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REPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS DO LABORATÓRIO
FARMACÊUTICO DA MARINHA
André Teixeira Pontes
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Tecnologia. Orientador (es): Leydervan de Souza Xavier, D.C. Débora Omena Futuro, D.C.
Rio de Janeiro Março/2010
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REPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS DO LABORATÓRIO
FARMACÊUTICO DA MARINHA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Tecnologia
André Teixeira Pontes
Aprovada por:
Rio de Janeiro Março/2010
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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do CEFET/RJ
P814 Pontes, André Teixeira
Representação e análise da cadeia de suprimentos do Laboratório Far-
macêutico da Marinha / André Teixeira Pontes.—2010.
xv, 118 f. + Anexos: il. col. ,grafs., tabs. ; enc.
Dissertação (Mestrado) Centro Federal de Educação Tecnológica
Celso Suckow da Fonseca , 2009.
Bibliografia : f.108-118
Inclui glossário
Orientador: Leydervan de Souza Xavier
Co-Orientadora:Débora Omena Futuro
1.Laboratório Farmacêutico da Marinha 2.Cadeia de logística integrada
3.Responsabilidade social I.Xavier, Leydervan de Souza (orient.) II.Futu-
ro, Débora Omena (co-orient.) III.Título.
CDD 658.78
CDD
iv
Aos meus queridos pais Arany e
Lucinéia, pelo carinho e apoio que
permitiram esta conquista.
v
Agradecimentos
Certo de que esta dissertação não seria possível sem o apoio de várias pessoas. Agradeço
especialmente:
- A Deus, meu refúgio e fortaleza, socorro presente nos momentos de angústia.
- Aos professores Leydervan de Souza Xavier, Débora Omena Futuro e José Antonio
Assunção Peixoto, pelo apoio, paciência e direcionamento.
- A todos os amigos mestrandos que dividiram momentos de angústia, alegria e
aprendizado, em especial: Patrícia, Marcílio, Marcos, Ilana e Jasson.
- A todos do Laboratório Farmacêutico da Marinha, em especial aos comandantes
CMG(IM) Jayme Teixeira Pinto Filho e CF(S) Átila Torres de Castro, pela cessão de
suas instalações, confiança, oportunidade e paciência. E, também, aos funcionários
civis Aline Sassaki e Tereza, pelo grande apoio.
- A todos os professores e funcionários do PPTEC que me auxiliaram nesta caminhada.
- Aos meus amigos e familiares que de alguma forma me ajudaram neste período.
- A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo suporte
financeiro a esta pesquisa.
vi
RESUMO
REPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS DO LABORATÓRIO FARMACÊUTICO DA MARINHA
André Teixeira Pontes
Orientador(es):
Leydervan de Souza Xavier, D.C. Débora Omena Futuro, D.C.
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Tecnologia.
O direito à saúde é garantido pela Constituição da República e foi institucionalizado na forma de um Sistema Único de Saúde, que possui entre seus campos de atuação a assistência terapêutica integral, o que implica na obrigação do Estado de garantir o acesso aos medicamentos para todos aqueles que deles necessitem. O medicamento desempenha um papel primordial na prevenção, melhoria e manutenção da saúde. Assim, o Estado necessita de ferramentas que possibilitem o acesso da população a medicamentos de qualidade. Os Laboratórios Farmacêuticos Públicos possuem um grande destaque neste cenário. Os conceitos de gestão da produção e da cadeia de suprimentos nestes laboratórios representam um contexto interessante e transdisciplinar, tendo fundamental importância na garantia da qualidade do produto e do processo, face ao cenário atual de expressiva dependência externa de insumos farmacêuticos ativos com alta variabilidade na qualidade. Este estudo apresenta uma representação e análise crítica da cadeia de suprimentos do Laboratório Farmacêutico da Marinha, como forma de proporcionar uma reflexão que contribua para o desenvolvimento do setor e a melhoria da gestão da produção, o que pode resultar no aumento do acesso da população a medicamentos de qualidade. Destaca-se o papel essencial deste laboratório no fornecimento de medicamentos para o Sistema Único de Saúde, seu principal cliente. Foram utilizados dados históricos dos anos de 2006 a 2008. Constatou-se que 99% dos insumos farmacêuticos ativos, no período estudado, foram provenientes de outros países, destacando-se a China com 87,5% do total. A qualidade destes insumos tem uma correlação direta com as não-conformidades no processo produtivo relatadas no período. São apresentadas algumas novas questões que podem contribuir para um melhor desempenho da cadeia de suprimentos do laboratório estudado, tais como: Responsabilidade Social Corporativa, Teoria dos Stakeholders, Sustentabilidade e Avaliação do Ciclo de Vida. Por fim, observou-se, ainda, que algumas políticas públicas recentes estão propiciando mudanças na cadeia de suprimentos deste laboratório, no intuito de fortalecer seu papel estratégico na assistência farmacêutica nacional. Palavras-chave:
Gestão da cadeia de suprimentos; Insumos farmacêuticos ativos; Laboratório oficial.
Rio de Janeiro Março/2010
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ABSTRACT
REPRESENTATION AND ANALYSIS OF THE SUPPLY CHAIN OF THE NAVY PHARMACEUTICAL LABORATORY
André Teixeira Pontes
Advisor(s):
Leydervan de Souza Xavier, D.C. Débora Omena Futuro, D.C.
Abstract of dissertation submitted to Programa de Pós-graduação em Tecnologia - Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ as partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Technology.
The right to health is guaranteed by the Brazilian Constitution and was institutionalized in the form of a National Health System, which has integrated therapeutics care among it’s fields, what implies the state's obligation to ensure access to medicines for all those who need them. The medicine has an important function on the prevention, improvement and maintenance of the health. Thus, the state needs tools that allows people’s access to quality medicines. The Pharmaceutical Public Laboratories have considerable importance in this scenario. The concepts of production management and supply chain management in these laboratories represent an interesting cross-disciplinary context and fundamental importance in ensuring the quality of product and process, since the current scenario depends significantly on the foreign supply of active pharmaceutical, which have high variability in quality. This study presents a critical analysis and representation of the supply chain of the Laboratório Farmacêutico da Marinha (Navy Pharmaceutical Laboratory), in order to provide a reflection that contributes to the development of industry and improvement of production management, potentially resulting in an increased access to quality medicines. We highlight the essential role of the laboratory in the supply of medicines to the National Health System, its main customer. Historical data from 2006 to 2008 was considered. It was noted that 99% of active pharmaceutical ingredients, during the study period, came from other countries, especially China with 87.5% of the total. The quality of these inputs has a direct correlation with the non-conformities in the production process reported in the period. New issues are presented which may contribute to a better performance of the supply chain of the laboratory in study, such as: Corporate Social Responsibility, Stakeholder Theory, Sustainability and Life Cycle Assessment. Finally, was also noted that some public policies have been allowing changes in the supply chain of this laboratory in order to strengthen its strategic role in national pharmaceutical care. Keywords:
Supply chain management; Active pharmaceutical ingredients; Official laboratory
Rio de Janeiro Março/2010
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Sumário
Introdução 1
I Panorama da Indústria Farmacêutica Brasileira 7
I.1 Histórico 7
I.2 Características do Setor 11
I.3 A Dimensão Econômica do Setor 13
I.4 Política Nacional de Medicamentos 16
I.5 Medicamentos Genéricos 17
I.6 Processo Produtivo 19
I.7 Terceirização da Produção 25
II Produção Pública de Medicamentos no Brasil 27
II.1 Os Laboratórios Oficiais 27
II.2 Os Laboratórios Oficiais e o SUS 30
II.3 Atuação em Rede 32
II.4 Investimentos 34
II.5 Mercado Farmoquímico 35
II.6 Especificação dos Insumos Farmacêuticos e a Produção de Medicamentos 39
II.6.1 Aplicação de FMEA em processos produtivos 41
III O Impacto de Políticas Públicas na Cadeia de Suprimentos dos Laboratórios
Oficiais 43
III.1 A Descentralização da Assistência Farmacêutica 43
III.1.1 Componente básico da assistência farmacêutica 44
III.1.2 Componente estratégico da assistência farmacêutica 45
III.1.3 Componente de medicamentos de dispensação excepcional 46
III.1.4 Assistência farmacêutica nos municípios 47
III.1.5 A participação dos laboratórios oficiais na assistência farmacêutica 48
III.2 Políticas de Fomento do Setor Farmoquímico 52
III.3 Parcerias entre Laboratórios Oficiais e Empresas Farmoquímicas 56
ix
IV Gestão da Cadeia de Suprimentos 59
IV.1 Cadeia de Suprimentos 59
IV.2 Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos 62
IV.2.1 Tipos de relacionamento em cadeias de suprimentos 65
IV.3 Modelagem da Cadeia de Suprimentos 68
IV.4 Cadeia de Suprimentos Farmacêutica 71
IV.4.1 Cadeia de suprimento dos laboratórios farmacêuticos oficiais 75
IV.4.2 Novas Fronteiras para a Cadeia de Suprimento dos Laboratórios Oficiais 76
V.4.2.1 Responsabilidade social corporativa e a teoria dos stakeholders 77
V.4.2.2 Sustentabilidade 78
V.4.2.3 Avaliação do ciclo de vida 81
V Resultados e Discussão 84
V.1 Ambiente Empírico: Laboratório Farmacêutico da Marinha 84
V.1.1 Histórico 84
V.2 Mapeamento da Cadeia de Suprimentos do LFM 85
V.2.1 Características 85
V.2.2 Fornecedores 88
V.2.3 Processo produtivo 91
V.2.3.1 Não-conformidades 92
V.2.4 Clientes 95
V.2.4.1 Distribuição geográfica 97
V.2.5 Diagrama de Sankey 99
V.3 Novas Perspectivas para a Cadeia de Suprimentos do Laboratório Oficial Estudado 99
V.3.1 Fomento do parque nacional de produção de IFA 100
V.3.2 Formação de parcerias com empresas farmoquímicas 100
V.3.3 Terceirização da produção 101
V.3.4 O mercado de genéricos 101
V.3.5 Representação 102
x
Conclusões e Perspectivas Futuras 103
Referências Bibliográficas 108
Anexos
xi
Lista de Figuras FIG. I.1 Diversidade de apresentações de medicamentos............................................................ 12 FIG. I.2 Representação esquemática do complexo industrial da saúde........................................ 14 FIG. I.3 Vendas nominais de medicamentos no mercado farmacêutico brasileiro........................ 15 FIG. I.4 Índice da evolução das vendas nominais em reais (R$), dólares (US$) e unidades........ 16 FIG. I.5 Evolução dos registros de medicamentos genéricos, no período de 2000 a 2009........... 18 FIG. I.6 Número de registro de medicamentos genéricos por país de origem do produto............ 19 FIG. I.7 Etapas da produção de comprimidos por compressão direta (via seca).......................... 23 FIG. I.8 Etapas da produção de comprimidos com granulação prévia (via úmida)........................ 24 FIG. II.1 Participação percentual quantitativa dos fornecedores públicos e privados de
medicamentos para o Ministério da Saúde – 2002/2004.................................................. 31
FIG. II.2 Investimentos do Ministério da Saúde nos laboratórios oficiais........................................ 34 FIG. II.3 Balança comercial dos IFA................................................................................................ 37 FIG. IV.1 Níveis de pesquisa em gestão da cadeia de suprimentos................................................ 59 FIG. IV.2 Atividades em uma cadeia de suprimentos....................................................................... 61 FIG. IV.3 Alguns termos utilizados para descrever a gestão de partes da cadeia de suprimentos. 61 FIG. IV.4 Elementos de troca em diferentes tipos de relacionamento............................................. 65 FIG. IV.5 Rede de operações para um shopping center.................................................................. 71 FIG. IV.6 Típica cadeia de suprimentos farmacêutica...................................................................... 72 FIG. IV.7 Típica rede de suprimentos de uma indústria farmacêutica brasileira.............................. 73 FIG. IV.8 Típica rede de suprimentos de um laboratório farmacêutico oficial.................................. 76 FIG. IV.9 Cadeia de suprimento dos insumos farmacêuticos ativos................................................ 76 FIG. IV.10 Principais estágios do ciclo de vida de um produto......................................................... 82 FIG. V.1 Representação da cadeia de suprimentos........................................................................ 86 FIG. V.2 Fornecedores de IFA......................................................................................................... 88 FIG. V.3 Origem dos IFA................................................................................................................. 89 FIG. V.4 Evolução das unidades farmacêuticas produzidos no período de 2004 a 2008............... 91 FIG. V.5 Gráfico de Pareto das não-conformidades nos lotes produzidos entre 2007 e 2008....... 93 FIG. V.6 Origem dos IFA que apresentaram não-conformidades................................................... 95 FIG. V.7 Evolução da composição do faturamento (2006/2008)..................................................... 96 FIG. V.8 Estados atendidos pelo LFM............................................................................................. 97 FIG. V.9 Diagrama de Sankey do fluxo de materiais ao longo da cadeia de suprimentos do LFM
entre os anos de 2006 e 2008........................................................................................... 99
FIG. V.10 Representação de novas relações emergentes................................................................ 102
xii
Lista de Tabelas TAB. I.1 Evolução da participação estrangeira no mercado farmacêutico brasileiro em nove
décadas do século XX...................................................................................................... 8
TAB. I.2 Faturamento do mercado farmacêutico mundial............................................................... 14 TAB. II.1 Relação dos laboratórios oficiais associados a ALFOB.................................................... 29 TAB. II.2 Investimentos realizados na área de IFA.......................................................................... 36 TAB. II.3 Levantamento da situação da indústria de química fina, quanto a fechamento ou
cancelamento de projetos no período de 1990 a 1999..................................................... 37
TAB. III.1 Parcerias entre laboratórios oficiais e empresas privadas................................................ 57 TAB. V.1 Laboratórios oficiais com CBPF........................................................................................ 85 TAB. V.2 Dados relativos à importação de IFA................................................................................ 90 TAB. V.3 Ocorrência de não-conformidades nos lotes produzidos entre 2007 e 2008.................... 93 TAB. V.4 Aplicação da FMEA (produção de comprimidos).............................................................. 94 TAB. V.5 Participação dos principais medicamentos no faturamento.............................................. 98 TAB. V.6 Parcerias do LFM com empresas farmoquímicas............................................................. 101
xiii
Lista de Abreviaturas
Abreviatura/
Símbolo Significado
ABIFINA Associação Brasileira das Indústrias de Química-Fina ABIQUIF Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica
ACV Avaliação do Ciclo de Vida AF Adjuvante Farmacêutico
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária BPF Boas Práticas de Fabricação
CBPF Certificado de Boas Práticas de Fabricação CEME Central de Medicamentos
CIS Complexo Industrial da Saúde CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
CSCMP Council of Supply Chain Management Professionals DGPM Diretoria Geral de Pessoal da Marinha
FEBRAFARMA Federação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas FMEA Failure Modes and Effects Analysis (Análise dos Efeitos e Modos de
Falhas) GRUPEMEF Grupo dos Profissionais Executivos do Mercado Farmacêutico
IFA Insumo Farmacêutico Ativo LFM Laboratório Farmacêutico da Marinha MB Marinha do Brasil
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MS Ministério da Saúde P&D Pesquisa e Desenvolvimento PDP Política de Desenvolvimento Produtivo
PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comercio Exterior RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
RSC Responsabilidade Social Corporativa SECEX Secretaria de Comércio Exterior
SES Secretaria Estadual de Saúde SGM Secretaria-Geral da Marinha SMS Secretaria Municipal de Saúde SSM Sistema de Saúde da Marinha SUS Sistema Único de Saúde
xiv
Glossário
Adjuvantes Farmacêuticos - substância adicionada ao medicamento com a finalidade de prevenir alterações, corrigir e/ou melhorar as características organolépticas, biofarmacotécnicas e tecnológicas do medicamento.
Assistência Farmacêutica - é o conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população.
Biodisponibilidade - indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina.
Doenças Negligenciadas - um conjunto de doenças associadas à situação de pobreza, as precárias condições de vida e as iniquidades em saúde. Apesar de serem responsáveis por quase metade da carga de doença nos países em desenvolvimento, os investimentos em P&D, tradicionalmente, não priorizaram essa área.
Equivalência Farmacêutica - produtos equivalentes farmacêuticos são medicamentos que contêm o mesmo insumo farmacêutico ativo, na mesma quantidade e forma farmacêutica, podendo ou não conter adjuvantes farmacêuticos idênticos. Devem cumprir com as mesmas especificações atualizadas da Farmacopéia Brasileira e, na ausência destas, com as de outros códigos autorizados pela legislação vigente ou, ainda, com outros padrões aplicáveis de qualidade, relacionados à identidade, dosagem, pureza, potência, uniformidade de conteúdo, tempo de desintegração e velocidade de dissolução, quando for o caso.
Farmoquímico - todas as substâncias ativas ou inativas que são empregadas na fabricação de produtos farmacêuticos.
Forma Farmacêutica - estado físico no qual se apresenta um medicamento com o objetivo de facilitar seu fracionamento, posologia, administração, absorção e conservação. Ex. comprimido, cremes, soluções, etc.
Insumo Farmacêutico - qualquer produto químico, ou material (por exemplo: embalagem) utilizado no processo de fabricação de um medicamento, seja na sua formulação, envase ou acondicionamento.
Insumo Farmacêutico Ativo - substância química que é o princípio ativo do medicamento. Também conhecido como fármaco.
Laboratório Oficial - laboratório do Ministério da Saúde ou congênere da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, destinado a produção pública de medicamentos.
Medicamento - produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. É uma forma farmacêutica terminada que contém o fármaco, geralmente em associação com adjuvantes farmacotécnicos.
