representaÇÕes da lua: uma investigaÇÃo a...
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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 15 (02): 2601.1-22 2017
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REPRESENTAÇÕES DA LUA: UMA INVESTIGAÇÃO A PARTIR
DA RELAÇÃO ENTRE ARTE E CIÊNCIA
REPRESENTATIONS OF THE MOON: AN INVESTIGATION FROM THE RELATIONSHIP BETWEEN
ART AND SCIENCE
1Josie Agatha Parrilha da Silva,
2Luzita Erichsen,
3Roberto Nardi
1Universidade Estadual de Ponta Grossa: Av. General Carlos Cavalcanti, 4748, Bloco de História e Artes – Bairro:
Uvaranas. CEP 84.030-900 - Ponta Grossa – PR. [[email protected]]
2Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Ponta Grossa: Av. Monteiro Lobato - Jardim Carvalho,
CEP 84016-210, Ponta Grossa – PR. [[email protected]]
3Universidade Estadual Júlio de Mesquita, Campus de Bauru: Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Bairro:
Vargem Limpa, 17033-360 – Bauru – SP. [[email protected]]
O ensaio apresenta uma experiência realizada para formação de professores no curso de extensão Arte e Ciência na
Lua: projetos educativos interdisciplinares na prática docente a partir do tema Lua. Teve como objetivo propiciar
vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas artísticas sobre a
representação da Lua. O curso é parte integrante de uma pesquisa de Pós-Doutorado realizada no Programa de Pós-
graduação em Educação para a Ciência e foi desenvolvido numa parceria entre Pró-Reitoria de Extensão – PROEX
da Universidade Estadual Júlio de Mesquita - UNESP, Campus de Bauru e a Secretaria de Estado da Educação -
Diretoria de Ensino - Região Bauru (SEED-Bauru). Propiciamos referencial teórico-prático interdisciplinar ligado a
observação e a construção imagética da Lua. Iniciamos nossas discussões a partir das luas galileanas e
desenvolvemos técnicas artísticas para subsidiar as representações imagéticas bi e tridimensionais. Os professores
puderam vivenciar a interdisciplinaridade a partir da aproximação entre Arte e Ciência e, desta forma, representar
conceitos e esquemas mentais sobre o tema Lua.
Palavras-chave: Ensino de Ciências; Formação de Professores; Produções Artísticas da Lua.
This paper presents an experience for teacher training in the extension course entitled Art and Science in the Moon;
interdisciplinaries educational projects in teacher´s practice based on the Moon´s theme. The aim was to construct
interdisciplinaries experience to the teachers working with artistical techniques in a theoretical and practical way
about the representation of the Moon. The course was an integral part of a post-doctoral research in the Postgraduate
Program in Science Education and was developed in a partnership between Pro-Rectory of Extension – PROEX OF
State University Julio Mesquita – UNESP, Bauru´s campus (SEED-Bauru), and the Secretary of State of Education -
Board of Education. We give an interdisciplinary theoretical-practical reference to observation and the imaginary
construction of the Moon. We begin our discussions from the Galilean moons and develop artistic techniques to
support the bi-dimensional and three-dimensional representations. The teachers were able to experience
interdisciplinarity from the approach between Art and Science and, in this way, represent concepts and mental
schemes on the theme Moon.
Keyboards: Science Teaching; Teacher´s Training; Artistic productions of the Moon.
INTRODUÇÃO
Este ensaio foi desenvolvido a partir do material teórico-prático desenvolvido no decorrer de uma
pesquisa de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Universidade
Estadual Júlio de Mesquita - UNESP, Campus de Baurui.Teve como principal objetivo propiciar
vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas
artísticas sobre a representação da Lua. Para tal, realizamos o curso Arte e Ciência na Lua projetos
educativos interdisciplinares na prática docente a partir do tema Lua.
Todo material teórico-prático foi elaborado exclusivamente para o curso e encontra-se em fase
final de publicação no livro: Arte e Ciência na Lua: percursos na interdisciplinaridade. Apenas um dos
capítulos foi organizado a partir de um material já publicado: trata-se do capítulo Lua: as variações dos
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intervalos de tempo entre as fases principais da lua e as cores da lua cheia, de Fernando Lang da Silveira
e Maria de Fátima Oliveira Saraiva, elaborado a partir da união de dois artigos dos autores.
Destacamos entre os capítulos os que enfatizam a área de ciências: As representações da Lua: dos
povos sem escrita à Cigoli-Galileo; A Lua na Física e na Matemática; A influência da Lua nos
organismos; O Crateramento Lunar na Educação Básica; Uma Lua tridimensional pela técnica da
Anamorfose. Enfim, o livro descreverá o percurso desenvolvido no curso Arte e Ciência na Lua, em
especial nos aspectos relacionados à interdisciplinaridade, à relação Arte e Ciência e às metodologias
desenvolvidas. A construção/elaboração de todo esse material possibilitou intensas trocas entre os
professores/ministrantes, colaboradores, professores/participantes e pesquisadores. Possibilitou, ainda,
uma vivência interdisciplinar ímpar a partir de um tema abrangente e comum ao nosso cotidiano: a Lua.
O curso foi cadastrado na Pró-reitora de Extensão – PROEX da UNESP e contou com a
participação de professores da rede pública estadual das áreas de Arte, Ciências, Física e Geografia.
