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Revista do Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico Ano IV – N.º 15 Julho/Agosto/Setembro 2002 – Publicação trimestral – Preço e 4,48 (IVA incluído) Arquitectura Militar O código genético de Díli, por Francisco Sousa Lobo

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Revista do Grémio das Empresas de Conservaçãoe Restauro do Património Arquitectónico

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Arquitectura

MilitarO código genético de Díli, por Francisco Sousa Lobo

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Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002 1

Tema de Capa:Arquitectura Militar

Reconhecida pelo Ministério daCultura como “publicação de ma-nifesto interesse cultural”, ao abri-go da Lei do Mecenato.

N.º15 - Julho/Agosto/Setembro 2002

Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1º Esq.º1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Leonor SilvaConselho redactorial: João Appleton, JoãoMascarenhas Mateus, José Aguiar, TeresaCampos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número: Alexandra Abreu, António João TeixeiraMarques, Artur Correia da Silva, ClementinoAmaro, Francisco Sousa Lobo, JoãoMascarenhas Mateus, João Mendes Ribeiro,João Sousa Morais, José Lamas, José Lobo deCarvalho, Miguel Soromenho, Nuno TeotónioPereira, Paula Araújo Silva, Paulo Aires, PauloPereira, Pedro Bandeira, Rosa Bastos, Ribeirode Faria, Teresa de Campos Coelho e VítorSantosDesign gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: MLD Marketing Logística e DistribuiçãoDistribuição: Distribuidora Bertrand

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: TrimestralOs textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA. A Pedra & Cal agradece à Arq.ª Teresa de CamposCoelho o ter aceite coordenar este número e a todosaqueles que se prontificaram em colaborar. Ficamtambém os agradecimentos ao Eng.º FranciscoSousa Lobo pelo apoio prestado.

1

Ficha Técnica

41VIDA ASSOCIATIVA & AGENDA

43ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOA máquina com que se suspendeu e tirou da cova de fundição a estátuaequestre de D. José I(Ribeiro de Faria)

40NOTÍCIAS

20OPINIÃO

Olivença, nobre, leal e notável terra portuguesa

(António João Teixeira Marques)

21

30PROJECTOS & ESTALEIROSFotogrametria do troço de muralha doforte de S. Sebastião (Paulo Aires)

35E-PEDRA E CALCastelos na Internet. Um mundo por conquistar!(José Lobo de Carvalho)

36LÁ FORAMalta, baluarte da Europa: Desenho militar e fortificações em Malta na Idade Moderna(João Mascarenhas Mateus)

38AS LEIS DO PATRIMÓNIOHá edificar e edificar (...)há proteger e restaurar(Pedro Bandeira)

2EDITORIAL

4CASO DE ESTUDO

O conjunto fortificado de Valença do Minho

(Paula Araújo Silva)

10

13TECNOLOGIAS

Casa de Chá no Paço das Infantas(João Mendes Ribeiro)

16OPINIÃO

Manuel Pinto Vilalobos, da engenharia militar à arquitectura

(Miguel Soromenho)

18OPINIÃO

Castelos e fortalezas:pequena reflexão (meramente) teórica

(Paulo Pereira)

Centro Cultural de DíliFoto

de En

g. Fran

cisco

Sousa

Lobo

Capa

8CASO DE ESTUDO

Código genético de Díli(Francisco Sousa Lobo)

31PROJECTOS & ESTALEIROSValorização da cerca do castelo da Vila de Óbidos(José Lamas)

33PROJECTOS & ESTALEIROSIntervenção na Igreja de Santa Maria(Rosa Bastos)

32PROJECTOS & ESTALEIROSRecuperação das coberturas do MuseuCondes de Castro Guimarães(Artur Correia da Silva)

OPINIÃOConcurso para o lugar de arquitecto

das Ordens Militares no séc. XVIII(Teresa de Campos Coelho)

26ENTREVISTA

Eng.º Francisco Sousa Lobo(Presidente da APAC)

29OPINIÃO

Algumas notas sobre Luís Serrão Pimentel

(João Sousa Morais)

CASO DE ESTUDORecuperação do Forte da Preguiça,

na Ilha de S. Nicolau, República de Cabo Verde

(Clementino Amaro e Vítor Santos)

45LIVRARIA

48ASSOCIADOS GECoRPA

52PERSPECTIVASPatrimónio em perigo(Nuno Teotónio Pereira)

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EDITORIAL

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Desde a fundação da nacionalidade que a arquitectura militar teve um papel primordial, es-

tabelecendo e defendendo limites territoriais, e assumindo-se como instrumento fundamen-

tal da expansão. Contagiando, com os seus cânones e modelos, edifícios civis e religiosos, a

Arquitectura Militar daria origem, nos séculos XVI e XVII, a um estilo arquitectónico nacio-

nal que, pelo seu rigor e desprovimento decorativo, viria a ser designado por "estilo chão".

Protagonistas de todo este processo, arquitectos e engenheiros militares passariam a ser res-

ponsáveis por uma notável actividade teórica e prática, aquém e além-mar. Para o provar bas-

ta citar, uma vez mais, a experiência pioneira que constituiu o prodigioso plano de recons-

trução de Lisboa após o grande sismo de 1755, empreendido por homens, todos eles, de

formação militar (para quando o tão desejado plano de preservação da Baixa Pombalina, pe-

dido no encontro promovido pelo GECORPA em Novembro de 2001 ?).

Tal como aconteceu em edições anteriores, o exíguo número de páginas da revista obrigou a

que fossem abordados apenas alguns aspectos relativos a este tema, deixando de fora um

sem-número de exemplos e de intervenções, deste imenso património que urge preservar.

Teresa de Campos Coelho

Arquitectura Militar

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CASO DE ESTUDO

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A história deste local e deste aglomeradoremonta ao tempo do Império Romano, emque era o local de passagem do rio Minhona estrada de Bracara a Lucus, onde prova-velmente existiu um oppidum, e ganha im-portância quando Portugal se torna inde-pendente de Espanha e se encontradefronte a Tui, importante vila espanhola.D. Sancho I impulsiona a criação de umapóvoa fortificada de nome Contrasta, as-sim denominada por oposição a Tui, ten-do-lhe sido conferido foral por D. AfonsoII, em 1212.A fortificação foi reforçada no reinado deD. Afonso III, mudando o seu nome paraValença, topónimo prestigiante que a rela-cionava com valores guerreiros. Nessa altura, a fortificação tinha uma di-mensão de 300 por 70 metros, com um pe-rímetro aproximado com a linha superior

da fortificação actual na sua parte norte, eterminando antes do Largo de S. João, ondena época passava o fosso. Durante o reina-do de D. Dinis, por volta de 1300, a fortalezaque é chamada castelo, é profundamenteremodelada, tendo novas remodelaçõesnos reinados de D. Fernando e de D. João I.A partir de D. Manuel I, que repara a mu-ralha no ano de 1502, o termo castelo é subs-tituído pelo de fortaleza. Em 1506, quandoDuarte D'Armas desenha as duas vistas dafortificação, as muralhas e torres aparecemcom grandes estragos. Era então represen-tada com uma forma ovalada que envolviao burgo, com dois cubelos, um balcão vira-do a sul e outro ladeando a porta a norte. Abarbacã, com alguns cubelos, tinha portasentre torres a norte, sul e este.Hoje identificamos ainda um troço de bar-bacã a este com portal com as armas afonsi-

nas, e a porta da Gaviarra a norte, onde seidentifica nitidamente que era ladeada porduas torres.No século XVII, respondendo à necessidadede defesa contra Espanha, durante a Guerrada Restauração, inicia-se a construção deuma grande fortaleza, do tipo vauban comdesenho barroco atribuído a Michel L'Ecole. Mais tarde chegou de França um corpo al-tamente profissional e competente de"Engenheiros do Rei", para orientarem aconstrução do sistema defensivo, um dosmais importantes da Europa de então,prolongando-se a construção durante oséculo XVIII.A construção prolonga-se para o séculoXVIII, com a construção de elementos com-plementares do sistema defensivo.A fortificação permanece com actividademilitar até 1910, altura em que as tropas seretiram definitivamente para Lisboa, sen-do classificada como Monumento Nacio-nal por Decreto-lei de 14 de Março de 1927e Zona Especial de Protecção desde 13 deDezembro de 1958.As muralhas de Valença e todo o núcleourbano que fica no seu interior foram ob-jecto de intervenções da DGEMN ao lon-go de décadas, havendo referências nosextensos arquivos na Direcção Regionaldesde 1936.Essa grande obra culminou com a publica-ção do Boletim Monumentos n.º115 em 1964.Nessa altura foram definidos os critérios eas reformas urbanas que poderiam intro-duzir maior qualidade arquitectónica e am-biental a todo o conjunto, sendo os projec-

O conjunto fortificadode Valença do Minho

Praça de Valença, 1998.

Tema de Capa

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CASO DE ESTUDO

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tos de obras particulares informados nosentido de não prejudicarem a envolvente,com altura ou materiais desaconselhados àintegração naquele núcleo histórico.Foi também, e dentro do espírito de qualifi-cação do interior da fortificação, construí-da uma pousada, por iniciativa da Direc-ção Geral. O projecto, de autoria doarquitecto João Andersen, pode ser enten-dido como um modelo referenciado à Car-ta de Veneza, com materiais miméticos daenvolvente, mas com utilização de uma lin-guagem arquitectónica moderna.Foi demolido, dentro do espírito da época,algum casario e construções militares "pa-ra desafogo da muralha", mas também eem simultâneo era desaconselhada a de-

molição de outros edifícios mais marcan-tes, nomeadamente, em 1946, o chamadoPaiol Geral e o Hospital Militar.Das obras executadas nessa intervenção,destacamos:- remoção da vegetação que encobria todoo conjunto fortificado, de forma a permitira identificação dos elementos construídospara posterior intervenção;- conservação e consolidação dos paramen-tos da muralha e reconstituição dos que seencontravam arruinados incluindo a re-constituição da antiga porta medieval, dasportas de entrada da fortificação, das gua-ritas, cortinas de bocas de fogo, dos reve-lins e baluartes;- conservação, consolidação e beneficia-

ção dos paióis do Açougue e do Campo deMarte e das casamatas junto da Porta daCoroada e do prédio militar n.º 1/21 e pra-ceta anexa;- pavimentações diversas quer de arrua-mentos quer do acesso ao interior da forti-ficação.Valença sofre hoje de uma desfiguração la-mentável provocada pela forma como osestabelecimentos comerciais expõem osseus produtos. Como uma espécie de mer-cado suburbano onde as mercadorias sãoexpostas pelas ombreiras dos vãos dos edi-fícios e pelo passeio até à rua, o que impedea leitura das fachadas dos edifícios, algunsde grande qualidade arquitectónica. Essaindisciplina generalizada impede também

À esquerda nas duas fotos: Fortificações de Valença, 2000.

À direita nas duas fotos: Fortificações de Valença, 1999.

Tema de Capa

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Tema de Capa

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a leitura arquitectónica dos enfiamentosdas ruas.Por outro lado, com o desenvolvimento deuma nova cidade mais para sul, em resul-tado da natural proibição de construçãodentro de muralhas, não existem residen-tes, nem nada mais que atraia os visitantesque o comércio.Para inverter a situação actual torna-se ne-cessário fazer um grande trabalho que teráde incidir em diversas frentes que requali-fiquem toda a vila muralhada.Uma das frentes é sem dúvida a conserva-ção e qualificação de toda a fortificação.Outra será a criação de percursos, devida-mente marcados com sinalética informati-va e de orientação, que percorra os lugaresmais marcantes da fortificação, e que moti-ve os visitantes a nele participar. Nesse percurso deverão existir, aprovei-tando edifícios militares, núcleos museoló-gicos, de lazer ou outros que criem pontosde atracção e de interesse.Para além da valorização do conjunto mo-numental e sua dinamização é fundamen-tal que sejam criados incentivos para que onúcleo seja novamente habitado, para oedificado reencontrar uma vivência natu-ral imprescindível à sua caracterização.Será também necessário, em conjunto comos agentes dinamizadores locais, requalifi-car os espaços construídos e utilizados co-mo estabelecimentos comerciais.Num dos primeiros exercícios deste con-junto de medidas que terão necessaria-mente de ser tomadas, a Direcção Regio-nal de Edifícios e Monumentos do Norte,fez obras no ano de 1998/1999, no Paioldo Açougue.Este pequeno edifício, característico das

construções militares daquela época, comum único compartimento, com aproxima-damente 50 metros quadrados, cuja fun-ção era guardar munições, poderá agoraabrigar um núcleo museológico.Outra obra realizada durante o ano de 1999foi a beneficiação do Baluarte de S. João, si-tuado defronte do paiol já referido que seencontrava bastante degradado, com tro-ços derrocados e outros em vias de ruína.A intervenção tentou realizar uma opera-ção "cuidada", que fez o restauro do restau-ro executado nos anos 40.Como metodologia seguida, aproveitou--se depois de limpo e consolidado o máxi-mo existente. Através da confecção de ti-jolo artesanal novo, com as característicase dimensão do tijolo utilizado aquando doprimeiro restauro, procedeu-se ao preen-chimento das lacunas.Posteriormente procedeu-se, dentro domesmo espírito, à conservação dos baluar-tes de Santa Ana e de S. José e realizou-se aconsolidação estrutural de um paramentode muralha entre estes baluartes, que se en-contrava parcialmente derrocado.

Pretende-se continuar a desenvolver, atra-vés de metodologia idêntica, o restante dafortaleza de Valença, obra essa que irá con-tinuar nos próximos anos.O ponto fundamental será sem dúvida aconservação e beneficiação de todo o con-junto muralhado, mas também se prevê aelaboração de projectos para a Cadeia Ve-lha, o Paiol do Campo de Marte, a Fonte daVila, bem como a organização de percur-sos que valorizem o baluarte da Gaviarra eo do Socorro ligando com o Revelim daFonte da Vila.

Ficha Técnica das intervenções realizadas pelaDREMN desde 1999Arquitectura:Paula Araújo da Silva, Rosário Magalhães, João Fer-reira e Gil MonteConsolidação estrutural de paramentos da fortificação:Departamento de Estruturas da FEUP: Eng.os AníbalCosta, António Arêde e Esmeralda PaupérioElectricidade – P. A. Gomes, Eng.ºFiscalização – Cecília Oliveira, Eng.ª

PAULA ARAÚJO SILVA, Arquitecta, DREMN.

À direita: Fortificação da Praça de Valença. Conservação e consolidação do troço da Muralha entre o Baluarte de São José e Santa Ana.

Em cima: Fortificação da Praça de Valença, 2001.

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CASO DE ESTUDO

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A actual capital de Timor Lorosae era, no sé-culo XVI, uma pequena aldeia, estabelecidaentre os pântanos férteis e um mar rico empeixe, onde viviam os naturais em casas fei-tas de palapa. Talvez semelhante a muitas al-deias que ainda hoje povoam o país, ali seinstalaram alguns portugueses a comerciar efazer a sua vida, na sequência das missõesdos dominicanos, que tentavam expandir areligião católica nessas paragens. Díli só co-meçou a ganhar alguma importância nos fi-nais do século XVIII, quando foram cons-truídas, nessa estreita faixa de terreno àbeira-mar, a primeira igreja, uma fortalezaincipiente, e outras casas da administração

portuguesa frente ao ancoradouro, em voltado terreiro de descarga dos navios. Este es-paço público consolidou-se, à medida que oaglomerado se desenvolvia à sua volta,transformando-se em praça principal, berçoda cidade, onde hoje se situa a sede do go-verno de Timor Lorosae. As casas em seu re-dor, de frágil construção, foram feitas, refei-tas, desde a fase inicial de instalação dacidade, há mais de 200 anos, mudadas de lo-calização diversas vezes, e transformadasem edifícios de alvenaria ou de estrutura debetão armado ao longo dos séculos XIX e XX.Por volta de 1870, no lado nascente da praça,a fortaleza deu lugar ao Quartel de Infanta-

ria. Chegou aos nossos dias em mau estado,devido ao incêndio de 1999, depois de umavida atribulada, tendo sobrevivido às enor-mes destruições em Díli na fase final da IIGuerra Mundial. É um edifício de arquitec-tura neoclássica, muito sóbrio e de grandedignidade. Feito em alvenaria de pedra mui-to diversa, rebocada com argamassa de cal eareia, é decorado com frisos e nervuras fei-tos em tijolo cozido, também revestidos comargamassa. Nas suas paredes há elementosem calcário, basalto, xisto e coral das maisvariadas formas e dimensões. Essa grandeprofusão, uma espécie de "tout venant" le-vou-nos a concluir que as suas paredes fo-ram construídas com a pedra da primitivafortaleza, em alvenaria de pedra seca, cons-truído ainda no século XVIII, e remodeladono século XIX. As fundações do quartel fo-ram justapostas à segunda versão da forta-leza com mão de mestre, para que o esforçode construção fosse muito reduzido. Os per-cursos de transporte da pedra eram míni-mos, porque a pedra desmontada na forta-leza podia ser reaplicada de imediato nasparedes do novo quartel.Nesse edifício emblemático, o mais antigode Díli está a nascer o Centro Cultural, o UmaFukun, com financiamento do Banco Mun-dial, supervisão da UNESCO e projecto, ofe-recido pelo Governo Português, executadopor uma equipa do GERTIL. A sua históriaestá cheia de simbolismo e a localização é ex-cepcional, junto do terreiro à volta do qual

Forte de Díli, 1834.

Código genéticode Díli

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

nasceu a cidade. A evolução deste espaço pú-blico pode ser reconstituída passo a passo,devido aos desenhos existentes nos arquivosportugueses. O mais fascinante neste estudoreside no facto da dimensão e forma destapraça ter servido de matriz à cidade. Ela de-terminou o alinhamento das ruas e a dimen-são dos quarteirões, na grande remodelaçãoque foi feita por volta de 1840, consolidandoo aglomerado que tinha começado a desen-volver-se 100 anos antes da construção doedifício onde hoje está a ser instalado o cen-tro cultural.Por não ter condições de defesa em Lifau, an-tiga capital na zona ocidental da ilha, o Go-vernador António Telles de Menezes "to-mou a desesperada resolução de abandonara Praça" em 1769 e mudar a capital para Ve-masse, na zona Leste, onde os chefes locaiseram mais favoráveis aos portugueses.Aproveitando a presença do navio de SimãoVicente Rosa e ainda com o apoio de 18 pe-quenos barcos de que pôde dispor, fez-se aomar em 11 de Agosto, depois de ter embar-cado a artilharia e destruído parcialmente afortaleza. Rumando a nascente, na direcçãoda província dos Bellos, fez-se acompanharpela população de Lifau, cerca de 1200 pes-soas. Depois de uma paragem em Batugadé,assentou ferro na baía de Díli a 10 de Outu-bro, em frente do pequeno aldeamento. Estefundeadouro nunca tinha atraído especial-mente os portugueses. Devido às condiçõesgeográficas, o Governador tomou a decisão

de ali estabelecer a nova capital.Pesavam as razões militares. A extrema debi-lidade dos portugueses só podia ser compen-sada com a escolha de um local defensávelcom uma força diminuta. Dispunha de mui-to poucos homens em condições de pegar emarmas, europeus não seriam mais de 20. Eradifícil encontrar sítio mais favorável. A cintu-ra pantanosa a sul, formando um arco tan-gente ao sopé das montanhas que cercam Dí-li, protegia integralmente a frente terrestre.Os recifes de coral a meio, e de um e outro la-do da baía formavam dois estreitos canais deacesso ao ancoradouro, que limitavam dras-ticamente a capacidade de manobra e aproxi-mação dos navios inimigos, tornando muitofácil a defesa marítima. Os canhões dos na-vios holandeses não tinham alcance para ba-ter a povoação a partir do exterior da baía, pa-ra lá dos recifes. Entrar nos canais denavegação era arriscado, porque com dois outrês canhões podia alvejar-se facilmente apartir de terra quem se aventurasse.Foi edificada uma primeira fortaleza logo em

1769, a que se seguiu a construção de outrasinstalações. Essa primeira cidade no dizer deAfonso de Castro era "uma povoação edifi-cada sem plano nem método, tendo em vezde ruas, veredas tortuosos abertas por entreum espesso palmar que sombreava inteira-mente a povoação, não deixando circular oar livremente. O terreno adjacente era baixoe alagadiço e os caminhos que conduziam àsmontanhas eram intransitáveis em tempo dechuvas". O primeiro desenho que se conhe-ce de Díli, nessa primeira configuração da ci-dade, é a Perspectiva do Porto de Díli dese-nhada em 1834 pelo 1º Tenente Botelho daArmada Real. Pode ver-se em perspectivarodeando a baía, a Fortaleza chamada Tran-queira, e próximo dela a Igreja Paroquial daPraça no topo Sul do terreiro de descarga donavio. A nascente deste espaço vê-se umaenorme árvore de Gondão, a que era costu-me amarrarem os navios. Do lado oposto fi-cava a Alfândega e a Feitoria do Navio daViagem que fazia a ligação com Macau. Nadireção de Motael, onde já existia a Igreja nasua configuração inicial, vê-se o Quartel doBatalhão e a casa da Famigerada D. Esperan-ça. O desenho é fascinante e é o mais impor-tante documento que conhecemos paracompreender como a cidade nasceu, condi-cionada pela Geografia Militar.

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Trabalhos no edifício do Uma Fukun.

FRANCISCO SOUSA LOBO, Enge-nheiro Militar e Presidente da APAC .