Medicamentos Similares - aquele que contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, e que é equivalente ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou marca.
Não-conformidade - não atendimento a um requisito especificado.
xv
Medicamento de Referência - produto inovador registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro.
Denominação Comum Brasileira (DCB) - denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovada pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária.
Denominação Comum Internacional (DCI) - denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo recomendada pela Organização Mundial de Saúde.
1
Introdução
A despeito da sua importância e necessidade histórica para a vida humana e da
tendência global em apontar o acesso aos medicamentos como direito fundamental do homem,
o medicamento é hoje um produto de tecnologia cara e muitas vezes inacessível para uma
parcela considerável da população. No Brasil, enquanto 15% da população brasileira com
renda superior a 10 salários mínimos, consomem 48% do total de medicamentos, 51% da
população, com renda abaixo de 4 salários mínimos, consomem somente 16% deste mercado
(SANTOS, 2001). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes às
despesas com medicamentos nos orçamentos familiares, demonstram que este item
representa 76% dos gastos com saúde nas famílias com renda de até R$ 400,00. (IBGE,
2007).
A Constituição da República de 1988 reconhece, no artigo 196, que a “saúde é um
direito de todos e um dever do Estado”, fornecendo as bases fundamentais para a construção
de um sistema de saúde mais justo, igualitário, universal e equânime. A partir de então,
apresentou-se o desafio de desenvolver um sistema público de saúde obedecendo a estes
princípios e, desta forma, garantir o acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. Assim, foi criado o Sistema
Único de Saúde (SUS), regulamentado por meio das Leis 8.080/90 e 8.142/90. Entre os
campos de atuação do SUS está a assistência terapêutica integral, o que implica na obrigação
do Estado de garantir o acesso aos medicamentos para todos aqueles que deles necessitem.
Quando o consumidor retira um medicamento na farmácia ou drogaria, dificilmente tem
noção do longo caminho percorrido até se obter este produto. A cadeia de fabricação dos
medicamentos quase sempre começa fora do país, com a importação dos insumos
farmacêuticos. Até que os medicamentos sejam expostos nas prateleiras, seus constituintes
passam por diversas e delicadas etapas. O insumo que chega ao País pode dirigir-se
diretamente à fábrica para sua transformação, como pode ser fracionado em uma empresa,
distribuído por outra para, só então, ser transformado em medicamento (ANVISA, 2006). Além
disso, muitas ações são requeridas na tentativa de garantir este acesso, tais como a
elaboração de uma Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), que prioriza os
medicamentos mais importantes para atender a maioria das doenças, as farmácias populares,
a produção pública de medicamentos, entre outras.
Dentro desse contexto, o Brasil possui um parque de laboratórios públicos, de
abrangência nacional, voltado para a produção de medicamentos primordialmente destinados
aos programas de saúde pública em assistência farmacêutica. Estas indústrias são conhecidas
como laboratórios oficiais e são responsáveis por aproximadamente 80% das unidades
farmacêuticas dispensadas gratuitamente pelo SUS, que correspondem a quase 20% do total
das compras de medicamentos do Ministério da Saúde (BRASIL, 2003).
2
São integrantes do chamado Complexo Industrial da Saúde (CIS), desempenham um
papel estratégico na garantia do acesso da população brasileira aos medicamentos essenciais
e são imprescindíveis ao fornecimento de medicamentos para as doenças negligenciadas[1]
(tuberculose, malária, doença de Chagas etc.), onde não há incentivo de mercado que atraia o
setor privado.
Para cumprir com excelência a missão de provedores de saúde, os laboratórios oficiais
necessitam aprimorar continuamente os seus processos produtivos, estando sujeitos ao
controle e à gestão da qualidade rigorosos, determinados em normas e legislações
governamentais. Desta forma, a gestão da produção e da cadeia de suprimentos nestes
laboratórios, são pontos fundamentais para assegurar a entrada de insumos de qualidade e
atender o objetivo de propiciar o acesso da população a medicamentos seguros, eficazes e de
qualidade.
Os processos de produção na indústria farmacêutica representam um contexto
interessante e transdisciplinar. Isto porque conceitos de gerenciamento da cadeia de
suprimentos, gestão por processos, controle de qualidade de produtos e processos assumem,
nesse contexto, feições próprias, pouco exploradas na literatura de formação profissional, quer
das Engenharias, quer da Farmácia. Estes conceitos são influenciados pela dinâmica da rede
social produzida por agentes como o governo, a população e fornecedores, orientada para
atender os atuais anseios da sociedade, atualmente interessada na oferta e consumo de
produtos e processos mais sustentáveis.
SLACK et al. (2008) defendem que nenhuma operação produtiva ou parte dela existe
isoladamente, mas faz parte de uma rede maior, interconectada com outras operações,
incluindo clientes e fornecedores. As decisões dentro desta rede devem iniciar com a definição
dos objetivos estratégicos da organização, para então decidir como administrar a localização
de cada atividade produtiva e a sua capacidade geral dentro da rede.
Estes autores consideram que a administração da produção deve incluir esta
perspectiva de rede de suprimentos por três razões principais: “Ajuda a empresa a
compreender como pode competir mais efetivamente; ajuda a identificar ligações entre nós
especialmente significativos na rede; ajuda a empresa a focalizar uma perspectiva de longo
prazo na rede.”
Esta perspectiva de rede, defendida pelos autores, designa todas as unidades
produtivas que se relacionam para prover o suprimento de bens e serviços até o cliente final.
Normalmente, existem ramos de unidades produtivas ligadas que passam pela rede, estes
ramos são denominados de cadeia de suprimentos. (SLACK et al., 2008).
1 O termo doença negligenciada é usado para designar “[...] as doenças que não apresentam atrativos econômicos para o desenvolvimento de fármacos, quer seja pela baixa prevalência ou por atingir população de regiões em desenvolvimento que não oferecem um retorno lucrativo para que a indústria invista em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.” (BRASIL, 2007a).
3
Neste contexto é importante questionar os seguintes aspectos: Qual o cenário atual da
rede de suprimentos dos laboratórios farmacêuticos brasileiros? Qual o cenário da cadeia de
suprimentos do laboratório farmacêutico público estudado? Qual o impacto na gestão da
produção? Quais as dificuldades encontradas por esse seguimento? Qual a perspectiva de
contribuição para a saúde pública e para o SUS?
A compreensão deste cenário permite fornecer informações relevantes para o processo
de tomada de decisão e para a definição de políticas públicas com vista ao fortalecimento da
Segurança Nacional, nesta área estratégica para as políticas de saúde, e da produção pública
de medicamentos, no intuito de garantir e aumentar o acesso da população brasileira a este
produto essencial.
Objetivo Geral
O objetivo deste trabalho é desenvolver uma representação da cadeia de suprimentos
do Laboratório Farmacêutico da Marinha que permita a análise crítica de seu funcionamento
orientada à melhoria da gestão da produção e ao aumento do acesso da população, em geral,
a medicamentos de qualidade.
Objetivos Específicos
• Representar as atuais relações existentes na cadeia de suprimentos do
Laboratório Farmacêutico da Marinha.
• Analisar o papel deste laboratório no Complexo Industrial da Saúde, em
especial a sua relação com o setor farmoquímico.
• Analisar a relação entre as políticas públicas do Ministério da Saúde e a
geração de demanda no laboratório estudado.
• Analisar o perfil dos fornecedores de Insumos Farmacêuticos Ativos do
laboratório estudado.
• Analisar o perfil dos clientes atendidos pelo Laboratório Farmacêutico da
Marinha.
• Contribuir para a melhoria da qualidade do processo de produção de
medicamentos nos laboratórios oficiais brasileiros, em geral, a partir da representação e
da análise crítica da cadeia de suprimentos que integram, com base na observação do
Laboratório Farmacêutico da Marinha.
Justificativa
O mercado farmacêutico brasileiro possui uma configuração singular, apresentando
indústrias farmacêuticas privadas de capital nacional ou multinacional e um grupo de indústrias
farmacêuticas públicas, denominadas laboratórios oficiais. Estes laboratórios possuem um
papel especial no fornecimento de medicamentos para a população brasileira, contribuindo
4
com a proposta de acesso universal do Sistema Único de Saúde, além de representarem um
papel estratégico do ponto de vista da Segurança Nacional.
O vínculo direto da qualidade do medicamento com a saúde humana e a característica
inelástica da demanda, expressam a importância de garantir a qualidade do produto final.
Assim, o gerenciamento da cadeia de suprimentos e a gestão dos processos produtivos
farmacêuticos são conceitos muito relevantes e, como dito, pouco explorados pela literatura de
formação profissional em geral.
Apesar da realização de pesquisas sobre a cadeia de suprimentos relacionadas à
indústria farmacêutica ser relevante para o País, observa-se uma carência de estudos que
abordem a cadeia de suprimentos em laboratórios farmacêuticos oficiais, sendo mais
frequentes aqueles relacionados ao setor privado (SHAH, 2004; SUNDARAMOORTHY e
KARINI, 2004; MARADEI JR., 2008; KÜPERS et al., 2008; LAWSON, 2009). Assim, a
representação e a análise da cadeia de suprimentos do Laboratório Farmacêutico da Marinha é
uma contribuição significativa para erigir subsídios para a formação de políticas públicas que
viabilizem o acesso aos medicamentos de maneira mais equânime.
Metodologia
Este estudo caracterizou-se por um misto entre pesquisa qualitativa e quantitativa.
A vertente qualitativa teve como preocupação central fazer uma representação do
relacionamento da empresa com seus fornecedores e clientes, e o impacto de algumas
políticas públicas sobre esta dinâmica. Foram considerados apenas os fornecedores de
insumos farmacêuticos ativos, por representarem a área que detêm o cerne na inovação no
setor farmacêutico, possuir o maior déficit da balança comercial entre os insumos
farmacêuticos e ser alvo de uma série de políticas públicas atuais.
A pesquisa quantitativa procurou reunir os dados relativos aos fluxos de entrada e saída
de materiais no período de 2006 a 2008, considerando os insumos adquiridos, a produção e a
venda neste período. Foram quantificados os dados das não-conformidades relatadas nos lotes
produzidos entre 2007 e 2008, período de início do funcionamento da nova planta produtiva.
Estes foram analisados utilizando a ferramenta FMEA, no intuito de priorizar as principais não-
conformidades.
Os dados utilizados foram obtidos a partir dos registros históricos dos processos
produtivos, das compras e das vendas. Em relação ao processo produtivo procurou-se obter os
dados relativos ao volume e ao perfil da produção do laboratório estudado. No quesito
compras, buscou-se mapear a origem dos insumos farmacêuticos ativos adquiridos pelo
laboratório neste período. Já em relação às vendas, optou-se por classificar os diferentes tipos
de clientes de acordo com a natureza jurídica e sua localização geográfica, além de analisar os
produtos segundo suas características, classificando de acordo com as listas dos componentes
da Assistência Farmacêutica. Todas as informações recolhidas nesta etapa do trabalho foram
5
consentidas pelo Laboratório Farmacêutico da Marinha, com completa anuência e supervisão
de seus comandantes durante o período da pesquisa.
Os dados foram trabalhados em planilhas eletrônicas e as representações foram feitas
com o auxílio do software Microsoft VISIO® 2007.
A fundamentação teórica foi realizada com pesquisa bibliográfica nos seguintes termos:
1. Pesquisa bibliográfica sobre o mercado farmacêutico brasileiro e o contexto dos
laboratórios farmacêuticos oficiais;
2. Pesquisa bibliográfica sobre o mercado nacional de insumos farmacêuticos, as políticas
de fomento atuais e sua relação com os laboratórios farmacêuticos oficiais;
3. Pesquisa bibliográfica sobre as políticas públicas recentes que exercem influência sobre
a cadeia de suprimentos dos laboratórios oficiais;
4. Pesquisa bibliográfica sobre cadeia de suprimentos, sua gestão, representação e as
singularidades da área farmacêutica;
5. Pesquisa bibliográfica sobre a regulamentação do setor e a relação da ANVISA com os
laboratórios farmacêuticos oficiais.
Limitações do Estudo
Considerando-se que, do ponto de vista ontológico, os modelos são construídos para
simplificar uma realidade, não se pretendeu adotar, neste trabalho, uma visão positivada de
que as representações expostas constituem a realidade em toda a sua plenitude.
Esta representação possui certas limitações, que devem ser observadas para a melhor
compreensão deste estudo:
• Quanto à dimensão temporal: as informações constantes nesta pesquisa estão
restritas ao período de 2006 a 2008, sendo que alguns poucos dados foram
contempladas a partir de 2004.
• Quanto à dimensão espacial: devido à acessibilidade das informações e à
facilidade de locomoção, somente um laboratório oficial foi estudado.
• A despeito de todos os materiais e serviços necessários para a operação deste
laboratório, este estudo limitou-se a analisar os Insumos Farmacêuticos Ativos,
por serem responsáveis pelo efeito farmacológico do medicamento e por
representarem o cerne da inovação nas indústrias farmacêuticas (BASTOS,
2006). Além de, atualmente, representarem um grande déficit na balança
comercial, um parque nacional incipiente e serem alvo de novas políticas
públicas que visam o desenvolvimento deste setor.
• Em relação às mudanças em curso na cadeia de suprimentos do laboratório
analisado, não foi possível obter maiores detalhes quantificáveis a respeito do
impacto nas operações, uma vez que no período de realização deste trabalho
tais mudanças ainda estavam em fase de implantação.
6
• Vale ressaltar ainda que, no período estudado, o este laboratório atravessava
um momento de produção atípica, devido à adequação aos requisitos de Boas
Práticas de Produção.
Estrutura do Trabalho
A presente dissertação está organizada em seis capítulos, além da introdução e
referências bibliográficas. No primeiro capítulo é traçada a evolução histórica das indústrias
farmacêuticas no País. Descrevem-se as principais características do setor e são mostradas
informações que confirmam a sua importância econômica e estratégica. Além disso, são
mostrados alguns instrumentos regulatórios e políticas públicas que atuam tanto do lado da
oferta quanto pelo lado da demanda, como a Política Nacional de Medicamentos e a Política de
Medicamentos Genéricos. Por fim, são apresentadas as características do processo produtivo
das indústrias farmacêuticas.
O capítulo II fornece uma visão da produção pública de medicamentos no Brasil, com a
descrição dos laboratórios oficiais, revelando o perfil e suas estruturas, bem como suas
contribuições frente aos programas de saúde do Governo. Apresenta-se ainda um panorama
do mercado farmoquímico brasileiro e sua relação com estes laboratórios.
No terceiro capítulo analisa-se o impacto de algumas políticas do Governo na cadeia de
suprimentos dos laboratórios oficiais, destacando-se os impactos da descentralização da
assistência farmacêutica do Sistema Único de Saúde e as políticas de fomento do setor
farmoquímico.
O capítulo IV aborda os conceitos relativos à Gestão da Cadeia de Suprimentos, que na
indústria farmacêutica representam um contexto interessante e transdisciplinar, uma vez que a
qualidade do produto, neste caso, se vincula diretamente à saúde humana, o que exprime a
importância de garantir essa qualidade. O capítulo é finalizado com a descrição de novas
fronteiras para a cadeia de suprimentos dos laboratórios oficiais, dentro das perspectivas de
Responsabilidade Social Corporativa, Teoria dos Stakeholders, Sustentabilidade e Avaliação
do Ciclo de Vida.
No quinto capítulo são apresentados e discutidos os resultados desta pesquisa.
Inicialmente são apresentadas algumas características gerais do laboratório estudado, seguido
do cenário observado após análises de dados históricos. Segue-se com uma apresentação
mais detalhada destes dados que foram divididos em três blocos: Fornecedores, Processo
Produtivo e Clientes. Após esta etapa, procurou-se mapear as mudanças em curso na cadeia
de suprimento deste laboratório, fruto de políticas públicas e investimentos na modernização do
parque produtivo.
Por fim, são apresentadas as conclusões e as perspectivas para trabalhos futuros.
7
Capitulo I – Panorama da Indústria Farmacêutica Brasileira
Considerações Iniciais
O presente capítulo está estruturado com o objetivo de apresentar um panorama da
indústria farmacêutica nacional. Um breve histórico do setor é apresentado (seção I.1), no
intuito de relatar algumas ações passadas que possibilitem compreender as características
atuais do setor farmacêutico brasileiro (seção I.2). Este cenário possui muitas semelhanças
com o modelo de desenvolvimento das indústrias farmacêuticas internacionais, e auxilia ao
entendimento do perfil econômico do setor (seção I.3), que, devido à essencialidade dos
medicamentos, é alvo de muitas regulamentações e políticas públicas, tais como a Política
Nacional de Medicamentos (seção I.4) e a Política de Medicamentos Genéricos (seção I.5).
São apresentados, ainda, neste capítulo, o perfil do processo produtivo destes
laboratórios (seção I.6) e a possibilidade de terceirização de etapas deste processo (seção
II.7).
Todas estas questões são importantes para a compreensão do cenário onde se situa a
cadeia de suprimentos dos laboratórios oficiais.
I.1 Histórico
A história da indústria farmacêutica no Brasil tem seus primórdios nas boticas coloniais
(séculos XVII e XVIII), que preparavam fórmulas e também vendiam produtos importados. As
boticas passaram a ser denominadas farmácias ao longo do século XIX, quando a profissão
farmacêutica começou a se institucionalizar na Europa e no Brasil. (FEBRAFARMA, 2007).
