70 e, em especial, a partir da década de 80 (FURTADO, 1998; ANPROTEC, n.d.b.). Nos anos 90, ficou claro para muitos, que estes organismos tinham o condão de auxiliar os países, na superação da crise, ajudando-os a promover prosperidade, bem como a estimular uma mudança cultural, no ambiente dos negócios, em favor das ideias voltadas para o empreendedorismo. De acordo com estudo conduzido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos e Tecnologias Avançadas – ANPROTEC (doravante denominada apenas de ANPROTEC), em cooperação com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e divulgado em 2012, denominado “Estudo, Análise e Proposições sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil”, a aceleração da implantação de incubadoras de empresas, no mundo, especialmente em alguns países (tais como: Coréia do Sul, França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Brasil), ocorreu de forma rápida e contou com o apoio do Estado. Com efeito, nestes países e em vários outros, o papel do Estado tem sido destacado e o financiamento público, direto ou por meio de editais das agências de fomento, ainda é fonte relevante de receitas das incubadoras de empresas. Nesse particular, convém salientar que no Brasil, bem como em outros países da América Latina, o sistema é descentralizado (tendo o Estado a função orientadora), em contraste com a Coreia do Sul, onde o Estado é promotor e financiador de primeira instância das incubadoras de empresas(ANPROTEC, 2012).

1.1 Problema

Como salientado no tópico anterior, registre-se a presença maciça dos governos, em diversos países, apoiando o movimento de incubadoras de empresas, por meio de políticas públicas e financiamento. Neste particular, é indiscutível, de acordo com recente estudo da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos e Tecnologias Avançadas – ANPROTEC (2012), a importância do Estado na consolidação das incubadoras de empresas, valendo destacar o papel estratégico das políticas públicas em todas as experiências analisadas, desde sistemas

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descentralizados como o brasileiro, tanto quanto em países nos quais o Estado é promotor e financiador de primeira instância, como a Coreia do Sul.

Por conta do exposto, decidimos construir um projeto de Extensão, direcionado para apoiar a Incubadora de Empresas de Osasco. De fato, inferimos, com base em algumas entrevistas semi-estruturadas, conduzidas inicialmente junto ao atual gestor da Incubadora de Osasco, no inicio do ano de 2013, que poderíamos atuar com vistas a harmonizar os ideais frequentemente associados ao empreendedorismo, inspirados fortemente no ideário econômico liberal (sobretudo no que tange à busca de alta performance econômica) com valores éticos, que prestigiem reflexões envolvendo temas relacionados à responsabilidade social das empresas e à atuação empresarial cidadã. Neste sentido, vislumbramos que a articulação da UNIFESP com a referida incubadora de empresas, via a condução de trabalho, que conjuga esforços de professores e alunos, voltado primeiramente aos micro-empresários incubados, poderia também contribuir para inibir possibilidades de eventuais ingerências de alguns atores políticos locais, no contexto da gestão da incubadora de empresas, visando favorecer determinados agentes econômicos em detrimentos de atores mais vulneráveis e menos articulados politicamente. Em suma, uma das questões centrais que nos inspirou a empreender o atual trabalho de parceria com a Incubadora de Osasco, consistia em buscar reduzir risco de desvirtuamento daquilo que entendemos ser verdadeiro propósito da incubadora de empresas de Osasco, a saber: um instrumento de políticas de apoio a micro e pequenos empresários, que são, em regra, atores muito mais vulneráveis do que os grandes conglomerados econômicos.

1.2 Objetivo

Percebe-se, portanto, o papel relevante das incubadoras de empresas como catalisadoras de processos de inovação, concorrendo para estimular a interação das empresas incubadas com o entorno (empresas, associações de classe, entidades nas diversas esferas de governo, instituições de fomento,

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universidades, etc), cujos benefícios podem resultar em possíveis parcerias, colaborações, troca de idéias, intercâmbio de conhecimentos, internacionalização das empresas incubadas etc (ARANHA, 2008; FRACASSO, ENGELMAN, 2013; FURTADO, 1998; MARTIN, 1984; NBIA, 1992; MEDEIROS, 1998; PLONSKI, 2005, 2010).

Assim sendo, com o fito de se promover um ambiente econômico mais pró-ativo, que favoreça o desenvolvimento sustentado e competitivo, é imperativo que esses organismos se consolidem como plataformas estratégicas, institucionais e operacionais, contribuindo, junto a outras diretrizes e atores, mediante esforço articulado e cooperativo, para dinamizar a economia local, via criação de empregos e geração e distribuição de renda (ARANHA, 2008; ANPROTEC, 2012; BOLLIGTOFT & ULHOI, 2005; ENGELMAN, FRACASSO, 2013; PLONSKI, 2005, 2010).

Com base no exposto, salienta-se que o objetivo principal desse trabalho é auxiliar a Incubadora de empresas de Osasco na construção de um processo de gestão mais profissional, isento e independente, que permita o acesso dos mais diversos grupos ao processo de incubação, no âmbito da aludida instituição, franqueando-lhes oportunidades para que se consolidem e prosperem. Com efeito, acreditamos fortemente que é a partir da consecução deste fim, que será possível à Incubadora de empresas de Osasco, contribuir efetivamente para alavancar o desenvolvimento da sociedade local, visando também reduzir as desigualdades econômicas e sociais.

Adicionalmente, aspiramos auxiliar na preservação da missão da Incubadora de Osasco, especialmente, no que diz respeito ao potencial do referido organismo de apoiar a prosperidade da economia da cidade de Osasco e dos municípios que a circundam. Para tanto, entendemos que a referida Incubadora de empresas deve insistir em divulgar que, dentre suas finalidades, inclui-se o firme propósito de colaborar para a formação de gestores responsáveis e cidadãos.

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2 Metodologia

Realizamos, a priori, uma série de três entrevistas não-estruturadas com o atual gestor da incubadora de empresas de Osasco, visando entender a trajetória do mencionado organismo, bem como suas fortalezas e fraquezas.

Entrevistamos igualmente, o gestor responsável, no âmbito da Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Abastecimento (SICA), órgão local que se incumbe da Incubadora de empresas de Osasco, para entender um pouco mais de sua visão e expectativas a respeito da missão deste organismo.

A seguir, mantivemos uma reunião com todos os oito gestores das microempresas incubadas atualmente na Incubadora de Osasco, para informá-los de nosso trabalho e iniciamos, nesta oportunidade, o primeiro trabalho de “escuta” de suas expectativas com relação à Incubadora de Osasco.

Também conduzimos entrevistas individuais com cada um dos oitos gestores das microempresas atualmente instaladas na Incubadora de Osasco. Ao realizar tais entrevistas, tínhamos a intenção de ouvir seus relatos sobre os pontos fortes e fracos da incubadora de Osasco, além de conhecer sua percepção da missão do referido organismo, no que tange aos seus papéis, no campo econômico, social e político.

Com base no conjunto de informações coletadas, identificamos algumas demandas e, organizamos, uma palestra voltada não apenas para os microempresários instalados na Incubadora de Osasco, mas que também se propunha a atingir a comunidade de microempresários de Osasco e municípios vizinhos.

Os alunos participantes do referido projeto, tem acompanhado todas as etapas, participando efetivamente dos trabalhos, ora atuando junto com os professores na condução de entrevistas, ajudando a organizar as reuniões, auxiliando no registro escrito dos conteúdos veiculados nas entrevistas, etc. Ademais, os discentes envolvidos no projeto realizaram apresentação para a comunidade (gestores incubados na Incubadora de Empresas de Osasco, bem como para representantes da: Associação Comercial e Empresarial de Osasco, Secretária de Planejamento, Secretaria de Indústria, Comércio e

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Abastecimento) relatando alguns dos resultados parciais desse projeto. Ao final desse trabalho, que ocorrerá em fevereiro de 2014, almejamos

entregar para os Gestores da Incubadora de Empresas de Osasco bem como para os empresários incubados um diagnóstico sobre o referido organismo, tanto quanto recomendações de ajustes, salientando-se ao final, as áreas de oportunidades

No que concerne aos discentes nossa aspiração é que tenham apreendido conteúdos teóricos e práticos, que concorram para aprimorar sua formação técnico-científico. Ademais, é nosso desejo que os mesmos tenham ampliado seu entendimento a respeito dos impactos benéficos relacionados à promoção de um estilo de gestão cidadã, para que possam, no futuro, se tornar referência de gestores éticos.

3 Resu l tados

Incialmente, gostaríamos de mencionar que fomos (UNIFESP) chamados a participar do grupo de atores que empreendeu o processo de seleção, o qual escolheu o conjunto de microempreendedores que está instalado atualmente, na Incubadora de Osasco. De fato, o mencionado grupo foi integrado por professores da UNIFESP e de outras instituições de educação locais, bem como de gestores do SEBRAE. Assim sendo, o processo de seleção não foi permeado por critérios políticos, prevalecendo critérios técnicos, sendo considerados também outros aspectos (exemplo: potencial e comprometimento dos empreendedores, natureza dos empreendimentos, entre outros).

Deste modo, desde a instalação destes novos microempresários na Incubadora de Osasco, iniciamos um trabalho de acompanhamento, não só destes gestores, como também dos atores responsáveis pela gestão da referida Incubadora de Osasco.

Identificamos, por meio das entrevistas que conduzimos juntos aos empresários incubados, algumas deficiências com relação ao suporte esperado por eles, da parte da Incubadora de Empresas de Osasco. Nesse particular, saliente-se, por exemplo, que na opinião da maioria dos gestores

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das empresas instaladas, o aludido organismo não alcança ajudá-los na obtenção de linhas de financiamento /crédito, o que seria fundamental para a prosperidade de seus negócios. Adicione-se a isso, o fato de que a Incubadora de empresas de Osasco tampouco lhes dá suporte no processo de gerar inovação, bem como apoiá-los na gestão da inovação. De fato, nesse particular, a maioria dos gestores entrevistados afirma a inexistência de um esforço, por parte da Incubadora de Empresas de Osasco, no sentido de auxiliá-los no processo de articulação com os vários atores locais e/ou regionais (fornecedores, compradores, serviços públicos, etc).

Há também outra reclamação dos gestores instalados na Incubadora de Empresas de Osasco, com relação à ausência de treinamentos ou de qualquer apoio para melhor capacitá-los a enfrentar a concorrência, quando se emanciparem, no futuro. Acrescente-se a isso, que todos os empresários incubados insistem em afirmar que não lhes é disponibilizado nenhum tipo de consultoria (marketing, finanças, contabilidade, etc), sendo que esse tipo de suporte seria muito bem vindo, uma vez que, frequentemente, eles não dispõe de vasto repertório, nessas áreas.

Em outras palavras, no dizer dos empresários incubados, a Incubadora de Osasco não os ajuda a construir/desenvolver uma rede de contatos (comercias, institucionais, etc), servindo apenas de local no qual eles instalam seus escritórios e organizam suas atividades administrativas. Todavia, com relação a esse aspecto, eles ressaltam que essa é uma ajuda muito valiosa, dada a localização estratégica da cidade de Osasco, próxima de várias importantes vias de acesso (rodovias, aeroportos e ferrovias). Quanto a isso, mencionam, por exemplo, os baixos custos dos aluguéis dos boxes que ocupam na Incubadora de Empresas de Osasco (em relação ao que pagariam por espaço similar no mercado local), e isso lhes ajuda, sobretudo nesse primeiro estágio de sua existência, no qual qualquer redução de despesas é bem vinda. Ademais, também elogiam o fornecimento gratuito de alguns serviços, tais quais: acesso à internet, xerox e fax, estacionamento, serviços de copa.

Convém mencionar também que os gestores incubados, mesmo sendo

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unânimes com relação a algumas lacunas quanto ao suporte que lhes é oferecido pela Incubadora de Empresas de Osasco, reconhecem, em contrapartida, que o fato de suas empresas terem sido acolhidas/selecionadas por esse organismo, via um processo de avaliação técnico e profissional, lhes confere certo “status” diferenciado no mercado. Nesse particular, destacam que estar instalado na Incubadora de Empresas de Osasco serve de espécie de “certificado” de competência.

Salientamos ainda que o relatório final dessa pesquisa será concluído em fevereiro de 2014. Todavia, como sugerido, há algumas áreas de oportunidade, que se alteradas, poderiam contribuir para melhorar a gestão da referida Incubadora de Osasco, impactando, no final, não somente o seu desempenho global, como também a perfomance dos gestores nela instalados.

Por fim, destacamos, de acordo com a literatura consultada, o papel relevante conferido ao Estado, como indutor de ambientes de inovação, podendo incentivar, por meio de políticas públicas (tais como: leis, decretos, atos administrativos, programas, projetos, etc), a disseminação e a consolidação das incubadoras de empresas. Essas, por seu turno, se bem geridas, têm o condão de estimular o empreendedorismo inovador e o desenvolvimento socioeconômico sustentável das nações.

4 Cons iderações Finais

Como visto, o suporte fornecido pela Incubadora de Osasco, para os microempresários nela incubados, deixa muito a desejar. Não há consultorias de qualquer natureza (contábil, marketing, financeira, jurídica, sistêmica-institucional, etc) que tenham como intuito apoiar a melhoria da gestão dos microempresários no ambiente de suas próprias empresas, sendo visível que isto lhes permitiria, consequentemente, melhorar sua competitividade no contexto do mercado. Ademais, inexistem uma profusão de apoios relacionados à possibilidade de incrementar a articulação das microempresas incubadas com atores locais, regionais, nacionais e, esses, quando e se ocorrem, são pontuais. Na verdade, apesar das poucas ações de

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suporte empreendidas pela Incubadora de Osasco (patrocinando, por exemplo, algumas reuniões entre os gestores incubados e algumas entidades, tais como, encontros com a Associação Comercial e Empresarial de Osasco – ACEO, a UNIFESP, etc), não há, por outro lado, um planejamento organizado e coordenado de ações ou mesmo um plano consistente, por parte dos gestores públicos que gerenciam a Incubadora de Osasco, com a finalidade de estimular o estabelecimento de relacionamentos dos gestores incubados com a comunidade local. Em suma, a Incubadora de Osasco não dispõe de um planejamento estratégico, o que evidencia uma contradição, visto que a mesma tem, em última instância, a função de apoiar os empresários incubados a construir empresas mais sólidas, para que possam no futuro, se emancipar e articular-se de forma competitiva no mercado.

