revista desloque

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1 O artista mineiro Paulo Nazareth causou rumor com sua instalação-performance na maior feira de ARTE CONTEMPORÂNEA dos Estados Unidos Infográfico sobre a Origem do Graffite Olhando para os muros de São Paulo Paulo Nazareth Leonardo Duarte Fantástico vendedor de BANANAS Ex-menino de rua utiliza trabalho como ferramenta para denunciar desigualdades sociais LENTE ATRAVÉS DA OLHANDO AO REDOR Texto etnográfico

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Superação pela arte

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Page 1: Revista Desloque

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O artista mineiro Paulo Nazareth causou rumor com sua instalação-performance na maior feira de ARTE CONTEMPORÂNEA dos Estados Unidos

Infográfico sobre a Origem do Graffite

Olhando para os muros de São Paulo

Paulo Nazareth

Leonardo Duarte

Fantástico vendedorde BANANAS

Ex-menino de rua utiliza trabalho como ferramenta para denunciar desigualdades sociais

L E N T EA T R A V É S D A

OLHANDO AOR E D O R

Texto etnográfico

O artista mineiro Paulo Nazareth causou rumor com sua instalação-performance na maior feira de ARTE CONTEMPORÂNEA dos Estados Unidos

Infográfico sobre a Origem do Graffite

Olhando para os muros de São Paulo

Paulo Nazareth

Leonardo Duarte

Fantástico vendedorde BANANAS

Ex-menino de rua utiliza trabalho como ferramenta para denunciar desigualdades sociais

L E N T EA T R A V É S D A

OLHANDO AOR E D O R

Texto etnográfico

Page 2: Revista Desloque

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PAULO NAZARETHNascido em 1977, Governador Valadáres, Brasilvive e trabalha em Belo Horizonte, Brasil

A obra de Paulo Nazareth baseia-se em linguagem, idéias, ações e objetos a fim de estabelecer ou revelar os laços que existem entre as pessoas e seus arre-dores. Seus temas são frequentemente relacionados à raça, ideologia e dis-tribuição desigual de desenvolvimento.

Arte

Pau

lo N

azar

eth

Page 3: Revista Desloque

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EDITOR CHEFEFábio Silveira

DIRETOR DE ARTEBeatriz Carvalho e Caio Caldas

EDITOR DE CONTEÚDOBeatriz Carvalho e Caio Caldas

REPÓRTERESAna Paula Tomimori

DESIGNERSBeatriz Carvalho e Caio Caldas

COLABORADORESLeonardo Duarte

TRATAMENTO DE IMAGENSBeatriz Carvalho e Caio Caldas

REVISÃOBeatriz Carvalho e Caio Caldas

IMPRESSÃOImpress Digital

ASSISTENTE COMERCIALBeatriz Carvalho e Caio CaldaS

A Revista “Desloque” é uma revista de inclusão social e superações de vida por meio da arte onde conta e divulga histórias de vida e super-ações de toda pessoa que queira compartilhar sua trajetória a fim de democratizar e ampliar a participação e valorizada pela sociedade.O Deslocamento é um mecanismo essencial para a elaboração dos sonhos.A missão do Projeto “Desloque” é contribuir para tornar a história de cada pessoa valorizada pela sociedade. Conseguimos entender que a manifestação artís-tica pode auxiliar os seres humanos e, pessoas excluídas socialmente, em particular, as pessoas com deficiência.Duas histórias de vida e superação. Fotografo Leonardo Duarte, Ex-menino de rua que utiliza a fotografia como ferramenta para denunciar desigualdades sociais. Artista Paulo Nazareth, vindo de uma família muito pobre, sua obra baseia-se em linguagem, idéias, ações e objetos a fim de estabelecer ou revelar os laços que existem entre as pessoas e seus arredores. Seus temas são frequentemente relacionados à raça, ideologia e

distribuição desigual de desenvolvimento.Quatro Portfólios com histórias desiguais. Teco Barbero (Fotógrafo), Zezão (Grafit-eiro), Breiner Silvestre (Pintor), Sinval Medeiros (Pintor), não se conhecem, porém possuem algo em comum: a arte como meio de superação na vida. A manifestação artís-tica, seja na pintura, na fotografia, no grafitti ou na pichação, promove o desenvolvimento das capacidades humanas, gerando o contato do artista com ele mesmo. Isso gera potencial de comunicação, expressão e sentimentos. É um meio de lidar com as deficiências e com a superação, trazendo assim a verdadeira inclusão social, principalmente para pessoas deficientes e excluídas socialmente. Além disso, esta manifestação também estimula a independência e a autoestima. A arte usa o circuito do prazer, que além de ajudar a superar dificuldades e complexos, também colabora para o fortalecimento do sistema imunológico. É uma forma de inclusão com valorização do indivíduo! .

