revista de arte - matéria finok

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as crenças populares, religiosas e o sincretismo das religiões afro- brasileiras. Uma das salas da exposição é dedicada às pipas produ- zidas por Finok. “A pipa tem uma simbologia muito forte porque é uma brinca- deira de adulto: se você não cortar o outro, é você quem acaba cortado”, explica. Com cores vibrantes e diversos desen- hos geométricos, o artista assina seu nome em letras maiúsculas em cada uma de- las, sempre em tons de verdes. De acordo com Anne Lopes, diretora da Smith Galeria, “O resultado é uma alegria anárquica vinculada à ordenação e encantamento como só as grandes obras de arte proporcionam”. A Smith Galeria abriu, no dia 23 de novembro, a exposição individu- al do grafiteiro Finok, “Despa- cho”. O jovem artista, de apenas 27 anos, apresenta 27 trab- alhos – entre eles, pinturas, desenhos e instalações. Ra- phael Sagarra, mais conhe- cido como Finok, é grafiteiro desde os 16. Começou a sua carreira obser- vando a vizinhança no Cambuci, onde cresceu, e, hoje, é reconhecido mundialmente – tendo destaque na América do Sul e nos Es- tados Unidos - como um dos grandes talentos jovens da arte urbana brasileira. As obras carregam figuras de totens, carran- cas, santos, amuletos, caveiras e santos. A ex- posição se baseia em uma pesquisa feita sobre “DESPACHO”, DE FINOK por Priscila Doneda 10

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as crenças populares, religiosas e o sincretismo das religiões afro-

brasileiras.Uma das salas da exposição é dedicada às pipas produ-zidas por Finok. “A pipa tem uma simbologia muito forte porque é uma brinca-

deira de adulto: se você não cortar o outro, é você quem

acaba cortado”, explica. Com cores vibrantes e diversos desen-

hos geométricos, o artista assina seu nome em letras maiúsculas em cada uma de-

las, sempre em tons de verdes. De acordo com Anne Lopes, diretora da Smith Galeria, “O resultado é uma alegria anárquica vinculada à ordenação e encantamento como só as grandes obras de arte proporcionam”.

A Smith Galeria abriu, no dia 23 de novembro, a exposição individu-al do grafiteiro Finok, “Despa-cho”. O jovem artista, de apenas 27 anos, apresenta 27 trab-alhos – entre eles, pinturas, desenhos e instalações. Ra-phael Sagarra, mais conhe-cido como Finok, é grafiteiro desde os 16. Começou a sua carreira obser-vando a vizinhança no Cambuci, onde cresceu, e, hoje, é reconhecido mundialmente – tendo destaque na América do Sul e nos Es-tados Unidos - como um dos grandes talentos jovens da arte urbana brasileira. As obras carregam figuras de totens, carran-cas, santos, amuletos, caveiras e santos. A ex-posição se baseia em uma pesquisa feita sobre

“DESPACHO”, DE FINOKpor Priscila Doneda

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Q&A• Raphael,porque“Finok”?É um apelido que um amigo me deu.• Porquegrafitar?Assisti alguns meninos fazendo graffiti e me in-teressei. Achei muito diferente sair por aí escre-vendo o próprio nome. Realmente despertou a minha curiosidade e busquei achar um porquê.• Qualfoiaprimeiravezemqueumtrab-alhoseufoireconhecido?Eu estava pintando na rua e uma pessoa co-mum deu sua opinião a respeito do que eu estava pintando. Não me recordo exatamente o que foi dito, mas isso sempre é importante pra mim, mesmo que seja uma crítica negativa.• Quais foramseusparceirosmais impor-tantesdetrabalho?Falando de graffiti, foram todos os meus ami-gos que, de uma forma ou de outra, criticaram e me ajudaram com muitas opiniões para que eu pudesse evoluir dentro do meu estilo, os meus amigos da turma Vlok.• Jáfoiouépatrocinado?Não, mas já participei de projetos patrocinados.• Além dos seus trabalhos, existe algumoutroartista/obraqueadmiramuito?Admiro tudo que é feito por amor. Nem sempre relacionado a arte. Muitas coisas são arte sem o intuito de ser. E isso é algo que me admira muito. • Algum outro país além do Brasil lhetrouxe inspiração para algum tema ou obra em especial?Sesim,qualouoquê?A Índia, pela simplicidade em que o povo vive. Lá, se pode perceber que podemos viver com pouco, algoquenãoseaplicamuitoaoBrasil.• Você começou a grafitar no bairro doCambuci. Por onde mais o seu trabalho já se ex-pandiu?No Brasil, em cidades como o Rio de Janeiro,Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Manaus, Recife, Salvador, Natal e João Pessoa. Mas também jápintei em países como Chile, Guiana Inglesa, Es-tados Unidos, Espanha, França, Itália, Suíça, Ale-manha,Bélgica,ÍndiaeNepal.• Acredita na inclusão social através daarte?Acho que a arte pode abrir a cabeça das pessoas para o mundo e a vida, porém é muito difícil viv-er de arte. Ensinar algo talvez não permita que a pessoa viva bem, o que acaba não sendo inclusão social. Mas acho extremamente importante que 11