Desse modo, apesar de os microempresários incubados usufruírem de alguns benefícios fornecidos pela Incubadora de Osasco (como por exemplo: preço baixo do aluguel pago, acesso à internet, xerox e fax gratuitos), há que se mencionar que não recebem qualquer orientação com relação a aspectos negociais e empresarias. Assim, grosso modo, são deixados “a própria sorte”, sem nenhum tipo de consultoria de apoio que lhes possa ajudar no processo de empreender, ou seja, sem maiores orientações para construir, por exemplo, um plano estratégico. Os gestores incubados tampouco são introduzidos nas técnicas ou métodos de proceder a avaliações sobre a performance e/ou a evolução de seus negócios.

Sumariando, consideramos que o papel da incubadora de Osasco - no que concerne a “colaborar para a construção de uma sociedade menos desigual, ampliando o acesso de grupos mais vulneráveis, a oportunidades que não só fomentem o desenvolvimento de um espírito empreendedor, mas também o sentimento de solidariedade” - não se materializa em toda a sua plenitude. De fato, é relevante lembrar que esses organismos (incubadoras de empresas) devem ser constantemente monitorados, sendo importante que as autoridades locais, associações empresariais, instituições de apoio e universidade, estimulem a interação dos mesmos, com a comunidade local. Em outro dizer, é necessário que haja um maior incentivo e uma melhor

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coordenação de esforços, com a finalidade de promover a interação da Incubadora de Empresas de Osasco (e das empresas nela instaladas) com a comunidade onde estão situados. Há, com efeito, oportunidades de melhorias com a relação a diversos aspectos aqui abordados, bem como para esclarecer e discutir qual a verdadeira missão da incubadora de Osasco, no contexto do município de Osasco. Nesse caso, sugere-se começar pela elaboração de um plano estratégico para a aludida incubadora, em conjunto com os gestores incubados, autoridades e atores locais relevantes, buscando definir suas prioridades.

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M O N I C A F I L O M E N AC A R O N

NARRAT IVA AUTOBIOGRÁF ICA, EMPORTUGUÊS BRA S ILE IRO, DE ESTUDANTEAFR ICANA

Universidade Federal de São Carlos. São Paulo, Brasil.Profa. Dra. Adjunto IV na Universidade Federal de São Carlos campus Sorocaba/SP - e-mail: [email protected] - Formação Pós: IEL / UNICAMP/ Linguística e Linguística AplicadaGraduação: Bacharelado e Licenciatura em Psicologia, Formação de Psicóloga, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP campus Ribeirão Preto/SP

O trabalho trata de um relato autobiográfico feito em Português Brasileiro por aluna africana de Guiné-Bissau e aborda as possíveis contribuições de sua produção linguístico-textual para o desenvolvimento dos processos de inserção de estrangeiros na universidade pública brasileira, feitos através de Programas de Convênios Internacionais, que se constituem num dos instrumentos de cooperação educacional que o governo brasileiro oferece a outros países em via de desenvolvimento, especialmente da África e da América Latina. As reflexões suscitadas pelo relato destacam a urgência de uma discussão sobre as variáveis implicadas na mobilidade social no Brasil e entre os povos, do processo de criação e transmissão das desigualdades ao longo do ciclo de vida dos cidadãos.

Palavras-chave: autobiografia; convênios internacionais; relações educacionais interétnicas.

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Resumo:

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O trabalho trata de um relato autobiográfico em Português Brasileiro feito por aluna de Guiné-Bissau, considerando-se algumas questões relativas aos estudos da Linguística Aplicada. O trabalho foi feito em atividade de extensão denominada Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão. Evidenciando-se a “voz” da aluna, no trabalho busca-se abordar a produção linguístico-textual da aluna explorando suas contribuições para o desenvolvimento dos processos de inserção de alunos africanos e estrangeiros na universidade pública brasileira, feitos através de Programas de Convênios Internacionais, que se constituem num dos instrumentos de cooperação educacional que o governo brasileiro oferece a outros países em via de desenvolvimento, especialmente da África e da América Latina. Apresenta-se uma reflexão sobre o processo criativo da autobiografia. Adota-se o Paradigma Indiciário como metodologia de análise do corpus, cujo foco é posto no dado singular. As reflexões suscitadas pelo relato destacam a urgência de uma discussão sobre as variáveis implicadas na mobilidade social no Brasil e entre os povos, do processo de criação e transmissão das desigualdades ao longo do ciclo de vida dos cidadãos. Busca-se elementos para pensar/entender como essa aluna representa a universidade, assim como lhe tem sido oferecida, e como lida com as diferenças linguístico-culturais e com as normas impostas pela instituição; diferenças que englobam desde a indumentária às condutas, valores, princípios e filosofias de vida aos padrões que compreendem nosso forte comportamento grafocêntrico, específico de uma sociedade letrada. Destaca-se a importância da educação escolar desenvolver a comunicação entre diferentes culturas, numa perspectiva de conexão entre as culturas dos alunos e a trabalhada na escola.

Inicialmente apresenta-se a concepção adotada de letramento. Na continuidade expomos reflexões sobre os relatos autobiográficos e sobre a

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1 Int rodução

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metodologia utilizada para o desenvolvimento da análise, o Paradigma Indiciário. Apresentam-se, então, alguns dados e, para findar, considerações gerais sobre o trabalho e questões por ele suscitadas.

2 Contr ibu ições da L inguís t ica Apl icada

2.1 Letramento

Inaugurado entre as questões relacionadas à linguagem essencialmente a partir da segunda metade da década de 80, o termo letramento cobre, segundo Soares (1998, p. 66),“uma vasta gama de conhecimentos, habilidades, capacidades, valores, usos e funções sociais (...) sutilezas e complexidades difíceis de serem contempladas em uma única definição”. De acordo com a autora, a dificuldade na definição do letramento decorre das duas principais dimensões do termo, que remete ao individual e ao social. Se o foco da definição é posto na primeira dimensão, de acordo com a autora, o letramento “(...) é visto como um atributo pessoal”, se o foco é centrado na segunda, o letramento é encarado “(...) como um fenômeno cultural, um conjunto de atividades sociais que envolvem a língua escrita, e de exigências sociais de uso da língua escrita”. É dessa forma que, para Soares (1998, p. 70) “as competências que constituem o letramento são distribuídas de maneira contínua, cada ponto ao longo desse contínuo indicando diversos tipos e níveis de habilidades, capacidades e conhecimentos”.

A autora acresce à faceta conceitual da avaliação e medição do letramento a sua polêmica faceta ideológico-política e considera que

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o letramento é, sem dúvida alguma, pelo menos nas modernas sociedades industrializadas, um direito humano absoluto, independentemente das condições econômicas e sociais em que um dado grupo humano esteja inserido; dados sobre o letramento representam, assim, o grau em que esse direito está sendo distribuído entre a população e foi efetivamente alcançado por ela (SOARES, 1998, p.120).

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As dificuldades na definição do termo letramento decorrem do fato de o processo contemplar aspectos históricos, ideológicos e sociais presentes no uso da linguagem escrita.

A concepção de letramento que esse trabalho adota é sócio-histórica e define o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência da convivência com a escrita. Tal concepção abrange uma ampla gama de pesquisas que investigam as habilidades e práticas sociais de leitura e escrita, a ausência da escrita e suas consequências, as práticas culturais orais dos grupos sociais compostos por indivíduos analfabetos - relegadas ao esquecimento já que não são valorizadas socialmente - os discursos das práticas de produção de texto, de leitura e as relações autor-texto-leitor, e suas consequências na produção de diferentes práticas e diferentes gêneros discursivos. Nesse trabalho, portanto, a concepção do letramento é aquela que considera o letramento como uma maneira de estruturação discursiva que afeta, como outras formas de falar sobre o mundo, a nossa própria relação com esse mundo.

Considerando tanto a escrita como o seu processo de inserção nas sociedades, com efeitos importantes na oralidade, os estudos sobre o letramento compreendem a dimensão instrumentadora e capacitadora que a escrita tem na sociedade moderna.

Buscando apreender essa dimensão do letramento, consideraremos nesse trabalho a produção autobiográfica escrita de uma aluna africana estudando no Brasil, explicitando os aspectos singulares da experiência. Sabemos que no Brasil e no mundo o processo de alfabetização não é acessível à toda a sociedade: na distribuição do saber (GNERRE, 1985/91) há muitos grupos excluídos do processo de produção e os conhecimentos linguísticos não são partilhados homogeneamente, mas distribuídos socialmente. Para tornar isso evidente, basta observar-se a alta taxa de analfabetismo do país - gerada pela classe hegemônica, marginalizadora da grande maioria pobre, que nega as condições mínimas para a realização da escolarização das camadas populares, ou as oferece sob condições precárias, embora se diga que a escola é para todos. Soma-se a isso o fato de que, para esses grupos

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sociais, a escolarização tem uma importância secundária, já que não está ligada de forma tão direta ao problema da sobrevivência, como a alimentação, a saúde, a habitação e o emprego.

2.2 Autobiografia: perspectiva discursiva e formativa

Ao discutirem a autobiografia e suas formas, Bruner e Weisser (1996) defendem a tese de que “o relato sobre si mesmo é composto pelas convenções estilísticas e pelas regras do gênero” (p. 141). Os autores defendem a tese de que

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a forma de uma vida é função tanto das convenções de gênero e estilo a que se submete a narração dessa vida quanto, por assim dizer, daquilo que “aconteceu” no seu decorrer. E os pontos decisivos de uma vida não são provocados por fatos, mas por revisões na história que se usa para falar da própria vida e de si mesmo: as mais drásticas dessas revisões são as mudanças de gênero provindas de dentro do ser (Bruner e Weisser, 1996, p. 142).

Neste sentido, sustentam a ideia de que as vidas são “textos”, “sujeitos à revisão, exegese, reinterpretação e assim por diante” (p. 142). Equipara-se “texto” com uma narrativa conceitualmente formulada do que foi uma vida:

o fato de ser um relato instalado na memória, de tal maneira que seja capaz de gerar versões mais longas ou mais curtas de si mesmo, não exclui sua condição como texto aberto a interpretacões alternativas (p. 142).

Os gêneros existem como modos de se escrever ou falar, mas também como de ler e ouvir já que podemos “ler” um texto cômico como sátira ou comentário social ou um conto gótico como registro psicanalítico. O ato do auto-registro “separa o ser que está contando do ser passado dos “seres” sobre os quais se está contando (p. 144). Nas palavras de Benveniste (1971), citado por Bruner e Weisser (1996), o “eu” que fala ou escreve vive na “instância do discurso” pois o narrador e seu objeto não compartilham o mesmo tempo e espaço, mas sim o mesmo nome.

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Além da verossimilhança, Bruner e Weisser (1996) apontam que outra estratégica discursiva do auto-relato, encontrada nos estudos sobre o gênero, é o dever de atender às necessidades exigidas pelo gênero e ter de fazer opções decisivas para atendê-las, como a sintaxe, mas principalmente o tempo, o emprego de verbos passivos ou de ação e a dependência com relação à prolepse (recordação, antecipação) e/ou à sizetese (discussão). Os autores consideram que é impossível lançar-se ao auto-relato sem se tomar decisões com relação ao gênero, ao estilo, ao tema e à convenção. Nesse sentido,

Os autores observam que a finalidade última da autobiografia é situarmo-nos no mundo simbólico da cultura, identificarmo-nos com uma família, uma comunidade e, indiretamente, com uma cultura mais ampla. A autolocalização imposta pela autobiografia é o resultado de uma ato de navegação que fixa a posição em um sentido mais virtual que real que dispomos “para o relacionamento com nossos iguais depois de sairmos do escudo dos mecanismo infantis que nos permitem nossa prolongada imaturidade” (Bruner, 1972, citado por Bruner e Weisser, 1996, p. 146).

Nessa proposta, o autorelato transforma a vida em “texto” e só através dessa textualização podemos conhecer a vida de alguém. Destarte, o processo de textualização é complexo, pois

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a autobiografia força uma interpretação. E a interpretação exige uma administração. A maneira pela qual é administrada forma a “mentalidade” de uma cultura - seja ela “moderna” ou a dos membros da pólis da Grécia clássica (Bruner e Weisser, 1996, p. 145).

seu status textual não é, em sentido estrito, determinado exclusivamente pelo ato da fala e da escrita, mas depende dos atos de conceitualização: a criação de esquemas de interpretação pelos quais a memória semântica dá coerência aos elementos da memória episódica. A esquematização é comandada por regras de gênero e convenção cultural, que, por sua vez, impõe regras de uso linguístico e construção narrativa. Por fim, em virtude de sua função como “artifício locacional”, a autobiografia cria a necessidade de identificação e individualização, satisfazendo, ao mesmo tempo, essas necessidades se conseguir atingir a correção da representação (Bruner e Weisser, 1996, p. 149).

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Assim, desde muito cedo aprendemos a como “inventar” nossas vidas para atender a necessidade premente de nos relacionarmos com a família, a comunidade, as instituições, e assim por diante e “até as crianças parecem ter consciênciade que existe mais de uma maneira de fazê-lo” (BRUNER e WEISSER, 1996, p. 154) o que resulta que

Decorre dessa constatação que a tarefa da autodescrição se inicia com o surgimento da linguagem. Em lugares em que a cultura escrita se torna instrumento de maior autoconsciência, a mudança em direção à modernidade é indubitavelmente acelerada.

3 Metodologia de Invest igação

Adota-se o Paradigma Indiciário, método interpretativo, centrado nos resíduos e nos dados marginais, como lugar privilegiado de reflexão sobre os dados, que revelam sujeitos reais (e não ideais ou universais) e comportamentos singulares. O paradigma, discutido em Ginzburg (1986), emergiu por volta do final do século XIX (mais precisamente na década de 1870-80) apesar de suas raízes serem muito antigas e estarem localizadas em hábitos milenares da humanidade.

Nesse modelo epistemológico, qualitativo, pormenores considerados sem importância ou triviais fornecem a chave, segundo Ginzburg, para “(...) captar uma realidade mais profunda, de outra forma inatingível” (p. 150). Para o autor, esse paradigma encontrou implícita legitimação em diferentes esferas de atividades: na medicina, psicanálise, historiografia, política, olaria, carpintaria, marinha, caça, pesca, entre outras. De fato, as ciências que partem desse modelo epistemológico, denominadas indiciárias, se apóiam em sintomas, pistas, detalhes ou lapsos e se caracterizam como

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a mente é formada, numa incrível proporção, pelo ato da invenção do ser, pois por meio dos prolongados e repetitivos atos da autoinvenção definimos o mundo, o alcance de nossa atuação nele e a natureza da epistemologia que governa o modo como o ser conhecerá o mundo e, na verdade, a si mesmo. A auto-invenção, devido à sua própria natureza, cria disjunções entre um ser que conta no momento do discurso e os seres esquematizados na memória (Bruner e Weisser, 1996, p. 158).

