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    87Representaes sociais de mulheres portadorasde hipertenso arterial sobre sua enfermidade:desatando os ns da lacuna da adeso aotratamento na agenda da Sade da Famlia

    | 1Amanda Gomes Ribeiro, 2 Rosngela Minardi Mitre Cotta, 3 Snia Machado

    Rocha Ribeiro, 4 Cristina Maria Ganns Chaves Dias, 5 Raquel Maria Amaral Arajo |

    1Mestre em Cincia da

    Nutrio, UFV. Endereo

    eletrnico: amandagribeiro@

    hotmail.com

    2Profa. adjunta do Depto. de

    Nutrio e Sade, Universidade

    Federal de Viosa (UFV);

    Doutora em Sade Pblica

    pela Universidade de Valncia,

    Espanha. Endereo eletrnico:

    [email protected]

    3Profa. adjunta do Depto. de

    Nutrio e Sade, UFV; Doutora

    em Bioqumica Agrcola pela

    UFV. Endereo eletrnico:

    [email protected]

    4Profa. associada do Depto.

    de Enfermagem e Medicina,

    UFV; Doutora em Patologia pela

    Universidade Federal de Minas

    Gerais. Endereo eletrnico:

    [email protected]

    5Profa. adjunta do Depto. de

    Nutrio e Sade, UFV; Doutora

    em Sade da Mulher e da

    Criana pela Fundao Oswaldo

    Cruz. Endereo eletrnico:

    [email protected]

    Recebido em: 11/03/2010.

    Aprovado em: 16/11/2010.

    Resumo: A falta de adeso ao tratamento e aconsequente falta de controle da hipertenso arterial (HA)representam um grande desafio Ateno Primria noBrasil. Compreender a relao subjetiva dos portadoresde HA com a enfermidade pode ampliar as possibilidadesde medidas de controle da HA mais efetivas. O objetivodeste trabalho foi conhecer e analisar as representaessociais de mulheres portadoras de HA sobre a doenae seu convvio familiar. Fizeram parte do estudo 26mulheres diagnosticadas com HA e cadastradas em uma

    Unidade de Ateno Primria Sade do municpiode Porto Firme, MG. O estudo fundamentou-se napesquisa qualitativa e elegeu as representaes sociaiscomo princpio terico-metodolgico. Os dados, obtidospor meio de grupos focais, entrevistas individuais eanotaes em dirio de campo, foram examinados atravsda anlise de contedo. Nas anlises emergiram osatrativos semnticos que retratavam as representaes dasmulheres sobre HA efeitos psicolgicos/sentimentos ligadosao diagnstico da HA ; o cotidiano do portador de HA e as

    mudanas em seu dia a dia; e o convvio familiar com HApor meio das quais se identificaram diferentes dimenses eespaos ligados adeso, no mbito individual e coletivo,destacando-se o acesso informao associado ao suportesocial como fator favorvel adeso ao tratamento.

    Palavras-chave:pesquisa qualitativa, educao em sade,hipertenso.

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    IntroduoA hipertenso arterial (HA) um dos mais importantes fatores de risco

    cardiovascular e de doena renal, representando um grave problema de sade

    pblica no Brasil e no mundo (KEARNEY, 2005). No Brasil, a prevalncia

    estimada de HA de 35% na populao acima de 40 anos sendo crescente

    na populao mais jovem, representando cerca de 17 milhes de portadores

    (BRASIL, 2006).

    As modif icaes no estilo de vida so consideradas fundamentais na

    preveno e controle da HA. Alimentao adequada, reduo e controle do peso

    corporal, prtica de atividade fsica e o combate ao tabagismo e ao consumo

    excessivo de lcool representam os principais fatores ambientais modif icveis

    para reduo do risco e incidncia de doenas cardiovasculares (DCV) eHA (V DBHA, 2007). Destarte, h que se destacar que as modificaes

    de hbitos de vida envolvem mudanas do padro comportamental dos

    indivduos e por isso no podem ser consideradas como escolhas individuais

    livres e descontextualizadas (COTTA et al., 2009).

    A falta de adeso ao tratamento, inclusive s medidas no-farmacolgicas,

    provavelmente a causa da alta prevalncia encontrada de hipertensos sem o

    controle da presso, mesmo naqueles indivduos em que a doena conhecida(FUCHS; CASTRO; FUCHS, 2004). Somente 50% dos indivduos com

    doenas crnicas, como a HA, aderem s recomendaes do tratamento,

    sendo que essa proporo tende a ser menor nos pases em desenvolvimento.

    A no-adeso ao tratamento tem como consequncias complicaes mdicas e

    psicossociais, reduo da qualidade de vida e desperdcio dos recursos assistenciais

    em sade (WHO; ISH, 2003). Alm de estar associada a variveis como renda,

    escolaridade, sexo e idade, a adeso relaciona-se com as crenas e a perceposobre a doena. Ressalta-se que o enfrentamento da HA envolve a compreenso

    de seu significado pelo hipertenso, de acordo com suas concepes sobre o

    processo sade-doena-adoecimento (ARAJO; GARCIA, 2006).

    No Brasil, o Programa de Sade da Famlia (PSF), estratgia criada pelo

    governo em 1994 com o objetivo de reorganizar o Sistema nico de Sade

    (SUS), visa mudana de um modelo individualista e hospitalocntrico, para um

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    89modelo com nfase na Ateno Primria Sade (APS) e no trabalho em equipemulti e interprofissional. Os princpios da integralidade, longitudinalidade,territorialidade e focalizao na famlia inscritos no PSF fazem com queesta estratgia seja o modelo mais adequado para alterar o quadro das DCV

    (COTTA et al., 2008; COTTA et al., 2009). No obstante, ainda que o PSFtenha aumentado o acesso dos portadores de HA aos servios de sade, observa-se uma baixa adeso ao tratamento, persistindo uma alta prevalncia de fatores derisco na comunidade (RIBEIRO; COTTA; RIBEIRO, 2009).

    O controle da HA constitui uma das reas estratgicas da APS. Entretanto,as experincias educativas voltadas aos portadores de HA no pas ainda so, emgrande parte, restritas a prescries normativas, sendo escassas as abordagensde educao em sade sob a tica da promoo da sade, com uma perspectivaemancipatria dos sujeitos (TOLEDO; RODRIGUES; CHIESA, 2007). Otratamento e o controle da HA representam, nessa tica, um desafio aos serviose profissionais de sade, que devem superar o distanciamento entre profissionale usurio e as prticas de sade orientadas por tecnologias no flexveis edesvinculadas da realidade dos indivduos (COSTA et al., 2009).

