revista agroindústria tropical 144

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1 T R O P I C A L Revista editada pelo Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical Fortaleza (Ceará) Dezembro-Janeiro |2012 - 2013| Nº 144 AGROINDÚSTRIA PESQUISA EM AÇÃO: H F F S S S o d H S B o d FF PLANO BRASIL SEM MISÉRIA rat 145 marcos.indd 1 15/03/2013 16:06:48

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Nesta edição, conheça a atuação da Embrapa Agroindústria Tropical no Plano Brasil Sem Miséria, no Alto Oeste (RN).

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T R O P I C A LRevista editada pelo Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical

Fortaleza (Ceará) Dezembro-Janeiro |2012 - 2013| Nº 144

AGROINDÚSTRIA

PESQUISA EM AÇÃO:

HFF

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FF

PLANO BRASILSEM MISÉRIA

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Agroindústria Tropical É uma revista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Elaborada pela Embrapa Agroindústria Tropical, situada na Rua Dra. Sara Mesquita 2270 - Pici CEP 60511-110 - Fortaleza, CE. Contato Telefone: (85) 3391.7100 E-mail: [email protected]: www.cnpat.embrapa.brtwitter: @embrapacnpat

Jornalistas ResponsáveisRicardo Moura (DRTCE1681jp) Verônica Freire (MTB 01225jp) Projeto GráficoRaissa Alves | Ricardo Moura

Revisor Marcos Antonio Nakayama

EstagiárioÍtalo Marciel

Impressão | TiragemGráfica Ronda | 4.000 exemplares

FotoCláudio NorõesRicardo Moura

Chefe-GeralVitor Hugo de Oliveira

Chefe-Adjunta de P&DAndréia Hansen Oster

Chefe-Adjunto de Administração Cláudio Rogério Bezerra Torres

Chefe-Adjunto de Transferência de TecnologiaLucas Antonio de Sousa Leite

Supervisor do Núcleo de Comunicação OrganizacionalNicodemos Moreira

Expediente

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FRASES E NÚMEROS

Sumário

ApresentaçãoO Plano Brasil Sem Miséria no Alto Oeste Potiguar (PBSM), coordenado pela Embrapa Agroindústria Tropical e financiado pelo Ministério do Desen-volvimento Agrário (MDA), foi criado para apoiar a inclusão socioeconômica de famílias do Terri-tório da Cidadania daquela região. O objetivo da Embrapa Agroindústria Tropical é planejar, asses-sorar, acompanhar e avaliar a implantação de ar-ranjos produtivos inovadores (projetos estrutu-rantes) visando à inclusão socioeconômica de 880 famílias selecionadas. Com esse intuito, estão sendo realizados estudos propositivos para as unidades familiares, capacitação de agentes ru-rais e assistência técnica, inovações em sistemas

produtivos, além da sistematização e divulgação da experiência. A expectativa é de que o conjunto de ações im-plantadas no decorrer do projeto colabore para geração de emprego e renda e consequente in-clusão socioeconômica das pessoas atendidas. A expectativa da equipe de pesquisadores é de que as ações gerem resultados positivos em termos de diferenciação socioeconômica para as famílias beneficiadas.

A partir desta edição, publicaremos na seção Clique Tropical imagens feitas por empregados que partici-pam do grupo de interesse em fotografia da Unidade.

O RETRATO DO BRASIL SEM MISÉRIA

REPORTAGEM DE CAPA

ACONTECECONSELHO ASSESSOR DISCUTE ESTRATÉGIAS PARA O FUTURO14

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Frases&Números

Valor do superavit registrado pela balança comercial do agronegócio brasileiro em 2012. Esse resultado representa um crescimento de 3% em comparação ao ano anterior.

US$ 79, 4

Nos últimos 20 anos, o Brasil foi o país que mais avançou no combate à fome.Hélder Multeia, ex-representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil.

A Embrapa é um tesouro mundial.Bill Gates, criador da Microsoft e presidente da fundação filantrópica Bill e Melinda Gates, que apoia projetos ligados à área de nutrição e produção de alimentos.