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disciplinas essencialmente qualitativas. Os elementos imponderáveis com que lidam não são apreensíveis através de testes ou de esquemas previamente.

De acordo com o historiador, esse paradigma ajuda a “sair dos incômodos da contraposição “racionalismo” e “irracionalismo”” (1986, p. 143) e para ser bom conhecedor, nessa perspectiva, é preciso admitir a importância do sujeito individualmente concebido e da realidade que lhe é acessível. Discutindo os modos de fazer ciência das disciplinas que se utilizam do Paradigma Indiciário, Ginzburg (1986, pp. 156-179) observa que

A ideia que constitui o ponto essencial desse paradigma, de acordo com Ginzburg, é a de que na realidade existem zonas privilegiadas, sinais, indícios, que permitem decifrá-la. Assim, o paradigma pode até mesmo ser usado para elaborar formas de controle social sutis e minuciosas e converter-se, assim, num instrumento para dissolver as névoas da ideologia que, cada vez mais, obscurecem a estrutura social do capitalismo maduro.

A análise do texto que desenvolvemos incide sobre os elementos linguísticos, quais sejam, as designações utilizadas e a argumentação desenvolvida, buscando verificar o funcionamento discursivo e a produção de sentidos através de certas regularidades na narrativa. Nesse sentido, o texto da aluna será submetido à uma análise linguística somada aos saberes científicos do pesquisador no que tange ao mundo, atentando-se às metáforas, às metonímias e aos deslocamentos de sentidos. Valorizamos, assim, a especificidade do texto autobigráfico, mas reconhecemos o caráter indireto do conhecimento, exercitando a conjectura e a imaginação criativa durante a análise.

Lembramos que, entre os procedimentos indicados por aquele paradigma constam a prática interpretativa interdisciplinar situada no âmbito da

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o grupo de disciplinas que chamamos de indiciárias (...) não entra absolutamente nos critérios de cientificidade deduzíveis do paradigma galileano. Trata-se, de fato, de disciplinas eminentemente qualitativas, que têm por objeto casos, situações e documentos individuais, enquanto individuais, e justamente por isso alcançam resultados que têm uma margem ineliminável de casualidade.

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micro-análise e o pluralismo documental, teórico e metodológico. Nesse sentido, interpretamos as descrições de fatos cotidianos como composta de elementos indiciários, fazendo uso de nossos saberes acadêmico e cultural para refletir e levantar hipóteses que não esgotam as leituras do texto, pois as provas e as possibilidades se entrelaçam e permitem versões.

4 Resu l tados e Discussão

No decorrer dos anos de 2010, 2011 e 2012 realizamos a média de 2 (dois) encontros por mês com duração de 1 (uma) hora. O trabalho foi desenvolvido em função de um pedido de ajuda da aluna, do registro de suas memórias, configurando-se num espaço em que compartilhava suas dificuldades e angústias de viver em terra estrangeira. A aluna cursava o bacharelado em Turismo no início dos trabalhos, possuía 20 anos e era pertencente à etnia Mancana, falante da língua mancana e natural de Bissau, capital do país.

A seguir, um trecho em que fala de seu processo de letramento e escolarização:

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Estudei da primeira até a quarta série (classe) na Escola Primária Primeiro Congresso de Udemo, localizada no bairro de Plakc (Aeroporto), em Bissau, onde entrei com 7 anos de idade. Carregava um banco de madeira na cabeça para ir à escola. Quando passei para a quarta série (classe), sempre às sextas-feiras, costumava ter desafio de leitura e tabuada. Se uma dupla não soubesse resolver a tarefa, apanhava de outra dupla; se essa dupla não batesse com força, o professor pegava a palmatória e ensinava para a dupla como se deve bater; ou fazia o aluno que não sabe ler ficar ajoelhado no chão, com os braços abertos e uma pedra era colocada na palma de suas mãos, ou ganhava orelhas de burro feitas com papéis dobrados, e outros alunos que sabiam ler ficavam troçando quem não sabia. Às vezes os professores pegavam ramos de árvores e batiam nos alunos que não sabiam ler. Sempre quando chegava sexta-feira eu nunca queria ir à aula com medo de apanhar. Sempre tentava inventar que estava doente para não ir, mas o meu pai me obrigava a ir. No caso de alguém faltar à aula, na próxima semana apanhava do professor. Acredito que a prática de bater não ajuda ninguém a aprender bem ou a fazer as coisas com vontade, pelo

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contrário, os alunos faziam tudo como obrigação e com medo de apanhar. Essa prática no ensino também faz com que o aluno se sinta mal na frente dos colegas por ser humilhado. No recreio eu e as minhas amigas batíamos palmas e dançávamos. Lembro que pedia para minha mãe comprar amendoim e batata doce, ovo, eu os fervia e ia vender no hospital ou no quartel. Vendia, mas às vezes nem conseguia recuperar o dinheiro investido, porque as pessoas emprestavam e não pagavam, e eu também oferecia tudo.

O texto, de cunho autobiográfico, é pela aluna denominado História de suor e lágrimas..., o que nos dá uma pista de que em sua trajetória e perspectiva, traços marcantes foram o trabalho (suor) e o sofrimento (lágrimas). A lista que compõe o índice de seu texto permite identificar um percurso que foi marcante na elaboração de suas referências ao chegar ao Brasil. O tema que introduz o texto, a chegada ao Brasil, parece funcionar como marco divisor, pois a partir dele é resignificado seu passado, que é então recuperado nos tópicos que seguem, nos quais a aluna descreve sobre sua família, sobre Guiné-Bissau (cultura e tradição, vida econômica, gastronomia, músicas e festas, religião). Aparentemente como decorrência dessa revisitação aos aspectos singulares de seu país, a elaboração dos tópicos citados contribue para que a aluna opere uma comparação entre as realidades de Brasil e Guiné-Bissau, no que se refere à hospitalidade, tema que compõe parte importante em sua grade curricular da graduação, e à educação familiar, que parece corresponder mais enfaticamente ao produto da textualização de sua vida: o que ela é, em função do arcabouço que trouxe e das experiências que vivenciou em nosso território.

De origem humilde, a aluna autora percorre as peripécias e o rosário de dificuldades por que teve que passar, tanto em sua terra natal, quanto no Brasil. Não pretende ser um texto científico e sim um depoimento pessoal, curto, narrado em primeira pessoa e que utiliza uma linguagem muito simples e direta. Trata-se de um relato etnográfico, cru e bruto, cujo conteúdo alterna altos e baixos. Os pontos fortes dizem respeito à sinceridade da narrativa, à descrição sensível do cotidiano duramente enfrentado - sobretudo em seu país de origem -, aos contrastes culturais

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entre Guiné Bissau e Brasil, que produzem estranhamentos e suscitam reflexões, tanto à autora, quanto ao leitor. Outro trecho em que temos explícitas as condições de vida da família da aluna:

Perdemos a casa e todos os bens materiais. Depois da guerra o meu pai construiu umas novas casas. Com ele aprendemos a ser uma família feliz e alegre porque ele era um homem de postura e decidido; se falava “__ Vou fazer isso!” ninguém podia impedí-lo de fazer. Quando ele estava chegando em casa, cada um dos filhos começava a correr para se esconder, porque ele batia. Como ele gostava muito de mim porque eu era a mais nova até nascer a Bame, eu saia com ele para todos os lugares que ele freqüentava. Nos dias que ele bebia muito ele se recusava a dormir dentro da casa e ficava na varanda. Era perigoso e eu ficava chorando na varanda com ele até ele entrar. Um dos meus irmãos costumava sair de casa para ir ao colégio, mas ele não ia para o colégio e sim para o cinema, todos os dias, e faltava às aulas. Um dia o professor foi avisar o meu pai e ele esperou o meu irmão sair para ir ao colégio e foi atrás dele escondido. O meu irmão sem perceber entrou no cinema. O meu pai pegou-o e o fez tirar a camisa e colocou-lhe uma corda no pescoço, raspou sua cabeça e chamou todos os amigos do meu irmão para fazer troça nele e a minha mãe chorava. Ele mandou as crianças jogarem pedras em minha mãe e saiu o exército para pedir que ele parasse. Ele pegou um enorme facão e disse que se alguém chegasse perto dele ele ia cortar pedaços. Todos saíram correndo. A partir daí o meu irmão ia todos os dias ao colégio e cada final de ano ele passava com boas notas.

Como eu disse, antes de eu sair do meu país achava tudo normal com a situação de Guiné-Bissau, viver sem água, sem luz, os homem batendo nas mulheres como quiserem, as mulheres tendo que fazer tudo para os maridos... achava isso tudo normal porque nasci vendo minha mãe e todos fazendo assim. Para mim, essa era a realidade de vários países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Mas, hoje em dia agradeço a Deus por essa oportunidade que ele me deu de estudar no Brasil. Sinto que cresci muito, mas muito mesmo, pelo que vivi, pelo conhecimento que tenho hoje, não concordo com tudo isso que mencionei acima. Acho

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que é tamanha injustiça a realidade de Guiné-Bissau, porque as mulheres têm capacidade e competência para fazer qualquer coisa, não há trabalho destinado para o homem que a mulher não possa fazer e todos têm que ter os mesmos direitos. Trabalho de mulher não é trabalho doméstico, cuidar da casa, ou cultivar a terra, como é visto em Guiné-Bissau, onde várias mulheres são obrigadas a fazer trabalhos ou sofrem para manter o casamento por causa dos filhos. Nenhuma mulher pode apanhar.

Assim, minha família é bem grande e com eles eu vivi a minha infância, ouvindo histórias contadas pelos meus avós e pais. A minha infância foi linda. Tenho quinze irmãos e vivíamos na mesma casa e dormiam separados meninos de meninas, às vezes 3 ou 4 numa mesma cama, principalmente aos fins de semana se os primos vinham visitar. Os meus pais moravam na casa de um irmão dele, junto com todas as famílias, antes de eu ter nascido. Depois que os meus pais saíram de lá e foram morar numa cidade nova, com pouca gente, não tinha nenhuma casa perto da nossa. Com o tempo foram chegando outras famílias. A nossa casa ficava no meio de cajueiros. Era coberta de palha do mato sem portas e sem janelas. À noite costumávamos pegar chapa de zinco e um pedaço de madeira enorme para segurar a chapa na porta para barrar ladrões e bichos. Quando estava chovendo tínhamos que levantar e ficarmos de pé ou abrir uma vala no chão para a saída da água da chuva que ficava parada dentro do quarto. Depois o meu pai conseguiu fazer

A produção textual da aluna autora, enquanto exercício de autoconsciência, de narração de si mesmo, certamente teve papel relevante no seu processo de imersão em nossa cultura e terra, no desenvolvimento do seu processo de letramento.

As maiores deficiências de seu texto dizem respeito à linguagem pouco trabalhada, ao vai e vem de assuntos desordenados no texto, inclusão de informações superficiais sobre Guiné-Bissau e lacunas e falta de uma reflexão mais sistemática sobre sua própria trajetória, cuja riqueza, se bem trabalhada, poderia render mais. Em um contexto de valorização da diversidade cultural, como o que passa a humanidade atualmente, o texto oferece uma contribuição modesta e limitada. Há um vigor na narrativa da história da aluna que é importante e faz sentido em ser divulgada, como vemos no trecho a seguir:

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uma casa melhor, com porta e janelas. Cinco anos depois teve guerra de alguns grupos do exército a favor do ex-presidente João Bernardo Viera e outros a favor do ex-chefe de Estado Maior, Ansumane Mane, na qual o ex-presidente levou tropas senegalesas e francesas a favor dele. Como a nossa casa estava próxima do quartel do exército, alguns soldados invadiram a casa e nos deram sinal para sairmos. Saímos imediatamente sem levar nada e horas depois caíram bombas sobre a casa. Tivemos sorte, pois soube depois que várias famílias morreram inteiras com as casas bombardeadas.

Como um relato etnográfico é interessante e tem seu valor mesmo com os cacos, a falta de estrutura e os vai-e-vens, repetições e partes faltantes. Ao longo do trabalho foi marcante uma discussão que se desenhou, várias vezes, entre a escriba e a aluna autora, entre o significado das palavras direito e dever, que parece ter sido crucial para a re-elaboração da aluna de sua singularidade, dos aspectos culturais de seu país e de suas tradições, que lhe parecem naturais, mas que se revelam culturais quando se depara com alternativas distintas, especialmente no que diz respeito ao papel da mulher e da menina na família.

5 Cons iderações Finais

O trabalho permitiu investigar como a aluna significou sua passagem pelo campus. Perguntamo-nos quais são as influências na vida dos sujeitos do fato de participarem da construção da universidade. Perguntamo-nos, na elaboração deste breve relato, como os sujeitos escutam as falas das salas de aulas, entre os alunos e entre os professores e funcionários? Perguntamo-nos como estas escutas repercutem no ethos dos sujeitos, como se inscrevem na elaboração de suas identidades e nas informações econômico, sociais e culturais a que eles estarão submetidos durante o período de frequência à universidade. Acreditamos que o acompanhamento permite identificar a dinâmica da desigualdade social vigente no contexto. Como resultado deste trabalho acreditamos que impom-se uma discussão das variáveis implicadas na mobilidade social no Brasil e entre os povos, no processo de criação e transmissão das desigualdades ao longo do ciclo de vida dos cidadãos.

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Acreditamos que a combinação desses elementos permitirá identificar os pontos nevrálgicos dos processos de estruturação das desigualdades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNER, J.; WEISSER, S. “A invenção do ser: a autobiografia e suas formas”. In: Cultura Escrita e Oralidade. Orgs: David R. Olson e Nancy Torrance. Tradução de Valter Lellis Siqueira. Editora Ática. Coleção Múltiplas Escritas. 1996.GINZBURG, C. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985/91. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

***Agradeço à Pró-reitoria de Extensão da UFSCar a oportunidade de realizar o trabalho.

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L U C A S L . A . B A S T O S ¹

A R L E T E E N I G R A N E R O ²

PLANO DE MARKET ING DA UNITEVÊ : umes tudo de caso da Un ive r s idade Federa lF lum inense

Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, Brasil.¹ Bolsista PIBIC - Graduando em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda – UFF - email: [email protected]² Orientadora. Doutora em Comunicação (ECA/USP) Doutora em Administração (UEX/Badajós/España). Professora do Departamento de Comunicação da Graduação e do Programa de Pós-graduação Mídia e Cotidiano da UFF. Coordenadora do Programa de Ex-alunos Prata da Casa da Prograd/UFF e do Núcleo de Estudos de Marketing da UFF. Email: [email protected]. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3625216563709425

O Objetivo do estudo busca o levantamento de informações da emissora de televisão universitária da UFF através de um plano de marketing, para oferecer um serviço que atenda às expectativas dos diversos públicos, interno e externo envolvidos com a Instituição. Através da aplicação da metodologia da Pesquisa-Ação desenvolvida por Michael Thiollent e dos diversos conceitos de Marketing criados e debatidos por consagrados pensadores como Kotler, Cobra, Chiavenato dentre outros, estudou-se profundamente o microambiente de marketing da Unitevê, o canal universitário de Niterói, e a partir dessas informações traçou-se um diagnóstico da sua atual situação dentro do mercado de TVs Universitárias e um plano de marketing. Ao final do trabalho, foi possível responder ao objetivo: através de um plano de marketing, oferecer um serviço que atenda às expectativas dos diversos públicos, interno e externo envolvidos com a Instituição.

