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Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes A vida fora Pág.4 Sesc Glória - 12 80 anos de Carlinhos - 16 Vida nas ruas - 28 Primeira Mão Edição 137 . Outubro 2014

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Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social, n. 137, outubro 2014

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Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes

A vida

lá fora

Pág.4

Sesc Glória - 1280 anos de Carlinhos - 16 Vida nas ruas - 28

Primeira MãoEd

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vamos a la playa - lucas pinhel

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Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do cur-so de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 [email protected]. Ano XXV, número 137. Semestre 2014/2

Reportagem e Edição:Adalberto CordeiroAna CarolinaElice SenaGustavo FerreiraHyasmin NascimentoJade CamposJéfica TeixeiraJohanna Honorato

Júlia BaroneJuliana MartinsLinneker AlmeidaLuísa CostaLuiza MayraMallena PezzinMaryangela SouzaPâmela VieiraPedro Malta

Patrícia FernandesRhaissa AfonsoRodrigo ScherederThiago SobrinhoTasso GaspariniVeronica HaackeVil Rangel

Prof. Orientadora: Ruth Reis

Diagramação: Elice SenaGustavo FerreiraJuliana MartinsTasso Gasparini

Impressão: Gráfica da Ufes

expediente

Com duas disciplinas laboratório em um único período, tivemos o desafio de nos preocupar com o nosso principal público: os estudantes universitários. Buscamos sair da nossa bolha e ver o nosso espaço como um todo. Afinal, o que é de interesse dos alunos? Como podemos abordar isso da melhor maneira possível? Quem devemos ouvir? Quantas pessoas podemos ouvir? Foram todos esses dilemas que instigaram cada um na busca por uma matéria bem feita e que atendesse ao nosso objetivo. Paciência, tempo de dedicação dentro e fora da sala de aula, inquietação e tantos outros sentimentos foram os que permearam a nossa busca pelo resultado final desse trabalho. Com uma extensa lista de pautas, nos preocu-pamos em levar muito mais do que informação para você, buscamos levar uma formação cultural diferente para cada aluno. Nesta primeira edição você vai poder conferir temas desde intercâmbio até a moda. Esperamos que goste.Boa leitura e até a próxima edição!

Segura esse forninho!

4 - Intercâmbio8 - Centro de Vitória11 - Perfil: Cerqueira12 - Sesc Glória14 - Saiu da Ufes16 - Carlinhos19 - Exposição Kafka20 - Moda23 - Observatório24 - Pesquisa/extensão26 - Arte28 - Vida na rua30 - Dicas

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A vida

lá fora

É difícil ver algum uni-versitário que acredite que todo o aprendiza-

do se restringe à sala de aula. Por isso, os estudantes buscam parti-cipar de projetos, pesquisas, fazer estágios... e porque não fazer um intercâmbio? Estudar em outro país, conhecer outros ambientes acadê-micos, conhecer uma nova cultura, com pessoas e pensamentos com-pletamente diferentes pode trazer um crescimento pessoal e profissio-nal inestimável. E essa possibilidade tem se tornado cada vez mais viável para os estudantes universitários. Mesmo quem não tem condição fi-nanceira para bancar tal experiên-cia, pode se aventurar nesse mundo. Basta ficar ligado nas oportunidades de bolsas parciais ou integrais para estudar no exterior.

O principal programa de bolsas para intercâmbio universitário no Brasil é o Ciências sem Fronteiras, que desde 2011 enviou em média 400 alunos da Ufes para universida-des de outros países. O programa é uma iniciativa do Ministério da Ciên-cia, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Jade Drummond

Cada vez mais, universitários querem se aventurar pelo mundo e ter experiências

acadêmicas fora do Brasil. As oportunidades existem, basta correr atrás.

Carolina Resende Frasson usava a bicicleta como meio de transporte na Irlanda.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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do Ministério da Educação (MEC). O objetivo é promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, além de me-lhorar a inovação e competitividade brasileira.

Os alunos contemplados com a bolsa recebem toda forma de au-xílio financeiro, possibilitando que qualquer um tenha condições de participar. Os estudantes recebem um ajuda de custo mensal (bolsa), auxílio-instalação, auxílio-material didático, passagens aéreas e segu-ro saúde. A bolsa tem duração de 12 meses, podendo se estender até 18 meses quando incluir curso de idioma. Os editais para a inscrição abrem a cada semestre, porém não existe uma data marcada, é preciso ficar de olho no site oficial do Ciên-cias sem Fronteiras (www.cienciase-mfronteiras.gov.br).

Para ter acesso ao programa, primeiramente, é preciso ser brasi-leiro ou naturalizado. Além disso, o estudante tem que estar regular-mente matriculado em uma institui-ção de ensino superior no Brasil em cursos relacionados às áreas priori-

tárias do Ciência sem Fronteiras, ou seja, aquelas voltadas para a ciência e tecnologia. Os alunos precisam ter tido uma nota mínima de 600 pon-tos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), tendo validade os testes aplicados a partir de 2009. Bom desempenho acadêmico na Ufes também é quesito obrigatório, o que significa ter um coeficiente de rendimento de no mínimo 6,0 e ter tido no máximo três reprovações ao longo do curso. Por fim, o estudante deve ter concluído no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previs-to para a graduação.

A estudante de Química da Ufes Carolina Maria Resende Frasson viajou para a Irlanda em setembro de 2013 e conta que teve uma cer-ta dificuldade na hora da inscrição por causa da burocracia da Univer-sidade. “Perdi a minha primeira ins-crição por falta de informação dos funcionários. Me disseram que não era preciso entregar certos docu-mentos que no fim se mostraram necessários”, relembra Carolina, queixando-se da grande quantidade de documentos exigidos pela Ufes.

Já o estudante de Engenharia Mecânica Tomás Drumond Scopel relatou não ter tido dificuldade du-rante o processo de inscrição. Ele estudou durante um ano na Univer-sidade de Coventry, no Reino Unido, e disse ter se surpreendido positi-vamente com o programa. “Curti muito o tempo que passei por lá! A universidade deu todo tipo apoio possível aos alunos vindos do Bra-sil, auxiliando na escolha de uma casa para morar, na seleção de ma-térias durante a matrícula e orga-nizando encontros para facilitar a adaptação. Além disso, o programa cumpriu com todos os prazos esta-belecidos para a entrega das bolsas. Tudo o que eles se comprometeram a fazer foi feito, então, realmente, não tenho do que reclamar”, disse Tomás.

O aprendizado cultural duran-te o intercâmbio foi muito grande: “Conheci pessoas de diferentes par-tes do mundo, conheci dezenas de países e vivi a cultura do país que morei. Estudei com nigerianos, chi-neses, espanhóis, ingleses (claro!), entre outros”, recordou Tomás. O

Tomás (centro) morou com os colegas Rodrigo Miranda (esquerda) e Breno Ventorim (direita) na Inglaterra

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Nina (centro) fez um curso intensivo na China em 2013.

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ano fora do Brasil também foi im-portante para o aprimoramento do inglês e para a melhoria do currículo profissional, pois, apesar de ter cur-sado matérias equivalentes ao pri-meiro período de Engenharia, Tomás fez parte de um projeto importante da Universidade de Coventry relacio-nado à otimização de estruturas do chassi de um carro.

Para Carolina, o grande aprendi-zado do ano na Irlanda foi o domínio do inglês, ponto crucial para o cres-cimento profissional na área cientí-fica que atua. “Não senti que hou-ve um grande aproveitamento da parte acadêmica, pois percebi que o ensino lá era mais fraco que o en-sino que tenho aqui. Eles podem ter mais infra-estrutura, mas não têm a base que, pelo menos eu, tenho aqui”, analisa a estudante de Quími-ca. “Apesar de tudo, foi uma grande experiência, que vai me ajudar em muitos quesitos e que vou levar para sempre”, diz Carolina, que morou fora de casa pela primeira vez e pre-cisou lidar com um novo ambiente, cultura e clima diferentes.

Outras oportunidadesSe você tem interesse em fazer

algum tipo de intercâmbio durante a graduação, mas seu curso não se en-quadra nas áreas prioritárias do Ciên-

cias sem Fronteiras, nem tudo está perdido. Existem outras oportuni-dades. Algumas delas são por meio do Programa de Bolsas da Santan-der Universidades, que oferece sub-sídios aos estudantes que querem viajar para Portugal, Espanha, China ou países da região Ibero-América (Argentina, Espanha, Chile, Colôm-bia, México, Peru, Portugal, Porto Rico e Uruguai). Existem dois tipos de programas: um de bolsa parcial para estudar um semestre em uma universidade de Portugal ou países Ibero-Americanos e outro de bolsa integral para um curso intensivo de três semanas na China ou Espa-nha. Estudantes de qualquer curso podem se inscrever, desde que não sejam finalistas.