    Buscar compreender a relao dos portadores de HA com a enfermidade, combase em uma concepo subjetiva, que inclua seus sentimentos e percepes,

    amplia as possibilidades de medidas de preveno e controle mais efetivas dadoena (BARBOSA, 2000). Sendo assim, o objetivo deste trabalho1foi conhecere analisar as representaes sociais de mulheres portadoras de HA, cadastradasem uma Unidade de Ateno Primria a Sade (UAPS) e participantes de duasdiferentes metodologias de educao em sade, sobre a doena e seu convviofamiliar. Exploraram-se os aspectos psicossociais relacionados aos sentimentose comportamentos, capazes de influenciar o tratamento, a adeso e o controleda doena nos diferentes grupos, identificando-se os distintos significados queenvolvem o convvio com essa enfermidade.

    MtodoDescrio espao-temporal e sujeitos estudados

    O estudo foi realizado em Porto Firme, municpio da Zona da Matamineira, microrregio de Viosa. O municpio possui uma populao de

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    10.404 habitantes, rea territorial de 285 km e uma economia baseadaprincipalmente na agricultura (IBGE, 2009). A pesquisa foi realizada naUAPS da rea urbana de Porto Firme, que abriga duas equipes de Sade daFamlia. Atualmente existem 1.361 famlias e um total de 626 portadores de

    HA cadastrados nesta UPAS.Fizeram parte do estudo 26 mulheres, com idade entre 45 a 60 anos,

    diagnosticadas com HA, com ou sem diagnstico de diabetes mellitus, cadastradasna UAPS urbana de Porto Firme. As participantes fizeram parte de um estudode interveno nutricional voltado s portadoras de hipertenso. Neste estudo,a amostra foi subdivida em dois grupos que diferiam quanto abordagem/metodologia em educao em sade utilizada. No primeiro grupo a metodologiautilizada foi a orientao ao tratamento diettico da HA por meio de oficinaseducativas mensais. No segundo grupo, os indivduos alm de participarem dasoficinas educativas, receberam orientao individualizada e familiar por meio devisitas domiciliares peridicas.

    A interveno teve durao de cinco meses, de abril a agosto de 2009, ecompreendeu cinco oficinas educativas e cinco visitas domiciliares, realizadasmensalmente. Adaptando-se s dinmicas de atendimentos dos profissionaisdas equipes de Sade da Famlia, as oficinas educativas foram realizadas

    simultaneamente s reunies mensais que j ocorriam na UAPS para o grupode hipertensos e diabticos. As oficinas de educao em sade tinham duraomdia de uma hora e constavam de palestras dialogadas e dinmicas interativascom a utilizao de recursos diversos como cartazes, vdeos e demonstraesprticas. Nas visitas domiciliares, que tinham durao mdia de 45 minutos,eram realizadas orientaes prticas de acordo com a realidade de cada famlia,por meio da observao sistemtica da compra de gneros alimentcios, preparoe consumo de alimentos.

    Coleta e anlise dos dados

    O presente estudo fundamentou-se nos preceitos metodolgicos da pesquisaqualitativa, por estar relacionado compreenso dos significados que as pessoasatribuem a suas experincias e vivncias e como elas compreendem o mundo emque vivem (POPE; MAYS, 2005).

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    91Para tanto, elegeram-se as representaes sociais como princpio terico-metodolgico. Segundo Moscovici (2003, p. 49), as representaes coletivasse constituem em um instrumento explanatrio e se referem a uma classegeral de ideias e crenas, esto relacionados com uma maneira especfica de

    compreender e comunicar um modo que cria a realidade e o senso comum.Sendo assim, a representao social uma forma dos indivduos interpretaremsua realidade e a realidade social o pensamento do cotidiano, o que nospermite analisar esta realidade sob o olhar daquele que a vivencia (MARQUES;COTTA; ARAJO, 2009).

    O corpus de anlise dos dados qualitativos foi examinado por meio daanlise de contedo, que compreendeu as seguintes etapas: 1) pr-anlise; 2)explorao do material ;e 3) tratamento dos resultados, inferncia e interpretao(BARDIN, 2004).

    As informaes foram obtidas atravs da realizao de dois grupos focais oprimeiro constitudo pelas usurias que participaram das oficinas educativas,e o segundo, por aquelas que receberam orientao no domiclio, alm daparticipao nas oficinas, realizadas em outubro de 2009, aps as orientaesnutricionais oferecidas nas oficinas e visitas domiciliares.

    Para registro das informaes, os relatos foram gravados em udio e vdeo,

    aps consentimento dos entrevistados, alm de terem sido feitas anotaespertinentes para a compreenso da dinmica do grupo, permitindo assim queas informaes fossem transcritas de forma fidedigna, alm de facilitar o retornodas pesquisadoras fonte registrada, a checagem de informaes e obteno denovas concluses.

    Como forma de complementar e enriquecer o estudo, utilizaram-se tambminformaes sobre conhecimentos, percepes e prticas das participantes emrelao HA, obtidas por meio de entrevistas individuais, realizadas com o auxliode questionrio semiestruturado, aplicado s participantes do estudo antes darealizao dos grupos focais. O questionrio foi elaborado pela equipe responsvelpelo trabalho de acordo com os objetivos da pesquisa e submetido a pr-teste.

    Aspectos ticos

    O trabalho foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade

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    Federal de Viosa (UFV), protocolo 030/2009 em consonncia com o disposto

    na Resoluo n 196/96 do Conselho Nacional de Sade.

    Resultados e discussoCaracterizao dos sujeitos da pesquisa

    As mulheres participantes da pesquisa encontravam-se na faixa etria entre 45 e

    60 anos, sendo a mdia de idade do grupo de 53 anos. A maioria (85%) possua

    o ensino fundamental incompleto. Quanto ao estado civil, 96% eram casadas ou

    possuam relacionamento estvel e 4% eram divorciadas. Apenas 11% possuam

    trabalho formal com vnculo, enquanto 43% eram do lar, 21% aposentadas

    ou pensionistas e 35% tinham trabalho informal ou eram trabalhadoras rurais.

    A renda familiar de cerca de 80% das mulheres se concentrava entre um e trssalrios mnimos, sendo que 53% delas contribuam com a renda.

    A mdia de idade das mulheres na ocasio do diagnstico da HA foi de 42

    anos, sendo que no momento da pesquisa a mediana de tempo de diagnstico

    era de dez anos, sendo o mnimo de um e mximo de 35 anos. O diagnstico se

    deu em 40% dos casos devido ocorrncia de uma crise hipertensiva; 21% em

    consulta mdica devido aos sintomas da doena; 21% durante a gravidez; e 18%

    em consultas mdicas por outros motivos.