Palavras-chave: Unitevê; Pesquisa-Ação; Televisão; Marketing.

Resumo:

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Em 2010 foi criada a Superintendência de Comunicação Social - SCS da UFF - e a ela incorporada a Unitevê. A SCS tem por finalidade propor e executar a política de comunicação institucional da universidade, de modo a fixar e consolidar, junto à sociedade, a imagem da UFF como Polo de difusão e convergência das mais diversas manifestações educacionais e culturais, observados sempre o princípio da transparência dos meios e os objetivos desta Instituição Federal de Ensino. São três as Coordenações que compõem a SCS: Unitevê / Comunicação /UFFimagem .

Em cooperação com a STI (Superintendência de Tecnologia da Informação), desde 2008, a Unitevê mantém na rede o site www.uniteve.uff.br, onde toda a programação é exibida simultaneamente ao que é transmitido pelo Canal 17 da SIM TV, canal de TV por assinatura (cabo). Esta cooperação também realiza a transmissão direta dos eventos da UFF na internet através do site www.uff.br/ webtv .

A Unitevê apresenta uma grade de programação diversificada, formada por produções da UFF e parceiros externos, entre os quais estão associações, universidades e membros da comunidade. Parte da programação também é preenchida pela Rede IFES - Instituição Federal de Ensino Superior – troca de conteúdo entre as Universidades Federais organizada pela Andifes com realização da RNP (Rede Nacional de Pesquisa).

O Canal Universitário se baseia em um ambiente de estímulo às iniciativas da comunidade universitária, com objetivo de valorizar a cultura, o conhecimento, a educação e as atividades criadoras da sociedade; divulgar a produção acadêmica da UFF e de outras IFEs; oferecer ao público informação e tratamento da informação de modo imparcial, objetivo e plural, especialmente contando com a participação dos quadros acadêmicos da Universidade; facultar aos alunos, especialmente das áreas pertinentes ao audiovisual, a oportunidade da experimentação e do aprendizado; divulgar acervo de produtos audiovisuais da UFF e de outras instituições; servir de

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1 Int rodução

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instrumento de intercâmbio entre as instituições universitárias e destas com a comunidade em geral.

A Unitevê é um veículo conhecido na comunidade da UFF. A sua mensuração de audiência e a identificação de público-alvo são dificultadas por ser uma mídia técnica. O acesso à sua programação depende da assinatura de TV a cabo, a SIM TV, ou o acesso pela internet. Entende-se que o papel da mesma está atrelado a disseminar para a sociedade os questionamentos e conhecimentos gerados pela universidade, contribuindo para o exercício da cidadania, além de promover uma boa imagem corporativa, atestando a qualidade de seu serviço junto à sociedade.

A partir dessa análise prévia, estabeleceu-se a problemática do trabalho: Como usar o diagnóstico e ações planejadas de marketing para que a Unitevê obtenha eficácia e efetividade aplicada à sua estrutura para que os objetivos e as suas metas sejam alcançados? Para alcançar a resposta para essa pergunta, e estabelecer uma solução para o problema, a ferramenta escolhida foi o Planejamento Estratégico de Marketing.

O planejamento estratégico de marketing proporciona uma leitura eficaz do diagnóstico e o planejamento de ações que aumentando o seu nível de profissionalização, tornando transparente a qualidade dos serviços prestados, posicionando a mesma junto ao seu público-alvo e auxiliando na melhoria do produto ou serviço oferecido, uma vez que se volta para o atendimento das necessidades dos clientes e melhora a satisfação dos diversos públicos da Unitevê.

O planejamento estratégico é, portanto uma ferramenta de primeira grandeza para a previsão de situações e campo adequado à futurologia, uma vez que, para cada ação e variação de cenário, propõem-se reações proporcionais. Sugerem-se soluções e saídas, e não se especula pela retórica sem que se apresentem respostas e caminhos (BÔAS, 2008, p. 34 e 35).

Para resolver a problemática citada acima, a pesquisa foi iniciada por uma abordagem bibliográfica: levantamento de livros e artigos que ajudaram a embasar, direcionar e aplicar o projeto, a saber:

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• Rafael Villas Bôas apresenta uma reflexão acerca da profissionalização da gestão e no uso de sofisticadas ferramentas gerenciais e a conseqüente formação do ser humano presente como estratégias do marketing da educação.

• Naresh K. Malhotra e Fauze N. Mattar contribuem com a metodologia da pesquisa e pesquisa de marketing.

• Philip Kotler afirma que o marketing oferece estrutura e ferramentas para que as instituições de ensino possam ser mais bem sucedidas em atrair e atender seus públicos.

• Michael Thiollent, em seu livro “Metodologia da Pesquisa-Ação”, nos fornece a metodologia ideal para trabalhar com um grupo social como a Unitevê, através de dinâmicas e métodos de trabalho que permitem identificar, em conjunto com o grupo estudado, os problemas enfrentados pela instituição e traçar soluções adequadas.

O Objetivo do estudo busca o levantamento de informações da emissora de televisão universitária da UFF através de um plano de marketing, para oferecer um serviço que atenda às expectativas dos diversos públicos, interno e externo envolvidos com a Instituição.

Os elementos descritivos necessários a uma administração de marketing, realizando a leitura da Unitevê observando as características física, cultural, social, entretenimento e variedades destacando a importância da comunidade acadêmica e a sociedade em geral. Para atender a essas especificidades, foram definidos como objetivos específicos:

• avaliar o contexto da Instituição, seus ambientes micro e macro;• levantar a imagem da Instituição no mercado fluminense;• levantar o índice de satisfação do público interno (estudantes,

funcionários e professores) e externos (comunidade em geral);• levantar os pontos fracos e fortes da instituição;• elaborar diagnóstico;• posicionamento e gestão da marca da Unitevê; e• sugerir estratégias de marketing para alavancar o crescimento do meio

de forma sustentável.

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Os procedimentos metodológicos adotados serão divididos em fases, a saber:

a) pesquisa bibliográfica com levantamento teórico de autores renomados na área de estudo, voltada à globalização, comunicação de massa, televisão e TV universitária;

b) pesquisa em fontes externas de dados secundários a fim de responder às questões sobre as emissoras de televisão universitárias Federais;

d) pesquisa qualitativa com entrevistas individuais em profundidade semi estruturadas com os profissionais responsáveis pela Unitevê.

A coleta de dados na pesquisa das entrevistas individuais em profundidade foi feita através de um formulário semi-estruturado aplicado pessoalmente pelo próprio pesquisador na UFF.

O universo da UFF conta com 33 Unidades de ensino (escolas, faculdades e institutos). O Número de Estudantes da UFF: 55.281/ Graduação: 33.430 / 30.000 – Presencial 3.430 – À Distância. Pós- Graduação: 21.851 / 5.583 Cursando Pós- Graduação stricto sensu / 16.268 Cursando Pós- Graduação lato-sensu / Número de Professores: 2.927 / Número de Servidores: 3.890 / Total nos Campi de: Nova Friburgo, Campos dos Goytacazes, Rio das Ostras, Volta Redonda, Santo Antônio de Pádua e Niterói (JUBILEU DE OURO, 2011).

A análise e interpretação da pesquisa qualitativa foram realizadas a partir da transcrição das entrevistas e ressaltadas as considerações mais significativas a luz da teoria em estudo.

A metodologia utilizada, por sua vez, foi a Pesquisa-Ação.

Metodologia: Pesquisa-Ação

A metodologia empregada foi a Pesquisa-Ação que tem como diferencial a construção conjunta de uma solução. Diferentemente de uma pesquisa comum, na qual o espectador participa apenas fornecendo respostas e essas são interpretadas e utilizadas de acordo com o discernimento do pesquisador, a Pesquisa Ação propõe um envolvimento maior entre as partes, favorecendo o diálogo e reflexão. Essa metodologia também propõe

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A pesquisa foi dividida em algumas etapas. A primeira foi a pesquisa exploratória. Tal método de pesquisa pode ser definido como:

Nessa etapa qual ocorreu o levantamento de informações a fim de construir o diagnóstico seguido do tema da pesquisa, que focou o problema a abordado no trabalho, articulado a um quadro de referência teórico adaptado ao setor de TV Universitária. A teoria foi a base para orientar a pesquisa e as interpretações.

As hipóteses foram utilizadas de forma suavizada. Uma hipótese pode ser definida como uma suposição formulada pelo pesquisador a respeito de possíveis soluções a um problema colocado na pesquisa (THIOLLENT, 2011, p. 66).

Durante o período da pesquisa, foram realizados dois Seminários: um inicial e um no final, envolvendo o pesquisador, a orientadora e o staff da TV Universitária a fim de discutir os problemas e as propostas criadas para solucioná-los. Eis a definição de Seminário:

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A pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2011, p. 20).

Os estudos exploratórios, também denominados desk research, têm como principal característica a informalidade, a flexibilidade e a criatividade, e neles procura-se obter um primeiro contato com a situação a ser pesquisada ou um melhor conhecimento do objeto em estudo e das hipóteses a serem confirmadas (SAMARA; BARROS; 2006; p. 34).

O Seminário central reúne os principais membros da equipe de pesquisadores e membros significativos dos grupos implicados no problema sob observação. O papel do seminário consiste em examinar, discutir e tomar decisões no processo de investigação. (IDEM, IBIDEM, p.67)

Portanto, o Seminário é uma técnica em que o pesquisador e os membros dos grupos pesquisados discutem abertamente as informações coletadas e

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as interpretações, dentro da perspectiva teórica adotada. O seminário é organizado e registrado através de atas, e todo o debate é regido em uma linguagem acessível a todos os grupos participantes, a fim de evitar exclusões ou desentendimentos. Todo seminário tem de atender a tarefas chave, que vão desde a definição da problemática, na qual serão tratados os problemas, a centralização das informações colhidas em pesquisas de diversas fontes, elaboração de hipóteses e de ações para solucionar os problemas, até o acompanhamento e divulgação dos resultados. O Seminário deve ser elaborado de forma metódica, a fim de tornar a troca de informações completa e eficiente, tanto para o pesquisador quanto para os grupos pesquisados.

A Universidade Federal Fluminense constituiu o campo de observação onde a pesquisa foi aplicada. A coleta de dados foi efetuada pelo pesquisador e algumas técnicas de coleta de dados foram utilizadas para recolher informações, entre elas técnicas antropológicas de observação participante e diários de campo. Durante os seminários surgiram informações não previstas, o que enriqueceu o trabalho. Todas as informações coletadas foram apresentadas, discutidas e interpretadas no seminário central.

O próximo passo da pesquisa foi o início das visitas ao local dos debates e da apresentação de seminários para o grupo pesquisado, esse formado pelos funcionários da Unitevê. Esse processo iniciou-se em fevereiro de 2013 e alcançou seu término em maio de 2013 (quatro meses). Durante esse período, mostrou-se necessária a distribuição de um questionário estruturado, não-disfarçado e semiaberto. Um questionário fechado estruturado é aquele cujas perguntas estão definidas, e não podem conter inserções do entrevistador (SAMARA; BARROS, 2006, p.120). Ele é não-disfarçado quando os objetivos da pesquisa são explícitos. Um questionário semiaberto é composto tanto por perguntas fechadas, com opções de resposta previamente dadas, mas também por perguntas abertas, nas quais o entrevistado tem liberdade para inserir a sua opinião sobre o assunto (IDEM, IBIDEM, p. 21). A motivação por trás da aplicação dessa

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ferramenta de pesquisa foi a possibilidade dela aferir com mais precisão a opinião dos entrevistados, principalmente com relação às perguntas cujas respostas poderiam gerar desconforto, como a remuneração do funcionário ou sua opinião sobre a qualidade do produto gerado pela Unitevê. O questionário em questão foi distribuído no dia 16 de abril de 2013, para todos os funcionários, estagiários e bolsistas que compõe a equipe. O mesmo foi recolhido no dia 3 de maio de 2013.

Os dados oriundos da observação de campo, pesquisas exploratórias no site e redes sociais, entrevistas informais com membros da equipe e respostas provenientes do questionário compõe a Pesquisa Ação na Unitevê.

2 P lano de Market ing

A definição de Marketing é tão complexa quanto sua aplicação prática. Segundo Kotler e Armstrong:

Para estruturar as ações de um campo de conhecimento tão extenso quanto o Marketing, é necessário um Planejamento de Marketing. Através dele, é possível vislumbrar em que situação a organização se encontra, o quanto e por onde ela precisa avançar. A importância desse planejamento para o caso da Unitevê pode ser encontrada nas palavras de Marcos Cobra:

Portanto, o Planejamento de Marketing de uma empresa é muito amplo: ele envolve ferramentas de comunicação, desenvolvimento de produtos, pesquisa de marketing, estratégias para lidar com os fornecedores, dentre outras, ou seja, a fim de adequar o seu mix de marketing (produto, preço, praça e promoção) às variáveis incontroláveis do ambiente de

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O processo social e gerencial através do qual indivíduos e grupos obtém aquilo de que necessitam e desejam por meio da criação e troca de produtos e valores (1993, p.2).

Planejar estrategicamente é criar condições para que a organização decida rapidamente diante de oportunidades e ameaças, otimizando as vantagens competitivas em relação ao ambiente concorrencial em que atua (COBRA, 1988, p.101).

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mercadológico.Para criar e organizar um Planejamento tão extenso e complexo é

necessário dividi-lo em etapas, para ter noção em que etapa estamos e do que precisamos para avançar para a próxima. Assim como o próprio conceito de Marketing sofre variações em sua formulação de acordo com cada autor ou empresa, a formulação base de um Plano de Marketing também varia. Na elaboração do plano de marketing da Unitevê, utilizou-se a formulação proposta por Kotler e Armstrong (1993) na obra “Princípios de Marketing”, pois esta possui todos os elementos chave para um planejamento eficiente.