A estudante de Direito da Ufes Nina Veiga participou do programa TOP China, do Santander Universi-dades, em 2013, e amou a experiên-cia. Ela ficou três semanas na cidade de Xangai fazendo um curso sobre meio ambiente e desenvolvimen-to sustentável, além de frequentar aulas de mandarim e cultura e cali-grafia chinesa. Todas as aulas eram em inglês, e a proficiência na língua foi um dos critérios de seleção. Ao todo, 150 brasileiros foram selecio-nados para o programa, sendo que parte deles ficou hospedada em

A estudante de Publicidade e Propaganda da Ufes Lorena Honorato criou, recentemente, uma página no Facebook para compartilhar experiências de intercâm-bio. “Já Pro Mundo” surgiu como um projeto para a dis-ciplina Novas Tecnologias. A comunidade na rede social publica regularmente relatos de pessoas que viajaram para os mais variados destinos. “Na página, intercambis-tas que realizaram algum tipo de programa fora do Bra-sil podem compartilhar suas descobertas e aqueles que desejam uma experiência podem se inspirar e pesquisar sobre diversos destinos”, explica Lorena. Para quem se interessar, o endereço eletrônico do “Já Pro Mundo” é www.facebook.com/japromundo.

Compartilhando experiências no Facebook

Xangai e outra parte em Pequim. Eles moraram dentro da universida-de, num local específico para receber estudantes em cursos de curta dura-ção. Todos os custos de passagem, hospedagem e viagens organizadas pelo programa estavam contempla-dos na bolsa, além de alimentação nas excursões oficiais. “Conheci mui-ta gente legal e os lugares, nem se fala… Foi bom também para fazer contatos internacionais, porque lá a gente se relacionou com muitos pro-fessores universitários” conta Nina.

O processo seletivo é baseado principalmente no coeficiente de ren-dimento do aluno e na proficiência de inglês. A primeira etapa consta na análise dos documentos e a segunda é uma entrevista toda em inglês, na qual o estudante tem que explicar porque quer participar do programa e porque deveria ser selecionado. Nina lembra que participou do processo seletivo de 2012, mas não foi escolhida. Em 2013 tentou novamente e foi selecio-nada junto com um estudante de En-genharia para representar a Ufes no programa.

Paulo Tavares, também estu-dante de Direito da Ufes, passou pelo mesmo tipo de processo sele-tivo para concorrer à bolsa parcial e estudar durante um semestre em Portugal. A diferença foi que

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a entrevista, na segunda etapa da seleção, foi toda em português. O estudante viajará para a Universi-dade do Porto em janeiro de 2015 e está bastante ansioso: “Espero poder aprender muito sobre uma nova cultura, ter contato com es-tudantes de todo o mundo e con-seguir enriquecer profissionalmen-te e como pessoa”.

Outra oportunidade é o pro-grama Conexão Cultura Brasil, lançado em julho de 2014, que dá bolsas de intercâmbio para profis-sionais de áreas de conhecimento que não são contempladas pelo Ci-ências sem Fronteiras. Mas a ideia do programa é um pouco diferen-te: são oferecidas bolsas de estu-do no exterior e patrocínio para participação em eventos culturais organizados fora do país. Não há, entretanto, necessidade de diplo-ma como pré-requisito e nem uma idade-limite para concorrer a uma vaga, mas será exigida experiência

prévia na área escolhida. E, para se habilitar às bolsas de estudos, o interessado deve obter uma pré--aprovação de uma das universida-des credenciadas.

As áreas contempladas pelo programa são música, teatro, cir-co, artes visuais, cinema, anima-ção, games, programação de sof-twares, literatura, TV, rádio, moda, design, arquitetura, publicidade, gastronomia, artesanato, turismo, dentre outras. O edital para inscri-ções está aberto até o início de no-vembro de 2014.

Por conta própria Se você tem interesse de fazer

intercâmbio e tem condições de ar-car com os custos, a Ufes mantém parcerias com diversas universida-des ao redor do mundo, em países como Alemanha, Canadá, Chile, Es-panha, França, Portugal, entre ou-tros. Para validar o semestre que você estudará em uma universidade

Klebert Silva de Sou-za com a irmã e a mãe no jardim do Palácio de Cristal, na cidade de Porto.

Arquivo pessoal

fora é preciso que a Ufes tenha ou crie algum tipo de convênio com a universidade de destino. As parce-rias que existem não necessaria-mente isentam o estudante de pa-gar alguma taxa para a universidade parceira. Cada parceria possui espe-cificidades diferentes, e para saber sobre cada caso é preciso entrar em contato diretamente com a Secretaria de Relações Internacionais da Ufes. O importante é ficar atento aos prazos e às documentações exigidas.

Klebert Silva de Souza, estu-dante de Jornalismo da Ufes, via-jou por conta própria para a Uni-versidade do Porto, em Portugal, e disse que a experiência foi incrível. “Ter contanto com outra cultura e outra perspectiva acadêmica só enriqueceram as minhas convic-ções e o opiniões. Voltei para o Brasil compreendendo melhor as qualidades, as possibilidades, de-feitos e os problemas do meu país e da Ufes”, analisa Klebert.

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OCUPAR E RESISTIRGustavo Ferreira e Júlia Barone

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A história se une à efervescência da cultura e transforma o centro de Vitória

Stael Majesck, moradora da Rua Sete e proprietária do Ateliê Casa Aberta

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Quem passa pelo centro de Vitória mal sabe quão grande é o seu legado cultural e de lazer. Mu-seus, espaços boêmios e apresentações teatrais e musicais compõem o local. Por muito tempo o cen-tro tem ficado como a segunda opção dos jovens, adultos e famílias, que buscam outros bairros da capital para o seu de lazer, entretanto, essa reali-dade tem mudado com novas ocupações e maior dinamismo no centro de Vitória.

Para Lorraine Paixão, estudante de Comunica-ção Social na Ufes, o Centro de Vitória representa um espaço democrático de acesso à cultura. Ela diz sempre tentar participar de algum evento que acontece no local, mas sente falta de ver a galera da periferia nesses espaços.

Amanda Brommonschenkel descreveu a “reo-cupação do centro da cidade” como uma jogada de marketing. Formada em Publicidade e Propaganda pela Ufes, Amanda atua no “Assédio Coletivo” há mais de dois anos, fomentando a arte pela cidade, independente do local. “A cultura da cidade e os artistas estão sendo produzidos independente do poder público e da Secretaria Municipal de Cultura - que não dialoga com outras secretarias para solu-cionar os gargalos que temos enquanto produtores na cidade de Vitória”, analisa Amanda.

A falta de políticas públicas foi a causa do aban-

dono do centro de Vitória. “O Centro é histórico por si só e ‘tornou-se abandonado’ por falta de políticas públicas que dessem conta de investir nos produto-res locais, nos espaços públicos e na valorização da arte que já é produzida”. Amanda critica principal-mente a falta de remuneração para os artistas. De acordo com ela, não adianta de nada ter um teatro ou uma praça com palcos maravilhosos e não ter como pagar as apresentações que acontecem ali.

“De qualquer forma, essa ocupação do espaço público com a cena cultural da cidade é vital. Pri-meiro porque se o espaço é público, ele é nosso. Segundo porque a música, a dança, a arte, enfim, as diversas formas de expressão artísticas são as vozes da cidade”, afirmou Isabella Marianno, for-mada em Jornalismo e participante dos coletivos Assédio Coletivo e DNA Urbano. Se a cidade são as pessoas, a voz delas é expressão artística. Portan-to, nada mais justo e necessário que elas tenham espaço para se fazerem ouvidas e percebidas.

Stael Majesck expressa sua voz há sete anos na Rua Sete, no centro da cidade, através do Ate-liê Casa Aberta, que funciona no primeiro andar da casa onde mora a artista. Stael, envolvida com dan-ça, teatro, literatura e moda desde cedo, viu ali uma oportunidade de criar um espaço em que pudesse difundir o que ela e outras pessoas produzem: arte.

OCUPAR E RESISTIR

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Samba na Rua Sete no sábado depois da feira livre

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1- Parque Moscoso2- Museu Capixaba do Negro 3- Palácio Anchieta4- Casarão Cerqueira Lima5- Casa de Bamba6- Doca 1837- Bimbo8- Ateliê Casa Aberta

Pontos culturais do Centro de Vitória

Aos sábados a rua fica movimentada: tem a fei-ra livre, depois dela o Samba na Xepa e quando um samba termina em um bar começa em outro, bem ao lado da Casa. Periodicamente, acontece o “Len-do na Calçada”, que incentiva a leitura por meio da troca de livros, conta com contação de histórias, lançamento de livros, saraus, música e oficinas. O projeto, produzido pela Casa Aberta com o apoio da bibliotecária Eugenia Magna, acontece desde de 2012 e, para Stael, “é muito mais do que trocar li-vros, que já é algo muito bonito”.