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

No sentido de ser perpetuada, num espa-ço dignificado e com memória, a passa-gem da esquadra de Pedro Álvares Cabralpela ilha de S. Nicolau, a caminho do Bra-sil, através da colocação de um padrão,realizaram-se trabalhos de recuperação ede consolidação do Forte da Preguiça, res-pectivamente em 1991 e 1992. Foi este olocal pela segunda vez escolhido para aedificação de um monumento, agora deautoria do escultor João Cutileiro.Esta intervenção realizou-se no âmbito do

protocolo assinado em1990 entre a ComissãoNacional para as Come-morações dos Descobri-mentos Portugueses(CNCDP) e o Ministérioda Informação, Culturae Desportos da Repúbli-ca de Cabo Verde, e con-tou, tecnicamente, com oapoio do então IPPC (ac-tual IPPAR), que na altu-ra procedia a trabalhosarqueológicos nas ruí-nas da sé da Cidade Ve-lha (antiga Ribeira Gran-de), primeira capital deCabo Verde, na ilha deSantiago.A equipa responsávelpela intervenção arqueo-lógica integrou, para a-

lém dos dois técnicos do então IPPC, o Dr.Carlos Carvalho, pela parte caboverdiana.O Forte da Preguiça foi construído em1820 numa pequena plataforma delimita-da por duas profundas ribeiras, a cerca de50 metros acima do mar. O primitivo an-coradouro (Porto Velho) ficava na ribeiranascente, com uma pequena baía de fun-do arenoso. A sua construção teve comomissão essencial defender tanto o PortoVelho, a nascente, como o caminho e a pe-quena povoação, a poente. A guarnição

pertencia a uma Companhia de Ordenan-ças, segundo Senna Barcelos (1).Refira-se que é uma constante o saque pra-ticado por corsários estrangeiros em algu-mas ilhas do arquipélago ainda nas pri-meiras décadas do século XIX, realidadebem sentida pelas populações, autorida-des locais e ricos comerciantes. Daí resul-ta a construção de fortificações em pontosestratégicos, como o caso presente ou oexemplo da construção do Forte do Du-que de Bragança, situado num ilhéu fron-teiro à povoação de Sal-Rei,na ilha da Boa-vista, para defesa do seu porto, resultanteda excepcional importância comercial dosal aí explorado. Esta estrutura militar foiigualmente alvo de recuperação em 1994,e em acções posteriores, contando aindacom o apoio da CNCDP e da equipa doIPPC a intervir na Cidade Velha.O cais da Preguiça, embora com repara-ções posteriores, terá sido construído nasegunda metade do século XIX, e é, estru-turalmente, semelhante ao cais de S. Ja-nuário, na cidade da Praia. A sua constru-ção e o desenvolvimento da ilha poderãoestar associados à intensa presença ingle-sa na ilha de S. Vicente, com marcas pro-fundas na cidade do Mindelo, e também,em parte, em S. Nicolau. Era por aqui quepassava até há poucos anos o maior volu-me de mercadorias nomeadamente paraa vila da Ribeira Brava, principal povoa-ção da ilha. Este papel cabe hoje ao mo-

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Recuperação do Forte da Preguiça,na Ilha de S. Nicolau, República de Cabo Verde

Figura 1: Padrão assinalando a passagem de Pedro Álvares Cabral pela ilha de S. Nicolau.

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

dernizado porto do Tarrafal, (S. Nicolau).Nas primeiras décadas do século XX, oforte é votado ao abandono e o seu espaçofoi ocupado por cinco ou seis famílias, se-gundo testemunho da população maisidosa, que aí constroem as suas casas,

aproveitando para tal a pedra e as pare-des que se mantinham ainda de pé. Coma escolha do sítio nos anos 60, para a cons-trução de um monumento que simulta-neamente dignifique o espaço e preste ho-menagem à figura de Pedro ÁlvaresCabral, a propósito do V centenário doseu nascimento – em Belmonte, provavel-mente em 1467 –, as famílias que entre-tanto tinham ocupado o arruinado forteforam realojadas e o espaço desafectadode construções.O local vai ficar marcado por três iniciati-vas quase simultâneas. Atendendo ao es-tado de ruína e, simultaneamente, de en-

tulhamento do espaço, camuflando osvestígios do forte, foi, na altura, tomada adecisão de construir uma estrutura so-breelevada, semicircular, qual forte pos-tiço, para expor de forma organizada asoito peças de artilharia, em ferro, que ain-

da permaneciam no local.Outra iniciativa passou pela construçãodo primeiro padrão, poucos metros a nas-cente do forte original, assinalando a pas-sagem do navegador ao largo da ilha de S.Nicolau (Fig. 1). Este monumento aindahoje se encontra em bom estado de con-servação.A terceira obra construída foi o edifícioda escola primária, a cerca de 20 metros anorte da entrada do forte, dentro dos pa-drões previstos pelo Estado Novo para oterritório.No início da década de 90 surge a iniciati-va, por parte do município da Ribeira Bra-

va, em valorizar o património da Pregui-ça, povoação em declínio, devido agoraao pouco movimento do seu porto. Destaforma, a intervenção no local passou,num primeiro momento, pela desmonta-gem integral da estrutura construída nos

anos 60 e que, em parte, se sobrepõe aoforte. Para a realização desta tarefa, comoa remoção das peças de artilharia, foi mo-bilizada uma retroescavadora. Liberto oterreno, procedeu-se à escavação e desa-terro do forte, em toda a sua área interior,bem como na sua envolvente, tendo co-mo referência o alinhamento dos muros,visíveis entre os derrubes, bem como ves-tígios de reboco aflorando no terreno. A zona do forte, que se encontrava aindacom alguma leitura, limitava-se à área dascanhoneiras junto à falésia, ou seja, o pa-no de muralha virado a sul, onde, após aintervenção, se revelaram troços de calça-

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Figuras 2a e 2b (à esquerda): Zona das canhoneiras, junto à falésia; no início e após a intervenção.Figura 3 (em cima): Levantamento do forte da Preguiça, construído em 1820.

Figura 2a

Figura 2b

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

da e áreas revestidas por lajes, para su-porte dos canhões, (Fig. 2b).O comprimento máximo do forte é de40,40 metros e de 21,50 metros de larguramáxima. O muro que delimita o recintopelo lado de terra tem 0,70 metros de es-

pessura, e, originalmente, apresentava aporta de acesso a meio do mesmo. As ca-sernas estão-lhe adossadas, das quaisapenas resta o arranque das paredes e ves-tígios de pavimento feito com grandesseixos rolados (Fig. 3). O terreiro e as zo-nas intermédias das canhoneiras apresen-tam áreas preservadas de calçada, igual-mente em seixo rolado, encontrando-se ocentro do forte "marcado" por um motivocruciforme. O terreiro foi aplanado atra-vés do enchimento do interior, sobre oqual foi construído o pavimento. O pano de muro virado ao Porto Velho foi,em dado momento, reforçado e estavaapetrechado com duas peças de artilha-ria. O mesmo número de peças defendia,

a poente, o porto e a estrada que seguiapara a Ribeira Brava. A frente de mar dis-punha de quatro peças de artilharia com amesma capacidade de fogo (Fig. 5), apre-sentando algumas, para além das armasde Portugal, a data de fundição de 1791.

A construção militar apresenta aqui umaespessura média de 3, 80 metros. Os vestí-gios do parapeito são pouco evidentes,devido ao grande aproveitamento da pe-dra. Entre a face interna e a externa do mu-ro existem, espaçadas regularmente, zo-nas de enchimento de terra batida, com ofim de amortecer o efeito de choque dosprojécteis (Fig. 2 e 3). Já no ano de 1992 procedeu-se a uma curtacampanha de conservação e restauro dosmuros, com a integração de pedreiros lo-cais, e usando-se a pedra do próprio forte,conferindo-se, deste modo, a solidez mí-nima necessária para a preservação da es-trutura militar, ao ser agora eleito o seucanto Sul como o local adequado à monta-

gem do padrão, do escultor João Cutileiro,constituído por três blocos de mármore.A concretização desta campanha só foipossível graças a uma convergência de es-forços e de vontades por parte de diferen-tes entidades e das pessoas que, local-

mente, se envolveram com particularentusiasmo quer prestando informaçõesquer disponibilizando instalações, trans-porte para o local, meios mecânicos, e, porfim, participando na integral recuperaçãodo forte.

(1) "Subsídios para a História de Cabo Verde eGuiné", Lisboa, vários anos.

CLEMENTINO AMARO e VÍTORSANTOS, Técnicos do IPPAR.

Figura 4: Trabalhos de preenchimento e de consolidação das paredes do forte. Figura 5: Vista geral da estrutura militar após a conclusão dos trabalhos.

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1•CARÁCTER DO ESPAÇOSupõe-se que a Alcáçova de Montemor-o--Velho tenha sido uma primeira implanta-ção do séc. XII, sabe-se que foi alvo de dis-puta, no princípio do séc. XIII, entre D.Afonso II e as suas irmãs, D. Teresa, D. San-cha e D. Mafalda. Daí o epíteto que hoje oqualifica: Paço das Infantas.A nossa proposta para a construção da Ca-sa de Chá no espaço envolvente da ruínado Paço da Alcáçova, no Castelo de Mon-temor-o-Velho, decorre da análise e inter-pretação do monumento visando a clarifi-cação da sua leitura histórica através dautilização contemporânea.No entanto, dada a inexistência de estu-dos arqueológicos que forneçam com ri-gor dados relativos ao monumento, consi-deramos fundamentalmente as estruturasvisíveis e alguns, escassos, registos docu-mentais. Tentamos, assim, traduzir uma

leitura da ruína, que se pretende coerentee isenta quer de excessos afirmativos querde fantasiosas especulações.

2•OPÇÕES DE IMPLANTAÇÃOA implantação escolhida para o edifício re-vela, por um lado, a intenção de sublinharos perímetros Noroeste, Nordeste e Su-deste da ruína, abrindo a Sudoeste umafrente de esplanada, protegida pelo para-mento menos arruinado.Por outro lado, pretende-se sugerir a anti-ga entrada principal do Castelo, assumin-do um percurso de ligação ao Paço, ados-sado à cortina de muralha Sudeste.Pretende-se reforçar o eixo da muralha,reactivando o percurso que se lhe adossa-va como acesso directo à futura Casa deChá, e deixando que a serena axialidadedo edifício proposto sirva como momen-to flector de chamamento para a sua pró-pria utilização.Assim, das preocupações que influíram naimplantação do edifício emerge, por umlado, a afirmação intencional de clarificar

TECNOLOGIASTema de Capa

À esquerda: Esplanada da Casa de Chá.

Em cima: Pormenor do interior.

Casa de Chá no Paço das Infantas

1. Castelo de Montemor-o-velho.2. Igreja de Santa Maria da Alcâçova.3. Paço das Infantas.4. Casa de Chá.5. Montemor-o-velho.

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TECNOLOGIAS

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Tema de Capa

renovadas interpretações da envolventeedificada e, por outro, a certeza de deixarem aberto a leitura actual da ruína."A materialidade aberta da ruína é deli-beradamente prolongada, trabalhando--se o mistério que ela integra: a relaçãoentre o que se conhece e o que se ignora.A nova arquitectura emerge como umahomenagem aos fragmentos sobrevi-ventes como uma arquitectura que evo-ca e acolhe, que constrói com o frag-mento. Trata-se de reuní-los, nãosimplesmente juntá-los por justaposi-ção mas reuní-los segundo uma ideiaprecisa e um desenho rigoroso, porqueé algo tão real como voltar a habitar umlugar. Por isso, a presença estimulantedo passado não resulta aqui nem numpeso nem numa carga mas numa possi-bilidade extrema de essencialização."(Ana Tostões, Público, 26 de Janeiro de2001, pág. 30).

3•OPÇÕES DE CONCRETIZAÇÃOMATERIAL E ESPACIALFoi, pois, nossa intenção ocupar o espaçointerior da ruína do Paço das Infantas comuma edificação leve, tornada perfeitamen-te inócua pelo modo geometrizado comose solta das paredes das referidas ruínas."A tensão conceptual da obra apoia o de-senvolvimento no novo lugar realizado noespaço que foi o dos Paços. É a ideia daconstrução de um lugar, da criação de umlugar onde contemplar as ruínas, realizadacom o essencial. Apenas dois planos: plata-forma miesiana (referência a Mies Van DerRohe), implantada no interior do que ou-trora foram os Paços da Infanta; tecto ele-mentar sustido por finos e esbeltos supor-tes. Entre eles, a caixa de vidro, abstracta equase virtual, cria um lugar íntimo, metafí-sico, de dura geometria, que é domestica-do, porque como dizia Mies Van Der Rohe:“Estamos em casa e tínhamos de incluir

mobiliário." (Ana Tostões, Público, 26 de Ja-neiro de 2001, págs. 30 e 31).A unir estes dois planos horizontais subs-tancialmente fortes – cobertura e pavi-mento – um paralelepípedo cromatica-mente distinto, que corresponde às áreasde serviço da Casa de Chá. O pavimentoprolonga-se a sudeste num estrado emmadeira que constitui a esplanada."(…) A plataforma – terraço à frente daconstrução situa a casa de chá na paisagemenvolvente com um sentido de pertença.Uma pertença que integra o cenário dosfragmentos de muros fortemente textura-dos, de onde emana a carga do tempo e dahistória (…)." (Ana Tostões, Público, 26 deJaneiro de 2001, pág. 31).Os paramentos verticais são em vidro sim-ples, modulado e liberto de prumos de cai-xilharia, com excepção das portas, que as-sim ficam marcadas por aro e caixilho deferro. Os pilares da estrutura de suporte

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À esquerda: Corredor.

Em baixo: Pormenor do interior.

1. Percurso de ligação à Igreja de Sta Maria da Alcáçova. 2. Percurso adossado à Muralha; 3. Escada de acesso à janela. 4. Banco; 5. Tanque; 6. Fosso Chiller+Uta; 7. Esplanada. 8. Sala de Chá; 9. Cozinha; 10. Instalações sanitárias.

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TECNOLOGIASTema de Capa

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das lajes de pavimento e de cobertura sãoem perfis de ferro e funcionam pelo inte-rior. Por um lado, para os afastar da ruína,e, por outro, para que a imagem desmate-rializada e abstracta da caixa de vidro pos-sa prevalecer." O uso do vidro estimula a visão ininter-rupta dos fragmentos de ruínas envolven-tes e a projecção fora do espaço interior."(Ana Tostões, Público, 26 de Janeiro de2001, pág. 31).Tentou-se deste modo, criar uma estruturacuja autonomia geométrica e material reva-lorize a própria imagem da ruína, integran-do-a num contexto mais compreensível, pe-la entreposição da estrutura da Casa de Chá.A laje de pavimento e o estrado da espla-nada ficarão levemente erguidos, refor-çando, ainda mais, a imagem de estruturaque não se prende a nada do existentenem, tão-pouco, ao solo."Por um lado, a nova plataforma sobrele-

vada ritualiza-a para quem ocorre, reser-vando-a e abrindo-a a pessoas e paisa-gem. Por outro lado, reconstrói-se a en-volvente próxima por interacção quasepalpável ora surpreendente em contrasteadequado ora derramada no novo propó-sito ora, ainda, articulada em acessos, pas-sagens, caminhos e pavimentos." (JoãoRodeia, O Independente, 31 de Março a 6de Abril 2000, pág. 51).Internamente, a distribuição dos espaços énecessariamente simplificada pela mini-mização das áreas disponíveis em progra-ma – 90 metros quadrados. O corpo de serviços engloba os sistemasde infra-estruturas de climatização, bemcomo as instalações sanitárias e a copa depreparação de refeições frias. A concentração das áreas de serviço, numcorpo único, recuado relativamente às pa-redes envolventes, permite a desejável ma-nutenção da transparência da Casa de Chá,

criando, desse modo, um nível de leituramais abstractizante e, por consequência,mais consentâneo com as intenções de cla-rificar o existente, enquanto invólucro deum conteúdo renovado – a proposta.

Em baixo: Escada exterior.

1. Varão roscado chumbado; 2. Rótula em barras de ferro 8 mm.3. Degrau de grelha metálica amovível em quadrícula 38x38x5 mm. 4. Perfil UPN 100x50 mm; 5. Cantoneira em aço 30x30x5 mm. 6. Corrimão em barra de aço 70x20 mm. 7. Degrau de betão armadoaparente descofrado; 8. Betão de limpeza. 9. Parede de pedra.

FICHA TÉCNICALocalidade: Site, Paço das Infantas, Castelo de Montemor-o-Velho, PortugalData do Projecto: 1997Data da Construção: Maio 1999 – Julho 2000Autor: João Mendes RibeiroColaboradores: Carlos Antunes, Cidália Silva,Desirée Pedro, José António Bandeirinha, Manuela Nogueira, Pedro GrandãoCliente: Instituto Português do Património Arquitectónico – Câmara Municipal de Montemor-o-VelhoConstrutor: A. Ludgero CastroArranjos Exteriores: João Mendes RibeiroEstruturas: Raimundo Mendes da SilvaElectricidade: Marcos PinguinhaInstalações Mecânicas: Isabel SarmentoFotografia: João Mendes Ribeiro

JOÃO MENDES RIBEIRO, Arquitecto.

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Uma estreita familiaridade entre a enge-nharia militar e a arquitectura caracterizaboa parte da produção cultural portuguesado Período Moderno. Uma figura que es-pelha bem a complexidade destas relaçõesdisciplinares foi a do engenheiro ManuelPinto Vilalobos, activo na vila de Viana doLima entre 1683 e 1734, o qual se viria a re-velar um dos mais prolíficos arquitectos dasua geração, deixando no Minho as marcasde um classicismo tardio, bem aclimatadoa um gosto conservador que não se reviaainda na animação ornamental do barroco.A formação do jovem Vilalobos decorreuna Aula de Fortificação de Lisboa, em am-biente especulativo marcado pela activida-

de pedagógica do engenheiro-mor LuísSerrão Pimentel e pela familiaridade commatérias que incluíam noções de náutica eastronomia, de arquitectura, de geometriaou de matemática, além, naturalmente, docurrículo disciplinar corrente da arte forti-ficatória. Engenheiro e arquitecto prático,Vilalobos viria também a revelar-se um ac-tivo polígrafo: compôs um Tratado de For-tificação que se conserva manuscrito, umCalendário e Lunário Perpétuo e um Tra-tado do Uso do Pantómetra, entre outrasobras e algumas traduções.Na Vedoria do Minho, para aonde foi en-viado em 1683, Manuel Pinto Vilaloboscontou com a larga experiência do enge-

nheiro francês Miguel de Lescole, de quemviria a herdar as incumbências funcionaise mesmo os seus papéis e desenhos. Aabertura de uma Aula de Fortificação emViana, por decreto régio, em 1701, repre-sentou, assim, a continuidade da herançade Lescole, de quem se conhece a sebentade uma lição que assegurava informal-mente aos artilheiros da província, bemcomo um tratado de fortificação que nun-ca chegou a publicar.No âmbito das suas atribuições como en-genheiro da província, Manuel Pinto Vila-lobos participou em projectos de regulari-zação fluvial nos rios Lima e Douro –denotando um interesse crescente da co-roa pelos meios de planeamento e unifica-ção do território – e interveio activamentena modernização das fortalezas de Viana,Caminha, Monção e Valença: nesta última,por exemplo, regista-se a assimilação pre-coce de alguns elementos do sistema deVauban, porventura a primeira referênciaexplícita, entre nós, à obra do engenheirofrancês, que teria grande divulgação aolongo do século XVIII. Mercê do seu desempenho prático, o enge-nheiro acolheu-se também ao mecenatodos arcebispos de Braga, com especial des-taque para D. Rodrigo de Moura Teles (†1728), e no território da arquidiocese sãoconhecidas as suas intervenções nas matri-zes de Viana e de Ponte da Barca, na Sé Ca-tedral, nos conventos de São Francisco deMonção, dos Remédios e da Conceição, deBraga, de Santa Clara, de Vila do Conde ede São Bento de Viana, entre muitas outraso Santuário do Bom Jesus do Monte, umadas obras-primas da cenografia paisagistabarroca, inteiramente remodelado no finaldo primeiro quartel do século XVIII, con-tou com um risco de Vilalobos para uma

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Portal da Coroada, Valença, 1704.

OPINIÃOTema de Capa

Manuel Pinto Vilalobos, da engenheria militar à arquitectura

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igreja de planta circular, de evocação mar-tirológica, de acordo com a invocação doresto do conjunto.O gosto arquitectónico de Manuel Pinto Vi-lalobos pauta-se por uma ampla utilizaçãode elementos de composição de raiz clássi-ca, embora em associação sintáctica livre:nas inúmeras casas de Viana que lhe pode-mos atribuir, construídas tanto para a fidal-guia local como para uma próspera classeemergente de mercadores enriquecidoscom o tráfico marítimo, é frequente o recur-so ao frontão triangular, aos paramentosrusticados, à sobreposição de ordens arqui-tectónicas ou ainda a um tipo de coroa-mento de vãos que só encontra paralelo emrealizações de Rafael, de Giulio Romano ede Vignola. Apenas na decoração túrgidadas pedras de armas apostas nas fachadas– especialmente a da sede da Vedoria doMinho, empunhada por dois putti – nota-mos alguma concessão a um gosto barrocoemergente, que poucos anos mais tarde vi-ria a informar grande parte da arquitecturacivil do Noroeste português.A Casa da Car-reira é um exemplo à parte da actividadeprojectual de Vilalobos. Construída em fi-nais do século XVII, a casa nobre apresentauma original fachada em que sobressaemos materiais de aproveitamento da residên-cia primitiva, constituindo assim um casoprecoce de revivalismo manuelino que oarquitecto disciplinou pelo desenho clássi-co das cornijas, das pilastras toscanas doscunhais e do ritmo imposto à sequência dafenestração. Este método, que indicia umavalorização inédita das fantasias ornamen-tais do tardo-gótico, foi em parte bebido naobra de Sebastiano Serlio, muito divulgadaem Portugal, e em cujo Livro VII se propõea reconstrução de casas antigas através daregularização dos alçados, de uma forma

semelhante ao que pensamos ter sido feitono caso vianense.Projectos para retábulos de talha, dos quaisse destaca o risco que deu para a Árvore deJessé da matriz de Caminha, completam aoriginalidade de uma carreira que teve, emparte, continuidade nas gerações do seu fi-lho e do seu neto, continuando ambos liga-dos à instituição militar. O neto, José Fer-nandes Pinto Alpoim, tornar-se-ia mesmo

o mais influente engenheiro das provínciasdo Brasil ao longo da 2ª metade do séculoXVIII, assim demonstrando a qualidade dolegado da escola portuguesa de engenha-ria militar formada no rico ambiente poste-rior à Restauração.