Nas primeiras décadas do século XX, indústrias de vários países da Europa e dos
Estados Unidos se instalaram no País (FEBRAFARMA, 2007). Entre 1900 e 1910 estas
empresas representavam apenas 2,1% de participação no mercado, enquanto em 1920
chegaram a 7,3% do faturamento. O panorama de predominância da indústria nacional no
mercado mudou pouco de 1920 para 1930, mas a porcentagem do faturamento das empresas
estrangeiras quase dobrou, passando para 13,6%. (CODETEC, 1988 apud REBOUÇAS,
1997). Esta participação cresceu consideravelmente nos anos seguintes, conforme
demonstrado pela Tabela I.1.
A literatura destaca alguns fatores que influenciaram este processo de crescimento da
participação estrangeira. FRENKEL et al. (1978), afirmam que:
“o desenvolvimento e a produção de medicamentos através de sínteses químicas (a partir de 1930) e, posteriormente, a introdução dos antibióticos (década de 1940) a partir dos trabalhos desenvolvidos nos centros de pesquisa estrangeiros implicaram numa radical transformação tecnológica na produção de medicamentos. A introdução destes novos produtos começou a exercer forte pressão competitiva sobre firmas nacionais no mercado brasileiro, que tiveram de enfrentar uma súbita obsolescência da maioria dos seus produtos.”
8
Tabela I.1 - Evolução da participação estrangeira no mercado farmacêutico brasileiro em nove
décadas do século XX. (Fonte: Cadernos CODETEC, 1988 apud REBOUÇAS,1997).
ANO Participação (%)
1900 2,1 1910 2,1
1920 7,3
1930 13,6
1940 33,5
1950 47,1
1960 73,3
1970 77,7
1980 82,7
O Estado brasileiro, segundo o que relata REBOUÇAS (1997), lançou nos anos
cinquenta uma agressiva política de industrialização com vistas à substituição de importações
de produtos farmacêuticos, estimulando a entrada de capital estrangeiro através de instalação
de subsidiárias e/ou associação com empresas nacionais. Segundo o autor: “esta política não
foi acompanhada por qualquer medida de estímulo aos produtores nacionais ou proteção frente
ao domínio tecnológico e porte financeiro das firmas estrangeiras.”
Assim, as empresas farmacêuticas estrangeiras realizavam atividades produtivas com
baixa relação capital/produto e baixo investimento, importando os principais insumos de síntese
de suas matrizes, com consequentes benefícios da plena utilização de suas capacidades
instaladas e da possibilidade de manuseio dos preços de transferência[2], gerando, com isso,
efeitos positivos sobre a lucratividade total da empresa. (BUCHLER, 2005; ISIDORO, 1999).
Na década de 60, diante dos sinais de crise do modelo desenvolvimentista de então e
da eclosão de um escândalo a respeito dos preços de importação dos insumos farmacêuticos,
praticados pelas firmas multinacionais, foi instalada no Congresso a primeira Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) envolvendo o setor:
“Nesse episódio, surgiram várias propostas, todas visando frear o processo de desnacionalização, tais como a necessidade de uma relação básica e prioritária de medicamentos, a reforma do Código de Propriedade Industrial com vistas ao não reconhecimento de patentes farmacêuticas e a criação de fundos para o financiamento de desenvolvimento tecnológico de empresas brasileiras do setor, unificação dos laboratórios oficiais em um único Laboratório Central de Medicamentos e a instituição do monopólio estatal de importação de matérias-primas para redistribuição aos laboratórios nacionais. Tais propostas, marcadas por uma franca influência das idéias nacional-desenvolvimentistas, no entanto, não surtiriam o efeito esperado naquele momento.” (BUCHLER, 2005).
2 Segundo a Receita Federal, o termo "preço de transferência" tem sido utilizado para identificar os controles a que estão sujeitos as operações comerciais ou financeiras realizadas entre partes relacionadas, sediadas em diferentes jurisdições tributárias, ou quando uma das partes está sediada em paraíso fiscal. Em razão das circunstâncias peculiares existentes nas operações realizadas entre essas pessoas, o preço praticado nessas operações pode ser artificialmente estipulado e, consequentemente, divergir do preço de mercado negociado por empresas independentes, em condições análogas. (BRASIL, 2010). A CPI dos Medicamentos identificou este mecanismo como uma “forma de transferência ilegal de lucros para o exterior”. (BRASIL, 2000a).
9
BUCHLER (2005) relata ainda que apenas algumas propostas geraram efeitos práticos
nos anos seguintes, com destaque para criação da Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais (RENAME) e da Central de Medicamentos.
BERMUDEZ e POSSAS (1995) consideram que a primeira relação básica e prioritária
de medicamentos no Brasil surgiu com a publicação do decreto nº 53.612, de 26 de fevereiro
de 1964 (BRASIL, 1964). Esta norma, ao mesmo tempo em que estabelecia a relação básica
de medicamentos, tornava obrigatória, para os órgãos governamentais, a aquisição exclusiva
destes medicamentos, preferencialmente em laboratórios públicos e privados de capital
nacional.
Em 1971, houve a primeira revisão da lista divulgada pelo decreto nº 53.612/64, que
passou a ser chamada de Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (PEPE et al., 2008).
O conceito de medicamentos essenciais, segundo a Organização Mundial de Saúde, aplica-se
aos medicamentos que satisfazem as necessidades prioritárias de saúde da população. (WHO,
2009).
Nesta mesma década foi criada a Central de Medicamentos (CEME), com o projeto de
estabelecer uma ampla política para a área farmacêutica que incluísse não apenas um
programa de assistência farmacêutica, mas concomitantemente, o desenvolvimento da
indústria nacional de insumos farmacêuticos, tendo em vista os medicamentos considerados
essenciais. (PEPE et al., 2008).
Entretanto, com o tempo, a CEME foi perdendo a força de política industrial para o
desenvolvimento do setor e ganhando cada vez mais características assistencialistas,
conforme relata SANTOS (1996). A despeito deste cenário, o autor assegura que a CEME
conseguiu, ao longo de sua existência, provocar um constante debate a respeito da
dependência e da capacitação interna do setor farmacêutico de modo a interferir ou influenciar
nos rumos das políticas públicas brasileiras, permitindo-se afirmar que “se algum avanço houve
na capacitação interna, a CEME deu uma importante contribuição.”
Todas estas medidas foram tomadas para fortalecer o parque farmacêutico nacional.
Porém, a década de 90 foi de intensa crise. A CEME, com financiamento diminuído e ações
praticamente restritas à aquisição e à distribuição de medicamentos, não teve condições de
manter a cobertura da demanda para o já então Sistema Único de Saúde (SUS). Passou a
funcionar como um instrumento de racionalização financeira, na compra de medicamentos para
os programas ministeriais, deixando de ser orientadora da política para o setor. Após a
divulgação dos resultados de investigações sobre corrupção e de desvio de verbas públicas,
ocorreu, em 1997, a extinção da CEME. (PEPE et al., 2008).
Outra questão pertinente na década de 90, que causou impacto no mercado nacional de
medicamentos, foi a harmonização da lei de propriedade industrial aos ditames do acordo
sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS), o que levou a
10
promulgação da “Nova Lei de Propriedade Industrial”, Lei nº 9.279/96 (BRASIL, 1996). Este
dispositivo legal passou a permitir a concessão de patentes de produtos e processos
farmacêuticos.
Segundo o relatório do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva Farmacêutica,
organizado pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as
medidas adotadas ao longo da década de 1990, como a abertura econômica, a eliminação do
controle de preços e a adoção de patentes para produtos e processos, beneficiaram
principalmente o segmento farmacêutico importador, com fortes prejuízos para o mercado
interno, principalmente o setor farmoquímico. Este relatório afirma que “essas mudanças no
mercado não promoveram maior competição no setor, não fortaleceram o setor produtivo
brasileiro, nem aumentaram o acesso da população a medicamentos, pelo contrário, a maioria
dos ganhos foi apropriada pelas empresas estrangeiras.” Em 1990, 3% do consumo brasileiro
de medicamentos prontos eram importados. Em 2004 esse percentual atingiu 40%. (BRASIL,
2006).
A consolidação desse quadro provocou, em 1998, a criação de uma nova Comissão
Parlamentar de Inquérito na área farmacêutica, que ficou conhecida como CPI dos
Medicamentos. Esta CPI, na conclusão de sua investigação, alertou ao Governo sobre a
necessidade de adotar medidas urgentes que resultassem no enfrentamento da questão.
(BRASIL, 2000a).
Ao mesmo tempo e em consequência dos relatórios desta CPI, um conjunto de medidas
começou a ser adotada pelo Governo, entre as quais pode-se destacar:
• Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), entidade vinculada ao
Ministério da Saúde, criada pela Lei 9.782, de 26 de janeiro de 1999, que tem como
competência promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle
sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à
vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das
tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras;
• Regulamentação dos Medicamentos Genéricos, com a publicação da Lei nº 9.787, de 10
de fevereiro de 1999 (BRASIL, 1999);
• Criação de Câmara de Medicamentos (Camed), em 2000, que passou a se chamar
Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), em 2003. Esta câmara
tem a função de definir normas de regulação para o mercado de medicamentos e
reajustes de preços;
• A Instalação em maio de 2003 do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva
Farmacêutica, sob a coordenação dos ministérios do Desenvolvimento Indústria e
Comércio Exterior e da Saúde. Seu principal objetivo foi fortalecer a cadeia produtiva
farmacêutica, por meio da identificação e proposição de medidas que possibilitassem
11
seu aprimoramento frente aos desafios impostos pelas novas demandas sanitárias e
avanços tecnológicos e industriais.
• Lançamento, em 2004, da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
(PITCE), estabelecendo como estratégico para a soberania Nacional o setor de
fármacos e medicamentos. Essa política tinha como objetivo o aumento da eficiência
econômica e do desenvolvimento e difusão de tecnologias com maior potencial de
indução do nível de atividade e de competição no comércio internacional. Seu foco
contemplava o aumento da eficiência da estrutura produtiva, aumento da capacidade de
inovação das empresas brasileiras e expansão das exportações.
• Estabelecimento, em 2004, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia
Produtiva Farmacêutica (Profarma), pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), como instrumento da PITCE. Em 2007, o BNDES
aprovou a ampliação do Profarma, que passou a ter maior abrangência, conciliando a
PITCE com a Política Nacional de Medicamentos. Na ocasião o programa passou a se
chamar: Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde.
Estas medidas alteraram o cenário farmacêutico nacional, repercutindo fortemente
sobre a cadeia produtiva farmacêutica, com impactos na cadeia de suprimento dos laboratórios
oficiais.
I.2 Características do Setor
O medicamento é um produto diferenciado, ele pode aliviar a dor e salvar vidas. Possui
ainda características mercadológicas diferentes de outros produtos manufaturados, integrando
um mercado em que praticamente não existe concorrência de escala entre os produtores. A
especificidade da concorrência no setor farmacêutico baseia-se na diferenciação do produto,
calcada no investimento continuado e de grande porte em atividades de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) e de marketing. (GADELHA et al., 2003).
Os medicamentos com ação farmacodinâmica similar, isto é, eficazes no tratamento de
determinada enfermidade, são frequentemente agrupados em classes terapêuticas (ex. Anti-
hipertensivos - Vasodilatadores). Dessa forma, em cada classe terapêutica os produtos variam
de acordo com o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) utilizado (ex. Captopril, Enalapril, Lisinopril),
além da grande diversidade nas formas de apresentação do medicamento, obtida através da
disponibilização de diferentes dosagens (ex. Captopril 12,5mg, Captopril 25mg e Captopril
50mg), formas farmacêuticas variadas (comprimidos, cápsulas, etc.), embalagens com
diferentes quantidades (Captopril 12,5mg apresentados em cartuchos com 15 ou 30
comprimidos) e associação com outros IFA, gerando uma miríade de apresentações distintas
ao consumidor final, dificultando a escolha racional do produto. (Figura I.1).
12
Figura I.1 - Diversidade de apresentações de medicamentos. (Fonte: Adaptado de KÜPERS et al., 2008).
Devido à essencialidade do medicamento para a saúde, ao seu baixo grau de
substituição e aos agentes envolvidos, a demanda da indústria farmacêutica apresenta
características específicas em relação a outros produtos. Do ponto de vista da elasticidade,
pode-se dizer que a demanda por medicamentos apresenta comportamento diferenciado entre
os grupos de renda da população, existindo, desta forma, três tipos de demanda: a dos grupos
de consumidores com renda superior, a dos grupos intermediários e a dos grupos de renda
baixa. (NEPP, 2000).
Segundo o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da UNICAMP, para os
estratos populacionais superiores de renda, o preço pouco influencia no consumo. Para os
grupos intermediários, a elasticidade-preço é significativa e pode influenciar a qualidade do
tratamento do paciente. Isto porque o paciente incorre no que se denomina uso parcial dos
medicamentos, comprando aqueles que julga mais importantes, ou porque incorre no ciclo do
uso intermitente, em que o consumo é interrompido após os primeiros sinais de melhoria. Já
para o grupo de renda mais baixa, os preços praticamente não influenciam o consumo, pois
mesmo havendo uma queda significativa dos preços, o nível de renda é tão baixo que torna o
consumo difícil. Desta forma, tem-se que a demanda por medicamentos entre os diferentes
grupos de renda é extremamente elástica à renda e inelástica ao preço, o que se justifica,
ainda, pela essencialidade do produto e da reduzida possibilidade de substituição. (NEPP,
2000).
Uma das principais características do mercado farmacêutico global é a concentração
em grandes mercados com a participação de número reduzido de empresas. Em 2004, cerca
de 100 companhias de grande porte eram responsáveis por cerca de 90% dos produtos
farmacêuticos para consumo humano. (BARROS, 2004).
13
I.3 A Dimensão Econômica do Setor
Segundo o relatório de Contas-Satélite de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), divulgado em dezembro de 2009, o consumo de bens e serviços de saúde,
em 2007, representou 8,4% do PIB. A despesa das famílias nesta área chegou a R$ 128,9
bilhões (4,8% do PIB), dos quais R$ 69 bilhões representaram gastos com serviços de saúde e
R$ 45 bilhões com medicamentos. (IBGE, 2009).
As despesas do governo na área da saúde cresceram de 3,3% para 3,5% do PIB, entre
2005 e 2007. As despesas com medicamentos para distribuição gratuita corresponderam a
5,1% do total da administração pública, correspondendo a R$ 4,7 bilhões, em 2007. Ano no
qual as atividades de saúde responderam por 4,2 milhões de postos de trabalho no País (4,4%
do total da economia). (IBGE, 2009).
Entre 2005 e 2007, as importações de bens e serviços de saúde responderam, em
média, por 3,9% do total de importações do País. Nesse período, as exportações do setor
foram, em média, responsáveis por 0,6% das exportações brasileiras. (IBGE, 2009).
Em relação à balança comercial dos medicamentos, os dados da Associação Brasileira
da Indústria Farmoquímica (ABIQUIF), indicam um déficit crescente, chegando em 2008 ao
valor de US$ FOB 3,06 bilhões, que corresponde a um aumento de 95% em relação a 2005.
(ABIQUIF, 2009).
Estes dados enfatizam a relevância do setor de saúde na economia do país. GADELHA
(2003a) defende a necessidade de investimentos nas indústrias produtoras de produtos e
insumos para a saúde como parte da estratégia nacional de desenvolvimento.
Neste contexto, GADELHA (2003a) representa os atores do setor de saúde, através do
conceito de Complexo Industrial da Saúde (CIS), conforme apresentado na Figura I.2,
defendendo a necessidade de fortalecimento das Indústrias Produtoras de Bens,
representadas no quadrante superior, como sendo estratégica para o desenvolvimento do País
e a geração de emprego, além de serem responsáveis pelo suprimento dos Setores
Prestadores de Serviço.
14
Figura I.2 – Representação esquemática do complexo industrial da saúde. (Fonte: Gadelha, 2003).
Esta representação fornece uma visão macro do setor de saúde, auxiliando na
visualização de sua abrangência, haja vista a relevância na economia nacional e internacional,
onde ocupa a 9ª posição no ranking de faturamento no mercado farmacêutico mundial (Tabela
I.2), representando o maior mercado da América Latina, segundo dados de 2008, divulgados
pela Intercontinental Medical Statistics Inc. (IMS Health). (IMS Health, 2009).
Tabela I.2 - Faturamento do mercado farmacêutico mundial. (Fonte: IMS Health, 2009).
País US$ Bilhões
Estados Unidos 208,7 Japão 66,7
Alemanha 35,2
França 30,7
Itália 17,2
Canadá 16,8
Inglaterra 16,0
Espanha 15,3
Brasil 12,5
México 8,6
Este quadro tem aumentado o interesse das empresas multinacionais farmacêuticas
sobre o mercado brasileiro, o que tem fomentado os processos de aquisição e fusão, iniciados
na década de 80, que caracterizam o setor farmacêutico e acarretaram formação de oligopólios
que permanecem na economia. Assim, segundo o Instituto de Pesquisa Tecnológica do Estado
15
de São Paulo (IPT, 2008) e MAGALHÃES (2007), as 10 principais empresas farmacêuticas
detêm em torno de 44% do Market Share brasileiro. Se forem consideradas as 50 principais
empresas, elas representam aproximadamente 91% do mercado nacional, ficando 9% para as
6.081 restantes do setor.
A Figura I.3 apresenta a evolução do mercado farmacêutico nacional no período de
1997 a 2008. Observa-se uma fraca oscilação nas vendas em dólar entre 2001 e 2003,
provavelmente em razão da variação da taxa de câmbio, contudo, imediatamente há uma
retomada no crescimento do mercado até o ano de 2008.
Figura I.3 - Vendas nominais de medicamentos no mercado farmacêutico brasileiro. (Fonte: GRUPEMEF
e FEBRAFARMA).