Mesmo não estando na programação oficial do “Viradão Vitória”, 24 horas de programação cultural no centro da cidade realizadas no dia 13 e 14 de se-tembro, a Casa Aberta funcionou durante o evento. O “Palco Aberto” começou na manhã de sábado, du-rante a tarde a Casa expôs no Vitória Cine Vídeo e no

domingo de manhã reabriram o palco que funcionou até às 21 horas. “Podemos dizer que abrimos e fecha-mos a virada”, afirmou Stael, ressaltando a importân-cia dos artistas para a realização do evento.

Para Lorraine não só o centro é história, nem só o centro tem cultura, “tem muita coisa aconte-cendo nas cidades interioranas, o problema é que a gente não se comunica, não faz essa troca de vi-vência e reconhecimento das culturas que há [...] Tem muita produção no interior do estado que não chega aqui. Acaba que nos limitamos ao que acon-tece na cidade”. Amanda, Isabella e Stael também acreditam na importância da ocupação não só do centro mas de todos os espaços da cidade e do Es-tado e a necessidade de criar políticas públicas e projetos nas escolas, incentivar, apoiar e integrar a produção cultural do Espírito Santo.

9- Bar da Zilda10- Centro Cultural Sesc Glória11- Theatro Carlos Gomes12- Escola Técnica Municipal de Teatro, Dança e Música (Fafi)13- Casa Porto Artes Plásticas14- Gruta da Onça15- Casa.Lab (funciona por temporada)

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Mais do que um garçom

Texto e imagem: Jéfica Teixeira

José de Jesus Santos Cerquei-ra. Não sabe quem é? Aposto que você já passou horas conversando com ele sobre esporte, política, música, cultura capixaba e tantos outros assuntos, enquanto comia uma deliciosa coxinha de frango com queijo. É ele mesmo, o simpá-tico garçom do Bar e Restaurante Cochicho da Penha, o Cerqueira.

Cerqueira, como é conhecido pelos amigos e clientes do Cochi-cho, nasceu em 1966 e atualmente mora no Bairro São Pedro, em Vi-tória, Espírito Santo, mas já morou no Rio de Janeiro e na Bahia. Divor-ciado e pai de um casal de filhos universitários, ele já trabalhou em diversas áreas. Já foi feirante, bal-conista, embalador, técnico de se-gurança de trabalho e há mais de 20 anos atua como garçom. Só na Rua da Lama ele tem quinze anos de profissão; no Cochicho ele está há oito anos e afirma que tem vá-

rios motivos para continuar por lá.Com um estilo rústico, ilumina-

ção baixa, mesas e cadeiras de madeira e quadros de bandas e de personalidades reconhecidas mundialmente, o Cochicho atraí muitos jovens universitários, pro-fessores, compositores, artistas plásticos e escritores. O cenário se complementa com imagens da banda de rock Rolling Stones e do comunista e grande guerrilheiro Che Guevara, coladas na parede, e também com obras de artistas plásticos capixabas.

Outro atrativo do bar, com cer-teza, é o Cerqueira, o garçom mais descontraído e de bom papo da rua da Lama. Ele dá conselhos, dis-cute política, traz com agilidade sua bebida e comida. Os clientes gostam da atenção que recebem do Cerqueira. Ele é sempre convi-dado para participar das conversas que surgem nas mesas.” Eles [os

clientes] pedem a minha opinião e eu dou”.

Cerqueira, que tem apenas o en-sino fundamental completo, gosta muito de ler. Curioso e questiona-dor, já fez dois cursos bíblicos, em religiões diferentes. Ele acredita em Deus, mas não segue nenhuma reli-gião. Lê jornais diariamente, de trás para frente. Começa pela editoria de Esportes e depois pula para as notícias internacionais. Os livros também têm sua preferência. Ele sempre está lendo, gosta de adqui-rir novos conhecimentos. Diz que aprender é o grande barato da vida. E o Cochicho e os seus clientes lhe proporcionam isso. Todos os dias, ele aprende uma coisa nova com a clientela.

O bar sempre abre espaço para exposição de trabalhos artísticos, como exibição de obras de arte e lançamento de livros, e Cerqueira normalmente é presenteado com as obras. “Tenho um monte de li-vro e CD lá em casa. Livro de po-esia... tudo de artista daqui. Tento comprar, mas eles [os artistas] não deixam”. Cerqueira considera a cultura e as produções capixabas riquíssimas, e diz que não entende por que não são valorizadas. “Tem tanta coisa boa sendo produzida aqui”, avalia. Ele guarda com mui-to carinho cada presente que rece-be dos artistas que frequentam o bar.

Em 2011 Cerqueira foi homena-geado pela Câmara Municipal de Vitória (CMV), em sessão solene dedicada aos garçons da capital, pela passagem do dia deles.

Ele é muito admirado e respeita-do por todos os fregueses do bar. Para eles, o bar não seria o mesmo sem o Cerqueira. No Cochicho da Penha não pode faltar o som do Raul, a coxinha da Penha e a sim-patia do Cerqueira.

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Um novo espaço cultural para o Espírito Santo

POR VERONICA HAACKE

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Nos últimos anos, quem passava pe-las avenidas Princesa Isabel e Jerô-nimo Monteiro poderia observar o

antigo teatro Glória em sua longa e demorada reforma. Mas depois de sete anos de espera, o público finalmente pode ver essa obra quase concluída e usufruir esse novo centro cultural, o Sesc Glória.

O prédio foi adquirido pelo grupo Sesc – Serviço Social do Comércio e sua obra foi custeada pela contribuição regular dos pro-fissionais que atuam no comércio, a partir do recolhimento de impostos. Um dos motivos para toda a demora na entrega do local foi a estrutura arquitetônica antiga do prédio, que já soma mais de 80 anos e que não condizia com as novas normas de estrutura e acessibilidade. Somando-se a isso, problemas com licitaçõoes e demoras nos editais para aquisição de mate-riais fizeram com que a obra fosse estendida.

Porém, no final do mês de setembro, o es-paço foi inaugurado e o público pode, enfim, matar a sua curiosidade e adentrar ao tão so-nhado Sesc Glória. A inauguração foi de apenas uma etapa da obra e está relacionada à come-moração dos 60 anos da Federação do Comér-cio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito San-to (Fecomércio-ES). O pleno funcionamento do local está previsto para acontecer em dezem-bro deste ano.

O novo centro cultural busca ser um local de promoção das diversas manifestações cul-turais e artísticas, valorizando as produções locais. Os projetos culturais do Sesc-ES, que an-tes aconteciam em espaços de entidades par-ceiras, agora terão um lugar específico, o Cen-tro Cultural.

O espaço conta com seis andares adapta-dos para o acesso de pessoas com necessida-

des especiais, que abrangem dois teatros; duas salas de cinema; espaço para exibições; bistrô; sala de dança, música, literatura e para produ-ção audiovisual; ateliês, estúdio de música; bi-blioteca.

Para José Lino Sepulcri, presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac-ES, o Sesc Gló-ria é um novo centro de cultura e lazer para o Estado, que contribuirá para o crescimento cul-tural. Mas essa não é uma expectativa somente de quem está por trás das obras e das organiza-ções que a promoveram. Muitas pessoas espe-ram que o espaço fomente a produção cultural e que o estado deixe de ser o “primo pobre” do sudeste quando nos referimos às políticas públicas e iniciativas privadas voltadas para a arte, independente de qual seja sua área de ma-nifestação. Daiana Scaramussa, atriz capixaba, é uma dessas pessoas. “Temos boas expectati-vas, principalmente pelo trabalho que já vinha sendo desenvolvido pela área cultural do Sesc, aqui em Vitória. Sempre com uma abordagem voltada para qualificação e profissionalização do nosso mercado, além de formação de pla-téia.” A abertura do espaço, para ela, repre-senta novas cortinas que se abrem, com novas possibilidades para os grupos regionais inter-cambiarem com outros grupos, obtendo mais visibilidade e, consequentemente, mais investi-mentos.

Para Ronald Alves, morador do centro de Vitória, o espaço é fundamental não somen-te para o centro, mas para todo o estado. “A falta de espaços para apresentação dificulta a produção de obras, sem obra não tem for-mação de plateia, o que, portanto, não gera a necessidade de novos espaços para apresenta-ções. Isso se torna um ciclo desvantajoso para as artes na cidade”, conclui.