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MIGUEL SOROMENHO,Técnico do IPPAR.

OPINIÃOTema de Capa

PUB

Pub Brera

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OPINIÃOTema de Capa

A construção do território passou sempre pe-la imposição de marcas de presença e de ocu-pação, como por exemplo, os castelos, as for-talezas e fortins. Mas trata-se, também, demarcas monumentais de grande expressivi-dade retórica. Os castelos e fortalezas eramestruturas funcionais, desempenhando o pa-pel de defesa e de enquadramento da explo-ração deste ou daquele território, mas tam-bém se destinavam a prevalecer na paisagemcomo sinais de poder e pólos de regramentoda ocupação populacional. Hoje, porém, como acontece com todas as for-tificações antigas, a maior parte delas care-cem de função, ou seja, foram perdendo a suautilidade pretérita. O seu papel é, essencial-mente, rememorativo. Mas trata-se de umpapel não menos importante no âmbito daordem cultural e "económica" contemporâ-neas. É que as fortificações dão-nos conta deum facto histórico não dispiciendo que é o daevolução das práticas de defesa e da sociabli-dade que elas instauram, desde a reminis-cência na alta Idade Média de recintos castre-jos, passando pela introdução de técnicasinovadoras de defesa passiva através daconstrução dos chamados castelos "români-cos" (na sua maior parte templários), pelaedificação de estruturas defensivas úteis (defronteira) a par de outras em que ao contextomilitar se soma a representação do poder (es-truturas paçãs associadas a torres, durante osséculos XIII-XIV, ou os castelos góticos), pelaintrodução da vanguarda da engenharia mi-litar nos exemplos das "rocas" portuguesas(Ourém, por exemplo, ainda no século XV)

até aos modelos que respondem já aos crité-rios da piro-balística (a Torre de Belém, claro,mas também o Castelo Roqueiro de Vila Vi-çosa, nos primeiros 30 anos do século XVI).As fortalezas, daí em diante e mediante umatratadística bem estabelecida, experimentamdepois a revolução da defesa "moderna".Não são menores, portanto, os ensinamentosque tais monumentos nos trazem relativa-

mente aos métodos de construção, passandopela organicidade das construções e a manei-ra, artificial mas sábia, como se casam com atopografia; ainda, os sistemas defensivos sãoestruturas ideotécnicas de vanguarda e deexperimentação, com as suas entradas "emcotovelo", as torres albarrãs, as couraças emais tarde com os seus revelins, travezes e ta-

ludes, estruturas que deixaram conspícuasmarcas na paisagem.E é grande a quantidade de castelos e fortale-zas em Portugal, como são também diversas,naturalmente, as suas condições e circuns-tâncias valorativas, sendo que concorrem pa-ra estas as respectivas características e dife-rentes graus de importância patrimonial – oque não tem a ver, apenas e somente, com a

sua monumentalidade ou "centralidade",mas antes com a tipologia, o valor histórico,"associativo" ou rememorativo a importân-cia monumental ou escala, a importânciamorfológica, a importância técnica, a impor-tância em termos urbanos, a importância pai-sagística e a importância arqueológica.Em termos de localização e compostura, po-

pequena reflexão (meramente) teóricaCastelos e fortalezas:

Évoramonte.

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OPINIÃOTema de Capa

dem distinguir-se: Castelos e fortalezas deelevação, de planície, costeiros, castelos e for-talezas integrando aglomerados pré-existen-tes, castelos associados a cercas amuralhadasamplas, fortalezas estreladas ou com apêndi-ces estrelados e castelos reconstruídos.De entre estes cabe ainda distinguir:a) Castelo-recinto (com predominância damuralha sobre a torre);b) Castelo de torre e recinto (com predomínioda torre);c) Castelo-convento, com as duas funções as-sociadas;d) Casa-forte;e) Fortaleza de tipo irregular;f) Fortaleza regular;g) Associação de sistemas de diversas épo-cas, incidindo numa diacronia que vai do sé-culo XIII/XIV ao século XVIII;h) Grande sistema fortificado com "obras" as-sociadas (o caso de Elvas, por exemplo);i) Castelo refúgio;j) Castelo-palácio de tipo regular;k) Palácio fortificado;l) Torre senhorial;m) Torre de vigia;n) Atalaia.O estado de conservação destes testemunhosé (reitera-se) muito variável. Em qualquer ca-so, a maior parte dos exemplos carece de tra-balhos perenes de valorização e reafectaçãode uso, podendo distinguir-se um númerode castelos que foram objecto de reaproveita-mento e re-uso, de diversos tipos aliás, mascom intervenções importantes, algumas dasquais ainda em curso.Tudo isto deve ser levado em consideraçãono mundo contemporâneo, em que o con-senso em torno do património se ergue comosinal de civilidade e cultura. A recuperaçãodestes monumentos, porém, não é tarefa fá-cil. São muitos e dispersos pelo espaço. São,

na sua maior parte "esqueletos" que carecemda essencialidade que lhes deu vida: os ho-mens. Hoje, a imagem da fortificação pareceresumir-se às muralhas e às torres – no casodos castelos isolados – ou a resíduos integra-dos já numa estrutura urbana que quase sem-pre cresceu e as absorveu sem remissão. É porisso difícil explicar e recriar a função do caste-lo uma vez que o seu interior, outrora densoe animado, ruidoso e movimentado, pratica-mente desapareceu. Por sua vez, os trabalhosde restauro enfrentam problemas quando ossistemas de construção se reportam a técni-cas as mais das vezes esquecidas ou quandotêm uma extensão tal que qualquer interven-ção exige um esforço quase idêntico (per-dõem-nos a imodéstia) ao daqueles que asconstruíram. Mas é essa a tarefa de todosaqueles que cuidam do património.Convém ainda realçar que muitas das obrasde restauro, reafectação e reutilização de for-tificação (mais de castelos do que de fortale-zas) mais recentemente executadas, se en-contram datadas nos seus pressupostos, porse tratarem em boa parte de projectos elabo-rados no decurso dos anos 80 e início dos anos90, mas com execução em obra nos finais dosanos 90, impuseram um modelo de reafecta-ção e reutilização. Em alguns casos, os pro-gramas afiguram-se excessivamente pe-sados ou impositivos, ou mesmo"adjectivados" face à pré-existência. Cumpredizer que, tratando-se de projectos animadospela Administração Central, muitos delesserviram de modelos a intenções de obrasque se encontram previstas ou em laboraçãoem castelos geridos directamente pelas au-tarquias. O partido arquitectónico destes pro-jectos, procurando gerir o paradoxo da desa-fectação com uma nova reafectação,cristaliza-se a maior parte das vezes naquilo aque poderemos chamar a "equipamentaliza-

ção" da fortificação: esta é entendida comoum terreno aberto, de valor cultural, ao qualhá que acrescentar valências de uso públicotambém culturais mas assaz pesadas tais co-mo auditórios, núcleos expositivos e cafeta-rias. Este processo, ao que cremos, tem os seusdias contados. É que tendo em conta, o ca-rácter normativo destas intervenções, e co-nhecendo alguns efeitos, eventualmente per-versos, das reafectações em causa, conviráagora tornar predominantes as intervenções"leves", que visem restituir a fruição do caste-lo, conferir-lhe, bem entendido, capacidadede acolhimento público, mas reservá-lo emtermos de valor ou perfil construído sem adi-ções ou propostas mais agressivas que dificil-mente assimilam valores de obra de raiz. Manter vivas essas marcas, trabalhando e re-trabalhando os processos de restauro e estu-dando programas de requalificação, a maiorparte das vezes, já não propriamente direc-cionados para a reutilização do espaço brutodo castelo mas antes para a assunção da sua"aura", da sua monumentalidade absoluta,do seu carácter como "escultura" da paisa-gem são os imperativos que se nos colocamhoje mesmo. Os estudos que se empreendem em torno dastipologias castelológicas, os trabalhos de ín-dole histórica que os mesmos motivam, aspesquisas arqueológicas, as análises críticasdas intervenções de recuperação mais anti-gas ou mais recentes, o aprofundamento dosestudos de materiais e os ensaios de restauro,são outras tantas tarefas daquilo a que prefi-ro chamar, para as fortificações, um laborconstante de "conservação dinâmica": comoforma de preservar com cada vez maior efi-ciência estes testemunhos.

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PAULO PEREIRA, IPPAR.

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Olivença,nobre, leal e notável terra portuguesa 20 de Maio de 1801: O exército espanhol as-sedia e toma Olivença e ocupa grande partedo Alentejo, coagindo Portugal, em situa-ção desesperada, a assinarem a 6 de Junho, oTratado de Badajoz que, “em qualidade deconquista”, atribui a Praça a Espanha. Em 1de Maio de 1808, Portugal denuncia o trata-do. Em 1815, reunidas as potências belige-rantes no Tratado de Viena, é reconhecidajustiça nas reclamações portuguesas sobreOlivença e impõe-se “a restituição da mes-ma”, determinando-se os “esforços mais efi-cazes” para que a sua retrocessão se efective“o mais brevemente possível”…Frequentemente, esquece-se esta terra tãogenuinamente portuguesa que, por tão infe-lizes e indignas vicissitudes, se encontra ac-tualmente sob a administração espanhola.Povoação das mais importantes do reino, se-de do bispado de Ceuta, dela era origináriao pai de Vasco da Gama; famílias portugue-sas de melhor nome tinham ali origem e mo-rada. Por isso é a vila tão pronunciadamenteportuguesa, e de fisionomia alentejana: a al-venaria, a cal, a cantaria, as imponentes cha-

minés. Evidenciam-se casas apalaçadas dosDuques do Cadaval (hoje sede do Ayunta-miento) com o seu portal manuelino, dosMarçais, dos Sousas e outras, onde brilhamvelhos brasões portugueses. Estratégicos, oCastelo dionisino e a sua Torre de Menagem,atrevida nos seus 37 metros, o pombalinoQuartel dos Dragões de Olivença, os baluar-tes seiscentistas com a bela Porta do Calvá-rio. Aqui e por ali, inúmeros escudos portu-gueses, picados barbaramente, falam-nos nasua mudez. Manuelina, a igreja da Madale-na, antiga Sé da Diocese de Ceuta; renascen-tista tardia e barroca, a igreja de Santa Mariado Castelo. A igreja da Misericórdia, funda-da logo em 1501, até hoje esteio da cultura edos valores portugueses.Sobre o Guadiana, a monumental ponte ma-nuelina da Ajuda, em alvenaria argamassa-da, silharia nas aduelas, abóbadas e talha-mares, ligou as duas margens até 1709,qundo a tropa borbónica fez explodir os ar-cos centrais. A jusante, uma nova ponte embetão, construída por Portugal e inaugura-da em 2000, restabelecendo o contacto direc-

to de Olivença com o território nacional. Nas ruas ouve-se falar com a mesma entoa-ção da banda de cá do grande rio do sul. Semesforço, percebe-se o espírito português sus-tentando uma identidade tão distinta da deEspanha… No silêncio ensurdecedor dasgentes e dos velhos brasões, das casas e dosmontes, das ruas e dos caminhos de Oliven-ça, ressoa o grito pungente e mudo de umaterra refém, de uma terra por resgatar…

Bibliografia: Olivença, Matos Sequeira e Rocha Júnior;Compilação para o Estudo da Questão de Oli-vença, Embaixador L. Teixeira de Sampayo;Olivença, Reflexões sobre Usurpação e Aculturação, Carlos Consiglieri;Nos Caminhos de Olivença, Carlos Luna;A Ponte da Ajuda, Estudo Arqueológico, Manuel Cid.

OPINIÃO

ANTÓNIO JOÃO TEIXEIRA MAR-QUES, Procurador-adjunto, Vice-Presi-dente do Grupo dos Amigos de Olivença.

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"E porque houve honze annos e oito mezesq. antes tinha servido o dito emprego dellenão satisfizera ordenado algum, tendo fei-to varias jornadas fora da corte por ordemdeste Tribunal fazendo avultadas despezascom a sua pessoa e cavalgaduras, com in-commodo grande de sua caza, e familia, fal-tando por este modo as obras de q. nestaCorte era encarregado em que podia utili-zarse: não era justo, nem Vossa Magestadehavia permittir ficasse o supp.e com o de-zembolço q. fizera, ainda q. este excedera aoordenado, q. como serventicario se lhe de-via satisfazer: pedido a Vossa magestade q.como o rendimento do sobredito Almoxari-fado entrara no Erario Regio por elle lhemandasse satisfazer o ordenado dos ditoshonze annos e oito mezes, q. servira o so-bredito emprego"Petição de Manuel Caetano de Souza, data-da de 1778, pedindo que lhe fossem pagosos seus ordenados como arquitecto das Or-dens Militares, cargo para que fora nomea-do em Outubro de 1766 1.Tal como hoje, a nomeação de arquitectospara lugares importantes em séculos ante-riores, parece não ter sido desprovida quer

de uma profunda dedicação à profissãoquer, até mesmo, de uma certa polémica. Apetição de Manuel Caetano de Souza ilus-tra bem quão árduo era o cargo de arquitec-to das Ordens Militares, cargo esse que, jun-tamente com outros (Arquitecto Real,Arquitecto dos Paços Reais, da Aula do Pa-ço da Ribeira, das Obras de S. Vicente de Fo-ra, etc.) era um dos mais importantes a quequalquer arquitecto (ou engenheiro) podia,então, aspirar. Não pretendendo especularsobre o papel do arquitecto e da prática ar-quitectónica em época moderna, mas simdar a conhecer mais alguma informação so-bre as obras e esferas de influências dos in-tervenientes neste processo (exarada doscurricula e testemunhos apresentados aconcurso). Da documentação que aqui re-velamos 2 podemos concluir como era de-terminante, para as nomeações, a existênciade uma prática anterior no mesmo domínio(quase sempre transmitida por via fami-liar), nomeações essas nem sempre isentasde uma certa expectativa e polémica, comoaconteceu com o concurso de 1697, no qualé nomeado João Antunes que opõe, apenas,aos curricula de experientes concorrentes

como o Padre Tinoco e Manuel do Couto, aobra de Santa Engrácia 3. Falecido João Antunes em 1712 no concur-so de 1713 apresentam-se Manuel do Cou-to, Manuel da Maia, Joseph Pinheiro da Sil-va, João Baptista Barros, Joseph RoizRamalho, Manuel Nunes, Carlos BaptistaGarvo e Manuel Luis da Silva. Importantepelo grande número de candidatos, a docu-mentação revela-nos alguns dados curio-sos 4, nomeadamente no que diz respeito aManuel Nunes, que se apresenta como "ar-quitecto da Casa de Aveiro" 5. Por delibera-ção da Mesa da Consciência e Ordens parao cargo seria nomeado João Baptista Garvo,ficando em 2º e em 3º lugares, Manuel doCouto e Manuel da Maia, respectivamente.Custódio Vieira sucederia no cargo, após amorte de João Baptista Garvo. Além da suanomeação a 19 de Junho de 1737 e de umdocumento do Desembargador de Sua Ma-gestade, Diogo Pinto (que o dá como filhode Manuel Francisco, a morar na Rua daAtalaia, com a idade de 50 anos) não existeneste núcleo, qualquer outra documenta-ção que nos elucide sobre a existência deoutros concorrentes. Ajudado por Rodrigo

Concursos para o lugar de arquitecto das Ordens Militares no séc. XVIII

Forte de São Bruno em Oeiras.

Para o meu grande amigo, Arq.º João Kadiç

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Franco, arquitecto da Mitra e e das Igrejasdo Patriarcado, seria por ele substituído em1744 e 1745 por períodos de seis meses,num processo que geraria alguma polémi-ca até à nomeação de Carlos Mardel, em1747, para o mesmo cargo 6. Vale a pena exa-minarmos, com alguma atenção, a docu-mentação existente, sobretudo no que dizrespeito à actividade deste último. Em re-querimento datado de 1746, Rodrigo Fran-co pede que lhe sejam pagos os ordenadoscorrespondentes às suas nomeações, o queoriginou a seguinte consulta em 22 de Mar-ço de 1746: "Por decreto de 10 de Fevº desteanno foi V. Mag.e servido q. ao Consº ser-visse a consulta incluza da Meza da Cons-ciencia sobre o pedido de Rodº Franco paraque lhe pagassem os ordenados. Mandouo Consº que informasse o Escrivão da fa-zenda da repartição juntando os papeis q.houvesse nesta materia e o fez dizendo q. oSargº Mor Carlos Mardel tinha servido deArchiteto das obras das Igrejas das Mezas,Mestrados das Ordens indo repetidas ve-zes a ellas examinalas fazendo riscos paraas suas reedificações como são 7 as Igrejasde S. Pedro da Vila de Palmela, EspiritoSanto de Aldeia Galega, S. Lourenço deAlhos Vedros, Alcochete, São Tiago da Vi-la de Alcácer, Lagares da nova Vila de StºEstêvão da Ribeira de Canha, de S. Pedroda Marateca, e Nª Srª da Anunciada da Vi-la de Setubal, fazendo avaliação das obrasfeitas em humas, fazendo as plantas e des-pondo os reparos de outras tudo com gr.detrabalho e zelo e o consº lhe cometera estasdilig.as na falta de Custódio Vieira porconstar não Ter sido V. Mag. servido pro-ver em outrem a prop.e do dito off.º antesq. por avizo do secrt.º de Est.º dos negóciosdo reino Pedro Motta e Silva de 25 de Abrilde 1744 fora V. Mag. servido ordenar a Me-

za da Consciência não provisse a d.ª ocu-pação de serventia sem sua real ordem, e q.como o Consº. Cometera as referidas dili-gencias ao dº Carlos Mardel requerendo es-te o pagamento do ordenado do d.º off.º lhomandara pagar pagando os novos direitoscomo constara dos papeis q. juntara; e nãodefeniria req.º q. fizera 1º o mesmo efeitoRodrigo Frº sem embargo de apresentarprovimento da Meza porq. Na conformi-dade do dº avizo se lhe não devia passar, e

sendo o ordenado assentado no Almoxari-fado da Meza Mestral de Setubal parecia q.mais devido era a quem tinha servido nasigr.as das Mezas dos Mestrados do q. aquem contra as ordens de S. Magestadeservira nas Igrejas das Comendas particu-lares. Avendo visto o Conc.º da fazenda,Pareceo ao Concelho o mesmo q. ao Escri-vão da fazenda da repartição. Diogo deSousa Mexia. Diogo Corte Real...". Este pa-recer não deixa quaisquer dúvidas sobre anomeação de Carlos Mardel para o cargo,em detrimento de Rodrigo Franco. Elemostra ainda que, tal como hoje, as dife-rentes entidades nem sempre actuavam emconcordância. Em 17 de Junho de 1755 Ro-drigo Franco faria uma nova petição (refor-mada em 16 de Setembro de 1756) pedindoque se lhe faça propriedade do ofício demedidor e avaliador das obras reais, para oque junta certidão de 1745, na qual reforçaa sua actividade como arquitecto "RodrigoFranco diz que substitui Custódio Vieiraem muitas obras e q. por morte dele foi em-

possado como arqº em 24 de Abril de 1744e q. na mesma vai em 12 annos fazendo ves-torias occulares nas herdades, Igr.as, e maisEdificios pertencentes às Ordens (...) fazen-do plantas, apontamentos mais execução eos usuais".Após a nomeação de Carlos Mardel, a do-cumentação é omissa até ao ano de 1766, noqual nos aparece um requerimento de Ma-nuel Caetano de Sousa a pedir que seja no-meado para o cargo, em substituição de seu

pai, Caetano Tomás (Mardel falecera em1763) 8, no qual se manteria até à sua morteem 1802. O concurso realizado em 1803, em-bora já fora do espaço cronológico por nósproposto merece, também, ser incluído nes-te resumo, pela quantidade de informaçãoque nos dá sobre uma geração de arquitec-tos activos nas últimas décadas do séculoXVIII: Francisco António de Sousa, filho deManuel Caetano de Sousa, Joaquim de Oli-veira (que viria a falecer enquanto decorriao concurso) 9, seu filho Henrique Guilhermede Oliveira 10, o Tenente Coronel do RealCorpo de Engenheiros, Joaquim de Oliveira(homónimo do arquitecto real), e o filho deEugénio dos Santos, José Manuel de Carva-lho Negreiros, Sargento Mor do mesmoReal Corpo de Engenheiros. É precisamen-te sobre este último que esta documentaçãose afigura importante, em especial no quediz respeito à formação de José Manuel deCarvalho Negreiros. Sendo já conhecida asua importante actividade teórica e prática,ela esclarece-nos, em parte, sobre os anos

Ele mostra ainda que, tal como hoje, as diferentes entidades nem sempre actuavam em concordância.

