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Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr23.pdf)
REPRESENTANDO O MUNDO ATRAVÉS DO TEXTO LITERÁRIO: UMA ALTERNATIVA METODOLÓGICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Valdo Hermes de Lima Barcelos UFSM palavras-chave: Representações Sociais; Educação Ambiental; Texto Literário Resumo: Esta pesquisa teve como principal objetivo a construção de uma alternativa
metodológica de investigação em educação ambiental, onde procurei demonstrar que a Teoria das Representações Sociais, de origem moscoviciana, pode se constituir em uma teoria articuladora entre autor(a), obra, sociedade e leitor(a), viabilizando, assim, a identificação e posterior análise de representações contidas e/ou veiculadas no texto literário. Parto do princípio, nesta investigação, de que o conhecimento de algumas representações sobre questões que envolvem o ambiente pode ser-nos de grande valia, tanto para o entendimento das questões ambientais contemporâneas, quanto para a construção de alternativas de intervenção sobre as mesmas através do processo educativo.
REPRESENTING THE WORLD THROUGH LITERARY TEXT: A
METHODOLOGICAL ALTERNATIVE IN ENVIRONMENTAL EDUCATION keywords: Social Representations; Environmental education; Literary Text Abstract: This paper proposes the creation of a methodological alternative to the investigation of environmental education. Here, the author tries to demonstrate that Moscovici’s Social Representation Theory can embody a link between authors, their work, readers and the social environment, in order to identify and analyse representations on literary texts. It seems that the knowledge of some of the representations on environmental issues can be very useful as a way of understanding current environmental issues, in addition to creating alternative intervention methods on these representations through the educational process.
1- Representações Sociais: um pouco da sua história
Nesta pesquisa tomei como ponto de referência para o surgimento da teoria das
representações sociais os estudos de Émile Durkeim. Quanto a sua conceituação, levo em
consideração a afirmação feita por Sá (1996), quando este diz ser a conceituação formal da
teoria das representações sociais bastante difícil, principalmente se for feita de forma
sintética, pois, estamos frente a uma teoria que prima justamente pela complexidade de sua
construção. Em um de seus trabalhos mais conhecidos, “O Suicídio”, Durkeim investiga o
suicídio, um tema que, aparentemente, é individual, mas tem causas que provêm da
sociedade. Segundo Durkeim os diferentes grupos na sociedade apresentariam uma certa
tendência ao suicídio que não se explicaria apenas através de fenômenos orgânicos e
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psíquicos nem via natureza do meio físico. Portanto, “por eliminação, depende
necessariamente das causas sociais e constitui, por si só, um fenômeno coletivo”
(1996:127).
Na década de sessenta o pesquisador romeno, radicado na França, Serge Moscovici
passa a denominar de Representações Sociais, aquilo que Durkeim denominava de
Representações Coletivas. Farr (1995:44), se refere à teoria das representações sociais, de
Moscovici, dizendo que este buscou adequá-la aos tempos atuais, na medida em que,
devido à complexificação do mundo moderno torna-se “..mais adequado, num contexto
moderno, estudar representações sociais do que estudar representações coletivas”. Estas
representações são construídas por indivíduos em suas ações e diálogos cotidianos. Para
este autor “Ao contrário das abordagens cognitivistas sociais, pressupõe-se que um objeto
é social não devido a alguma característica imanente, mas por meio da maneira que as
pessoas com ele se relacionam” (1999:01). Neste sentido podemos afirmar que é através
das conversações e diálogos que homens e mulheres atribuem significados a um
determinado objeto que desejam conhecer e com o qual querem se relacionar. Tal
elaboração faz com que certo objeto venha a tornar-se “realidade social”, através da
representação que a comunidade em questão faz dele. Esta seria uma das maneiras de
transformar um objeto em algo integrante do mundo social. Esta integração no mundo
social, daquilo que o indivíduo quer conhecer é, segundo Schulze (1995), uma das
possibilidades que a teoria das representações sociais pode nos oferecer. Já Minayo (1995),
ao estudar as influências recebidas pela teoria, via diferentes pensadores, cita Gramsci,
lembrando que este afirma que a concepção de mundo de um determinado período histórico
é constituída de fragmentos oriundos de vários segmentos sociais, sendo uma combinação
de vários elementos. Pode-se também afirmar que a teoria das representações sociais está
muito próxima daqueles estudos e/ou pesquisas voltadas para problemas de investigação
onde a centralidade da pesquisa é o conhecimento do senso comum.
Uma tal compreensão desta teoria leva que a entendamos como uma possibilidade
de aproximação com aquilo que os indivíduos são capazes de elaborar através de suas
relações cotidianas. Para Spink (1995), as representações sociais seriam formas de
conhecimento prático. É esta, dentre outras características que segundo Spink (1995:118),
favoreceria o surgimento de uma “Ruptura com as vertentes clássicas das teorias do
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conhecimento anunciando importantes mudanças no posicionamento quanto ao estatuto
da objetividade e da busca da verdade”. As representações sociais desempenham na
sociedade, seja ela qual for, importante contribuição para a formação de condutas,
orientando relações e comunicações. Segundo Moscovici (1978), deveríamos encarar as
representações sociais em seu duplo aspecto: na sua dimensão psicológica autônoma e na
proporção em que ela é própria da sociedade, e, portanto, parte também da cultura desta
mesma sociedade. Na opinião de Moscovici “As representações sociais são entidades
quase tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente através de uma
fala, um gesto, um encontro, em nosso universo cotidiano” (1978:41). Tomando esta
citação como referência percebe-se a importância que o autor dá para as relações no espaço
cotidiano como ponto de partida para nos aproximar das concepções e compreensões que
homens e mulheres constróem sobre o mundo em que vivem. Esta construção está muito
fortemente relacionada ao grupo social a que o indivíduo pertence. Para Moscovici (1990),
é consensual afirmar que ninguém confunde as emoções, os pensamentos ou os desejos de
um indivíduo com os grupos a que o mesmo pertence. No entanto, reafirma sua tese de que
quando estamos reunidos e formamos um grupo, alguma coisa muito importante acontece
com cada um de nós. Passamos a sentir e pensar de forma totalmente diversa de quando
estamos sozinhos.
Estamos neste exemplo, frente a um inegável caso onde a passagem de um estado
individual para outro coletivo, produz modificações radicalmente opostas. Neste processo
de passagem de individual para coletivo, a qualidade dos indivíduos sofre uma profunda
transformação. São nestas condições que para Moscovici (1990), as redes de relações
coletivas públicas e privadas se fundem e se demarcam. O público recupera aí o privado,
pois, para este autor, a sociedade existe onde os indivíduos são reais.
Aí estaria concretamente manifestada tanto a sociedade como o indivíduo. O lugar
onde o público e o privado se fundem. Ao falar da forma como transformamos uma
observação em conhecimento, Moscovici (1978), afirma que a única maneira de fazer isto é
“apropriando-nos do universo exterior”. Esta exterioridade deve ser vista em um duplo
sentido, a saber: aquele sentido que não nos pertence e o sentido que está fora de nós e,
portanto, fora dos limites do nosso campo de ação. Torna-se desta forma possível que as
recordações venham à tona fazendo com que as experiências compartilhadas apoderem-se
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delas. Em função destes diálogos, não apenas as informações seriam transmitidas e os
hábitos dos diferentes grupos elaborados e confirmados, mas também, e isto é muito
importante para as pessoas, cada um adquire uma capacidade “enciclopédica” a respeito
daquilo que está sendo objeto das discussões.
A teoria das representações sociais está também em consonância com o estudo dos
processos de alteridade. Ao se referir a esta contribuição da teoria Arruda (1999:43),
ressalta que “A teoria das representações sociais traz, assim, sua contribuição ao estudo
da alteridade pela via da cognição, mas também dos afetos, apontando-os como fonte do
direcionamento destes contornos, assim como a presença do inconsciente na configuração
dos seus desenhos”. Para Arruda a teoria das representações sociais, em seu processo de
construção, deixa espaços para lacunas através das quais novas discussões são possíveis.