Nós estamos desenvolvendo cultivos agrícolas com maiores teores de ferro, zinco e pró-vitamina A. Começamos trabalhando com mandioca, feijão e milho. Depois fomos adicionando outros alimentos, como o feijão-caupi [variedade resistente à seca], batata-doce, trigo e abóbora. Estamos buscando alimentos básicos,

consumidos em grande quantidade pela população mais carente.Pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Marilia Nucci,

líder da Rede BioFort, sobre o trabalho desenvolvido pela empresa na área de alimentos biofortificados.

1.200 Famílias plantam alimentos biofortificados no Brasil. Número deve chegar a 15 mil daqui a três anos.

R$ 380 milhõesPercentual de perdas na safra de grãos do

Ceará em 2012 por causa da estiagem histórica que se abateu sobre a região. A

comparação é feita com base no ano anterior.

bilhões

380 milNúmero de famílias que foram cadastradas pelo programa Brasil Sem Miséria em 2012

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REPORTAGEM DE CAPA

RETRATOS DO BRASIL

SEM MISÉRIATexto e fotos: Ricardo Moura

ilhões de pessoas no Brasil vivem com menos de R$ 70 per capita por mês e têm de enfrentar uma luta diária e sem trégua

pela sobrevivência. Por muito tempo, esse seg-mento da sociedade ficou de fora do alcance das políticas públicas, tendo de encarar o desafio sem qualquer tipo de ajuda. O programa Bolsa Família representou um avanço importante ao garantir renda mínima a essas famílias. Com o Plano Brasil Sem Miséria (PBSM), a expectativa é de que seja dado um passo além na superação da pobreza ex-trema a partir do acesso a serviços e da inclusão produtiva. Os beneficiários que vivem no campo terão aces-so a um recurso extra para ampliar as atividades que já desenvolvem ou construir alternativas que possam garantir a segurança alimentar, como os quintais produtivos. Tudo isso com apoio de insti-tuições como a Embrapa, universidades, institutos federais, prefeituras e organizações de extensão e pesquisa agropecuária. Mais que a transferência de renda, o Brasil Sem Miséria conta com a garra, a criatividade e a vontade de mudar de vida de cada pessoa atendida para fazer com que o plano atinja plenamente seus objetivos.A Embrapa Agroindústria Tropical também faz parte desse plano. Na área de atuação do projeto, na região do Alto Oeste do Rio Grande do Norte, 880 famílias de 10 municípios deverão ser bene-ficiadas. A Revista Agroindústria Tropical foi até a região para conhecer algumas dessas pessoas, ou-vir suas histórias e saber quais são seus objetivos

e expectativas. A viagem começa por Doutor Severiano, municí-pio de cerca de 7 mil habitantes que se localiza na divisa entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará. É lá, na localidade de Sítio Catingueira, que vivem Juliana Cristina Ferreira, 27, e o marido, Gil-divan Rego Fernando, 33, ambos agricultores. Os dois trabalham desde cedo na roça, plantando feijão, milho e sorgo. Em 2012, ano marcado pela seca, a produção foi tão reduzida que só serviu como alimento para a família. Para completar a renda, há o benefício pago pelo Bolsa Família e a venda de ovos de um pequeno galinheiro. Suas 30 galinhas produzem, em mé-dia, mil ovos por mês, representando uma ajuda de mais R$ 300 no apertado orçamento. Com o dinheiro do Brasil Sem Miséria, o casal pretende investir no negócio com a aquisição de mais 30 animais e ampliação do espaço destinado à cria-ção das aves. A situação atual vivida por Juliana e Gildivan é um pouco mais confortável quando se compara com a dos demais entrevistados. A casa foi construída no terreno pertencente à família, e o pai do agricultor costuma ajudá-los.

