resenha - o cinema na américa latina
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Resenha feita a partir da análise feita em aulas de filmes Latino Americanos.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASINSTITUTO DE ARTES E DESIGN
CINEMA E ANIMAÇÃO
RESENHAO Cinema na América Latina
Um livro de Paulo Antonio Paranaguá
Aluna: Jordana Spezia CoutinhoDisciplina: Ciclo de CinemaProfessora: Liângela Xavier
Pelotas, maio de 2010
O Cinema na América Latina - Paulo Antonio Paranaguá
O cinema na América Latina, livro escrito pelo jornalista, crítico e
sociólogo Paulo Antonio Paranaguá, tem o intuito de informar ao leitor e fazê-lo
refletir sobre o cinema na América Latina (como o próprio título fala).
Logo na apresentação do livro, o autor coloca que muitos dos filmes
realizados na América Latina desapareceram. O crítico deve fazer uma
incansável busca desses títulos, a fim de montar um quebra-cabeça de
histórias que pertencem a todos nós.
No primeiro capítulo, Paranaguá fala um pouco da história do cinema
(com a invenção do cinematógrafo, dada pelos irmãos Lumière, em 1895),
além de datar as primeiras sessões com o cinematógrafo e vitascópio na
América Latina. “A primeira sessão pública do cinematógrafo na América
Latina, devidamente comprovada, teve lugar no Rio de Janeiro, dia 8 de julho
de 1896.” (PARANAGUÁ, p. 10).
O cinema chega a América Latina como importação estrangeira. Desde
o início, o continente se vê subordinado ao sistema capitalista internacional.
Aqui o cinema surge como forma de diversão pública, mas desenvolve-se
como uma atividade artesanal, tanto em termos de exibição quanto de
produção.
Nos primeiros anos o cinema tem uma cara documental: filmagens do
ditador Porfírio Diaz, cenas rurais feitas em Guadalajara, etc. Entretanto, desde
o início, há grande dificuldade na difusão desse cinema dentro da América
Latina. Até hoje há o desconhecimento das cinematografias dos países latino-
americanos. Não existe grande distribuição internacional e o que se produz é
basicamente para o consumo interno.
As primeiras projeções muitas vezes se davam em barracas ou embaixo
de toldos, tamanha precariedade. Por volta de 1910 surgem as primeiras salas
de cinema no Brasil, Argentina, México. Com as salas, começam a desenvolver
ciclos de produção de filmes, expandindo o comércio e estabilizando-o nas
principais metrópoles: México, Havana, Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos
Aires. “No Brasil, é a chamada Bela Época do cinema nacional, com seiscentos
e cinqüenta títulos inventariados entre 1908 e 1910.” (PARANAGUÁ, p. 16).
Durante um período, a produção do México é distribuída, graças a uma
grande audiência popular (os camponeses que chegam no México desejam
reconhecer-se na tela).
No início basicamente se faziam “documentários” (ainda não existia
definição do gênero). Aí começam a fazer reconstituições históricas na América
Latina, gerando um cinema de ficção. No Brasil, entre os anos de 1915 e 1920,
começam a ser feitas adaptações de livros como Inocência (Visconte de
Taunay), O guarani e Iracema (ambos de José de Alencar), O Garimpeiro
(Bernardo Guimarães), etc.
A primeira guerra mundial favorece o desenvolvimento do cinema norte-
americano, que passa a ocupar o primeiro lugar no mundo. Com o aumento da
importação de filmes norte-americanos na América Latina, há uma queda na
produção local. Assim, cinema algum conseguia competir com títulos feitos nos
EUA. “Pois bem, em 1924, 83% dos filmes projetados no Brasil eram
americanos.” (PARANAGUÁ, p. 24).
Esse cinema importado trazia a predominância das ficções, a
diferenciação de gêneros e a estrutura star-system. Os cineastas latino-
americanos até tentavam produzir novos títulos locais, mas na disputa para
chegar ao mercado, o produto estrangeiro sempre ganhava (e ganha até hoje).
“Praticamente toda a produção muda latino-americana é de consumo local, às
vezes nem sequer nacional.” (PARANAGUÁ, p. 28). Entre as obras latino-
americanas dessa época, poucas são resgatáveis, salvo casos como O Limite
e Ganga Bruta.
Eis então que surge o cinema sonoro, implicando numa revolução
tecnológica, econômica e estética. Nessa transição para o sonoro, a produção
latino-americana decaiu em vários países porque era extremamente difícil
superar os novos problemas técnicos. “Na América Latina, durante a década de
trinta e de cuarenta, generaliza-se a queda da produção, perpetua-se o
marasmo, sobrevivem cinejornais apadrinados pelo poder e pela alta
sociedade.” (PARANAGUÁ, p. 41).
Entretanto, a Argentina viu a transição do cinema mudo para o sonoro
como uma oportunidade de despontar no mercado. Os cineastas argentinos
passaram a apostar no tango, verdadeiro veículo de expansão do cinema
argentino, dentro e fora do país. “O público ia às vezes à procura da música,
tanto ou mais que das imagens.” (PARANAGUÁ, p. 42). Essa prosperidade na
Argentina dura por poucos anos.
Dado isso, o cinema mexicano passa a se destacar, exibindo uma
criatividade e lucidez notáveis, por volta de 1933. “A produção passa de um
único longa-metragem em 1931, a 21 em 1933”. (PARANAGUÁ, p. 48). Em
1938 estréiam dezoito cineastas. Mas o que se vê no México? São produzidas
comédias rancheras e cantadas, que encantam o público. Cineastas mexicanos
começam a imitar e parodiar o cinema estrangeiro. Com o fim da guerra, os
EUA apertam o cerco e o cinema mexicano começa a entrar em crise.
Durante a década de cinquenta, o mercado latino-americano continua à
mercê do filme importado. Paulo Emílio Salles Gomes, crítico de cinema,
coloca que o cinema da América Latina não teve força própria para escapar ao
subdesenvolvimento.
Por volta dos anos cinquenta e sessenta, passam a se instalar na
América Latina cineclubes, revistas de cinema, cinematecas, festivais,
diseminando a cultura cinematográfica e dando um novo conceito de
modernidade aos países latino-americanos. “Assim, o cinema passa a estar
mais entrosado com as tendências contemporâneas da literatura, teatro e
música”. (PARANAGUÁ, p. 73).
O Estado e o cinema latino-americano sempre estiveram ligados e essa
relação sofreu uma nítida evolução. Nos tempos de cinema mudo, havia uma
procupação por parte das autoridades em estruturar a censura. Ao favorecer a
cinematografia nacional, os donos do poder utilizavam o cinema como veículo
de propaganda para a ação governamental.
Os latino-americanos sempre viram no cinema um meio de expressar a
identidade nacional de um país. Esse cinema funciona como instrumento
didático, nas áreas política, social e histórica. Além disso, é um veículo de
denúncia das desigualdades econômicas e da opressão política que sofrem
vários países, governados por ditaduras militares. E essa diversidade que
existe nas condições de produção de cada país latino-americano existe
justamente porque cada cineasta está inserido num contexto socio-cultural
diferente na América Latina.