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que passou em Itália. A sua petição, datadade 4 de Janeiro, mostra-nos como era já fi-gura de relevo na Corte, estatuto de que es-tava perfeitamente consciente : " Cavaleiroprofesso em S. Bento de Avis, Architeto daReal Caza das Obras dos paços desta Cortee Reyno e senado da Camara desta Cidadede Lisboa, vem requerer a Vª Alt. Real o car-go de Architeto da Meza da Consciencia eOrdens. Todos ajuntarão varios papeis aosseus requerimentos o q. o supplicante nãofez por ser m.to conhecido nesta Corte; e to-dos o saberem q. exercita o emprego de Ar-chiteto desde o anno de 1776 q.do se reco-lheo dos paizes estranhos por ondeestudou, e viajou; a fim de não ficar confun-dido pelos outros pertendentes, e fazer pa-tente a sua justiça, aprezentou agora os do-cumentos juntos pelos quais se conheceráos fundamentos em q. o supp.te se estriba.Os dois primeiros mencionados [Frº Antó-nio de Sousa e Joaquim Guilherme de Oli-veira] aparecerão feitos Architetos à m.topoucos mezes, os quais talvez não terão tan-tos annos de nascidos q.tos o supp.te tem deeffectivo exercício em campos de tanta pon-deração; e o sobrd.ª pertend.te Tenente Co-ronel nunca foi Engenheiro Civil; e supposter sido encarregado da factura das Estra-das, nada tem isto que fazer com os conhe-cim.tos precizos pª a factura de Igrejas,Conventos, Palacios; e o supp.te como justi-fica habilitouse na Architetura Militar e Ci-vil, e tem exercido huma e outra, o q. constados Docm.tos juntos. José Ma.el de Carva-lho Negreiros." Isto mesmo é comprovadopelas testemunhas que apresenta, paraalém de cópia dos ofícios da rainha D. Ma-ria a nomeá-lo Medidor das Obras dos Pa-ços Reais 11, bem como arquitecto dos ditosPaços e Quintas fora deles 12:o Conde deSoure 13, o Marquês de Penalva, do Conse-

lho da Rainha e Junta dos Três Estados 14, oConde de Ega do Conselho de sua Mages-tade, alcaide das Vilas de Guimarães e Sou-re, Deputado da Junta dos Três Estados 15,Diogo Inácio de Pina Manique 16, o Marquêsde Castelo Melhor 17 João Angello Brunelli,astrónomo pensionario de S. Magestade eLente de Matemática na Real Academia daMarinha, Jozé Izidoro Olivieri, Reitor doColégio dos Nobres. São estes dois últimosque atestam a sua passagem por Italia. Oli-vieri afirma que "por noticias certas que te-ve J.M. Carv. Neg. esteve perto de 5 annosem Florença e daí passou para Roma, tendovisto tb algumas cidades de Italia". Maiscompleto é o testemunho de Brunelli : "cer-tifica que passando em Florencia em 1773 vie conheci J.M.Carvalho Negreiros na com-panhia da caza de Zenobio Rossi, architetoCivil de nome distinto naquella cidade emtempo que exercitava com elle muito seria-mente, em grande proveito no estudo da ar-chitetura civil. Certifico tb em como estan-do em roma no anno de 1776 muitas vezesouvi falar do dito J.M. como de quem tinhajá acabado naquella capital os estudos dearchitetura civil com o celebre Pedro Cam-possi e tinha adquirido a fama de perito nasua profissam como com effeito o tem de-pois mostrado com muitos desenhos de suainvenção, assim de architetura civil comode architetura militar que tenho visto". Nãoconseguimos apurar quem eram, de facto,Pedro Campossi e Zenobio Rossi. Apesarda vulgaridade do apelido seria este últimoparente de João Gerardo de Rossi, que cons-ta ter sido escolhido por Portugal para diri-gir a Academia de Belas Artes que fundaraem Roma 18? Regressado a Portugal em1776, e de acordo com a declaração do Mar-quês de Penalva que o dá em Itália por oitoanos, Carvalho Negreiros terá saído do país

por volta de 1768. Apesar do imenso curri-culum que apresenta, uma consulta efec-tuada pela Mesa ao Desembargador Geraldas Ordens, datada de 22 de Janeiro de 1803(que defende que nem sempre os cargos de-vam ser hereditários, dependendo da expe-riência dos candidatos), mostra que a pre-ferência vai para o Tenente CoronelJoaquim de Oliveira 19, embora em 1804 fos-se escolhido Francisco António de Sousa 20,herdando o mesmo lugar de seu pai e avô.Continua-se, assim, uma tradição que,transmitindo conhecimentos e cargos degeração em geração (atestando o reconheci-mento, por parte dos monarcas, do valor eda lealdade demonstrada por esssas famí-lias de artistas), remonta pelo menos ao sé-culo XVI.

1 A.N.T.T. – Mesa da Consciência e Ordens, Ofícios,Maço 12, "Arquitectos".2 Ibidem. Parte desta documentação foi já por nós apre-sentada, a propósito do concurso de 1697. CAMPOSCOELHO, Teresa de "Um concurso para o provimen-to do lugar de arquitecto das Ordens Militares – Apropósito de um curriculum do Padre Francisco Tino-co da Silva", in Revista Monumentos, nº 7, Lisboa:Setembro de1997. Sobre as obras e arquitectos das Or-dens Militares em período filipino, cif. SORUME-NHO, Miguel, "Os grandes programas arquitectóni-cos filipinos para as Ordens Militares e o Mosteiro deSantos-o-Novo", in Revista Monumentos, nº 11, Lis-boa: Setembro de 2001,pp. 19-23.3 Como comentámos na altura, o prestígio de João An-tunes devia ser enorme, pois foi nomeado concorrendosó com uma obra. Mesmo o facto de já estar a exercer ocargo de arquitecto das Ordens, desde 13 de Dezembrode 1696, até 7 de Setembro de 1697 (18 meses e 20dias), conforme se pode ver nos documentos, não expli-ca a sua nomeação, pois Manuel do Couto servia jánesse cargo desde longa data, como ajudante e substi-tuto de seu pai, Mateus do Couto.4 Manuel do Couto alega que "he arquitecto há mais de26 anos, em contínuo trabalho e exercício das medi-ções, não só militar como de architectura civil, em quese exercitou sete anos, arqº e Mestre dos Paços de Al-meirim, Salvaterra de Magos, e Mosteiro de Nª Srª daVitória da Batalha, obras de Santa Clara de Coimbra eErmida da Esperança"; Manuel da Maia alega ser"sargento mor e engº ajudante no quartel q. foi repar-tido ao M. Alegrete pª defesa desta cidade, servindo de

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apontador das obras do dito quartel. Em 1703 foi à Pra-ça de Estremoz com Francisco Pimentel e tudo o q. ne-cessitava, riscando as plantas e tirando as medidas doterreno com muito acerto e inteligência, conduzindo em1704 por ordem do secretario Roque Monteiro Payamdesta corte the a Villa de Santarem hum regimentoolandes e daí até à Villa de Abrantes e nesse mesmo an-no foi para essa villa assistir á obra de fortificação queestava feita e acompanhar o Conde Apozentador Mor áCampanha da Beira com a ocupação de arquitecto daCasa das Obras dos Paços. Em 1705 assistiu na Cam-panha do Alentejo no exercito que saiu no 1º de outº as-sistindo a se levantar huns redutos, q. se mandaram fa-zer á borda do Guadiana"; Joseph Pinheiro da Silvaalega ser "sargento mor Architeto na Casa das Obrashá mais de 12 anos, fazendo tudo o q. lhe mandarão,tendo frequentado as aulas, sendo o mais antigo e haversido examinado em varias sciências,geometria, trigono-metria e seus fundamentos e as mais materias de Mate-matica precizas á sobredita obrigação"; João Baptista deBarros alega "ser architeto civil e militar, de concorrernele todos os requezitos necessarios pª bem poder exer-citar o dº lugar por ser perito e muito pratico, comoconsta da certidâo do lente da Aula de fortificação queofereci, e da carta q. o senado da Câmara passou comoarchiteto da cidade". Com efeito, testemunham Domin-gos Vieira que diz ser ele"architeto civil vay para tresannos q. continua na dita aula estudando architeturamilitar – artilharia, astrologia, geometria, expeculativae pratica" e o Conde Prezidente vereador das Obras daCidade de Lisboa e procuradores dos misteres dellas quefazem saber "aos que esta carta virem q. perante nós pa-receu por sua petiçam Joam Bautista de Barros Archi-tetto Civil e Militar q. por fallecimento de Joam Antu-nes architetto da Cidade q. esteve para (...) e q. nosuplicante concorriam os requezitos necessarios parabem servir o dito lugar como consta na certidam pedin-donos q. atendendo a capacidade do suplicante e a de es-tar servindo no officio de M.e Carpinteiro da Cidade lhefizessem mercê de provir no dito lugar de architetto dacidade"; Joseph Roiz Ramalho diz ser "medidor dasobras de Sª Mag.e, serve na Praça de aprender architet-tura civil há 20 annos e muita experiencia em architet-tura e mediçoens"; Carlos Baptista Garvo diz ser "mes-tre pedreiro e architetto e ter requezitos necessarios porser muito perito como poderá constar". 5 Diz ter "os requezitos pª o dº Lugar, assim pela scien-cia do risco, como pella operação manual, e exercícioaritmetico q. he muito util pª a medição das obras, e emtodas as mais disposiçoens necessarias". Apresenta co-mo testemunhas Manuel Antunes e Domingos No-gueira pedreiros e juizes do dito ofício "certificamos q. ospp.te e mais perito q. qualquer edeficio q. se lhe offere-cer assim de templos como de palacios e experiente naarte de debucho para os adornos dos d.ºs edeficios exe-cutor em pedra lavrada, aritmetica e todas as sciênciasreferidas assim pelas obras q. lhe temos visto deleniar".Esta afirmação está de acordo com o que dele diz Ayresde Carvalho, que o dá como arquitecto e pintor de óleo,trabalhando na Capela dos Agonizantes em S. Roque, ena de S. Joaquim e de Sant’Ana no Convento de NossaSrª do Carmo (in D. João V e a Arte do seu tempo, Ma-

fra:1962, vol. II, pp. 234 e 235. Era ao tempo, represen-tante da Casa de Aveiro, a 6ª Duquesa, D. Maria Gua-dalupe de Lencastre, irmã dos 4º e 5º duques. Casadacom D. Manuel Ponce de Leon, conde de los Arcos, delese divorciaria para regressar a Portugal na companhiado seu 2º filho, e tomar conta do título. 6 AYRES DE CARVALHO, opus cit., vol. II, p. 99"Vade-mécum dos arquitectos reais de 1580 a 1750".7 É muito interessante o teor desta certidão pois confir-ma-nos os nomes, para além de Rodrigo Franco, de ou-tros medidores reais "José Sanches da Silva, CarlosMardel, Cap. Rodrigo Fr.º, e Ajudantes Eugénio dosSantos e Carvalho, Elias Sebastião Poppe e M.el daCosta Negreiros todos os 6 juntos unanime e indiferen-temente meçam e avaliem por inteiro não só suas reaisobras mas as q. forem feitas pelos Tribunais desta Cor-te. 13 de Agosto de 1745. Ordem de Sua Magestade".8 "O supp.e tem por exercício o mesmo emprego concor-rendo mais na sua pessoa sciencia pratica adquerida emtodos os actos a q. asestia em companhia de seu pay co-mo seo ajudante recorre a real benignidade de V.Mag.de se digne provello no emprego de Architeto doRegio Tribunal da Meza da Consciencia e Ordens Mil-litares para assim milhor poder acudir ao dezamparoem que fica a sua caza".9 Que, em requerimento datado de Junho de 1802, seapresenta como "Architecto de V. ª do Conselho daReal Fazenda e da Real Junta do Commercio e Medidordaos Paços Reais pela Caza das Obras, e das Publicas q.tendo servido 49 annos nos ditos empregos".10 Que se apresenta como "architeto do Real Conselhoda Fazenda, Agoas Livres e Medidor das reais Obras,tendo servido já nas mesmas Ordens na planta do Con-vento de Palmela".11 21 de Outubro de 1778, que vagou por falecimento dosargento Mor Ellias Sebastião Poppe. 12 4 de Março de 1788, "tudo na forma do 1º architetoMateus Vicente de Oliveira", auferindo 425 mil reispor ano.13 Diz D. João da Costa Patalim : "desde 1776 serve naReal Casa das Obras em diversos empregos e oficios co-mo medidor encartado, 2º Architeto, encartado, talen-tos estudos e aplicação praticados em Italia, onde estevem.tos annos fazendo despezas à sua custa para poderutil a sua Patria e aos Estados, fizera com que fosse cha-mado por Sua Magestade para esta Repartição e tb porser filho do Capitam Eugenio dos Santos de Carvalho q.igualmente foi 2º Architeto da referida Caza das Obrase q. se distinguiu sempre no serviço de Sua Magestade,tanto nesta provincia como na do Alentejo".14 "atesta q. esteve 8 annos em Italia e estuda architetu-ra Civil e Militar. Tem dado manifestas provas da suahabilidade em diversos riscos da sua invenção e deze-nho, q. tem aprezentado nesta Corte".15 Diz Ayres de Saldanha e Albuquerque CoutinhoMattos Noronha "q. o nomeou em tudo o que diz res-peito ao seu emprego, na Repartição como InspectorGeral do Provimento do Exercito tanto nas Comissõesparticulares, como na Direcção Geral do Cantonamen-to das Tropas Britanicas Auxiliares".16 Atesta que " desempenhou incumbências pertencen-tes à Comodidade e interesse do Publico".

17 Atesta que "foi servido mercê da Propriedade Vitalí-cia de Ofício de Architeto das Obras da Cidade (...) oqual vagou por morte de Remígio Frº sendo obrigado ahir prontamente a todas as vistorias respectivas àsobras que no Senado se mandar fazer e às de utilidadepublica para que for chamado (...) e fará todas as plan-tas e desenhos que o mesmo Senado lhe encarregar noserviço da cidade gratuitamente e só nas vestorias daspartes que devem pagar custas haverá o que lhe tocar elhe pertencer...".18 Nascido em Roma em1754, a sua actividade como li-terato e crítico de arte inclui as biografias de vários ar-tistas, nomeadamente de Angelica Kaufmann.19 "são quatro os opozitores ao Lugar de Architeto dasOrdens Militares. Não trato do 1º requerente, Joaquimde Oliveira, architeto do conselho da real Fazenda por-que a morte pos termo com a sua vida as suas perten-ções. Segue-se tratar de Frº Antº de Souza, filho do aci-ma referido M.el caetano de Souza; porem na certeza deq. semelhantes empregos não podem ser hereditarios,não he elle conceituado de maneira q. por ora se possaencarregar de obra de consideração. O Sargento Mor doReal Corpo de Engenheiros se acaso não concorressecom o ultimo pertendente, Joaquim de Oliveira, Tenen-te Coronel do M.to Real Corpo, deverá, a meu ver, sercontemplado, porem o credito e Geral Conceito do ulti-mo he tão bem confirmado entre todos, o seu mereci-mento tão distincto e as suas fadigas em tão importan-tes obras como são as que tem sido encarregado sobresahindo sobre todas as que passou na construção das es-tradas, as unicas que tem o Reino, o fizeram preferir atodo qualquer que com elle e opozitor. Lisboa, 22 de Ja-neiro de 1803, Antº Jozé Gusmão."20 Segundo decreto do Palácio de Queluz datado de 31 deJunho, e confirmado pela Mesa em 6 de Setembro domesmo ano. Em 18 de Junho de 1815 Francisco Antóniode Sousa pede licença pou um ano, para se deslocar aoRio de Janeiro "em negócios da sua caza". Uma petiçãodatada de Outubro de 1817 mostra que teria sido envol-vido numa conspiração "Diz Frº Antº de Souza presona cadeia desta Corte que pella sentença proferida naCommissão Ordenada para julgar os reos compreendi-dos na conspiração descoberta nesta capital que agora sefez publica pela imprensa foi condenado em degredo per-pétuo para Angola e confisco de bens sem que porem fos-se(...) das suas honras e privado de empregos que temexercido por Mercê real immediata, o que prova q. nãofoi julgado traidor ou cumplice na mesma conspiração.E porq. ao suplicante se estão devendo os quartéis deMarço, Junho e Setº ...". Por carta de 7 de Abril de 1818seria investido no cargo João Diogo Passos Peixoto, ape-sar de em 1821, Francisco António de Sousa ter pedidopara ser admitido, de novo, no referido emprego, o quelhe é negado pelo Rei em Agosto de 1822 tendo-lhe sidoconcedido, apenas, vencimento como militar.

TERESA DE CAMPOS COELHO,Arquitecta, mestre e doutorada em História da arte.

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A Associação Portuguesa dos Amigos dosCastelos (APAC), actualmente sedeada noForte de S. Bruno em Oeiras, nasceu em1983. Quase 20 anos depois, a APAC conti-nua a alertar para a necessidade de preser-var o Património Histórico e Militar, atra-vés de diversas iniciativas que obriguem aesta tomada de consciência.O património edificado como sejam os cas-telos, fortalezas, praças fortes, atalaias ouestradas romanas é o objecto de estudo des-ta associação que, não sendo uma institui-ção interventiva, procura divulgar e alertar

para a salvaguarda do nosso património,junto das entidades com responsabilidadesnesta matéria.Em entrevista à Pedra & Cal, Francisco Sou-sa Lobo, presidente da APAC, dá a conhe-cer os projectos, as conquistas e os sonhosde uma associação que ainda se considera"muito jovem".

Pedra & Cal: A APAC está quase a festejar ovigésimo aniversário. Qual o balanço quefaz destes primeiros 20 anos de actividade?Francisco Sousa Lobo:Bem, posso dizer que

o balanço é positivo. Mas também não faltoà verdade se afirmar que a APAC, mesmocom quase duas décadas de existência, ain-da é uma associação muito jovem. Uma as-sociação demora muitos anos a criar, massinto que a APAC está a desempenhar umpapel importante. Convém salientar quenós não fazemos marketing nem elabora-mos estratégias de divulgação. Portanto,trabalhamos em "silêncio" e esta é a nossaestratégia. É uma rede de divulgação silen-ciosa. Aliás, achamos que o crescimento rá-pido é perigoso e efémero. O património ésilêncioso. São séculos de camadas de acti-vidade de várias pessoas. Portanto, deve-mos ter uma mentalidade apropriada. Estanão é uma área de intervenção rápida, éuma área que tem de ser lenta, mas consis-tente. Não pode haver conflitos entre as di-versas entidades ligadas ao património. Po-de haver divergências, existir oposição, masnão pode haver conflito. Nunca se podequebrar o diálogo entre entidades do patri-mónio, porque o património é uma coisaque só pode ser sustentada com a opiniãode todos, mesmo sendo contraditória. Pedra & Cal:Ainda assim, a APAC tem con-seguido cumprir os seus objectivos. Umdesses objectivos passava por atingir osdois mil associados a curto prazo. Actual-mente a Associação tem 2200 associados.Qual a estratégia para a motivação?F.S.L.: Penso que está relacionado com anossa abordagem, com a forma como inte-ragimos com as pessoas. Conseguimos ali-ciar os nossos associados criando um siste-ma de visitas de estudo muito intenso, queestá a dar resultados excepcionais. Nós temos, de longe, o maior programa deactividade de todo o país. Não existe nenhu-

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20 anos de actividade com o mesmo objectivo:

ENTREVISTA

Entrevista aoEngenheiro Francisco Sousa Lobo

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ENTREVISTA

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ma associação ou entidade não governa-mental que realize o número de eventos quenós realizamos. O que é que fazemos? Cria-mos um sistema de visitas de estudo em Lis-boa, em todo e país, e também no estrangei-ro. Possuímos estas três valências (emLisboa, durante a semana; no resto do país,aos fins-de-semana; e lá fora, todos os tri-mestres). Este programa permite às pessoastomarem contacto com o património o sufi-ciente para terem vontade de o proteger. Este é um dos segredos. Por exemplo, pos-so dizer que vamos à Índia, ao Brasil e a Mar-rocos todos os anos. Andamos a ver as forti-ficações na área do Mediterrâneo. As nossasvisitas têm também a vantagem de seremacompanhadas pelos técnicos locais. Já for-mamos várias redes de técnicos em diver-sas áreas que nos permitem um contactomuito mais próximo com os nossos locaisde visita. Pedra & Cal: Mas as visitas de estudo nãojustificam a entrada de associados na totali-dade. Que outras iniciativas poderão levarao associativismo?F.S.L.: Nós procuramos oferecer um lequevariado de opções, todas relacionadas como Património Histórico. Por exemplo, orga-nizamos todas as quintas-feiras palestrasnas instalações, sobre as mais diversas te-máticas. O nosso objectivo é envolver aspessoas de todas as áreas de actividade, nãotemos uma visão elitista do património.Procuramos ser uma estrutura que atraves-se a sociedade na horizontal, digamos nadiagonal para compreender toda a gente, edefendemos que todos podem desempe-nhar um papel na preservação do patrimó-nio, mesmo aqueles que têm menores ní-veis de escolaridade.Um outro exemplo que ilustra o nosso tra-balho são as acções que estamos a levar a ca-bo junto das Câmaras Municipais. Estamosa tentar, com o apoio das autarquias locais,organizar cursos de formação, cujo objecti-vo é dotar potenciais "guias" que vivam per-

to dos monumentos e que estejam disponí-veis para os vigiar e para os dar a conhecercomo pontos turísticos.A primeira tarefa passa sempre por "entre-vistar" estas pessoas e apurar os seus níveisde conhecimento. Suponhamos, que se tra-ta de um homem, analfabeto, de 68 anos,que foi agricultor. Este homem sabe, comcerteza, os nomes das plantas, das árvores,das aves e, provavelmente, os nomes da to-pografia do local, das pedras, da paisa-gem... Nós podemos tentar apurar o saber destapessoa e depois arrumar-lhe as ideias. Por-

tanto, juntar alguma informação de basecientífica e ensinar a pessoa a "guiar" visi-tas, baseado nos seus saberes e nos "nossos".Estamos a falar de algumas datas ou algunsnomes de entidades ou reis que tenham aver com o castelo. Por exemplo, algumastécnicas construtivas, mostrar umas ima-gens dar a conhecer quais são os pontos for-tes daquele monumento.Pedra & Cal: Este projecto está a ser imple-mentado em todo o País? F.S.L.: Por enquanto ainda estamos a iniciaras experiências-piloto. Ainda estamos aapresentar a "ideia", usando alguns argu-mentos que me parecem importantes: aspessoas que estão nos concelhos podem serguardas e guias do património, estamos atentar que sejam os próprios autarcas a pe-

dir-nos a formação necessária porque nósnão temos, neste momento verbas disponí-veis. Por outro lado, é necessário que estainiciativa seja divulgada, porque estas coi-sas só avançam na prática quando começa ahaver massa crítica. Outra necessidade pas-sa por fazer planos de manutenção e conser-vação para os espaços fortificados. Ora o queé um plano de manutenção e conservação?No fundo é passar para papel e rever de umaforma muito concreta os sistemas de conser-vação e manutenção desses espaços que sãoos castelos e as fortalezas. Normalmente asautarquias ou o próprio IPPAR têm algu-

mas soluções expeditas para tentar conser-var as muralhas, ou os espaços interiores aosfossos, mas não têm uma rotina instalada. É fundamental avaliar todas as forças dis-poníveis: quais são as tarefas que têm de serfeitas e podem ser feitas por empresas espe-cializadas? quais são as tarefas que podemser feitas pela estrutura da própria autar-quia? e quais são as tarefas que vão ser en-tregues aos voluntários? E isto tem de serfeito de uma forma organizada. O que temos tentado fazer é esta conjuga-ção de esforços, em que as pessoas se com-prometem a fazer determinadas tarefas, emdeterminadas alturas do ano, de uma for-ma planeada. Isto é um passo enorme em frente porque sepercorrer o país, repara que a conservação

Divulgar o Património Histórico

Não pode haver confli-tos entre as diversasentidades ligadas aopatrimónio. Pode ha-ver divergências, exis-tir oposição, mas nãopode haver conflito.