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EDITORIAL

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5 TECO BARBERO

O fotógrafo paulista Teco Barbero, usa todos os sentidos na construção de uma fotografia, menosa visão. As Fotos são o resultado de sensações.

6 ZEZAO

O grafiteiro utiliza os mais diferentes suportes para expor seus sofisticados rabiscos - os mais interessantes são as paredes de um esgoto em Sp.

7 BREINER SILVESTRE

Breiner expressa imagens do real ao inimaginável já produziu centenas de imagens e faz da sua limitação uma arte.

8 SINVAL MEDEIROS

Seu estilo de arte como ele mesmo define é naif autoral e primitiva sobrenatural, ele retrata São Paulo de forma colorida e detalhista.

9 PAULO NAZARETH

Paulo Nazareth faz arte com os pés. Sem pincéis nem tinta, apenas por meio do simples ato de caminhar,.

12 LEONARDO DUARTE

Fotógrafo e há mais de dez anos tem utilizado a fotografia como instrumento para denunciar a desigualdade social do nosso país.

14 ENSAIO ETONOGRAFICO

Como os grafiteiros se comunicam e o que fazem nos momentos em que não estão intervindo no espaço urbano?

16 ENSAIO FOTOGRÁFICO

Paredes, cores e rabiscos se misturam nesse ensaio fotográfico sobre grafitte e pichação. As fotografi-as exploram as cores e as formas dessa arte de rua.

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SUMÁRIO

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Teco Barbero, usa todos os sentidos na

construção de uma fotografia, menos a

visão. Ele disse que “os outros sentidos como o toque, o olfato e os

sinais sonoros, mais a ajuda da máquina fo-

tográfica, bastam para construir imagens”.

Teco Barbero

Nascido em Sorocaba (SP), Antônio

Walter Barbero, 30 anos, conta que a paixão pela

comunicação o levou a cursar jornalism

o. Com

apenas 5% da visão, o então estudante de jornal-

ismo se matric

ulou em um curso de fotografia.

Teco revela que hoje é testemunha de que não

existem lim

ites para a vontade humana.

PORTFOLIO

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ZézãoO responsável por esses grafites é o grafiteiro José

Augusto Amaro Capela, o Zezão. Em 2003, Zezão

decidiu largar a “vida louca” que levava como

motoboy para viver de grafite. Sem muito o que

perder, lançou-se como artis

ta de rua. Suas pinturas

azuis pelos su

bterrâneos da cidade, os “flops”, f

oram

descobertas aos poucos.

O estilo de Zézão é marcado pelos temas abstratos e psicodéli-cos, com cores fortes e fluorescentes. “Gosto de liberdade para criar”, afirma Zezão, O grafiteiro uti-liza os mais diferentes suportes para expor seus sofisticados rab-iscos - os mais interes-santes são as paredes de um esgoto na metrópole paulistana.

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Formado em Administração de Empresas tra

balha

como servidor público no Ministério da Justiç

a o

brasiliense já se interessava pelo universo colorido

dos desenhos, lápis e tin

tas desde criança, ao

longo dos anos, a aptidão foi sendo lapidada

mesmo sem as duas mãos Breiner pintou dezenas

de quadros e superou sua deficiência. Breiner Silvestre

Breiner produz suas obras em casa e dedica o tempo livre para colocar em prática o uso dos pincéis, mosaicos e sprays.O mais inusitado é que o artista brasiliense é portador denecessidades especiais. Não possui as mãos. e com a ponta dos pinceis, com os braços ele desenvolve a habilidade de pintar e desenhar.

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Foi esta a forma de agradecer em pin-celadas acrílicas que retratam paisagens e arquitetura de pontos importantes da capital paulistana como prédio Martinelli, Viadutos do Chá e de Santa Ifigênia, Prefeitura, Praça da Sé entre outros.