Embora o número de unidades farmacêuticas vendidas no período tenha variado pouco,
o faturamento da indústria em reais apresenta um crescimento contínuo. As vendas nominais
em 2008 foram 334% superiores às registradas no ano de 1997, o que pode ser atribuído ao
aumento no preço dos medicamentos. Vale ressaltar que este gráfico apresenta o perfil do
mercado farmacêutico após o início da vigência da Lei de Propriedade Intelectual, em 1997.
O gráfico da Figura I.4 apresenta a evolução das vendas nominais de medicamentos no
período de 1997 a 2008, permitindo uma melhor visualização da oscilação do mercado
farmacêutico nacional. Foi efetuada a normalização dos dados tendo o ano de 1997 como
referência (100%), para o cálculo da variação dos demais anos. Ao longo dos anos observa-se
um aumento do faturamento das empresas sem reflexão sobre o número de unidades
farmacêuticas vendidas.
16
Figura I.4 - Índice da evolução das vendas nominais em reais (R$), dólares (US$) e unidades. (Fonte:
FEBRAFARMA).
Este cenário ilustra a importância deste setor na economia nacional, e, torna-se
necessário para o enquadramento dos tópicos que serão abordados neste trabalho, em
especial o papel dos laboratórios oficiais no contexto estudado.
I.4 Política Nacional de Medicamentos
Para a Organização Mundial de Saúde, uma política nacional de medicamentos é um
compromisso com um objetivo e um guia de ação. Expressa e prioriza as metas estabelecidas
pelo governo, a médio e longo prazo, para o setor farmacêutico e identifica as estratégias
principais a serem alcançadas. Ela proporciona os limites dentro dos quais se podem
coordenar as atividades do setor farmacêutico. Abrange setores tanto públicos quanto privados
e se aplica a todos os protagonistas no âmbito farmacêutico. (WHO, 2003).
A Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90) estabelece no art. 6º que o SUS deve
executar ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, sendo necessário,
para isso, “a formulação da política de medicamentos de interesse da saúde.”
O acesso ao medicamento, entendido como bem de saúde, é em nosso País garantido
constitucionalmente. Não obstante, ele ainda se constitui em um dos maiores gastos que a
população tem com saúde, especialmente a de menor renda, conforme demonstrado por
SANTOS (2001).
A Política Nacional de Medicamentos (PNM) foi promulgada, em 12 de outubro de 1998,
por meio da Portaria nº 3.916 (BRASIL, 1998), tem por objetivo garantir o acesso aos
medicamentos considerados essenciais a toda a população brasileira. Com ela, o Ministério da
Saúde buscava ampliar e diversificar os serviços prestados no âmbito do SUS e atender
demandas derivadas, entre outras razões, pelo envelhecimento populacional e por pressões da
17
sociedade civil pelo cumprimento do dispositivo constitucional que assegura o direito universal
à saúde. (BRASIL, 1998).
A PNM está sustentada em três pilares fundamentais: garantir a necessária segurança,
eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do seu uso racional e o acesso da
população àqueles considerados essenciais. Para atingir estes propósitos precípuos a PNM
possui as seguintes diretrizes:
• Adoção da Relação de Medicamentos Essenciais
• Regulação Sanitária de Medicamentos
• Reorientação da Assistência Farmacêutica
• Promoção do Uso Racional de Medicamentos
• Desenvolvimento Científico e Tecnológico
• Promoção da Produção de Medicamentos
• Garantia da Segurança, Eficácia e Qualidade dos Medicamentos
• Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos
Segundo a norma, estas diretrizes comportam um conjunto de prioridades que
configuram as bases da PNM, tais como:
• Revisão Permanente da RENAME
• Assistência Farmacêutica
• Promoção do Uso Racional de Medicamentos
• Organização das Atividades de Vigilância Sanitária de Medicamentos
Assim, busca-se, através da PNM, assegurar o acesso da população a medicamentos
seguros, eficazes e de qualidade, ao menor custo possível, utilizando a produção dos
laboratórios oficiais como um auxílio para atingir esse objetivo.
I.5 Medicamentos Genéricos
A política de medicamentos genéricos foi implementada no Brasil em 1999, com a
edição da Lei 9.787, de 10 de fevereiro, que regulariza a vigilância sanitária a que está sujeita
estes medicamentos. De acordo com esta legislação, o medicamento genérico é definido
como:
“medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que se pretende ser com ele intercambiável, geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, deve ter comprovada sua eficácia, segurança e qualidade e ser designado pela Denominação Comum Brasileira (DCB) ou, na sua ausência, pela Denominação Comum Internacional (DCI).” (BRASIL, 1999).
A entrada do medicamento genérico no mercado brasileiro trouxe novas perspectivas
para o setor, conforme relatado por ABREU (2004), tais como: incremento da competitividade
18
das empresas nacionais, oferta de alternativas terapêuticas mais econômicas, redução em
30% dos preços para população, otimização dos gastos públicos na aquisição de
medicamentos, bem como fomento da produção nacional de medicamentos.
Desde a abertura da comercialização de medicamentos genéricos no Brasil, o número
de registro destes produtos na ANVISA tem crescido significativamente, conforme apresentado
na Figura I.5, chegando a 2.867 medicamentos genéricos registrados até o final de 2009, que
perfazem um total de 15.672 apresentações, assegurando, assim, um leque maior de opções à
população e a classe médica. (ANVISA, 2010).
Figura I.5 - Evolução dos registros de medicamentos genéricos, no período de 2000 a 2009. (Fonte:
ANVISA, 2010).
Dados da ANVISA dão conta de que aproximadamente 90% dos medicamentos
genéricos registrados até o final de 2009, que correspondem a 2.568 produtos, pertencem à
indústria farmacêutica nacional, enquanto que os 10% restantes (299 produtos) são fornecidos
pelas empresas estrangeiras, conforme apresentado na Figura I.6. Esta agência informa que o
Brasil possui 91 laboratórios farmacêuticos que produzem medicamentos genéricos, utilizando
342 insumos farmacêuticos ativos diferentes, abrangendo 107 classes terapêuticas. (ANVISA,
2010).
19
Figura I.6 - Número de registro de medicamentos genéricos por país de origem do produto. (Fonte:
Adaptado de ANVISA, 2010).
A intercambialidade com o medicamento de referência, prevista na legislação, é
garantida pela ANVISA mediante uma série de critérios exigidos para o registro de
medicamentos genéricos. Estes foram definidos por meio da Resolução da Diretoria Colegiada
(RDC) Nº 16, de 02 de março de 2007 (BRASIL, 2007) e abordam questões como:
• A necessidade de Certificado de Boas Práticas de Fabricação para a linha de
produção na qual o medicamento, objeto de registro, será fabricado.
• Estudos de estabilidade[3].
• Relatório de biodisponibilidade.
• Relatório do estudo de equivalência farmacêutica.
Cabe salientar que esta resolução especifica que no registro da composição do
medicamento genérico a ser fabricado é exigida a indicação da origem dos insumos
farmacêuticos ativos, sendo aceito no máximo três fabricantes, independente do número de
locais de fabricação do medicamento (BRASIL, 2007). Esta questão é particularmente
problemática para os laboratórios oficiais, como será apresentado no capítulo II, pois toda
aquisição de matérias primas é realizada segundo a Lei das Licitações, que além de defender a
participação do maior número possível de concorrentes, prioriza a proposta com menor preço.
I.6 Processo Produtivo
A produção de medicamentos envolve quatro estágios principais: pesquisa e
desenvolvimento (P&D) de novos insumos farmacêuticos ativos (IFA), produção industrial
destes, formulação e processamento final de medicamentos, comercialização e distribuição à 3 A estabilidade de produtos farmacêuticos depende de fatores ambientais como temperatura, umidade e luz, e de outros relacionados ao próprio produto como propriedades físicas e químicas dos insumos farmacêuticos ativos e adjuvantes farmacotécnicos, forma farmacêutica e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades dos materiais de embalagem. Os estudos para determinar a estabilidade de um medicamento e, consequentemente, o seu prazo de validade, devem seguir os parâmetros preconizados pela ANVISA por meio da RE nº1, de 29 de julho de 2005.
20
população por intermédio de varejistas, farmácias e unidades prestadoras de serviços de
saúde. (FRENKEL et al., 1978).
A pesquisa e o desenvolvimento compreendem as atividades e o conjunto de
conhecimentos necessários para a síntese química ou extração a partir de produtos naturais,
de substâncias que apresentem atividades farmacológicas que atendam a moléstias ou
sintomas de doenças existentes em seres vivos e o estabelecimento das condições em que
estas substâncias podem ser utilizadas com eficácia e segurança. São consideradas insumos
farmacêuticos ativos (IFA), também chamadas de fármacos. O estabelecimento das condições
em que estes insumos farmacêuticos ativos são obtidos na escala e condições necessárias
que permitam uma produção industrial de medicamentos, constitui o segundo estágio
envolvendo não só institutos de pesquisa como também as indústrias farmoquimica e de
obtenção de extratos vegetais.
A indústria farmacêutica é uma indústria de transformação. Nela são obtidas as formas
farmacêuticas, ou seja, o “estado final de apresentação que os princípios ativos farmacêuticos
possuem após uma ou mais operações farmacêuticas executadas com ou sem a adição de
excipientes apropriados, a fim de facilitar a sua utilização e obter o efeito terapêutico desejado,
com características apropriadas a uma determinada via de administração” (ANVISA, 2009a).
Dependendo da necessidade terapêutica de cada enfermidade, e de determinada classe de
pacientes, são desenvolvidas formas farmacêuticas específicas. Com este fim são
desenvolvidas as formulações padrão que indicarão as matérias-primas e os materiais de
embalagem com as suas quantidades, juntamente com a descrição dos procedimentos e
precauções necessárias para a produção de determinada quantidade do medicamento
terminado. Nesta etapa de formulação também são preparadas as instruções sobre o
processamento, inclusive os detalhes específicos sobre controles em processo.
O processamento final é considerado a produção em si do medicamento, abrangendo a
preparação da forma farmacêutica, com todas as etapas de controles de processo e qualidade
que se fazem necessárias à segurança do produto, bem como a embalagem, armazenagem e
distribuição nas condições indispensáveis para a estabilidade do produto. Vale lembrar que um
mesmo IFA poderá apresentar-se em diversas formas farmacêuticas, comprimidos, cápsulas,
suspensões, soluções injetáveis, xaropes, pomadas, cremes, necessitando em cada uma delas
de condições de armazenagem e administração específicas. Por fim, tem-se a última etapa,
responsável pela distribuição e comercialização do produto.
A separação em quatro estágios produtivos tem correlação com a evolução da indústria
em termos mundiais, de modo que nos países desenvolvidos tais estágios coexistem de forma
integrada, enquanto que nos países em via de desenvolvimento as empresas geralmente
operam nos dois últimos estágios do processo produtivo, apresentando, geralmente, alta
dependência da importação de insumos farmacêuticos. (REBOUÇAS, 1997).
21
Segundo a ANVISA (2006), os insumos farmacêuticos utilizados no Brasil quase
sempre são de origem externa e, ao chegarem ao País, passam por diversas e delicadas
etapas como o fracionamento e a distribuição para as indústrias e farmácias com manipulação,
para só então serem utilizados no processo produtivo.
Desta forma, para que o consumidor tenha disponível um medicamento dentro de
padrões de qualidade, segurança e efetividade exigidos, uma série de cuidados é necessária,
desde a qualidade dos insumos, passando pelo processo produtivo até as condições durante
sua distribuição, armazenamento e comercialização.
As características singulares do medicamento conferem a este produto uma carga
regulatória elevada, no intuito de garantir a sua qualidade. Em relação à produção, a ANVISA
define os critérios sanitários estabelecidos pelas Boas Práticas de Fabricação (BPF),
regulamentada para indústrias farmacêuticas pela RDC nº 210, de 04 de agosto de 2003
(BRASIL, 2003a).
As BPF são componentes da garantia da qualidade e asseguram a produção de
medicamentos de forma consistente e com padrões de qualidade apropriados para o uso
pretendido e requerido pelo registro. O cumprimento das BPF está direcionado, primeiramente,
a diminuição dos riscos inerentes a qualquer produção farmacêutica.
Para atender às especificações das BPF, os produtores de medicamentos devem se
preocupar com todas as etapas de produção, desde instalações físicas que permitam a
obtenção de processos bem dimensionados, evitando-se refluxos e possibilidade de
contaminações cruzadas, até as especificações dos insumos farmacêuticos utilizados na
produção, e a qualificação dos seus fornecedores. Em síntese, o fabricante deve apresentar
formulações bem definidas e compatíveis, sob o ponto de vista físico-químico e farmacológico,
advindas de desenvolvimento farmacotécnico cuidadoso, validação dos processos produtivos,
comprovando reprodutibilidade dos lotes fabricados, e validação dos métodos analíticos
específicos para a análise dos produtos e materiais utilizados no processo.
O órgão sanitário competente realiza uma auditoria bianual (inspeção sanitária) para
comprovar o cumprimento das BPF. O fabricante que atender aos requisitos recebe um
Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF), que é específico para cada linha de
produção.
Os laboratórios oficiais produzem principalmente medicamentos sob a forma
farmacêutica de sólidos (GOMES et al., 2008), que abrange comprimidos e cápsulas, sendo
esta linha de produção responsável por 90% da produção do Laboratório Farmacêutico da
Marinha, durante o período estudado.
Previamente ao início do processo de produção de um medicamento, as indústrias
devem selecionar e qualificar os fornecedores de insumos farmacêuticos e material de
embalagem (BRASIL, 2003a). Após seu recebimento, estes produtos são amostrados e
22
segregados em uma área de quarentena, onde permanecem até o término das análises do
controle de qualidade. Em caso de aprovação, os produtos são encaminhados para a área de
estoque e, caso os resultados analíticos não tenham sido satisfatórios, ocorre a devolução do
produto aos seus produtores ou distribuidores.
O processo de produção de um medicamento inicia-se quando o setor de Planejamento
e Controle da Produção de uma indústria verifica a necessidade da sua produção seja por
demanda iniciada por reposição de estoques seja por encomenda específica, faz a
programação da utilização de linhas de fabricação e emite a ordem de produção. A ordem de
produção só pode ser emitida após a aprovação de todos os insumos envolvidos na formulação
pelo controle de qualidade. Segue-se, então, a separação e a pesagem das matérias-primas,
que são encaminhadas para a etapa de manipulação.
A via oral é a mais comumente utilizada para a administração de fármacos e, dentre as
várias formas farmacêuticas de administração oral, os comprimidos são as de mais amplo
emprego. Grande parte da produção de medicamentos no Laboratório Farmacêutico da
Marinha, durante o período de estudo, correspondeu a comprimidos. A fabricação de um
comprimido pode ser processada de duas maneiras: produção de comprimidos por
compressão direta, também conhecido como produção por via seca, (Figura I.7) e produção de
comprimidos com granulação prévia, produção por via úmida (Figura I.8).
A produção de comprimidos por compressão direta (via seca) é um processo mais
simples por envolver um menor número de etapas prévias à compressão, reduzindo o tempo
de produção e os custos. Nela os componentes da formulação em pós são tamisados,
misturados, sofrendo, então, uma análise intermediária de controle de processo onde se
verifica a uniformidade da mistura. Atendendo às condições necessárias para a produção a
mistura recebe a adição de pós lubrificantes seguindo para a etapa de compressão (Figura I.7).
Na produção de comprimidos com granulação prévia, ou seja, por via úmida (Figura
I.8), os componentes da formulação no estado de pós são tamisados, misturados e
umedecidos com solução aglutinante, para, em seguida, serem granulados através da
passagem da massa formada por placas crivadas. Segue-se com a secagem deste granulado
em grandes estufas que necessitam de controle preciso da temperatura de modo na não alterar
as características químicas e físico-químicas da mistura. Uma vez seco, o granulado sofre um
processo de calibração para a obtenção de grãos de tamanhos uniformes, sendo, então
adicionado um ou mais lubrificantes na forma de pós que possibilitem o bom andamento da
etapa de compressão (PRISTA, 2008). A escolha da via de produção depende principalmente
das características do insumo farmacêutico ativo, sendo determinada na etapa de
desenvolvimento da formulação.
23
Figura I.7 – Etapas da produção de comprimidos por compressão direta (via seca).
24
Figura I.8 – Etapas da produção de comprimidos com granulação prévia (via úmida)..
25
Todas as etapas descritas para a obtenção de comprimidos quer pela via seca, quer
pela via úmida, possuem parâmetros previamente estabelecidos que são analisados durante o
controle de processo. Uma vez finalizada a produção do comprimido este é encaminhado para
a etapa de embalagem, onde será acondicionado primeiramente em blísteres (embalagem
primária) e posteriormente em caixas (embalagem secundária), juntamente com a bula do
medicamento, que deve atender a todas as especificações legais quanto às informações
indispensáveis para a correta utilização do medicamento pelo seu usuário.
A qualidade do medicamento que será consumido pela população é influenciada por
todas as etapas de produção que, por sua vez, dependem da qualidade dos insumos utilizados.
Desta forma, a gestão da produção e da cadeia de suprimentos nestes laboratórios, são pontos
fundamentais para assegurar a entrada de insumos de qualidade e atender o objetivo de
propiciar o acesso da população a medicamentos seguros, eficazes e de qualidade.
I.7 Terceirização da Produção
A terceirização é uma prática de flexibilidade organizacional na busca de especialização
e racionalização de recursos, definida por GIOSA (1997) como “um processo de gestão pelo
qual se repassam algumas atividades para terceiros, com os quais se estabelece uma relação
de parceria, ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao
negócio em que atua.”
A terceirização na indústria farmacêutica é entendida como a prestação de serviços de
terceiros para a execução de etapas de produção, análises de controle de qualidade ou
armazenamento de produtos farmacêuticos. (BRASIL, 2007b).