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de rotina, a manutenção dos castelos e dasfortalezas é feita de forma errática. Como sesabe... lá se lança uma campanha, lá se fazuns restauros, e depois aquilo vai decaindooutra vez. Nem sempre as coisas se man-têm. São raros os castelos e fortalezas quetêm uma manutenção permanente. A ma-nutenção permanente seria feita até ao graude disponibilidade possível. Não estou a fa-lar de intervenções de restauro e conserva-ção técnica que já é muito mais profundo.Estou a falar daquilo que se passa antes dis-so e depois disso. E este é um passo em fren-te muito grande e obriga à própria forma-ção das pessoas. São dois aspectos muito concretos do quetambém fazemos. Pedra & Cal: Outro dos projectos da APACpassa por construir um site específico sobreCastelos e Fortalezas...F.S.L.: É verdade! Trata-se de um projectoalgo ambicioso. Temos de fazer algumasparcerias, se calhar com as universidades etambém com as autarquias para levar istopara a frente. É um projecto difícil porquehá muita informação que circula em livros eem documentos que não está correcta. Con-sidero uma enorme responsabilidade colo-car dados na Internet. O que for posto temde ser dotado de conhecimento científico,actualizado e correcto. E isso está-nos a atra-sar e a fazer com que demore mais tempo alançar o site. Esse site também prevê espaços para a opi-nião das pessoas que visitam os castelos. Es-tas pessoas podem dar pontuações aos mo-numentos. Nós queremos montar o sistemade forma a que no fim do ano, nós possamospremiar as entidades que tem o patrimóniomais bem conservado e chamar à atençãoaqueles que têm as coisas menos bem con-servadas. Uma espécie de prémio limão e la-ranja. Acho que isso é muito estimulante.Pedra & Cal: Enquanto Presidente daAPAC, quais considera serem os problemascom que se debate o Património português?

F.S.L.: Em Portugal, não temos uma culturade previsão, de planeamento a prazo. O queé que acontece? Nós não fazemos os projec-tos com antecipação. Portanto, as autar-quias e as entidades competentes andam afazer investimentos apressados porque asverbas europeias, os fundos europeus, têmprazos muito curtos e como não temos osprojectos feitos com antecedência, na maio-ria dos casos, o que se passa é que se arran-jam projectos da facilidade. O que está aacontecer em Portugal começa a ser grave.São projectos para gastar dinheiro e tentardar um jeitinho, mas não se vai ao fundo dasquestões. Por outro lado, temos uma enor-me carência de técnicos especializados emrestauro. A maior parte da formação das es-

colas de arquitectura são orientadas no sen-tido do projecto. Temos bons arquitectospara projectos mas para restauro, as filoso-fias são completamente diferentes e nós te-mos assistido a intervenções muito más emcastelos e fortalezas, porque são interven-ções muito intrusivas. Ora o que se preten-de é exactamente o contrário, por isso aAPAC tem desenvolvido todos os esforçospara fazer passar esta mensagem. Outro problema passa pelo défice nas che-fias intermédias que muitas vezes não assu-mem as suas responsabilidades e passam oproblema para cima. Temos que aprendertodos a fazer uma cadeia de decisões e deplaneamento, apelar aos níveis intermédiose ter, de preferência, pessoas muito compe-tentes lá "em cima". Como é que nós vemosque isto não está bem? Porque isto se repetepor todo o país. Mesmo os programas de ní-vel regional e autárquico, têm os mesmosvícios dos programas feitos pelos departa-mentos de Estado. E, portanto, neste mo-mento, o problema não é os castelos estaremabandonados, o problema é os projectosque estão a ser feitos, muitos deles não sãoadequados ou não são os mais necessários.E também há os castelos abandonados masjá não há muitos porque os castelos estãomuito na moda. Não há autarca nenhumque não queira pôr a mão num castelinho eisso é bom. Mas depois é preciso conciliaresse desejo.Pedra & Cal:Por falar em desejo, como é quegostaria de ver a APAC daqui a 20 anos?F.S.L.:Bem, eu gostaria de ver o sistema queestá a ser montado caminhar por si próprio.Existem áreas que já funcionam em "auto-mático". O que procuro é criar áreas em au-tomático e depois ir canalizar a minha aten-ção para as áreas novas.

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 200228

Entrevista realizada porALEXANDRA ABREU .

Temos que aprender todos afazer uma cadeia de decisõese de planeamento, apelar aosníveis intermédios e ter, depreferência, pessoas muitocompetentes lá "em cima".

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OPINIÃO

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Algumas notas sobre Luís Serrão Pimentel"O Methodo Lusitano de Desenhar as Forti-ficações das praças Regulares e Irregulares"corresponde à natureza de um verdadeirotratado de edificações militar, tendo marca-do todo um conjunto de gerações de Enge-nheiros e Arquitectos que se arrastaram atéao final do séc. XIX princípios do séc. XX.Luís Serrão Pimentel, seu autor, é tambémresponsável de dois estudos de natureza di-ferente: Roteiro do Mar Mediterrâneo, de1675, e Arte Prática de Navegar, de 1681.Estudou no colégio dos Jesuítas de Stº An-tão a arte de fortificar, assim como matériasque a suportaram, designadamente a Ma-temática e a Geometria.Fundador em 1614 da Aula de Artilhariaem 1641 (1), Pimentel leccionava Matemáti-ca, Ciências Militares e Cosmografia dado asua qualidade de cosmógrafo-mor, cargopara o qual foi nomeado em 1667.Como militar, e na qualidade de engenhei-ro-mor do Exército em 1663 do Alentejo,participou num conjunto de batalhas no-meadamente na Linha de Elvas, tendo tam-bém intervido activamente nas fortifica-ções raianas de Elvas, Mourão como emmuitas outras como são exemplo Estremoz,Castelo de Vide e Portalegre.O saber da prática aliado à teoria dos seusmanuscritos como o "Tratado da Opugna-ção, e a defesa das praças" servia de métodode ensino, cujo um dos objectivos assenta-va em duas abordagens ao projecto da for-tificação sempre suportados por regrasgeométricas, conferindo um carácter ope-rativo a este processo de abordagem, semnunca, no entanto, perder o enquadramen-to de Ciência e simultaneamente de arte. Aprópria Arquitectura Militar passa a ser en-tendida como ciência e consubstanciando afortificação da "praça".O sentido de fortificação é, neste caso, trans-

posto para o sítio que irá determinar o as-sentamento urbano ou a própria manuten-ção das estruturas urbanas preexistentes,comportando toda uma reflexão sobre asinfra-estruturas de suporte incluindo osmecanismos de segurança, neste caso dedefesa, incidindo as suas preocupações naregularização dos polígonos irregulares.Pimentel é sem dúvida um homem de ciên-cia, que tem uma visão dinâmica do territó-rio, cujo formação e investigação deu lugarà tratadística, que se autonomizou na sua

obra fundamental, sem no entanto nuncaperder o carácter didáctico exercido querpela docência quer como engenheiro deobras militares.

1 Posteriormente denominada de Aula de Fortifica-ção e Arquitectura Militar funcionava na Ribeiradas Naus.

JOÃO SOUSA MORAIS,Arquitecto e Professor da F.A. – U.T.L.

Tema de Capa

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Pub Sociedadede Construções

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PROJECTOS E ESTALEIROS

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A execução de um levantamento, contí-nuo em termos espaciais, pode ser um re-quisito fundamental para estudos que sepretendam fazer de uma construção. Talrequisito torna--se essencial quando se li-da com o património construído protegi-do quer numa perspectiva de engenhariaquer arquitectónica ou artística, porque,para o sucesso da intervenção, é necessá-rio planear sobre uma base gráfica fiável erepresentativa do objecto.Concebida para um campo vasto de apli-cações, a fotogrametria permite o levan-tamento rápido e fiável de edifícios, mo-numentos e outras construções, servindode base para o levantamento dos seus ma-teriais e anomalias. Baseado na observa-ção e registo fotográfico do mesmo objec-to de dois ou três ângulos diferentes, olevantamento fotogramétrico permite areconstituição de um objecto tridimensio-nal a partir de imagens bidimensionais.Exemplifica-se, adiante, um caso em queo levantamento fotogramétrico consti-

tuiu uma ferramenta importante para aelaboração dos estudos da conservaçãode fortificações.Estudo 1 – "Elaboração do projecto de exe-cução para consolidação e reforço da mu-ralha nascente do Forte de S. Sebastião".Este estudo, solicitado à Oz pela CâmaraMunicipal de Castro Marim, compreen-deu as seguintes fases:1. Levantamento da geometria actualiza-da da muralha e da topografia do terrenoonde está implantada;2. Avaliação da capacidade resistente damuralha sob o efeito de acções sísmicas;3. Elaboração do estudo prévio;4. Elaboração do projecto de execução, doprocesso de concurso para o lançamentoda empreitada e do plano de segurança ehigiene da mesma.Neste estudo, o levantamento fotogra-métrico do troço da muralha, comple-mentado com o levantamento topográfi-co da sua envolvente, permitiu realizarum conjunto de registos gráficos (planta,

secções e alçados), que serviram de su-porte para a localização, qualificação equantificação das diferentes anomaliasexistentes na construção, assim comoilustrar diversas hipóteses para a suaconsolidação e reforço.Dada a necessidade de definir acções cor-rectivas para as zonas com anomalias (taiscomo desagregação e destacamento de re-bouco, juntas abertas, fissuração, etc.), ti-rou-se partido do levantamento fotográ-fico digital realizado, com a sua aplicaçãosobre o modelo tridimensional gerado, oque permitiu obter alçados com a infor-mação textural e o registo expedito dasanomalias observadas no local.Nas Figs. 1, 2 e 3 apresenta-se os registosgráficos realizados durante as diferentesfases do estudo.

Fotogrametria do troço de muralha doForte de São Sebastião

PAULO AIRES, Arquitecto da OZ.

Fig. 1: Levantamento fotogramétrico com a produção de uma ortofoto do troço da muralha (em cima).

Fig. 2: Registo de anomalias (em cima à direita).Fig. 3: Apresentação de uma hipótese para

a consolidação da muralha (em baixo à direita).

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O concurso, promovido pela Câmara Muni-cipal de Óbidos e pelo I.P.P.C., teve comoobjectivo a valorização da cerca do castelo (anorte do antigo Palácio dos Alcaides e actualpousada) e o seu enquadramento paisagísti-co, em particular, as encostas poente e nas-cente do castelo, dentro de um vasto perí-metro de intervenção que também englobaa capela da Sr.ª do Carmo, ou Mocharro, mo-numento classificado.O projecto baseou-se na ideia dos centroshistóricos como locais de oferta de serviços,equipamentos, e de qualidade de vida, exi-gindo a modernização de velhas estruturase também a sua reutilização como objectosde contemplação cénica, lúdica e cultural.Admitia também a possibilidade de traba-lhar "sobre" o património como acto criati-vo, valorizando-o, respeitando-o e aceitan-do a necessidade estimulante de introduçãode novos elementos construídos, percursos,edificações, muros, árvores, pavimentos eiluminação como trabalho de valorizaçãointegrado.

Propostas do programa: 1. Organização de um novo acesso à portaNorte da Cerca do Castelo através de umelevador "funicular", e de caminhos de

peões. Restruturação da estação de cami-nhos-de-ferro, e criação de zona de parquea-mento, junto do Rio Arnoia, para serviço doacesso ao funicular e caminhos pedonais.2. Restruturação da cerca criando um anfi-teatro de ar livre para 250-300 pessoas; umcafé snack-bar e esplanada abrindo sobre anova praça; espaços arborizados e percur-sos pelas muralhas do castelo; espaços paraespectáculos de ar livre, aproveitando e ex-plorando o cenário constituído pelo própriocastelo, suas muralhas e a paisagem do con-celho de Óbidos.3. Recuperação para núcleo museológico daCapela de N. Srª do Carmo – Mocharro – e asua ligação à vila através de uma escadariatraçada a cordel e um caminho sinusoidal(serpentina), descendo pela encosta a partirda porta Poente.4. Tratamento paisagístico da encosta poen-te e criação de caminhos de peões.A primeira fase, no interior da cerca, já se en-contra concluída. A segunda fase será cons-tituída no interior da cerca pelo café-restau-rante, esplanada e sua "praça de estar", e noexterior da cerca, pelo acesso da cota baixa(funicular), pela zona da capela da N. Sr.ª doMocharro e do campo da bola e da escadariaem serpentina de ligação à capela.

Valorização da cerca do casteloda Vila de Óbidos

PROJECTOS E ESTALEIROS

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CÂMARA MUNICIPAL DE ÓBIDOS

Instituto Português do PatrimónioCultural (I. P. P. C.)

Projecto vencedor em concurso público de ideias (Março de 1991)Projecto iniciado em 1993 e concluído em 1996

1ª FASE – Obra iniciada em 1997 e concluída em 2000

2ª FASE – Obra a iniciar em 2002 e a concluir em 2004

EQUIPA DO PROJECTO

Arquitectura e Coordenação: Prof. Arq.º José Manuel Ressano Garcia LamasColaboração: Arq.ª Maria Luísa Lucas Rodrigues Pires Lamas, Arq.º Ricardo Back Gordon, Arq.º Carlos Vilela Lúcio (fase concurso), Arq.º Nuno Freitas Lopes e Arq.ª Margarida Bernardo (projecto execução)Fundações e Estruturas:Eng.º José Heitor Pontes NunesInstalações de Águas, Esgotos e Drenagens:Eng.º Adelino José Barradas LeitãoInstalações e Equipamentos Eléctricos:Eng.º Rúben Manuel Correia SobralArquitectura Paisagística:Arq.ª Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires Instalações e Equipamentos Mecânicos de AVAC:INSTEC – Eng.º Celestino Viegas Rodrigues.Construtor (1ª fase): Orlando Domin-gos dos Santos, Lda

Custo total (1ª e 2ª fases): 2.600.000 euros

Exposições / Publicações:Exposição dos projectos premiados nas instalações culturais da CâmaraMunicipal de Óbidos – 1991Referências em diversos jornais, com destaque para o semanário Independente de 22 de Março de 1991

Fig. 1

Fig. 2

Fig. 3Fig. 4

Fig. 1 e 2: Cerca do Casteloda vila de Óbidos.

Fig. 3 e 4: Planta do Castelode Óbidos.

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Capela de S. Sebastião.

PROJECTOS E ESTALEIROS

Obras de Recuperação e Reabilitação noMuseu Condes de Castro Guimarães e naCapela de S. Sebastião, em Cascais, efectua-das pela MIU – Gabinete Técnico de Enge-nharia, Lda.A MIU é uma empresa de construção civil eobras públicas, que ao longo da sua existên-cia tem vindo gradualmente a formar e acriar condições tanto humanas como técni-cas, para uma especialização na reabilita-ção de edifícios e património arquitectóni-co, para a qual está totalmente vocacionada.Sendo associada tanto da AECOPS comodo GECoRPA (Grémio das Empresas deConservação e Restauro do Património Ar-

quitectónico). O Eng.º Pedro Silva, di-rector técnico da obra,

descreve os trabalhos executados nos edifí-cios (classificados como Património Histó-rico), realçando ter sido esta uma das obrasmais emblemáticas para a empresa no anode 2001, não esquecendo no entanto a Re-modelação das Coberturas da Ala Poentedos edifícios da Praça do Comércio, que foiuma obra com alguns trabalhos semelhan-tes e de maior envergadura.A razão da escolha da empreitada em refe-rência prende-se especialmente por uma in-tervenção mais diversificada, pois a Capelade S. Sebastião foi totalmente reabilitadatanto a nível do madeiramento estruturalda cobertura, colocação de subtelha, isola-mento térmico-acústico, telhas de canudoenvelhecidas, como também de revestimen-tos interiores e exteriores, limpeza de canta-rias por processos não destrutivos, repara-ção e pintura com tintas adequadas domadeiramento do coro, portas e janelas,bem como a introdução de Instalações Es-peciais (Instalação Eléctrica, Intrusão, In-cêndios e Som). De realçar ainda a desco-berta de dois nichos laterais, junto aoaltar-mor, quando da picagem dos rebocos

existentes, que foram recuperados e preser-vados.No edifício do Museu, além da substituiçãodo revestimento das coberturas, de modoidêntico ao executado na Capela, tambémse reparou toda a estrutura de madeira quese encontrava deteriorada, bem como repa-rações e pinturas com tintas apropriadas nointerior, nomeadamente no quarto e escri-tório dos Condes, torreões, escadas e insta-lações sanitárias do claustro.Os processos construtivos utilizados foramos tradicionais tanto no entalhamento dasmadeiras como nas argamassas bastardasaplicadas.Com os processos e materiais de revesti-mentos aplicados, manteve-se o aspecto es-tético dos edifícios, cumprindo-se as Direc-trizes da Norma de Restauro e Preservaçãode Monumentos (Carta Internacional paraa Conservação e Restauro de Monumentose Sítios).

Museu Condes de Castro Guimarães

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Recuperação das coberturas do

ARTUR CORREIA DA SILVA,Engenheiro, MIU.

Coberturas do Museu Condes de Castro Guimarães.

Pormenor das coberturas do Museu Condes de Castro Guimarães.

Capela de S. Sebastião interior.