Contamos ainda, com a participação de professores de diferentes áreas de conhecimento que ministraram
o curso. Denominaremos estes professores da seguinte forma: professores-participantes (que atuam na
Educação Básica e participaram do curso), professores-pesquisadores (que atuaram no curso como
ministrantes e/ou elaborando material teórico-prático). Desde o início do curso solicitamos que os
professores-participantes do curso observassem e representassem a Lua. A Lua é um dos temas da área de
Astronomia, área que tem uma forte relação com a observação e a representação imagética.
Apresentamos três pressupostos que norteiam nossa compreensão interdisciplinar das
representações imagéticas (dos professores) e sua importância para a Ciência:
1º - Processo de conhecimento como atividade social: pautamos esse pressuposto em Fleck (2010,
p. 82) que afirma: “[...] o processo de conhecimento não é o processo individual de uma ‘consciência em
si’ teórica; é o resultado de uma atividade social, uma vez que o respectivo estado do saber ultrapassa os
limites dados a um indivíduo”. Esse entendimento pautou nossas discussões no decorrer do curso, e
apresentamos o conhecimento sobre o tema Lua historicamente, para que os professores o
compreendessem como uma construção social e não como algo pronto e acabado.
2o - A observação é importante para pesquisas nas áreas de Ciência e da Arte - na Ciência,
colhemos dados pela observação; na Arte desenhamos por meio da observação. Panofsky (2007) defende
que o ponto em comum entre o cientista e o humanista é de que uma pesquisa se inicia com a observação.
Se a observação é importante para a Ciência, faz-se necessário aprimorar essa capacidade.
3o - A representação por meio de imagens é uma forma de apresentar conceitos e esquemas
mentais – A imagem é importante tanto para apresentar conceitos previamente formulados, quanto para
construir novos conhecimentos, tanto na área de Ciências quanto na Arte. Assim, inferimos que a área de
Ciência necessita desenvolver técnicas de representação, afinal a representação faz parte de seus códigos
comunicativos e explicativos.
A partir destes pressupostos, inferimos o valor da imagem para a Ciência e da importância de uma
aproximação com Arte. Discutiremos duas ações fundamentais que permeiam a imagem: observação e
representação.
A maioria dos professores que participou do curso possuía formação em outras áreas que não a de
Arte. Foi necessário apresentarmos diferentes técnicas descrevendo de forma detalhada todo o processo, o
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que propiciou maior compreensão e possibilidades de realização das atividades propostas. Denominamos
essa descrição detalhada de passo-a-passo.
Como faríamos a observação da Lua com telescópio, dedicamos parte de um dos encontros a
explicar o trabalho sobre luz e sombra presente nas características mais marcantes das crateras lunares.
Quando realizamos a noite de observação, a técnica solicitada foi a de lápis ou giz branco em papel preto.
Em relação aos professores de Arte que participavam do curso, estes contribuíram com a
elaboração de diferentes técnicas de representação da Lua. Elaboraram o passo-a-passo e apresentaram ao
grupo as seguintes técnicas: aquarela, pontilhismo e nanquim colorido. Alguns professores elaboraram,
mas não apresentaram suas atividades no formato solicitado, como, por exemplo, a técnica de colagem e
argila.
No decorrer do curso apresentamos técnicas (elaboradas pelos ministrantes do curso ou
colaboradores) para todos os professores participantes. As técnicas selecionadas para a representação da
Lua foram: tridimensional (em isopor com massa e pintura ou apenas pintura); pintura com falso impasto.
Por solicitação dos professores-participantes, apresentamos a técnica de produção de vídeo em movie
maker. Ao nos referirmos às técnicas nos reportamos à essa passagem de Francastel (1987, p. 157)
“Penso que, comparado com os das técnicas, o papel da arte no século XV aparece como absolutamente
preponderante, não foi graças às técnicas, mas graças à arte, que o século XV se desenvolveu e criou
uma civilização a que chamamos o Renascimento”. Compartilhamos com esse autor sobre a importância
da Arte para o século XV e ainda completamos essa ideia argumentado que foi a Arte quem impulsionou
a Ciência no Renascimento. Esse é um dos motivos que explicam porque, ao propormos iniciativas
interdisciplinares, nos reportamos sempre a esse período histórico.
As técnicas artísticas apresentadas no decorrer do curso, tiveram a premissa de valorizar a Arte e
sua relação com a Ciência. Desta forma, estas técnicas propiciaram aos professores desenvolver e
produzir desenhos da Lua numa forma particular de representação. Alguns destes resultados foram
divulgados em duas exposiçõesii que apresentaram os trabalhos a partir de imagens fotográficas. Todos os
passo-a-passo foram disponibilizados no site do Grupo de Pesquisa INTERART - Interação entre Arte,
Ciência e Educação: diálogos e interfaces nas Artes Visuais (ver site:
http://interart2016.wixsite.com/uepg).
Na sequência, apresentaremos o material teórico-prático ligado à representação da Lua
desenvolvido no decorrer do curso. Esse material foi organizado em quatro momentos: Arte e Ciência nas
luas galileanas; Esboço, luz e sombra: primeiras aproximações; a Lua em diferentes técnicas: produções
individuais; A Lua em diferentes técnicas: produções em grupo. O resultado das produções possibilitou
que professores de diferentes áreas pudessem observar e representar a Lua de diferentes maneiras,
aproximando, nestas produções, Arte e Ciência.