Pois, para a autora, as representações não servem única e exclusivamente para fazer a
integração daquilo que é não familiar, mas também, e isto é fundamental, podem promover
a transformação deste familiar, já que, segundo a autora, a renovação dos “estoques
mentais e culturais não passa apenas pela incorporação do novo, ou talvez não se detenha
nela” (1999:43). A teoria das representações sociais, encontra-se em um momento de
difusão em diferentes regiões geográficas do mundo. Podem-se encontrar trabalhos de
investigação e estudo nas mais diferentes áreas do conhecimento, onde esta teoria está
sendo testada e/ou já se encontra em processo de consolidação avançado. Sobre esta
situação da teoria, Guareschi (1995), salienta que a esta já pode ser vista como uma
referência central para psicólogos de todo o planeta. É bastante enfático ao afirmar que para
a Psicologia Social esta teoria Representa um avanço, na medida em que consegue romper
e re-introduzir questões até então absolutamente centrais para esta disciplina.
O cotidiano dos seres humanos está marcado pelas suas múltiplas dimensões, como
a criatividade, seus pensamentos, os conceitos e pré-conceitos, valores, mitos, desejos...que
nem sempre são no entanto visíveis, ou claramente percebidos. Para Moscovici (1978:59)
“As representações individuais ou sociais fazem com que o mundo seja o que pensamos
que ele é ou deve ser. Mostram-nos que, a todo instante, alguma coisa ausente se lhe
adiciona e alguma coisa presente se modifica.” Este autor ao se referir à necessidade de
atentarmos para a complexidade dos fenômenos que envolvem as relações sociais, faz uma
advertência que considero crucial para o entendimento do momento que hoje vivemos no
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que diz respeito às mudanças na forma de pensar e para a necessidade de se aceitar o aporte
de novas idéias e teorias. Para ele valeria a pena lembrar uma banalidade: a de que a vida
das mais sólidas verdades é limitada.
A construção/elaboração de uma representação social, está vinculada a dois
processos fundamentais que segundo Moscovici (1978), seriam a objetivação e a
ancoragem. Enquanto na objetivação o que acontece é que um esquema, um conceito, é
transformado em algo real, da mesma forma que uma imagem é transformada em algo de
material, na ancoragem o mundo da sociedade transforma aquilo que é um objeto social em
algo que lhe sirva de instrumento. Em outras palavras: seria tornar familiar algo que se
apresenta até então como desconhecido, operação que se dá, por exemplo, via estruturas
retidas previamente na memória. Ao analisar a forma como se dá a penetração dos
conceitos científicos na sociedade, Moscovici afirma que estes adquirem um novo “estatus
epistemológico”, a que ele denomina de representações sociais. Moscovici (1995), ressalta
que as conversações, os saberes das populações, ao mesmo tempo que não devem ser
tomados como entidades à parte, não podem ser vistos como os únicos que são capazes de
expressarem as representações sociais. O conhecimento científico e as representações
sociais são tão diferentes entre si e, paradoxalmente, tão complementares que, segundo
Moscovici, faz-se necessário falar sempre em “ambos os registros”.
Sobre esta relação de complementaridade, Abric (1996), ressalta que a teoria das
representações sociais tem uma grande contribuição a dar para a busca de entendimento dos
fenômenos sociais extremamente complexos da sociedade contemporânea. Esta
contribuição residiria na diversidade de que se nutre esta teoria. Na sua opinião “uma das
vantagens da perspectiva das representações sociais é que ela se nutre de abordagens
diversas e complementares: estruturais, por certo, mas igualmente etnológicas e
antropológicas, socilógicas e históricas” (1996:09-10). Esta característica da teoria das
representações sociais, é reafirmada por Wagner (1999), em um trabalho onde apresenta
uma série de pesquisas onde foi utilizada esta teoria como um campo investigativo. Com
isto, o autor, quer demonstrar a diversidade de métodos de investigação possíveis a partir
do campo das representações sociais. Tal diversidade está intimamente relacionada a esta
característica de abordagens “diversas e complementares”, a que se refere Abric. A seguir
apresentarei a idéia de tomar-se a teoria das representações sociais como uma teoria
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articuladora entre autor(a), obra literária, sociedade e leitor(a), tarefa que é o objetivo desta
pesquisa.
2- Uma leitura através da teoria das representações sociais
Liev Semionovitch Vigotiski (1896-1936), afirma que a dimensão social humana
está presente mesmo onde exista a presença de apenas um homem ou uma mulher, desde
que estes estejam, de uma forma ou de outra, vivenciando suas emoções pessoais. Para este
autor, a refundição no ambiente externo a nós, de nossas emoções realiza-se “por força de
um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado
nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumento da sociedade” (1999:315).
Para Vigotski, o sentimento não se tornaria social, pelo contrário, torna-se isto sim
pessoal, no momento em que homens e mulheres vivenciam com a arte. O importante e
fundamental de perceber-se é que este sentimento ao passar a ser pessoal não perde seu
caráter também social. Parece-me que esta visão de Vigotski, em relação ao caráter da arte
na sociedade, tem muito a ver com a teoria das representações sociais que até aqui procurei
apresentar. Esta aproximação que faço não tem outro sentido, que não o de buscar o diálogo
entre a teoria das representações sociais clássica e o pensamento de autores que embora não
tendo participado diretamente da construção desta teoria, podem nos ajudar em pesquisas
onde a mesma é tomada como um conceito articulador. Moscovici (1984), ao se referir ao
elo existente entre a psicologia do desenvolvimento e a psicologia social, considera a
primeira como sendo a psicologia social da criança e, a segunda, a psicologia do
desenvolvimento dos homens e mulheres adultos. Segundo o autor, em ambas, as
representações sociais desempenham um papel fundamental, sendo isto o que elas “têm em
comum”. Se, na opinião de Moscovici, acrescentarmos a isto alguns aspectos da
“sociologia da vida cotidiana”, poderíamos reconstruir um conhecimento científico que
incluiria toda uma “galáxia de investigações relacionadas”. Moscovici (1984:59), vê nisto
“uma materialização concreta de uma observação de Vigotiski, onde o problema do
pensamento e da linguagem extrapola os limites da ciência natural e se torna o problema
central da sociologia humana”.
Ao analisar a obra literária de Guimarães Rosa “Grande Sertão: Veredas”, Lima
(1996), comenta que a forma como o sertão é representado na narrativa de Rosa (autor) e
Riobaldo (personagem), leva o leitor a uma travessia das paisagens sertanejas, em que
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“O sentido de espaço e de lugar durante a história, ambos transcendendo a dimensão do tempo local geográfico ou de suas singularidades regionais, numa expansão contínua por territórios dimensionados na universalidade dos significados próprios e únicos da condição humana” (1996:154).
Percebe-se aqui, neste rápido exemplo, uma possibilidade concreta desta articulação
entre os sentimentos, as emoções, às vezes sutis, vagos, tênues, com as relações sociais em
construção, dialogando com aquilo que Moscovici denominou pouco antes de uma
“sociologia da vida cotidiana”. Tal articulação é possível através da arte, no caso em
questão a literatura. Estaríamos frente ao que Vigotski (1999), defende ser uma
possibilidade de articulação entre sentimentos e vida, a arte se constituindo em uma
“técnica social do sentimento” . De uma forma um pouco diferente, porém, via a teoria das
representações sociais, como uma possibilidade de trabalho na literatura Laszlo (1997),
defende que nossas histórias não resumem-se a nossas histórias pessoais, mentais ou
verbais. Mas que estas experiências individuais têm articulações com outras histórias e
outros sujeitos. Para este autor, estas histórias pertencem também a articulações com a
cultura e com a sociedade. Laszlo chega a afirmar que “Mesmo as autobiografias são
construções sociais, locais e contingentes às possibilidades narrativas ambientes”
(1997:160). O autor defende que existem como que “histórias históricas congeladas”, que,
segundo ele, fazem com que as experiências individuais sejam articuladas formando
histórias comuns em uma determinada cultura ou sociedade. Para este autor, apesar de os
sujeitos poderem construir histórias diferentes para uma mesma atividade, a cultura
informaria, a seus membros, pela relação comunicacional, um conjunto possível de
esqueletos de histórias. Considero importante ressaltar a posição de Laszlo sobre a idéia de
Vigotski de que a arte contaria com uma “técnica social para emoções”. Para Laszlo, esta
capacidade da narrativa “não se restringiria apenas as narrativas literárias, mas que
pertence a vida real dos grupos sociais quando atuam juntos e experimentam suas próprias
ações” (1997:162).
