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projecto ESPAÇO PÚBLICO Todas as quintas-feiras, por ali haverá pregões, roupa remexida, os melhores descontos. Mas toda a agitação do recin- to da Feira de Carcavelos não tem de sair portaria fora juntamente com os feiran- tes. “Nos restantes dias, ele pode ser pal- co para inúmeros eventos, desde acções de escolinhas de trânsito a concertos ao ar livre”, sugere João Branco. Foi de fac- to como palco multifuncional, aberto à multiplicidade de vivências do espaço urbano que foi desenvolvido o projecto de requalificação da Feira e do Mercado de Carcavelos, em Cascais, um trabalho a cargo do atelier Pluriescala e que foi recentemente revelado à população. A prioridade para a autarquia era fazer regressar ao seu espaço de origem, junto ao edifício do mercado, a feira de Carca- velos, hoje organizada (ou desorganiza- da) num terreno vazio do outro lado da linha-férrea. A resposta da Pluriescala as- sentou numa forte “componente pai- sagística”, que reflecte a filosofia por de- trás deste atelier, fundado no início de 2010 por João Branco, que durante nove anos reuniu experiência de trabalho no espaço público como arquitecto da em- presa de fontes Ghesa: “Pluriescala – pluridisciplinar, a todas as escalas”, apre- senta o arquitecto. No total, a área de intervenção compre- ende mais de 20 mil m 2 , incluindo o es- paço da feira em si, que se divide em duas áreas, de 5316 e 1385 m 2 , unidas por um passadiço pedonal, o edifício do mercado, que será requalificado e am- pliado, e a praça anexa ao mercado, que estabelece a ligação ao recinto da feira. Era esta a macro-escala a organizar. O ponto de partida foi colocado na feira. Havia antes de mais que reorganizar os feirantes. No que diz respeito ao dese- nho, este será um espaço “completamen- te aberto”, revela João Branco. A entrada será feita por uma portaria, colocada no limite mais próximo do mercado, e as carrinhas serão estacionadas nos lugares próprios no interior da feira, lugares com oito por quatro metros, equipados com espigões em cada canto para que as ten- das possam aí ser presas, já que o pavi- mento será betunimoso. O acesso ao núcleo mais pequeno da feira, localizado numa zona mais baixa, será feito pelo passadiço, que poderá servir também de miradouro no caso de exposições ou concertos que aconteçam naquele espa- ço. João Branco coloca a tónica nesta possibilidade: “Não existe no concelho de Cascais nenhum lugar com esta proxi- midade à linha-férrea, à marginal, à A5. Este lugar é espectacular em termos de acessos. Por isso, pode-se tirar partido para a realização de eventos”. Aliás, ao nível das especialidades estão já a ser previstas potências de electricidade ne- cessárias para um concerto. Mercado e praça renovados A oportunidade para intervir no edifício do mercado surgiu no seguimento da proposta para a feira. Tendo por base o edifício existente, do modernista Jorge Segurado, propôs-se então um redesenho do seu formato em “J” para uma disposi- ção em “L”, o que implica tanto demoli- ção como construção nova. Aqui, o tra- balho da Pluriescala será articulado com o do arquitecto Miguel Passos, que está a conceber a parte do mercado que aco- lherá uma fábrica de gelados da marca Um palco multifuncional para a vida urbana REQUALIFICAÇÃO DA FEIRA E DO MERCADO DE CARCAVELOS A Câmara de Cascais pretendia, antes de mais, que a Feira de Carcavelos regressasse ao seu lugar de origem, junto ao mercado. Mas o projecto para a sua requalificação acabou por ir mais além, fazendo deste um espaço aberto a múltiplos eventos. A assinatura é da Pluriescala. D.R. Santini, e envolverá quer a reinterpreta- ção da fachada como a criação de um novo bloco. A fachada, marcada por uma pala, será coberta por uma cortina de vidro, criando um corredor de acesso aos comerciantes, descreve João Branco. Já o novo bloco irá “assumir a época em que está, tendo uma arquitectura mais con- temporânea”. À sua frente, a praça será aberta e articulada quer com o mercado quer com a feira, incluindo quiosques e esplanadas, e será equipada com Internet wireless todo o dia, para que tenha “vida 24 horas por dia”, justifica o projectista. A “cereja no topo do bolo”, assim lhe chama João Branco, será no entanto o mural de arte pública colocado junto à via rápida adjacente. Actualmente esse espaço é ocupado por um talude, que terá de dar lugar a um muro de contenção pa- ra que se aumente o espaço da feira. “Passámos de um talude relvado para um muro, o que tem um grande impacte. Por isso, não queríamos que fosse um muro frio, mas que fosse algo bonito”. Pediram para isso a colaboração da arquitecta Mó- nica Cid, que desenhou figuras humanas que serão recriadas em aço corten, fixa- das a dez centímetros do muro e realça- das com iluminação. “Acaba por ser uma marca, porque nem todas as intervenções paisagísticas se preocupam com a arte pública”, congratula-se o arquitecto. Neste momento, estão a ser entregues pa- ra licenciamento os projectos das espe- cialidades, prevendo-se até ao final do ano a entrega do projecto de execução da arquitectura. A obra decorrerá depois em três fases. Em meados de 2013, espera-se, o palco deverá estar pronto a inaugurar, abrindo-se então à festa da vida urbana. São José Sousa Feira e mercado serão articulados por uma praça, onde existirá vida 24 horas por dia n.º 63 . novembro/dezembro 2011 . 9 página C Co on nc ce ep pç çã ão o: : João Branco, Pedro Carrilho e Paulo Simões C Co oo or rd de en na aç çã ão o: : João Branco A Ar rq qu ui it te ec ct tu ur ra a: : Pedro Carrilho, Luís Rodrigues A Ar rq qu ui it te ec ct tu ur ra a p pa ai is sa ag gi is st ta a: : Paulo Simões, Bruno Sousa, Joana Quintas 3 3D D: : Rodrigo Madeira M Mu ur ra al l a ar rt tí ís st ti ic co o: : Mónica Cid M Ma aq qu ue et ta a: : Portugal dos Pequeninos E Es sp pe ec ci ia al li id da ad de es s: : Elíptica C Co ol la ab bo or ra aç çã ão o: : Tiago Barreiros, Mónica Figueiredo, Teresa Alves C Cl li ie en nt te e: : Câmara Municipal de Cascais > Ficha Técnica 09 Espaco publico 11/11/05 3:23 Page 9