ARTE E CIÊNCIA NAS LUAS GALILEANAS
Para iniciar nossas discussões sobre a relação entre Arte e Ciência no tema Lua, nos reportamos a
relação entre Galileo Galilei (1564-1642) e Lodovico Cardi (1559-1613), o Cigoli. O primeiro muito
conhecido pelas suas inúmeras contribuições para a ciência, como: método experimental,
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aperfeiçoamento do telescópio e observações astronômicas. O segundo, Lodovico Cardi, um artista do
renascimento não foi tão reconhecido como outros artistas de sua época, como Caravaggioiii por exemplo.
Esses dois personagens estudaram juntos na Accademia Del Disegno e posteriormente, partilharam
e compartilharam observações telescópicas da Lua e, ainda, elaboraram representações desta no mesmo
período.
Como Galilei estudou pintura, pode realizar com grande precisão esboços acerca da composição e
dos movimentos da Lua. Boa parte do que foi observado, foi registrado tanto em desenho quanto em
aquarelas (Figura 1). Galileo Galilei, além de aperfeiçoar o telescópio, o qual era denominado por ele de
perspicillum (tubo de perspectiva), só conseguiu observar aquilo que seriam as novas descobertas
telescópicas (os 4 satélites de Júpiter, a lua craterada, as nebulosas, as fases de Vênus, a estranha
morfologia do planeta Saturno), graças à sua mente moldada pela perspectiva nos anos da Accademia Del
Disegno. (SILVA; DANHONI NEVES, 2015).
Em 1610, Galileo Galilei, após pacientes observações realizadas com um “tubo de perspectiva”
(perspicillum), aprimorado de pequenos telescópios refratores trazidos recentemente à Veneza por
mercadores holandeses, publica o livro Sidereus nuncius - Mensageiro das estrelas. (SILVA; DANHONI
NEVES, 2015). Em relação à Lua Galileo concluiu que:
- a Lua não era lisa, mas rugosa, possuindo grandes montanhas. Aqui na Terra eram já
conhecidas as violentas forças produtoras de montanhas: o Vesúvio, o Stromboli, o
Etna, Campi Flegrei; eram alguns dos grandes vulcões ativos da Itália e delineadores
de novos relevos ao longo dos séculos.
Figura 1: Representação em aquarela das primeiras observações telescópicas da Lua atribuídas a Galileu Galilei (a) e Lua com
detalhe da cratera (b).
Fonte: Galileu Galilei, 1610.
Em um restauro realizado em 1931 na cúpula da Capela Borguese (Paolina) da Basílica Papale di
Santa Maria Maggiore, em Roma (Itália) ficou evidente a representação de uma Lua craterada. Esta Lua
está aos pés da Madonnaiv (Nossa Senhora), numa representação comum da iconografia cristã. Porém, o
incomum para a época era esta figura imaculada apoiar-se numa lua craterada, pós-copernicana e,
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obviamente, maculada, muito diferente, pois, da lua perfeita, lisa e esférica, apresentada na anteriormente
na iconografia cristã.
O afresco com a Lua craterada foi resultado da amizade entre Cigoli e Galileo, uma vez que
partilharam conhecimentos científicos que contribuíram para essa nova representação artística. O detalhe
da obra de Cigoli são as crateras contidas na Lua: as mesmas crateras como observadas e apresentadas por
Galileo Galilei em seu Sidereus nuncius. As imagens que se seguem ilustram a cúpula (Figura 3) e a
imagem da Virgem, ou Madonna como a chamaremos a partir de agora, com a Lua aos seus pés, é
conhecida como A Assunção da Virgem. (Figura 2). Localizamos uma imagem com mais detalhe,
contudo, está em preto e branco e em posição invertida. (Figura 4)
Figura 2: Madonna de Lodovico Cardi (1610-1313).
Fonte: Silva; Danhoni Neves,2015.
Figura 3: A cúpula de Santa Maria Maggiore, Roma.
Fonte: Silva; Danhoni Neves, 2015.
Figura 4: Detalhe da Madonna de Cigoli.
Fonte: Silva; Danhoni Neves, 2015.
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O livro O Codex Cigoli-Galileo: Ciência, Arte e religião num enigma copernicano (2015)
apresenta uma extensa e detalhada análise na Madonna de Cigoli. (SILVA, DANHONI NEVES, 2015).
Aqui apresentaremos apenas uma comparação destas luas que deram origem à pesquisa. Para isso,
fizemos um recorte de uma das luas de Galileo e da Lua de Cigoli e, em seguida, as deixamos com a
mesma tonalidade para melhor visualizarmos as semelhanças entre estas. (Figura 5). Importante destacar
que a imagem da Lua de Cigoli não tem a mesma nitidez, pois sofreu as intempéries do tempo, bem
como, ficou encoberta durante cerca de 300 anos antes de ser restaurada.
Figura 5: Recorte de uma das luas em Aquarela de Galileo e da Lua de Lodovico Cardi
Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.
Para finalizar, destacamos que a Lua, chamada agora Lua de Cigoli-Galileo trouxe uma nova
forma de representação, não mais de acordo com dogmas religiosos e que ia além de simples observações.