COSTA et al. (2008) consideram a terceirização um procedimento corriqueiro nas
indústrias farmacêuticas, sendo as principais causas, segundo MELO (2005), a falta de
equipamentos com tecnologia adequada e a demanda maior que a capacidade produtiva.
A ANVISA por meio da resolução RDC nº 25/2007 (BRASIL, 2007b), regulamentou as
condições para que empresas produtoras de medicamentos terceirizem etapas da produção no
território nacional. A terceirização deve ser firmada por meio de contrato que deve definir com
clareza as etapas de produção, as análises de controle de qualidade ou o armazenamento de
medicamentos, assim como, qualquer aspecto técnico e operacional acordado a respeito do
objeto do contrato. Desta forma, só é permitida para produtos com registro vigente na ANVISA
(BRASIL, 2007b). A norma afirma ainda que:
“A contratada deve possuir instalações, equipamentos, conhecimento adequado, além de experiência e pessoal competente para desempenhar satisfatoriamente o serviço solicitado pelo contratante, atendendo os requisitos estabelecidos nos Regulamentos Técnicos correspondentes.”
26
Uma das principais exigências da norma trata da necessidade das partes possuírem o
Certificado de Boas Práticas de Fabricação. Assim, a conquista desta certificação abre a
possibilidade de um laboratório absorver esse tipo de serviço.
27
Capítulo II – Produção Pública de Medicamentos no Brasil
Considerações Iniciais
No presente capítulo procura-se apresentar o perfil da produção pública de
medicamentos no Brasil, sendo esta, parte integrante do Sistema Único de Saúde e primordial
para a sustentação das políticas públicas governamentais na área da saúde.
Inicialmente apresenta-se um panorama dos laboratórios oficiais (seção II.1),
presentes desde a época imperial, seguindo com a demonstração da importância destes
laboratórios para o SUS (seção II.2) e a sua atuação em rede (seção II.3). Abordam-se, ainda,
os investimentos realizados pelo governo para modernização e ampliação do parque fabril
oficial (seção II.4).
O fato de serem unidades produtivas públicas e estarem sujeitas ao processo
licitatório, levanta algumas questões importantes do ponto de vista da Gestão da Produção,
como a qualidade dos insumos farmacêuticos ativos adquiridos. Neste sentido, é importante
considerar as características e a situação atual do mercado farmoquímico nacional (seção II.5),
dada sua importância estratégica pela direta correlação da qualidade dos insumos
farmacêuticos com a qualidade do processo produtivo (seção II.6).
Torna-se, ainda, necessário para o entendimento do presente capítulo, esclarecer que o
termo “farmoquímico” é utilizado, eventualmente, por entidades representativas do setor, como
a Associação Brasileira das Indústrias Farmoquímicas (ABIQUIF), como sinônimo de “Insumo
Farmacêutico Ativo”. Neste trabalho o termo “Insumo Farmacêutico” será utilizado segundo o
significado disponível no glossário da ANVISA, que se refere ao “conjunto de substâncias
ativas ou inativas que são empregadas na produção de produtos farmacêuticos.” (ANVISA,
2009a).
Entende-se por “substâncias ativas” os produtos químicos (incluindo os bioquímicos)
que apresentam atividade farmacológica. São, portanto, considerados Insumos Farmacêuticos
Ativos (IFA), também conhecidos como Fármacos ou ainda Princípios Ativos. Já as outras
substâncias que são adicionadas ao medicamento, mas não possuem atividade farmacológica
(inativas), são conhecidas como Adjuvantes Farmacotécnicos.
Desta forma, insumo farmacêutico, segundo o Decreto 79.094/77 (BRASIL, 1977), é a
droga ou matéria-prima aditiva ou complementar de qualquer natureza, destinada ao emprego
em medicamentos.
II.1 Os Laboratórios Oficiais
O Brasil possui um parque de laboratórios públicos, de abrangência nacional, voltado
para a produção de medicamentos primordialmente destinados aos programas de saúde
pública em assistência farmacêutica. Estes laboratórios são também conhecidos como
laboratórios oficiais.
28
O primeiro laboratório público de produção de medicamento surgiu ainda na época do
império, a partir da necessidade de se organizar um serviço de saúde que pudesse assistir às
tropas do exército real, bem como toda a corte. Foi criado por D. João VI, em 21 de maio de
1808, com o nome de Botica Real Militar, sendo denominado atualmente Laboratório Químico
Farmacêutico do Exército. (LQFEx, 2009).
Os laboratórios oficiais desempenham um papel estratégico na garantia do acesso da
população brasileira aos medicamentos essenciais e são imprescindíveis ao fornecimento de
medicamentos para as doenças negligenciadas (tuberculose, malária, doença de Chagas, etc.),
que atraem pouco interesse da indústria farmacêutica privada. (BRASIL, 2007a).
Esses laboratórios possuem uma entidade representativa denominada Associação dos
Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (ALFOB), que é uma sociedade civil, privada,
sem fins lucrativos, criada com a missão de “coordenar e promover os interesses dos
Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil, visando à ampliação do acesso aos
medicamentos no âmbito do SUS”. Segundo seu Estatuto, dentre os objetivos da ALFOB
constam: defender e representar os interesses de seus associados junto aos poderes públicos,
a entidades e associações dos setores governamentais e particulares e a seus respectivos
órgãos relacionados aos laboratórios farmacêuticos oficiais; estimular a modernização técnica
e administrativa da rede de laboratórios farmacêuticos oficiais; aperfeiçoar a produção, a
pesquisa e o desenvolvimento tecnológico; e promover o desenvolvimento de uma política de
assistência farmacêutica voltada para o atendimento das necessidades dos programas e
atividades de saúde pública. (ALFOB, 2009).
Existem 19 laboratórios associados a esta instituição (Tabela II.1), dos quais três são
ligados as Forças Armadas. Um desses Laboratórios Oficiais é vinculado diretamente ao
Ministério da Saúde (Farmanguinhos), sendo os demais pertencentes a governos estaduais ou
a universidades. Distribuem-se nas seguintes regiões: sete na região sudeste, sete na região
nordeste, quatro na sul e um na região centro-oeste. Os três laboratórios militares, mais a
unidade de Farmanguinhos, podem ser classificados como laboratórios federais, por estarem
subordinados diretamente ao Governo Federal.
Dados da ALFOB, datados de 2005, dão conta de que os associados empregam cerca
de cinco mil pessoas e têm hoje uma capacidade produtiva estimada em 12,7 bilhões de
unidades farmacêuticas, abrangendo praticamente todas as formas farmacêuticas, com
predominância dos sólidos orais (comprimidos e cápsulas). A produção contempla 145
fármacos em 249 apresentações farmacêuticas. (GOMES et al., 2008).
29
Tabela II.1 - Relação dos laboratórios oficiais associados a ALFOB. (Fonte: ALFOB, 2009a).
Laboratório UF Vinculação Fundação
Sociedade de Economia Mista IQUECO - Indústria Química do Estado de Goiás GO SES/GO 1964 IVB – Instituto Vital Brasil RJ SES/RJ 1918 LAFEPE – Lab. Farmacêutico do Estado de Pernambuco
PE SES/PE 1967
LIFAL - Lab. Industrial Farmacêutico de Alagoas AL SES/AL 1974 LIFESA – Lab. Ind. Farmacêutico do Estado da Paraíba
PB SES/PB 1997
Fundação Pública FUNED – Fundação Ezequiel Dias MG SES/MG 1907 FURP – Fundação para o Remédio Popular SP SES/SP 1974 HEMOPE - Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco
PE SES/PE 1977
Administração Direta LFM – Laboratório Farmacêutico da Marinha RJ Marinha do Brasil 1906 LQFEx – Laboratório Químico Farmacêutico do Exército
RJ Exército Brasileiro 1808
LAQFA – Lab. Químico Farmacêutico da Aeronáutica RJ Força Aérea Brasileira 1971 Autarquia
LPM – Laboratório de Produção de Medicamentos PR Universidade Estadual de Londrina
1989
FFOE – Fac. de Farmácia Odontologia e Enfermagem
CE Universidade Federal do Ceará
1959
LTF – Laboratório de Tecnologia Farmacêutica PB Universidade Federal de Pernambuco
1968
Departamento LAFERGS – Laboratório Farmacêutico do Estado do RS
RS SES/RS 1972
LAPEMC - Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Medicamentos e Cosméticos
PR Universidade Estadual de Maringá
1993
CPPI - Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológico
PR SES/PR 1987
Unidade Técnica da Fiocruz Farmanguinhos RJ Fiocruz/MS 1956
Órgão Suplementar da UFRN NUPLAM – Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos
RN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
1991
Em relação aos clientes atendidos pela produção pública, uma pesquisa realizada em
2004 informa que 57% dos laboratórios afiliados à ALFOB apontavam o Ministério da Saúde
como cliente principal, as Secretarias Estaduais de Saúde foram citadas por 29%, enquanto
que as Secretarias Municipais de Saúde ficaram com os 14% restantes. (LOURENÇO &
CHAVES, 2004 apud GOMES et al., 2008).
Esse quadro pode ter sido influenciado pelo papel centralizador da CEME, que nos
cinco primeiros anos (1972/1976), adquiriu 70% dos medicamentos de laboratórios oficiais. De
1977 a 1985 essa média cai para 60%, declina, para algo em torno de 50% entre 1988 e 1989
e, embora sofrendo grandes oscilações de 1990 a 1995, mantém a média de aproximadamente
50%. (SANTOS, 1996).
30
Segundo SANTOS (1996), a atuação da CEME contribuiu para que se constituísse um
setor produtivo estatal farmacêutico, com capacidade produtiva suficiente para o atendimento
das necessidades mínimas de assistência farmacêutica básica da população brasileira.
Neste sentido, o diagnóstico fornecido pelo relatório da CPI dos medicamentos,
divulgado em 2000, confirma que a produção dos laboratórios oficiais está direcionada para
atender o programa de assistência farmacêutica básica e para os programas estratégicos do
Ministério da Saúde - AIDS, malária, tuberculose, hanseníase. (BRASIL, 2000a).
Estes laboratórios limitam-se a realizar atividades ligadas à produção de medicamentos,
com exceção de Farmaguinhos que desenvolve trabalhos como pesquisadora e difusora de
conhecimento na área farmoquímica (MAGALHÃES, 2007). Assim, como não há uma produção
pública de insumos farmacêuticos ativos, os laboratórios oficiais devem adquirir estes insumos
de indústrias nacionais e principalmente estrangeiras. MELO (2005) evidenciou as dificuldades
de aquisição de insumos farmacêuticos ao pesquisar este processo em 04 laboratórios
públicos. O estudo demonstrou que 3 dos laboratórios analisados (75%) informaram que a
contribuição dos IFA importados estava na faixa de 80-100%, enquanto o último informou ser
da ordem de 60-80%.
Conforme diagnosticado pela CPI dos medicamentos, a questão dos insumos
farmacêuticos continua a ser uma “difícil questão”, representando grandes problemas para os
laboratórios oficiais. Essa questão será discutida com mais detalhes na seção II.5.
Segundo HASENCLEVER et al. (2008), um dos principais problemas diagnosticados
nos laboratórios oficiais é o modelo institucional adotado, que impõe restrições administrativas
e orçamentárias, as quais, por sua vez, limitam o dinamismo necessário nos processos de
compra. Também foram identificados, no estudo, restrições de contratação, remuneração e
qualificação de pessoal. Estes aspectos, segundo os autores, dificultam a continuidade da
gestão nas unidades farmacêuticas públicas.
II.2 Os Laboratórios Oficiais e o SUS
A Constituição da República Federativa do Brasil, publicada em 1988, ao criar o
Sistema Único de Saúde, inclui nas suas atribuições, através do artigo 200, a participação na
produção de medicamentos e a necessidade de incrementar o desenvolvimento científico e
tecnológico.
Da mesma forma, a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990),
deixa claro no parágrafo primeiro do artigo quarto que as instituições públicas federais,
estaduais e municipais produtoras de insumos e medicamentos fazem parte do SUS (BRASIL,
1990).
Neste sentido, segundo GOMES et al. (2008), dentre as principais funções dos
laboratórios oficiais no SUS, destacam-se:
• Produção de medicamentos
31
• Garantia de suporte a essa produção em casos de comoção ou de graves
necessidades da saúde pública
• Implementação do desenvolvimento tecnológico farmacêutico, via criação,
apropriação ou transferência de tecnologia
• Desenvolvimento de recursos humanos
• Busca de novos fármacos, com prioridade para aqueles necessários ao
enfrentamento das doenças negligenciadas
• Suporte à regulação de mercados
• Indução de mercados e desenvolvimento tecnológico via políticas públicas
Em 2003, os laboratórios oficiais foram responsáveis pelo abastecimento de 84% das
unidades farmacêuticas adquiridas pelo MS. No entanto este quantitativo correspondeu a
menos de 19% dos valores gastos com medicamentos pelo ministério, ao passo que o valor
pago aos laboratórios privados correspondeu a aproximadamente 81% dos gastos para o
fornecimento de pouco mais de 15% das unidades farmacêuticas adquiridas. (LOURENÇO &
CHAVES, 2004 apud GOMES et al., 2008). Um dos fatores que colaboram para o
entendimento deste quadro é o perfil de produção dos laboratórios oficiais, onde predominam
produtos de baixo valor agregado, enquanto os laboratórios privados possuem produtos sob
proteção patentária e com maior valor agregado.
Como demonstra na Figura II.1, nas aquisições governamentais, no período de 2002 a
2004, envolvendo medicamentos para os Programas de Aids, Hipertensão e Diabetes,
Hanseníase e Tuberculose, é significativa a participação dos laboratórios oficiais.
Figura II.1 - Participação percentual quantitativa dos fornecedores públicos e privados de medicamentos
para o Ministério da Saúde – 2002/2004. (Fonte: GOMES et al., 2008).
32
A despeito da missão tradicional de fabricação e distribuição de medicamentos
essenciais a baixo custo, para a qual os laboratórios oficiais foram criados, HASENCLEVER et
al. (2008), observaram a missão de “dar suporte ao governo através das atividades de P&D
para monitorar preços ou sustentar uma política de transferência de tecnologia quando da
necessidade de atender a políticas de saúde pública.”
De fato, a CPI dos medicamentos enfatiza a função de reguladores indiretos do
mercado nas aquisições do setor público, fazendo dos laboratórios oficiais peça fundamental
para garantir maior disponibilidade de medicamentos para a população com menor volume de
recursos.
Outro caso representativo da importância dos laboratórios farmacêuticos oficiais pode
ser encontrado na sua atuação no Programa Nacional de Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST/Aids). Esse programa é reconhecido internacionalmente pela garantia do
acesso gratuito aos antirretrovirais a todos os pacientes que necessitam de tratamento.
Segundo GOMES et al. (2008), o Ministério da Saúde oferece 17 fármacos em 35
apresentações farmacêuticas, dos quais os laboratórios oficiais são responsáveis pelo
suprimento de oito fármacos em 17 apresentações, que correspondem a aproximadamente
45% do quantitativo de medicamentos para o programa, e correspondem a cerca de 20% dos
gastos. O autor afirma que “seria necessário o dobro de recursos para se adquirirem os
mesmos medicamentos produzidos nacionalmente [...].”
FLYNN (2008) afirma que um dos três motivos que levaram o governo brasileiro a
produzir medicamentos para o programa DST/Aids foi a infra-estrutura pré-existente dos
laboratórios públicos, além da forte pressão da sociedade civil e o setor farmacêutico
caracterizado pelos altos preços praticados pelas indústrias internacionais.
Desta forma, pode-se perceber que os laboratórios farmacêuticos oficiais possuem um
papel primordial no SUS, haja vista o aumento das despesas do governo na área da saúde,
diagnosticado no relatório de Contas-Satélite de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, divulgado em dezembro de 2009. (IBGE, 2009).
II.3 Atuação em Rede
A necessidade de organização dos laboratórios oficiais em rede no intuito de
desenvolver as ações coordenadas e estratégias conjuntas para a racionalização da produção
oficial vem sendo levantada deste a primeira CPI relacionada aos medicamentos que foi
instaurada em 1960. O relator sugeriu a “unificação dos laboratórios oficiais em um único
laboratório central.” (BUCHLER, 2005).
Segundo MAGALHÃES (2007), o estabelecimento de uma rede de produção pública de
medicamentos visa adotar estratégias conjuntas para o aprimoramento e otimização da gestão,
socialização das iniciativas de fomento, do desenvolvimento tecnológico e das ações de
pesquisa e desenvolvimento.
33
Em 2005, um importante passo foi dado para institucionalizar essa parceria, com a
publicação da Portaria nº 2.438, de 7 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005d), que criou a Rede
Brasileira de Produção Pública de Medicamentos e descreveu seus objetivos fundamentais,
são eles:
• Desenvolver ações que visem à reorganização do sistema oficial de produção de
medicamentos, com adoção de estratégias para a racionalização da produção
oficial.
• Desenvolver ações coordenadas e cooperação para suprir a demanda do SUS
em relação aos medicamentos.
• Adotar, em seu âmbito, ações coordenadas que visem ao suprimento regular e
adequado de matérias-primas e de insumos necessários à produção oficial de
medicamentos.
• Desenvolver ações como o objetivo de garantir o fornecimento de medicamentos
aos programas públicos considerados estratégicos, principalmente daqueles cuja
produção envolve exclusivamente a capacidade instalada do parque fabril oficial.
• Adotar, em seu âmbito, medidas estruturantes para os laboratórios
farmacêuticos oficiais integrantes da Rede, bem como estratégias conjuntas
para o aprimoramento e otimização da gestão.