Frutas no quintal

Descendo a estrada, encontramos a agricultora Maria Gorete Sampaio, 53. A situação dela é mais vulnerável quando se compara com a de Juliana e Gildivan. Aos 11 anos, ela deixou a cidade de Ira-

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REPORTAGEM DE CAPA

cema (CE) para trabalhar em um terreno de pro-priedade da irmã. As únicas fontes de renda são a pequena produção de milho, feijão e sorgo – mas somente “quando sobram” – e a venda ocasional de um porco ou de uma galinha. Os ovos produ-zidos não são suficientes para a venda. A casa de taipa (uma mistura de madeira e barro) abriga ainda três filhos e uma neta. A construção é baixa e pouco iluminada, e o fogão de lenha gera uma fumaça que incomoda os moradores. As dificul-dades obrigam a filha de Gorete a fazer trabalhos temporários na zona urbana para aumentar a ren-da. O valor recebido por uma jornada semanal de trabalho chega a R$ 30.Os recursos do Brasil Sem Miséria podem ser uma boa oportunidade para Maria Gorete ampliar sua atividade. A agricultora pretende comprar mais galinhas para que possa vender os ovos. Fregue-ses, ela afirma que já tem. Em outra frente, algu-mas melhorias prometem reforçar a qualidade da nutrição da família. Uma pequena horta com se-mentes da Embrapa foi instalada no quintal dela. O espaço para o plantio de fruteiras no terreno também já foi aberto.

Pomar e irrigação

Na localidade do Sítio Meredo, o agricultor Cícero Antônio Correia de Oliveira, 35, anima-se ao falar da produção de frutas. Elas podem finalmente se tornar sua atividade sustentável. Desde jovem, Cí-cero planta feijão, milho e tomate sem obter muito sucesso. As perspectivas melhoraram quando ele passou, juntamente com o irmão, a produzir laran-ja, banana, goiaba e graviola. A quantidade de pés ainda é modesta, mas já é possível ver seu potencial. Com os frutos de ape-nas dois pés de goiabeira, ele espera ganhar cerca de R$ 100 por mês. Parte do dinheiro do Brasil Sem Miséria deve ser aplicada na compra de 100 mu-das de goiabeira, multiplicando assim os ganhos.Atualmente, o agricultor obtém entre R$ 2 mil e R$ 3 mil com a comercialização das frutas. Uma grande aliada, nesse sentido, é a venda do ali-mento à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e à prefeitura, para ser utilizado na meren-da escolar. O crescimento da produção só ocorrerá de maneira sustentável se houver fornecimento regular de água. Para tanto, Cícero Antônio deverá

Agricultora Maria Gorete Sampaio com seus filhos

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receber uma cisterna de placa. O sistema de irri-gação que levará a água da cisterna aos pomares deve ser comprado com recursos do PBSM.

Encanto

No passado, o Município de Encanto (RN) ser-via como rota de passagem para os homens que transportavam sal de Mossoró (RN) até a região do Cariri cearense. A vocação para o comércio e o des-temor são características do casal Antônia Edileuza Alves de Souza, 38, e Francisco Estevânio de Lima e Souza, 40. Ela é natural de Poranga (CE), enquan-to ele é de Encanto. Os dois se conheceram, contu-do, em São Paulo, na luta por uma vida melhor. A capital paulista não se mostrou uma boa opção, e Edileuza e Estevânio decidiram voltar a Alto Oeste Potiguar e ser agricultores, atividade que faziam na adolescência.Para dar início à nova vida, o casal só dispunha de um terreno dos avós dele e uma casa de taipa na localidade de Sítio Valentim, em Encanto, onde Edileuza comprava coentro e alface para revender na cidade. Eles passaram então a produzir as pró-prias verduras. Além do trabalho no campo, Este-vânio ainda tem de cortar pedras de calçamento para completar a renda, enquanto a mulher faz pamonha para vender nos fins de semana. Por se-mana, os dois conseguem lucrar R$ 150. A renda do Bolsa Família é um auxílio valioso para fechar as contas. Mesmo com tanto esforço, o agricultor não se arrepende das escolhas que fez. “Gosto muito de trabalhar pra mim”, afirma. Os R$ 2.400 que virão do Plano Brasil Sem Miséria deverão ser utilizados para melhorar a produção de verduras e comprar porcos. A ideia é construir uma estrutura melhor para a horta e garantir o fornecimento de água a partir de um sistema de irrigação. “Queremos montar quatro hortas de 10 metros, cada uma podendo render R$ 200 por mês. Vamos poder ganhar mais do que já ganha-mos hoje, com a vantagem de sermos os primeiros a vender verduras em Encanto”, planeja Estevânio.O casal já conta com um benefício imediato, mes-