Podemos inferir que a Lua de Cigoli-Galileo realizada a partir de observações, estudos, esboços e novas
técnicas, foi resultado de um olhar cientifico a artístico, reforçando a relação entre Arte e Ciência que
marcou o Renascimento.
ESBOÇO, LUZ E SOMBRA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
Para que os professores/participantes do curso pudessem realizar as imagens solicitadas referentes
à observação da Lua foi importante apresentar algumas questões referentes às técnicas de desenho. A
primeira questão refere-se à explicação de esboços, uma vez que no decorrer do curso foi solicitado que
os realizassem a partir da observação da Lua. Na sequência, foi fornecida uma explicação mais detalhada
sobre técnicas de sombreamento.
Os dados foram elaborados a partir do livro Materiais e técnicas: guia completo (2008). Porém,
para explicar estes conceitos e técnicas apresentamos, inicialmente, algumas informações sobre lápis
grafite e papel canson, que seriam a base para as atividades a serem desenvolvidas.
LÁPIS GRAFITE: o grafite tem em sua composição a argila e de acordo com a quantidade de
argila e grafite este se torna mais ou menos duro. No século XVIII Lothar Faber criou uma escala de
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graduação de lápis que se tornou internacional e é utilizada até hoje. (MELO, 2008). Quanto maior o
número H (referência à palavra inglesa hard/duro), mais claro e mais duro é o traço e quanto maior o
número B (referência à palavra inglesa black/preto), mais preto e macio será o traço. Existem ainda, as
graduações HB (hard e black), e F (referência à palavra inglesa fine), que apresenta um traço fino e
resistente. Podemos organizar estas graduações do grafite em três categorias, de acordo com o uso do
lápis:
* para escrita são usados os lápis de dureza mediana-HB, F, H, mais conhecidas como nº1, nº 2 e
2½, respectivamente;
* para escurecer ou fazer preenchimentos são usados os lápis mais macios: 6B, 5B, 4B, 3B, 2B, B;
* para o desenho técnico são usados os lápis mais duros: 2H, 3H, 4H, 5H, 6H (ver Figura 6)
PAPEL CANSON: O papel canson é oferecido em diversas cores e gramaturas. É usado para
pintura em geral, e suporta tintas à base de água, de secagem rápida a média. São indicados para aguadas,
aquarela, acrílico, também para grafite, lápis de cor, pastel seco e crayon.
Figura 6: Classificação dos traços de lápis grafite
Fonte: Faber Castell, 2016.
Após os professores obterem informações sobre os materiais apresentamos a explicação dos
termos: esboço e sombreamento.
* ESBOÇO: é um delineamento preliminar, uma concepção inicial de qualquer produção;
* SOMBREAMENTO: não existe um único método para realizar o sombreamento com grafite,
pode ser feito com tracejado de forma livre (7a), com hachuras (7b) ou esfumados (7c) (ver Figura 7).
* Sugerimos para os iniciantes o esfumado realizado com os dedos.
Figura 7: Sombreamento - Exemplos de sombreamentos.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2017.
Luz e sombra dão volume e profundidade permitindo uma ilusão tridimensional ao objeto. O
claro e escuro (chiaroscuro), é uma técnica que foi desenvolvida por Leonardo da Vinci no
Renascimento, no século XV. Foi um trabalho inovador que dava extrema importância aos contrastes de
luz e sombra. De acordo com Byinton (2009), Leonardo enaltecia a sombra como principal qualidade
artística de todas as formas. Para o artista, o relevo tridimensional era a primeira tarefa do pintor, pois,
para conseguir a ilusão tridimensional, a luz e a cor deveriam estar subordinadas à sombra.
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Apresentaremos, na sequência, o uso de sombreamento numa cratera lunar, que foi desenvolvida
também por Galileo Galilei ao representar seus primeiros registros telescópicos de observações lunares.
Sombreamento da cratera com grafite:
Para desenvolver o processo utilizaremos como modelo a Cratera Tycho (Figura 8). Utilizamos
como material: papel canson com gramatura 140, lápis 6B, 8B.
Figura 8: Cratera Tycho (86,21 km de diâmetro e 4,8 km de profundidade).
Fonte: Wikipédia, 2005.
As representações que desenvolvermos exemplificam a importância da escala tonal (Figura 9) e
ilustram a importância do claro/escuro em um sombreamento. Os sombreamentos nos desenhos estão
dispostos da direita para a esquerda (incidência da luz) para a obtenção de volume e forma.
A sequência da gradação da escala tonal, que aparece nas imagens, inicia-se do escuro para o
claro e acontece sempre na direção oposta da luz. Na imagem (9a), o sombreamento está muito claro, e na
imagem (9b) percebe-se a ausência de claro/escuro no lado direito da cratera, o que a faz perder
profundidade. Já na imagem (9c) observa-se um sombreamento suave evidenciando pouca profundidade.
O desenho da cratera da imagem (9d) apresenta o uso correto da proporção claro/escuro (luz e
sombra). Observe que nos espaços entre as formas onde a luz não atinge o interior da cratera, a sombra é
bem intensa e escura, dando volume e profundidade.
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Figura 9: crateras - sombreando crateras. Elaborado por [*].
Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2017.