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projectoESPAÇO PÚBLICO

Todas as quintas-feiras, por ali haverápregões, roupa remexida, os melhoresdescontos. Mas toda a agitação do recin-to da Feira de Carcavelos não tem de sairportaria fora juntamente com os feiran-tes. “Nos restantes dias, ele pode ser pal-co para inúmeros eventos, desde acçõesde escolinhas de trânsito a concertos aoar livre”, sugere João Branco. Foi de fac-to como palco multifuncional, aberto àmultiplicidade de vivências do espaçourbano que foi desenvolvido o projectode requalificação da Feira e do Mercadode Carcavelos, em Cascais, um trabalhoa cargo do atelier Pluriescala e que foirecentemente revelado à população.A prioridade para a autarquia era fazerregressar ao seu espaço de origem, juntoao edifício do mercado, a feira de Carca-velos, hoje organizada (ou desorganiza-da) num terreno vazio do outro lado dalinha-férrea. Aresposta da Pluriescala as-sentou numa forte “componente pai-sagística”, que reflecte a filosofia por de-trás deste atelier, fundado no início de2010 por João Branco, que durante noveanos reuniu experiência de trabalho noespaço público como arquitecto da em-presa de fontes Ghesa: “Pluriescala –pluridisciplinar, a todas as escalas”, apre-senta o arquitecto.No total, a área de intervenção compre-ende mais de 20 mil m2, incluindo o es-paço da feira em si, que se divide emduas áreas, de 5316 e 1385 m2, unidaspor um passadiço pedonal, o edifício domercado, que será requalificado e am-pliado, e a praça anexa ao mercado, queestabelece a ligação ao recinto da feira.Era esta a macro-escala a organizar. O ponto de partida foi colocado na feira.Havia antes de mais que reorganizar osfeirantes. No que diz respeito ao dese-nho, este será um espaço “completamen-te aberto”, revela João Branco. A entradaserá feita por uma portaria, colocada nolimite mais próximo do mercado, e ascarrinhas serão estacionadas nos lugarespróprios no interior da feira, lugares com