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PROJECTOS E ESTALEIROS

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Monumento classificado de interesse nacio-nal desde 1910, o Castelo de Palmela apre-senta um elevado e reconhecido interessehistórico e patrimonial, sendo alvo de umProjecto de Recuperação e Animação(PRAC) desde 1992, estabelecido a partir deum programa criado para este efeito.Na sequência dos diversos trabalhos de re-cuperação realizados no Castelo, a interven-ção na Sacristia da Igreja de Santa Maria con-siderava-se como a mais ambicionada demodo a deter o avanço do tempo sobre assuas frágeis ruínas. A Igreja, considerada asede da primeira paróquia da Vila de Palme-la, foi erigida no século XII em pleno PeríodoRomânico, encontrando-se em ruínas desde1755, em consequência do grande terramo-to, restando do conjunto os portais de entra-da e a Sacristia. A intervenção prevista para o local consistiuna recuperação do módulo correspondenteà Sacristia para instalação do Gabinete de Es-tudos sobre a Ordem de Santiago (GEsOS). Avaliado o estado de conservação do imó-vel, propôs-se um plano de execução de tra-balhos que interagisse de forma equilibradacom a estrutura existente, de modo que a per-turbação exercida fosse minimizada. Os trabalhos prosseguiram organizadosem naturezas distintas, nomeadamente narecuperação de elementos existentes noedifício e na construção de novos elemen-tos a introduzir. Recuperação de elementos existentesA intervenção de recuperação efectuada nointerior e exterior da Sacristia compreendeudiversos trabalhos de reparação de rebocosem paramentos de alvenaria de pedra irre-gular argamassada. Os muros de pedra, juntamente com o pavi-mento de acesso no exterior da Sacristia e queindicam ao visitante a direcção da entrada,foram totalmente revistos de modo a repor auniformidade e rigidez ao conjunto. Em consequência da época de chuvas, o mu-ro exterior à igreja encontrava-se em grande

parte derrubado. A sua reconstrução foi efec-tuada através da utilização de técnicas tradi-cionais que passaram pela escolha criteriosadas pedras a utilizar, ensaios às argamassasde assentamento e de reboco, nomeadamen-te ao nível da respectiva constituição mine-ralógica e cromática. Dos ensaios efectuados,concluiu-se que a argamassa a utilizar seriaconstituída por cimento branco, cal hidrata-da, areia amarela lavada e areia amarela nasproporções 1:1:5:2, respectivamente. No muro interior à igreja bem como nos pa-ramentos exteriores da Sacristia, por o esta-do de conservação o permitir, foram apenasutilizadas argamassas em preenchimentode vazios e na substituição de pedras quan-do necessário.A cobertura apresentava graves infiltraçõescomprometendo a estrutura em abóbada detijolo, pelo que também foi alvo de interven-ção. Para o efeito foi retirado o antigo reves-timento e aplicadas telas betuminosas e im-permeabilizantes sob o novo revestimentode tijoleira cerâmica tradicional.As superfícies pétreas das cantarias e da cruzque remata a Sacristia foram limpas e prote-gidas dos microrganismos e das agressõesatmosféricas.Execução de novos elementosRelativamente à criação de novas estruturasno interior da Sacristia, foi executado um pi-so elevado em madeira, suportado por vigasde madeira de carvalho encastradas nas pa-redes longitudinais.No piso térreo foram utilizadas vigas metá-

licas, melhorando-se deste modo a capaci-dade de carga do pavimento para as futurasutilizações. Foi também executada uma escada em ma-deira de carvalho para acesso ao referido pi-so elevado. Neste piso funciona a bibliotecaespecializada e o centro de documentaçãoequipado com diverso mobiliário construí-do no mesmo tipo de madeira. Para rematar as novas estruturas foi cons-truída uma abóbada em aço inox no pátio daentrada, contíguo à Sacristia, obrigando aum meticuloso trabalho de conjugação demateriais. A nova abóbada apoia-se nos pon-tos de nascença da que ali existira outrora eda qual ainda restam alguns vestígios.O quarto ponto de apoio desta nova abóba-da é um pilar antropomórfico, composto porelementos em pedra calcária esculpida como símbolo da Ordem de Santiago. Considerações finaisO edifício em causa e os trabalhos envolvi-dos obrigaram a um elevado grau de espe-cialização com recurso a técnicas tradicio-nais e avançadas, adequadas à naturezaespecífica da intervenção.Como resposta a este desafio, a Monumentacorrespondeu com uma postura baseada emprincípios fundamentais de rigor, contençãoe responsabilidade, presentes na equipa téc-nica e na metodologia de trabalho.

Intervenção na

Igreja de Santa Maria – Castelo de Palmela

Vista da sacristia, à esquerda, e esculpir do símbolo da Ordem de Santiago, em cima.

ROSA BASTOS,Arquitecta, MONUMENTA.

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Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200234

Várias vezes ouvi dizer que Portugal é umdos países (se não o país) com as fronteirasoriginais mais antigas do mundo, certa-mente que muito à custa dos castelos con-quistados e construídos por D. AfonsoHenriques (recomendo a recente biografiada autoria do Professor Freitas do Amaral).Bom, onde andam esses castelos? Procureie pouco encontrei, pelo que destaco apenaso site Castelos de Portugal, em http://caste-losdeportugal.no.sapo.pt, apesar do gra-fismo de "jogo de computador", apresenta-nos muita informação e fotografias sobre131 castelos nacionais – um esforço consi-derável. À distância de um click, na sendados extraordinários castelos de Espanha,encontrei bastante informação estruturadae organizada. Fica o recado...1. Os sites sobre castelos são inúmeros e pa-ra cada país encontrará informação sobre orespectivo património militar (até o Japãotem castelos!). Para quem quiser aprofun-dar o tema, todos os sites estão bem relacio-nados por uma teia de links bastante com-pleta. Aqui dou conta de alguns que acheiinteressantes, a começar pelos castelos daEscócia, em www.rampantscotland.com,os castelos da Alemanha, em www.me-diaspec.com/castles; em www.castlewa-les.com poderá conhecer os castelos de Ga-les e numa perspectiva global (com osugestivo título ao género americano), oscastelos do mundo estão disponíveis emwww.castles.org, noutra perspectiva maisao estilo europeu, os castelos na Web estãoem www.castlesontheweb.com. Dos quemais gostei, foram as belíssimas fotografias

dos Castelos de Espanha, em http://com-munity.webshots.com/user/castlesofs-pain e o site sobre os castelos de Sória, ven-cedor do 1º prémio Internet 2001 da Juntade Castela e Leão, em www.castillosdeso-ria.com. 2. Para aqueles que se interessam pela te-mática dos Castelos aqui ficam algumas re-comendações de grupos de estudo e asso-ciações, a começar pelo SymposiumInternacional de Castillos, que decorreuem Espanha entre 15 e 17 de Março, e cujoendereço em www.castle2002.es.org nosdá a conhecer detalhes sobre o encontro.Na página do Castle Studies Group, emwww.castlewales.com, está uma descri-ção das actividades e objectivos no estudoe promoção dos castelos, que a avaliar pelacomissão científica parece ser coisa séria.Em termos associativos, a Asociacíon Es-pañola de Amigos de los Castillos, emwww.castillosasociacion.es, apresentauma página bem estruturada e apelativa,pelo que me perdoe o Engenheiro Francis-co Sousa Lobo, mas a sua dinâmica Asso-ciação Portuguesa dos Amigos dos Caste-los (de que sou o sócio n.º 993) merece aquium cartão vermelho e deveria seguir oexemplo dos "amigos do lado", apostandona presença online. 3.Para informação geral sobre a arquitecturamilitar, há que socorrer-se do Inventário doPatrimónio Arquitectónico de cada país.Neste caso, deixo aqui a desforra entre osexemplos português e espanhol, com o nos-so site a bater aos pontos nuestros hermanos! Em www.mcu.es/bbaa/index.html pode o

leitor consultar o Inventario de Bienes In-muebles de Espanha, na página da Secreta-ria de Estado de Cultura, do Ministerio deEducación, Cultura y Deporte, mas tudo oque obterá serão 11 campos de preenchi-mento simples sobre denominação, locali-zação e protecção. Correndo o risco de fal-ta de isenção (ou não fosse eu colaboradorda DGEMN), devo referir o renovado siteda Direcção Geral dos Edifícios e Monu-mentos Nacionais, em www.monumen-tos.pt, que permite consultar o Inventáriodo Património Arquitectónico (IPA) commodos de pesquisa simples, avançada ougeo-referenciada, permitindo cruzar cercade 27 campos de informação sobre mais de10 000 registos (dos quais c. 130 castelos)acompanhados de elementos gráficos e fo-tográficos para cada imóvel. O site permitemuito mais, mas ficará para outro artigo,por agora apenas uma dica: sabe como erao Castelo de S. Jorge antes de 1940? Pois ve-ja as imagens antigas e surpreenda-se como "antes e depois" da intervenção.Como comentário final, o Expresso vai já noterceiro suplemento Rotas dos Castelos dePortugal (infelizmente não disponível on-line), contudo se for de férias e quiser visi-tar alguns dos nossos castelos, aproveite oexcelente Guia do Turismo de Habitação,disponível em www.expresso.pt.

Um mundo por conquistar!Castelos na Internet

JOSÉ LOBO DE CARVALHO, Arquitecto, Mestre em Conservaçãodo Património pela Universidade deYork, Inglaterra.

e-pedra e cal

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LÁ FORA

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002

Nos dias 28 e 29 de Junho tive a ocasiãode participar em Itália, no Seminário In-ternacional intitulado "Malta, baluarteda Europa: desenho militar e fortifica-ções em Malta na Idade Moderna". Or-ganizado conjuntamente pelo Departa-mento de Arquitectura e PlanificaçãoTerritorial da Universidade de Bolonhae pelo Ministério dos Recursos e Infra--estruturas de Malta, teve lugar no Cen-tro Universitário de Bolonha, na Forta-leza de Bertinoro.Este simpósio, preparativo de umagrande exposição internacional a reali-zar em 2003, integrou-se no projectoconjunto das duas instituições organi-zadoras, denominado "La Fabbrica del-le Mura". Destinado à recuperação glo-bal do complexo sistema de fortificaçõesde Malta, foi já iniciado com o levanta-mento em cartografia numérica à escala1:500 da cidade de Valletta Floriana ecom um número limitado de restaurosdemonstrativos ligados a estaleiros deaprendizagem.O objectivo principal do simpósio foi ode evidenciar o carácter europeu da ex-periência urbana e militar do verdadei-ro posto avançado do Cristianismo faceao então iminente perigo da expansãootomana no Mediterrâneo. Durante operíodo da permanência dos Cavaleirosde S. João de Jerusalém na ilha, de 1530 a1798, Malta constituiu o centro por exce-lência da experimentação e pesquisa daArte Militar e a sua contínua actualiza-ção esteve na origem do maior e maiscomplexo sistema defensivo europeuconstruído durante quase três séculos.As 21 comunicações apresentadas re-flectiram pontos de vista e perspectivas

bem distintas capazes de dar uma visãoo mais alargada e completa da comple-xidade deste paradigma das fortifica-ções. O seminário foi aberto pelo Prof.Cuppini da Univ. de Bolonha e por Vin-cent Cassar, Ministro dos Recursos e In-fra-estruturas de Malta que apresenta-ram o projecto "La fabbrica della Mura".Fabrizio Apollonio da Univ. de Bolonhafalou depois das "regras de planificaçãoe dos modelos geométricos no desenhodas cidades com planta em forma de es-trela". Michéle Zanetta, conservador doMuseu da Ordem de Malta em Lugano,dissertou sobre a "Sacra Enfermaria" daValletta e a dedicação hospitalar pri-mordial dos Cavaleiros. Seguiu-se oProf. Maurizio Berti, responsável doMunicípio de Pádua, sobre os argumen-tos da conservação dos sistemas aba-luartados, em particular dos maciços deterra que constituem as cortinas e os bas-tiões. Hermann Bonnici, da Divisão deObras de Malta, falou sobre os proble-mas específicos do restauro das fortifi-cações maltesas. O tema da diplomaciade guerra e da prática da engenharia mi-litar no início do século XVII foi apro-fundado pelo Prof. Dennis de Lucca daUniv. de Malta, que apresentou um es-tudo sobre o Eng.º Giovanni BattistaVerteva. Esta personagem teve a opor-tunidade de discutir o problema dos sis-temas mais avançados da época com co-legas italianos, espanhóis e franceses,numa visita que fez em Itália em 1638-39. Teresa Colletta, da Univ. de Nápoles,foi a primeira oradora a referir-se à im-portância do uso da cartografia históricamilitar e em especial dos arquivos secre-tos, entre os quais o do Arquivo do Du-

que de Montemar, capitão general deCarlos de Borbon, no século XVIII. A pri-meira manhã de trabalhos foi concluídacom a brilhante comunicação do Prof.Quentin Hugues, da Univ. de Manches-ter e a maior autoridade sobre fortifica-ções de Malta. Falou de forma magistralda relação entre a consciência comumdas dimensões estética e funcional dasobras de arquitectura militar, com apli-cação especial ao Forte de S. Elmo, quedesenhado para resistir a alguns dias decerco, conseguiu sobreviver ao grandeassédio otomano por mais de um mês,em 1565. A segunda parte da primeirajornada foi iniciada com a apresentaçãodo Prof. Angiolo Lenci, de Pádua, sobre"a horrível máquina de artilharia", asfortificações "à moderna" e a guerra deassédio do Renascimento. Seguiu-se aminha apresentação dedicada à "Ciên-cia das fortificações: tratados e acade-mias no contexto europeu", dedicado aestabelecer a relação entre os sucessivosmelhoramentos das fortalezas maltesas,a nacionalidade e formação dos diver-sos engenheiros enviados à ilha e a cir-culação do saber através da tratadísticamilitar europeia de grande difusão. Porfim, Francesco Menchetti , da Univ. deBolonha falou dos engenheiros militaresdo Ducado Roveresco de Pésaro e Urbi-no, ao serviço de Filipe II e dos Cavalei-ros de Malta, com especial destaque deGirolamo Genga e Scipione Campi, au-tores dos primeiros desenhos da "Cida-de Nova" da Valletta, entre 1558-62.A segunda jornada dos trabalhos foi ini-ciada por uma curta introdução do Prof.Carlo Monti da Univ. de Bolonha, direc-tor do Dep. de Arquitectura. Seguiu-se o

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Malta, baluarte da Europa:Desenho militar e fortificações

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Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002

LÁ FORA

Prof. Jean-Paul Saint Aubin da Univ. deParis I-Sorbonne que apresentou os re-sultados das primeiras prospecções nasbibliotecas e arquivos de Paris. StephenSpiteri, actual superintendente das for-tificações de Malta e grande referênciada arquitectura militar da Ordem, faloubrilhantemente das primeiras fortifica-ções alla moderna construídas pelos ca-valeiros em Malta entre 1530-65. Foi de-pois, pela Prof.ª Laura Baratin da Univ.de Bolonha e uma das grandes organi-zadoras do evento, desenvolvido o temada relação entre a cartografia históricamaltesa e a cartografia numérica tridi-mensional e o seu uso como suporte darepresentação e conservação urbana. Otema da cartografia histórica foi de novoabordado por Albert Ganado, presiden-

te da Sociedade Histórica de Malta, es-pecialista de renome do quase milhar demapas que representam Malta nos trêsséculos em referência. A sua comunica-ção foi especialmente importante por re-ferir os erros possíveis de interpretaçãodestes documentos fundamentais.A última parte da jornada foi ocupadacom a comunicação do Prof. Mario Sar-tor da Univ de Udine, dedicada ao pro-jecto da cidade da Valletta como síntesede experiências contemporâneas. Antesdo debate conclusivo, Marino Vigano daUniversidade de Lugano, falou do fa-moso engenheiro Giovan Giacomo Pa-leari Fratino de Morcote e da sua in-fluência no projecto da Valletta. Estaúltima comunicação foi particularmen-te interessante sobre a relação de Frati-

no e Portugal. Enviado por Filipe II aonosso país, no início da década de 1580,percorreu de norte a sul as diversas for-tificações nacionais, produzindo relató-rios sobre o seu estado de defesa e sobreos trabalhos necessários ao seu reforço.Foi ainda autor, entre outros estudos, deum projecto para S. Julião da Barra e doprojecto do Forte de S. Filipe de Setúbal,que até agora era simplesmente atribuí-do a Filipe Terzi.

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Comparação entre diversos sistemas de fortificação (de Pagan, de Ville, de Vauban), in O Enge-nheiro Português de Manuel de Azevedo Fortes, publicado em Lisboa por Manuel Fernandesda Costa, 1728-29.

Mapa da Ilha de Malta e das Ilhas de Gozo e Comino, por Ma-nuel de Azevedo Fortes, Engenheiro-Mor, João de Abreu Gor-jão, geógrafo de Sua Majestade e Jean-Baptiste Michael le Bou-teux, arquitecto régio, in Malta portuguesa: Memórias daOrdem Militar de S. João de Malta, de Lucas de S. Catarina,publicado em Lisboa, Joseph Antonio da Sylva, 1734-1736.

JOÃO MASCARENHAS MATEUS,Doutor em Eng. Civil, Mestre emArquitectura. Especialista em Con-servação de Monumentos e SítiosHistóricos. "Cultore della Materia"na Univ. La Sapienza de Roma.

em Malta na Idade Moderna

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002

Propusemo-nos destinar este artigo àenunciação dos requisitos legais de in-gresso e permanência na actividade deempreiteiro de obras públicas e particula-res, muito especialmente, no que con-cerne aos requisitos de certificação decapacidade para a execução de obras nacategoria referente a património construí-do protegido. Porém, em jeito de lugar comum, não re-sistimos previamente a relacionar os flu-xos e refluxos do mercado português deconservação e restauro do patrimónioprotegido com os ciclos de crescimento eestagnação económicos.Com efeito, excepção feita às grandesobras públicas já adjudicadas, a actual si-tuação da economia portuguesa tem ge-neralizado as situações de suspensão e deanulação de procedimentos de contrata-ção no mercado de obras públicas, apenasreservando a realização de despesa paraos casos inadiáveis. No entanto, tem-sevindo a assistir a uma maior sensibiliza-ção do poder político e social no tocante atrabalhos como os de consolidação, pro-tecção, conservação ou restauro do patri-mónio já existente, porquanto tomou-se(finalmente) consciência das vantagens ebenefícios, sociais e económicos, que a in-tervenção em sede de património cons-truído protegido acarreta.

A preservação do já existente é assim, ac-tualmente, encarada como uma activida-de improtelável, abrindo-se, consequen-temente, aos empreiteiros de obraspúblicas um novo campo de investimen-to, com garantias de acesso a um maiornúmero de procedimentos de empreita-das de obras públicas (concursos públi-cos, limitados, por negociação ou mesmoajustes directos) e com uma maior regula-

ridade de execução de trabalhos.A disciplina e autorização do exercício daactividade de empreiteiro de obras públi-cas e particulares, no que concerne à cate-goria de património construído protegi-do, encontra-se atribuída ao Instituto dosMercados de Obras Públicas e Particula-res e do Imobiliário (IMOPPI), mediante aemissão de certificado de classificaçãoanualmente renovável. Sucede porém que, as autorizações con-cedidas pelo IMOPPI não abrangem,necessária e normalmente, todas as ac-tividades.

Efectivamente, nos termos da legislaçãoaplicável, a autorização para o desenvol-vimento da actividade, dependente dopreenchimento dos requisitos de acessolegais constantes do Decreto-Lei n.º 61/99, de 02 de Março, efectiva-se na catego-ria ou categorias pretendidas e em subca-tegorias existentes dentro destas e com li-mitações ao nível de classes.Para além dos requisitos genéricos de

acesso à actividade referentes à idoneida-de pessoal dos representantes legais dasempresas, dos meios técnicos e humanosnesta existentes; para além da sua expe-riência, volume de negócios e equilíbriofinanceiro, existem ainda requisitos espe-cíficos em função da categoria, subcate-goria e classe de trabalhos pretendida.

No âmbito da execução de trabalhos da 2ªcategoria, referente a Património Cons-truído e Protegido e uma vez reunidas ascondições genéricas de acesso de que nostemos vindo a ocupar, o IMOPPI aprecia,

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As autorizações concedidas pelo IMOPPI não abrangem, neces-sária e normalmente, todas as actividades.

Há edificar e edificar (…),

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002 39

então, o preenchimento dos requisitos deacesso especiais, designadamente no to-cante à qualificação técnica dos seusmeios humanos. Ora, facilmente se compreende que o le-gislador tenha imposto o preenchimento,nesta categoria, de apertados requisitostécnicos, porquanto as operações de ma-nutenção, conservação, restauro e reabili-tação de construções existentes – desig-nadamente monumentos ou edifícios deinteresse histórico e cultural pertencentesao património arquitectónico do país –envolvem trabalhos especialmente com-plexos que exigem a colaboração de técni-cos de diversos perfis, porquanto só assimse asseguram especiais rigor e respon-sabilidade na concepção das soluções e narespectiva execução.A lei exige assim, para o acesso a esta cate-goria, a capacitação técnica das empresaspor apelo à qualificação dos seus recursoshumanos e os empresários procuram con-tratar os técnicos mais habilitados. Toda-via várias dificuldades se lhes deparam emface do regime legal, sobretudo nesta áreado património edificado.Efectivamente, apenas se estabelece umprincípio de correspondência entre as au-torizações pretendidas e a qualificaçãotécnica dos meios humanos, fixando umquadro mínimo de pessoal, composto de

engenheiros, engenheiros técnicos, encar-regados e operários, cujo número variaem função de cada uma das nove classesou valores das autorizações existentes emcada subcategoria. Sucede porém que dúvidas subsistem, por-quanto a lei usa conceitos imprecisos a pro-pósito da qualificação e a especializaçãoconcreta dos profissionais que a empresaterá que possuir nos seus quadros. De entredos mais de 15 cursos de habilitação uni-versitária em engenharias, qual o que for-ma o engenheiro mais adequado? Quer-nos parecer que apesar deste signi-ficativo número de cursos, em nenhumdeles são fornecidos conhecimentos espe-cializados na área da conservação e res-tauro de património edificado, suficien-tes para suportar a capacidade técnicaexigida, pelo que, para o preenchimentodos requisitos legais, os quadros de pes-soal devem incluir licenciados em enge-nharia civil, com especialização e expe-riência profissional neste domínio. No tocante à generalidade do pessoal dasempresas, incluindo operários, deve ser

tido em consideração que existem actual-mente diversos cursos de formação práti-ca em conservação e restauro, bem comocursos de licenciatura em conservação erestauro, designadamente o ministradopela Universidade Nova de Lisboa, quepodem constituir uma mais-valia rele-vante para a capacidade técnica das em-presas neste sector.No entanto, melhor seria que o legisladorpor questões de certeza no acesso ao exer-cício da actividade, nesta área especial,regulasse de forma expressa e pormeno-rizada as condições de certificação peloIMOPPI da capacidade técnica das em-presas no respeitante aos meios humanos,não onerando ou inviabilizando as em-presas com o recrutamento de pessoalinabilitado ou menos adequado às autori-zações visadas.

PEDRO BANDEIRA,Advogado de Alcides Martins & Asso-ciados, Sociedade de Advogados.Docente universitário.

De entre dos mais de 15 cursos de habilitação universitária emengenharias, qual o que forma o engenheiro mais adequado?

há proteger e restaurar

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NOTÍCIAS

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No passado mês de Maio de 2002 teve lugarno refeitório do Mosteiro dos Jerónimos umseminário técnico e científico sob o tema"Claustro do Mosteiro dos Jerónimos – Pro-jecto de Conservação ( 1998 – 2002)".