mo antes da liberação do recurso: a fossa verde. O tanque de cimento montado ao lado da residên-cia permite que a água do esgoto do banheiro não seja jogada diretamente no solo, mas tratada por meio de um processo de filtração. Benefício extra da fossa é permitir que algumas fruteiras, como a bananeira, sejam plantadas naquele espaço. A casa de taipa já não existe mais. Graças ao apoio da prefeitura, uma casa de alvenaria foi construída no local. Novos sonhos de consumo, no entanto, estão na mira da família. Os filhos de 14 e 15 anos querem um computador. Além disso, há vontade de ampliar o imóvel e fazer novas melhorias.

Livre da fumaça

Jucilene Oliveira Silva, 40, foi uma das primeiras pessoas a se beneficiar com o Plano Brasil Sem Mi-séria. No ano passado, ela recebeu um fogão eco-eficiente no lugar do antigo fogão a lenha. O novo equipamento utiliza melhor a lenha para aquecer os alimentos, ficando mais rápido e seguro fazer as refeições. Além disso, a fumaça, em vez de se espa-lhar pela cozinha, é canalizada por uma chaminé.

Agricultora Maria Gorete Sampaio com seus filhos

Cícero Antonio em seu pomar, no Sítio Meredo

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A primeira impressão que temos da agricultora en-gana. O jeito tímido dá lugar a uma mulher falante e bastante hospitaleira, e a alegria estampada no rosto da agricultora contrasta com as dificuldades por que passou. A criação de animais e o pequeno plantio de milho e feijão só são suficientes para a família se alimentar. Algumas vezes, nem pra isso, pois o casal foi muito prejudicado pela estiagem de 2012. “Desde 1993, não víamos uma seca desse jeito”, lembra Jucilene. O marido, Antônio Pereira, 40, faz bicos como aju-dante de pedreiro no município vizinho de Pau dos Ferros (RN) para ganhar R$ 30 por trabalho. Volta e meia, Jucilene também tem de se valer de trabalhos temporários. Recentemente, ela rece-beu R$ 60 por tomar conta da casa de uma vizinha enquanto esta viajava. Mantidas as atuais condi-

ções, sobra pouca margem para uma ampliação mais significativa da renda familiar. A expectativa é que os R$ 2.4000 do PBSM possam ser usados para adquirir mais galinhas e que ela possa, enfim, lucrar com a venda dos ovos.A capacidade de comunicação e o jeito destemido de lidar com a vida fizeram com que Jucilene fosse escolhida como uma das multiplicadoras do plano na região. O Brasil Sem Miséria prevê a construção de unidades demonstrativas que possam servir como referência para outras famílias. Um grupo de assentados do Município de Caraúbas já fez uma visita à residência dela. Eles puderam conhecer in loco o exemplo de vida da agricultora e conferir os primeiros passos de uma nova realidade que se avizinha.

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Fossa verde na casa de Edileuza e marido.