oito por quatro metros, equipados comespigões em cada canto para que as ten-das possam aí ser presas, já que o pavi-mento será betunimoso. O acesso aonúcleo mais pequeno da feira, localizadonuma zona mais baixa, será feito pelopassadiço, que poderá servir também demiradouro no caso de exposições ouconcertos que aconteçam naquele espa-ço. João Branco coloca a tónica nestapossibilidade: “Não existe no concelhode Cascais nenhum lugar com esta proxi-midade à linha-férrea, à marginal, à A5.Este lugar é espectacular em termos deacessos. Por isso, pode-se tirar partidopara a realização de eventos”. Aliás, aonível das especialidades estão já a serprevistas potências de electricidade ne-cessárias para um concerto.

Mercado e praça renovadosA oportunidade para intervir no edifíciodo mercado surgiu no seguimento daproposta para a feira. Tendo por base oedifício existente, do modernista JorgeSegurado, propôs-se então um redesenhodo seu formato em “J” para uma disposi-ção em “L”, o que implica tanto demoli-ção como construção nova. Aqui, o tra-balho da Pluriescala será articulado como do arquitecto Miguel Passos, que está aconceber a parte do mercado que aco-lherá uma fábrica de gelados da marca

Um palco multifuncional para a vida urbana

REQUALIFICAÇÃO DA FEIRA E DO MERCADO DE CARCAVELOS

A Câmara de Cascais pretendia, antes de mais, que a Feira de Carcavelos regressasse ao seulugar de origem, junto ao mercado. Mas o projecto para a sua requalificação acabou por irmais além, fazendo deste um espaço aberto a múltiplos eventos. A assinatura é da Pluriescala.

D.R

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Santini, e envolverá quer a reinterpreta-ção da fachada como a criação de umnovo bloco. A fachada, marcada por umapala, será coberta por uma cortina devidro, criando um corredor de acesso aoscomerciantes, descreve João Branco. Já o

novo bloco irá “assumir a época em queestá, tendo uma arquitectura mais con-temporânea”. À sua frente, a praça seráaberta e articulada quer com o mercadoquer com a feira, incluindo quiosques eesplanadas, e será equipada com Internetwireless todo o dia, para que tenha “vida24 horas por dia”, justifica o projectista. A “cereja no topo do bolo”, assim lhechama João Branco, será no entanto omural de arte pública colocado junto àvia rápida adjacente. Actualmente esseespaço é ocupado por um talude, que teráde dar lugar a um muro de contenção pa-ra que se aumente o espaço da feira.“Passámos de um talude relvado para ummuro, o que tem um grande impacte. Porisso, não queríamos que fosse um murofrio, mas que fosse algo bonito”. Pedirampara isso a colaboração da arquitecta Mó-nica Cid, que desenhou figuras humanasque serão recriadas em aço corten, fixa-das a dez centímetros do muro e realça-das com iluminação. “Acaba por ser umamarca, porque nem todas as intervençõespaisagísticas se preocupam com a artepública”, congratula-se o arquitecto.Neste momento, estão a ser entregues pa-ra licenciamento os projectos das espe-cialidades, prevendo-se até ao final doano a entrega do projecto de execução daarquitectura. A obra decorrerá depois emtrês fases. Em meados de 2013, espera-se,o palco deverá estar pronto a inaugurar,abrindo-se então à festa da vida urbana.

São José Sousa

Feira e mercado serão articulados por uma praça, onde existirá vida 24 horas por dia

n.º 63 . novembro/dezembro 2011 . 99 ppáággiinnaa

CCoonncceeppççããoo:: João Branco, Pedro Carrilho e Paulo SimõesCCoooorrddeennaaççããoo:: João BrancoAArrqquuiitteeccttuurraa:: Pedro Carrilho, Luís RodriguesAArrqquuiitteeccttuurraa ppaaiissaaggiissttaa:: Paulo Simões, Bruno Sousa, Joana Quintas33DD:: Rodrigo MadeiraMMuurraall aarrttííssttiiccoo:: Mónica CidMMaaqquueettaa:: Portugal dos PequeninosEEssppeecciiaalliiddaaddeess:: ElípticaCCoollaabboorraaççããoo:: Tiago Barreiros, Mónica Figueiredo, Teresa AlvesCClliieennttee:: Câmara Municipal de Cascais

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