A LUA EM DIFERENTES TÉCNICAS: PRODUÇÕES INDIVIDUAIS
Neste item apresentaremos as técnicas realizadas no curso em seus diferentes encontros. Algumas
destas foram elaboradas pelos professores que participaram do curso. Apresentaremos nessa sequência: 1-
Lua: Pontilhismo em Nanquim, da Profa. Patrícia Ferreira de Assis (participou do curso); 2- Lua:
nanquim colorido, da Profa. Luzia Rodrigues da Silva (participou do curso); 3- Lua: pastel e papel preto,
de Higor Gabriel de Almeida (discente do curso de Artes Visuais da UEPG que contribuiu com o
material, mas não participou do curso); 4- Lua em aquarela, do Prof. Ms Pedro Luiz Padovini
(coordenador da área de Arte da Diretoria de ensino da região de Bauru, em 2016, que participou do
curso).
1. Lua: pontilhismo em nanquim – elaborado pela Profa. Patrícia Ferreira de Assis
O pontilhismo é uma técnica desenvolvida na França, e foi muito utilizada por George Seraut, e
Paul Signac. Consiste em pequenos pontos bem próximos feitos com uma caneta nanquim sobre o papel,
diminuindo ou aumentando os espaços entre os pontos para conseguir o efeito de sombreamento.
Material: lápis 6b, papel canson, caneta preta média 2mm, caneta fina 1mm.
Passo a passo: 1º Escolha uma imagem da Lua; 2º Realize o contorno da Lua com lápis 6B; 3º
Esboce manchas no interior da Lua; 4º Inicie cobertura com pontos no esboço usando uma caneta ponta
média 2mm; 5º Continue o preenchimento da imagem com caneta de ponta média; 6º Para os traços mais
finos, área mais clara da Lua de acordo com a imagem inicial, usar caneta ponta fina 1,0mm. O contorno
da Lua foi feito com a caneta ponta média;7º Finalize a imagem com a caneta ponta fina; 8º Finalize os
detalhes da representação da Lua. (Figura 10):
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Figura 10: Lua - pontilhismo em nanquim (passo a passo). Elaborado pela Profa. Patrícia Ferreira de Assis.
Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.
2. Lua em nanquim colorido – elaborado pela Profa. Luzia Rodrigues da Silva
A técnica de pintura em nanquim consiste em umedecer pedaços do papel onde se encontra o
modelo do desenho, e posteriormente pincelar com tinta nanquim que pode ser diluída ou não para se
obter um sombreado.
Material: Nanquim na cor vermelho, amarelo, preto, e branco, pote com água, pote para a mistura
dos nanquins, prato, papel.
Passo a passo: 1º Separe os nanquins nas cores, vermelho, amarelo, preto e branco e o papel
canson; 2º Misture a cor vermelha e amarela para obter a cor laranja; 3º Pinte a área externa na cor
vermelha; 4º Complemente o fundo vermelho com a cor laranja; 5º Acrescente a cor branca; 6º Pincele o
laranja sobre a cor branca e amarela; 7º Misture os tons branco e preto para obter a cor cinza e dar à luz;
8º Forre a Lua com tom cinza escuro próximo ao tom vermelho e ir pincelando com tons cinza claro; 9º
Na superfície da Lua fazer círculos esverdeados de vários de vários tamanhos; 10º Nos círculos
esverdeados pincele tons preto, cinza e branco; 11º Nos círculos esverdeados pincele tons preto, cinza e
branco; 12º De acabamento na lateral superior direita com branco, para melhorar a claridade. (Figura 11)
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Figura 11: Lua em nanquim colorido (passo a passo). Elaborado pela Profa. Luzia Rodrigues da Silva.
Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.
3. Lua: pastel e papel preto – elaborado por Higor Gabriel de Almeida (discente do curso de
Artes Visuais da UEPG)
A técnica de giz pastel seco se aplica diretamente sobre o suporte, sem a necessidade de pincel. O
pastel é uma pasta formada por pigmento puro que dá um aspecto aveludado ao trabalho.
Material: Giz pastel preto, giz pastel branco, lápis branco, papel cartão preto.
Passo a passo: 1º Inicie com um círculo branco; 2º Faça então manchas na direita do círculo; 3º
Passe o dedo para esfumaçar o giz; 4º Marque algumas manchas menores; 5º Em duas destas manchas ou
mais, passe linhas para os lados, para dar melhor impressão das crateras (Obs.: não exagerar no número e
nem no tamanho destes elementos); 6º Passe novamente o dedo para esfumaçar os detalhes anteriores; 7º
Agora ao lado esquerdo acrescente uma mancha mais clara com o giz pastel branco; 8º Acrescente
novamente mais algumas crateras com manchas e riscos; 9º Acrescente mais algumas manchas aleatórias
e esfumace com os dedos novamente; 10º Com o giz pastel preto acrescente manchas na parte inferior
esquerda, e algumas menores aliadas a alguns pontos feitos anteriormente;11º Esfumace os detalhes em
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preto;12º Reforce com o branco em alguns lugares para dar maior iluminação e a cratera estará finalizada.
(Figura 12)
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Figura 12: Lua em pastel e papel preto (passo a passo). Elaborado por Higor Gabriel de Almeida.
Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.
4. Lua em aquarela – elaborado pelo Professor Ms Pedro Luiz Padovini (coordenador de
Arte da Diretoria de ensino da região de Bauru, em 2016)
A técnica da aquarela consiste no uso de pigmentos diluídos em água, e aplicados com pincel
sobre o papel. Sua característica é a transparência, que exige várias aplicações leves de tinta para se obter
o efeito desejado.