A idéia de aproximação entre os processos narrativos literários/artísticos e a teoria
das representações sociais, embora não seja uma prática muito comum de pesquisa, também
não se pode dizer que constitui-se em algo totalmente estranho a esta teoria. Esta distância
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diminui ainda mais se levarmos em consideração a construção do referencial teórico-
intelectual das representações sociais, como uma teoria de investigação de fenômenos
sociais partilhados. Em um artigo de 1997, Laszlo faz uma retrospectiva a respeito desta
possibilidade e constata que ela já está presente, em alguns conceitos de Durkeim e de
alguns de seus alunos. Outra demonstração concreta desta possibilidade levantada e
discutida, pelo autor, é o fato de que estudos etnográficos, em muitos casos são orientados
em termos de entrevistas, onde as narrativas são o foco de análise. Justifica tal afirmação,
lembrando que “Entrevistas são em muitos sentidos auto-narrativas, guiadas pelo
entrevistador, que fornecem embasamento para o pesquisador, do qual ele/ela podem
descobrir o sistema de significados para interpretar o contexto do fenômeno em foco”
(Laszlo, 1997:164).
De maneira bastante lúcida, Serge Moscovici, em um texto de 1984, defende a
necessidade de um esforço comum de todos(as) os(as) pesquisadores(as) e intelectuais
empenhados no estudo das representações sociais, no sentido de buscar o entendimento
daquilo que ele denomina de “cosmologia da existência humana” (1984:59). Para ele, a
teoria das representações sociais está permanentemente aberta a novas possibilidades
investigativas que encontrem-se em sintonia com seu campo de abrangência. Para este
autor, a complexidade do ser humano não pode ser encarada por esta ou aquela área
específica do conhecimento, precisa, isto sim, estabelecer relações as mais amplas
possíveis, pois só assim poderá viabilizar-se tão difícil tarefa. Para Moscovici as
representações sociais são “Históricas na sua essência, e influenciam o desenvolvimento do
indivíduo desde a primeira infância, desde o dia em que a mãe, com todas as suas imagens
e conceitos, começa a ficar preocupada com o seu bebê” (1984:59). É a partir da
compreensão que pais e mães fazem de seus filhos e filhas que modelar-se-á sua
personalidade e construir-se-á o seu processo de socialização. Assim, fica muito difícil, ou
até mesmo impossível, segundo o próprio Moscovici, pensar-se uma teoria capaz de dar
conta de tão importante projeto, sem buscar diálogos e arriscar-se em caminhos ainda por
ser construídos. Acrescenta ao final
“Não ignoro as dificuldades de tal empreendimento, nem o fato de que ele pode ser impossível, como também não ignoro a lacuna entre tal projeto e as nossas modestas realizações até o dia de hoje. Mas não posso compreender que isto seja razão suficiente para
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não empreendê-lo, o mais claramente possível, na esperança que outros irão compartilhar da minha fé nesse projeto”(Moscovici,1984:60).
Levando em consideração a idéia da teoria das representações sociais como uma
teoria articuladora, entre autor(a), obra, sociedade e leitor(a) é que me proponho aceitar o
desafio de dar minha contribuição como cidadão e pesquisador das questões ecológicas,
através de uma metodologia que, como procurei demonstrar, ainda tem um longo caminho
a percorrer. Ao realizar uma pesquisa acadêmica, lançando mão de uma metodologia em
construção, sei das armadilhas que se escondem em um projeto deste tipo. São como
fantasmas permanentemente de tocaia nas entrelinhas de um texto que se lê. Acredito ser
este, talvez, o maior desafio, assim como, a maior contribuição que eu posso dar, neste
momento, para o entendimento de uma questão que está, a meu ver, extremamente carente
de iniciativas inovadoras, no campo da pesquisa acadêmica, principalmente do ponto de
vista metodológico de investigação. Estou me referindo à pesquisa sobre formas de
implementação da educação ambiental no cotidiano escolar. Com isto não me proponho
“salvador” de nada, nem portador de fórmulas ou cartilhas para a realização, na escola ou
na sociedade, da “boa educação ambiental” ou da “verdadeira educação ambiental”. Ao
contrário, estou buscando aprender com aqueles e aquelas que estão inquietos frente aos
imensos problemas ecológicos que estão a desafiar todos(as) os(as) cidadãos(ãs) e
educadores(as) do planeta. Aprender com aqueles e aquelas educadores(as) e ecologistas,
que não estão aderindo às saídas fáceis, ou métodos e alternativas tradicionais, como forma
de enfrentar as questões ecológicas de nossa época.
A seguir passarei a refletir, especificamente, sobre a possibilidade de identificação e
análise de representações sociais, tendo como fonte de investigação o texto literário.
3- A obra literária como fonte de investigação de representações sociais
Ao comentar a relação existente entre obra literária e sociedade Candido (2000), diz
que esta passa por avaliações que vão de um extremo a outro. Para o autor no século
passado, por exemplo, a literatura chegou a ser vista como chave para entender a sociedade.
Noutro momento, no entanto, foi totalmente desconsiderada a possibilidade de
condicionamento entre literatura/sociedade/literatura. Este paradoxo é assim ilustrado por
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Candido “Nada mais importante para chamar a atenção sobre uma verdade do que
exagerá-la. Mas também nada mais perigoso, porque um dia vem a reação indispensável e
a relega injustamente para a categoria de erro” (2000:03). Há que buscar-se um ponto de
equilíbrio entre estes dois extremos. Pois, pode-se ter como muito factível a relação de
condicionamento social entre obra e sociedade. Na opinião de Candido (2000), a literatura
constitui-se sim em um produto social. Uma construção que se dá na relação do escritor
com seu grupo social. O escritor não seria apenas mais um indivíduo se expressando, mas
sim, alguém desempenhando um papel social, ocupando uma posição relativa ao seu grupo
profissional e correspondendo a certas expectativas dos leitores(as) e também de seus(as)
auditores(as).
Na opinião de Leenhardt (1998), o texto literário teria sua significância social, entre
outras justificativas, pelo fato de constituir-se em um dos principais meios de que dispõe o
indivíduo, para estabelecer suas relações imaginárias com os demais componentes do grupo
ao qual pertence. A literatura ao ser entendida como um discurso que acontece na e pela
sociedade, não pode ser vista de forma apartada, isolada da cultura na qual está inserida e
onde a estamos analisando. Já na visão de Ravetti (1999:17), a literatura assim vista,
constitui-se como um “Discurso específico dentro do universo cultural”. Se pensarmos a
partir destas duas possibilidades levantadas, o texto literário é um disseminador de
símbolos e regras culturais estabelecidas na sociedade. Esta autora, dando seguimento a sua
idéia sobre o papel da literatura na sociedade, afirma que não só é importante trabalhar-se a
literatura em uma relação de diálogo com a cultura como alerta que seria
“...uma tarefa urgente e interminável refletir sobre as culturas nas quais estamos imersos, aguçar os ouvidos para escutar nossa(s) língua(s), teorizar nossos processos identificatórios, partindo da idéia de que esta reflexão serve para evidenciar o mapa cultural da região na qual interagimos, desconhecido em grande parte para nós mesmos, pelo menos em suas dimensões simbólico-culturais”(1999:18).
Assim sendo, podemos pensar a literatura como uma das tantas formas de
manifestação de valores, crenças, regras, mitos. Enfim, uma maneira a mais e muito
especial, das pessoas tornarem públicas, na sociedade, suas diferentes representações. De
outro modo, a literatura constitui-se em um importante veículo divulgador e/ou
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comunicador destes mesmos valores e crenças dos indivíduos, mas que são em verdade
construções resultantes de um processo de criação coletiva. São, em síntese, uma
decorrência de relações partilhadas no grupo a que os(as) mesmos(as) pertencem. Para
Ravetti (1999), o ambiente atual de pós-modernidade latino-americano, está profundamente
marcado por escritos literários, onde são veiculadas narrativas que são bons exemplos de
representações elaboradas a partir de “mediações complexas entre experiências e projetos
culturais e sociais que envolvem, certamente, programas literários” (p.18).
Pesavento (1998), ao refletir sobre a forma como os(as) brasileiros(as) em geral têm
vivido sua relação de pertencimento - ou não pertencimento - aos demais povos latino-
americanos, sugere que é esta uma relação onde os(as) brasileiros(as) não se sentem
realmente integrados ao continente e à cultura latino-americana. A autora vai buscar
argumentos para suas afirmações no discurso histórico e na narrativa literária que no
Brasil tem se desenvolvido historicamente. Para Pesavento, há que buscar uma “nova
leitura” dos textos literários, onde seja possível entender a “história como literatura e a
literatura como história”. Um entrecruzamento com tal característica, e tamanha magnitude,
só poderia ser viabilizado através da noção de “representação”, pois para ela, esta categoria
se tornou central para os estudos da história cultural que busca resgatar as diferentes formas
como homens e mulheres perceberam-se através dos tempos e em diferentes lugares,
construindo, assim, “um sistema de imagens de representação coletiva” (1998:19).