    Atrativos semnticos e indicadores da sade

    O conjunto de representaes sociais tende a condensar-se, em alguns casos,

    em uma srie de termos, de expresses, de imagens que exercem uma funo

    de atrativos semnticos, de modo que em torno de cada termo se situa

    um conjunto de expresses-chave, de palavras significativas das situaes e

    concepes prprias de cada grupo, como o caso de mulheres portadoras de

    HA de Porto Firme (DIAS et al., 2007). Os atrativos semnticos retirados das

    falas dessas mulheres nos levam a articular esse conjunto como um sistema de

    indicadores das citadas noes e representaes sociais sobre HA, descritas

    no quadro 1.

    Aps anlise e esquematizao, possvel investigar as significaes que so

    mais evidentes e representativas para esse grupo.

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    93Quadro 1. Atrativos Semnticos e representaes sociais extrados dos

    relatos de mulheres portadoras de Hipertenso Arterial, municpio de Porto

    Firme, MG (2009)

    Hipertenso arterial representada como:

    Efeitos psicolgicos / sentimentos

    ligados ao diagnstico de HA

    O cotidiano do portador de

    HA e as mudanas em seu

    dia a dia

    O convvio familiar

    com a HA

    Negativos

    preocupao

    medo

    falta de

    conhecimento

    tristeza

    revolta

    Positivos

    aceitao

    superao

    enfermidade que

    tem controle

    no afeta as

    atividades

    cotidianas

    Importncia do

    conhecimento sobre a doena

    Mudanas de hbitos:

    - aspectos positivos: melhora da

    qualidade de vida

    - aspectos negativos: restries

    Dificuldades em

    relao ao controle da

    presso

    Colaborao dos

    familiares

    Preocupao com a

    sade dos familiares

    Efeitos psicolgicos/sentimentos ligados ao diagnstico de HA

    Aspectos negativos

    Nesta categoria se destacam os sentimentos que denotam os efeitos psicolgicosnegativos do diagnstico da HA, explicitados sobretudo pelas sensaes de medo e

    preocupao, pelas possveis consequncias da doena e pela falta de conhecimento;

    e ainda pela tristeza e revolta, relacionadas cronicidade da HA, condio que

    exige a adoo de novos hbitos, como por exemplo, o uso regular da medicao.[...] Uma preocupao muito grande, visto que a hipertenso no tem cura [...]. Eu

    pra mim, eu senti muito preocupada. Preocupada porque a gente sabe que uma

    coisa que a gente vai cuidar pro resto da vida e que uma doena de a lto risco se no

    houver cuidado. (1)

    [...] Tristeza tambm porque sabe que tem que tomar o remdio pro resto da vida,

    alm de correr muito risco de vida. (2)

    A anlise das falas evidencia o incmodo das mulheres com o diagnstico

    da HA, pois impe mudanas de hbitos e perda da qualidade de vida caso no

    seja controlada.

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    No grupo estudado, cerca de 70% das mulheres possuam outras doenasassociadas HA, dentre elas: diabetes (25%), dislipidemias (21%), problemasrelacionados a esfago e estmago e problemas osteoarticulares (18%).Aproximadamente 30% das mulheres do estudo eram portadoras de duas ou

    mais enfermidades concomitantemente HA.Eu falo com minhas amigas assim, aproveita mesmo at os cinquenta, passou doscinquenta sobe a diabetes, a presso alta, o colesterol [...]. (5)

    Ah, eu pra fa lar bem verdade, eu num aceito de jeito nenhum [...] Que presso alta, colesterol alto, diabetes [...] que eu fui criada aqui num tinha nada disso no, numtinha presso, nem corao, tinha nada disso (4)

    Os sentimentos aqui relatados pelas entrevistadas esto intimamenteassociados ao envelhecimento e ao delicado perodo que a mulher da meia-

    idade vivencia, com mudanas em seu corpo e ciclo vital que so encaradasmuitas vezes como limitadores de uma vida ativa e saudvel (MORI;COELHO, 2003).

    Os desafios biopsicossociais vivenciados pelas mulheres de meia-idade sedevem ao fato de que a maior expectativa de vida das mulheres nem semprevem acompanhada de boas condies biopsicossociais. Fatores biolgicos,estilo de vida, histrico de doenas, pobreza, baixa escolaridade e isolamento

    social afetam significativamente a sade fsica e mental da populao feminina(MORI; COELHO, 2003). Assim, um ponto importante a ser ressaltadose refere medicalizao a que nossa sociedade est habituada, bem como formao dos profissionais de sade, baseada no modelo biomdico emedicamentoso, onde se pensa poder resolver todos os problemas por meio demedicamentos (COTTA et al., 2009; CAMARGO JUNIOR, 2007). Hojeverifica-se um consumo abusivo de medicamentos psicotrpicos, constatando-se, alm do grave problema da automedicao, a prescrio mdica excessiva

    de antidepressivos e ansiolticos, sendo as mulheres de meia-idade as maismedicalizadas com psicotrpicos (RODRIGUES, 2003).

    No presente estudo, cerca de 30% das mulheres usavam ansiolticos eantidepressivos regularmente, sendo que em todos os casos o medicamentofoi prescrito pelo mdico. Carvalho et al. (1998) salientam que o fato de ostratamentos muitas vezes serem centrados no uso de medicamentos pode serdecorrente das prprias orientaes recebidas dos profissionais de sade. Isso

    pode ser demonstrado, em nosso estudo, pelas falas das mulheres entrevistadas.

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    95 remdio controlado, negcio de depresso, [...] outros remdios, rivotril, neg-cio de calmante, a diariamente assim desse jeito [...] eu perguntei o mdico se podiadiminuir o remdio, mas ele falou assim que tem gente que toma at cinco dele; eutomo trs [...] mais o rivotril pra dormir, se eu no tomar eu no consigo dormir. (6)

    , mas voc toma um tranquilizante, um antidepressivo [...] (7)

    Dentro dos aspectos psicolgicos negativos relativos ao diagnstico daH, destaca-se o uso regular da medicao anti-hipertensiva. As portadorasde HA demonstraram tristeza em relao ao uso de mltiplos medicamentose descontentamento com a dificuldade do controle da PA, mesmo com usoda medicao.