O centro cultural Sesc Glória promove a exposição do artista gráfi-co holandês Maurits Cornelis Escher. Com mais de 90 obras do artista, a exposição “O mundo mágico de Escher” permanece no espaço até 30 de dezembro. A exposição traz xilogravuras e litografias, além de ofe-recer experiências que desvendam os efeitos óticos e de espelhamento que Escher usava em seus trabalhos.

SERVIÇO:Exposição “O Mundo Mágico de Escher”Dia: aberto ao público de 28 de setembro a 30 de dezembroHorário: de terça-feira a domingo, de 9h às 21hLocal: Centro Cultural Centro GlóriaEndereço: Av. Jerônimo Monteiro, 428 Centro, Vitória – ESEntrada: R$ 5 reais inteira e R$ 2 reais com carteirinha do Sesc, acima de 60 anos e estudantes, mediante documento de identificação. Telefone do Sesc Glória: (27) 3223-0720Mais informações sobre o artista: http://www.mcescher.com/ Ve

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Saiu da Ufes

O clima universitário propicia encontros que vão muito além do

universo acadêmico. Não é difícil encontrar estudantes tocando instrumentos pelos prédios e

gramados, e fazendo aquele som.

Se você entrar no Cemuni V, prédio de Co-municação e Música do Centro de Artes, Ufes, vai ouvir uma variedade enorme de sons pro-duzidos pelos estudantes do curso de Música. Ouve-se a sonância do piano, da flauta doce, do violino, do trombone de vara, entre tan-tos outros barulhos musicados, mas em 2008 também se ouvia, com frequência, batuques de baldes. Eles eram feitos por um conhecido conjunto de amigos do curso de Comunicação Social. O grupo era formado por Rafael Moura Sá, André Nunes, Bernardo Belisário, alunos do curso de Publicidade e Propaganda, e por Feli-pe de Paula, aluno de Jornalismo.

A fama de pagodeiros era tão grande que um amigo dos meninos presenteou Rafael com um pandeiro, que mesmo nunca tendo tocado, resolveu aprender. E ele não foi o único. Os outros compraram seus instrumentos e come-çaram a treinar. Com o tempo, eles deixaram os baldes do prédio da Comunicação de lado e inauguraram um som quase profissional. Daí surgiu o PedalaSamba. As primeiras oportuni-dades vieram nas calouradas do próprio curso, o Churrascom. Hoje, eles contabilizam mais de 10 participações no evento, mas também leva-ram muito pagode para eventos de outros cur-sos, como de Biologia e de Direito.

O grupo não mantém a composição inicial. A banda cresceu e junto com ela as responsabili-dades, a necessidade de uma dedicação maior. A brincadeira começou a ficar séria e os pri-

meiros membros resolveram se dedicar a ou-tras profissões, apenas o Rafael continuou. Os primeiros parceiros do vocalista estão atuando em ouras áreas: André Nunes trabalha em uma agência de publicidade em São Paulo, Felipe de Paula é assessor de imprensa e Bernardo Belisário é policial. Rafael, que já foi trainee e diretor de Marketing da Empresa Júnior de Co-municação Social (Ecos Jr.), também cuida da comunicação da banda.

O conjunto alcançou muito sucesso no cená-rio capixaba. Já se apresentou nas principais casas de show da capital, abriu shows, como os de Gustavo Lins e do Grupo Bom Gosto. Atual-mente, se apresenta aos domingos no Balístico Music Bar, no evento Domingo Balístico, consi-derado pela imprensa local o melhor pagode da Praia do Canto. Também se tornou parceiro da Brava Eventos, e toca em festas de formatura.

Já do curso de Administração saiu o Sam-bAdm, grupo que é hoje uma das atrações principais do pagode capixaba. Os primeiros batuques da banda foram feitos durante os in-tervalos das aulas, nos bares próximos à Ufes. Num desses encontros, dois dos primeiros membros da formação inicial tiveram a ideia de reunir quem tinha afinidade com música para fazer um pagode no primeiro churrasco da tur-ma. O encontro agradou. Não haveria nome mais apropriado do que o que juntasse duas paixões: o samba e a Administração.

No início eles tocavam apenas para a turma

Luísa Costa e Jéfica Teixeira

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de Administração. Depois de um tempo recebe-ram os primeiros convites para calouradas de outros cursos e para os churrascos de amigos e familiares. Os corredores da universidade jamais serão esquecidos pelos integrantes do grupo. “Era o local das primeiras reuniões e onde esco-lhíamos o repertório. A Ufes representa o início de tudo. Sem ela, talvez o SambAdm não exis-tisse”, diz o vocalista atual, Glauco Mantovani.

A partir do momento que aquela brincadeira nos encontros da turma come-çou a dar retorno finan-ceiro e visibilidade, eles resolveram separar quem realmente queria viver de música e quem queria ape-nas levar como um hobby. Hoje, o grupo é formado por Glauco Mantovani, vocal, André Leão, bateria Hugo Paraizo, cavaco, e Renan Leal, percussão. E o melhor: saíram do curso músicos e administradores da própria empresa.

Já Zeff Matielli, que foi estudante do curso de Música em 2003, diz que seu objetivo era ser professor de música e dar aulas, mas que a par-tir da vivência universitária aprendeu que em qualquer lugar pode-se fazer música: “Antes,

beu fazia música na igreja, já na universidade tive a oportunidade de fazer música com pes-soas muito diferentes de mim e músicas que nunca tinha pensado em tocar”. O cantor, que está lançando seu CD solo intitulado “Benedito Party”, acha que ser músico o fez um estudante diferente, mais empenhado e conhecedor do processo. “Estudar na universidade é estar em outro universo. Me tirou da zona de conforto

e me trouxe frescor na vida. Era tudo o que eu precisava. Foi inspirador e continuará sendo”.

O fato de ter festas na Universidade, mes-mo de outros cursos era uma espécie de incenti-vo para ele. Quando não havia festa, a banca de livros do Iran era o palco de Zeff. “Era inevitável encontrar pares musi-cais e de alma”, lembra. Zeff, que está morando

em Buenos Aires, em um período de intercâm-bio cultural e musical, diz que se pudesse, dar uma dica para os que chegam à universidade, diria para fazerem tudo o que pensarem e ainda parafraseia Raul Seixas: “Faça tudo o que que-res, pois é tudo da Lei”.

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"Antes eu fazia musica na igreja, ja na universidade tive a oportunidade de

fazer musica com pessoas muito diferentes de mim e musicas que nunca tinha

pensado em tocar" , Zeff Matielli.

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José Carlos Oliveira, Carlinhos como gostava de ser chamado, nasceu em Vitória, em 1934. Dono de um talento raro e precoce, já reconhecido em sua juventude aqui na capital, aos 18 anos perce-beu que a província era pequena demais pra ele e decidiu tentar a vida como escritor no Rio de Ja-neiro. Após períodos de dificulda-des, conseguiu se estabelecer na Cidade Maravilhosa e começou a ganhar fama como repórter dos mais importantes jornais e revis-tas da época. Nos anos seguintes, dividiria espaço com grandes no-mes da literatura nacional, como Drummond e Clarice, no Jornal do Brasil, um dos mais relevantes do país naquele tempo. Carlinhos publicou crônicas no periódico durante 20 anos.

José Irmo Gonring, professor aposentado e atualmente vo-luntário do Departamento de Comunicação Social da Ufes, é um estudioso da obra de José Carlos Oliveira. Desde 2009, mi-nistra a disciplina optativa “Jor-nalismo e Crônica”, voltada para a produção de crônicas e o estu-do do gênero. Nas aulas, Carli-nhos é o personagem principal.

Ele faz questão de grifar uma das características singulares do

80 anos de Carlinhos: vida e legadoJornalista, cronista, romancista e ficcionista. Capixaba de sangue,

carioca de alma. Boêmio genuíno, polêmico e estrela. Conheça um pouco do grande e jornalista e cronista José Carlos Oliveira.

cronista: “Carlinhos foi fundamen-talmente um grande leitor, um au-todidata, como ele mesmo dizia”. Carlinhos não completou os estu-dos na juventude, mas seu talento para a escrita já chamava atenção aos 17 anos. Seu sonho era um dia escrever como Machado de As-sis, Rubem Braga ou Faulkner, em quem se inspirava. Entretanto, ape-sar das ilustres influências, o esti-lo de Zé Carlos se construiu como algo único. Irmo esclarece: “seja nas crônicas ou reportagens, a questão do estilo do Carlinhos é um diferencial. Com certeza, ele está entre os melhores estilistas deste país. Em um livro como o “Diário da Patetocracia” [Editora Graphia] você lê um texto limpo, ágil, sem rebuscamento, mas ao mesmo tempo com uma pegada literária”.