Ao apresentar a teoria Wagner (1999), assim se refere ao seu papel no estudo de
fenômenos sociais nas sociedades modernas “Ela (a representação social) mantém que os
fenômenos e processos psicológicos e sociais só podem ser corretamente compreendidos se
forem vistos como estando inseridos em condições históricas, culturais, e macro-sociais”
(1999:06). Esta afirmação reafirma a viabilidade do que me proponho, visto que, defendo
neste texto a idéia de que a literatura assume em muitas situações a dimensão de histórias
que estão ligadas à vida, aos sentimentos, lutas, vontades, desejos, diálogos e/ou embates
culturais, que em última instância são parte constituinte tanto do imaginário quanto do
mundo real dos grupos sociais. Para este mesmo autor, as representações sociais são
instrumentos que possibilitam a comunicação social entre os sujeitos no cotidiano da
sociedade, constituindo-se assim, em ferramentas mais concretas até mesmo que os
conceitos científicos (1999). Seguindo nesta direção, podemos entender o texto literário
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como uma possibilidade de construção e/ou reconstrução do real, através de representações,
que são/estão sendo veiculadas/apresentadas na obra literária. Por outro lado, pode-se ir
além e refletir sobre a possibilidade de ser a narrativa ficcional, em muitos casos, tão
esclarecedora e representativa do real, quanto a narrativa histórica clássica. Sobre tal
possibilidade retornamos a Pesavento (1998), quando esta afirma que a veracidade da
literatura está fortemente ligada a sua capacidade de contextualização da narrativa literária.
Para esta autora, assim como está presente no discurso histórico um aporte de ficcionismo,
na narrativa literária também estão presentes a vontade de fornecer veracidade à ficção. Isto
se comprovaria, pelo fato de que mesmo não sendo “intenção do texto literário provar que
os fatos narrados tenham acontecido concretamente, mas a narrativa comporta em si uma
explicação do real e traduz uma sensibilidade diante do mundo, recuperada pelo autor”
(Pesavento, 1988:22).
4- Representando o mundo como um texto: pensando alternativas em E. A.
O texto literário pode ser visto, assim, como um “pedaço de mundo”, um
“fragmento da história”, aberto às diferentes disciplinas (história, física, filosofia,
sociologia, antropologia, matemática, biologia...), bem como, às complexas manifestações
humanas (artísticas, religiosas, políticas, afetivas, demens, ludens...). Texto, leitura, e
mundo neles representados são, portanto, inseparáveis. Unem-se, sem, no entanto,
dissiparem suas identidades.
A partir desta representação de mundo, pergunto: sendo as questões ecológicas
contemporâneas, questões que estão a desafiar nossas melhores reflexões intelectuais, e,
sendo elas emergentes do nosso mundo, não poderíamos tratá-las também como texto
para, assim, entendê-las melhor?
Ao discutirmos as questões ecológicas alguns consensos começam a se formar.
Entre estes que as mesmas são de extrema complexidade e envolvem as mais diferentes
dimensões do pensar e do agir humano. Ao buscar-se soluções para os problemas
ecológicos defrontamo-nos com dificuldades que, em muitos casos, não decorrem de falta
de vontade sincera de resolução destes por parte daqueles(as) envolvidos(as) com a
questão. São dificuldades que nem sempre estão relacionadas a discordâncias quanto aos
fins a serem atingidos, aos métodos a serem utilizados, muito menos a disputas pessoais
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e/ou grupais de poder. Mas estão, sim, vinculadas ao fato de que o mesmo problema pode
ser visto, interpretado, representado, de forma diferente, por cada pessoa envolvida. Ou
seja, as representações elaboradas por cada pessoa podem ser bastante diferentes,
embora, aparentemente, o problema seja o mesmo. Uma prova é que, em muitos casos,
aquilo que é visto como problema ecológico por um(a) não o é por outro(a). Poderia citar
outros exemplos, tais como a gravidade atribuída a um problema ambiental nem sempre é
equivalente para diferentes cidadão(ãs), mesmo que estejam convivendo com a mesma
realidade. Nossas representações sobre as questões ecológicas não estão imunes às nossas
crenças, nossos valores morais, éticos, religiosos, econômicos, políticos, nossos conceitos
científicos, nosso senso comum, nossas ideologias... Enfim, são criações autônomas e ao
mesmo tempo dependentes de nossa cultura, nosso tempo, de nossos processos de vida e
morte...Enfim, como afirma Paz, são nossa história, pois, segundo ele, os seres humanos
não estão na história: são a história. No texto América Latina y la democracia , do livro
Tiempo Nublado (1983), ao comentar a forma como as idéias e ideologias acabam por
afetar nossa vida e nossos processos de construção de formas de pensar e viver, Paz, fala de
um processo de “emascaramento” que, em muitos casos, nos leva a ver, ou, a não ver
aquilo que queremos ou não queremos ver. Quando tratamos das questões ecológicas
muito facilmente podemos cair nesta armadilha criada por estes processos de
“emascaramento”.
Uma questão bastante importante para repensarmos nossas teorias e ações em
relação às questões ecológicas é, justamente, a capacidade de nos ocultarmos em relação a
nossas responsabilidades frente às mesmas. Tal atitude fica bastante evidente em nossos
discursos sobre os problemas ecológicos, na medida em que, via de regra, quando falamos
dos mesmos nos excluímos da sua origem. Assumimos uma certa exterioridade ao
problema. Agimos como se não fizéssemos parte desta faceta da realidade: a faceta
negativa de nossas ações. Esta postura ficou evidente em várias pesquisas que realizei,
através de questionários e entrevistas, junto a alunos e alunas de cursos que ministrei nos
últimos anos para professores(as) das redes de ensino de vários municípios do país, bem
como para alunos(as) de diversos cursos de graduação e pós-graduação de diferentes
universidades. Isto apenas para citar pesquisas de cunho acadêmico, pois, se nos determos a
avaliar com mais atenção, esta ocultação individual frente às questões ecológicas está
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presente em nossas falas e ações cotidianas. Faz parte instituinte e instituidora de nosso
senso comum. Está presente de forma marcante em nossas representações cotidianas.
Compõe o imaginário de grande parte de nossa sociedade.
A esta possibilidade de trabalho em educação ambiental através do texto literário
podemos nos arriscar um pouco mais e buscar identificar e analisar representações sobre
problemas ecológicos, em textos produzidos pelos(as) membros do grupo com o qual
estamos trabalhando. Por exemplo, uma turma de alunos(as). Ao tratarmos uma questão
ecológica - um problema ecológico qualquer - podemos transformá-lo em um texto. Pode-
se fazer isto através da descrição daquilo que estamos vendo e entendendo como um
problema ou questão ecológica a ser debatida, refletida. Estaremos, assim, dando
visibilidade e possibilidade de interpretação, através do texto produzido, de uma parte de
nossas representações sobre o que estamos descrevendo, no caso, um problema ecológico.
Esta prática oportunizaria uma relação educador(a) educando(a), onde seria
incentivado o processo criativo individual ao mesmo tempo que dar-se-ia oportunidade para
a troca de experiências entre os(as) envolvidos(as). A discussão sobre o processo, bem
como o resultado, constituir-se-ia em ótimo ponto de partida para a discussão sobre
algumas representações dos(as) alunos(as) presentes nos textos.
De outra forma estaríamos propiciando um exercício de cidadania, na medida em
que, a discussão dos problemas ecológicos estariam trazendo à tona questões que envolvem
não apenas conceitos científicos e conteúdos didáticos mas, também, e isto é fundamental,
aspectos da economia, da política, da cultura, da violência, das crenças e valores,
circulantes na sociedade. Enfim, estaríamos fazendo uma aproximação entre mundo da
escola e mundo da vida, lembrando o saudoso educador Paulo Freire: “...ninguém educa
ninguém...os homens educam-se entre si” (Freire: 1996).
4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRIC, J.C. Prefácio.In: Celso Pereira Sá. Rio de Janeiro. Vozes, 1996. ARRUDA, A. O ambiente natural e seus habitantes no imaginário brasileiro. In: ARRUDA.