    [...] [a HA] ela f icou descontrolada, a foi s trocando os remdios. (17)

    Tem hora que eu ponho os remdio assim na mo e penso no vou tomar, mas tem

    que tomar n, fazer o que? (18)

    Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), menos da metade dospacientes hipertensos consegue atingir a meta de PA com monoterapia. A maiorianecessita da combinao de pelo menos dois frmacos e cerca de 30% necessitam detrs ou mais frmacos em combinao para atingir as metas de PA (OMS, 2003).

    No grupo estudado, 82% das mulheres utilizavam dois ou mais medicamentospara o controle da PA. Cerca de 30% utilizavam no mnimo cinco comprimidos

    de anti-hipertensivos diariamente. Esse achado vai ao encontro do estudodesenvolvido por Cotta et al. (2009) sobre o perfil sociossanitrio e estilo de vidade hipertensos, onde se destaca a priorizao do tratamento medicamentoso, emdetrimento da adoo de estilos de vida saudveis relacionados dieta, prtica deatividades fsicas e reduo do lcool, sal e fumo.

    Muitas vezes, o uso prolongado do remdio remete os indivduos a suacondio de doentes, fazendo lembrar sua situao crnica de sade, podendo

    gerar sentimentos de ansiedade, medo e tristeza (PERES; MAGNA; VIANA,2003) sentimentos estes vivenciados pelos usurios do presente estudo.

    Aspectos positivos

    Por outro lado, as mulheres tambm expressaram aspectos psicolgicospositivos em relao HA, demonstrados pela aceitao, pela manuteno darotina normal de atividades dirias e pela possibilidade de controle da doena.

    Graas a Deus, at que eu controlo bem. [...] to com a vida normal, quase normal. E ,

    tomando os remdios direitinho, n, t tudo bem, graas a Deus. (7)

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    Eu recebi a notcia com uma certa naturalidade, porque eu convivi a vida inteiracom o meu pai que tinha presso a lta [...] Quando eu f iquei sabendo que tava com apresso alta eu j sabia como controlar [...] Ento, eu tomo os cuidados direitinho evou vivendo a vida com tranquilidade. (10)

    Os depoimentos demonstram posicionamentos distintos das mulheres emrelao ao diagnstico da HA. A convivncia prxima com pessoas que possuam

    a doena pareceu ser um dos fatores decisivos nessa diferena. As mulheres quepossuam familiares com essa condio apresentaram uma postura de maior

    aceitao ao diagnstico. Esse fato pode estar relacionado ao diferente significado

    da HA construdo por essas mulheres, ao maior acesso s informaes de comocontrolar a doena, ou at mesmo ao fato de se conviver com outras pessoas

    portadoras de HA, o que parece apontar para uma postura mais favorvel em

    relao doena.Na minha famlia [...] quem me conhece sabe que minha famlia grande demais, suma tia tem, porque justo eu puxar isso? Fiquei aborrecida com isso. (5)

    A gente no quer que as pessoas sente isso, mas vai aumentando a turma, a gente vaifalando assim, ai meu Deus, num s eu, isso num ta s pra mim. So vrias as minhacolegas que t. Num que a gente quer que elas tem, mas com isso consola, n. (8)

    A presena e convvio com parentes portadores de HA pareceram diminuir

    o estresse do diagnstico nas participantes deste estudo. No entanto, deve-seatentar para o fato de que a supervalorizao dos fatores de risco no-controlveispara HA, como a hereditariedade, pode afetar a percepo de autoeficcia do

    indivduo no controle da doena (SOUSA, 2003).

    Llor et al. (1995) apud Sousa (2003) discutem que as crenas etiolgicas dosindivduos podem explicar certas dificuldades no processo adaptativo doena.

    Se os indivduos atribuem as causas a seus prprios comportamentos inadequados,o sentimento de culpa pode interferir no processo adaptativo doena. No

    entanto, se as causas forem atribudas a fatores sobre os quais o indivduo nopode atuar, como o caso da hereditariedade, a aceitao do diagnstico ser

    mais resignada, porm com prejuzos ao controle da doena. Destaca-se, assim,a importncia do suporte social para o indivduo diagnosticado com a HA, de

    forma a desmistificar a doena e oferecer condies para o seguimento adequadodo tratamento aps o diagnstico.

    No que se refere ao servio de sade, o trabalho em grupos com a equipe

    multiprofissional e a realizao de atividades educativas so fatores preditores

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    97da adeso ao tratamento e importantes instrumentos de socializao, uma vezque nas atividades realizadas em grupos, os portadores de HA encontram espao

    para verbalizar sintomas, ansiedades, frustraes e dificuldades junto a uma

    equipe que os apoia. Alm disso, o grupo estimula a reflexo e amplia o nvel

    de informao, pela troca de experincias (ARAJO; GARCIA, 2006), o que explicitado pela fala de uma das participantes:

    Como a gente trabalha em grupo assim [...] a gente sabe que mais algum tem pressoalta, ento, a gente vendo o grupo, uma vai ajudando a outra a superar as dificulda-des, isso importante. (10)

    O cotidiano do portador de hipertenso arterial

    e as mudanas impostas ao seu dia a dia

    A anlise das falas das participantes das atividades em grupo indica que maisimportante que o diagnstico, o acesso ao apoio e informao pela equipede sade um fator propulsor na realizao das mudanas de estilo de vida

    necessrias ao controle da doena.[...] a partir do momento que voc vai conhecendo, vai vendo a gravidade da doena, que a gente vai tendo que mudar os hbitos, sim. (1)

    A partir do momento que voc vai tendo conhecimento muda bastante os hbitos devida da gente sim. A gente convive e vai aprendendo tambm o que pode, o que no

    pode. (2)

    Estudos presentes na literatura, investigando os conhecimentos, atitudes e

    prticas de indivduos hipertensos, encontraram que nem sempre o conhecimentosobre os fatores de risco para DCV implica mudanas comportamentais

    (COTTA et al., 2009; AUBERT et al., 1998). Entretanto, a evidncia cientfica

    aponta para uma maior adeso s medidas teraputicas nos indivduos de

    maior escolaridade. Alm da associao renda, tambm a escolaridade pode

    relacionar-se adeso, j que o conhecimento sobre a doena e seu tratamentoest diretamente relacionado independncia e cooperao do indivduo ao

    tratamento, sendo a adeso maior nos indivduos com maior conhecimento sobre

    a doena (ARAJO; GARCIA, 2006; COTTA et al., 2008)A importncia do conhecimento sobre a doena fica clara ao se observar que o

    incio do tratamento da HA nem sempre coincide com o momento do diagnstico.