• Desenvolver ações que visem à capilarização das iniciativas de fomento ao
desenvolvimento tecnológico e das ações de pesquisa e desenvolvimento.
• Desenvolver ações voltadas à ampliação e à organização das interfaces no
âmbito dos acordos internacionais e de transferência de tecnologia adotados
pelo País, nos quais estejam envolvidos os laboratórios farmacêuticos oficiais
integrantes da rede.
• Desenvolver ações de fortalecimento do desenvolvimento regional, nas áreas de
abrangência dos laboratórios farmacêuticos oficiais integrantes da Rede.
Embora GOMES et al. (2008) afirmem que todos os laboratórios oficiais associados à
ALFOB aderiram à rede, não foram encontradas referências que relatem a sua atuação, e,
segundo MARTINS e GHETTI (2009), a Rede criada pela Portaria nº 2.438/05 foi extinta em
2007. Esta informação foi confirmada pelo laboratório oficial alvo deste estudo.
A despeito deste cenário, HASENCLEVER et al. (2008), observam que estes
laboratórios apresentam certo nível de cooperação, que pode acontecer de maneira informal
através de troca de informações, ou com parcerias formais para transferência de tecnologia. Os
autores ainda relatam a existência de parcerias com universidades e laboratórios privados.
Um exemplo mais recente destas parcerias foi a produção do medicamento Fosfato de
Oseltamivir, para o tratamento da pandemia de Influenza A subtipo H1N1. Houve a mobilização
34
de diversos laboratórios oficiais para a produção deste medicamento, inclusive com a
participação do laboratório alvo deste estudo.
II.4 Investimentos
Para cumprir com excelência a missão de provedores de saúde, os laboratórios oficiais
necessitam aprimorar continuamente os seus processos produtivos, estando sujeitos ao
controle e à gestão da qualidade rigorosos, determinados em normas e legislações
governamentais.
BASTOS (2006) afirma que, desde 2003, a ANVISA passou a exigir testes de
equivalência farmacêutica e biodisponibilidade para a renovação do registro dos medicamentos
similares produzidos pelos laboratórios oficiais e a realizar inspeções para a certificação e
autorização de produção conforme as Boas Práticas de Fabricação, o que levou a interrupção
de atividades em vários deles. Estes laboratórios encontravam-se em uma situação de grande
defasagem tecnológica nos seus processos e produtos, resultado de muitos anos de
sobrevivência sem investimentos.
Para cumprimento dos requisitos das BPF, muitas vezes é necessário realizar
investimentos na reforma de áreas físicas para adequação aos novos parâmetros, na aquisição
de equipamentos, que precisam ser qualificados, além da obrigação de validar todos os
processos produtivos e as metodologias analíticas, dentre outras coisas.
Diante desse quadro, foi estabelecido o Programa de Apoio à Produção Pública de
Medicamentos (PROFARMA) para financiamento dos investimentos de modernização e
ampliação da capacidade dos laboratórios oficiais (BASTOS, 2006). Paralelamente, o
Ministério da Saúde havia iniciado um período de investimentos no setor, conforme
demonstrado na Figura II.2.
Figura II.2 - Investimentos do Ministério da Saúde nos laboratórios oficiais. (Fonte: BRASIL, 2006a).
35
O laboratório alvo deste estudo, com os investimentos do Ministério da Saúde,
modernizou o setor de controle de qualidade, construiu um novo almoxarifado e uma nova
unidade fabril, além de realizar a validação dos processos e a qualificação dos equipamentos,
adequando-se aos requisitos das Boas Práticas de Fabricação. Cabe mencionar ainda o caso
de Farmanguinhos, que conseguiu ampliar a sua capacidade produtiva em cinco vezes com a
aquisição da antiga fábrica da GlaxoSmithKline, em Jacarepaguá.
Estes investimentos têm permitido uma ampliação considerável da capacidade
produtiva e a aquisição de equipamentos mais modernos, possibilitando a adequação às
exigências técnico-sanitárias. Tais iniciativas apontam para uma opção de se implementar uma
política de assistência farmacêutica por meio dos laboratórios oficiais, atendendo a uma das
diretrizes da Política Nacional de Medicamentos que versa sobre incentivo à produção pública
de medicamentos.
II.5 Mercado Farmoquímico
Os farmoquímicos são as substâncias ativas ou inativas empregadas na produção de
medicamentos, e fazem parte do complexo industrial de quimica fina, que segundo a
Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades
(ABIFINA), compreende:
“produtos químicos denominados intermediários de síntese e de usos (princípios ativos), bem como as especialidades químicas encontradas nos segmentos industriais de produtos farmacêuticos, defensivos agrícolas e animais, catalisadores, produtos de alta tecnologia na área química, aromas e fragrâncias, bem como de empresas de base tecnológica prestadoras de serviços especializados nessa área.” (ABIFINA, 2010).
No final da década de 60, durante o governo Médici, teve início um movimento, ainda
modesto, para fortalecer a cadeia produtiva farmacêutica, sob égide de duas vertentes: a
defesa nacional e o fortalecimento do assistencialismo, no intuito de produzir uma imagem
favorável do regime ditatorial da época. (REBOUÇAS, 1997).
Este movimento teve continuidade nos anos setenta, com a destinação de incentivos
fiscais e financeiros para a fabricação de insumos farmacêuticos ativos prioritários da lista
RENAME (REBOUÇAS, 1997). Neste período houve ainda aprovação do novo Código de
Propriedade Industrial pelo Congresso Nacional (Lei nº 5.772/71), que relaciona entre as
invenções não privilegiáveis: “as substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios,
químico-farmacêuticos e medicamentos, de qualquer espécie, bem como os respectivos
processos de obtenção ou modificação.” (BRASIL, 1971).
A Tabela II.2 apresenta os investimentos realizados na área de insumos farmacêuticos
ativos na década de setenta. O crescimento observado a partir de 1974 é resultado da
aprovação de um plano diretor para o setor, em 1973, e de incentivos fiscais e financeiros.
36
Assim, durante esta década contabilizou-se o desenvolvimento de 31 projetos na área
farmoquímica, realizados por 16 empresas. (REBOUÇAS, 1997).
Tabela II.2 - Investimentos realizados na área de IFA. (Fonte: REBOUÇAS, 1997).
Ano Valores em US$ 1.000
1965 70 1970 2.609
1971 5.409
1972 7.000
1973 8.549
1974 24.751
1975 25.576
1976 31.742
1977 36.919
1978 36.096
1979 35.357
1980 15.055
A década de 80 foi mais centrada na formalização e estruturação da política para o
setor. REBOUÇAS (1997) relata esse período:
“A nosso ver, as sólidas ligações entre técnicos de várias áreas do governo, e destes com o empresariado, possibilitaram que fosse posta em ação, ainda no inicio dos anos oitenta, uma política “não formalizada”, cuja textura básica foi finalizada em 1984. Deve-se destacar também que, entre 1985-1989, com exceção da criação da legislação do meio-ambiente, da ampliação da rede de assistência da CEME, da entrada de maiores recursos para alguns programas, enfim, de melhorias, dentre elas a nova política tarifária, nada de novo ocorreu em termos de instrumentos. A grande novidade foi a oficialização da política, e tudo girou em torno de estabelecer maior coordenação e eficiência.”
O setor farmoquímico brasileiro terminou a década de 80 ainda como um setor nascente
e frágil, diante de uma poderosa indústria farmacêutica internacionalizada estabelecida no
País. (BUCHLER, 2005).
A partir de 1990, com a abrupta abertura econômica, observaram-se profundas
modificações nesse mercado. Sem medidas que promovessem a adaptação do setor à nova
realidade, o que se notou foi uma forte retração da indústria brasileira de IFA com aumento
progressivo das importações. Ao final desta década, percebeu-se que a abertura econômica, a
eliminação do controle dos preços, a forte diminuição tarifária e a adoção de patentes para
produtos e processos beneficiaram principalmente o segmento farmacêutico importador.
(BRASIL, 2006).
Um trabalho da Secretaria do Desenvolvimento da Produção do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior identificou o número de produtos que tiveram a
37
produção paralisada ou projetos que não foram implementados em química fina no período de
1990 a 1999. Os dados são discriminados na Tabela II.3.
Tabela II.3 - Levantamento da situação da indústria de química fina, quanto a fechamento ou
cancelamento de projetos no período de 1990 a 1999. (Fonte: OLIVEIRA, 2005).
Discriminação Intermediários de Química
Fina
Farmoquímicos Defensivos Agrícolas
Aditivos, Aromáticos e
Corantes.
Total
Paralisada 241 407 73 375 1096
Não Implementada
208 110 10 27 355
Total 449 517 83 402 1451
Dados da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica (ABIQUIF, 2009)
demonstram um grande déficit no setor de insumos farmacêuticos ativos, revelando em 2008
um aumento de mais de 26% das importações em relação ao ano de 2007, atingindo US$
2.021,6 milhões, enquanto as exportações ficaram abaixo dos US$ 350 milhões (Figura II.3).
Figura II.3 - Balança comercial dos IFA. (Fonte: Elaborado a partir dos dados da ABIQUIF, 2009 e IPEA,
2003).
A dependência externa de insumos farmacêuticos provenientes de diversas partes do
mundo acarreta uma situação de completa vulnerabilidade para o País, na área de produção
de medicamentos (IPEA, 2003). A Política Nacional de Medicamentos, estabelecida em 1998,
38
considerou a fragilidade da indústria farmoquímica nacional na definição de suas diretrizes e
estabeleceu como prioridade para o setor o desenvolvimento de tecnologia de produção de
IFA, em especial, os constantes na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, e o
estímulo à sua produção, de forma a assegurar o fornecimento regular ao mercado interno e a
consolidação e ampliação do parque produtivo instalado no País. (BRASIL, 1998).
Segundo estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), “a
maioria absoluta dos fármacos responsáveis pelo déficit da balança de comércio internacional
na indústria farmacêutica doméstica não apresenta patentes e suas rotas de síntese química
são conhecidas.” (IPEA, 2003).
Associada à preocupação com a produção de insumos, figura a preocupação constante
com os mecanismos de controle que permitam avaliar a qualidade dos insumos importados
utilizados na produção de medicamentos no País em função da diversidade da sua origem e da
direta correlação com a qualidade do processo produtivo.
Neste sentido, um novo regulamento foi publicado (RDC nº58, de 21 de junho de 2000),
determinando que todos os atores que fazem parte da cadeia de suprimentos de insumos
farmacêuticos, seja através da manipulação, distribuição, armazenamento, fabricação ou uso,
comunicassem à ANVISA quando os insumos por eles utilizados ou fabricados fossem
reprovados. (BRASIL, 2000).
No ano de 2005 houve uma reformulação regulatória neste setor, com a publicação das
seguintes resoluções:
• RDC nº 176, que determinou o recadastramento e atualização de informações
de todas as empresas que exercem atividades de fabricar, importar, exportar,
fracionar, armazenar, distribuir e transportar insumos farmacêuticos. (BRASIL,
2005).
• RDC nº 249, que apresentou o Regulamento Técnico das Boas Práticas de
Fabricação de Produtos Intermediários e Insumos Farmacêuticos Ativos.
(BRASIL, 2005a).
• RDC nº 250, que criou o Programa de Insumos Farmacêuticos Ativo com a
função de definir diretrizes regulatórias e de controle de qualidade, dado a
grande quantidade de IFA importados presentes no mercado interno. (BRASIL,
2005b).
Destaca-se ainda a RDC nº 204, de 14 de novembro de 2006, que tornou público o
Regulamento Técnico de Boas Práticas de Distribuição e Fracionamento de Insumos
Farmacêuticos, que deve ser seguido por todos os estabelecimentos que exerçam as
atividades de importar, exportar, armazenar, fracionar e embalar insumos farmacêuticos.
(BRASIL, 2006b).
39
Recentemente foi publicada a RDC nº 57, de 17 de novembro de 2009, que dispõe
sobre o registro de insumos farmacêuticos ativos, que será concedido após a comprovação
documental de uma série de requisitos de qualidade estipulados pela ANVISA. Esta resolução
é considerada fundamental por exigir dos insumos importados o mesmo rigor de qualidade dos
nacionais. (BRASIL, 2009).
II.6 Especificação dos Insumos Farmacêuticos e a Produção de Medicamentos
Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA Nº 210, de 04 de agosto de
2003, que regulamenta as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos na indústria
farmacêutica, a especificação é tida como “documento descrevendo em detalhes os requisitos
a que devem atender os produtos ou materiais usados ou obtidos durante a fabricação. As
especificações servem como base da avaliação da qualidade.” (BRASIL, 2003a).
Durante as etapas de desenvolvimento e validação de processos produtivos, a
especificação da matéria-prima é um ponto crítico de controle. A falta de especificações mais
criteriosas pode levar à aquisição de insumos que podem gerar sérios problemas na produção.
Em seu estudo MACHADO e MELO (2007), ao levantarem as principais não-conformidades do
processo de produção de comprimidos da indústria farmacêutica analisada, constataram que a
maior parte dos problemas que ocorreram eram ocasionados ou estavam relacionados às
características dos IFA. Afirmam ainda que este tipo de problema é comum e aparece em
várias indústrias farmacêuticas, tendo grande impacto nos processos produtivos.
Para garantir a qualidade dos insumos farmacêuticos ativos, os laboratórios
farmacêuticos realizam os testes de controle de qualidade especificados em compêndios
oficiais (farmacopéias), predominantemente de natureza química, podendo realizar outros
desenvolvidos internamente, geralmente contemplando características físicas que podem
influenciar a qualidade do processo produtivo, como é o caso da granulometria e da densidade.
Estas não são pré-requisitos farmacopêicos para aprovação e por isso muitas vezes não são
conferidos, porém afetam diretamente a produção, levando a perdas, principalmente em se
tratando de comprimidos e cápsulas. (YAJIMA apud CASTRO et al., 2007; LACHMAN,
LIEBERMAN e KANING, 2001).
As especificações exigidas além das contidas nas farmacopéias são importantes para
garantir a compatibilidade com os equipamentos utilizados, diminuindo as não-conformidades
do processo. Um levantamento feito pela ALFOB, constatou que em um dos laboratórios
oficiais, cerca de 70% das reprovações de IFA em 2004 estavam relacionadas ao problema de
compatibilidade com equipamentos e processos. (COSTA et al., 2008).
Podem-se considerar como perdas decorrentes da qualidade dos insumos
farmacêuticos: o maior tempo de processamento, podendo chegar ao extremo de ter que
adicionar novas etapas de preparação do insumo antes de entrar na linha de produção
(ANVISA, 2006), o tempo de retrabalho e o passivo ambiental decorrente da geração de
40
resíduos, todos estes com custos não programados. COSTA et al. (2008) relatam que um
trabalho realizado em Farmanguinhos com o IFA Zidovudina, demonstrou que caso este
insumo estivesse totalmente ajustado aos processos industriais, ainda que o preço pago fosse
30% maior, haveria uma economia de 25%.
O estudo desenvolvido por MELO (2005) ajuda a entender melhor a alta variabilidade
das matérias-primas e a importância da especificação. Durante o estudo constatou-se que das
15 empresas privadas estudadas, 40,2% utilizavam 80-100% de matérias-primas importadas
no seu processo produtivo, e dos 04 laboratórios oficiais estudados, 3 (75%) informaram que
80-100% são importadas. Em relação aos países de origem das matérias-primas utilizadas
tanto em indústrias publicas como privadas, os quatros primeiros são: Índia, Itália, Alemanha e
China. O autor ressaltou, no seu estudo, que a consolidação das informações prestadas pelas
empresas pesquisadas, revelou que os adjuvantes farmacotécnicos e insumos farmacêuticos
ativos utilizados para medicamentos em geral são de procedências diversas.
Além disso, enquanto o fármaco ou o medicamento fabricado no País deve ter suas
instalações certificadas e, periodicamente, fiscalizadas pela ANVISA, dos fornecedores
estrangeiros de Insumos Farmacêuticos não se exige os mesmos cuidados impostos aos
nacionais. (ANVISA, 2006).
Vale ressaltar que o relatório da CPI dos Medicamentos divulgado em 2000, chama a
atenção para o constante aumento das importações de fármacos oriundos da China e da Índia,
salientado que “os fármacos ofertados por esses países caracterizam-se por preços
extremamente competitivos, mas com riscos consideráveis para a saúde da população, em
face de oscilações de qualidade.” (BRASIL, 2000a).
A ABIQUIF relata que, em 2008, 50% do valor das importações de insumos
farmacêuticos foram provenientes de três países: Alemanha, China e EUA, com participações
praticamente iguais. Embora a Índia e a China exportem grande quantidade de insumos para o
Brasil, por apresentarem valor agregado menor, a participação destes dois países juntos não
chega a 25%. (ABIQUIF, 2009).
Outro ponto a ser considerado é a irregularidade no fornecimento de insumos
farmacêuticos, principalmente os IFA, que contribui para o desabastecimento de medicamentos
no mercado na medida em que tende a provocar interrupções no processo produtivo. A
magnitude do problema é maior quando existe um número reduzido ou um único fornecedor
para os diversos fabricantes. No caso do Brasil, que não produz a maioria dos IFA em escala
industrial, a dependência do mercado internacional o coloca em uma situação especialmente
frágil. A ausência de vancomicina injetável, um importante antibiótico utilizado amplamente no
ambiente hospitalar, no segundo semestre de 2003, teve como uma das causas os problemas
internacionais com a sua produção, e ilustra bem essa situação. (REIS e PERINI, 2008).