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TÍTULO:
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REPRESENTANDO O MUNDO ATRAVÉS DO TEXTO LITERÁRIO: UMA
ALTERNATIVA METODOLÓGICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
AUTOR: Valdo Hermes de Lima Barcelos ( Prof. Ass. Dep. Metodologia Ensino-
Universidade Federal de Santa Maria-UFSM- Doutorando Educação-UFSC)
Palavras-chaves: Representações Sociais - Educação Ambiental - Texto Literário.
Resumo Esta pesquisa teve como seu principal objetivo a construção de uma alternativa
metodológica de investigação em educação ambiental, onde procurei demonstrar que a
Teoria das Representações Sociais, de origem moscoviciana, pode se constituir em uma
teoria articuladora entre autor(a), obra, sociedade e leitor(a), viabilizando, assim, a
identificação e posterior análise de representações contidas e/ou veiculadas no texto
literário. Parto do princípio, nesta investigação, de que o conhecimento de algumas
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representações sobre questões que envolvem o ambiente podem ser de grande valia, tanto
para o entendimento das questões ambientais contemporâneas, quanto para a construção de
alternativas de intervenção sobre estas através do processo educativo.
Abstract
This paper propouses a construction of a methodological alternative of investigation on
enviromental education. Here, i try to demonstrate that moscovician Social Representation
theory can be helpful as a theory that links writers, work, readers and the social
environment, in order to identify and analise the representation kep on literary texts. It
seems to ne that the knouledge of some of the representations abaut enviromental matters
can be useful as a way of understanding contemporary enviromental matters and for the
construction of alternatives of intervention through the educational process.
1- Representações Sociais: um pouco da sua história
Nesta pesquisa tomei como ponto de referência para o surgimento da teoria das
representações sociais os estudos de Émile Durkeim. Quanto a sua conceituação, levo em
consideração a afirmação feita por Sá (1996), quando este diz ser a conceituação formal da
teoria das representações sociais bastante difícil, principalmente se for feita de forma
sintética, pois, estamos frente a uma teoria que prima justamente pela complexidade de sua
construção. Em um de seus trabalhos mais conhecidos, “O Suicídio”, Durkeim investiga o
suicídio, um tema que, aparentemente, é individual, mas tem causas que provêm da
sociedade. Segundo Durkeim os diferentes grupos na sociedade apresentariam uma certa
tendência ao suicídio que não se explicaria apenas através de fenômenos orgânicos e
psíquicos nem via natureza do meio físico. Portanto, “por eliminação, depende
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necessariamente das causas sociais e constitui, por si só, um fenômeno coletivo”
(1996:127).
Na década de sessenta o pesquisador romeno, radicado na França, Serge Moscovici
passa a denominar de Representações Sociais, aquilo que Durkeim denominava de
Representações Coletivas. Farr (1995:44), se refere à teoria das representações sociais, de
Moscovici, dizendo que este buscou adequá-la aos tempos atuais, na medida em que,
devido à complexificação do mundo moderno torna-se “..mais adequado, num contexto
moderno, estudar representações sociais do que estudar representações coletivas”. Estas
representações são construídas por indivíduos em suas ações e diálogos cotidianos. Para
este autor “Ao contrário das abordagens cognitivistas sociais, pressupõe-se que um objeto
é social não devido a alguma característica imanente, mas por meio da maneira que as
pessoas com ele se relacionam” (1999:01). Neste sentido podemos afirmar que é através
das conversações e diálogos que homens e mulheres atribuem significados a um
determinado objeto que desejam conhecer e com o qual querem se relacionar. Tal
elaboração faz com que certo objeto venha a tornar-se “realidade social”, através da
representação que a comunidade em questão faz dele. Esta seria uma das maneiras de
transformar um objeto em algo integrante do mundo social. Esta integração no mundo
social, daquilo que o indivíduo quer conhecer é, segundo Schulze (1995), uma das
possibilidades que a teoria das representações sociais pode nos oferecer. Já Minayo (1995),
ao estudar as influências recebidas pela teoria, via diferentes pensadores, cita Gramsci,
lembrando que este afirma que a concepção de mundo de um determinado período histórico
é constituída de fragmentos oriundos de vários segmentos sociais, sendo uma combinação
de vários elementos. Pode-se também afirmar que a teoria das representações sociais está
muito próxima daqueles estudos e/ou pesquisas voltadas para problemas de investigação
onde a centralidade da pesquisa é o conhecimento do senso comum.
Uma tal compreensão desta teoria leva que a entendamos como uma possibilidade
de aproximação com aquilo que os indivíduos são capazes de elaborar através de suas
relações cotidianas. Para Spink (1995), as representações sociais seriam formas de
conhecimento prático. É esta, dentre outras características que segundo Spink (1995:118),
favoreceria o surgimento de uma “Ruptura com as vertentes clássicas das teorias do
conhecimento anunciando importantes mudanças no posicionamento quanto ao estatuto
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da objetividade e da busca da verdade”. As representações sociais desempenham na
sociedade, seja ela qual for, importante contribuição para a formação de condutas,
orientando relações e comunicações. Segundo Moscovici (1978), deveríamos encarar as
representações sociais em seu duplo aspecto: na sua dimensão psicológica autônoma e na
proporção em que ela é própria da sociedade, e, portanto, parte também da cultura desta
mesma sociedade. Na opinião de Moscovici “As representações sociais são entidades
quase tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente através de uma
fala, um gesto, um encontro, em nosso universo cotidiano” (1978:41). Tomando esta
citação como referência percebe-se a importância que o autor dá para as relações no espaço
cotidiano como ponto de partida para nos aproximar das concepções e compreensões que
homens e mulheres constróem sobre o mundo em que vivem. Esta construção está muito
fortemente relacionada ao grupo social a que o indivíduo pertence. Para Moscovici (1990),
é consensual afirmar que ninguém confunde as emoções, os pensamentos ou os desejos de
um indivíduo com os grupos a que o mesmo pertence. No entanto, reafirma sua tese de que
quando estamos reunidos e formamos um grupo, alguma coisa muito importante acontece
com cada um de nós. Passamos a sentir e pensar de forma totalmente diversa de quando
estamos sozinhos.
Estamos neste exemplo, frente a um inegável caso onde a passagem de um estado
individual para outro coletivo, produz modificações radicalmente opostas. Neste processo
de passagem de individual para coletivo, a qualidade dos indivíduos sofre uma profunda
transformação. São nestas condições que para Moscovici (1990), as redes de relações
coletivas públicas e privadas se fundem e se demarcam. O público recupera aí o privado,
pois, para este autor, a sociedade existe onde os indivíduos são reais.
Aí estaria concretamente manifestada tanto a sociedade como o indivíduo. O lugar
onde o público e o privado se fundem. Ao falar da forma como transformamos uma
observação em conhecimento, Moscovici (1978), afirma que a única maneira de fazer isto é
“apropriando-nos do universo exterior”. Esta exterioridade deve ser vista em um duplo
sentido, a saber: aquele sentido que não nos pertence e o sentido que está fora de nós e,
portanto, fora dos limites do nosso campo de ação. Torna-se desta forma possível que as
recordações venham à tona fazendo com que as experiências compartilhadas apoderem-se
delas. Em função destes diálogos, não apenas as informações seriam transmitidas e os
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hábitos dos diferentes grupos elaborados e confirmados, mas também, e isto é muito
importante para as pessoas, cada um adquire uma capacidade “enciclopédica” a respeito
daquilo que está sendo objeto das discussões.
A teoria das representações sociais está também em consonância com o estudo dos
processos de alteridade. Ao se referir a esta contribuição da teoria Arruda (1999:43),
ressalta que “A teoria das representações sociais traz, assim, sua contribuição ao estudo
da alteridade pela via da cognição, mas também dos afetos, apontando-os como fonte do
direcionamento destes contornos, assim como a presença do inconsciente na configuração
dos seus desenhos”. Para Arruda a teoria das representações sociais, em seu processo de
construção, deixa espaços para lacunas através das quais novas discussões são possíveis.
Pois, para a autora, as representações não servem única e exclusivamente para fazer a
integração daquilo que é não familiar, mas também, e isto é fundamental, podem promover
a transformação deste familiar, já que, segundo a autora, a renovação dos “estoques
mentais e culturais não passa apenas pela incorporação do novo, ou talvez não se detenha
nela” (1999:43). A teoria das representações sociais, encontra-se em um momento de
difusão em diferentes regiões geográficas do mundo. Podem-se encontrar trabalhos de
investigação e estudo nas mais diferentes áreas do conhecimento, onde esta teoria está
sendo testada e/ou já se encontra em processo de consolidação avançado. Sobre esta
situação da teoria, Guareschi (1995), salienta que a esta já pode ser vista como uma
referência central para psicólogos de todo o planeta. É bastante enfático ao afirmar que para
a Psicologia Social esta teoria Representa um avanço, na medida em que consegue romper
e re-introduzir questões até então absolutamente centrais para esta disciplina.