SinvalNascido na cidade de Currais N

ovos / RN, em

5 de dezembro de 1962, Sinval G. Medeiros, 50,

jamais teve qualquer tip

o de contato com escola

de artes plásticas. E

studou até o 2º ano do ensino

fundamental , virou morador de rua. Depois d

e

ter uma visão começou a pintar e desde então

não parou mais. Ele vende seus quadros em uma

praca do centro de SP.

Medeiros

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CAPA

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DECIFRANDOPAULO

NAZARETH

AArtista de Minas Gerais conta sobre sua trajetória Entrevista de Ana Paula Tomimori ◊ Fotos Bia Carvalho

A obra de Paulo Nazareth baseia-se em linguagem, idéias, ações e objetos a fim de estabelecer ou revelar os laços que existem entre as pessoas e seus arredores. Seus temas são frequentemente relacionados à raça, ideologia e distribuição desigual de desenvolvimento e são sempre sustentados por uma visão categórica da vida ética em si – uma vida que coloca em relevo os laços afetivos que ligam a vida indi-vidual à vida coletiva, este momento com o próximo, o particular com o universal. Em uma prática que é ao mesmo tempo interdisciplinar e participativa, Paulo Nazareth incorpora a idéia do artista como uma espécie de conector, um decodificador performativo ou uma espécie de filósofo.

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Através de todo

o trabalho de Paulo Nazareth, ges-

tos simples mas fortes são usados para evocar a memória

histórica, bem como para destacar as tensões sociais e econômicas e a luta de classes - tensões especial-mente aparentes para ele no Brasil e, mais amplamente, na América do Sul. Paulo Nazareth freqüentemente combina noções de justiça social e de resistência com uma dose de absurdo – ressaltando as armadilhas que aguardam aqueles que acreditam no progresso como um processo mecâni-co versus um processo holístico.

Quando Paulo Nazareth recebeu a notícia de que iria mostrar um trabalho seu na Art Basel de Mi-ami, uma das maiores feiras de arte contemporânea do mundo, ele disse para si mesmo: “Não posso chegar aos Estados Unidos sem passar pela América Latina”. E se negou a ir de avião.

“Não podia pegar um avião no Brasil e descer em Nova York como se não existisse nada entre um ponto

e outro”, justificou Paulo

ao Magazine, por telefone, de San Diego,

na Califórnia, para onde seguiu depois da feira, cruzando de ônibus o

país, de leste a oeste.

Como a ideia era chegar aos Estados Unidos “impregnado” de América Latina, além da resolução de cruzar o continente por terra, ele decidiu também não lavar os pés durante todo o percurso. “Eu não considero sujeira, mas terra da América Latina”. Paulo só foi lavar os pés no rio Hudson, que banha a ilha de Manhattan, em Nova York, no dia 28 de outubro, seis meses e quinze dias depois de iniciada a jornada.

Desde sua partida do Palmital, em Santa Luzia, onde vive e mantém uma banca na feirinha local, vendendo trabalhos entre gravuras e textos, o artista já rodou dezenas de milhares de quilômetros, passando por cidades de Minas – incluindo Governador Valadares, onde nasceu, em 1977, e ouviu muitas histórias sobre a “Amé-rica” e o México –, rumando ao Sul do Brasil e depois subindo pelos países da América Central até chegar aos EUA.

Quando chegou à Art Basel, Paulo Nazareth se surpreendeu com a dimensão da feira. “Não sabia da im-portância. Para mim, era uma feirinha igual à do Palmital”. E sua obra, apre-sentada pela galeria paulista Mendes

Woods, acabou

chamando muita atenção, sendo inclu-

sive citada numa crítica do “The New York Times” como o

único trabalho realmente original na exposição Art Positions, dedicada aos artistas emergentes. A instalação, in-titulada “Mercado de Artes/Mercado de Bananas”, conjuga-se com uma lin-guagem de performance e se constitui de uma Kombi 78, verde, carregada por uma tonelada de bananas, que eram vendidas por Paulo a US$ 10, e cuja cor amarela, junto ao verde, criava um belo aspecto visual. Além disso, com as bananas amadurecendo, o cheiro delas flutuava pelo ambiente, expandindo também o aspecto senso-rial. “As bananas atraíam mosquito e gente. Era a única obra que tinha cheiro lá”, disse Paulo.Diante da banca, preparado para receber a “freguesia”, o artista expunha cartazes com dizeres do tipo: “Vendo minha imagem de homem exótico”. “Eu vendia banana e a minha cara.