Segundo os autores algumas etapas específicas precisam ser cumpridas para a elaboração de um planejamento estratégico eficiente. A primeira delas é a definição da Missão da Empresa. “Uma organização existe para realizar alguma coisa”. Portanto, é necessário definir qual o objetivo do negócio, para que a partir dele possa-se desenvolver um plano que o satisfaça completamente (IDEM, IBIDEM, p, 19-383).

O segundo passo é a Análise do Ambiente Interno e Externo, O ambiente externo, ou Macroambiente, diz respeito aos fatores incontroláveis que afetam a empresa, tais como política, clima, legislação, etc. O Microambiente, por sua vez, pode ser definido como “forças próximas à empresa que afetam sua habilidade de servir a seus consumidores”. Tais fatores são: fornecedores, canais de distribuição, concorrência, entre outros. A partir desses dados elabora-se a Matriz SWOT. Segundo Kotler (2000), o termo “SWOT” é uma sigla em inglês, cuja origem é Strenght, Weakness, Opportunities, Threats. Em português, o conceito é chamado de Análise “FOFA”, uma sigla para Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. A análise SWOT/FOFA organiza as informações obtidas de um cenário de forma que o profissional responsável pelo planejamento consiga visualizar com mais facilidade em que situação o seu negócio se encontra.

Em seguida, Objetivos e Metas são formuladas, com objetivo de qualificar e quantificar o que se deseja atingir. Para se atingir esses pressupostos, estipulam-se as Estratégias. Kotler define estratégias como:

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É nessa etapa no qual o Mix de Marketing é trabalhado. Mix de Marketing compreende os 4 Ps propostos por Jerome McCarthy: Produto, Preço, Praça e Promoção. Em linhas gerais: Produto corresponde às linhas de produtos oferecidas pela empresa. Preço é o P que oferece um retorno financeiro para o negócio, por quanto ele efetivamente vende seus produtos. Praça compreende os canais de distribuição utilizados pela empresa e Promoção corresponde às ferramentas utilizadas para manter o relacionamento com consumidores, fornecedores e parceiros em geral.

Outra visão sobre o mix de marketing, esta mais voltada para o Marketing Digital, é proposta por Vaz Conrado em sua obra “Os 8 Ps do Marketing Digital”. Apesar da denominação semelhante ao modelo proposto por Jerome McCarthy, o autor faz um alerta:

Para o autor, “a metodologia dos 8 Ps faz com que a empresa mantenha o foco no método, no conceito, no que deve ser feito” (IDEM, IBIDEM, p.299). Portanto, essa metodologia foca todos os seus esforços em entender o consumidor e como ele se insere no mundo digital, um meio muito mais volátil, principalmente porque é o próprio consumidor que o molda. Os tais 8Ps que Conrado propõe começam com a Pesquisa, o levantamento e mensuração de todos os dados oriundos da movimentação dos consumidores na Internet. Em seguida, no Planejamento, elabora-se o documento que norteará todas as estratégias de marketing digital da empresa e ditará os próximos passos. Na próxima etapa, de Produção, as ideias saem do papel, ou seja: as mudanças no site são aplicadas, perfis em

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A estratégia de Marketing define os princípios amplos pelos quais a unidade de negócio espera realizar seus objetivos de marketing em um mercado-alvo e consiste em decisões básicas sobre gasto total em marketing, composto de marketing e alocação em marketing (1992, p.102).

O processo dos “8 Ps do Marketing Digital” não é uma mistura de marketing digital com mais Ps do que os tradicionais 4Ps. É um processo a ser seguido passo a passo para que sua estratégia de marketing digital central, que é se apoiar no grau de atividade do consumidor, possa ser cumprida com êxito (2011, p.298).

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redes sociais são criados ou transformados, etc. Da produção chega-se à Publicação, quando o conteúdo que irá preencher

suas plataformas é desenvolvido e veiculado, tanto pela própria empresa quanto pelos próprios consumidores, que criam conteúdo sobre seu negócio. Em seguida, a empresa precisa fazer a Promoção do seu conteúdo, elaborar ações que o disseminem na rede. Na etapa seguinte, Propagação, o conteúdo começa a se desenvolver por conta própria. No penúltimo passo, o de Personalização, a empresa começa a oferecer produtos específicos de acordo com as características de cada consumidor, estimulando seu relacionamento com sua marca. Por fim, efetua-se a Precisão, uma espécie de avaliação e controle dos resultados alcançados.

Após o desenvolvimento do Mix de Marketing, são formulados os Programas de Ação. É esse momento em que as estratégias e táticas elaboradas são organizadas em programas práticos, ou seja: atribui-se os responsáveis pela aplicação dos mesmos, o cronograma de aplicação, etc. O próximo passo é a Implementação desses programas, e é nesse momento em que surgem diferenças entre o que foi proposto na teoria e o que ocorreu na prática. Para finalizar o plano de marketing e realizar um levantamento de como se deu a aplicação do mesmo, utiliza-se ferramentas de Feedback e Controle. Essa etapa é essencial pois é nela que se afere quais resultados foram alcançados, quais metas foram atingidas, que retorno financeiro as estratégias obtiveram e quais mudanças precisam ocorreu no próximo Plano de Marketing, visando a construção de um novo ciclo otimizado.

3 P lano de Market ing Uni tevê

Verificou-se a necessidade da elaboração de uma missão, visão e de valores para a Unitevê, com objetivo de nortear o canal. Assim, a missão da Unitevê é “a prestação de serviço midiático, levando a informação de alto nível com programação pertinente, moderna e ética de acordo com os interesses e valores culturais da comunidade acadêmica e fluminense”. Estabeleceu-se a visão como “tornar-se o canal universitário de maior audiência no Rio de Janeiro, tanto em acessos pelo canal de tv por

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assinatura quanto pelas visualizações de conteúdo na internet”. Os valores foram definidos como: Compromisso, Ética, Cidadania e Opinião.

Os objetivos e metas só puderam ser propostos a partir da Matriz SWOT/FOFA, desenvolvida com base em dados oriundos da Pesquisa-Ação. A figura 1 apresenta os principais pontos observados na Unitevê.

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Figura 1: Análise SWOT/FOFAFonte: Elaborado pelo pesquisador.

A Matriz SWOT permitiu aferir com clareza quais eram os pontos que precisavam urgentemente ser corrigidos, como a falta de uma identidade

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visual do Canal, problemas administrativos inerentes à Gestão, falhas na divulgação do próprio canal e dos conteúdos produzidos por ele e melhorias na programação exibida. A Unitevê também precisava evitar ou pelo menos atenuar ameaças do meio onde atuava, como a concorrência e o baixo alcance de sua TV por assinatura, além de lidar com problemas estruturais graves como equipamentos de baixa qualidade em número insuficiente além do próprio prédio, considerado inapto para as condições de trabalho da Unitevê, como por exemplo falta de elevadores e rede elétrica defeituosa.

O primeiro objetivo estipulado foi a Reformulação da Gestão e consequente reformulação da própria equipe. Durante a Pesquisa-Ação percebeu-se que muitos funcionários exerciam a mesma função enquanto que outras funções essenciais ligadas ao campo do Marketing e Publicidade eram negligenciadas. Recorreu-se a Chiavenato e estipulou-se um novo organograma desenvolvido através do conceito de departamentalização horizontal:

A figura 2 apresenta o organograma proposto a Unitevê. A forma de preenchimento do mesmo foi apresentada nos programas ação e discutida informalmente com as lideranças do canal.

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A especialização horizontal ocorre quando se verifica a necessidade de aumentar a perícia, a eficiência e a melhor qualidade do trabalho em si. Corresponde a uma especialização de atividade e de conhecimentos. A especialização horizontal se faz à custa de um maior número de órgãos especializados, no mesmo nível hierárquico, cada qual em sua tarefa. (CHIAVENATO, 2003, p. 208)

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A questão da identidade visual foi sanada com a criação de uma nova logomarca pelo professor João Velho e um manual de marca completo desenvolvido pelo Núcleo de Estudos de Marketing da UFF.

A resolução dos problemas estruturais foi assinalada como meta a ser cumprida em 18 meses, mas deixou-se claro que tal responsabilidade era da Universidade Federal Fluminense, pois a Unitevê não tinha autoridade nem

Figura 2: Organograma UnitevêFonte: Elaborado pelo pesquisador.

Figura 3: Logotipo UnitevêFonte: Criação do Logotipo João Velho, 2013.

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recursos para realizar essas mudanças de maneira autônoma. O tratamento dado às informações obtidas pela Unitevê sobre seu

público e sobre outras produções também recebeu atenção nessa etapa e estipulou-se a criação e preenchimento em no máximo 6 meses de um Data Base Marketing. Rafael Villas Bôas, na obra intitulada “The Campus Experience: Marketing para instituições de ensino” disserta sobre o conceito:

Com intuito de resolver as deficiências na audiência do projeto, tanto para o público da UFF quanto para o público em geral, mudanças na programação exibida pelo canal foram estipuladas. Novas parcerias com projetos internos da UFF, além da ampliação de temáticas abordadas na grade e o desenvolvimento de 15 novos programas em 1 ano foram metas consideradas prioritárias para o canal universitário. Ponto importante a ser destacado nessa etapa foi a reflexão sobre a necessidade de maior cuidado no desenvolvimento de conteúdo não só para o canal televisivo mas como também para as plataformas digitais da Unitevê. Tanto o site quanto as redes sociais do canal teriam de orientar sua produção de conteúdo segundo a metodologia dos 8Ps do Marketing Digital, de Conrado, exposta anteriormente.

Para organizar quem seria responsável por quais ações, o Plano de Ação da Unitevê foi desenvolvido. O Plano de Ação é composto por 10 programas ação, com cronogramas e diferentes setores responsáveis. O primeiro programa desenvolvido foi intitulado “A nova equipe da Unitevê” e diz respeito à aplicação do novo organograma desenvolvido. A divisão escolhida para liderar esse programa foi a Administrativa.

O segundo programa intitulou-se “A nova identidade visual da

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O Data Base Marketing é o gerenciamento de dados e informações de maneira sistêmica no intuito de gerar conhecimento e oportunidades de negócios para as organizações. O levantamento prévio de informações demográficas, geográficas, econômicas (até mesmo psicossociais) e de dados como idade, sexo, nível de escolaridade e renda, CEP, entre outros, não é nenhuma novidade nas campanhas de captação de alunos em instituições de ensino privadas (BÔAS, 2008, p. 70).

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Unitevê” e propõe não apenas a reformulação de toda a identidade do canal televisivo, mas também uma intensa aplicação da mesma. Essas aplicações não se restringem apenas ao prédio da Unitevê, mas também em outras localidades dentro da UFF, através de cartazes com a nova logo, uso de banners em eventos nos quais o canal televisivo marca presença, etc. A Divisão Marketing é a encarregada de desenvolver esse programa.

O terceiro programa foi denominado de “Somos a Unitevê e falamos de...” e diz respeito ao desenvolvimento de novos conteúdos propostos ainda na etapa de Metas. Tal ampliação da linha de produtos do canal tem o intuito de contemplar mais áreas do conhecimento e, por consequência, atingir novos públicos. Toda a equipe tem responsabilidade pela execução desse programa.

O quarto programa, o “Eu quero você na Unitevê”, trata dos processos seletivos desenvolvidos para entrada de novos funcionários e bolsistas. Tais processos devem acontecer semestralmente e são de responsabilidade do setor de Recursos Humanos.

O quinto programa é o “Data Base Marketing”. Como o próprio nome sugere, se refere à criação, alimentação e manutenção do banco de dados da Unitevê. A criação e manutenção do mesmo são de responsabilidade do Setor de Tecnologia da Informação e a alimentação com novas informações fica a cargo da Divisão de Marketing.

O sexto programa, denominado “Prazer, sou a Unitevê”, trata do desenvolvimento de propaganda institucional para o canal televisivo, com o objetivo de fortalecer sua marca dentro e fora da UFF. Tal tarefa é de competência da Divisão de Marketing, especialmente o setor de Publicidade.

O sétimo programa, intitulado “Parceiros Unitevê”, é a proposta de criar novos vínculos dentro da Universidade Federal Fluminense. Através de 10 parcerias com projetos internos, sejam estes de extensão, empresas jr., projetos experimentais, etc., fortalecer a rede de comunicação interna e própria marca dentro da UFF. Tal programa é de suma importância e toda equipe deve se encarregar de colocá-lo em prática.

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O oitavo e novo programas, “Novos Equipamentos para a nova Unitevê” e “A nova casa da Unitevê”, respectivamente, tratam das mudanças estruturais que o canal televisivo urgentemente precisa receber. Tanto a aquisição de equipamentos quanto à mudança para uma sede mais apropriada levam tempo e consomem muitos recursos, mas mesmo assim são de considerável urgência. A responsável pelo desenvolvimento do programa, na verdade, é a Universidade Federal Fluminense, mas a direção da Unitevê tem a obrigação de fazer esse acompanhamento de perto.

Por fim, o décimo programa intitula-se “Reunião Oficial Unitevê”. Esse programa é a oficialização de uma prática que infelizmente não tinha periodicidade definida: a reunião de todos os setores que compõe o canal para discutir o planejamento interno. Tal debate é essencial para que haja interação entre funcionários e divisões, permitindo que todos saibam o que está sendo desenvolvido no canal.

Ao longo da implementação desse Plano de Ação e principalmente ao final de cada programa, há a necessidade de avaliar os resultados obtidos. Relatórios gerais acusando ou não o cumprimento de objetivos e metas estabelecidos são essenciais, assim como controle de eficiência e estratégico, buscando repensar as ferramentas de marketing utilizadas no plano estratégico.

4 Cons iderações Finais

Após quase um ano de estudo de caso da Unitevê, o Canal Universitário de Niterói, e o consequente desenvolvimento do plano de marketing para o mesmo, é possível descrever com exatidão as dificuldades encontradas no processo, as soluções encontradas para contorná-las e, principalmente, as respostas desenvolvidas para os objetivos propostos ainda no projeto de pesquisa.

A bibliografia escolhida para embasar o presente trabalho cresceu durante o desenvolvimento do plano, pois se notou, em diversos momentos, que era necessário ir além do básico do plano de marketing. Isso significava que possuir uma visão clássica da área não era suficiente, e que seria ideal

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pode ser capaz de realizar diferentes leituras sobre conceitos clássicos, como Conrado fez com os 4Ps do Composto de Marketing. Por isso mesmo chegou-se a estudar em detalhes autores como Chiavenato e Rafael Vilas Bôas, com único intuito de compreender melhor a situação em que se encontrava a Unitevê e a partir daí poder oferecer um plano de marketing a altura do desafio.