Material: papel canson com gramatura 90, tintas nas cores, azul marinho, azul claro, branco, preto,
amarelo ouro, ocre pincel de cerda macia, godê para as tintas, pote de água.
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Passo a passo: 1º Utilize o pincel para acrescentar mais umidade ao setor circular e inicie a pintura
misturando água com as cores, preto, branco e azul; 2º Utilize o pincel e aplique as tintas sobre o desenho
deixando que a umidade se encarregue das nuances; 3º A maior concentração de tinta será útil para
representar os relevos da superfície lunar. Evite passar o pincel em áreas onde a tinta já se concentrou; 4º
O acaso é o maior aliado nesta técnica. Molhado sobre molhado. A maior concentração de tinta será útil
para representar os relevos da superfície lunar; 5º Se alguma área de tinta não agrade pode secá-la
utilizando algodão ou pano seco; 6º Depois da aplicação da 1ª camada deixe secar deixe a tinta secar e
estabilizar por alguns segundos; 7º Aplique mais algumas camadas de tinta branca para estabilizar as
áreas de brilho; 8º Aguarde a secagem completa do setor circular e prepare o fundo que pode ser pintado
com as combinações das tintas azul marinho e azul claro. Nas últimas camadas acrescente a tinta preta; 9º
Depois de trabalhar sobre o fundo acrescente algumas pinceladas de tinta branca para representar a luz
das estrelas; 10º Alguns detalhes em amarelo ouro e amarelo ocre podem servir para representar parte da
esfera mais iluminada. Aplicação de tinta branca com escova dental para efeitos de constelação. (Figura
13).
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Figura 13: Lua em Aquarela (passo a passo). Elaborado por Pedro Luiz Padovini.
Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.
A LUA EM DIFERENTES TÉCNICAS: PRODUÇÕES EM GRUPO
Neste item apresentaremos as técnicas que foram desenvolvidas no curso por todos participantes.
Na sequência: 5.Lua tridimensional em isopor; 6. Lua a partir da técnica de impasto.
5. Lua tridimensional em isopor - elaborado por Josie Agatha Parrilha da Silva
A Lua tridimensional foi desenvolvida a partir do encontro que discutiu a relação da Lua com a
matemática. Foram desenvolvidas atividades relacionadas medidas e a distância entre a Lua com a Terra.
Os professores fizeram com massinha de modelar a representação da Lua e da Terra com a proporção real
das medidas entre elas. E, ao final, a proposta foi de que, a partir das discussões sobre o relevo da Lua,
elaborassem essa representação em uma bola de isopor.
No encontro seguinte, a representação do relevo da Lua nas bolas de isopor, foram discutidas e
analisadas. A pintura destas representações foi realizada a partir da concepção de cada professor sobre as
cores da Lua.
Material: esfera de isopor; cola massa corrida e tinta acrílica nas cores preta e branca.
Passo a passo: 1º Marque as regiões escuras e crateras na bola de isopor; 2º Inicie a perfuração e
aprofundamentos das planícies (partes escuras); 3º Marque e perfure as crateras; 4º Misture massa corrida
e cola e passe em toda a bola de isopor; 5º Crie dois tons de cinza (mais claro e mais escuro) e passe com
a massa ainda úmida; 6º Espere secar e verifique ser ficou na cor desejada; 7º Retoque as cores até chegar
ao resultado final desejado. (Figura 14).
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Figura 14: Lua tridimensional de isopor (passo a passo). Elaborado por Josie Agatha Parrilha da Silva.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.
6. Lua a partir da técnica de impasto – elaborada por Luzita Erichsen
A palavra Impasto, vem do italiano que quer dizer mistura. A tinta (em particular a de óleo) é
espalhada numa área da tela de forma tão espessa que as marcas de textura se tornam o aspecto da
superfície, áspera e ondulada.
A técnica de textura do falso Impasto consiste na mistura de pó de mármore à cola branca
formando uma massa espessa. Esta técnica é uma simulação da técnica Impasto utilizada em pintura
por artistas famosos como Van Gogh, Jackson Pollock, Leonid Afremov.
Com esta técnica será possível fazer a textura do relevo da Lua e suas crateras. Com o auxílio de
uma espátula espalhe a textura (impasto) na tela formando a Lua e ao mesmo tempo salientando as suas
crateras.
É possível criar uma tela caseira para utilizar como suporte para pintura. O tecido pode
ser lona crua ou tecido de algodão cru. Para preparar a tela misture 500 ml de tinta látex brancos e 100 ml
de cola branca. Espalhe essa mistura sobre o tecido. O ideal é passar com uma trincha, repita a operação e
deixe secar por um dia. O tecido está pronto: corte em pedaços da medida que preferir.
Material: Cola, pó de mármore, tinta nas cores, preto, azul da Prússia, azul escuro, marrom,
branco, laranja, ocre, carmim, espátula, e tela de algodão, pincel nº10 e nº14.