Aí eu falava: ‘Tem duas coisas muito baratas nessa feira, a banana, a US$ 10, e a minha foto, que eu vendia a US$ 1’. E estavam mais baratas que o café da feira, que nem era arte e estava sendo vendido a US$ 15”, disse Paulo.

“Se estava indo para uma feira de arte, então era para vender. Aí eu disse: ‘É venda, então é venda’. Vamos assumir. E a Kombi é como se fosse a feira numa pequena escala. O trabalho é

Eu não considero sujeira, mas terra da América Latina

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dentro de um lugar, e eu falo desse lugar em que eu estou”.

A autocrítica presente na obra de Pau-lo se confundia com o papel do vende-dor da performance, que, confrontada com o público, tornava-se imprevisível. “Passavam pessoas tirando foto minha sem pagar e eu gritava: ‘Estão me roubando!”, contou, divertindo-se. “Teve uma figura que resolveu prote-star e comeu uma banana, e eu gritei: ‘Estão me roubando!’. Aí chamaram a polícia, queriam me colocar para fora, mas, depois, entenderam o que estava acontecendo e mandaram a mulher me pagar. E eu dizendo: ‘Essa mulher comeu minha arte”.

Como bom e experiente vendedor, Paulo recebia quem se aproximava de sua instalação com um repertório enorme de histórias, vivenciadas ao longo de sua jornada pelo continente americano.

É aí, no caráter performático de sua obra, que as inusitadas opções de viagem do artista ganham sentido den-tro do contexto de sua estética – não se tratava de mero papo de vendedor, mas de “notícias”, como ele diz, sobre experiências que diziam respeito à cultura, à política e a muito da reali-dade do continente americano.

Notícias, muitas vezes, trazidas de rincões sobre os quais ninguém naquele lugar teria algo a dizer. “Virei um ponto de referência. Era um es-paço animado. Era a América Latina. O pessoal chegava, eu contava causos e as pessoas ouviam. Por isso, ela (Karen Rosemberg, a crítica do ‘NY Times’) falou que era um ‘espaço de pequenos espetáculos’. E eram espetáculos mes-mo – de camelô. Tipo esses caras que ficam na praça da rodoviária dizendo que vão meter a mão na caixa cheia de cobras. Então, é a performance e a venda, e eu tenho que contar causos para vender”.

Auto retrato de Paulo Nazareth nos EUA

Havaianas compradas no Brasil

por Paulo e usada em toda a

viagem

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Entrevista com Paulo Nazareth Por Ana Paula Tomimori

Ana Paula Tomimori: Comente um pouco da sua trajetória, o como ocor-reu sua aproximação com as artes.

Paulo Nazareth: Pode começar da historia quando menino? Meu pai desenhava passarinhos e meu irmão fazia retrato dele mesmo, mas não falavam nada de arte. Meu irmão fazia brincadeiras com sombra. Meu pai contava história de assombração e cau-sos acontecidos e ocorridos, e a gente ficava lá vendo o fogo de noite. Minha mãe dizia que bananeira-prata tinha assombração, e a gente saía correndo das bananeiras. Eu sempre andei, desde menino, a gente ia pra escola andando. Era uma andança. Ah, e os brinquedos das marcas famosas eram caríssimas. E tinha todos aqueles brinquedos que a TV mandava pedir pro pai. Ah, mas eu nunca pedi porque o pai nunca ia

comprar, e aí eu construía brinquedos. Eu já fazia cópia, eu já era um homem que copiava, na verdade era um meni-no. Aí eu fazia com chiclete mascado que eu arrancava do chão. Eu fazia brinquedos, isso já era arte. Fazia com embalagem de pasta de dente, a bisnaga era de metal. Fazia um monte de coisa com papel. Ah, mais tarde eu vi que essas coisas podem se tornar objetos de arte, essas ações. E aí às vezes eu via umas coisas que falavam que era arte, via nas revistas de grande circulação, críticos de revistas popular, e eu via que essas coisas eram pare-cidas com as coisas que eu fazia, eu guardava esses recortes. Eu gostava de ler quadrinhos, mas eu gostava das imagens, e eu pensei em fazer cinema. Aí só mais tarde eu vi que tinha mil-hões de possibilidades, e aí eu pensei em fazer cinema que eu poderia fazer o que quisesse, ser quem eu quisesse. Aí mais tarde eu entrei pra universi-dade de Belas Artes pra fazer cinema, e eu descobri que fazendo arte eu poderia fazer muita coisa, fazer até cinema, e aí eu fui fazendo o que eu sempre fiz. E aí continuo fazendo e aí eu posso até vender banana e ser arte, e eu não preciso ter medo de não pagar a presidência.