A partir da interiorização dos conceitos, a etapa de levantamento de dados, seguindo a metodologia proposta ainda na Introdução, a da Pesquisa-Ação, foi a mais difícil de ser transposta. Muitos dados essenciais sobre a Unitevê nunca haviam sido levantados pelo próprio staff ou estavam perdidas devido às falhas na organização. É importante ressaltar a boa dinâmica dos Seminários, que contaram com participação da equipe, bom nível de interação e foram de grande ajuda para que todos os interessados no trabalho estivessem a par do seu andamento.

O diagnóstico elaborado através da Análise SWOT foi conclusivo: a Unitevê tinha bastante potencial para crescer, mas infelizmente utilizava muito pouco do mesmo. Logo, definiu-se para o restante do trabalho que o maior objetivo seria transformar cada ameaça em oportunidade e explorar tudo que a Unitevê poderia oferecer de forma exaustiva e completa.

A criação do Plano de Marketing foi o maior desafio, pois não apenas a sua elaboração foi difícil, mas principalmente porque não havia na Unitevê uma cultura para pensar em estratégias ou utilizar ferramentas do marketing para fomentar seu crescimento. Ao decorrer do trabalho, tomou-se a precaução de oferecer um plano que fosse eficiente, de baixo custo e de fácil entendimento e aplicação até mesmo para alguém leigo em Marketing. Isso dobrava a necessidade do Plano de Ação ser bastante claro e incisivo no que se referem aos prazos, responsáveis por cada etapa e custo de cada ação.

Para finalizar o plano, a etapa de Avaliação e Controle foi desenvolvida com bastante atenção para que os resultados obtidos através das ferramentas de controle pudessem indicar que mudanças o plano de marketing deveria sofrer no futuro, quando os próprios funcionários fossem

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os responsáveis pela elaboração do mesmo.Considera-se o trabalho desenvolvido na Unitevê um sucesso porque foi

capaz de responder ao problema de pesquisa: “como usar o diagnóstico e ações planejadas de marketing para que a Unitevê obtenha eficácia e efetividade aplicada à sua estrutura para que as suas metas e objetivos sejam alcançados?” O levantamento de dados, o diagnóstico e o plano de marketing buscaram a eficácia e efetividade compreendidas em 4 vertentes: Gestão, Comunicação, Estrutura e Equipe. As duas primeiras necessitavam de ações planejadas que promovessem mudanças internas, principalmente no que diz respeito a mudanças no modelo administrativo, além da elaboração de documentos essenciais para uma marca, como um manual de identidade visual. Entretanto, as duas outras ainda são carentes de apoio institucional. Não há aplicação correta de um plano de marketing sem funcionários capazes de lidar com as peculiaridades do mesmo, assim como não existe um canal televisivo competente e completo sem uma sede e equipamentos à altura.

Ao final do trabalho, foi possível responder ao objetivo: através de um plano de marketing, oferecer um serviço que atenda às expectativas dos diversos públicos, interno e externo envolvidos com a Instituição.

Por fim, destaca-e que o Plano de Marketing elaborado só sairá do papel e poderá contribuir efetivamente para o desenvolvimento do canal televisivo, da Universidade Federal Fluminense e da sociedade fluminense como um todo caso haja um investimento em recursos por parte da UFF na Unitevê. É estritamente necessário que se enxergue o presente trabalho, assim como toda a Unitevê como oportunidades, e qualquer recurso designado para o mesmo como um investimento no futuro. Além de ser um laboratório prático de conhecimento, como tantos outros existentes dentro da UFF, o canal universitário de Niterói é um polo difusor de conteúdo e poderosa ferramenta de cidadania, e deve ser tratado com o devido respeito que merece.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÔAS, R. V.. The campus experience: marketing para instituições de ensino. São Paulo: Summus/Hoper, 2008.CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.COBRA, M. Marketing essencial: conceitos, estratégias e controle. São Paulo: Atlas, 1988.KOTLER, P. Administração de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000._________; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. Rio de Janeiro: Prentice Hall,1993._________. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. São Paulo: Atlas,1992.SAMARA, B. S.; BARROS, J. C. Pesquisa de marketing: conceitos e metodologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez Editora, 2005.VAZ CONRADO. A. Os 8Ps do marketing digital: o guia estratégico de marketing digital. São Paulo: Novatec, 2011.

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R E L A T O S D EE X T E N S Ã O

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R O S A N A A . S A LV A D O R R O S S I T ¹S A M A R A F. Q U I N T A N I L H A ²J U L I A N A M I C H E L O N I ³C A I O M A R I N S T O M Á S 4

G A B R I E L A D . F E R R E I R A 5

D I E G O V I G A T O 6

A N A C A R O L I N A T . A N T O N I O 7

J E S S I C A F E R R E I R A 8

É BR INCANDO QUE SE CUIDA: t raba lho emequ ipe in te rp ro f i s s iona l no contex to hosp i ta la r

Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, Brasil.

¹ Doutor, UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected] Terapeuta Ocupacional, Mestre e Doutora em Educação Especial (UFSCar), Pós-Doutora em Análise do Comportamento Humano (UFSCar), Pós-Doutora em Ensino em Ciências da Saúde (UNIFESP), Professor Adjunto da UNIFESP/campus Baixada Santista e Centro de Desenvolvimento no Ensino Superior na Saúde-CEDESS, Tutora do Programa de Educação Tutorial Saúde da Criança, coordenadora de Projetos de Extensão da UNIFESP.² Fisioterapeuta graduada pela UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected]³ Terapeuta Ocupacional graduada pela UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected] 4 Educador Físico graduado pela UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected] Graduanda de Serviço Social, UNIFESP-campus Baixada Santista.6 Psicólogo graduado pela UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected] Graduanda de Fisioterapia, UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected] Graduanda de Nutrição, UNIFESP-campus Baixada Santista, [email protected]

O processo de hospitalização pode ser traumático tanto para a criança, devido ao afastamento abrupto do lar, a adaptação à nova rotina e a procedimentos invasivos, como para os seus acompanhantes que enfrentam o sofrimento da criança, condições de má acomodação e a desapropriação de seu papel. A equipe interprofissional, composta por estudantes de seis cursos da saúde, UNIFESP campus Baixada Santista, elaboraram e executaram ações de forma integrada no contexto hospitalar envolvendo crianças, acompanhantes e profissionais, com o objetivo de oferecer cuidado humanizado e a fortalecer a indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão. Utilizou-se atividades lúdicas proporcionando momentos de descontração e bem-estar.

Palavras-chave: trabalho em equipe; educação interprofissional; hospitalização infantil; brincar.

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Resumo:

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As discussões em relação ao bem-estar da criança hospitalizada suscitam e estimulam ações transformadoras em relação à prática hospitalar pediátrica e a relação entre os fatores do adoecimento, a permanência no ambiente restritivo para cuidar das causas desencadeadoras da internação, que frequentemente interferem em outras áreas do desenvolvimento. A ruptura do cotidiano vivenciada pela criança e seus acompanhantes podem interferir no ritmo do desenvolvimento.

A criança hospitalizada deve ser vista como um ser em crescimento e desenvolvimento constante, não apenas com necessidades biológicas mas também emocionais, sociais, de expressão de sentimentos, de descontração e que necessita ser assistida em todos estes aspectos (LIMA, ROCHA e SCOCHI, 1999; ROSSIT, CORRÊA, FRANÇA e RODRIGUES, 2013).

De acordo com Gorayeb (2002), o adoecer é um dos fatores que alteram os sentimentos e os comportamentos dos sujeitos e a hospitalização restringe ainda mais esse aspecto devido à rotina hospitalar. Normalmente o sujeito é quem decide sobre sua vida, que faz suas escolhas, mas ao deparar-se com uma doença vê-se obrigado a transferir sua individualidade aos cuidados do profissional de saúde. A hospitalização afeta violentamente a vida da criança, podendo ser irremediável e deixar marcas que o acompanharão para o resto da vida.

A situação de adoecimento e hospitalização da criança e do acompanhante provocam tristeza e sofrimento em relação ao afastamento temporário da vida familiar e cotidiana, decorrentes dos tratamentos e experiências, nem sempre prazerosas, vivenciadas no ambiente hospitalar. Situação essa, que é agravada pelas condições disponíveis em serviços públicos de saúde: grandes demandas, quartos e leitos em condições precárias, esperas prolongadas para realização de exames e atendimentos especializados, número reduzido de profissionais nos serviços (ROSSIT, CORRÊA, FRANÇA e RODRIGUES, 2013; ROSSIT e FÁVERE, 2011).

1 Int rodução

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As políticas de saúde vigentes no Brasil investem no discurso da promoção da saúde e prevenção de agravos como medidas eficazes para a minimização de problemas secundários nos campos da saúde, educação e social da criança. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem um papel ativo na reorientação das estratégias e modos de cuidar, tratar e acompanhar a saúde individual e coletiva, e tem sido capaz de provocar importantes repercussões nas estratégias e modos de ensinar e aprender.

Os conceitos e dispositivos da Política Nacional de Humanização (PNH–BRASIL, 2004) visam à organização dos processos de trabalho em saúde, propondo transformações nas relações sociais que envolvem colaboradores e gestores, assim como transformações nas maneiras de produzir e prestar serviços à população. Sendo assim, as instituições que envolvem o trinômio assistência-saúde-ensino devem abordar a humanização no processo de formação e capacitação em saúde, valorizando as relações interpessoais e desenvolvendo habilidades e competências profissionais que possibilitem escuta qualificada e o diálogo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS/OPAS, 2003) reconhece que a saúde do indivíduo pode ser afetada por sua incapacidade de desempenhar atividades e participar em situações de vida, para além dos problemas que existem com as estruturas e funções do seu corpo imposto pela doença. Em um olhar ampliado, a saúde está relacionada à capacidade das pessoas de se envolverem em ocupações e em atividades que permitam uma participação desejada ou necessária em casa, na escola, no brincar, no lazer, no trabalho e na comunidade.

A UNIFESP e a Santa Casa de Santos, atentas a esses pressupostos têm protagonizado práticas significativas e harmoniosas voltadas para a melhoria da qualidade de vida e saúde de seus colaboradores e usuários, e incorporando os princípios da humanização no contexto hospitalar.

O campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) implantou entre os anos de 2006 e 2009 seis cursos de graduação na saúde: Educação Física – modalidade saúde, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social, com um Projeto Pedagógico voltado à formação de profissionais da área da saúde aptos para

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o trabalho em equipe, com ênfase na integralidade do cuidado; entendendo a relação com a comunidade como propulsora do ensino e da aprendizagem (ROSSIT, 2012).

Tendo como panorama os propósitos desse campus, a equipe interprofissional integrante do PET Saúde da Criança/UNIFESP/Santa Casa de Santos teve como objetivo articular os princípios da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na perspectiva de integrar ações desenvolvidas para a formação profissional do estudante e pela produção e difusão de conhecimentos provenientes da experiência vivenciada, de modo a possibilitar espaços e oportunidades de conhecimento e aprendizagens que ultrapassam os limites físicos da estrutura acadêmica universitária.

Com as mudanças globais da força de trabalho em saúde, provocadas pelas inovações das políticas públicas é imprescindível o reconhecimento da importância da educação interprofissional na formação dos profissionais e na transformação das práticas e procedimentos na saúde.

A educação interprofissional refere-se às ocasiões nas quais estudantes de duas ou mais profissões aprendem juntos, com e sobre as outras profissões, durante parte significativa ou mesmo durante todo o tempo de seu treinamento profissional com o objetivo de cultivar e desenvolver práticas colaborativas, para promover o cuidado em saúde centrado na pessoa (CAIPE, 2010).

O espaço hospitalar é restritivo, com normas e rotinas rígidas e, raramente, oferece a oportunidade e liberdade de exploração desse ambiente durante o período da internação. Neste contexto, a criança perde parte de suas referências ao se encontrar fora de seu ambiente familiar, longe de seus amigos e da escola.

O hospital pode se tornar um ambiente estressante, onde a criança é submetida a procedimentos dolorosos, invasivos, desagradáveis e desconhecidos. Esses fatores podem gerar um forte impacto sobre a criança, podendo resultar em manifestações negativas como diminuição do ritmo de desenvolvimento, desordens alimentares e do sono, agressividade, dependência, entre outras características (CARVALHO e BEGNIS, 2006).

Para Silva e Pérez-Ramos (2002), durante a hospitalização, a criança

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apresenta dificuldades em suportar o sofrimento físico, a limitação da atividade motora (por causa da sua permanência no leito), as dietas alimentares necessárias ao tratamento e os procedimentos clínicos - muitos deles dolorosos e traumatizantes. Somando-se a isso, se tem a saudade de casa, dos amigos, da família, da escola, dos brinquedos e das brincadeiras que ela “deixa para trás” e a necessidade de adaptar-se a um ambiente novo e diferente. Assim, o brincar no hospital aparece como um “salva-vidas”, um meio de a criança resgatar as brincadeiras, que realizava em casa e na rua; expressar e desenvolver habilidades psicomotoras; resgatar sentimentos mais íntimos; vivenciar momentos alegres e prazerosos individualmente, em pares e em grupos.

Permanecer acamada e frequentemente com algum segmento corporal imobilizado envolve profunda adaptação da criança às mudanças, o que leva ao estresse, além da necessidade de ser submetida a procedimentos invasivos, os quais podem ser amenizados por meio de condutas simples como: presença de familiares, disponibilidade afetiva dos trabalhadores da saúde, informação, atividades lúdicas, entre outras. A partir desse referencial acredita-se que, para haver bons resultados durante a hospitalização, há necessidade de um trabalho conjunto, um tripé entre criança, acompanhante e profissional para a oferta de um tratamento mais eficaz e um cuidado mais humanizado.

O brincar vem como uma maneira de diminuir estes transtornos e modificações psicoemocionais, social e motora ao promover uma transformação do ambiente hospitalar, possibilitando uma nova elaboração do seu cotidiano.

Para Junqueira (2003), o brincar pode ser para a mãe, um caminho para a elaboração da doença de seu filho e um meio para fortalecer os vínculos afetivos. Para a criança, o brincar exerce uma função muito importante, pois além de proporcionar o seu desenvolvimento psicomotor, social e emocional, ele permite que a criança tenha momentos alegres, descontraídos e prazerosos durante a sua estadia no hospital.

A busca de alternativas para humanização, intervenção, manutenção e recuperação de pacientes em tratamento é um grande desafio, pois apesar de

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termos o brincar como eterno aliado, cada criança é um ser único, com características diferentes, o que faz necessário reconhecer as características do ambiente, planejar ações viáveis ao contexto, identificar as atividades de maior impacto para o público alvo e ter sempre um segundo plano planejado, pois as adversidades de cada momento requerem a improvisação e a tomada de decisões imediatas (ROSSIT, CORRÊA, FRANÇA e RODRIGUES, 2013).

