Entendimento/resumo do texto A cultura política, de Serge Berstein.

Obs.: Berstein é um doutor em Letras e historiador francês nascido em 1934, que defende a cultura política como ocupante dentro dos fenômenos culturais de uma sociedade. “Ela é apenas um dos elementos da cultura de uma dada sociedade, o que diz respeito aos fenômenos políticos”.

Cultura política se mostra um composto de ideias e tradições. Compõe-se dentro de múltiplas culturas com a influência de diversas gerações. Assim, Berstein a apontará como uma “nebulosa complexa” (p. 359), cujo estudo se faz imprescindível para a compreensão de determinado comunidade, tempo e do pensamento das pessoas.Para o entendimento do tema, o autor usa como ponto de partida a Revolução Francesa. Este período teria intentado a criação de um regime parlamentar, cuja sociedade de progresso gradual, com ações do Estado e méritos pessoais de cada indivíduo, levaria à criação de uma nação com pequenos proprietários, donos de seus instrumentos de trabalho. Portanto, ser servidão ou exploração, e nesta realidade a escola seria o motor de toda a sociedade e de seus componentes.Apesar dessa comunidade pensada pelos franceses nos parecer utópica, o pensamento que a daria sustentação seria uma cultura política ideal, em plena harmonia com o passado e as projeções futuras, formada no inconsciente coletivo.Existe diversas formas de cultura política, com maneiras e objetivos diversos. Visto que, a cultura política se insere no quadro das normas e valores que condicionam a representação que as sociedades fazem de si mesmas e dos tempos que a cercam - passado e futuro. Como toda representação, sendo intencionalmente criada, a cultura nacional não é natural, posto que é uma invenção criada geralmente através das necessidades e intencionalidades econômicas e/ou culturais. Dessa maneira, também não existe uma cultura política nacional homogenia e nem uma hierarquia de importância ou valoração das culturas que habitam determinado território.As culturas políticas são plurais, com abrangências territoriais que correspondem aos lugares por onde os mesmos valores são partilhados. Se determinada postura, valores e crenças políticas são bastante amplas (perceptíveis em muitos locais), é sinal que constituem a cultura política dominante. E essa cultura política pode ser a mescla de teorias e de outros campos culturais, num sincretismo semelhante ao ocorrido com a cultura política republicana. Esta favoreceu a emergência no cerne da cultura católica, da democracia, com ideários semelhantes aos cristãos, retêm alguns dos princípios católicos, mas não a sua totalidade.Na divisão textual “Um fenômeno evolutivo”, o autor nos coloca a questão: “Como e porque nasce a cultura política?”. A maneira e a medida são simplificadas na explicação de que esta cultura corresponde às resoluções encontradas pela sociedade através de seus grandes impasses e crises durante a história. Seguindo, Berstein nos da base do seguinte panorama:- A crise de legitimidade que marcou os anos de 1987 e 1815 faz nascer a cultura política republicana e tradicionalista;- A Revolução industrial iniciada no século XIX dará vasão ao socialismo ao seu antagonista, o neoliberalismo conservador;- De 1875 a 1890 as transformações técnicas e os modos de vida deixaram entrever as correntes da democracia que exigiam a maior e direta participação das massas;- Já a crise nacional de 1940-1945 dá oportunidade ao gaullismo1.

1 Gaullismo é uma ideologia da política francesa do período citado por Berstein, baseada nas ideias e ações do Charles Gaulle. Visava a independência nacional, de modo a França não necessitar depender dos EUA e da

Dessa forma, o autor num viés que se aproxima das teorias marxistas, faz nos ver que a cultura política é fortemente determinada pela história, tal que "Los regímenes políticos no son simples construcciones abstractas surgidas de la fértil mente de los juristas, sino la traducción, en un momento dado de la historia, del equilibrio de fuerzas entre los grupos que forman una sociedad" (texto Los regímenes políticos del siglo XX). Esses grupos e forças se permeiam por várias tendências políticas que podem residir num mesmo espaço e tempo, buscando melhores soluções e ações para a sociedade, através do interesse progressista dessa, na eterna dialética do tempo humano, das relações sociais e da necessidade econômica.Então, tendências políticas podem ser vistas como ideologias, que se propõem de formas estruturadas em correntes, e quando aderida por grupos, provoca o nascimento de uma política normativa, que os rege e estrutura a vida. Mas a transformação dessas tendênciasem políticas normativas e em culturas políticas podem demorar muito tempo.Logo, “[...] é a composição de influências diversas que acaba por dar ao homem uma cultura política, a qual é mais uma resultante do que uma mensagem unívoca. Esta adquire-se no seio do clima cultural em que mergulha cada indivíduo pela difusão de temas, de modelos, de normas, de modos de raciocínio que, com a repetição, acabam por ser internalizados e que o tornam sensível a recepção das ideias ou a adoção de comportamentos convenientes. Que o cultural prepara o terreno do político parece desde já como uma evidência de que alguns retiraram suas estratégias”, (p. 357).“A cultura política assim elaborada e defendida, à escala das gerações, não é de forma alguma um fenômeno imóvel. É um corpo vivo que continua a evoluir, que se alimenta, se enriquece de múltiplas contribuições, as das outras culturas políticas quando elas parecem trazer boas respostas aos problemas do momento, os da evolução da conjuntura que inflecte as ideias e os temas, não podendo nenhuma cultura política sobreviver a prazo a uma contradição demasiado forte com as realidades”, (p. 357).Assim, “ainda que as representações defiram a realidade objectiva, elas não podem estar em contradição com ela, a menos que se perca toda a credibilidade e se desapareça”, (p. 358). E como a realidade, suscetível aos percursos do tempo e das necessidades, é sempre mutável, na “falta de adaptação, uma cultura política só pode ter um declínio inelutável”, (p. 358).Durante a leitura e descoberta da evolução de uma cultura política, devemos levar em conta a sua comunicação e relação com culturas políticas vizinhas. De forma que o historiador levará em conta os patrimônios culturais adquirido por um indivíduo durante a sua existência para tentar recontar a cultura política quando em termos individuais.Através deste estudo poderemos entender as motivações de escolhas das pessoas por determinados comportamentos políticos. A cultura política formaria “o núcleo duro que informa sobre as suas escolhas em função da visão do mundo que traduz” (p. 359). “A força da cultura política como elemento determinante do comportamento do indivíduo resulta, em primeiro lugar, da lentidão e da complexidade de sua elaboração” (p. 360). Como se aplica a indivíduos essa “lente de visão sobre si”, também se aplica aos grupos, que formam coletividades sobre representação e identificação partilhadas, formando leituras do real.Mas quando internalizadas as culturas políticas, segundo o autor, é impermeável a crítica racional, porque esta faria supor que parte dos postulados que formam a identidade das pessoas estariam sendo postas em causa. Por outro lado, “A interiorização das razões de um comportamento acaba por criar automatismos que são apenas o atalho da diligência racional anteriormente realizada” (p. 361), assim a cultura política condiciona as pessoas a valores e tradições, tal como crenças que se tornam senso comum, dificilmente questionáveis por parte da comunidade que as partilha, sendo parte tais ideologias de um “patrimônio indiviso.

União Soviética. O fortalecimento da economia e do exército era uma pretensão, tal como o conservadorismo social. Contudo, vale dizer que Gaulle se apoiava fortemente no carisma se caracterizou como populista.

Favorecendo-lhes para exprimir tudo isto, um vocabulário, símbolos, gestos, até canções que constituem verdadeiro ritual”, (p. 362-363).