Na juventude, garoto pobre em Jucutuquara. No Rio dos anos 60 e 70, um personagem e uma estrela. Teve uma notoriedade assim como a de alguém da Rede Globo que faz uma novela. Boêmio legítimo, era fácil encontrá-lo na noite carioca, dividindo mesas com intelectuais da época no Antonio’s, bar no Le-blon, cenário e berço de muitas de suas crônicas. Carlinhos era um cara da festa e da alegria e dife-

rentemente de outros cronistas não fazia questão de ser discre-to. Seu sucesso se confirma com “Terror e êxtase”, romance que chegou à quarta edição, feito grandioso para qualquer escri-tor da época. O livro escandali-zou a alta sociedade carioca ao trazer um Rio diferente do gla-mour dos bairros chiques: uma cidade decadente, onde jovens ricos se afundavam em drogas e o tráfico era realidade.

Carlinhos foi uma daquelas es-trelas que brilha intensamente e que, por queimar com tanto entusiasmo e energia, nos dei-xa órfãos do seu talento mui-to cedo. Em 1985, já debilitado fisicamente por uma doença que lhe afetava o pâncreas, vol-ta a Vitória e realiza na UFES o projeto “Escritor Residente”, que consistia no “aluguel” de si mesmo a serviço da Universi-dade, durante um período que durou seis meses. Em 13 de abril do ano seguinte, após uma crise aguda da doença, José Carlos Oliveira faleceu, aos 51 anos. Em vida, deixou publicados três coletâneas de crônicas e quatro romances, além das centenas de crônicas no Jornal do Brasil e em outros jornais e revistas.

Adalberto Cordeiro, Hyasmin Nascimento e Maryangela Souza

Nasceu em agosto

de 1934 na cidade

de Vitória (ES), no Morro de São

Francisco.

1934

Em 1952, aos 18 anos, sem

nenhum dinheiro

e muitos sonhos, parte para o Rio de Janeiro para

tentar a vida de escritor.

1952

No Rio de Janeiro,

começa a trabalhar como repórter da Re-vista Manchete.

A t u -ou no Jornal do Brasil, de 1961 e 1984, onde ficou por 23 anos como escritor de folhetins, contos e crônicas.

1961

Publica seu pri-meiro romance: “O Pavão Desiludido”.

1954 1964 1972

Em 1964, publica sua primeira cole-tanea de crônicas: “Os Olhos Doura-dos do Ódio”.

16

Page 17: Revista primeira mao 137 20142

80 anos de Carlinhos: vida e legado

“Carlinhos é um manancial de informações para a história. Entendeu o seu país e a pró-

pria complexidade do ser – humano.”José Irmo Gonring

Com 50 anos de idade retornou a Vitória para conduzir o “Projeto Escritor Residente” na Ufes

Em fevereiro de 1986, Carlin-hos morre.

Obr

as p

óstu

mas

:

O Diário da Patetocracia (1995, Jason Tércio - Editora Graphia). Esse livro é uma reunião de todas as crônicas escritas no ano de 1968. “É sobre este ano cheio de mu-danças que Carlinhos escreve suas crônicas, relatos de um homem sensível ao que estava por vir”. Jornal do Brasil (23 de dezembro de 1995).

O Homem na Varanda do Antonio’s (2005-Civilização Brasileira). Conta as história do período de 1960 e 1970, que reflete a mais famosa faceta de Oliveira: o boê-mio. Ele foi personagem e narrador das histórias dos bares da zona sul carioca.

Diário Selvagem (2005, Jason Tércio - Civiliza-ção Brasileira). Conteúdo dos seus diários de 1971 e 1986.Neste diário, organizado pelo jornalista Jason Tércio, Carlinhos aborda seus textos temas como política, cultura, costumes, problemas sociais e existenciais.

Flanando em Paris (2005, Jason Tércio – Civilização Brasileira). Carlinhos de Oliveira soube sintetizar os desastres do amor, os infernos particulares, a guerra dos sexos, as cenas da vida cotidiana.

2005

O Rio é Assim(2005, Jason Tércio - Civilização Brasileira)O livro de Jason Tércio traz uma série de crônicas e reportagens escritas por José Carlos Oliveira a respeito da ci-dade do Rio de Janeiro.

19951985 1986

17

Page 18: Revista primeira mao 137 20142

Noite de segunda-feira e a equipe de reportagem da Primeira Mão aguarda o jornalista, escritor e professor da Ufes José Irmo Gonring para iniciar uma entrevista a respeito da trajetória de José Carlos Oliveira. Irmo, como ele bem gosta de destacar em sua fala, se diz um estudioso de Carlinhos, e des-de 2009 ministra a disciplina optativa de “Jornalismo e Crônica”, no curso de Comunicação Social.

Mas que se destaque: o entrevista-do já manifestara entusiasmo em falar de Carlinhos antes mesmo do início do bate-papo. Em conversa telefônica com a equipe, José Irmo já demons-trava expectativas e passou a indicar, inclusive, as mais diversas sugestões de leitura sobre o cronista – alguma das quais a equipe já tinha entrado em contato durante sua disciplina.

É em uma sala de aula – local onde diversos alunos, pela primeira vez, en-tram em contato com a obra de Carli-nhos – e rodeado por livros, recortes de jornais e materiais que servem de registro fotográfico, que Irmo fala, em especial, de três aspectos do jornalis-ta: diferenciais de outros cronistas, estilo de seu texto e o legado de suas obras.

Em sua análise, qual o diferencial do trabalho do José Carlos Oliveira para o de outros cronistas?

“O diferencial que Carlinhos tinha é que ele era

precocemente um escritor”, destaca José Irmo Gonring.

Entrevista

À medida que você passou a ter a exploração dos problemas em política e economia nos jornais, estes ficaram muito pesados e o espaço da crônica passou a ser o espaço do respiro, da descompressão, ou seja, do entrete-nimento, uma necessidade humana muito grande e que cronistas como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queiróz e Carlos Drummond de Andrade passa-ram a atender. Essas crônicas acabam sendo um resquício do que o Roman-tismo tem de melhor – mesmo com a forma modernista desses textos, os seus conteúdos eram românticos. Rubem Braga, por exemplo, escreveu

uma quantidade enorme de crônicas de reminiscências. Alguns até acham que crônica só tem que falar do pas-sado. O Carlinhos, por sua vez, na hora de escrever deixava o fígado falar mais alto que o coração. O fígado no sentido de ele ver as injustiças e coisas do comportamento e as levar para o texto. Além disso, o que diferenciou o Carlinhos é que ele usou o espaço da crônica como romance- folhetim, ou seja, três dos seus romances (confira a linha do tempo) foram publicados no espaço de crônicas em sequência, as-sim como fez Machado de Assis.

Quais os aspectos singulares das obras de Carlinhos que o senhor gos-taria de destacar?

O diferencial que Carlinhos tinha é

que ele era precocemente um escri-tor. Ele tinha o sonho de ser um novo Machado de Assis, e tinha como gran-de modelo o Rubem Braga, a quem ele considerava um ídolo. Diferente-mente de outros cronistas, José Car-los Oliveira acabou fazendo da crônica um espaço de jornalismo político, ou seja, ele não se importou em traba-lhar as questões mais importantes do cotidiano, como a violência urbana. Tornou-se um verdadeiro engajado político, um democrata, defensor de todas as liberdades e comovido pelo sofrimento humano. Ele era um jorna-lista ao fazer crônica, porque não fa-lava apenas de si, como foi o caso de Clarice Lispector, mas trazia questões de comportamento.

Em terra de Rubem Braga, por ve-zes, se dá pouca atenção às obras de escritores como do próprio Carlinhos. Qual a análise que o senhor faz desse cenário? É possível falar de um legado deixado pelo cronista?

É um pouco comodismo ficar só es-tudando os textos de Rubem Braga e “entreguismo” ficar só na crônica líri-ca e de conteúdo romântico. Carlinhos reflete em seus textos as questões de seu tempo e o “Diário da Patetocra-cia”, por exemplo, é um retrato de que quando a crônica é jornalística ela passa a ser registro da história.

Carlinhos é um manancial de infor-mações para a história, no sentido de entender o país e a própria complexi-dade do ser humano. Nesse legado, o grande trabalho do JasonTércio [bi-ógrafo de José Carlos Oliveira] foi o de ter recuperado um Carlinhos que ele próprio não publicou em livro. Ler esse material [como o “Rio é Assim”, Editora Agir] nos leva a conhecer mui-ta coisa sobre a história de uma épo-ca e do próprio escritor. Até costumo falar que o papel da universidade é pegar esses autores que têm um signi-ficado e dar a oportunidade às novas gerações de os conhecerem. Carlinhos foi colado em sua época, mas não foi um autor de best-seller. Deve ser es-tudado, no mínimo, dentro da história da literatura brasileira. Foi marcante e esteve na linha de jornalistas e escrito-res como Lima Barreto e João do Rio.