O cotidiano dos seres humanos está marcado pelas suas múltiplas dimensões, como
a criatividade, seus pensamentos, os conceitos e pré-conceitos, valores, mitos, desejos...que
nem sempre são no entanto visíveis, ou claramente percebidos. Para Moscovici (1978:59)
“As representações individuais ou sociais fazem com que o mundo seja o que pensamos
que ele é ou deve ser. Mostram-nos que, a todo instante, alguma coisa ausente se lhe
adiciona e alguma coisa presente se modifica.” Este autor ao se referir à necessidade de
atentarmos para a complexidade dos fenômenos que envolvem as relações sociais, faz uma
advertência que considero crucial para o entendimento do momento que hoje vivemos no
que diz respeito às mudanças na forma de pensar e para a necessidade de se aceitar o aporte
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de novas idéias e teorias. Para ele valeria a pena lembrar uma banalidade: a de que a vida
das mais sólidas verdades é limitada.
A construção/elaboração de uma representação social, está vinculada a dois
processos fundamentais que segundo Moscovici (1978), seriam a objetivação e a
ancoragem. Enquanto na objetivação o que acontece é que um esquema, um conceito, é
transformado em algo real, da mesma forma que uma imagem é transformada em algo de
material, na ancoragem o mundo da sociedade transforma aquilo que é um objeto social em
algo que lhe sirva de instrumento. Em outras palavras: seria tornar familiar algo que se
apresenta até então como desconhecido, operação que se dá, por exemplo, via estruturas
retidas previamente na memória. Ao analisar a forma como se dá a penetração dos
conceitos científicos na sociedade, Moscovici afirma que estes adquirem um novo “estatus
epistemológico”, a que ele denomina de representações sociais. Moscovici (1995), ressalta
que as conversações, os saberes das populações, ao mesmo tempo que não devem ser
tomados como entidades à parte, não podem ser vistos como os únicos que são capazes de
expressarem as representações sociais. O conhecimento científico e as representações
sociais são tão diferentes entre si e, paradoxalmente, tão complementares que, segundo
Moscovici, faz-se necessário falar sempre em “ambos os registros”.
Sobre esta relação de complementaridade, Abric (1996), ressalta que a teoria das
representações sociais tem uma grande contribuição a dar para a busca de entendimento dos
fenômenos sociais extremamente complexos da sociedade contemporânea. Esta
contribuição residiria na diversidade de que se nutre esta teoria. Na sua opinião “uma das
vantagens da perspectiva das representações sociais é que ela se nutre de abordagens
diversas e complementares: estruturais, por certo, mas igualmente etnológicas e
antropológicas, socilógicas e históricas” (1996:09-10). Esta característica da teoria das
representações sociais, é reafirmada por Wagner (1999), em um trabalho onde apresenta
uma série de pesquisas onde foi utilizada esta teoria como um campo investigativo. Com
isto, o autor, quer demonstrar a diversidade de métodos de investigação possíveis a partir
do campo das representações sociais. Tal diversidade está intimamente relacionada a esta
característica de abordagens “diversas e complementares”, a que se refere Abric. A seguir
apresentarei a idéia de tomar-se a teoria das representações sociais como uma teoria
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articuladora entre autor(a), obra literária, sociedade e leitor(a), tarefa que é o objetivo desta
pesquisa.
2- Uma leitura através da teoria das representações sociais
Liev Semionovitch Vigotiski (1896-1936), afirma que a dimensão social humana
está presente mesmo onde exista a presença de apenas um homem ou uma mulher, desde
que estes estejam, de uma forma ou de outra, vivenciando suas emoções pessoais. Para este
autor, a refundição no ambiente externo a nós, de nossas emoções realiza-se “por força de
um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado
nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumento da sociedade” (1999:315).
Para Vigotski, o sentimento não se tornaria social, pelo contrário, torna-se isto sim
pessoal, no momento em que homens e mulheres vivenciam com a arte. O importante e
fundamental de perceber-se é que este sentimento ao passar a ser pessoal não perde seu
caráter também social. Parece-me que esta visão de Vigotski, em relação ao caráter da arte
na sociedade, tem muito a ver com a teoria das representações sociais que até aqui procurei
apresentar. Esta aproximação que faço não tem outro sentido, que não o de buscar o diálogo
entre a teoria das representações sociais clássica e o pensamento de autores que embora não
tendo participado diretamente da construção desta teoria, podem nos ajudar em pesquisas
onde a mesma é tomada como um conceito articulador. Moscovici (1984), ao se referir ao
elo existente entre a psicologia do desenvolvimento e a psicologia social, considera a
primeira como sendo a psicologia social da criança e, a segunda, a psicologia do
desenvolvimento dos homens e mulheres adultos. Segundo o autor, em ambas, as
representações sociais desempenham um papel fundamental, sendo isto o que elas “têm em
comum”. Se, na opinião de Moscovici, acrescentarmos a isto alguns aspectos da
“sociologia da vida cotidiana”, poderíamos reconstruir um conhecimento científico que
incluiria toda uma “galáxia de investigações relacionadas”. Moscovici (1984:59), vê nisto
“uma materialização concreta de uma observação de Vigotiski, onde o problema do
pensamento e da linguagem extrapola os limites da ciência natural e se torna o problema
central da sociologia humana”.
Ao analisar a obra literária de Guimarães Rosa “Grande Sertão: Veredas”, Lima
(1996), comenta que a forma como o sertão é representado na narrativa de Rosa (autor) e
Riobaldo (personagem), leva o leitor a uma travessia das paisagens sertanejas, em que
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“O sentido de espaço e de lugar durante a história, ambos transcendendo a dimensão do tempo local geográfico ou de suas singularidades regionais, numa expansão contínua por territórios dimensionados na universalidade dos significados próprios e únicos da condição humana” (1996:154).
Percebe-se aqui, neste rápido exemplo, uma possibilidade concreta desta articulação
entre os sentimentos, as emoções, às vezes sutis, vagos, tênues, com as relações sociais em
construção, dialogando com aquilo que Moscovici denominou pouco antes de uma
“sociologia da vida cotidiana”. Tal articulação é possível através da arte, no caso em
questão a literatura. Estaríamos frente ao que Vigotski (1999), defende ser uma
possibilidade de articulação entre sentimentos e vida, a arte se constituindo em uma
“técnica social do sentimento” . De uma forma um pouco diferente, porém, via a teoria das
representações sociais, como uma possibilidade de trabalho na literatura Laszlo (1997),
defende que nossas histórias não resumem-se a nossas histórias pessoais, mentais ou
verbais. Mas que estas experiências individuais têm articulações com outras histórias e
outros sujeitos. Para este autor, estas histórias pertencem também a articulações com a
cultura e com a sociedade. Laszlo chega a afirmar que “Mesmo as autobiografias são
construções sociais, locais e contingentes às possibilidades narrativas ambientes”
(1997:160). O autor defende que existem como que “histórias históricas congeladas”, que,
segundo ele, fazem com que as experiências individuais sejam articuladas formando
histórias comuns em uma determinada cultura ou sociedade. Para este autor, apesar de os
sujeitos poderem construir histórias diferentes para uma mesma atividade, a cultura
informaria, a seus membros, pela relação comunicacional, um conjunto possível de
esqueletos de histórias. Considero importante ressaltar a posição de Laszlo sobre a idéia de
Vigotski de que a arte contaria com uma “técnica social para emoções”. Para Laszlo, esta
capacidade da narrativa “não se restringiria apenas as narrativas literárias, mas que
pertence a vida real dos grupos sociais quando atuam juntos e experimentam suas próprias
ações” (1997:162).
A idéia de aproximação entre os processos narrativos literários/artísticos e a teoria
das representações sociais, embora não seja uma prática muito comum de pesquisa, também
não se pode dizer que constitui-se em algo totalmente estranho a esta teoria. Esta distância
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diminui ainda mais se levarmos em consideração a construção do referencial teórico-
intelectual das representações sociais, como uma teoria de investigação de fenômenos
sociais partilhados. Em um artigo de 1997, Laszlo faz uma retrospectiva a respeito desta
possibilidade e constata que ela já está presente, em alguns conceitos de Durkeim e de
alguns de seus alunos. Outra demonstração concreta desta possibilidade levantada e
discutida, pelo autor, é o fato de que estudos etnográficos, em muitos casos são orientados
em termos de entrevistas, onde as narrativas são o foco de análise. Justifica tal afirmação,
lembrando que “Entrevistas são em muitos sentidos auto-narrativas, guiadas pelo
entrevistador, que fornecem embasamento para o pesquisador, do qual ele/ela podem
descobrir o sistema de significados para interpretar o contexto do fenômeno em foco”
(Laszlo, 1997:164).