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Passo a passo: 1º Faça uma massa misturando pó de mármore com cola na proporção do ponto de
um bolo de massa pesada; 2º Com o auxílio de uma espátula misture bem a massa. Espalhe a massa para
formar a Lua; 3º Após a secagem, que poderá ser acelerada com secador de cabelos, inicie a pintura com
um pincel chato; 4º Inicie a pintura fazendo o fundo da tela; 5º Faça nuances de sombra e luz misturando
as cores de tinta preta e azul da Prússia; 6º Faça sobreposições de camadas de tinta para obter diferentes e
sucessivos tons claros e escuros; 7º Para um efeito de maior volume (opcional) poderá ser acrescentado
em parte desta massa um pouco de vermiculita (mineral semelhante à mica) dará uma característica mais
áspera na textura. (Figura 15)
Figura 15: Lua com a técnica de Impasto (passo a passo). Elaborado por Luzita Erichsen.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.
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Além destas técnicas, desenvolvemos ainda, no decorrer do curso, a edição de vídeo a partir do O
Movie Maker, um software gratuito de edição de vídeos da Microsoft. Atualmente faz parte do conjunto
de aplicativos Windows Live, chamado de Windows Live Movie Maker. É um programa simples e de fácil
utilização, para pessoas sem muita experiência em informática e permite adicionar efeitos de transição,
textos personalizados e áudio nos seus filmes. O Software tem uma interface simples que ajuda a realizar
capturas, vídeos, edição e compilação.
Optamos por não incluir o passo-a-passo do Movie Maker, pois, não poderíamos apresentar de
forma adequada o resultado final, uma vez que são imagens com movimento. Alguns vídeos elaborados
no decorrer do curso podem ser visualizados no site do Interart (ver -
http://interart2016.wixsite.com/uepg/videos-imagens).
RESULTADOS FINAIS: PRODUÇÕES DOS PROFESSORES
O material apresentado no decorrer desse texto apresenta algumas das técnicas artísticas
desenvolvidas no curso Arte e Ciência na Lua: projetos educativos interdisciplinares. Além do material
produzido pelos ministrantes do curso foi importante a contribuição dos professores participantes.
Destacamos a importância da imagem para a área de Astronomia. Além disso, tais imagens foram
abordadas a partir de uma visão interdisciplinar, em especial na Arte (Artes Visuais) e na Ciência
(Astronomia). Na área de Arte destacamos importantes questões sobre a forma e, na Ciência, em relação
ao tema. O tema central, recorrente do curso foi a Lua e a abordagem partiu de diferentes áreas de
conhecimento. Contudo, os mecanismos ligados às áreas de Arte (forma) e Ciência (tema), serviram de
base para que os professores pudessem observar e construir/reconstruir suas representações imagéticas.
Importante ressaltar que quando falamos em técnicas artísticas estamos nos reportando às
atividades que requerem conhecimentos teóricos e práticos, além do que cada pessoa/artista, ao
desenvolver sua produção com uma determinada técnica, inclui nesta um processo próprio de criação.
Podemos utilizar o termo apresentado por Walter Benjamin: reprodução técnicav para denominar
as produções realizadas pelos professores a partir destas técnicas. Contudo, essa reprodução não tem o
objetivo de obter produções de Lua próximas ao modelo inicial, e sim, de propiciar subsídios para que o
professor desenvolva diferentes formas de representação da Lua.
Mostraremos alguns exemplos destas representações elaboradas a partir das técnicas apresentadas
para demonstrar que, mesmo a partir de uma determinada técnica, os resultados são diversos. O primeiro
exemplo são representações das crateras, onde apresentamos 4 exemplos realizados pelos professores
(Figura 16). O segundo exemplo são construções tridimensionais da Lua em isopor ou argila, com 10
diferentes modelos criados pelos professores. (Figura 17). E, o último exemplo são 4 representações da
Lua a partir da técnica do falso impasto (Figura 18)
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Figura16: Representação de crateras – elaboradas por 4 diferentes professores no decorrer do curso. Arquivo pessoal dos autores,
2016.
Figura 17: Representação de Luas tridimensionais em isopor - elaboradas por 10 diferentes professores no decorrer do curso.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.
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Figura18: Representação de Luas com falso impasto – elaboradas por 4 diferentes professores no decorrer do curso.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.
Das representações acima adotamos a possibilidade de uso do termo reprodução técnica; contudo,
nas propostas aqui apresentadas relacionamos Arte e Ciência no sentido de nossa pretensão em fortalecer
e estreitar esta própria relação. Para isso incluímos um novo elemento: teknè (termo que, em grego,
refere-se etimologicamente à técnica ou arte). Poderíamos apresentar muitas definições para o termo,
entretanto, adotamos o que reporta à teknè como algo que surge da experiência, mas que é baseado no
conhecimento. Desta forma, Arte e Ciência terão agora a teknè como mais um elemento que possibilitará
a aproximação entre ambas, em especial, a partir de uma abordagem que reflita sobre as questões teóricas
e práticas que permeiam o tema Lua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades de observação e representação apresentadas no decorrer do curso Arte e Ciência na
Lua possibilitaram o desenvolvimento da interdisciplinaridade, partindo da relação Arte-Ciência, mas
abordando aspectos plurais que a envolvem: Astronomia, Matemática, Biologia, Artes Visuais entre
outras áreas do conhecimento.
Os professores que participaram do curso realizaram observações e representações da Lua, a
exemplo de Galileo, os resultados foram visivelmente satisfatórios, além das expectativas. Pudemos
observar que os professores, a partir das técnicas adquiridas, representarmos conceitos e esquemas
mentais construídos anteriormente apenas de forma teórica.