Exposição na Ufes abordou aspectos contemporâneos da obra do autor tcheco

Desbravador do cotidiano

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Quem passou pela Biblioteca Central da Universida-de Federal do Espírito Santo (Ufes) entre os dias

20 de agosto e 26 de setembro pôde apreciar oito painéis que contemplam aspectos da trajetória pessoal e artística de Franz Ka-fka, grande nome da literatura mun-dial e autor de obras marcantes, como “Metamorfose” e “O Caste-lo”.

A exposição foi organi-zada por meio de uma parce-ria entre a Superintendência de Cultura e Comunicação (Suppec) e o Consulado Ho-norário da República Tcheca no Espírito Santo. Os painéis foram produzidos pela Franz Kafka Foundation, sediada em Praga – cidade natal do escritor.

A Superintendente de Cultura e Comunicação da Ufes, profª.Drª.Ruth Reis, destacou a importância das trocas culturais entre diversas nacionalidades, especialmente no ambiente acadê-mico. Ela comentou o interesse dos países em utilizar o espaço da Universi-dade para incrementar a permeabilidade de diferentes culturas. Inclusive, já há pro-postas da embaixada chinesa para realização de projetos culturais na Ufes.

Dentre os objetivos da exposição e as expecta-tivas dos organizadores, Ruth mencionou o incentivo à reflexão e principalmente à leitura dos livros de Franz Kafka. De certa forma, a exposição é um convite: o vi-

sitante que se sensibilizar pode caminhar pela Bibliote-ca Central e encontrar um livro do autor tcheco. Além

disso, a professora destacou a importância de ocupar espaços de circulação da Universi-

dade. “Seria mais um espaço vazio ali e foi preenchido com arte e cultura”,

declarou. Ao que parece, os visitantes

aceitaram o convite da exposi-ção e resolveram se aventurar

pelo universo kafkiano. Os es-tudantes Paulo Victor e Abner, alunos de Desenho Industrial, observaram os painéis com atenção e comentaram so-bre os livros que já leram. “Atual”, “universal” e “in-quietante” foram algumas das palavras utilizadas por eles para caracterizar o escri-tor.

A opinião dos estudan-tes é compartilhada com mui-

tos críticos da obra de Franz Kafka. O teórico e crítico literário

Márcio Seligmann-Silva, diz que “escrever para ele [Franz Kafka]

equivalia à única maneira de sobre-viver em um mundo inóspito. A escrita

construía a sua casa, o seu estar no mun-do.”

O doutor em filosofia e também crítico literário, Filipe Pereirinha, vai além e afirma que “muitas vezes, quando nos falta um nome ajustado para aquilo que queremos nomear, mas que não conseguimos, nos ocorre dizer: kafkiano.

Pâmela Vieira

Vida e obra de KafkaExposição na Ufes abordou aspectos contemporâneos da obra do autor tcheco

Pâmela Vieira

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MODA ON Um mix de diferentes estilos, assim pode ser

definida a tendência Boho, que buscou nas vertentes dos movimentos rocker, hippie, country e étnico, traduzir toda sua essência.Inspirado nos detalhes de tecidos fluidos, franjas e estampas multicoloridas dos anos 70, além do cou-ro, camurça e do jeans do rock, o Boho, trouxe o espírito desbravador dos aventureiros e as histórias do mundo folk para o visual feminino. Desde peças de roupas a acessórios, como bol-sas e chapéus, a tendência ousou na liberdade da mistura para a composição de um estilo próprio e original. Seu nome, Boho veio da palavra ‘Bohemian’ – uma referencia aos ciganos (gypsies), povos originá-rios da região conhecida como, Boêmia – ganhou

as vitrines de grandes estilistas, como Yves Saint Laurent, que dedicou coleções inteiras a ela. Com fabricação, voltada para artigos e produtos artesa-nais, o Boho pôde ser facilmente incorporado ao dia-a-dia, já que seus acessórios e as roupas tra-ziam uma proposta de simplicidade, o que garantiu a acessibilidade da tendência, aproximando-a do universo dos estudantes. Hoje é fácil identificar a tendência em muitas pessoas. A estudante de Comunicação Social da Ufes, Natália Meireles, é um ótimo exemplo disto. Ela é daquelas meninas que sabem se virar com o pouco e que está sempre ligada na moda. Cheia de estilo, Natália consegue traduzir nas suas produções, a inspiração Boho, que vocês conferem nos cliques do editorial a seguir.

Juliana Martins e Rhaissa Afonso

Blusa loja Maria Dona, saia jeans e bolsa, acervo

pessoal, colares da Lu e brincos Di Ferolla

Julia

na M

artin

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Juliana Martins

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COLARES DA LUMarca criada pela estudante de Jornalismo da

Ufes, Luisa Perdigão, busca no Boho os elementos necessários para a criação das suas peças.

A inspiração que vem do artesanato une ele-mentos rústicos como cristais, murano e couro, aliados a técnica de trançar fios manualmente com o macramê. As peças são feitas aos pou-

cos, o que as torna únicas. Para quem se interessou pelo trabalho vale conferir

seu Instagram, @colaresdalu.

@colaresdalu

Blusa loja Zona Abissal, shorts Jeans e bolsa, acervo pessoal, colares da Lu.

Julia

na M

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Juliana Martins

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Comecei a fazer o curso de publicidade com a ideia de, no futuro, fazer uma especialização em moda, como não pude viajar para São Paulo e realizar isto, tentei concretizar o meu estilo. Nunca fui dessas fanáticas que ficam olhando o tempo inteiro o que é tendência ou não. Tenho um jeito bem meu de me vestir e acho que o boho se encaixa nisso, no que eu procuro. As peças são lindas e super confortáveis, o que para mim é essencial. Gosto muito das franjas, saias longas e desse ar meio hippie dos anos 70

“”

Natália MeirelesBoho girl

Blusa Cropped, saia longa e bolsa, acervo pessoal e colares da

Lu.

Juliana Martins

Julia

na M

artin

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Page 23: Revista primeira mao 137 20142

Quando a cúpula fica toda coberta com milhares de es-trelinhas, a sensação é de que estamos rodeados pelo céu ou, ainda, viajando pelo espaço. É como se fosse uma janela para o universo! No começo, você estranha um pouco a sensação de estar “mergulhando no uni-verso”, mas depois se acostuma e aproveita enquanto durar a sessão de meia hora.Depois da experiência vivida por mim dentro do Plane-tário de Vitória, consegui observar o movimento do sol justamente pela sombra. Agora, enxergo o céu com um olhar mais detalhista e curioso e dedico um pouco do meu tempo para observar os encantos das estrelas a noite. Tudo que eu vi lá dentro, tento relacionar com o que está aqui foraAlém de incentivar as pessoas ao estudo da astrono-mia, o Planetário ensina a enxergar o céu, as estrelas, o mundo em si de uma forma diferente da qual estamos acostumados a ver. Por exemplo.É uma diferença muito grande, porque você come-

ça a aprender a prestar mais atenção no movimento do céu e das estrelas.

Foi uma experiência maravilho-sa, descobri que o mundo é mui-to mais imenso do que pensava. É uma aventura inigualável.Os planetários exercem uma importante função: disseminar

Uma janela para o universo

o conhecimen-to, especial da astronomia e da cultura. Nele, pode-mos aprender, por meio de simulações, diversas coi-sas sobre astronomia, desde os mo-tivos para a ocorrência dos eclipses e as estações do ano, até a formação das estrelas, dos planetas e do universo. É importante aprender mais sobre astronomia, pois, ela nos mostra como o universo tem muita coisa boa para nos ensinar. E, tem como usar no nosso dia-a-dia tudo o que se vê e se aprende dentro do Planetário.

Como funcionaMuita gente já ouviu falar de Planetário, mas muitos não sabem do que realmente se trata. Planetário não é um lugar como muitos conhecem, mas na verdade é uma máquina que projeta o céu. Ele é um instrumento ótico-elétrico-mecânico que reproduz o movimento dos corpos celestes.Planetário é um equipamento destinado a reproduzir artificialmente, por projeção em ambiente fechado, os aspectos do céu e da natureza. Dessa maneira, inde-pendentemente das condições atmosféricas, permite a observação simulada do céu e de qualquer outro ponto do universo. Esse equipamento fica dentro de uma sala de projeção em forma de cúpula, onde, além do próprio projetor planetário, devem ficar outros equipamen-tos, como cabine de controle, auxiliares de projeção, equipamentos de sonorização e de iluminação, e até mesmo computadores. A “cúpula é” o espaço onde se realiza as sessões, onde se consegue simular o efeito do céu e das estrelas. Ela tem esse nome por causa da sua forma arredondada que faci-lita na reprodução do céu, estrelas, etc. Com a cúpula totalmente escura, simulando uma noite, o planetário projeta os principais astros que uma pessoa poderia observar num céu verdadeiro, sem a utilização de lunetas ou telescópios.