Ana Paula Tomimori: Você fala de performance e vida. E o que você acha sobre a institucionalização da performance, dos eventos de perform-ance?

Paulo Nazareth: Eu acho que a ficção já faz parte da vida. Ela existe, ela faz parte do mundo. Acho que a performance tá aí, tá se institucion-alizando, eu tenho até uma empresa, não, corrige aí, uma firma que eu tenho. Sabe por que eu gosto de firma? Porque firma tem a ver com assinatura e acho que o artista é isso, uma assinatura, ele afirma, ele acaba sendo isso, se torna esse comércio. E aí eu fico pensando nessas firmas, empresas, há quantos anos elas estão no mercado. Se tem um ano é pouco conhecida, ninguém confia muito, as marcas precisam de um tempo pra se formar no mercado e depois tem que continuar sendo boas pra se manter no marcado. E aí a arte é uma outra coisa mas eu posso fazer um jogo, porque tem a comercialização na arte, isso se torna um mercado, é como qualquer mercado e cada mercado tem suas características especificas. Aí a institucionalização da perform-ance tem muito a ver com as questões de mercado, acho que é um produto que tem aí e já se firmou no mercado, é reconhecido como objeto de arte.

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Desde muito já se existe esses eventos de performance, algo profissional. Eu tô pensando em um mercado de leite, tem uma indústria de leite, mas continua aquele moço que vende de porta em porta, em alguns lugares é mais difícil de se encontrar e algu-mas pessoas não vão confiar no leite dele, vão preferir o industrial. Como a performance, continua existindo a performance não institucionalizada, mas algumas vão preferir aquelas que são institucionalizadas, que se firma-ram. Eu acho que, se o homem que vende o leite de porta em porta puder vender pra mais pessoas ele vai fazer isso, como um industrial. O negócio é se ele vai continuar fornecendo aquele leite integral ou um modificado.

Ana Paula Tomimori: Em seu trabal-ho é possível observar que os textos, a escrita é recorrente, nos panfletos, nos contratos, etc. Sei que você está cursando Letras em Belo Horizonte. Como você acha que ocorreu a escrita em seu trabalho em artes visuais?

Paulo Nazareth: Pra mim o texto também faz parte da arte visual. Talvez tem muitos artistas que se aproximam também. E como eu fui descobrindo a língua, cada vez me

apaixono mais pela língua. A língua em geral, pela não existência de erros, essa variação. E essa relação, uma palavra escrita pode não ser nada se eu não compreendo a escrita, ela pode ser apenas imagem, desenho. Eu sempre gostei disso, dessa palavra e às vezes eu escrevia algo que eu não conhecia. Aí eu começo a ver a escrita japonesa e perceber aquele desenho, é um texto mas é um desenho. A palavra sempre é um desenho, talvez a escrita estrangei-ra se aproxime mais do desenho. Principalmente pra nós que temos um alfabeto latino, e encontramos uma outra escrita, um outro alfabeto, esse alfabeto pode ser muito próximo ao desenho. Isso me deixa muito curioso, interessado, apaixonado pelo anal-fabetismo/estrageirismo. Na escola eu já fazia uns desenhos e ilustrava com palavras, simulava essa escrita estrangeira, pensava nesse estrangeir-ismo da palavra e rabiscava algo que se aproxima do japonês. Mas eu pensava na escrita errada, uma escrita que fosse uma outra coisa, que provocasse no outro não reconhecer uma palavra que parecesse com a sua palavra. Eu fui descobrindo a palavra e isso foi se desdobrando, desdobrando e continua a se desdobrar.

Sapato deixado no Brasil. Durante

a viagem Paulo substituiu os sa

pa-

tos por um par de havaianas.