41
MARQUES e HASENCLEVER (2006), relatam que em 2005 houve um atraso de 60
dias na entrega do IFA Zidovudina, fundamental no esquema terapêutico para tratamento da
Aids, o que acarretou desabastecimento do medicamento principalmente em São Paulo.
Essa insegurança causada pelo frágil mercado farmoquímico nacional e pela falta de
customização, que acarretam problemas nos processos produtivos, pode interferir no
cumprimento dos cronogramas de produção, além de onerar os custos produtivos. Além disso,
as programações do Ministério da Saúde e das secretarias podem ser afetadas, causando
inclusive problemas de desabastecimento na rede pública, uma vez que a compra destes
gestores também são regidas pela lei 8666/93, o que requer um prazo mínimo de execução.
(GOMES et al., 2008).
Em relação aos atrasos na produção, COSTA et al. (2008) afirmam que em 2006,
Farmanguinhos enfrentava constantes atrasos nas entregas dos IFA, assim como um alto
índice de reprovação e reprocessamento envolvendo estes insumos.
Isto enfatiza a importância de garantir a qualidade dos IFA e dispor de ferramentas
gerencias que permitam identificar, analisar e priorizar as não-conformidades, no intuito de
acompanhar a qualidade dos insumos adquiridos. MACHADO e MELO (2007) utilizam a
técnica FMEA (Failure Mode and Effect Analysis – Análise do Modo e Efeito da Falha) para
esse tipo de estudo, enquanto que KUMAR et al. (2009) aplicam esta ferramenta para analisar
as causas e efeitos de falhas na logística reversa da cadeia de suprimentos da indústria
farmacêutica. Na presente dissertação foi utilizada essa técnica para analisar as não-
conformidades identificadas durante um período de produção de medicamentos sólidos orais
(comprimidos), que está apresentada com mais detalhes na subseção II.6.1.
II.6.1 Aplicação de FMEA em processos produtivos
Conforme relatado por FERNANDES e REBELATO (2006), a Análise do Modo e Efeito
da Falha, conhecida como FMEA, tem os seus primeiros registros de utilização conceitual em
1949, onde os militares americanos desenvolveram a ferramenta com o objetivo de determinar
o efeito da ocorrência de falha em sistemas e equipamentos. A primeira aplicação formal se
deu na década de 60, pela indústria aeroespacial dos EUA, especificamente no projeto Apollo
da agência norte-americana NASA (National Aeronautics and Space Administration). Esta
agência desenvolveu um método para identificar, de forma sistemática, falhas potenciais em
processos pela definição de suas causas e efeitos, e, a partir disso, definir ações para reduzir
ou eliminar o risco associado à ocorrência dessas falhas.
Conforme PUENTE et al. (2002), a FMEA é útil para identificar as falhas atuais e
potenciais e seus efeitos em sistemas e processos, e para definir ações que visem reduzir ou
eliminar o risco associado a cada falha. A técnica fornece uma priorização dos modos de falhas
para aplicação das ações de melhoria, com base nas características de severidade, ocorrência
e detecção. Utilizando a metodologia na sua forma tradicional, a multiplicação destes três
42
índices, que possuem escalas de 1 a 10, vai resultar no Risk Priority Number (RPN), que será
responsável pela priorização das falhas. (PALADY, 2004).
Segundo CAPALDO et al. (1999) apud MACHADO e MELO (2007), e FERNANDES e
REBELATO (2006), as análises produzidas pela FMEA são classificadas em:
• FMEA de produto: são consideradas as falhas que poderão ocorrer com o
produto dentro das especificações do seu projeto. O objetivo é evitar falhas no
produto ou no processo, que decorram do projeto;
• FMEA de processo: possui como objetivo evitar falhas no processo, tendo como
referência não-conformidades do produto observadas contra as especificações
do projeto.
As etapas para a execução da FMEA são: 1) identificar modos de falha conhecidos e
potenciais; 2) identificar os efeitos de cada modo de falha e a sua respectiva severidade; 3)
identificar as causas possíveis para cada modo de falha e a sua probabilidade de ocorrência; 4)
identificar os meios de detecção do modo de falha e sua probabilidade de detecção; e 5)
avaliar o potencial de risco de cada modo de falha e definir medidas para sua eliminação ou
redução. (FERNANDES e REBELATO, 2006).
Com a FMEA, utiliza-se uma tabela, em que são integradas as informações
processadas nas etapas já descritas. Esta tabela, juntamente com o detalhamento da utilização
desta ferramenta para análise das não-conformidades do processo produtivo do laboratório
estudado, está apresentada no Capítulo V.
43
Capítulo III – O Impacto de Políticas Públicas na Cadeia de Suprimentos dos
Laboratórios Oficiais.
Considerações Iniciais
No presente capítulo aborda-se um conjunto de políticas públicas que exercem
influência sobre a cadeia de suprimentos dos laboratórios oficiais, em sintonia com o dever
constitucional do Estado de garantir a saúde, mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos, e o acesso igualitário e universal às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Neste sentido, o Estado tem procurado prover condições que garantam esse direito
fundamental do ser humano, seja através de um processo de descentralização da Assistência
Farmacêutica do Sistema Único de Saúde (seção III.1), que busca melhorar a gestão dos
serviços de saúde, ou seja através da definição de políticas norteadoras para o setor produtivo
como a Política Industrial, Tecnológica e do Comércio Exterior, e, atualmente, a Política de
Desenvolvimento Produtivo e o Programa Mais Saúde.
O quadro de forte dependência externa de insumos farmacêuticos tem demonstrado a
fragilidade deste setor estratégico para as políticas na área da saúde. Assim, tem-se buscado
mecanismos de fomento para o setor farmoquímico nacional (seção III.2), como por exemplo, a
utilização do poder de compra do Estado.
Por fim, aborda-se a articulação do Ministério da Saúde, por meio de parcerias firmadas
entre laboratórios oficiais e as empresas farmoquímicas nacionais, para desenvolver novos
produtos estratégicos para o SUS (seção III.3).
III.1 A Descentralização da Assistência Farmacêutica
A Lei nº 8.080/90, expressou os avanços incorporados na Constituição de 1988, que
admitiam ser a saúde, em sua perspectiva ampliada, um direito da população. Esta legislação
definiu como princípios norteadores do sistema de saúde vigente no Brasil: a universalidade e
a equidade do acesso aos serviços de saúde, a integralidade das ações praticadas, o intenso
controle social e a descentralização político-administrativa. (BRASIL, 1990).
Assim, o processo de descentralização em saúde predominante no Brasil é do tipo
político-administrativo, envolvendo não apenas a transferência de serviços, mas também de
responsabilidades, poder e recursos da esfera federal para a estadual e municipal.
Assim, houve também a descentralização da assistência farmacêutica, inicialmente
centralizada pela CEME, que com o tempo foi perdendo as características de gestor, limitando-
se a logística de distribuição dos medicamentos, até 1997, ano da sua extinção. Em 2004, o
Conselho Nacional de Saúde aprovou a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, por
meio da Resolução nº 388/04 (BRASIL, 2004), que trata a assistência farmacêutica como uma
política pública norteadora para a formulação de políticas setoriais, entre as quais se destacam
44
as políticas de medicamentos, de ciência e tecnologia, de desenvolvimento industrial, entre
outras. Esta resolução fornece a seguinte definição para assistência farmacêutica:
“A Assistência Farmacêutica trata de um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população.” (BRASIL, 2004).
O processo de descentralização da gestão da assistência farmacêutica, iniciado com a
criação do SUS, foi importante para diminuir os problemas de não cobertura das necessidades
locais de saúde, da não obediência de critérios epidemiológicos[4] para as aquisições de
medicamentos, das dificuldades com atrasos nas entregas e da perda de medicamentos pelos
vencimentos de prazos de validade. (CONSENDEY, 2000).
Um importante passo em direção à institucionalização da descentralização foi a
publicação da Portaria nº 204, de 29 de janeiro de 2007, que regulamenta o financiamento e a
transferência dos recursos federais para as ações e serviços de saúde (BRASIL, 2007c). Esta
portaria organizou os recursos federais destinados às ações e aos serviços de saúde na forma
de blocos de financiamento, divididos em: atenção básica, atenção de média e alta
complexidade ambulatorial e hospitalar, vigilância em saúde, assistência farmacêutica e gestão
do SUS.
Estes blocos de financiamento são constituídos por componentes, conforme as
especificidades de suas ações. O bloco da assistência farmacêutica, que trata da aquisição de
medicamentos, é dividido nos seguintes componentes: básico, estratégico e medicamentos de
dispensação excepcional, que teve a sua denominação alterada para “componente
especializado da assistência farmacêutica”, com a publicação da Portaria nº 2.981, de 26 de
novembro de 2009. (BRASIL, 2009b).
III.1.1 Componente básico da assistência farmacêutica
O componente básico da assistência farmacêutica trata do financiamento de um elenco
de medicamentos utilizados para o tratamento das doenças que ocorrem mais comumente no
país, e que compõem um rol de doenças da atenção básica em saúde, geralmente de atenção
não-hospitalar. O financiamento deste componente é compartilhado pelas três esferas de
governo, mas a responsabilidade pela programação, aquisição, armazenamento, distribuição e
dispensação dos medicamentos e insumos é dos municípios e do distrito federal. (BRASIL,
2009a).
4 A utilização de critérios epidemiológicos visa atender as reais necessidades da população, com medicamentos necessários para uma determinada localidade.
45
A norma de referência em relação ao componente básico da assistência farmacêutica é
a Portaria nº 2.982, de 26 de novembro de 2009, que entrou em vigor no primeiro dia do ano de
2010, revogando a Portaria nº 3.237, de 24 de dezembro de 2007. Esta nova portaria
especifica a execução, o financiamento e o elenco de referência de medicamentos e insumos
complementares, para a assistência farmacêutica na atenção básica em saúde, que é definido
com base na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais vigente.
A Portaria nº 3.237/07 determinou que os medicamentos dos programas de Hipertensão
e Diabetes (Hiperdia), Asma e Renite e Saúde Mental, anteriormente sob a responsabilidade
do Estado, passassem a compor o componente básico, sob a responsabilidade dos municípios
(BRASIL, 2007d). A atual portaria mantém estes medicamentos neste componente e ampliou o
elenco de referência com base na 6ª edição da RENAME, publicada em 2009, incluindo, ainda,
medicamentos fitoterápicos e homeopáticos. (BRASIL, 2009a).
Vale ressaltar que conforme relatado no parágrafo 2º, do Art. 3º da Portaria nº 2.982/09,
a relação municipal de medicamentos deve contemplar aqueles que atendam o perfil
epidemiológico local (BRASIL, 2009a), assim, os municípios não são obrigados a
disponibilizarem todos os medicamentos do elenco de referência:
“Sem prejuízo da garantia da dispensação dos medicamentos para atendimento dos agravos característicos da Atenção Básica, considerando o perfil epidemiológico local/regional, não é obrigatória a disponibilização de todos os medicamentos relacionados nos Anexos I, II e III pelos Municípios e pelo Distrito Federal.”
III.1.2 Componente estratégico da assistência farmacêutica
Segundo o Ministério da Saúde, são considerados como estratégicos todos os
medicamentos utilizados para tratamento das doenças de perfil endêmico, cujo controle e
tratamento tenham protocolo e normas estabelecidas e que possuam impacto sócio-
econômico. São doenças que atingem ou põem em risco as coletividades e que tem como
importante estratégia de controle o tratamento de seus portadores. (BRASIL, 2010a).
O componente estratégico da assistência farmacêutica consiste no financiamento para
a realização de ações de assistência farmacêutica voltadas para os programas estratégicos. O
financiamento e o fornecimento de medicamentos, produtos e insumos, deste componente são
de responsabilidade do Ministério da Saúde, que distribui para a rede pública estadual ou
municipal, onde será feita a dispensação para a população (BRASIL, 2010a). Fazem parte
deste componente os seguintes programas estratégicos de saúde:
• controle de endemias, tais como tuberculose, hanseníase, malária, doença de
Chagas e outras doenças endêmicas de abrangência nacional ou regional
• programa DST/Aids
• sangue e hemoderivados
• imunobiológicos (vacinas e soros) do Programa Nacional de Imunizações
46
III.1.3 Componente de medicamentos de dispensação excepcional
O fornecimento de medicamentos de dispensação excepcional deverá obedecer aos
critérios de diagnóstico, indicação e tratamento, inclusão e exclusão de pacientes, esquemas
terapêuticos, monitoramento, acompanhamento e demais parâmetros contidos nos Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas estabelecidos pelo Ministério da Saúde. (BRASIL, 2006b).
Este componente é destinado à aquisição e distribuição de medicamentos no âmbito do
SUS, em nível ambulatorial, que são geralmente onerosos demais para a população arcar com
o tratamento crônico, seja porque seu valor unitário é alto, seja porque, apesar de valor unitário
baixo, o tratamento torna-se custoso em função de ser prolongado.
A definição e a regulamentação deste componente são de responsabilidade do
Ministério da Saúde. Assim, o elenco de medicamentos de dispensação excepcional é
formulado pela esfera federal podendo, a partir desta, ser modificado por cada estado, segundo
sua complexidade assistencial. As esferas estaduais são encarregadas também de formular e
implementar um sistema logístico, envolvendo as etapas de seleção, programação, aquisição,
armazenamento, distribuição, dispensação e promoção do uso racional dos medicamentos de
dispensação excepcional. (BRASIL, 2006c).
O Ministério da Saúde aprovou novas regras para este componente, com a publicação
no dia 01 de dezembro de 2009 da Portaria nº 2.981, de 26 de novembro de 2009, em vigor
desde o início de março de 2010. Esta portaria revogou a Portaria nº 2.577/06 e alterou a
denominação deste componente para componente especializado da assistência farmacêutica.
A Portaria nº 2.981/09 divide os medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado
para as doenças contempladas neste componente em três grupos com características,
responsabilidades e formas de organização distintas. Estes grupos foram constituídos
considerando os seguintes critérios gerais: complexidade da doença a ser tratada
ambulatorialmente, garantia da integralidade do tratamento de doenças no âmbito da linha de
cuidado e manutenção do equilíbrio financeiro entre as esferas de gestão.
O Grupo 1 é constituído por medicamentos sob responsabilidade da União. Estes
atendem aos seguintes critérios: maior complexidade da doença a ser tratada
ambulatorialmente, refratariedade ou intolerância à primeira e/ou à segunda linha de
tratamento, medicamentos que representam elevado impacto financeiro para o componente e
medicamentos incluídos em ações de desenvolvimento produtivo no Complexo Industrial da
Saúde.
Este grupo é subdividido em 1A e 1B. O Grupo 1A contempla os medicamentos com
aquisição centralizada pelo Ministério da Saúde, cabendo às secretarias estaduais a
responsabilidade pela programação, armazenamento e distribuição. Enquanto que o Grupo 1B
é formado pelos medicamentos financiados com transferência de recursos pelo Ministério da
47
Saúde para as secretarias estaduais que ficam responsáveis pela aquisição, programação,
armazenamento e distribuição.
O Grupo 2 contém os medicamentos sob responsabilidade dos Estados e Distrito
Federal, que possuem os seguintes critérios: menor complexidade da doença a ser tratada em
relação aos elencados no Grupo 1 e refratariedade ou intolerância à primeira linha de
tratamento.
Por fim, o Grupo 3 é formado pelos medicamentos sob responsabilidade dos municípios
e Distrito Federal. Estes medicamentos devem estar presentes na RENAME vigente e ser
indicados pelos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, publicados na versão final pelo
Ministério da Saúde, como a primeira linha de cuidado para o tratamento das doenças
contempladas neste componente.
O elenco de medicamentos de cada grupo está descrito nos anexos da Portaria nº
2.981/09. (BRASIL, 2009b).
III.1.4 Assistência farmacêutica nos municípios
A partir da descentralização do sistema de saúde, os municípios passaram a assumir
uma série de responsabilidades, por serem considerados o ente federativo mais adequado,
uma vez que se encontram mais próximos da população (MOURA e PERINI, 2009). Tais
responsabilidades têm exigido dos gestores locais conhecimentos, habilidades técnicas e
gerenciais, bem como a formulação de políticas municipais de assistência farmacêutica.
(PETRY et al., 2008).
Segundo o IBGE, no ano de 2005, a extensão territorial brasileira estava
administrativamente dividida em 5.564 municípios, que apresentavam “uma grande diversidade
de recursos naturais, de variações climáticas e de situações econômicas, sociais e políticas”.
Destes, aproximadamente 70% possuem até 20.000 habitantes. (IBGE, 2007a).
MOURA e PERINI (2009) após avaliarem a assistência farmacêutica em 18 municípios
de Minas Gerais, identificaram que os principais problemas apresentados foram em relação ao
controle de estoque e disponibilidade de alguns itens.
Em seu estudo, BARRETO (2007) identificou alguns municípios no estado da Bahia
com ausência de transparência e controle sobre o volume de recursos destinados à assistência
terapêutica, o que tem prejudicado a aquisição de medicamentos para atender a população.
Existem iniciativas de municípios que se organizam na forma de consórcios que buscam
adquirir medicamentos a preços menores e melhorar sua estratégia administrativa.
JONCHEERE (1997) menciona que o poder de compra de muitos municípios dilui-se e torna-se
ineficiente para volumes inexpressíveis de medicamentos, desta forma o autor relata que “têm
sido sugeridos, por exemplo, sistemas alternativos de compra, com o propósito de combinar
agilidade no processo de aquisição com economia de escala e controle comunitário tal como os
financiamentos por consórcio de municípios.”
48
MARIN et al. (2003) recomendam às administrações públicas a criação de mecanismos
de ampliação da escala pela adoção de compras consolidadas, sugerindo aquisições para
períodos de 12 meses, por meio de associações ou consórcios entre várias instituições,
processando compras em conjunto.