Aprendendo mais sobre o universo que nos rodeia, o outro lado do mundo que não vemos.

Patrícia Fernandes

Serviço: O Planetário de Vitória fica localizado no Campus

de Goiabeiras da UFES. Ele é aberto ao público adulto e infantil a partir dos cinco anos de idade.

Para agendar uma visita basta enviar email para [email protected] ou ligar

para os telefones: (27) 4004 2489 (27) 3227 2531.

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Por definição, universidade é uma instituição pluri-disciplinar de formação dos quadros de profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano. É nesse ambiente que cada jo-vem decide qual rumo tomar e em que área do mercado de trabalho pretende se especializar. Entretanto, o pro-cesso educacional não se baseia somente na prepara-ção mercadológica, mas engloba uma série de reflexões sobre os porquês de cada disciplina em cada curso.

O projeto pedagógico de um curso e suas discipli-nas têm como objetivo abordar cada aspecto necessá-rio para a formação dos profissionais e incentivar um processo de formação global, por meio de outras for-mas de aprendizado. O tripé ensino-pesquisa-extensão que as universidades adotam é fundamental para essa visão além dos livros e possibilita um pensar diferente, fugindo do padrão no qual o mercado de trabalho mol-da quem ingressa nele.

De acordo com a última Súmula Estatística por Insti-tuição realizada no ano de 2010 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),

a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) possui 263 grupos de pesquisas, com 1.217 pesquisadores.

No curso de Comunicação Social existem diversos grupos de pesquisa, cuja atuação oferece ao estudante a chance de entrar num ritmo de pesquisa constante, sempre se atualizando e aprofundando as diferentes vertentes teóricas existentes. Além disso, as pesquisas desenvolvidas podem ser apresentadas nos diversos congressos de comunicação, como o Intercom Regional e o Intercom Nacional. Para exemplificar, procuramos conhecer melhor dois grupos de pesquisa da Comunica-ção: o Observatporio da Mídia e o Grav.

NÚCLEO OBSERVATÓRIO DE MÍDIAO grupo de pesquisa e ação “Observatório da mí-

dia: direitos humanos, políticas e sistemas” está regis-trado no CNPq desde 2007 e tem como sede a Ufes desde 2009. Um dos objetivos é criar e fortalecer um espaço de diálogo e difusão de conhecimento sobre sistemas, políticas de comunicação, produção midiática e direitos humanos. Isso tudo envolvendo a universida-

Saindo de salaProjetos de pesquisa e extensão incrementam formação dos estudantes

JOHANNA HONORATO

Monumento universitário, que representa o tripé básico de uma universidade: Ensino, Pesquisa e

Extensão.

DivulgaçãoJohanna Honorato

Joha

nna

Hono

rato

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Page 25: Revista primeira mao 137 20142

de, a sociedade civil organizada (ONGs, movimentos sociais, conselhos de direitos humanos, associações de profissionais, empresas, entre outros) e o setor público a fim de incentivar debates que possam transformar a realidade social da comunicação.

Em parceria com o Instituto Alana, a linha de pesqui-sa “Publicidade Infantil” visa mapear a relação existen-te entre a publicidade , a criança e o consumo. Quinze canais de televisão têm suas publicidades monitoradas e analisadas pelo grupo. Esse projeto tem relação direta com a disciplina Legislação e Ética ministrada pelo pro-fessor Edgard Rebouças, coordenador do grupo de pes-quisa, na qual uma das discussões gira em torno dessa ética da publicidade feita para um público infantil, que não tem condição de discernir o que é bom ou ruim.

GRAV O Grupo de Estudos Audiovisuais (Grav) é um proje-

to de extensão da Ufes, que tem o objetivo de estudar as diversas manifestações de cinema e vídeo da cultura contemporânea e aprofundar o conhecimento sobre o lugar e funcionamento da cultura audiovisual em nossa sociedade.

O grupo teve início em 2003, quando o professor Alexandre Curtiss ministrou uma disciplina de crítica de cinema - que se relacionava ao tema do seu doutorado. Na época, o curso de Cinema e Audiovisual não existia na Ufes. Assim, alunos que se interessaram pela dinâ-mica de análise fílmica, criaram um pequeno grupo que se reunia para assistir e debater a respeito da prática do cinema. Três anos depois da sua criação, em 2006, o projeto de extensão GRAV com caráter de cineclube foi inscrito no CNPq e a pesquisa em análise fílmica, iniciada na disciplina de crítica de cinema, foi leva adiante para os estudantes do curso de comunicação

Interior do Núcleo Observatório de Mídia

Cena do filme “Lavoura Arcaica”, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, e estudado pelo Grav

DivulgaçãoJohanna Honorato

Joha

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A arte de vencer o tempo

Júlio Tigre. In (Corporação) – 13 Exus Costurados, 2004.

25

música jovens ou adultos, que pagam preços altos para terem um LP da sua banda favorita.

Não tão diferente acontece com livros de edições mais antigas, que se tornaram objeto de consumo. Edições raras, como as obras românticas de William Shakespeare são estudadas, desejadas e, obviamen-te, caras. É lógico que para livros e discos “velhos” valerem uma fortuna eles não podem ser simples-mente “velhos”. Eles precisam ser raros.

A arte de passar pelo tempo vencendo culturas e gerações desafia estudiosos, colecionadores e todo o sistema pordutivo envolvido. Algumas obras ou produtos nascem, morrem e ressuscitam; passam por declínios momentâneos e depois de recuperam. Outras, não. Mona Lisa de Leonardo da Vinci, O Grito de Edvard Much, até mesmo a ir-reverente O Vaso, de Marcel Duchamp, e Abapuru, de Tarsila do Amaral, não cresceram somente em valores financeiros, mas em valor afetivo e cultu-ral em todo o mundo.Sem esquecer Uma noite de

Na última década, tem repercutido muito uma teoria antiga da economia e estatística que vem mexendo com o mundo dos negócios e contribuin-do para a cultura do consumo, a teoria da calda longa. O jornalista americano Chris Anderson ado-tou o conceito da calda longa para analisar o com-portamento de produtos e conteúdos que migram para o universo digital. Segundo o autor, a inter-net torna mais acessível o processo de consumo e produtos ou informações.

Apesar de essa teoria ter sido adaptada recente-mente, o “boom” dessa era digital já vinha ame-drontando há muito tempo produtos que temiam se tornar obsoletos, como os discos de vinil e os livros impressos, que, apesar da sua substituição por suportes mais modernos, continuam vivos. Mas, ao contrário do que todos pensavam, a busca por músicas gravadas em vinil tem aumentado gra-dativamente nos últimos anos. E é grande a procu-ra por parte de colecionadores e apreciadores de

Texto e imagem: Mallena Pezzin

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Um exemplo de espaço artís-tico na Ufes é a Galeria de Artes Espaço Universitário (Gaeu). Seu acervo, doado por diversos artis-tas, reúne hoje a mais significati-va coleção pública de arte moder-na e contemporânea do Espírito Santo. Segundo a coordenadora da galeria, Neusa Mendes, “o Es-paço Universitário possui, exata-mente, uma preocupação que é cruzar a investigação/provocação da produção local, trazer alguns momentos importantes da histó-ria da arte e apresentar o traba-lho de grandes artistas nacionais que serviram de referência para os locais.”

Ainda segundo a coordenadora, “a arte mobiliza ações de inclusão social e cidadania, possibilitando entre críticos, curadores, pesqui-sadores, cientistas, estudiosos, professores universitários e das redes públicas, alunos, técnicos, gestores culturais públicos e pri-vados, usar a arte como ferramen-ta no sentido de gerar, preservar e recuperar valores culturais”.

Saiba mais: Em comemoração aos 30 anos de restabelecimento da democracia no Brasil, a Gaeu apresenta obras criadas durante o período da ditadura militar. A exposição “O meu, o seu, o nosso desejo”, está aberta a toda a po-pulação até o dia 31 de janeiro de 2015, de segunda a sexta, das 8h às 18h.