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TECNOLOGIAS SOCIAIS PARAMUDAR A REALIDADE

Por Ricardo Moura e Verônica Freire

ogões ecoeficientes, fossas verdes e quin-tais produtivos são as primeiras tecnologias selecionadas pela Embrapa Agroindústria

Tropical para a implementação na região do Alto Oeste Potiguar (RN), em projeto de inclusão pro-dutiva de famílias vinculado ao Programa Brasil Sem Miséria. A ação contemplará 880 famílias nos dez municípios da região, até 2015. Representan-tes de ONGs e cooperativas que venceram a licita-ção para a implantação das tecnologias participa-ram, em dezembro do ano passado, de reunião de planejamento na sede da Embrapa Agroindústria Tropical. No primeiro semestre de 2013, serão ins-talados 125 fogões a lenha ecoeficientes, 62 fossas verdes e 12 quintais produtivos na região. Conforme a coordenadora do projeto, a pesqui-sadora Helenira Ellery, da Embrapa Agroindústria Tropical, posteriormente serão avaliadas outras tecnologias e abertos novos editais de seleção

para atender às demais famílias do projeto. “O en-foque é o atendimento às necessidades da família, por isso buscamos tecnologias sociais adequadas à realidade da região”, explica. Conforme Enio Girão, pesquisador da mesma Unidade e integrante do projeto, os critérios para a seleção das tecnologias envolvem o baixo custo, a eficiência e a aceitação por parte da comunidade. Os fogões ecoeficientes substituem os fogões a lenha tradicionais, diminuindo em até 40% o con-sumo de lenha e eliminando a fumaça do ambien-te doméstico. Os equipamentos serão instalados pelo Instituto de Desenvolvimento e Energias Re-nováveis (Ider), uma ONG que, desde 2005, já aten-deu mais de 26 mil famílias em 87 municípios do interior cearense. As fossas verdes serão implanta-das pela Associação para o Desenvolvimento Lo-cal Coproduzido (Adelco). Ao contrário das tradi-

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Jucilene Oliveira Silva, uma das pri-meiras pessoas a se beneficiar com o Brasil Sem Miséria, recebeu um fogão ecoeficiente e agora pode co-zinhar com mais rapidez e sem im-pregnar a casa com fumaça

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cionais fossas sépticas – que apenas decompõem os sólidos e não livram a água de contaminação –, a fossa verde é um sistema completo, que associa a digestão anaeróbica (na ausência de oxigênio) a um canteiro séptico, onde toda matéria orgânica (resíduos humanos) é digerida. A água é evapora-da pela transpiração da planta (bananeira), elimi-nando os resíduos e produzindo frutos.

“Melhorar as condições de abaste-cimento de água, de produção de alimentos e de saúde dessas famí-lias é a grande motivação da nossa equipe”, diz a pesquisadora Helenira Ellery.

Os quintais produtivos são abastecidos de água por meio de cisternas com 52 mil litros de capaci-dade, o que garante a manutenção de 25 árvores frutíferas e de duas hortas de 12 m2 por oito me-ses. A instalação dos quintais será realizada pela Cooperativa Mista de Trabalho, Assessoria e Con-sultoria Técnico-Educacional (Comtacte). Além disso, o público-alvo do Brasil Sem Miséria também recebe capacitações sobre temas diver-sos. A Embrapa Algodão (Campina Grande, PB), ministrou um curso sobre sistema de produção de gergelim orgânico em agricultura familiar no Município de Pau dos Ferros (RN). O evento teve por finalidade abordar as principais estratégias agroecológicas inseridas na cadeia produtiva do gergelim Sesamum indicum (BRS Seda) que pode-rão viabilizar tecnicamente sua expansão nas co-munidades organizadas de produtores familiares daquela região. Foram destacadas ainda as principais tecnologias sustentáveis utilizadas pelos produtores do Rio Grande do Norte e do Piauí no sistema produtivo do gergelim, como: cultivar de frutos deiscentes (que se abrem quando maduros) e sementes de cor branca, equipamentos/implementos para pre-paro do solo, semeaduras com máquina mecânica manual, plantio orgânico com aplicação de mace-rados, adubação orgânica, colheita semimecaniza-

da, secagem dos feixes em época oportuna e co-mercialização dos grãos com elevada qualidade. A pesquisadora Rita de Cássia Pereira, da Embrapa Agroindústria Tropical, ministrou um curso sobre plantas medicinais, ervas, sabores e saúde no Mu-nicípio de Portalegre (RN). A capacitação faz parte das ações que a Unidade desenvolve tendo em vista a implementação da produção e uso de plan-tas aromáticas e condimentares na agricultura de pequeno porte.