De maneira bastante lúcida, Serge Moscovici, em um texto de 1984, defende a
necessidade de um esforço comum de todos(as) os(as) pesquisadores(as) e intelectuais
empenhados no estudo das representações sociais, no sentido de buscar o entendimento
daquilo que ele denomina de “cosmologia da existência humana” (1984:59). Para ele, a
teoria das representações sociais está permanentemente aberta a novas possibilidades
investigativas que encontrem-se em sintonia com seu campo de abrangência. Para este
autor, a complexidade do ser humano não pode ser encarada por esta ou aquela área
específica do conhecimento, precisa, isto sim, estabelecer relações as mais amplas
possíveis, pois só assim poderá viabilizar-se tão difícil tarefa. Para Moscovici as
representações sociais são “Históricas na sua essência, e influenciam o desenvolvimento do
indivíduo desde a primeira infância, desde o dia em que a mãe, com todas as suas imagens
e conceitos, começa a ficar preocupada com o seu bebê” (1984:59). É a partir da
compreensão que pais e mães fazem de seus filhos e filhas que modelar-se-á sua
personalidade e construir-se-á o seu processo de socialização. Assim, fica muito difícil, ou
até mesmo impossível, segundo o próprio Moscovici, pensar-se uma teoria capaz de dar
conta de tão importante projeto, sem buscar diálogos e arriscar-se em caminhos ainda por
ser construídos. Acrescenta ao final
“Não ignoro as dificuldades de tal empreendimento, nem o fato de que ele pode ser impossível, como também não ignoro a lacuna entre tal projeto e as nossas modestas realizações até o dia de hoje. Mas não posso compreender que isto seja razão suficiente para
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não empreendê-lo, o mais claramente possível, na esperança que outros irão compartilhar da minha fé nesse projeto”(Moscovici,1984:60).
Levando em consideração a idéia da teoria das representações sociais como uma
teoria articuladora, entre autor(a), obra, sociedade e leitor(a) é que me proponho aceitar o
desafio de dar minha contribuição como cidadão e pesquisador das questões ecológicas,
através de uma metodologia que, como procurei demonstrar, ainda tem um longo caminho
a percorrer. Ao realizar uma pesquisa acadêmica, lançando mão de uma metodologia em
construção, sei das armadilhas que se escondem em um projeto deste tipo. São como
fantasmas permanentemente de tocaia nas entrelinhas de um texto que se lê. Acredito ser
este, talvez, o maior desafio, assim como, a maior contribuição que eu posso dar, neste
momento, para o entendimento de uma questão que está, a meu ver, extremamente carente
de iniciativas inovadoras, no campo da pesquisa acadêmica, principalmente do ponto de
vista metodológico de investigação. Estou me referindo à pesquisa sobre formas de
implementação da educação ambiental no cotidiano escolar. Com isto não me proponho
“salvador” de nada, nem portador de fórmulas ou cartilhas para a realização, na escola ou
na sociedade, da “boa educação ambiental” ou da “verdadeira educação ambiental”. Ao
contrário, estou buscando aprender com aqueles e aquelas que estão inquietos frente aos
imensos problemas ecológicos que estão a desafiar todos(as) os(as) cidadãos(ãs) e
educadores(as) do planeta. Aprender com aqueles e aquelas educadores(as) e ecologistas,
que não estão aderindo às saídas fáceis, ou métodos e alternativas tradicionais, como forma
de enfrentar as questões ecológicas de nossa época.
A seguir passarei a refletir, especificamente, sobre a possibilidade de identificação e
análise de representações sociais, tendo como fonte de investigação o texto literário.
3- A obra literária como fonte de investigação de representações sociais
Ao comentar a relação existente entre obra literária e sociedade Candido (2000), diz
que esta passa por avaliações que vão de um extremo a outro. Para o autor no século
passado, por exemplo, a literatura chegou a ser vista como chave para entender a sociedade.
Noutro momento, no entanto, foi totalmente desconsiderada a possibilidade de
condicionamento entre literatura/sociedade/literatura. Este paradoxo é assim ilustrado por
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Candido “Nada mais importante para chamar a atenção sobre uma verdade do que
exagerá-la. Mas também nada mais perigoso, porque um dia vem a reação indispensável e
a relega injustamente para a categoria de erro” (2000:03). Há que buscar-se um ponto de
equilíbrio entre estes dois extremos. Pois, pode-se ter como muito factível a relação de
condicionamento social entre obra e sociedade. Na opinião de Candido (2000), a literatura
constitui-se sim em um produto social. Uma construção que se dá na relação do escritor
com seu grupo social. O escritor não seria apenas mais um indivíduo se expressando, mas
sim, alguém desempenhando um papel social, ocupando uma posição relativa ao seu grupo
profissional e correspondendo a certas expectativas dos leitores(as) e também de seus(as)
auditores(as).
Na opinião de Leenhardt (1998), o texto literário teria sua significância social, entre
outras justificativas, pelo fato de constituir-se em um dos principais meios de que dispõe o
indivíduo, para estabelecer suas relações imaginárias com os demais componentes do grupo
ao qual pertence. A literatura ao ser entendida como um discurso que acontece na e pela
sociedade, não pode ser vista de forma apartada, isolada da cultura na qual está inserida e
onde a estamos analisando. Já na visão de Ravetti (1999:17), a literatura assim vista,
constitui-se como um “Discurso específico dentro do universo cultural”. Se pensarmos a
partir destas duas possibilidades levantadas, o texto literário é um disseminador de
símbolos e regras culturais estabelecidas na sociedade. Esta autora, dando seguimento a sua
idéia sobre o papel da literatura na sociedade, afirma que não só é importante trabalhar-se a
literatura em uma relação de diálogo com a cultura como alerta que seria
“...uma tarefa urgente e interminável refletir sobre as culturas nas quais estamos imersos, aguçar os ouvidos para escutar nossa(s) língua(s), teorizar nossos processos identificatórios, partindo da idéia de que esta reflexão serve para evidenciar o mapa cultural da região na qual interagimos, desconhecido em grande parte para nós mesmos, pelo menos em suas dimensões simbólico-culturais”(1999:18).
Assim sendo, podemos pensar a literatura como uma das tantas formas de
manifestação de valores, crenças, regras, mitos. Enfim, uma maneira a mais e muito
especial, das pessoas tornarem públicas, na sociedade, suas diferentes representações. De
outro modo, a literatura constitui-se em um importante veículo divulgador e/ou
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comunicador destes mesmos valores e crenças dos indivíduos, mas que são em verdade
construções resultantes de um processo de criação coletiva. São, em síntese, uma
decorrência de relações partilhadas no grupo a que os(as) mesmos(as) pertencem. Para
Ravetti (1999), o ambiente atual de pós-modernidade latino-americano, está profundamente
marcado por escritos literários, onde são veiculadas narrativas que são bons exemplos de
representações elaboradas a partir de “mediações complexas entre experiências e projetos
culturais e sociais que envolvem, certamente, programas literários” (p.18).
Pesavento (1998), ao refletir sobre a forma como os(as) brasileiros(as) em geral têm
vivido sua relação de pertencimento - ou não pertencimento - aos demais povos latino-
americanos, sugere que é esta uma relação onde os(as) brasileiros(as) não se sentem
realmente integrados ao continente e à cultura latino-americana. A autora vai buscar
argumentos para suas afirmações no discurso histórico e na narrativa literária que no
Brasil tem se desenvolvido historicamente. Para Pesavento, há que buscar uma “nova
leitura” dos textos literários, onde seja possível entender a “história como literatura e a
literatura como história”. Um entrecruzamento com tal característica, e tamanha magnitude,
só poderia ser viabilizado através da noção de “representação”, pois para ela, esta categoria
se tornou central para os estudos da história cultural que busca resgatar as diferentes formas
como homens e mulheres perceberam-se através dos tempos e em diferentes lugares,
construindo, assim, “um sistema de imagens de representação coletiva” (1998:19).