O proto-museu

da Ufes

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Verão e Romeu e Julieta, de Shakespeare, Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, o Cortiço, de Aluísio de Azevedo, e grandes músicas dos Beatles, de Mike Jackson, Carmem Miranda ou Vinícius de Moraes.

O valor desses produtos artísticos transitam de uma geração a outra. É comum o filho curtir a mes-ma banda que os seus pais ou ter o mesmo gosto literário que as pessoas da sua casa ou do seu con-vívio. Apaixonar-se por uma obra e identificar-se com a história que está por de trás dela ou com a própria vida do artista também é uma forma de atribuir valor afetivo.

Túnel do tempoAs escolas e universidades contribuem para o

aprendizado e o conhecimento do que é arte e cul-tura e são ambientes para se conhecer seu valor educacional. Além delas, os museus e galerias fun-cionam como uma espécie túnel do tempo, tornan-do possível o conhecimento de obras de diversas fases da história em um único lugar. Esses espaços culturais contribuem para que a arte perdure.

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“Essa é a melhor vida do mundo!”, gracejou H., um ho-menzinho na casa dos 70 anos que vive nas ruas de Vitória. “Aqui não tem aluguel, família e nem filhos pra encher o saco”, complementou em tom de chacota.

H., que prefere não ter seu nome revelado, é um se-nhor magro, com não mais do que 1,60 m e de olhos opacos. Vestindo uma camisa preta, blue jeans e sandálias Tyo-Tyo, ele, por muitos anos, trabalhou em uma empresa do ramo da usinagem. Hoje, mesmo aposentado e com casa própria, vive nas ruas da capital capixaba.

“Vou contar uma coisa pra você: hoje em dia tá muito difícil viver em uma família com harmonia. É muita briga. Eu não aguento”, confessa, agora com o semblante transmi-tindo seriedade. “Às vezes saio de casa e não volto por uma ou duas semanas”.

Sentado embaixo de uma marquise nas imediações da Praça Regina Frigeri Furno, em frente a uma das lojas da rede de supermercados EPA, em Jardim da Penha, H. espe-ra o sono chegar com seu amigo Juraci, um mulato de riso fácil.

Juraci tem 54 anos e é natural de Medeiros Neto, cida-de localizada no extremo sul da Bahia. Chegou ao Estado há dois anos, após perder o emprego de vigilante em São Paulo. Sem sucesso, começou a recolher latinhas em portas de bares e na Praia de Camburi para ganhar algum dinheiro.

“Passo o dia todo andando nos bairros procurando lati-nhas, só não faço isso de noite porque fico muito cansado”, conta o baiano, que assegura tirar R$ 600 mensais com o ofício.

Ao falar como é ser um morador de Vitória, ele abre um sorriso melancólico enquanto ajeita seu boné azul marinho e diz: “Gosto bastante de viver aqui, o capixaba é um povo muito bom e o clima da cidade é ótimo. Em São Paulo era muito frio. Não gosto de lá não”.

Histórias como as de H. e Juraci são apenas algumas de pessoas que, por vontade própria ou azar do destino, aca-baram indo parar nas ruas e se tornaram invisíveis ou margi-nalizados pela sociedade.

Na opinião da subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Vitória, Anabel Araújo Gomes Pereira, situações como essas acontecem quando os vín-culos sociais e familiares desses indivíduos são inteiramen-

te rompidos. “Geralmente, a trajetória da pessoa de rua é aquela em que, por razões de conflitos familiares, acabam desfazendo seus laços e saindo de casa”, explica.

Em janeiro de 2013, de acordo com a Secretaria de As-sistência Social de Vitória (Semas), havia cerca de 700 pes-soas em situação de rua na capital. No segundo semestre deste ano, esse número caiu para cem.

Um dos responsáveis pela redução desse número são os programas e redes de assistência social mantidos pela Prefeitura, que busca enxergar o morador de rua não ape-nas como responsabilidade da política de assistência social, mas como um cidadão que tem o direito à saúde, moradia, educação, entre outros.

Na tentativa de reinserir socialmente essas pessoas, a Prefeitura oferece diversos serviços: consultório de rua, abrigos com comida de graça e banheiros para se tomar ba-nho, clínicas de desintoxicação para aqueles que desejam sair das drogas e até aluguel social, permitindo que o cida-dão receba um salário mínimo para alugar sua própria casa.

“O grande lance da população de rua é o querer. E esse querer vem do próprio usuário. Se ele demonstra o de-sejo de ser o protagonista da sua própria vida, nossa equipe o irá orientar para todas as oportunidades”, explica Anabel. “Hoje temos 30 pessoas que recebem o aluguel social”, en-fatiza.

Enrolado em um lençol encardido, Juraci tenta se aco-modar da melhor forma que pode em sua cama feita de pa-pelão. É a primeira noite de primavera do ano e os postes se enfileiram na rua produzindo uma iluminação pálida, quase dourada.

Quando questionado se algum assistente social o pro-curou desde que chegou a Vitória, Juraci diz que até já viu “o pessoal que fica nas kombis” rodando pelo bairro, mas que nunca foi abordado. Desejo de sair da rua, segundo ele, existe. O que o faltam são oportunidades.

“Tenho vontade de arrumar um emprego e ter a minha casa, só que é difícil alguém ser contratado com a minha idade. Um dia desses um rapaz me chamou pra trabalhar com ele num lava a jato. Tomara que dê certo”, contou, ao mesmo tempo em que H. juntava rapidamente seus peque-nos pertences como se fosse voltar para casa pela primeira vez em dias.

Sobre a rua e quem a habitaComo é a vida de quem vive nas ruas de Vitória e as políticas públicas que

buscam os enxergar como cidadãos

Thiago Sobrinho

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Jornalismo e Desinformação, 2001Leão Serva

In Utero, 1993, Nirvana

Uma das mais importantes bandas do rock nos anos 90 foi o Nirvana. Mesmo passados 20 anos da controversa morte do vocalista Kurt Cobain, o cantor ainda é uma grande estrela do rock. O sucesso veio em “Never-mind” (1991), sendo considerado um dos maiores discos da história da música. No ano seguinte, a banda começou a preparar aquele que seria o último disco com Kurt Cobain. Eleito na época como “disco do ano” pela Rolling Stone, “In Utero” (1993) ficou marcado por faixas como “Heart--Shaped Box”, “Rape Me” e “Dumb”. É considerado um reencontro com as raízes da banda, um retorno à cena underground e independente como em “Bleach”, o primeiro álbum que vendeu 300 mil cópias. Menos polido que “Nevermind”, “In Utero” teve a intenção de apagar o rótulo de heróis da MTV. As gravações começaram no Brasil, no estúdio da BMG-Ariola. No ano passado, em comemoração aos 20 anos do disco, foi lançada uma versão remasterizada, incluindo um remix, um DVD e uma série de gravações ao vivo, além de fotos e anotações, algumas inéditas, feitas pelos integrantes.

Entre Nós, 2014Paulo Morelli e Pedro Morelli

Em meio às já tradicionais comédias, o cinema nacional teve uma boa surpresa em 2014. O filme “Entre Nós” é um drama que retrata as expecta-tivas de futuro de um grupo de jovens de classe média alta . A trama se pas-sa em dois tempos: na primeira parte, em 1992, o grupo se reúne em uma casa de campo e decide escrever cartas para eles mesmos e enterrar para serem abertas 10 anos depois. Já em 2002, eles se reencontram após uma tragédia para desenterrar suas cartas e as lembranças. Esse reencontro é marcado por reflexões, saudosismo e revelações. O filme foge dos clichês, é profundo e reflexivo, focado no desenvolvimento dos personagens. O longa tem nomes como Caio Blat, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro, Julio Andrade, Paulo Vilhena, Martha Nowill e Lee Taylor.

Neste livro, o repórter e jornalista Leão Serva discorre sobre o parado-xo da informação que a sociedade mundial enfrenta. Nunca antes tivemos tantos meios de informação disponíveis, como rádio, televisão, jornais, re-vistas, internet. Porém, muitas pessoas ainda não sabem na totalidade o que ocorre no mundo ou têm uma visão incompleta dos fatos. O autor, que foi correspondente da Folha de São Paulo durante a guerra da Bósnia, afirma que esse processo de desinformação favorece algumas pessoas em prejuízo de muitas outras, por não ser pluralista nem democrático. Ele acre-dita que as causas da desinformação é a saturação, que é a consequência do aumento do número de meios e da prática predominantemente noticio-sa de todos eles. A saturação faz exatamente com que o leitor receba uma carga de informação que é difícil de processar e entender. A internet é mais um elemento de um processo que já se apresenta nos meios tradicionais. Mais notícias não significa exatamente mais conhecimento.

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DICASRODRIGO SCHEREDER

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