“Tecnologia social deve ser entendi-da como um produto, uma técnica ou metodologias capazes de gerar resultados de transformação social nas comunidades”, diz Thomson José de Souza, responsável pela instala-ção dos fogões eficientes do Ider. Vice-presidente da Cooperativa, o agrônomo Ge-nilson Nunes atua à frente da coordenação da equipe de assistência técnica. Desde 1997, ele trabalha com consultoria, elaboração e assistên-cia técnica em projetos de formação no campo. A falta de serviços de extensão rural para atender pequenos produtores, segundo ele, é o maior pro-blema enfrentado por programas desse tipo.Duas características do PBSM, no entanto, deixam o técnico mais otimista. “Os programas anteriores não chegavam às famílias que estavam na misé-ria, enquanto este chega. Além disso, o projeto de atividade produtiva é escolhido pela família. Não somos nós que determinamos o que o produtor vai fazer”, explica Genilson Nunes. O acompanhamento do extensionista começa a partir do momento em que o valor é depositado na conta do Bolsa Família. A aplicação dos recur-sos é feita sob a supervisão do técnico, tendo em vista a sustentabilidade econômica da atividade. “Quando o produtor receber a terceira e última parcela de recurso, o projeto escolhido já deve estar produzindo para que o negócio possa se manter mesmo após o fim do repasse”, informa o agrônomo.

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ainda pouco aproveitados. Os primeiros cursos de-vem começar em abril, e uma parte das vagas está destinada ao público-alvo do PBSM.O programa Mulheres Mil, por sua vez, tem como meta inserir socialmente mulheres que vivem em situação de pobreza extrema por meio da educa-ção formal e do aprendizado de alguma ativida-de produtiva. Para viabilizar o negócio, Andreza Sousa revela que o instituto deverá dispor de um espaço para a comercialização dos produtos con-feccionados ao longo do curso.Além do auxílio na articulação das instituições, a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) estuda a criação de um projeto destina-do aos jovens das famílias do Brasil Sem Miséria. Eles deverão aprender a lidar com conceitos como gestão e empreendedorismo. A meta, no entanto, é de longo prazo. Segundo Simone Cabral, coor-denadora de território da universidade e pesqui-sadora em Educação no Campo, as capacitações buscam preparar os beneficiados para os desafios que deverão surgir após a primeira etapa de im-

superação da pobreza extrema é um desa-fio complexo e que exige a articulação de

diversas instituições e saberes, cada um atuando no que sabe fazer de melhor. As ações do Brasil Sem Miséria no Alto Oeste Potiguar são resulta-do disso. Além do recebimento do recurso de R$ 2.400, os beneficiados deverão passar por capa-citações diversas, que vão de processamento de frutos tropicais a noções básicas de empreende-dorismo.O Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), em Pau dos Ferros, possui objetivos em comum com a Embrapa. De acordo com a coordenadora de extensão do IFRN, Andreza Sousa, as duas ins-tituições trabalham com o mesmo público e pos-suem estratégias parecidas de atendimento a essa população.Uma delas é o projeto Fábrica Escola do IFRN, que pretende capacitar 500 famílias da região em processamento de frutas. A intenção é fazer com que elas aprendam a produzir polpas, doces, com-potas, licores e cajuína a partir das fruteiras exis-tentes nos quintais, agregando valor a alimentos