    Uma das participantes revelou que s iniciou o tratamento medicamentoso aps

    agravamento da sintomatologia e perda da qualidade de vida, mostrando que a

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    falta de conhecimento e percepo reais sobre as consequncias da doena sofatores que podem prejudicar a adeso ao tratamento, mesmo aps o diagnstico.

    Na hora, quando eu soube, foi numa situao de perda de familiar [...] fiquei dias nohospital internada, depois fui orientada pelo cardiologista que eu tinha que tomarmedicao, mas relaxadamente eu no tomei. Passei um ano, dois anos, me queixan-

    do de dor de cabea [...] at o ponto que eu cheguei aqui e o mdico disse: voc temque tomar o remdio porque se voc no tomar qualquer hora vai dar mais forte e vaiter um infarto. (11)

    Considerando a baixa escolaridade do grupo estudado, em mdia quatro anosde estudo, enfatiza-se a importncia do processo de educao em sade paraesclarecer e orientar as mulheres sobre os cuidados necessrios para o controle daHA e melhora da qualidade de vida. No entanto, diante do discurso das mulheres,

    ressalta-se a necessidade de o processo de educao em sade transpor medidasmeramente prescritivas e normativas, restritas ao consultrio mdico, e/ou UAPS.[...] voc chega no consultrio o mdico fala s assim: voc tem presso alta, masnum d um esclarecimento pra gente o que a presso alta, os riscos que a gente teme nem o que a gente precisa fazer naquele momento. (1)

    Estudo sobre o processo de educao em sade para os hipertensos, realizadoem PSFs de trs cidades baianas, revelou que nas consultas mdicas a tendnciadominante era de medicalizao, sendo a ao educativa secundria e superficial,

    sem apreenso de dimenses psicossociais e culturais do processo sade-doena. Afalta de adeso de alguns pacientes estudados foi discutida pelos autores como formade resistncia ou de exerccio da autonomia frente hegemonia mdica (ALVES;NUNES, 2006). Nesse sentido, em nosso estudo, as experincias das oficinas deeducao nutricional e das orientaes domiciliares, como formas mais dinmicas einterativas de educao, foram muito positivas na adoo das mudanas alimentaresrecomendadas no tratamento da HA e no aumento do conhecimento sobre a doena.

    Antes da nutricionista,as vezes eu ia no mercado comprar as coisas, num tava preo-cupando de olhar direitinho aquela tabela l de alimentos [...] a partir do momentoque ela apareceu aqui fazendo essas reunies, aqui que ns passamos a ter essa preo-cupao, at na hora de comprar o alimento, na hora de preparar, voc vai prepararmais saudvel. (10)

    Estudo realizado com portadores de HA participantes de um grupocoordenado pela equipe de Sade da Famlia de um municpio de pequenoporte no Rio Grande do Sul apontou a percepo positiva dos indivduos em

    relao s atividades educativas em grupo e discutiu a efetividade desse tipo de

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    99atividade relacionada ao aumento da autoestima, autopercepo e autocuidado

    dos indivduos (SOUZA; POMATTI, 2003). Isso tambm foi observado pelas

    participantes das atividades de educao nutricional em Porto Firme:Tem que ter conscincia que a dieta pra mim, o remdio pra mim, num para o

    mdico, num para a nutricionista. A nutricionista tima? ! [...] mas ela passou oconhecimento pra gente, cabe a ns agora o que? Assimilar o que ela passou e agir. [...]o que ela passou lindo, maravilhoso, timo. Agora, ns temos que ter conscinciaque ns vamos fazer igual ela ensinou, porque se no, no adianta. (1)

    a gente que tem que gostar da gente. Tem que ter conscincia do que tem, do pro-blema, gostar da gente, querer viver bem e ter uma vida saudvel, com qualidade devida tambm, que viver doente no bom. (13)

    Sobre as mudanas no cotidiano das portadoras de HA, as participantes

    mostraram sentimentos contraditrios. Por um lado, apontaram os aspectospositivos das mudanas no estilo de vida, referentes melhora dos sintomas e da

    qualidade de vida, alm de demonstrarem conseguir levar uma vida normal

    devido ao bom controle da doena.Antes eu vivia aqui no posto, sempre aqui no posto, com dor de cabea, com tontura,mas depois que eu controlei, a acabou. Hoje eu me sinto bem, tomando os remdiose fazendo a alimentao adequada. (14)

    vida normal. [...] Ah, eu graas a Deus, num tenho problema nenhum. Levo minha

    vida normal. (12)

    No entanto, ficou tambm explcita a viso das mudanas no cotidiano como

    restries vida normal, alterando as atividades dirias e o convvio social.A que vai mudar a alimentao, a questo de t presa ao medicamento, voc nopode esquecer o horrio [...] voc num uma pessoa que pode fazer exerccio fsicoexagerado, voc num vai fazer uma lavao na sua casa tudo de uma vez num dia,porque voc num vai dar conta. (1)

    Ah, a muda muita coisa, n, gente, j tem que controlar a alimentao, no pode

    ficar sem remdio de jeito nenhum, o servio [...] igual a gente que ta l no stio comum soleiro, a gente no pode ficar, logo a presso vai e sobe, ento voc maneira umpouco. A alimentao muda demais. (12)

    Estudo com portadores de HA hospitalizados na cidade de So Paulo-SP

    encontrou resultado semelhante. Os indivduos consideravam as mudanas na

    vida aps incio do tratamento da HA como problemticas, o que provocava

    sentimentos negativos relacionados perda da capacidade fsica e as restries,

    principalmente na alimentao (CASTRO; CAR, 2000).

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    So vrios os motivos apontados como causa para a resistncia adoo

    de hbitos de vida saudveis, dentre eles o curso assintomtico da doena,

    a subestimao de suas reais consequncias e a dificuldade de mudana de

    padres comportamentais construdos ao longo do tempo (COTTA et al., 2008;

    AUBERT et al.; 1998). Nesse sentido, o trabalho de educao em sade poruma equipe multiprofissional que favorea e facilite as mudanas necessrias

    e reforcem a importncia do tratamento farmacolgico e no farmacolgico

    se mostra fundamental no controle adequado e melhora da qualidade de vida

    das portadoras de HA, como demonstrado pelas participantes do trabalho de

    educao nutricional realizado com o grupo estudado:Antes eu num entendia, ento era a falta de conhecimento do valor dos a limentos. Apartir do momento que voc, entende, tudo fica mais fcil. Hoje eu j num consigo

    mais comer o que eu comia antes. (1)

    Igual ela explicou [...] tudo vale na explicao que a gente recebe do outro n, entodo jeito que ela fala pra mim eu sigo direitinho a risca, n? (16)

    O convvio familiar com a hipertenso arterial

    A convivncia das portadoras de HA no ncleo familiar revela diferentes faces

    do papel da famlia no enfrentamento da doena. As falas informam sobre a

    dificuldade em alcanar o controle da PA devido ansiedade, preocupaes eproblemas relacionados famlia.