Destacamos o livro O Carteggio Cigoli-Galileo: a troca de correspondência entre o artista de
Florença e o físico de Pisa (2015) que explora esta relação mediante as correspondências entre o artista
Lodovico Cardi da Cigoli e Galileo Galilei acerca da natureza, morfologia e superfície da Lua. Numa
famosa aquarela atribuída a Galileo para seu livro Sidereus nuncius, notamos o detalhe magnífico que
Galileo representa no canto superior da ilustração (Figura 1b), mostrando o jogo do chiaroscuro, num
claro sentido de mostrar a relação causa e efeito: luz e sombra, que permitiu a Galileo fortalecer seu
argumento da natureza acidentada da superfície lunar. (GALILEU GALILEI, 2010)
Galileo faz um grande esforço artístico usando a técnica davinciana da perspectiva atmosférica
para representar o relevo lunar, e a cratera como uma montanha possivelmente similar àquela do Vesúvio.
É o esforço da observação compensado na contingência artística da representação.
Foi essa a ideia que nos moveu na busca do valor da interdisciplinaridade, tanto em sua relação
íntima e última entre Arte e Ciência, quanto em seus aspectos formativos e enriquecedores para ambas as
áreas de conhecimento.
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Ao final deste ensaio, podemos afirmar que atingimos nosso objetivo principal de propiciar
vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas
artísticas sobre a representação da Lua. Enfim, nossa perspectiva epistemológica pressupõe a integração
dos saberes, a partir de diferentes áreas de conhecimento, em oposição a fragmentação disciplinar e
visando a busca da totalidade do conhecimento.
REFERÊNCIAS
BYINTON, E. O projeto do Renascimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
CAUQUELIN, A. Teorias da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
DANHONI NEVES, M. C. D.; NARDI, R.; SILVA, J. A. P. O Carteggio Cigoli-Galileo: a troca de
correspondência entre o artista de Florença e o físico de Pisa. EDUEM: Maringá, 2015.
FABER CASTELL. Dureza da mina grafite. Disponível em: <http://www.faber-
castell.com.br/54340/Curiosidades/Curiosidades/Como-a-dureza-da-mina-grafite-
expressa/fcv2_index.asp>. Acesso em 10 de jun. 2016.
FLECK, Ludwik. Gênese e desenvolvimento de um fato científico. Trad. George Ott e Mariana Camilo
de Oliveira. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010.
FRANCASTEL, Pierre. A imagem, a visão e a imaginação: objeto fílmico e objeto plástico. Trad.
Fernando Caetano. Lisboa: Edições 70: Lisboa, 1987.
GALILEU GALILEI. Luas em aquarela. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei#/media/File:Galileo_moon_phases.jpg>. Acesso em
20 dez. 2016.
GALILEU GALILEI. Sidereus Nuncius: o Mensageiro das Estrelas. 3 ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2010.
MATERIAIS E TÉCNICAS. Guia completo. Trad. Joana Angélica D´Ávila Melo. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2008.
SILVA, Josie Agatha Parrilha, DANHONI NEVES, Marcos Cesar O codex Cigoli-Galileo: Ciência, Arte
e religião num enigma copernicano. Maringá: Eduem, 2015.
WIKIPEDIA. Cratera Tycho. Foto Nasa. 14 de abril de 2005. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tycho_crater_on_the_Moon.jpg>. Acesso em: 20 jun.
2016.
i Financiado pela CAPES, dentro do Programa Nacional de Pós-Doutorado - PNPD.
Silva, Erichsen & Nardi CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 15 (02): 2601.1-22, 2017
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ii Exposição 1 - Exposição Conexão Campos Gerais, realizada no Memorial de Curitiba foram expostos os trabalhos
referentes às fotografias das luas telescópicas e representações da Lua produzidas pelos participantes/professores no
curso foram apresentados sob o título “A Lua na Arte, na Ciência e na Arte-Ciência” (ver link:
http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/agenda/memorial-de-curitiba-exposicao-conexao-campos-gerais).
Exposição 2 - Exposição “A Lua na arte, na ciência e na arte-ciência, realizada entre os dias 20 de março À 16 de abril
de 2017, no Hall da graduação Faculdade de Ciência e FAAC na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho
UNESP de Bauru (ver link - http://www.fc.unesp.br/#!/noticia/306/exposicao-a-lua-na-arte-na-ciencia-e-na-arte-
ciencia/)
Na exposição Conexão Campos Gerais, realizada no Memorial de Curitiba, os trabalhos referentes às fotografias das
luas telescópicas e de algumas das luas produzidas pelos participantes/professores no curso foram apresentados sob o
título “A Lua na Arte, na Ciência e na Arte-Ciência” – ver link:
http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/agenda/memorial-de-curitiba-exposicao-conexao-campos-gerais. iii Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (1571-1610). iv Será utilizada a denominação Madonna para a figura da Virgem Maria que se encontra no afresco na cúpula da
Basílica de Santa Maria Maggiore, a obra é denominada pelo autor, Cigoli, como “La Vergine Immacolata e gli
Apostoli”. v Termo encontrado na obra: BENJAMIN, Walter (1994), “A obra de Arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, in
BENJAMIN, Walter, Magia e Técnica, Arte e Política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. 7.ª ed. São
Paulo: Brasiliense. (Obras escolhidas; v. 1).