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16 L E N T EAT R A V É S D A

HISTÓRIA

PESSOAL

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Ex-menino de rua utiliza trabalho como ferramenta para denunciar desigualdades sociais.

Ex-menino de rua utiliza trabalho como ferramenta para denunciar desi-gualdades sociais.

Morador de São Bernardo, ex-menino de rua, militante da área de inclusão social e direitos humanos, o fotógrafo Leonardo Duarte faz fotografias em preto e branco, com cenas de jovens em situação de exclusão.

Uma das primeiras fotos de sua car-reira, a foto de um menino na Vila São Pedro batendo uma bola num campo de barro, está no livro Brasil Bom de

Bola, e exposta no Museu do Futebol, além de ser bastante utilizada por in-stituições. “Na verdade, durante muito tempo foi a foto que eu mais gostava.”

Desde 1997, Duarte utiliza a fotogra-fia como denúncia da desigualdade so-cial. “Nunca mudei meu foco, não por questão de evolução, mas por acreditar que meu objetivo não foi cumprido, por ainda ver situações de pessoas sendo tratadas desumanamente. Ainda existe muita coisa a ser enunciada”, disse. “Acredito que tenho um objetivo e não uma carreira.”

Entrevista de Ana Paula Tomimori ◊ Fotos Leonardo Duarte

AT R A V É S D A

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MMeu nome é Leonardo Duarte, sou fotógrafo e há mais de dez anos tenho utilizado minha ferramenta de trabalho como instrumento para denunciar a desigualdade social do nosso país e procurar sensibilizar a população para esta questão.

Com um olhar diferenciado e sensível, resultante da minha história de vida, proponho através das imagens que registro uma reflexão sobre o papel de cada indivíduo na sociedade, para que se perceba a situação de desigualdade e isto possa desencadear um processo de transformação social.

Sou natural de Juazeiro do Norte (CE) e resido em São Bernardo do Campo desde os 12 anos de idade. Desde então comecei a trabalhar na rua, vendendo balas, e a partir da con-vivência com alguns amigos fui pas-sando cada vez mais tempo nas ruas, chegando a dormir vários dias fora de casa. Nesse período foi atendido por uma organização não governa-mental (Projeto Meninos e Meninas de Rua) que desenvolve trabalho de assistência a população de rua, onde passei a representar essa população em diversos fóruns, congressos, semi-nários, conferências em vários estados

brasileiros e outras cidades do exterior. Nestas atividades tive a oportunidade de ministrar palestras com personali-dades reconhecidas na área de defesa dos Direitos Humanos, como: Frei Beto, Miriam Veras, Celso Horta, ente outras.

Meu primeiro contato com a fotogra-fia foi quando fui personagem de uma matéria jornalística. Após a reporta-gem, o fotógrafo Paulo Giandalia me deixou três rolos de filmes. Deste tra-balho consegui que onze fotos fossem publicadas na Folhade S. Paulo, sendo uma delas na capa do jornal, em 1997,

Leonardo flagra cenas do cotidiano de trabalhadores da periferia de

São Paulo. As imagens são expres-sivas , mulheres e crianças não se intimidam com a câmera, e a

encaram como se fosse alguém da comunidade

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numa matéria intitulada: “Ex-menino de rua sonha em ser fotógrafo”.A partir de então, trabalhei nos jornais: Folha de S. Paulo e Valor Econômico, para a revista Quem e para o site UOL. Fiz o ensaio fotográfico do grupo de rap Racionais MC’S para a revista Trip. Tenho uma foto publicada no livro “Brasil Bom de Bola”, lançado pela Editora Ponto e Meio, que também está exposta no Museu do Futebol, no Pacaembu, em São Paulo. Fui fotógrafo da Fundação Criança de São Bernardo do Campo, onde desenvolvi oficinas de fotografia para crianças e adolescentes e atualmente sou educador social

do Projeto Meninos e Meninas de Rua –PMMR, e nos momentos livres continuo fotografando.

Desde o início de minha carreira como fotógrafo, busco incentivar a cultura, em todas as suas formas e, sobretudo, nas comunidades mais pobres, pois acredito que a fotografia pode ser uma arma contra as injustiças e as mazelas sociais, que vi explicitamente em meu cotidiano. A fotografia, por seu caráter de comunicação universal, pode levar minha proposta de reflexão a todos os lugares da cidade, do país, e (por que não?) do mundo.