    , problema de famlia tambm, faz a presso subir. Problema, todo mundo tem, n,todo mundo tem problemas em casa [...] a faz a presso subir porque a gente ficanervosa, a gente fica preocupada. (3)

    Estudo semelhante realizado com mulheres cadastradas em um programa

    de controle da HA em Teresina-PI revela o conflito das portadoras de HA na

    convivncia com filhos e netos, no cuidado das pessoas da famlia e na sobrecarga

    de tarefas domsticas, que acarretam estresse psicoemocional e dificultam o

    controle da doena (COSTA e SILVA et al., 2008).

    Em trabalho realizado por Peres et al. (2003), que investigou as crenas e

    percepes de portadores de HA sobre a doena, encontrou-se que grande parte dos

    indivduos pesquisados referiu os aspectos emocionais, principalmente relacionados

    a problemas em casa, como fatores que dificultavam o controle da PA.

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    101Minayo (1988), em seu estudo sobre a concepo popular da etiologia das

    doenas, encontrou entre as causas referidas para as doenas na populao

    estudada, o domnio psicossocial, relativo aos sentimentos e emoes prejudiciais

    sade, sobretudo relacionados s inter-relaes familiares, da vizinhana e do

    ambiente de trabalho. De fato, cerca de 70% das mulheres do presente estudorelacionaram nervosismo, traduzido por sentimentos como ansiedade, raiva e

    tristeza, aos fatores de risco e de controle da HA.

    As V Diretrizes Brasileiras de Hipertenso Arterialfazem referncia ao estresse

    psicoemocional e seu efeito na reatividade vascular e elevao transitria da PA.

    A abordagem dos aspectos psicoemocionais sugerida como medida adicional

    ao tratamento no-medicamentoso, sendo til na melhora da qualidade de vida,

    nvel de estresse e na adeso ao tratamento, tanto pelo hipertenso quanto pelosfamiliares (V DBHA, 2007).

    Quanto ao apoio e colaborao dos familiares ao tratamento da HA,

    foram revelados aspectos positivos e negativos em relao ao convvio familiar,

    principalmente em relao alimentao. Os aspetos negativos se relacionavam

    no-aceitao da famlia das mudanas alimentares, parte das medidas de

    controle da HA, como a reduo do consumo de sal e gordura. Os familiares

    reclamavam da comida ou at mesmo preparavam as refeies separadamente.Esse comportamento ficou mais evidente no grupo que participou apenas das

    oficinas de educao em sade nas UAPS, quando comparado ao grupo que

    recebeu as orientaes domiciliares.

    Acredita-se que essa diferena tenha ocorrido porque no grupo das mulheres

    que receberam as orientaes por meio de visitas domiciliares, ao contrrio

    daquelas que s participaram das oficinas, o atendimento individualizado

    possibilitou a adequao das orientaes s dificuldades de cada famlia, o que

    auxiliou na minimizao dos conflitos gerados pelas mudanas dietticas. Alm

    disso, no grupo que recebeu as orientaes por meio das visitas domiciliares,

    houve maior contato entre o profissional e os familiares da portadora de HA,

    podendo estes esclarecerem dvidas e acompanharem o trabalho, o que pode

    ter aumentado seu comprometimento com as mudanas dietticas e auxlio no

    tratamento da familiar acometida pela HA.

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    A minha fi lha fala que a minha comida muito ruim, que a minha comida muito

    sem gosto, que todo dia a mesma coisa, que todo dia que ela chega salada de repo-

    lho, salada de tomate, e que ela gosta mais de ir na casa dos outros. (3)

    Meus filhos [...] eles j faz assim, a comida da senhora essa; ns vo fazer pra ns,

    e faz pra eles. Eles faz separado, eles vai comer o deles gostoso e a eu sei que eu num

    posso [...]. (5)

    Estudo realizado com 400 familiares de hipertensos inscritos em uma Liga

    de Hipertenso Arterial em Fortaleza-CE mostrou que o saber dos familiares,

    apesar de elementar, era fundamental para viabilizar o tratamento da HA dos

    hipertensos, ressaltando a importncia de capacitar a famlia para investir na

    adeso da pessoa hipertensa ao tratamento (SARAIVA et al., 2007).

    Os aspectos positivos da convivncia familiar se relacionaram aceitao,

    pela famlia, das mudanas alimentares, e ainda ao apoio e ajuda dos familiares

    no tratamento.[...] l em casa num tem esse negcio no, tudo que eu fao meu marido come, num

    reclama nem nada, ele gosta tambm. (9)

    Eu num fao separado no, e ele (marido) aceita do jeito que eu fao. E quando elas

    (filhas) pegam pra fazer tambm, elas fazem do mesmo jeito que eu fao.(17)

    No grupo que recebeu as orientaes domiciliares, alm da aceitao, foi

    demonstrada tambm a adeso voluntria as medidas dietticas e a preocupaocom a prpria sade, principalmente por parte dos filhos.

    Eu tenho uma menininha, minha menina fica me controlando, fica olhando eu colo-

    car minha comida no prato pra ver se eu coloquei certo [...] ela ta com oito anos e ela

    fala: num quero ser gorda, no (11)

    Inclusive at meu filho tambm, ele tem 16 anos, ele ta um pouco gordo, a ele falou

    me, eu vou acompanhar a senhora no regime. (16)

    O suporte familiar especialmente importante na adeso do portador de HAao tratamento, uma vez que a HA exige mudanas de estilo de vida que afetam

    tambm os outros elementos do ncleo familiar, sendo a participao da famlia

    altamente relevante na aquisio e manuteno de hbitos saudveis (ARAJO;

    GARCIA, 2006), o que evidenciado pela fala de uma das participantes: uma das mudanas mais difceis porque a alimentao acaba sendo uma coisa que

    envolve outras pessoas tambm da famlia, acho que por isso tambm. (10)

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    103Em relao ao convvio familiar, tambm se evidenciou a preocupao das

    mulheres com a sade e a adoo de hbitos saudveis pela famlia.Se ns temos essa conscincia, a gente como me, ns vamos ter que comear, mostrarpro filho da gente olha [...] a alimentao tem que ser assim, e educar mesmo, serrgido, no adianta s falar. (1)

    A gente tem que pensar muito, pensar muito na nossa famlia, e quando a gente vaifazer uma dieta tem que ter conscincia tambm que a dieta no s para mim, algopara todos da nossa famlia. (2)

    No domiclio, a mulher exerce papel central no cuidado dos familiares em

    relao higiene, alimentao, tratamento de enfermos e autocuidado (DIAS

    et al., 2007). So por isso, protagonistas na manuteno e transformao dos

    hbitos alimentares das famlias.