Ao apresentar a teoria Wagner (1999), assim se refere ao seu papel no estudo de
fenômenos sociais nas sociedades modernas “Ela (a representação social) mantém que os
fenômenos e processos psicológicos e sociais só podem ser corretamente compreendidos se
forem vistos como estando inseridos em condições históricas, culturais, e macro-sociais”
(1999:06). Esta afirmação reafirma a viabilidade do que me proponho, visto que, defendo
neste texto a idéia de que a literatura assume em muitas situações a dimensão de histórias
que estão ligadas à vida, aos sentimentos, lutas, vontades, desejos, diálogos e/ou embates
culturais, que em última instância são parte constituinte tanto do imaginário quanto do
mundo real dos grupos sociais. Para este mesmo autor, as representações sociais são
instrumentos que possibilitam a comunicação social entre os sujeitos no cotidiano da
sociedade, constituindo-se assim, em ferrame ntas mais concretas até mesmo que os
conceitos científicos (1999). Seguindo nesta direção, podemos entender o texto literário
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como uma possibilidade de construção e/ou reconstrução do real, através de representações,
que são/estão sendo veiculadas/apresentadas na obra literária. Por outro lado, pode-se ir
além e refletir sobre a possibilidade de ser a narrativa ficcional, em muitos casos, tão
esclarecedora e representativa do real, quanto a narrativa histórica clássica. Sobre tal
possibilidade retornamos a Pesavento (1998), quando esta afirma que a veracidade da
literatura está fortemente ligada a sua capacidade de contextualização da narrativa literária.
Para esta autora, assim como está presente no discurso histórico um aporte de ficcionismo,
na narrativa literária também estão presentes a vontade de fornecer veracidade à ficção. Isto
se comprovaria, pelo fato de que mesmo não sendo “intenção do texto literário provar que
os fatos narrados tenham acontecido concretamente, mas a narrativa comporta em si uma
explicação do real e traduz uma sensibilidade diante do mundo, recuperada pelo autor”
(Pesavento, 1988:22).
4- Representando o mundo como um texto: pensando alternativas em E. A.
O texto literário pode ser visto, assim, como um “pedaço de mundo”, um
“fragmento da história”, aberto às diferentes disciplinas (história, física, filosofia,
sociologia, antropologia, matemática, biologia...), bem como, às complexas manifestações
humanas (artísticas, religiosas, políticas, afetivas, demens, ludens...). Texto, leitura, e
mundo neles representados são, portanto, inseparáveis. Unem-se, sem, no entanto,
dissiparem suas identidades.
A partir desta representação de mundo, pergunto: sendo as questões ecológicas
contemporâneas, questões que estão a desafiar nossas melhores reflexões intelectuais, e,
sendo elas emergentes do nosso mundo, não poderíamos tratá-las também como texto
para, assim, entendê-las melhor?
Ao discutirmos as questões ecológicas alguns consensos começam a se formar.
Entre estes que as mesmas são de extrema complexidade e envolvem as mais diferentes
dimensões do pensar e do agir humano. Ao buscar-se soluções para os problemas
ecológicos defrontamo-nos com dificuldades que, em muitos casos, não decorrem de falta
de vontade sincera de resolução destes por parte daqueles(as) envolvidos(as) com a
questão. São dificuldades que nem sempre estão relacionadas a discordâncias quanto aos
fins a serem atingidos, aos métodos a serem utilizados, muito menos a disputas pessoais
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e/ou grupais de poder. Mas estão, sim, vinculadas ao fato de que o mesmo problema pode
ser visto, interpretado, representado, de forma diferente, por cada pessoa envolvida. Ou
seja, as representações elaboradas por cada pessoa podem ser bastante diferentes,
embora, aparentemente, o problema seja o mesmo. Uma prova é que, em muitos casos,
aquilo que é visto como problema ecológico por um(a) não o é por outro(a). Poderia citar
outros exemplos, tais como a gravidade atribuída a um problema ambiental nem sempre é
equivalente para diferentes cidadão(ãs), mesmo que estejam convivendo com a mesma
realidade. Nossas representações sobre as questões ecológicas não estão imunes às nossas
crenças, nossos valores morais, éticos, religiosos, econômicos, políticos, nossos conceitos
científicos, nosso senso comum, nossas ideologias... Enfim, são criações autônomas e ao
mesmo tempo dependentes de nossa cultura, nosso tempo, de nossos processos de vida e
morte...Enfim, como afirma Paz, são nossa história, pois, segundo ele, os seres humanos
não estão na história: são a história. No texto América Latina y la democracia , do livro
Tiempo Nublado (1983), ao comentar a forma como as idéias e ideologias acabam por
afetar nossa vida e nossos processos de construção de formas de pensar e viver, Paz, fala de
um processo de “emascaramento” que, em muitos casos, nos leva a ver, ou, a não ver
aquilo que queremos ou não queremos ver. Quando tratamos das questões ecológicas
muito facilmente podemos cair nesta armadilha criada por estes processos de
“emascaramento”.
Uma questão bastante importante para repensarmos nossas teorias e ações em
relação às questões ecológicas é, justamente, a capacidade de nos ocultarmos em relação a
nossas responsabilidades frente às mesmas. Tal atitude fica bastante evidente em nossos
discursos sobre os problemas ecológicos, na medida em que, via de regra, quando falamos
dos mesmos nos excluímos da sua origem. Assumimos uma certa exterioridade ao
problema. Agimos como se não fizéssemos parte desta faceta da realidade: a faceta
negativa de nossas ações. Esta postura ficou evidente em várias pesquisas que realizei,
através de questionários e entrevistas, junto a alunos e alunas de cursos que ministrei nos
últimos anos para professores(as) das redes de ensino de vários municípios do país, bem
como para alunos(as) de diversos cursos de graduação e pós-graduação de diferentes
universidades. Isto apenas para citar pesquisas de cunho acadêmico, pois, se nos determos a
avaliar com mais atenção, esta ocultação individual frente às questões ecológicas está
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presente em nossas falas e ações cotidianas. Faz parte instituinte e instituidora de nosso
senso comum. Está presente de forma marcante em nossas representações cotidianas.
Compõe o imaginário de grande parte de nossa sociedade.
A esta possibilidade de trabalho em educação ambiental através do texto literário
podemos nos arriscar um pouco mais e buscar identificar e analisar representações sobre
problemas ecológicos, em textos produzidos pelos(as) membros do grupo com o qual
estamos trabalhando. Por exemplo, uma turma de alunos(as). Ao tratarmos uma questão
ecológica - um problema ecológico qualquer - podemos transformá-lo em um texto. Pode-
se fazer isto através da descrição daquilo que estamos vendo e entendendo como um
problema ou questão ecológica a ser debatida, refletida. Estaremos, assim, dando
visibilidade e possibilidade de interpretação, através do texto produzido, de uma parte de
nossas representações sobre o que estamos descrevendo, no caso, um problema ecológico.
Esta prática oportunizaria uma relação educador(a) educando(a), onde seria
incentivado o processo criativo individual ao mesmo tempo que dar-se-ia oportunidade para
a troca de experiências entre os(as) envolvidos(as). A discussão sobre o processo, bem
como o resultado, constituir-se-ia em ótimo ponto de partida para a discussão sobre
algumas representações dos(as) alunos(as) presentes nos textos.
De outra forma estaríamos propiciando um exercício de cidadania, na medida em
que, a discussão dos problemas ecológicos estariam trazendo à tona questões que envolvem
não apenas conceitos científicos e conteúdos didáticos mas, também, e isto é fundamental,
aspectos da economia, da política, da cultura, da violência, das crenças e valores,
circulantes na sociedade. Enfim, estaríamos fazendo uma aproximação ent re mundo da
escola e mundo da vida, lembrando o saudoso educador Paulo Freire: “...ninguém educa
ninguém...os homens educam-se entre si” (Freire: 1996).
4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRIC, J. C. Prefácio. In: Celso Pereira Sá. Rio de Janeiro: Vozes, 1996. ARRUDA, A. O ambiente natural e seus habitantes no imaginário brasileiro. In: ARRUDA. A. (Org.) Representando a Alteridade . Rio de Janeiro: Vozes, 1999. CANDIDO, A. Literatura e Sociedade . São Paulo: T.A. QUEIRÓS, 2000. DURKHEIM, E. O Suicídio. Lisboa: Editorial Presença, 1996. FARR, R. Theory and Method of Social representations. Asian Journal of Social Psichology. abr. 1999. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
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