Para efeito deste texto foram selecionadas algumas atividades realizadas no âmbito dos projetos de extensão vinculados ao PET Saúde da Criança/UNIFESP e desenvolvidas no setor da Pediatria/SUS da Santa Casa da Misericórdia de Santos/SP pela equipe de estudantes dos seis cursos de graduação. O objetivo deste artigo é descrever as ações e estratégias utilizadas; apresentar e avaliar os resultados obtidos e discuti-los à luz do referencial teórico específico.

2 Metodologia

A equipe foi constituída por um docente e doze estudantes dos seis cursos de graduação da UNIFESP Baixada Santista. As ações foram realizadas duas vezes por semana na Enfermaria Pediátrica/SUS com capacidade para 60 crianças e seus respectivos acompanhantes. O setor conta com equipes de enfermagem, auxiliares de enfermagem, médicos e residentes de diversas profissões da saúde.

As atividades ocorreram nos quartos e leitos das crianças e em um espaço externo aberto da enfermaria pediátrica.

Participaram das ações do projeto de extensão as crianças e acompanhantes internados e os profissionais de saúde do setor. As ações de intervenções foram planejadas, na perspectiva do trabalho em equipe, da integralidade no cuidado aos pacientes e da prática colaborativa, a partir das necessidades identificadas pela equipe, após visitas semanais com observação direta da rotina institucional, da dinâmica do setor, da demanda dos casos existentes, da apropriação do referencial teórico e da identificação de interesses junto ao público alvo.

Após a identificação, elaboração e descrição dos materiais necessários,

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dos objetivos a serem alcançados e dos resultados obtidos na execução das ações, a equipe se reunia para refletir sobre os efeitos das atividades no contexto hospitalar e como as diferentes profissões, em um trabalho interdisciplinar e interprofissional, puderam auxiliar na atenção e no cuidado à população atendida e destacar as aprendizagens adquiridas pelos estudantes.

Na busca por um trabalho integrado, interdisciplinar, interprofissional e humanizado na atenção a criança hospitalizada, foram planejadas, preparadas e executadas diversas atividades lúdicas em atenção às necessidades identificadas.

No contexto da educação em saúde, as atividades lúdicas, além de serem educativas, foram utilizadas como mecanismos de sensibilização para os problemas comuns de saúde da população infantil, promoção da saúde e prevenção de agravos, e para favorecer a aprendizagem por parte da criança e do acompanhante, estimulando as trocas e a comunicação entre as famílias e as crianças, estimulando o vínculo criança-acompanhante, criança-criança e o estreitamento das relações com os profissionais do serviço e estudantes. Foi com base nestas reflexões que este texto foi produzido.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP com Parecer nº 0720/11 e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Santos com Parecer nº 04/11.

3 Resu l tados e Discussão

No ano de 2012 o projeto atendeu 4.653 pessoas, sendo: 1.421 crianças de 2 a 14 anos e seus 1.437 acompanhantes; 644 crianças de zero a dois anos e seus 659 acompanhantes; e, 492 estudantes e profissionais em formação na saúde.

A seguir serão descritas as ações desenvolvidas, os resultados obtidos e a discussão das temáticas à luz do referencial teórico:Higiene pessoal

Apesar da ampla difusão das boas práticas para uma adequada higiene pessoal, o quadro de adoecimento pela falta ou falha desta prática

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atualmente ainda permanece grande entre os pacientes internados, atingindo principalmente crianças, pela imaturidade imunológica e a dependência da execução dessa atividade pelo cuidador.

Visto isso, a equipe interprofissional constatou a necessidade de reforçar junto as crianças e seus acompanhantes a importância na manutenção da higiene pessoal, alertando para algumas atividades diárias e possíveis consequências pela falta dessas práticas no cuidado à saúde.

Escova de dente com pasta de dente, sabonete com bolhas de sabão e torneira com água foram confeccionados em papel cartão plastificado. Foi elaborado e utilizado um folheto educativo contendo as principais orientações para manter as condições favoráveis à saúde bucal, das mãos e do corpo, acrescido da brincadeira de “completar” frases, “cruzadinha” com as palavras-chave utilizadas na atividade e desenhos para pintar. Ao final da atividade o folheto foi entregue para a criança e seu acompanhante.

Perguntas direcionadoras foram utilizadas para sensibilização: “Quando é preciso lavar as mãos?”, “Que hora do dia você escova os dentes?”. Os objetos confeccionados em papel cartão eram apresentados à criança e perguntava-se qual a utilidade de cada objeto, a importância de escovar os dentes, lavar as mãos e tomar banho. Com a escova de dentes simulava-se a escovação.

Percebeu-se que as crianças possuem as noções básicas a respeito do assunto, mas também foi possível perceber o pouco interesse que elas demonstram, levando em consideração que muitas relataram ter “preguiça” de escovar os dentes e que, na maioria das vezes, estão com pressa para brincar ou com fome e não querem, em seu ponto de vista, “perder seu tempo” lavando as mãos ou escovando os dentes. Pôde-se perceber, por meio das brincadeiras com a escova de dente que a higiene bucal não é realizada corretamente pois foi observado que a prioridade da escovação é concentrada ora na parte superior, ora na parte inferior da arcada dentária, sendo raro lembrarem-se das duas partes juntamente com a parte interna da boca.

A prevalência de doenças relacionadas aos métodos de higiene muitas vezes é notado na primeira infância. Para Amorim, Yazlle e

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Rossetti-Ferreira (1999, p.15), “uma das práticas mais básicas, que é lavar as mãos, tem se mostrado como preditora de maior ou menor risco de infecção nesse ambiente, especialmente de disenteria”.

É fundamental destacar que instruções para alcançar o objetivo de uma higiene pessoal adequada não se limitam apenas às crianças, mas sim aos seus acompanhantes. Embora as mães possam ter conhecimentos sobre os cuidados com a higiene de seus filhos, as causas de adoecimento observadas no setor da pediatria parecem não confirmar que tais medidas sejam realmente praticadas no dia-a-dia destas famílias.

Apesar de o tema ter relação mais direta com algumas das profissões da equipe, observou-se que as implicações de uma higiene imprópria afeta em geral a saúde e bem estar do paciente, influenciando o ponto principal da intervenção que foi a promoção da saúde e prevenção de doenças, esperando após a alta hospitalar uma melhoria na qualidade de vida, nos bons costumes e na possibilidade de adotar rotinas mais saudáveis. Prevenção da Dengue

A partir da observação de diversos casos de crianças hospitalizadas com sintomas da dengue, a equipe elaborou uma atividade pensando em como sensibilizar, conscientizar e educar as crianças e seus acompanhantes contra os focos da dengue.

Falar sobre prevenção e proliferação do mosquito Aedes aegypti é algo que alguns municípios do Brasil já têm se preocupado. Porém, muitas vezes as abordagens não são suficientes, tendo as campanhas, pouco impacto sobre as pessoas e sendo a comunicação entre unidades de saúde e população ineficiente. Segundo Sales (2008) as propostas se renovam, dizendo-se ter nova visão antropológica, mas na verdade o conteúdo e a maneira como é transmitida à população permanece da mesma forma. Ressalta que “entre a população e profissionais da saúde há uma falta de diálogo e um desgaste, gerando um sentimento de negatividade, falta de credibilidade” (p.117).

A equipe interprofissional buscou trabalhar esse importante tema por meio de brincadeiras, músicas, encenação dos conteúdos abordados nas campanhas. Os objetivos da atividade foram: ensinar, relembrar e

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e sensibilizar os participantes sobre o perigo da dengue e como combater a proliferação do mosquito; conscientizar sobre o papel da criança nesse combate. Além disso, a atividade também visou a interação com e entre as crianças, possibilitando um momento prazeroso e de descontração.

A atividade se iniciou com a apresentação do personagem “Dengue”, simbolizado pela caracterização de um dos integrantes da equipe fantasiado de mosquito Aedes aegypti para atribuir significado à dramatização. Com as crianças sentadas em roda no espaço aberto externo, o personagem perguntava se as crianças sabiam quem ele era. Depois de uma introdução ao personagem, o ‘mosquito’ então interagia com as crianças se utilizando de frases do tipo: “Cuidado que o Dengue vai te pegar”, “Deixa eu dar uma picadinha em você?”.

No folheto educativo construído pela equipe havia informações sobre modos de prevenir a proliferação do mosquito, evitando água parada principalmente, e com brincadeiras que abordassem o material discutido. Cada parte do folheto foi trabalhada com as crianças usando linguagem específica para cada faixa etária. Após essa etapa, a equipe levantou questões sobre as informações explicadas e os participantes respondiam. A maioria das crianças que participou soube responder pelo menos uma das perguntas. Quando alguma não sabia a resposta, as outras crianças a auxiliavam.

A próxima etapa foi conscientizar as crianças que elas poderiam propagar o que foi aprendido, levando as informações para dentro de suas próprias casas. Por fim, ensinamos uma música que foi desenvolvida para o combate da Dengue, "Pium Pium o Mosquito da Dengue" escrita por Edo Callia e interpretada por Traditional Jazz Band. Para as crianças que não puderam se deslocar para a área externa, a equipe percorreu cada quarto abordando cada criança com as brincadeiras e a entregando o folheto educativo.

A avaliação da atividade feita pelos integrantes da equipe foi positiva, pois se observou o envolvimento das crianças entre elas e com a equipe. Também, foi observado que a questão da intervenção lúdica sobre o tema da dengue auxiliou na aprendizagem e sensibilização das crianças. A fantasia e a dramatização do combate a dengue foi o ponto forte da atividade, pois

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se percebeu que as crianças respondem mais afetivamente a essa abordagem, interessando-se e participando ativamente.

Embora a atividade não exija a expertise das áreas profissionais específicas, acredita-se que é dever da equipe mobilizar-se para todas as questões de saúde que podem levar as crianças ao adoecimento. Além de trabalhar com a criança internada, o maior desafio é evitar que a criança adoeça e retorne ao hospital.

Para Lenzi e Coura (2004), as instituições de ensino também têm grande contribuição a dar na formação dos futuros profissionais com vistas à promoção da saúde, tornando-os “agentes sociais importantes em suas comunidades... doenças endêmicas e/ou epidêmicas precisam ser abordadas de maneira consistente, interdisciplinar, criativa e adequada às realidades locais” (p.349).Acidentes domésticos

A partir dos dados de causas de internação levantados no setor, observou-se um número significativo de crianças hospitalizadas em decorrência de acidentes domésticos: engolir moedas e baterias de brinquedos e relógios; ingerir produtos químicos armazenados em garrafas plásticas ao seu alcance (sendo frequente o uso de descartáveis de refrigerante); queda de berço e cama; quedas de objetos sobre as crianças causando ferimentos graves; queimaduras, entre outros.

A equipe teve a iniciativa de construir uma cartilha sobre a prevenção de acidentes domésticos e acrescentar brincadeiras e atividades coloridas que pudessem atingir de forma marcante tanto as crianças quanto os acompanhantes, e simultaneamente, proporcionar um momento de ludicidade. Os objetivos da atividade foram: alertar, informar e conscientizar as crianças e os acompanhantes sobre os perigos que existem dentro de suas próprias casas e como podem evitar inúmeros acidentes.

Para a atividade, utilizou-se cartolina colorida no tamanho 20cmx20cm com ilustrações de crianças em diferentes atividades, perigosas ou não, como: brincar próximo a panelas quentes na cozinha; colocar fios de eletrodomésticos na boca; aproximar-se de tomadas com algum objeto capaz de ser introduzido no orifício; engatinhar próximo a piscinas; brincar

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sentada em cadeira; sentar no banco de trás do carro com o cinto de segurança e; assistir televisão.

Para sinalizar as ações corretas e incorretas, utilizou-se um sinal de ‘certo’ na cor verde e um sinal de ‘errado’ simbolizado por um X na cor vermelha. O objetivo da atividade foi que as crianças percebessem sinalizar quais atividades representam risco ou não. Junto às ilustrações foi perguntado “porque a criança considerava aquela atitude correta ou não e esclarecia-se possíveis dúvidas”. Os acompanhantes, também, foram alvo dessa atividade tendo em vista que a maior frequência de ocorrências de acidentes domésticos são causados por descuido dos adultos, falta de atenção ou mesmo, falta de conhecimento sobre os perigos existentes dentro de casa.

Ao final da atividade, a cartilha produzida pela equipe foi entregue aos acompanhantes contendo jogos com diferentes ilustrações onde as crianças pudessem marcar com ‘certo’ ou ‘errado’ a ação apresentada, como forma de maior assimilação e apropriação sobre os conceitos trabalhados durante a brincadeira; também constavam no folheto algumas informações e orientações sobre como diminuir os ricos no lar, tornando este um lugar mais seguro para as crianças. Algumas orientações foram: utilizar telas de proteção nas janelas; tomar cuidado com objetos cortantes como facas e tesouras; saber que a cozinha é um lugar perigoso; manter as crianças longe do fogão quando estiver sendo usado; cuidado com ferro de passar roupa ligado; cuidado com substâncias tóxicas ao alcance das crianças e não armazená-los em garrafas plásticas de refrigerantes; não deixar moedas ou objetos pequenos ao alcance das crianças e nem permitir que elas manipulem esses objetos; cuidado com os grãos alimentícios que podem ser introduzidos nos orifícios corporais; fechar as saídas de eletricidade com objetos adequados, entre outros.

Com o uso da cartilha foi possível envolver tanto os acompanhantes como as crianças e a atividade possibilitou ilustrar as práticas que não são saudáveis e que seria motivo de risco de acidentes. A atividade foi avaliada de uma forma muito positiva pela equipe, que percebeu o alto grau de envolvimento dos participantes.

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Placas de identificação no leitoOutro recurso empregado durante a atuação da equipe foi o uso de ‘placas

de identificação’ com espaço para a escrita do nome da criança e do principal acompanhante, a qual era afixada na cama/berço da criança. Essas placas foram confeccionadas em papel cartão, no tamanho de 20cmX15cm, contendo espaço para os nomes, logo do projeto e da UNIFESP, bordas azul ou rosa para identificação do gênero masculino e feminino e ilustração de flor ou bola de futebol. As crianças e acompanhantes ficavam entusiasmados com as placas, pois além de serem coloridas e decorar o quarto, lhe garantia uma personificação dentro do ambiente hospitalar, onde as pessoas que chegassem perto de suas camas chamava-os pelos respectivos nomes, o que os colocava em sintonia entre aquele a ser cuidado e o cuidador. Esse é um dispositivo interessante para a humanização das relações de cuidado e do ambiente.