    Na temtica das polticas pblicas saudveis, a mulher se destaca como principalagente promotor da sade em todo o mundo, ressaltando-se a consequente

    necessidade desse grupo em ter acesso informao e redes de apoio (BRASIL,

    2002). Assim, a proposta de trabalhar com mulheres portadoras de HA em seu

    domiclio apresentou-se como estratgica, uma vez que as mulheres exercem

    papel central na alimentao da famlia, ao mesmo tempo que so influenciadas

    diretamente pela relao que estabelecem com os outros integrantes do ncleo

    familiar no convvio com a doena, o que afeta suas atitudes frente ao tratamento,incluindo a alimentao.

    Nesse contexto, a famlia compreendida como importante rede de apoio

    que pode tanto facilitar quanto dificultar o seguimento do tratamento da HA,

    sendo por isso alvo essencial das aes de educao em sade, que no devem ser

    restritas apenas ao portador de HA. Como foi o caso das orientaes domiciliares,

    que demonstraram facilitar as mudanas no ncleo familiar, diminuir conflitos

    em relao alimentao e contribuir para a adeso.

    As representaes sociais e as dimenses

    da adeso ao tratamento anti-hipertensivo

    A adeso um processo comportamental complexo, que ao contrrio da opinio

    comum, de que os pacientes so os nicos responsveis pelo seguimento do

    tratamento, influenciado por diversas variveis como o meio ambiente, os

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    profissionais e os servios de sade (GUSMO; MION, 2006). A OMS

    caracteriza a adeso como um processo multidimensional influenciado por cinco

    dimenses principais: fatores relacionados ao indivduo (1), fatores relacionados s

    caractersticas da doena (2), fatores relacionados terapia (3), fatores econmicos

    e sociais (4), sistemas de sade e fatores relacionados ao relacionamento com osprofissionais de sade (5) (WHO, ISH, 2003).

    Buscou-se, atravs das representaes das mulheres deste estudo sobre a HA,

    identificar fatores relacionados s diferentes dimenses da adeso, de forma a

    contribuir para a compreenso das possveis variveis envolvidas no processo de

    tratamento da doena nesse grupo (figura 1).

    Quanto aos fatores relacionados ao indivduo, as diferentes percepes das

    mulheres em relao doena e o conhecimento sobre a HA foram encontrados comopossveis fatores interferentes na adeso. Destaca-se que um maior conhecimento

    sobre essa condio se mostrou como fator preditor da adeso nesse grupo.

    Figura 1. Dimenses da adeso de mulheres portadoras de hipertenso

    arterial do municpio de Porto Firme, MG (2009)

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    105Os fatores relacionados terapia so fundamentais na compreenso do processode adeso no caso da HA. No grupo estudado o tratamento farmacolgico

    apresentou dificuldades em relao ao uso prolongado de mltiplas drogas e a

    baixa efetividade do tratamento medicamentoso em alguns casos, acarretando

    trocas contnuas de medicamento. Da mesma forma, o tratamento no-farmacolgico tambm se mostrou como um desafio, porque envolve mudanas

    de estilo de vida, relacionadas principalmente alimentao, retratadas pelas

    participantes como a principal dificuldade encontrada no tratamento da HA.

    Em relao s caractersticas da doena, por se tratar de uma enfermidadecrnica, com evoluo clnica lenta, porm permanente e progressiva, a HA

    gerou sentimentos de medo e preocupao que, no entanto, nem sempre se

    traduziram de forma imediata nas mudanas de estilo de vida, provavelmentedevido ao longo curso assintomtico da doena e supervalorizao da terapiamedicamentosa como forma de tratamento.

    Os fatores econmicos no foram explorados de forma direta nessa

    investigao. No entanto, acredita-se que a baixa renda observada no grupo se

    relacione tambm com a baixa escolaridade que, associada ao baixo nvel deconhecimento sobre a doena, pode constituir um fator limitante a adeso.

    Quanto aos fatores sociais, a cultura alimentar da regio pode afetar a adeso

    s mudanas dietticas, pela associao da dieta a restries da vida social,como a participao em festas e confraternizaes que ofeream alimentosno recomendados para os portadores de HA. Alm disso, o suporte social,

    representado sobretudo pela famlia, mostrou-se como fator essencial na adeso

    das mulheres, sobretudo s mudanas dietticas.

    Por ltimo, os fatores relacionados s equipes/sistemas de sade foram

    evidenciados nas falas das participantes, principalmente sobre a relao com o

    mdico e em relao ao processo de educao em sade. Sobre a relao mdico/usurio, a hegemonia mdica e o carter normativo das consultas emergiram como

    fatores limitantes da adeso, sobretudo as medidas no-farmacolgicas. Por outro

    lado, a utilizao de estratgias diferenciadas por uma equipe multidisciplinar,como as oficinas de educao em sade e as orientaes domiciliares, foi apontada

    como favorvel adeso.

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    Espaos de adeso ao tratamento anti-hipertensivo

    Dimensionar os fatores relacionados adeso identificados, desde o mbito coletivo

    ao individual, relacionando esses aspectos aos espaos institucional e social,

    conforme as representaes e atitudes das mulheres frente doena, e as observaes

    in locodos pesquisadores, tambm foram objeto deste estudo (figura 2).

    Figura 2. Subespaos construdos a partir das representaes sociais

    de portadoras de HA sobre a doena e fatores relacionados adeso ao

    tratamento, municpio de Porto Firme, MG (2009).

    Adaptado e modif icado de Dias et al, 2007

    No eixo y, a parte superior demonstra o espao institucional, representadoprincipalmente pelos servios de sade. A parte inferior representa o espao social.

    No eixo x, apresenta-se a percepo das mulheres sobre os fatores relacionados

    adeso ao tratamento no mbito coletivo e individual dimensionados nos

    quadrantes da figura, dentro dos espaos institucional e social.