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os indivíduos aprendam arte, e que saibam que a vida oferece diversos caminhos. • Vocêacreditaqueainternetajudouadis-seminar uma espécie de “inclusão social” através daarte?A internet faz com que as pessoas tenham conta-to com muitas coisas, mas isso serve para os dois lados, coisas fúteis e coisas que vão trazer algo construtivo. • Quaissãoosprincipaismeiosdedivulga-çãodoseutrabalho?Em se tratando de graffiti, é a rua.• A sua assinatura são os grandes olhosverdes, que fazem suas pinturas parecerem com cartoons.Porqueacorverde?O verde junto com o azul escuro e o amarelo são ascoresdoBrasil.Nãofoiintencional,masresul-tou em uma combinação de cores que conversa com os brasileiros, tem uma relação bem forte com o pais em que vivemos. • Quaissãoostemasmaisdecorrentesnassuasobras?Geralmente, são coisas que fazem parte de minha vida, direta ou indiretamente. Cotidiano, ati-tudes, coisas que vivenciamos. Muitas vezes, são mensagens subliminares, com muita simbologia. Mas tudo sempre ligado às crenças que todos nós temos, não necessariamente religiosas. • Quais os materiais mais utilizados nassuasobras?Na rua é spray e látex. Em telas, spray, tinta acrí-lica e verniz. • Existe algum local específiconomundoque você gostaria de grafitar e ainda não teve a oportunidade?Sesim,qualseriaodesenho?Eu já tive a oportunidade de pintar no nordeste doBrasil,masesperopoderfazerissomaisvezes.

Sem bairrismo, mas a cultura brasileira é muito forte, embora muito pouco explorada. Na ver-dade, às vezes pouco importa o desenho, e sim o aprendizado, tanto dos que vão observar o graf-fiti, quanto o meu, que vou aprender com o que está ao meu redor naquele determinado local. • Quandovocêcomeçouafazerexposiçõesdesuasobras?Minha primeira exposição individual foi na Ale-manha, no ano passado, na Galeria Ruttkowski 68. • Qual foi a sua principal exposição atéhoje?A exposicao que está em exibição agora, na Smith Galeria, minha primeira exposição no Brasil.Toda ela é relacionada ao ‘acreditar’, seja religioso ou não. São diferentes tipos de crenças, ligadas às culturas populares, coisas que vemos e vivencia-mos, são contemporâneas ao nosso tempo, fazem parte de nosso cotidiano. • Além de fazer exposições, você aindagrafita?Sesim,qualaimportânciadessetipodearteparavocê?O graffiti para mim é algo que se encaixa num mundo paralelo ao da arte. É algo bem distinto, mas conectado de uma certa forma. O graffiti para mim é um vício, e nele já estou há mais de 12 anos. O graffiti tem uma linguagem direta, e eu costumo escrever meu nome, por isso o considero algo diferente do meu trabalho como artista, mas capto bastante o que acontece ao meu redor quan-do estou pintando. Não consigo especificar qual graffiti meu é mais conhecido, mas tenho muitos espalhados por toda a cidade de São Paulo, desde o centro até os bairros mais periféricos.

SERVIÇO

A mostra permanece até 21 de dezembro.Abertura: 23 de novembro, das 15h às 21h.

Visitação: terça a sexta, das 13h às 19h. Sábado, das 10h às 14h.

SMITH GALERIA DE ARTERUAJOÃOMOURA,417

PINHEIROS-SÃOPAULO–SP

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