Este seminário abordou o projecto de conser-vação dedicado ao claustro do mosteiro, quese desenrolou durante os últimos quatroanos. A Associação World Monuments Fund –Portugal (WMF – P) coordenou este projectoe congregou a contribuição do Estado Portu-guês, através do Ministério da Cultura e doIPPAR, e de entidades mecenas portuguesase internacionais. O projecto apoiou-se em contributos dos vá-rios ramos do conhecimento, nomeadamen-te científicos, técnicos e históricos, numaabordagem pluridisciplinar. O seminárioconsistiu, precisamente, na apresentaçãodos contributos dados pelos vários especia-listas envolvidos.

Seminário técnico e científico no Mosteiro dos Jerónimos

A Direcção do Grupo dos Amigos de Olivença(GAO) decidiu reforçar o seu Boletim.O Boletim do Grupo dos Amigos de Olivença, agora comnovo formato, mais páginas e novos conteúdos, temcomo objectivo proporcionar aos leitores, um amploespaço de debate e esclarecimento sobre a questãooliventina. É também objectivo deste projecto servirde eco da opinião dos sócios, seja através de cartas,artigos de opinião ou de pequenos estudos desdeque, obviamente, se coadunem com os princípiosque orientam a conduta do GAO.

A Assembleia-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboaaprovou, recentemente, a criação da secção de Estudos de Oli-vença. Como fundamento desta decisão, foram aduzidas "ra-zões histórico-institucionais (o facto de já ter existido naquelainstituição uma subsecção sobre Olivença), razões geográfi-cas (a inexistência de limites fronteiriços entre Portugal e Es-panha naquela zona), histórico-culturais, diplomáticas (Oli-vença pertence de jure a Portugal) e razões políticas.”Esta decisão foi tomada em resposta a uma petição apresenta-da por vários membros da associação.

Estudos de OlivençaSociedade de Geografia de Lisboa cria secção de

Grupo dos Amigos

de Olivença reforça Boletim

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VIDA ASSOCIATIVA/AGENDA

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Europa Nostraabre candidaturas ao Prémio Cultural HeritageA Europa Nostra foi escolhida pelaUnião Europeia para promover o Eu-ropean Union Prize for Cultural He-ritage/Europa Nostra Awards. Esteevento tem como objectivo premiar mo-netariamente projectos específicos derestauro relacionados com monumen-tos em "perigo".As candidaturas a este "European Uni-on Prize for Cultural Heritage/EuropaNostra Awards" encerram no próximodia 1 de Novembro.Para mais informações por favor con-tacte o site www.europanostra.org.

Construção em Tijolo Maciço: Um Património para o FuturoA Escola Profissional de Desenvolvi-mento Rural de Serpa lançou, no pas-sado dia 4 de Julho, o livro Construçãoem Tijolo Maciço: Um Património para oFuturo.Esta pequena edição teve por base umprojecto educativo, patrocinado peloPrograma Sócrates, que levou um gru-po de alunos portugueses da EPDRS àAlemanha, em cooperação com a esco-la Oberstufenzentrum Palmnicken, deFurstenwalde. Esta obra consiste ainda nos trabalhosrealizados pelos alunos do Curso deMestre de Construção Civil Tradicionalda EPDRS, nas suas provas de aptidãoprofissional (PAP). A edição reúne cer-ca de 18 PAP’s realizadas pelos alunosentre 1996 e 2000, sempre dedicadas àconstrução tradicional em tijolo maciço. É um documento útil para todos aque-les que se interessam pela construçãotradicional. Para mais informações con-tactar a Escola de Desenvolvimento Ru-ral de Serpa, tel. 284 544 258.Construção em Tijolo Maciço – Um Pa-trimónio para o FuturoCadernos EPDRS n.º2152 páginas; fotografias a preto e bran-co e cores;Edição da Escola Profissional de Desen-volvimento Rural de Serpa, com o apoiodo Programa Sócrates e da Comunida-de Europeia.

PAREDES DE ALVENARIA, SITUAÇÃO ACTUAL E NOVAS TECNOLOGIAS 24 DE OUTUBRO DE 2002, PORTO

Organizado pela Escola de Engenharia da Universida-de do Minho e pela Faculdade de Engenharia da Uni-versidade do Porto, este Seminário é dirigido a enge-nheiros, arquitectos, industriais do sector e outrosprofissionais interessados em paredes de alvenaria,designadamente nos aspectos de novos produtos, pa-tologia, execução, projecto ou valorização plástica. Ainiciativa contará com a participação do LNEC e de di-versos especialistas, envolvendo ainda instituições deensino superior, empresas e associações ligadas ao sec-tor. No evento serão ainda abordados aspectos ligados à conjuntura actual do mercado e àspossibilidades associadas aos novos materiais e produtos, entre outros temas.

GECoRPADISCUTE REABILITAÇÃO DO EDIFICADO

Teve lugar no passado dia 19 de Junho, no Hotel Sheraton, em Lisboa, um jantar, que reuniuo representante da direcção do GECoRPA, Eng.º Vítor Cóias e Silva, representantes de algu-mas empresas associadas e também de algumas empresas, que ainda não associadas, mos-traram interesse em sê-lo futuramente. Durante o jantar foi possível dar a conhecer melhor o GECoRPA às empresas ainda não as-sociadas. Os representantes destas colocaram ainda algumas questões acerca do funciona-mento do grémio, e das vantagens em pertencer à associação, que foram respondidas pelosassociados e pelo presidente da direcção.Tendo decorrido num ambiente informal de troca de impressões, foram ainda debatidas al-gumas questões relacionadas com o sector da construção e da reabilitação do edificado.

EM SETEMBRO:

CONSERVAÇÃO DE CONSTRUÇÕES EM MADEIRADe 10 a 15 de Setembro teve lugar na Noruega um Seminário Internacional dedicado ao res-tauro dos edifícios de madeira: “Wooden Buildings: Restoration and Craftsmanship”, noâmbito do programa Culture 2000.O Seminário teve lugar dia 12, na cidade de Roros. O programa incluiu ainda uma visita a di-versos lugares na Noruega e a diversos exemplos de edifícios de madeira conservados. PARA MAIS INFORMAÇÕES CONTACTAR:Elisabeth Seip ([email protected])Geir Thomas Risasen ([email protected])

VIDA ASSOCIATIVA

INFORMAÇÕES:Universidade do MinhoDepartamento de Engenharia Civil Azurém4800-058 GuimarãesTel: +351 253 510 200Fax: +351 253 510 217e-mail: [email protected]://www.civil.uminho.pt/alvenaria

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AGENDA

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FÓRUM MARVÃO:ENCONTROS INTERNACIONAIS DO PATRIMÓNIO, DO TURISMO E DA ANIMAÇÃO27 DE OUTUBRO DE 2002, MARVÃO

FÓRUM EUROPA NOSTRAEM OUTUBRO

O próximo dia 11 de Outubro fica marcado como sendoo dia do Fórum Europa Nostra.Este evento a ter lugar em Bruxelas é organizado pelaEuropa Nostra Belga. Revalorização das Artes e Ofícios do Património e Intercâmbio de Saberes Tradi-cionais Além-fronteiras serão os pontos fortes deste Fórum.Para mais informações contacte Marc Rosiers, um dos responsáveis pelo EuropaNostra Belgium, através do e-mail [email protected]

COLÓQUIO BARROCO RURAL7, 8, 9 NOVEMBRO DE 2002

Com a organização da Câmara Munici-pal de Paredes de Coura e do Institutode Património da Universidade Portu-calense Infante D. Henrique, o certametem por objectivo estudar o fenómenodo Barroco no mundo rural, quer na suavertente erudita, quer nas suas expres-sões mais periféricas e ingénuas. Trata-se de um evento de carácter científico edivulgativo, sendo a primeira vez que otema, Barroco rural, é objecto de umadiscussão deste género.

INFORMAÇÕES:Dr.ª Anabela GuimarãesUniversidade Portucalense Infante D. HenriqueRua Dr. Bernardino de Almeida, 541-6194200-072 PORTOTel: +351 22 557 2631Fax: +351 22 557 2012e-mail:[email protected]://www.uportu.pt

Património, turismo e despovoamento edescaracterização dos centros históricosconstitui o tema central deste encontro.Organizado pela Câmara Municipal doMarvão, Gabinete da Candidatura a Pa-trimónio Mundial; Escola Superior deEducação do Instituto Politécnico de Por-talegre e Região de Turismo do NorteAlentejano, o Fórum pretende abordar,entre outros tópicos:

- Marvão: uma história de sobrevivência;- A experiência de recuperação em Mon-saraz – obstáculos, problemas e pers-pectivas;

- A desertificação dos centros históricos;- Centros históricos e cidade consolidadapara uma visão integrada;

- A reabilitação do centro histórico deGuimarães;

- Turismo e centros históricos.

13TH INTERNACIONAL SYMPOSIUMON THE CONSERVATION OF HISTORIC TIMBER STRUCTURES

Este Simpósio vai ser realizado entre os dias 25 e 29 de Setembro e terá lugar emKargopol, no Noroeste da Rússia. O Simpósio inclui excursões à antiga cidade deKargopol, e também ao Parque Nacional de Kenozero, que conta com mais de 80importantes monumentos, igrejas e casas senhoriais em madeira.Este parque foi escolhido como foco do simpósio bienal do International WoodCommittee do ICOMOS, porque a delegação da UNESCO em Moscovo, elaborouum projecto de conservação do parque. Esse projecto será apresentado pela UNES-CO durante o encontro.O organização no local é coordenada pela delegação moscovita da UNESCO.

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

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Quem atravessa a Praça do Comércio eolha, despreocupadamente, para a belís-sima estátua equestre de D. José I, talveznunca se tenha interrogado sobre o quefoi necessário empreender até à sua colo-cação definitiva no local de onde hoje, or-gulhosamente, nos contempla.Quando, em 1771 (aviso de 15 de Julho aoArsenal do Exército), foi decidido levar aefeito a execução do monumento em me-mória de D. José I a colocar na Praça doComércio, já Eugénio dos Santos tinhadeixado preparados o projecto e os alicer-ces, havia pelo menos dez anos. Foram encarregados desta tarefa, o escul-tor Joaquim Machado de Castro e o, na al-tura, Tenente-Coronel Bartolomeu daCosta, sendo o primeiro incumbido de fa-zer o modelo da estátua, e o segundo, aárdua tarefa da sua fundição em bronze.Bartolomeu da Costa declarou só "aceitarcom gosto" o trabalho se fosse autorizadoa fundir a estátua de um só jacto, técnicaque já havia sido tentada mas nunca con-seguida em objectos de tal dimensão (p.ex. a estátua equestre de Luís XV, emFrança, a de Frederico V, em Copenhaga,ou de Pedro, O Grande em São Petersbur-go). Assim, em 15 de Outubro de 1774,uma peça notável de 31,5 palmos de altu-ra (6,93 m) foi fundida com sucesso porBartolomeu da Costa, tendo para esse fimfeito correr cerca de 656,5 quintais debronze líquido durante sete minutos e 53segundos. Tirados e pesados todos os "gi-tos" e outros sobejos, verificou-se que aestátua pesava (pesa) 600 quintais, sendo500 de bronze e 100 do ferro da carcaça (1

quintal = 4 arrobas = 4 x 14,688 kg). En-quanto, ainda dentro da cova, se levavama cabo os trabalhos finais de cinzelamen-to posteriores à fundição e que ficariamprontos a 3 de Maio de 1775, o Capitão deEngenharia Reinaldo Manuel dos Santos,Arquitecto das Obras Públicas, foi encar-regado de aprontar o carro que havia detransportar a estátua até ao Terreiro doPaço e o sota-patrão-mor da Ribeira dasNaus, João dos Santos, responsabilizadopela colocação da mesma sobre o pedes-tal. Faltava, no entanto, um "pequeno" de-talhe: – Quem, e como, se iria tirar a está-tua da cova da fundição? Mais uma vezBartolomeu da Costa é chamado a resol-ver um problema do qual ninguém pare-cia ter-se lembrado. A missão, cometida

pelo Marquês de Pombal, só em 1 de Abrilde 1775 lhe é transmitida. E foi entre essadata e o dia 20 de Maio do mesmo ano,quando a estátua foi suspensa da cova on-de tinha sido fundida e retocada, que Bar-tolomeu da Costa idealiza ("no espaço dedois dias e uma noite") e executa uma má-quina – no fundo, um aparelho de mano-bra de força – que vai permitir elevar umapeça de 35 000 kg e de a fazer deslocar,exe-cutando um movimento em ângulo recto(Figura II), na distância de 84 palmos (84X 0,22 m = 18,48 m) para a colocar sobre azorra de transporte. Para percorrer estadistância demorou-se pouco mais de 12horas empregando apenas 12 homens, oque foi algo de extraordinário na época. Amáquina, representada na Figura III, fun-ciona com base na força aplicada numaalavanca sem apoio fixo. Por cima da co-va de fundição, foram postas duas fortesvigas (AA) de pau de arco para serviremde trilho à máquina na primeira parte dotrajecto (linha GH da figura II) e outrasduas vigas semelhantes para a segundaparte (HE). Sobre as duas primeiras vigas(AA) trabalhava uma forte grade de ma-deira (BBB) que se deslocava sobre AAapoiada em roletes de ferro (XXX). Sobre esta primeira grade estava outrasemelhante (CCC), mas mais comprida eque podia a ela ser fixa ou separadaquando necessário – ou seja, quando seatingisse o ponto H (Fig II) e fosse preci-so mudar de direcção para fazer o trajec-to HE. Esta segunda grade apoiava-seem B também através de roletes de ferro(YYY) semelhantes aos já mencionados

A máquina com que se suspendeu e tirou da cova de fundição a

estátua equestre de D. José I

Figura I

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

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atrás (X). Sobre esta segunda grade, umaforte estrutura de madeira (D) que dei-xava para cada lado um espaço de cercade 2,5 metros que, assoalhado, permitiaque aí trabalhasse o pessoal que operavaa máquina.Sobre esta estrutura estavam apoiadosquatro cilindros de bronze (F), dois decada lado, com 66 cm de diâmetro sobreos quais passavam quatro cadeias, tam-bém de bronze (G), que constituíam aparte fundamental da máquina.Estas cadeias eram elaboradas com pe-ças elípticas (H) como se mostra no can-to inferior esquerdo da Figura II, que ti-nham de cada lado uma cavidade ondeentravam as cabeças de outras peças de-signadas fuzis (I) e que as prendiamumas às outras.As peças elípticas tinham maior grossuraque os fuzis, de modo que estes não as-sentavam nos rolos (F) quando as cadeiaseram postas em movimento com uma ala-vanca de ferro (E), que era introduzida pe-la parte exterior da máquina de modo a

passar pelo vão deixado pela peça elípticaentre dois fuzis, e novamente em espaçosemelhante na cadeia, depois de ela terfeito uma passagem sobre o cilindro F,pendendo para o interior da máquina.Ficava assim a alavanca (uma para cadauma das cadeias) apoiada sobre uma pe-ça elíptica, e a sua extremidade por bai-xo de outra dessas peças o que permitiaque, quando nela se aplicava a força, o"fulcro" descesse, obrigando a outra ex-tremidade a subir.Faltava agora impedir que as cadeiasvoltassem a descer e, para isso, foramusados "linguetes" (L) – um para cadacadeia (Fig. III) que, apoiados na estru-tura por um eixo que lhes permitia osci-lar, apresentavam um recorte onde aspeças elípticas se encaixavam, ficandoassim impedidas de desandar.Colocadas as alavancas em posição, dadaa ordem, eram movidas em simultâneo;no final de cada movimento, um dos ope-rários verificava se os "linguetes" estavamna posição correcta de travamento, as ala-

vancas eram retiradas e colocadas nova-mente em posição.Por cada movimento elevatório, a estátuasubia 5 polegadas (5x2,54 cm=12,7 cm).Refira-se, como curiosidade, que a está-tua depois de ter sido elevada 24 palmos(5,28 metros), esteve suspensa durantehora e meia aguardando que o Marquêsde Pombal viesse assistir à parte final daoperação.Fica assim, resumidamente, descritauma máquina que foi uma das muitascriações do Tenente-General Bartolo-meu da Costa.Seria talvez exagero apelidá-lo de "Leo-nardo da Vinci português" mas merecefrancamente a pena estudar as suas fas-cinantes actividades de onde sobressaia sua enorme capacidade inventiva,sempre baseada na simplicidade de mé-todos e na economia de recursos.

CORONEL RIBEIRO DE FARIA– Director do Museu Militar.

Figura II Figura III

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As Fortificações do Litoral Portuense

autor: Mário Jorge BarrocaEdições INAPA 2001

Excelente obra sobre três embleméticasfortificações do litoral portuense. O au-tor desenvolve o contexto histórico ecultural que acompanhou a construçãodestes magníficos exemplares da arqui-tectura militar portuguesa, a sua evolu-ção no contexto urbano ao longo dostempos .Preço: 62, 85 euros – Código INA.E.1

Programa de Recuperação dos Castelos

IPPARs/d

Trata-se de um documento preparatórioda proposta ao III QCA, realizada peloIPPAR, no âmbito do Programa de Re-cuperação de Castelos, a ter lugar entreo ano 2000 e 2006.Preço 2,49 euros – Código IP.DOC.1

Historical Constructions 2001Coordenação e Edição: Paulo B. Lourenço e Pere RocaGuimarães, 2001, pp.1200, edição integralmente em inglês.Reúnem-se as comunicações do III Seminário sobre Construções Históricas, realizado em Guimarães, em No-vembro de 2001. Inclui dez comunicações de oradores convidados, com o estado de conhecimento actual, emais de 100 comunicações nacionais e internacionais sobre os temas: Aspectos Históricos e Metodologia Ge-ral; Materiais de Construção; Técnicas de Inspecção e de Experimentação; Técnicas de Análise; EstruturasHistóricas de Madeira; Comportamento e Reforço Sísmico; Técnicas de Consolidação e Reforço; Casos de Es-tudo. A obra é dirigida a engenheiros, arquitectos e outros técnicos interessados na conservação, reabilitaçãoe restauro de construções antigas, representando uma contribuição valiosa para a resolução dos desafios as-sociados às intervenções no património construído. Preço: 70 euros – Código: PL.A.1

Património: Balanço e Perspectivas (2000-2006)Coordenação: Luís Ferreira Calado, Paulo Pereira e Joaquim Passos LeiteLisboa, Ippar, 2000, pp. 331.Na sequência de um outro estudo previamente realizado pelo Ippar, em 1997, intitulado, Intervenções no Pa-trimónio. 1995-2000. Nova Política, surge este novo estudo que pretende fazer o balanço dos trabalhos reali-zados entre 1996 e 1999, dando conta das metas atingidas. Também nos é apresentado o plano de trabalhospara o período compreendido entre 2000 e 2006, conjugando o que se fez, como se fez e por que se fez com asperspectivas para os próximos anos.Preço: 12,47 euros – Código: IP.E.1

As Pontes do Porto

Editora Civilização com o apoio da Porto 2001Paulo Jorge de Sousa Cruz e José ManuelLopes Cordeiro são os autores do LivroAs Pontes do Porto.O título diz tudo. Ao longo das várias pá-ginas que constituem esta publicação asPontes do Porto são analisadas por doisespecialistas, com o Porto no coração.Preço: 44,99 euros – Código: CIV.E.1

Paredes de Edifícios Antigos em PortugalFernando F. S. PinhoLisboa, LNEC, 2000, pp. 317.A presente publicação, dividida em quatro partes, aborda as técnicas construtivas da generalidade das pare-des de edifícios antigos de habitação em Portugal, a partir de meados do século XVIII, tendo-se, para o efei-to, procedido a pesquisa bibliográfica e à visita a diversos edifícios com a correspondente recolha de imagens.Tendo em vista o enquadramento legal do tema, referem-se alguns dos principais diplomas regulamentaresaplicáveis à actividade construtiva em Portugal desde o final do século XIX. O estudo é finalizado com a aná-lise de 340 processos de obras consultados em três câmaras municipais.Preço: 47,39 euros – Código: LN.E.5

O CD-ROM Património Metropolitano Inventário Geo-referenciado do Património da Área Metropolitana de Lisboa propõe um registo do patri-mónio edificado e arqueológico, para a sua divulgação junto dos municípios, das escolas, dos visitantes e docidadão em geral.Peça o seu CD-ROM Património Metropolitano à Área Metropolitana de Lisboa, sem qualquer custo, para:Rua Carlos Mayer, n.º 2 – R/C 1700-102 Lisboa

Edgar Cardoso 1913 –2000Edição: Fundação Edgar Cardoso e Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura.De entre as obras de Engenharia Civil, as pontes ocupam um lugar à parte no imaginário colectivo: elas ven-cem os abismos e o efeito da gravidade que é um dos mais básicos que o ser vivo reconhece e, simultanea-mente, são infra-estruturas de grande utilidade pública ao facilitarem a circulação de bens e pessoas.Este livro é um tributo a Edgar Cardoso, considerado o nosso "Engenheiro das Pontes" e ao seu trabalho. Preço: 28,50 euros – Código: ISTE.2

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LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 200246

Nº 0, Out/Nov/Dez 1998Tema de Capa:

Prática da Conservação e Res-tauro do Património

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.0 – esgotado

Nº3, Jul/Ago/Set 1999Tema de Capa:

Património e EconomiaPreço: 3,74 eurosCódigo: P&C.3

Nº4, Out/Nov/Dez 1999Tema de Capa:

Património Arquitectónico Industrial

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.4

Nº5, Jan/Fev/Mar 2000Tema de Capa:

Qualificação Profissional e Pa-trimónio Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.5 – esgotado

Nº6, Abr/Mai/Jun 2000Tema de Capa:

Arqueologia UrbanaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.6

Nº7, Jul/Ago/Set 2000Tema de Capa:

Património Cultural e NaturalPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.7

Nº8, Out/Nov/Dez 2000Tema de Capa:

Sismos e Património Arquitec-tónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.8

Nº1, Jan/Fev/Mar 1999Tema de Capa:

Centros Históricos –Recuperar e Revitalizar

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.1 – esgotado

Nº2, Abr/Mai/Jun 1999Tema de Capa:

Reabilitação Urbana.Lisboa é um laboratório.