A aproximação à cultura e às condições de vida e características de moradia dos indivíduos que necessitam dos serviços hospitalares do SUS, pelos estudantes, possibilitou aprendizagens extramuros da universidade dando sentido à formação em saúde na perspectiva da integralidade no cuidado, à compreensão do conceito ampliado de saúde e à oportunidade do trabalho em equipe interprofissional, convivendo e aprendo uma profissão com a outra, preservando as especificidades de cada profissão e entendo a importância da prática colaborativa. As ações de extensão à comunidade não é forma de assistencialismo, e sim uma escola aberta e permanente para inúmeras aprendizagens significativas. É muito gratificante estar numa equipe capaz de prestar serviços relevantes e também aprender com o contato a comunidade. A aquisição de conhecimentos é mais prazerosa e válida quando ocorrida em cenários reais de prática, no campo de atuação profissional, pois as percepções são vivenciadas, constatadas e ficam gravadas como aprendizagens.

4 Cons iderações Finais

A criança hospitalizada passa por momentos dolorosos, não apenas por causa dos procedimentos clínicos invasivos, mas pela ruptura do seu

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cotidiano, adaptação à nova rotina hospitalar, afastamento dos familiares e, muitas vezes, privação do brincar. Esse sofrimento é passado também para os acompanhantes, os quais têm o cotidiano familiar alterado, sofrem com o choro e insatisfação demonstrada pela criança e, frequentemente, depara-se com acomodações inadequadas para o repouso diurno e noturno, o que agrava a sua disposição, o seu humor e suas condições físicas e psicoemocionais para enfrentar as demandas da hospitalização de um filho.

Com certa frequência, ao entrar nos quartos, nos deparamos com mães dormindo nos berços junto com os filhos pequenos ou nas cadeiras com os filhos no colo. Outras vezes a irritabilidade e sofrimento de crianças e acompanhantes era evidente sendo demonstrados por choro, falas agressivas e desmotivadoras em relação ao hospital e aos profissionais do serviço.

Segundo Pérez-Ramos (2008), esse quadro pode ocasionar dependência, regressão e detenção no desenvolvimento da criança, como também baixa imunidade, dificultando o seu processo evolutivo integral e a recuperação de sua saúde. Os sintomas clínicos se agravam, os distúrbios de comportamento se afloram e, em consequência, o período de permanência no hospital se estende.

Como forma de fortalecer a autonomia e respeitar os sentimentos das crianças e dos acompanhantes, a equipe interprofissional tem como rotina pedir licença, à criança e acompanhantes, para adentrar nos quartos e pede permissão verificando interesse, disponibilidade e motivação para a realização das atividades. Isso garante o respeito ao direito e a liberdade de escolha, pois estando hospitalizados, são submetidos a procedimentos e rotinas rígidas de horários e atividades que são determinados pelo serviço e pelo hospital como instituição. Essa atitude da equipe garante à criança e ao acompanhante o direito de aderir ou não a participação na atividade, valorizando a autonomia, conforto e autoestima.

Pérez-Ramos (2008) e Oliveira (2007) afirmam que brinquedos e brincadeiras, quando apropriados, constituem elementos fortemente estimuladores para o desenvolvimento infantil, particularmente nos primeiros anos de vida da criança; ajudando na prevenção e no combate ao

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estresse do hospital, assim como resgatam mecanismos saudáveis de auto-recuperação, em seus complementos físicos e psicológicos.

Dessa forma, o uso de atividades lúdicas no ambiente hospitalar se caracterizou como principal instrumento utilizado pela equipe interprofissional para o desenvolvimento da criança, a recuperação de sua saúde e consequente volta para casa. Os folhetos educativos auxiliaram na sensibilização de crianças e acompanhantes com relação às temáticas relevantes para a promoção da saúde e a prevenção do adoecimento e da internação das crianças. Os folhetos apresentaram informações adaptadas à realidade da população alvo, com linguagem compreensível, jogos, brincadeiras que possibilitasse uma aproximação ao tema no sentido de evitar o adoecimento e futuras internações.

Foi observado que durante as atividades o ambiente hospitalar se tornava mais alegre, mais contagiante, mais vivo, Percebeu-se uma transformação, afastando aquele ar de tristeza e choro inicialmente encontrado, para risos e descontração. Até mesmo as crianças e acompanhantes que inicialmente pareciam ou demonstraram não querer participar da atividade, acabavam sendo ‘contagiados’ pelos colegas de quarto ou leito e participavam da atividade. Houve casos em que crianças demonstrando comportamento de apatia e tristezas ficaram mobilizadas com as atividades propostas e passavam a acompanhar a equipe (tornando-se ajudantes e parte da equipe) para executar as atividades em outros quartos, participando da equipe que coordenava a atividade e tendo a oportunidade de interagir com as demais crianças internadas.

O uso de fantasias, como no caso da atividade da Dengue, e também uso de itens coloridos e decorativos no jaleco branco mostraram-se como uma ferramenta facilitadora do contato inicial com as crianças. Percebeu-se que o jaleco branco causava reações de medo, choro e demonstração de presença indesejada em seus quartos. A adaptação na vestimenta proporcionou maior aproximação entre a equipe e as crianças, que de forma curiosa se aproximava para ver e pegar os itens coloridos. Os próprios pais relatavam que o uso do branco deixava as crianças mais irritadas e fechadas, pois elas assimilavam a cor aos procedimentos dolorosos

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realizados com no ambiente. Desta forma, o uso de apetrechos coloridos e fantasias foram facilitadores da aceitação e participação das crianças nas atividades propostas.

Com relação ao trabalho em equipe interprofissional, os integrantes da equipe elaboraram todas as atividades com ênfase nas necessidades identificadas a partir do contato direto com o público alvo, portanto, centrada no paciente, atuando de forma integrada com respeito à especificidade de cada área profissional e do conhecimento técnico-científico de cada integrante, o que favorecia as trocas e a aprendizagem uns com os outros.

Segundo Hall e Weaver (2001), a equipe é organizada em torno da resolução de um conjunto comum de problemas (como oposição a organização centrada em torno de um único médico) e se reúne frequentemente para buscar os objetivos comuns de intervenção. Segundo os autores, destacam a importância do profissional ter a convicção da sua função e do seu papel na equipe, sendo capaz não só de se comunicar melhor com os outros membros acerca do seu conhecimento e sentimentos, como se sentir motivado com os resultados obtidos no conjunto das intervenções. O trabalho em equipe interprofissional e a prática colaborativa são marcos do século XXI para a melhoria da qualidade da atenção na saúde e a maior resolutividade dos problemas.

Para se alcançar este trabalho em equipe interprofissional e interdisciplinar, Peduzzi (2007) afirma que se deve lutar por mudanças na lógica dos processos de trabalho e da organização do serviço no sentido da integralidade e do cuidado em saúde. Segundo a autora, o profissional que atua na equipe inter deve ter como preceito a busca por mudanças das práticas de saúde, no sentido da integração das ações de saúde e dos trabalhadores, para assegurar assistência e cuidado que respondam, de forma abrangente, às necessidades de saúde dos usuários e da população de referência do serviço.

Desta forma, considerando o brincar como ferramenta para a melhora da saúde das crianças internadas, e trabalhando em conjunto com as diferentes profissões, a equipe interprofissional integrante do PET Saúde da

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Criança/UNIFESP/Santa Casa de Santos implementou um trabalho de grande qualidade e que alcançou os objetivos previamente estabelecido.

A recuperação da criança é otimizada quando se tira a ênfase predominante no adoecimento em si e se privilegia um espaço que favorece à criança expressar de forma simbólica seu sofrimento ao mesmo tempo em que vivencia momentos de alegria, de forma prazerosa e espontânea, valorizando a criança saudável e com direitos garantidos para a educação, lazer e saúde de qualidade.

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E N T R E V I S T A

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O FORTALECIMENTO DA EXTENSÃO NA SUNIVERS IDADES BRA S ILE IRA SSandra Fát ima Bat i s ta de Deus

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, Brasil.Presidente da RENEX - Rede Nacional de Extensão; Jornalista, Professora de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Doutora em Comunicação e Pró-reitora de Extensão da [email protected]

Integrar a RENEX é um imperativo de todos os pró-reitores de extensão uma vez que é a rede que nos une enquanto participantes do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior.“ ”

por Lucas L. A. Bastos

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A política nacional de extensão vem sendo pactuada pelas Instituições de Ensino Superior integrantes do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Está expressa no Plano Nacional de Extensão, publicado em novembro de 1999, o qual define como diretrizes para a extensão a indissociabilidade com o ensino e a pesquisa, a interdisciplinaridade e a relação bidirecional com a sociedade. Ana Maria de Queiroz Andrade et al, da Universidade Federal de Pernambuco, explicam que integrado às prioridades do PNE e do Plano Nacional de Extensão, o Programa de Desenvolvimento da Extensão Universitária permite que as Instituições Federais de Ensino Superior desenvolvam projetos que fortalecem e apoiam municípios e comunidades, cumprindo a função social de universidade pública e atendendo ao compromisso ético de formação do profissional - cidadão. O Programa de Desenvolvimento da Extensão Universitária associa o mérito de envolver as universidades públicas brasileiras em áreas concretas de combate à exclusão

social e fortalece a formação acadêmica dos seus alunos, atendendo aos novos cenários de um mercado de trabalho que requer profissionais com sensibilidade social e habilidades de empreendedorismo, capacidade de atuação coletiva e intercâmbio com diversas realidades. Muitos universitários já participam de atividades de extensão, como voluntários, mas não tem essas atividades incluídas e reconhecidas na estrutura curricular dos seus cursos (http://www.prac.ufpb.br/anais).

Sandra de Fátima Batista de Deus tem como formação acadêmica: Graduação em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (1980); Especialização em Pensamento Político Brasileiro pela Universidade Federal de Santa Maria (1990); Mestrado em Extensão Rural pela Universidade Federal de Santa Maria (1989), Doutorado em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005). É professora Associada da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Coordenadora do Curso de Especialização Jornalismo

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Esportivo e Pró-reitora de Extensão. Líder do Grupo de Pesquisa Jornalismo Esportivo certificado pela Instituição. É Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e foi eleita Presidente do FORPROEX para o período 2013/2014 durante a realização do XXXIII Fórum do Pro Reitores de Extensão, ocorrido em Rio de Janeiro, de 6 a 8 de maio de 2013.

O que significa FORPROEX e qual seus objetivos? O Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras é uma entidade voltada para a articulação e definição de políticas acadêmicas de extensão, comprometido com a transformação social para o pleno exercício da cidadania e o fortalecimento da democracia. São membros natos do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, com direito a voz e voto, os Pró-Reitores de Extensão e titulares de órgãos congêneres das Instituições de Ensino Superior Público Brasileiro. Os objetivos do FORPROEX são:

● Propor políticas e diretrizes básicas que permitam a institucionalização, a articulação e o fortalecimento de ações comuns das Pró-Reitorias de Extensão e órgãos congêneres das Instituições de Ensino Superior Público Brasileiro;● Manter articulação permanente com representações dos Dirigentes de Instituições de Educação Superior, visando encaminhamento das questões referentes às proposições do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras;● Manter articulação permanente com os demais Fóruns de Pró-Reitores, com o objetivo de desenvolver ações conjuntas que visem à real integração da prática acadêmica;● Manter articulação permanente com instituições da sociedade civil, do setor produtivo e dos poderes constituídos, com vistas à constante ampliação da inserção social das Universidades Públicas;● Incentivar o desenvolvimento da informação, avaliação, gestão e divulgação das ações de extensão realizadas pelas Instituições de Ensino Superior Público Brasileiro.

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Como são definidos os dirigentes do FORPROEX? O fórum é dirigido por uma Coordenação Nacional eleita anualmente (na ocasião do seu Encontro Nacional), geralmente em maio ou junho. Essa coordenação é composta por um presidente, vice-presidente e os coordenadores regionais (norte, nordeste, sudeste, sul , centro-oeste) e temáticos (cultura, comunicação, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente, tecnologia e produção, trabalho, saúde).Qual a função da RENEX? A Rede Nacional de Extensão, RENEX, é uma iniciativa do FORPROEX, que mantém o cadastro atualizado das instituições integrantes, divulga as ações extensionistas universitárias e coordena o Sistema Nacional de Informações de Extensão, SIEX/Brasil, banco de dados sobre as práticas de extensão no País.Quantas Instituições de Ensino Superior hoje integram a RENEX? Hoje integram a RENEX 74(setenta e quatro) instituições federais e 43 estaduais/municipais, sendo todas instituições públicas.

Qual a importância da RENEX para a universidade brasileira?A RENEX é um meio de comunicação mantido pelo Fórum de Pró-reitores. Cabe destacar aqui a importância do Fórum para o fortalecimento da extensão universitária no âmbito das instituições públicas.Quais são as áreas temáticas contempladas pela extensão universitária brasileira? A RENEX trabalha com áreas temáticas específicas, como Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Produção, e Trabalho. As ações, em cada área temática, serão executadas segundo linhas programáticas definidas, com o cuidado de ser estimulada a interdisciplinaridade, o que supõe a existência de interfaces e interações temáticas. Ênfase especial deve ser dada à participação dos setores universitários de extensão na elaboração e implementação de políticas públicas voltadas para a maioria da população, à qualificação e educação permanente de gestores de sistemas sociais e à disponibilização de novos meios e processos de produção, inovação e

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transferência de conhecimentos, permitindo a ampliação do acesso ao saber e o desenvolvimento tecnológico e social do país.Qual o maior desafio enfrentado pela RENEX e peloFORPROEX? Pela rede de comunicação (RENEX) é sua manutenção atualizada. Já pelo Fórum de Pró-reitores é a implementação dos 10% de créditos de extensão nos currículos de graduação.Poderia explicar a importância da inserção desses créditos de extensão na matriz curricular? A inserção de 10% do total de créditos exigidos para a graduação no ensino superior no País reconhecendo esta participação do aluno somando créditos como disciplina eletiva estimula a participação de professores, técnicos e alunos em atividades de formação profissional comprometidas com a transformação da sociedade além de fomentar a construção de uma consciência de serviço civil voluntário, voltado para a cidadania e a ética e sedimentado na prática profissional.

Quais são as metas da RENEXe do FORPROEX para 2014? Para 2014 queremos aumentar o valor de recursos destinados à Proex para o ano de 2015, avançar na proposta de internacionalização e implementar os 10% de créditos de extensão nos cursos de graduação.

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N O R M A S D EP U B L I C A Ç Ã O