    No quadrante I, encontram-se as representaes que relacionam a adeso

    relao direta das mulheres com o servio/equipe de sade. A relao entre

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    107usurio e equipe de sade sabidamente um fator determinante na adeso doindivduo portador de HA ao tratamento (ARAJO; GARCIA, 2006). Nessesentido, considerando a importncia demonstrada pelas mulheres deste estudoaos aspectos psicossociais no controle da doena, pode-se inferir que a construo

    de parcerias entre profissional e paciente e o fornecimento de suporte emocionalpropicia melhores resultados quando comparado a condutas simplesmentenormativas (WHO; ISH, 2003). Tambm as dificuldades relacionadas terapia medicamentosa e no-medicamentosa parecem ser mais bem superadas,considerando-se as dif iculdades e preferncias individuais e familiares, sendo queprogramas de orientao individual e familiar, como as orientaes domiciliaresrealizadas com as mulheres deste estudo, apontaram melhor adeso ao tratamento.

    No quadrante II, apresentada a relao entre a instituio e o coletivo nosfatores interferentes na adeso. O acesso aos servios e profissionais de sadeapresenta extrema importncia, uma vez que todas as mulheres estudadaseram cadastradas ao servio e por isso tinham acesso a consultas mdicas, deenfermagem e a medicamentos gratuitamente, sendo que 82% das mulheresafirmaram frequentar os mdicos da UAPS. No entanto, constatou-se, pormeio do relato das mulheres, a dificuldade na marcao de consultas, uma vezque as consultas eram pr-agendadas por meio da distribuio de senhas, o que

    gerava filas e desestimulava consultas mais frequentes. Esse fato pode explicarparcialmente a alta frequncia (cerca de 60%) de mulheres que se consultavamesporadicamente, somente quando se sentiam mal.

    O acesso informao foi revelado pelas participantes do estudo comoimportante fator preditor de adeso, sendo os programas de orientao emgrupo uma estratgia efetiva para aumentar o conhecimento das portadorasde HA sobre a doena e o tratamento. As reunies mensais que ocorriam naUAPS para os portadores de HA foram apontadas como forma importante deconscientizao, sobretudo em relao ao uso da medicao anti-hipertensiva. Noentanto, estratgias mais especficas, com contedos definidos e metodologiasdiversificadas (construes coletivas vivenciadas pelo usurio, cartazes, vdeos,demonstraes prticas), como as oficinas de educao em sade, parecerammais efetivas na consolidao do conhecimento pelas mulheres do estudo.

    No quadrante III encontram-se as representaes das mulheres sobre osfatores intervenientes na adeso no espao social, pensando nas relaes com a

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    coletividade. Foi possvel observar e mensurar, durante o estudo de interveno

    nutricional em Porto Firme, o alto consumo de sal, acar e gordura, fato

    observado tambm em outros municpios da regio (COTTA et al., 2009;

    BATISTA et al., 2006). Esse hbito, construdo social e culturalmente, interfere

    na adeso tanto em relao dificuldade em mudar hbitos construdos ao longoda vida, quanto em relao s restries vida social.

    Ainda no espao social, no quadrante IV tem-se a representao das mulheres

    sobre os fatores sociais ligados adeso em um contexto mais especfico, representado

    pela famlia, amigos e colegas. O suporte familiar aparece como importante fator

    interveniente na adeso das participantes do estudo. Alm disso, pde-se observar

    durante o estudo a interao entre as participantes, que se ajudavam, trocavam

    experincias e discutiam sua adaptao s mudanas dietticas. O suporte socialconstrudo pelas relaes prximas s mulheres pareceu favorecer, alm da adoo

    das mudanas, sua manuteno em longo prazo.

    Consideraes finaisAs representaes sociais das mulheres portadoras de HA neste estudo

    evidenciaram sentimentos e posicionamentos distintos em relao doena, sua

    convivncia e as relaes estabelecidas entre a doena e seu meio social; fatoresque afetam a adeso ao tratamento.

    Os sentimentos de ansiedade, medo e revolta relacionados ao diagnstico e

    as dificuldades referentes ao tratamento relacionaram-se a diferentes dimenses

    e espaos da vida dessas mulheres, sendo que um adequado acesso informao

    associado ao suporte social pareceu ser um fator favorvel adeso ao tratamento.

    Evidencia-se que as prticas educativas, alm de fornecerem informaes

    necessrias terapia anti-hipertensiva, devem estimular a autopercepo da doena

    e corresponsabilizao do indivduo com seu prprio cuidado, estimulando assima autonomia. Nesse sentido, pode-se inferir que as oficinas educativas em grupo

    e as orientaes domiciliares mostraram-se importantes estratgias de educao

    em sade, efetivas para aumentar adeso s orientaes dietticas voltadas s

    portadoras de HA.

    Agregar os familiares as atividades de educao em sade tambm se

    mostrou importante para facilitar as mudanas de estilo de vida no ncleo

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    eresportadorasdehipertensoarterialsobresuaenfermidade

    109familiar e aumentar a adeso do hipertenso ao tratamento. O conhecimentodas representaes sociais do portador de HA permitiu considerar suas prpriasnecessidades em relao ao tratamento e no apenas as indicaes dos profissionais.

    Destarte, destaca-se a necessidade do trabalho multiprofissional e interdisciplinar

    para lidar com essa complexa demanda que envolve o portador de HA e seutratamento, espao este que deve ser mais bem explorado no mbito da APS.

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    Nota1Este trabalho foi financiado pela FAPEMIG, processo n APQ-00197-09.

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    Social representation of women with

    hypertension in relation to the disease:unraveling the adherence to the treatment inrelation to the schedule of the Family HealthThe lack of compliance with treatment and the consequentlack of control of hypertension represent a major challengeto primary care in Brazil. Understanding the subjectiverelationship of patients with hypertension can expand thepossibilities of more effective control measures. The aimwas to understand and analyze the social representationsof women with hypertension about the disease and theirfamily environment. Study participants were 26 womendiagnosed with hypertension and registered in a Unit ofPrimary Health Care in the city of Porto Firme, Brazil.The study was based on qualitative research and electedsocial representations as theoretical and methodologicalprinciple. The data, collected through focus groups,interviews and notes in a diary, were examined through

    content analysis. In the analysis emerged semanticattractions depicting the representations of women onhypertension psychological effects and feelings relatedto the diagnosis of hypertension; daily life of patients with

    hypertension and changes in their daily lives; and family

    life with hypertension through which have identifieddifferent dimensions and spaces connected to membership,both individually and collectively, emphasizing access toinformation associated with social support as a factor in

    favor of compliance with the treatment.

    Key words:qualitative research, health education,hypertension.

    Abstract