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.2 – esgotado

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LIVRARIA

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Nº9, Jan/Fev/Mar 2001Tema de Capa:

Salvaguarda de RevestimentosArquitectónicosPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.9

Nº10, Abr/Mai/Jun 2001Tema de Capa:

Património de BetãoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.10

Nº11, Jul/Ago/Set 2001Tema de Capa:

Baixa Pombalina: Que Futuro?Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.11

Nº14, Abril/Maio/Jun 2002Tema de Capa:

Pontes que fazem históriaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.14

Nº12, Out/Nov/Dez 2001Tema de Capa:

Intervenções em MuseusPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.12

Nº13, Jan/Fev/Mar2002Tema de Capa:

Intervenções em Monumentosde Pedra

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.13

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Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da “Pedra&Cal” (10% de desconto)

Actividade / Profissão

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LISTA DE SÓCIOS

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Actividade: Fiscalização de obras e projectos, ges-tão e coordenação de empreendimentos.

MC Arquitectos, Ld.ªPraça Príncipe Real, n.º 25 - 3º1250-184 LisboaTel.: 213 219 950 Fax: 213 467 995E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Gastão da Cunha FerreiraActividade: Projectos de arquitectura, levantamentos, estudos e diagnóstico.

Consulmar Açores – Projectistas e Consultores, Ld.ªAvenida Infante D. Henrique, Bloco 1-5ºE9500-150 Ponta DelgadaTel.: 296 62 95 90Fax: 296 62 96 68E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Jorge Kol de CarvalhoActividade: Projecto, consultoria e fiscalização.

Enge-Consult – Consultores de Engenharia Civil, Ld.ªAvenida de Berna, n.º 5 - 2º1050-036 LisboaTel.: 217 999 910Fax: 217 999 917E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria Luísa Ribeiro GomesActividade: Elaboração de projectos de estruturas e fundações, na área do património construído.

J.L. Câncio Martins – Projectos de Estruturas, Ld.ªRua General Ferreira Martins, n.º 10 - 3ºA1495-137 AlgésTel.: 214 123 010 Fax: 214 123 011E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Luís CâncioActividade: Projectos de edifícios e pontes e reabilitação estrutural.

José Lamas e Associados, Estudos de Planeamento e Arquitectura, Ld.ªLargo de Santos, n.º 1-1º Dto.1200-808 LisboaTel: 213 968 484Fax: 213 974 946E-mail: [email protected]

Grupo I Projecto, fiscalização e consultoria

A. da Costa Lima, Fernando Ho, Francisco Lobo e Pedro Araújo– Arquitectos Associados, Ld.ªR. de S. Paulo, n.º 202 – 2º1200 – 429 LisboaTel.: 213 432 868Fax.: 213 259 553E-mail: [email protected]ável: Arq.º Francisco Lobo Actividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico, projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, estudos especiais.

Desarcon, Ld.ªR. Borda D'Água da Asseca, n.º 9 8800 – 325 Tavira Tel. : 281 322 404 Fax: 281 322 336 E-mail: [email protected]ável: Arq.º Miguel MertensActividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas fornecedores de levantamentos, inspecções e ensaios em P.A. e C.A..

Cariátides – Produção de Projectos e Eventos Culturais, Ld.ªR. das Flores, n.º 69, sala 4 4050 – 265 Porto Tel. : 223 326 105 Fax: 223 393 537 Responsável: Drª Gabriela Casella, Dr.ª Maria Providência Actividade: Produção e projectos de eventos cul-turais, projectos de reabilitação, conservação e restauro do património arquitectónico e construções antigas.

ETECLDA – Escritório Técnico de Engenharia Civil, Ld.ªRua Júlio Dinis, n.º 911 - 6º E4050-327 PortoTel.: 226 007 107Fax: 226 095 553E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Manuel Batista Barros

Responsável: Arq.º José LamasActividade: Projecto de arquitectura e engenharia e estudos de planeamento.

Humberto Vieira Arquitecto, Ld.ªRua Joaquim Kopke, n.º 113, r/c Dto.4200-346 PortoTeL: 225 021 105Fax: 225 089 022E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Humberto VieiraActividade: Projectos e consultoria na área da conservação e restauro do património construído.

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªRotunda das Palmeiras Edifício Cascais Office, 1º piso, sala I2645-091 AlcabidecheTel.: 210 331 125/6Fax: 210 331 127E-mail: [email protected]ável: Eng.º Thomaz RipperActividade: Projecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

João Castro – Arquitecto Rua Godinho de Faria, n.º 165 - 2º E/T4465 S. Mamede de InfestaTel: 229 028 255Fax: 229 028 255Responsável: Arq.º João CastroActividade: Projectos de conservação e reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas. Estudos especiais.

Grupo II Levantamentos, inspecções e ensaios

OZ – Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45 - 1º E 1050-170 LisboaTel.: 213 563 371Fax: 213 153 550E-mail: [email protected] Site: www.oz-diagnostico.ptResponsável: Eng.º Carlos Garrido MesquitaActividade: Levantamentos, inspecções e ensaios não destrutivos, estudo e diagnóstico.

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LISTA DE SÓCIOS

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Tel.: 219 533 230Fax: 219 533 239E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Álvaro Reis PereiraActividade: Conservação de rebocos e estuques, consolidação estrutural, carpintarias, reparação de coberturas.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªRua Paulo Renato, n.º 3 r/c C/D2795-147 Linda-a-VelhaTel.: 214 153 520Fax: 214 153 528Responsável: Eng.º Luís RibeiroActividade: Construção e reabilitação de edifícios, consolidação de fundações.

José Neto & Filhos, Ld.ªRua Industrial de Loulé – Lote 278100-272 LouléTel.: 289 41 09 60Fax: 289 41 0979E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Carlos NetoActividade: Construção de edifícios, conservação e restauro de rebocos e estuques, carpintarias.

Monumenta – Conservação e Restauro do Património Arquitectónico, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 27 – 1ºD1050-170 LisboaTel.: 213 593 361Fax: 213 153 659E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º João VarandasActividade: Conservação e reabilitaçãode edifícios, consolidação estrutural, conservação de cantarias e alvenarias.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªRua Luciano Cordeiro, n.º 49 - 1º1169-135 LisboaTel.: 213 542 137Fax: 213 570 001E-mail: [email protected]ável: Eng. Carlos Manuel GranateActividade: Consolidação estrutural.

Brera – Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªRua Miguel Torga, 2C – escritório 4.6 – Alfragide2720-292 Amadora

ERA – Arqueologia – Conservação e Gestão do Património, S.A. Calçada da Picheleira, n.º 46-E1900-372 LisboaTel.: 218 461 175Fax: 218 461 342Responsáveis: Dr. Pedro Simões Braga, Dr. Miguel LagoActividade: Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do património arquitectónico,inspecções e ensaios, levantamentos.

Grupo III Execução dos trabalhos

Empreiteiros e Subempreiteiros

STAP – Reparação, Consolidação e Modificaçãode Estruturas, S.A.Rua Marquês de Fronteira, n.º 8 - 3º D1070-296 LisboaTel.: 213 712 580Fax:213 854 980E-mail: [email protected] Site: www.stap.pt Responsável: Eng.º José Paulo CostaActividade: Reabilitação de estruturas de betão, consolidação de fundações, consolidação estrutural.

Edicon – Construções Civis e Obras Públicas, Ld.ªRua do Poder Local, 2 s/l Dtª1675-156 PontinhaTel.: 214 782 417Fax: 214 782 468Responsável: Sr. Carlos BatistaActividade: Consolidação estrutural, reparações de coberturas, impermeabilizações.

Quinagre, Construções, S.A.Rua Hermano Neves, n.º 22 - 4º A1600-477 LisboaTel.: 217 567 570Fax: 217 567 579E-mail: [email protected]ável: Eng.º Joaquim Quintas Actividade: Construção de edifícios, reabilitação, consolidação estrutural.

CVF – Construtora de Vila Franca, Ld.ªEstrada Nacional n.º 10, k/ 137,522695 STª. Iria de Azóia

Tel.: 214 725 470Fax: 214 725 471E-mail: [email protected] Responsáveis: Eng.º Amílcar Beringuilho e Sr. Paulo RaimundoActividade: Construção, conservação reabilitação de edifícios.

Arnaldo Moisão – Dourador, Pinturas e Decorações, Ld.ªRua Borges Carneiro, n.º 42 c/v1200-016 LisboaTel.: 219 834 893Fax: 213 979 049Responsável: Sr. Rui MoisãoActividade: Conservação e restauro de talha dourada e pintura mural.

Poliobra – Construções Civis, Ldª.Rua Afonso de Albuquerque, n.º 8 BSerra do Casal de Cambra2605-192 BelasTel.: 219 809 770Fax: 219 809 779E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Vítor António FarinhaActividade: Construção e reabilitação de edifícios, serralharias e pinturas.

Junqueira 220 – Sociedade de Conservação, Restauro e Arte, Ld.ªRua da Junqueira, n.º 2201300-346 LisboaTel.: 213 639 163Fax: 213 633 803 ou 213 627 840Responsável: Sr. Luís Figueira Actividade: Conservação e restauro de pinturas e talha dourada.

A. Ludgero Castro, Ld.ªRua Recarei, n.º 8604465-727 Leça do BalioTel.: 229 511 116Fax: 229 517 517E-mail: [email protected] Responsável: Dr. Paulo Ludgero CastroActividade: Consolidação estrutural, construção e reabilitação de edifícios, conservação e restauro de pintura mural.

Listorres – Sociedade de Construção Civil e Comércio, Ld.ªRua Brigadeiro Lino Dias Valente, n.º 8

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LISTA DE SÓCIOS

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 200250

Pintanova – Pinturas na Contrução Civil, Ld.ªRua Amílcar Cabral, n.º 21 B1750-018 LisboaTel.: 217 572 856Fax: 217 577 4 72E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Vasco Paulino Actividade: Conservação e restauro de rebocos, estuques e cantarias, pinturas.

Rodrigues, Cardoso & Sousa, SA.Portela do Gove – Gove4640 BaiãoTel.: 255 55 13 15Fax: 255 55 17 23E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Joaquim da Silva SousaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Somafre - Construções, Ld.ªRua Manuel Rodrigues da Silva, n.º 7C – esc.61600-503 LisboaTel.: 217 112 370Fax: 217 112 389 E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos FreireActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, serralharias, carpintarias, pinturas.

Cruzeta – Escultura e Cantarias, Restauro, Ld.ªRua da República da Bolívia, n.º 97 – 4º Dto1500-545 LisboaTel.: 217 150 370Fax: 219 824 188E-mail: [email protected]ável: Sr. Eduardo Roberto Morezo Telemóvel: 967 094 130Actividade: Conservação e reabilitação de construções antigas, limpeza e restauro de cantarias, alvenarias e estruturas.

Gilberto Ferreira "Arte Sacra"Rua do Amorim, n.º 479500-020 Ponta DelgadaTel.: 296 65 29 49Fax: 296 65 42 04E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Gilberto FerreiraActividade: Conservação e restauro de talha dourada, pintura mural, rebocos e estuques.

2330-103 EntroncamentoTel.: 249 72 00 30Fax: 249 72 00 39E-mail: [email protected] Responsável: Prof. Vasco DuarteActividade: Construção e reabilitação de edifícios.

Certar – Sociedade de Construções, S.A.Rua Filipe Folque, n.º 7-1ºD1050-110 LisboaTel.: 213 522 849Fax: 213 523 177E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Fernando Llach CorreiaActividade: Conservação e reabilitação de edifícios.

MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªRua do Vale de Santo António, n.º 46 - 2º Dto1170-381 LisboaTel.: 218 161 620Fax: 218 161 629E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Artur Correia da SilvaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, conservação de rebocos e estuques, pinturas.

Ocre – Sociedade Comercial de Arte e Restauro, Ld.ªTravessa da Pereira, n.º 16 A, letra F-C1170-313 LisboaTel.: 218 881 108Fax: 218 881 087E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Nazaré TojalActividade: Conservação e restauro de pintura de cavalete, pintura mural, talha dourada e escultura policromada, levantamentos e diagnóstico.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªLargo João Penha, n.º 356 - 1º D4710-245 BragaTel.: 253 26 36 14Fax: 253 61 86 16E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria José CarrilhoActividade: Conservação reabilitação de edifícios, cantarias e alvenarias. Pinturas, carpintarias.

Ensul – Empreendimentos Norte Sul, SARua do Facho, n.º 262829-509 Monte da CaparicaTel.: 212 558 900Fax: 212 558 976E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Pedro AraújoActividade: Construção de edifícios, conservação e reabilitação de construções antigas, carpintarias.

DST – Domingos da Silva Teixeira, SALugar de Pitancinhos Palmeira4703-767 BragaTel.: 253 307 200/1Telemóvel: 965 989 300Fax: 253 307 210E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José TeixeiraActividade: Construção e conservação de edifícios, infra-estruturas, arranjos exteriores.

COPC - Construção Civil, Ld.ªRua Cidade de Bafatá, n.º 181800-060 LisboaTel.: 218 537 122Fax: 218 537 162E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Carlos OliveiraActividade: Construção de edifícios, conservação e reabilitação de construções antigas, recuperação e consolidação estrutural.

AMADOR, Ld.ªAvenida das Escolas, n.º 292520-204 PenicheTel.: 262 78 29 64Fax: 262 78 18 73E-mail: [email protected]: www.amadorlda.pt Responsável: Eng.ª Catarina Amador RêgoActividade: Conservação, restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªAvenida Manuel Alpedrinha, n.º 15Reboleira2720-352 AmadoraTel: 214 998 650Fax: 214 959 780E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Moreira dos SantosActividade: Execução de trabalhos

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Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002

LISTA DE SÓCIOS

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especializados na área do património construído e instalações especiais.

Azularte, Ld.ªRua José Santos Pereira, n.º 12 A1500-380 LisboaTel.: 217 741 016Fax: 217 789 973Responsável: Sr. José Lúcio AntunesActividade: Conservação e restauro de azulejos.

Alvenobra – Sociedade de Construções, Ld.ªRua Professor Orlando Ribeiro, n.º 3 – loja A1600 – 796 LisboaTel: 217 584 734Fax: 217 584 738E-mail: [email protected]ável: Eng.º Jorge Rodrigues TeixeiraActividade: Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

ENGIBUILT – Construções, Ld.ª Rua Diamantino Freitas Brás, n.º 24 r/c Dto.2615 – 070 Alverca do RibatejoTel.: 219 582 582Fax: 219 577 627E-mail: [email protected]áveis: Eng.º José A. Martins e Eng. Mário CunhaActividade: Reabilitação, recuperaçãoe renovação de construções antigas.

GALERIA N.E.T., Ld.ª Rua Cândido de Oliveira, n.º 13 -A, Brandoa2700 AmadoraTel: 214 760 267Fax: 214 760 267Responsável: Sr. Eduardo da Silva RamosActividade: Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo, molduras, etc.

MELIOBRA – Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Rua das Fontainhas, n.º 33-C 2700-391 AmadoraTel.: 214 759 000Fax: 214 753 010E-mail: [email protected]ável: Sr. José Pedro Pires CoelhoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Lda.Estrada Nacional, n.º 13Casal Prioste2070 – 624 CartaxoTel.: 243 770 045Fax: 243 770 098 E-mail: [email protected]ável : Dr. Carlos Abel Silva DamasActividade: Conservação e restauro do património arquitectónico, reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, instalações especiais em património ar-quitectónico e construções antigas.

Coala – Comércio de Produtos de Isolamento e Revestimento para a Construção Civil, S.A.Rua Padre Joaquim das Neves, n.º 12214435 – 374 Rio TintoTel.: 224 809 867Fax: 224 809 869 E-mail: [email protected]ável : Eng.º Nuno GuimarãesActividade: Reabilitação de edifícios, impermeabilizações, isolamentos e restauros.

Grupo IVFabrico e/ou distribuição de

produtos e materiais

BLEU LINE – Conservação e Restauro de Obras de Arte, Ld.ªRua do Alecrim, n.º 111 - 1º Esq1200-016 LisboaTel.: 213 224 461Fax: 213 224 469E-mail: [email protected] Responsável: Dr. José Luís Marques PereiraActividade: Materiais para intervenções de conservação e restauro em construções antigas, conservação de cantarias.

Optiroc Portugal, Cimentos e Argamassas, Ld.ªZona Industrial de Ourém2435-661 SeiçaTel: 249 540 190Fax: 249 540 199E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Rui VieiraActividade: Produção e comercialização de argamassas de colagem e revestimento.

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias de Reabilitação Estrutural, Ld.ªRua 25 de Abril, n.º 4 – 2º2795-580 CarnaxideTel.: 214 246 160Fax: 214 161 198Responsável: Eng.º Brazão FarinhaActividade: Produção e comercialização de materiais para construção.

Para mais informações acerca dos associados GE-CoRPA, e as suas actividades, visite a rubrica "associados" no nosso site em www.gecorpa.pt

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PERSPECTIVAS

Pedra & Cal n.º 15 Julho . Agosto . Setembro 2002

Desde os primeiros números da Pedra &Cal tem sido chamada a atenção nesta co-luna para casos significativos do que seconsidera ser "património em perigo".Apesar do muito que tem sido feito ou quese está a fazer para acudir a essas situa-ções, os casos apontados mais não preten-dem ser do que uma pequena amostra domuitíssimo que falta ainda fazer no cam-po do restauro ou da reabilitação para queo país possa estar bem com o riquíssimopatrimónio construído que possuímos.Deixando por agora de fora as situaçõesque afectam os tecidos residenciais dasnossas cidades – tema que, pela sua ex-tensão e gravidade tem sido recorrentenestas páginas – pareceu interessante ten-tar averiguar o que nos dois ou três anostranscorridos se terá passado relativa-mente aos casos singulares que foramsendo apontados. Relembrando sucessi-vamente tais casos, faz-se um apelo a

quem puder deles dar notícia, fazendochegar à revista informações que pos-suam acerca da evolução de cada umadessas situações.

1. Palácio de Valflores, em Santa Iria deAzóia, nos arredores de Lisboa (n.º 3/Ju-lho 1999). Como mostram as imagens, foifatal a demora na tomada de medidas deprotecção. As grandes chuvadas de In-verno do ano passado provocaram a der-rocada de grande parte da maravilhosaloggia renascentista do palácio. Há unsmeses atrás, uma associação local de de-fesa do património promoveu um encon-tro no vizinho castelo de Pirescoxe – estefelizmente adquirido e salvaguardadopelo Município de Loures – para se deba-ter a situação e encontrar soluções. Masnão foi possível saber de qualquer evolu-ção. Será que a Câmara de Loures ou a alu-dida associação poderão fornecer infor-mações sobre o assunto?

2. Forte da Graça, em Elvas (n.º 4). Trata-se talvez da nossa mais emblemática for-tificação da época moderna, relativamen-te preservada pelo facto de ter sidoutilizada sem interrupção até há poucosanos, sendo depois desactivada. No arti-go sugeria-se a instalação no local de ummuseu das fortificações portuguesas nomundo e apelava-se ao IPPAR, àDGEMN, ao Ministério da Defesa e à Câ-mara Municipal para que, juntando esfor-ços, dessem corpo à ideia.

3. Casas da Picanceira, no concelho de Ma-fra (n.º 5). Constituído por uma série ex-tremamente interessante de habitaçõesrurais padronizadas destinada no séc. XIXao alojamento de trabalhadores açorea-nos, este valioso conjunto corre o risco de

uma rápida descaracterização pelo factode as casas estarem a ser vendidas para se-gundas residências. No artigo faz-se umapelo à Câmara Municipal de Mafra nosentido de tomar iniciativas, tanto no pla-no regulamentar como no operacional,para salvaguardar este património único.

4. Conventos de Montemor-o-Novo (n.º 6). A propósito de um ciclo de debatespromovido em Outubro de 2000 pelas"Oficinas do Convento", prestimosa asso-ciação cultural que tem desenvolvidouma assinalável actividade, chamava-sea atenção para o problema de novos usosa dar aos conventos existentes na cidade.Num destes, o da Saudação, situado noperímetro do castelo, está a funcionar umcentro internacional de dança. Desconhe-cem-se no entanto os resultados de umaacção reiterada que o Município tem de-senvolvido no sentido da reabilitaçãodeste valioso património.

5. Palácio da Rosa, em Lisboa (n.º 10). Apropósito da cedência pela Câmara Muni-cipal deste importante edifício a uma em-presa hoteleira, chamava-se a atenção pa-ra a necessidade de obter garantiasrelativas à preservação do carácter arqui-tectónico do imóvel e da fruição pública deum património singular. Não tendo sidopublicadas informações acerca do desen-volvimento do processo, e tendo-se verifi-cado uma importante alteração política nadirecção do Município, seria interessanteconhecer as actuais perspectivas relativasa este caso.

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Património em perigo

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto.

1999

2002

Fig. 1 e 2: Palácio de Valflores, em Santa Iria de Azóia.