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ESFORÇOS EM CONJUNTO NASUPERAÇÃODA MISÉRIA

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REPORTAGEM DE CAPA

As ações da Embrapa no Brasil Sem Miséria foram iniciadas em setembro passado, quando 80 téc-nicos da região receberam treinamento sobre as tecnologias que serão utilizadas. O projeto será executado até julho de 2015, quando devem estar incluídas ações para as 880 famílias da região. “A grande preocupação é melhorar as condições de abastecimento de água, de produção de alimen-tos e de saúde dessas famílias”, diz Helenira Ellery. Conforme Enio Girão, a expectativa do projeto é a inclusão socioeconômica das famílias de forma sustentável. “A ideia é, além de ajudar a gerar ren-da, promover melhorias na saúde e no meio am-biente”, completa.Dez Unidades Descentralizadas da Embrapa coor-denam projetos, com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 14 Territó-rios da Cidadania do Programa Brasil Sem Miséria. Cada centro de pesquisa articula e mobiliza outras unidades descentralizadas, instituições parceiras e as equipes de assistência técnica envolvidas na ação. Os projetos reúnem ações de articulação, seleção de tecnologias de baixo custo e apropria-

Plano mobiliza dez Unidades da Embrapadas para agricultores familiares de cada território, capacitação dos técnicos agrícolas, instalação e manutenção de unidades de aprendizagem e de demonstração de tecnologias e atividades de mo-nitoramento e avaliação dos resultados e metas propostas. O público do Plano Brasil Sem Miséria é o cidadão cuja renda familiar per capta mensal não ultra-passa R$ 70 por pessoa. Nessa situação estão 16,2 milhões de brasileiros, segundo o censo do IBGE de 2010, e 76% desse universo de pessoas vivem nas regiões Norte e Nordeste. Nas áreas rurais, a atuação do Governo Federal será marcada pela in-clusão produtiva, que terá como base a assistência técnica, a disponibilização de sementes de quali-dade e adaptadas às condições dos territórios e do fomento de R$ 2,4 mil para a estruturação produti-va – valor não reembolsável, dividido em três par-celas. Até 2014, a meta é atender 250 mil famílias com acompanhamento contínuo por meio de vi-sitas à Unidade Produtiva Familiar e de atividades coletivas (reuniões e cursos) (Verônica Freire).

plementação do plano.

Tecnologias sociais

De acordo com Cláudio Nogueira, da Comtacte, os resultados obtidos com a implantação dessas técnicas alternativas de produção, captação e ar-mazenamento de água, entre outras, têm apresen-tado resultados satisfatórios em se tratando do Se-miárido brasileiro. Essas alternativas tecnológicas, quando utilizadas corretamente, têm promovido melhorias consideráveis na soberania alimentar das famílias carentes e consequentemente na sua saúde, sem considerar os baixos custos de implan-tação. A produção de alimentos obtida com os cul-tivos em mandalas, quintais produtivos e outros

tem promovido a manutenção da vida de muitas famílias, ofertando alimentos saudáveis, isentos de agrotóxicos e outros produtos químicos.O zootecnista e gestor ambiental, Thomson José de Souza, responsável pela instalação dos fogões eficientes do Ider, ressalta que a tecnologia social deve ser entendida como um produto, uma técni-ca ou metodologias capazes de gerar resultados de transformação social nas comunidades. A ex-pectativa dele em relação às atividades realizadas pelas ONGs que irão atuar na região do Alto Oeste Potiguar é a criação de novas realidades econômi-cas, sociais e ambientais, por meio de ações ino-vadoras, inclusivas e que estimulem a capacidade de mobilização das comunidades (Ricardo Moura).

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Acontece

C O N S E L H O A S S E S S O R D I S C U T E

última quinta-feira foi dedicada a pen-sar o futuro da Embrapa Agroindústria Tropical. Durante todo o dia, o Conse-

lho Assessor Externo da Unidade esteve reu-nido para trocar ideias sobre os principais desafios para o futuro da Unidade. O CAE é um órgão consultivo, que tem como objeti-vo assessorar os processos de planejamen-to, acompanhamento e avaliação das ações da Embrapa Agroindústria Tropical. Entre as principais funções do Conselho, estão a análise do Plano Diretor da Unidade (PDU), do seu Plano de Trabalho e de outros planos operativos; indicação de alternativas e opor-tunidades de parcerias com organizações