Os fios, o barro e o concreto são vistos com frequência nas imagens de Leonardo. Os personagens fotografados são pegos com expres-saão de cansaço as vezes encarando a câmera .

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SOCIOLOGIA

Mas qual é o ponto de partida dessas invasões pela cidade?Como os grafiteiros se comunicam e o que fazem nos momentos em que não estãointervindo no espaço urbano? Como é a sua organização e a dinâmica? Essa etnografia tenta dar as respostas para essas questões e permitira compreender um pouco dos significados dos milhares de graffitis espalhados pelas cidades grandes.

O convívio com a pobreza, a violência, inclusive policial, o tráfico de drogas e a precariedade de escolas e espaços de lazer, fazem com que a sociabilidade entre estes jovens reflita a sua realidade.

É nesse contexto que a rua, o espaço urbano ganha relevância enquanto localde encontros, trocas, conflitos e oportunidades.

Como encontrá-los? Onde estão estes atores sociais que espal-ham suas marcas e se expressam por toda a metrópole? A pesquisa de campo se iniciou, então, pela busca por eventos relacionados ao graffiti como uma exposição recente no MUBE. O deslocamento em espaços que geralmente não acolhem os pedestres ilustram um dos elementos da “cultura de rua”. Trata-se exatamente dessa experiência diferenciada do espaço urbano, através de grandes deslocamentos a pé pela

OLHANDO AO

R E D O R

Olhando para os muros da Cidade de São Paulo:A maioria dos graffitis e pixações encontrados na cidade são ilegíveis aos olhos de quem passa, onde cobrem muros, prédios, lojas, outdoors ou mesmo blocos de concreto e restos de obras, todo espaço aberto para pintura e desenho.

São pinturas, com letras retas, pontudas e il-egíveis, ou coloridas, arredondadas, com desen-hos, personagens e caricaturas.

As pixações e o graffiti estão espalhados por todos os cantos da metrópole paulistana, por toda a cidade, nos bairros periféricos, no centro, tanto em muros como em pilares de viadutos, nas fachadas de prédios e até mesmo nos lugares mais escondidos e fechados como é o caso das galerias de esgoto.

A opção pelo termo graffiti, ao invés de grafite, deve-se ao fato de que os próprios grafiteiros escrevem dessa maneira, segundo explicação que ouvi, grafite refere-se ao lápis, ao objeto, enquan-to que graffiti é a ação de pintar.

O graffiti vem extrapolando os espaços abertos, como as ruas, e vem ocupando lugares fechado como as galerias de arte, agências de publicidade, estampas de camisas, de skate, tatuagens, casas de cultura, prédios, bancas de jornal...Evidenciando o graffiti

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cidade, o que possibilita a descoberta de atalhos, mas que estão fora das rotas projetadas para pedestres e que acabam por exigir habilidades específicas para serem percorridos.

Nem todo grafiteiro é da periferia, mas o graffiti é. Mesmo que a maioria dos grafiteiros sejam de origem de bairros mais periféricos e classes sociais mais pobres, existem exceções. Prin-cipalmente hoje em dia, em que encontram facilmente revistas, livros, vídeos e filmes sobre o graffiti, além de muita informação na Inter-net, e até galerias voltadas para as formas de intervenção urbana, é possível tomar contato e se interessar pelo graffiti mesmo sem estar nas ruas efetivamente.

Porém se um jovem de classe média se interes-sar pelo graffiti, ele terá de enfrentar as ruas para se tornar um grafiteiro respeitado e se inserir no meio da realidade. Isso significa ter de passar pelas experiências e aprendizados que a rua proporciona, pois somente através dessa experiência poderá compreender a cultura de rua e ser aceito nesse meio.

Pixação e graffiti:Há uma proximidade ainda mais estreita entre os grafiteiros e pixadoresacerca do uso que estes fazem dos espaços urba-nos. A opinião pública e asociedade, de maneira geral, classificam o graf-fiti em oposição a pixação,enquanto o graffiti é considerado uma mani-festação artística aceitável, apixação é socialmente mal vista, considerada vandalismo. Porém existem elementos que diferenciam as duas formas de expressão.Os grafiteiros classificam a pixação como uma manifestação, um estilo no interior do próprio graffiti.