públicas e privadas, além do incentivo a for-mas de captação de recursos para apoiar os negócios tecnológicos da Unidade.Os membros do CAE são profissionais de re-conhecida competência técnica e liderança em sua área de atuação, oriundos de institui-ções representativas e com familiaridade em relação à área de atuação da empresa.O dia começou com uma visita aos labora-tórios da Embrapa Agroindústria Tropical. Os membros do CAE puderam observar de perto possibilidades de ação em áreas como Química de Produtos Naturais, Processos Agroindustriais e Tecnologia da Biomassa. Em seguida, foi realizado um momento com

Conselho é formado por profissionais de reconhecida competência técnica

A ESTRATÉGIAS PARA O FUTURO

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Publicações

Conselho é formado por profissionais de reconhecida competência técnica

José Narciso Sobrinhopresidente do CAE, engenheiro-agrônomo do Ambiente de Políticas Territoriais, Ambientais e de Inovação do BNB

Airton VialtaBiólogo, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital)

Ivo Milton Raimundo JúniorQuímico, diretor do Centro Pluridisciplinar de Pes-quisas Químicas Biológicas e Agrícolas (CPQBA/Unicamp)

Antônio Carlile Holanda Lavor Médico, coordenador do escritório da Fiocruz no Ceará

José Geraldo Medeiros da SilvaZootecnista, diretor-presidente da Empresa Agro-pecuária do Rio Grande do Norte (Emparn)

Silvia Van RooijenEngenheira agrônoma, presidente da Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais do Mapa

Cláudio José Reis de CarvalhoChefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental

Manoel Teixeira Souza JúniorChefe-geral da Embrapa Agroenergia

Lucas Antonio de Sousa LeiteChefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindústria Tropical, secretário-executivo

CONHEÇA OS MEMBROS DO CAE

todos os empregados, no auditório.O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tro-pical, Vitor Hugo de Oliveira, falou sobre os avanços registrados na Unidade e as pers-pectivas. Ele mostrou, entre outros assuntos, a evolução dos recursos aplicados em obras e equipamentos. Conforme Vitor Hugo, no iní-cio dos anos 2000, os recursos anuais para in-vestimento chegavam a somar pouco mais de R$ 300 mil. Ele salientou que, em 2010, gra-ças ao PAC Embrapa e emendas parlamenta-res, os recursos ultrapassaram R$ 20 milhões, e viabilizaram mudanças profundas na capa-cidade analítica da Unidade. Também profe-riram palestras o representante do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Ailton Vial-ta, e Ivo Milton Raimundo Júnior, diretor do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Quími-cas Biológicas e Agrícolas da Universidade de Campinas (Unicamp). Ailton Vialta falou sobre o futuro na área de agroindústria de alimentos. Ele mostrou que, entre os maio-res problemas que a humanidade enfrentará nos próximos anos, está a alimentação, além de outros como a energia e a disponibilidade de água. Ivo Milton Raimundo Júnior apre-sentou as experiências do CPQBA no que se refere a projetos intermultidisciplinares.No período da tarde, os membros do CAE explicitaram suas contribuições e discutiram sobre as possibilidades de articulação com a Unidade, bem como sobre os cenários para os próximos anos em função do novo pata-mar em que se encontra a Embrapa Agroin-dústria Tropical. Parcerias, temas para pes-quisa, ações de inovação e transferência de tecnologia foram apontadas pelos membros do conselho.

ESTRATÉGIAS PARA O FUTURO

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Foto e Texto: Marto VianaPesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical

sta foto foi realizada de dentro do corredor do prédio 1 (Laboratórios e Pesquisa) na sede da Embrapa Agroindústria Tropical. Visitas diárias de pássaros nas proximidades de nosso ambiente de trabalho têm sido muito comuns. Essas belas e canoras aves vêm nos lembrar da viabilidade de uma convivência perfeita entre uma agricultura moderna e um ambiente saudável.

Sua majestade, o bem-te-vi

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