Sendo assim, a pixação e o graffiti estão juntos em relação ao espaço urbano: são formas de intervenção urbana.

Os pixadores se diferenciam dos grafiteiros também por se considerarem mais ousados, mais “radicais”, privilegiando mais a atitude do que o resultado estético.

Profissão grafiteiroCom a já citada prática do caderno, os grafit-eiros exercitam seu potencial criativo e suas habilidades no desenho, essa prática leva a uma outra possibilidade no campo profissional: a ilustração.

O graffiti está cada vez mais presente em es-paços artístico-culturais dacidade de São Paulo, exposições coletivas, indi-viduais, mostras e grandeseventos da moda, da publicidade, etc.

Conlusão A partir desse estudo o universo do graffiti revelou-se extremamentecomplexo e dinâmico, de modo que procura-mos apresentar elementos relevantes para a compreensão geral deste fenômeno no contexto urbano.

Fontes e re

vistas d

e divulgação: Almanaque de G

raffiti n

º

02– editora escal

a, 2001, Graphic G

rafite n

º 01 – editora

escala, 2

004.

Texos: P

ichação e c

omunicação - u

m código sem reg

ra

Signos Subversivos D

as Significaçõ

es De G

raffiti e

Pichação

Sites: www.subsoloart.

com, www.graffiti.o

rg.br, www.art

br.

com.br, www.graffi

tibrasil.co

m, www.artsam

pa.com

www.lostart.br

Vídeos: A Invasã

o 2, Onesto. 2001, Leminski fal

ando sobre

pichação e g

rafite

21

Page 22: Revista Desloque

22

NO MUROSP

RAY

Page 23: Revista Desloque

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Page 24: Revista Desloque

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Page 25: Revista Desloque

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Page 26: Revista Desloque

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Os artistas pouco conhecidos e aqueles

que estão em início de carreira podem

sentir alguma dificuldade em conseguir

vender as suas obras de arte. No entanto,

existem várias formas de contornar essas

dificuldades e divulgar a sua arte de

forma a conseguir vender. De entre as

várias maneiras de vender arte destaco

as seguintes: galerias de arte, venda na

Internet, organização de exposições

próprias. Obviamente é possível apostar

simultaneamente em todas.

Se as suas obras tiverem preços de

venda bastante avultados então pos-

sivelmente as galerias de arte serão a

melhor solução. Se tiver conhecimentos

no meio a sua tarefa estará bastante

facilitada, no entanto, se for um artista

desconhecido e não conhecer pessoas

influentes então poderá ser muito difícil

conseguir expor numa galeria de arte.

A venda através da Internet pode ser a

forma mais rápida de conseguir resul-

tados, sendo que existem várias formas

de vender pela Internet. Você pode criar

o seu próprio website (com domínio e

design próprio) e publicar fotos e outras

informações sobre as suas obras. As

pessoas interessadas irão contactá-lo

directamente e assim irá obter 100% dos

lucros das vendas.

Pode também optar por divulgar as suas

obras em sites especializados na venda

de arte. Um dos sites mais conhecidos

e mais visitados é o DeviantART (faça

uma pesquisa no Google e irá encontrá-

lo), e aqui você terá que pagar para

poder expor as suas obras e assim não

obterá 100% dos lucros. No entanto,

como este website tem milhares de

membros e é visitado por milhões de

utilizadores, as probabilidades de con-

seguir vendas são mais elevadas.

Uma outra forma de vender pela Inter-

net é expor as obras em sites de leilões,

como por exemplo no ebay, miau (Por-

tugal), mercado livre, etc.

Um ponto importante a ter em conta

é que deve colocar sempre uma marca

d´água em todas as fotos das suas obras

que publicar na Internet, de forma

a evitar que outros possam copiar e

usar as suas fotos para outros fins. Por

exemplo, se tiver o seu próprio web-

site coloque uma marca d´água com

o endereço do seu site. Assim estará

a proteger as suas fotos e ao mesmo

tempo a divulgar o seu site.

Organização de exposições próprias

Você pode também vender as suas

obras através de exposições próprias.

Para isso apenas tem que encontrar

um local adequado para realizar as

exposições e fazer a divulgação do

evento para que apareçam o máximo

de visitantes possível, e assim conseguir

vender mais.

EXPONHADivulgar sua arte é mais fácil

do que você imaginava.

FICA

A D

ICA

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