Ao analisarem a atuação do Consórcio Paraná Saúde, constituído para aquisição de
medicamentos para prefeituras do Paraná, FERRAES e JÚNIOR (2007) identificaram que até o
final de 2000, este consórcio atingia 88,2% dos municípios do Paraná e 55,6% da população
paranaense. Dos municípios participantes, 83,5% possuíam menos de 20 mil habitantes. A
aquisição de medicamentos pelo consórcio resultou na economia de recursos na ordem de
29,7%. Desta forma, segundo os autores, este consórcio mostrou-se uma boa estratégia
administrativa, propiciando agilidade e racionalidade no uso de recursos financeiros,
possibilitando a ampliação do acesso da população aos medicamentos.
III.1.5 A participação dos laboratórios oficiais na assistência farmacêutica
Os laboratórios oficiais contribuem com a assistência farmacêutica fornecendo
medicamentos dos três componentes de financiamento, embora concentrem a sua produção
principalmente em medicamentos do componente básico, nos programas estratégicos de
controle de endemias (doenças negligenciadas) e DST/Aids (BRASIL, 2000a; COSTA et al.,
2008), seguindo o direcionamento proposto pela Política Nacional de Medicamentos:
“A capacidade instalada dos laboratórios oficiais – que configuram um verdadeiro patrimônio nacional – deverá ser utilizada, preferencialmente, para atender as necessidades de medicamentos essenciais, especialmente os destinados à atenção básica, e estimulada para que supra as demandas oriundas das esferas estadual e municipal do SUS.” (BRASIL, 1998).
Alguns dos medicamentos usados no controle de endemias são produzidos
exclusivamente pelos laboratórios oficiais, como no caso dos medicamentos para tratamento
da tuberculose. (DALENOGARE, 2009).
O papel destes laboratórios na produção de medicamentos necessários para o país,
mas que não possuem atratividade financeira que incentive sua produção pelo setor privado,
pode ser visualizado no caso do medicamento Iodeto de Potássio 130 mg, produzido pelo
Laboratório Químico Farmacêutico da Aeronáutica. O Iodeto de Potássio é utilizado como
terapia preventiva contra os danos causados ao ser humano em caso de exposição a certos
índices de radioatividade. Este medicamento é fornecido às usinas nucleares de Angra dos
Reis, no Estado do Rio de Janeiro. Os estoques deste medicamento devem ser mantidos em
quantidade suficiente para atender à população do entorno da usina nuclear em caso de
acidente radioativo, atendendo a um plano emergencial. Não sendo um produto consumido
regularmente, mas sim, apenas em situações emergenciais, a demanda e a produção são
restritas e seletivas, reguladas, basicamente, pela vida útil do produto, que determina a
renovação dos estoques de segurança.
49
Um ponto importante que reflete o impacto da descentralização nos laboratórios
farmacêuticos oficiais foi a passagem dos medicamentos contemplados pelo Programa
Nacional de Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus (Hiperdia)
para a responsabilidade municipal. Este programa foi criado em 2002, pelo Ministério da
Saúde, através da Portaria nº 371/02, como parte integrante do Plano Nacional de
Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus (BRASIL, 2002). Esta
portaria definiu como responsabilidade do Gestor Federal a aquisição e fornecimento aos
municípios dos medicamentos padronizados para tratamento da Hipertensão Arterial e do
Diabetes Mellitus de forma a contemplar todos os pacientes cadastrados.
Segundo GOMES et al. (2008) os laboratórios oficiais foram responsáveis pelo
fornecimento de 70% dos medicamentos distribuídos pelo programa Hiperdia, no período de
2002 a 2004. Porém, DANTAS et al. (2006) afirmam que os problemas enfrentados pelo
Ministério da Saúde na disponibilização destes medicamentos de forma regular aos municípios,
devido aos constantes atrasos dos laboratórios oficiais, contribuíram para uma nova pactuação
entre os gestores do SUS.
Assim, foi publicada uma nova portaria, em 28 de outubro de 2005 (Portaria nº 2.084, de
26 de outubro de 2005) que atribuiu às Comissões Intergestoras Bipartite, constituídas por
representantes das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, o papel de definir em cada
estado a descentralização ou não dos recursos federais destinados à aquisição dos
medicamentos do Programa Hiperdia (com exceção da insulina humana), dentre outros
programas, a partir de abril de 2006, e com possibilidade de descentralização dos demais
medicamentos da atenção básica, a partir de outubro de 2006. (BRASIL, 2005c).
DANTAS et al. (2006) relatam que praticamente todos os estados da federação optaram
pela descentralização dos recursos deste programa, com exceção de: Amazonas, Amapá, Pará
e parte da Paraíba. O deslocamento da responsabilidade pela compra dos medicamentos
pertencentes ao programa Hiperdia do Estado para os municípios e Distrito Federal, segundo
COSTA et al. (2008a), repercutiu negativamente no laboratório público Farmanguinhos, que
diminuiu em aproximadamente 93% a produção destes medicamentos. Os autores enfatizam
que este fato ocorreu em um momento em que o laboratório estava se capacitando para
atender ao aumento de demanda deste programa.
COSTA et al. (2008) afirmam que a descentralização da compra de medicamentos da
atenção básica para estados e municípios pulverizou o poder de compra do governo. Estes
autores afirmam ainda que:
“A crítica que se pode fazer à descentralização das compras dos programas de atenção básica é a sua incompatibilidade com uma concepção de uma rede de laboratórios orientada por planejamento público. Adotou-se, com todas as consequências que isso pode trazer, o modelo de mercado como regulador da produção pública de medicamentos, em que cada laboratório público compete com os demais da rede e ainda com a indústria privada, pois o administrador público no estado ou no município não está obrigado a comprar prioritariamente do ente público.
50
A lógica competitiva instaurada apresenta claros contornos ideológicos e preocupantes efeitos práticos, sendo o primeiro deles solapar a viabilidade concreta da rede pública concebida apenas formalmente no âmbito institucional.”
Desta forma, a descentralização da assistência farmacêutica, que acarretou na
transferência da responsabilidade da compra dos medicamentos dos componentes básico e
estratégico para os municípios e estados, respectivamente, resultou em uma mudança de
cenário para os laboratórios oficiais. Tal mudança pode ter causado maior impacto sobre os
quatro laboratórios oficiais ligados diretamente à União, pois se depararam com uma
diminuição da demanda do MS, até então seu principal cliente, e a necessidade de buscar
mercado junto aos municípios. Já os laboratórios estaduais, que atendem preferencialmente os
seus estados, podem articular as suas produções com a demanda dos municípios do seu
estado.
SANTOS (1996) afirma que em São Paulo:
“A Secretaria de Estado da Saúde procurou, através do confronto entre a pauta produtiva da FURP e a memória histórica da demanda de medicamentos dos municípios paulistas, estabelecer uma linha básica de medicamentos que poderá ser fornecida com regularidade pela FURP, através do Governo do Estado, e que deverá atender às necessidades de tratamento da maioria das patologias detectadas nas Unidades Básicas de Saúde dos municípios do estado de São Paulo.”
Desta forma, houve um crescimento considerável da participação dos municípios do
Estado de São Paulo no faturamento da FURP, chegando em 1994 a representar
aproximadamente 70%. (SANTOS, 1996).
Este tipo de fornecimento regular é a maneira como os laboratórios oficiais geralmente
trabalham (DALENOGARE, 2009), mediante solicitação do Ministério da Saúde com dispensa
de licitação, utilizando como base jurídica o artigo 24, inciso VIII da Lei nº 8666/93, que
apresenta a seguinte redação:
“para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado.” (BRASIL, 1993).
Destaca-se que este inciso possui uma série de condições:
• quem adquire deve ser pessoa jurídica de direito público interno
• os bens devem ser produzidos pelo laboratório
• o laboratório deve integrar a administração pública
• o laboratório deve ter sido criado para o fim específico de fabricar medicamentos
• o laboratório deve ter sido criado antes da vigência da Lei ( 21 de junho de 1993)
• o preço a ser pago deve ser compatível com o praticado no mercado
A contratação deste tipo de serviço deve seguir as diretrizes estabelecidas no art. 1º da
Instrução Normativa da Secretaria de Tesouro Nacional nº 01, de 15 de janeiro de 1997:
51
“A execução descentralizada de Programa de Trabalho a cargo de órgãos e entidades da Administração Pública Federal, Direta e Indireta, que envolva a transferência de recursos financeiros oriundos de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, objetivando a realização de programas de trabalho, projeto, atividade, ou de eventos com duração certa, será efetivada mediante a celebração de convênios ou destinação por Portaria Ministerial, nos termos desta Instrução Normativa, observada a legislação pertinente.” (BRASIL, 1997).
Os contratos são, então, celebrados na forma de convênio ou portaria, sendo esta
empregada em casos onde as transferências de recursos envolvam dois entes federativos
(DALENOGARE et al., 2009). Porém, o decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007, estabelece
que a modalidade convênio também pode ser usada nestes casos, segundo a definição abaixo:
“acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando a execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação.” (BRASIL, 2007e).
A despeito desse tipo de contrato de serviço representar uma encomenda ao
laboratório, o que a princípio, pode possibilitar uma melhor programação da produção,
DALENOGARE et al. (2009) relata que houve dificuldade dos laboratórios oficiais cumprirem os
prazos de entregas de medicamentos tuberculostáticos da programação 2007-2008. Os
autores relatam, ainda, que as dificuldades de execução foram maiores nos laboratórios
federais, tendo as seguintes justificativas:
• dificuldades relacionadas à licitação dos insumos
• adequação da área de produção
• problemas técnicos de produção do medicamento
• adequação às exigências da ANVISA, quanto aos testes de estabilidade de
medicamento
• interdição da área de produção pela ANVISA
DANTAS et al. (2006) também relatam atrasos no atendimento do programa Hiperdia no
período de 2002 a 2004. COSTA et al. (2008) relacionam uma série de atrasos de um dos
principais laboratórios oficiais, alegando como principais problemas: dificuldades relacionadas
à licitação dos insumos e problemas técnicos de produção do medicamento
COSTA et al. (2008) afirmam que “a descentralização foi justificada e legitimada pela
ineficiência dos produtores públicos, que estavam atrasando entregas e assim prejudicando o
tratamento de pacientes e vulnerabilizando programas de assistência terapêutica.”
52
A estrutura administrativa destes laboratórios limitada pela falta de flexibilidade e
agilidade gerenciais foi diagnosticada em estudos anteriores (HASENCLEVER et al., 2008) e
ajuda a entender esse quadro.
Desta forma, uma vez que a descentralização incorre no aumento da participação dos
municípios, que ficam responsáveis pela assistência farmacêutica básica, sendo esta uma das
principais áreas de atuação dos laboratórios oficiais, espera-se um aumento da participação
destes no faturamento dos laboratórios oficiais.
A Política Nacional de Medicamentos orienta que os entes estaduais e municipais
utilizem prioritariamente a capacidade instalada dos laboratórios oficiais para suprir as suas
necessidades de medicamentos (BRASIL, 1998), porém FERRAES (2002) ao analisar a
assistência farmacêutica nos municípios do Paraná, observou uma grande tendência em
adquirir medicamentos destinados à atenção básica de laboratórios privados, através de
distribuidoras e farmácias comerciais.
A diversificação dos clientes nas esferas subnacionais, proporcionada pela
descentralização da assistência farmacêutica, pode ser interessante para a saúde financeira
destes laboratórios, mas levanta a necessidade de melhorias administrativas e técnicas.
Muitos investimentos estão sendo feitos, como apresentado no capítulo II, para
adequação às boas práticas de fabricação da ANVISA. Em relação ao problema com insumos,
estão sendo desenvolvidos alguns arranjos políticos com vistas à melhoria dessa situação,
como a utilização do poder de compra do Estado para o fomento do setor farmoquímico, além
do desenvolvimento de parcerias com este setor, visando ao desenvolvimento de novos
medicamentos estratégicos para o SUS.
III.2 Políticas de Fomento do Setor Farmoquímico
Em novembro de 2003 foram formuladas as diretrizes da Política Industrial, Tecnológica
e de Comércio Exterior (PITCE), que foi anunciada em março de 2004 e tinha como objetivo “o
aumento da eficiência econômica e do desenvolvimento e difusão de tecnologias com maior
potencial de indução do nível de atividade e de competição no comércio internacional”. Ela está
focada no aumento da eficiência da estrutura produtiva, aumento da capacidade de inovação
das empresas brasileiras e expansão das exportações, nos setores onde o Brasil tem maior
capacidade ou necessidade de desenvolver vantagens competitivas. (BRASIL, 2003b).
As linhas de ação consideradas pelo Governo Federal na implantação da PITCE são:
inovação e desenvolvimento tecnológico, inserção externa, modernização industrial,
capacidade e escala produtiva e opções estratégicas. Em conjunto com estas ações, foi
identificada a necessidade de se concentrar esforços nas áreas de semicondutores, software,
fármacos e medicamentos e bens de capital, que foram escolhidos por serem áreas intensivas
em conhecimento e por conjugar as seguintes características: apresenta dinamismo crescente
e sustentável, é responsável por parcelas expressivas dos investimentos internacionais em
53
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), abre novas oportunidades de negócios, relaciona-se
diretamente com a inovação de processos, produtos e formas de uso, promove o adensamento
do tecido produtivo, é importante para o futuro do país e apresenta potencial para o
desenvolvimento de vantagens comparativas dinâmicas. (BRASIL, 2003b).
No que se refere ao setor de fármacos, as propostas da PITCE baseiam-se no apoio à
pesquisa e desenvolvimento realizado no país, internalização de atividades de P&D, estímulo à
produção doméstica de fármacos e medicamentos, em particular os constantes na RENAME,
fortalecimento do programa de genéricos, exploração da biodiversidade e estímulo aos
laboratórios públicos. (BRASIL, 2003b).
A PITCE incentiva a utilização dos laboratórios oficiais para “criar mercado para os
fornecedores de fármacos domésticos”, o que também é contemplado no Programa Mais
Saúde, lançado em 2007. (BRASIL, 2009c) Porém, MARQUES E HASENCLEVER (2006)
afirmam que apesar de possuir um diagnóstico correto, a PITCE encontrou dificuldades em
conseguir resultados mais concretos. Segundo os autores: “no setor de fármacos e
medicamentos, o principal instrumento ausente é a utilização do poder de compra estatal, que
não foi implementado.”
MARQUES e HASENCLEVER (2006) ao estudarem a compra de medicamentos
antirretrovirais por meio de pregão, identificaram que houve um agravo na situação de
dependência dos fornecedores externos, que ganharam uma média de 82% do valor das
licitações entre janeiro de 2002 e fevereiro de 2005.
Segundo estes autores, a utilização do pregão na compra de fármacos e medicamentos
é especialmente nociva por dois aspectos:
• acentua a concorrência via preços, em um setor onde, este não é um bom
indicador de competitividade
• ao postergar a fase de qualificação dos fornecedores para depois da disputa de
preços, permite que mais empresas com baixa capacitação técnica participem
da licitação
MARQUES e HASENCLEVER (2006) afirmam ainda que a origem destes problemas
encontra-se na legislação que rege as compras públicas (Lei nº 8.666/93). Segundo os autores:
“Esta lei foi fortemente influenciada pela conjuntura política à época de sua elaboração, marcada pelo impeachment de Collor e o escândalo dos “anões do orçamento”, e, conseqüente, preocupação da opinião pública com a corrupção no Estado. Assim, a lei restringe as possibilidades de compras por critérios que não o preço e de favorecimento à produção nacional. Seu formalismo excessivo contribui para o aumento do gasto em tempo para realizar compras e de custos administrativos e dificulta a utilização do poder de compra estatal como instrumento de fomento.”
Segundo COSTA et al. (2008) “um dos maiores constrangimentos para a eficiência da
rede oficial está justamente no sistema de compras governamentais e na fraqueza da indústria
farmoquímica nacional.”
54
O uso do poder de compra ainda é defendido pela Política Nacional de Medicamentos
que incentiva a utilização da capacidade instalada dos laboratórios oficiais para atendimento
das demandas do SUS, além de estimular que estados e municípios utilizem prioritariamente
este potencial de produção para o suprimento das suas necessidades de medicamentos.
(BRASIL, 1998).
CAPANEMA (2006) ao ressaltar o caráter estratégico da cadeia farmacêutica para o
país, afirma que a sua relevância para a saúde da população, seu caráter estratégico e sua
dinâmica inovadora e científica recomendam que “o país, sem fechar suas fronteiras à
importação, invista no desenvolvimento de um parque produtivo autônomo e competitivo e no
estabelecimento de um eficiente sistema de concorrência com as maiores empresas
internacionais.”
Neste sentido, a Portaria Interministerial nº 128, de 29 de maio de 2008, foi instituída
sob a ótica da necessidade de orientação estratégica da contratação pública de fármacos,
visando a torná-la mais eficiente pela garantia, otimização e customização de todas as suas
etapas do processo industrial de produção, com a consequente agregação de valor na
logística, no planejamento e na técnica de produção de medicamentos. (BRASIL, 2008).
Esta portaria determina que “em razão da singularidade, natureza e relevância da
produção de medicamentos, os laboratórios oficiais de produção de medicamentos, em suas
licitações, deverão, sempre que possível, contratar o serviço de customização e produção de
fármacos”. O edital de contratação deste tipo de serviço deverá conter:
• a exigência de que a empresa a ser contratada possua unidade fabril em
território nacional.
• o direito da contratante de promover o acompanhamento e a inspeção direta dos
processos contratados, da garantia da qualidade, da rastreabilidade, da
customização e da otimização de todo o processo de produção e do produto
objeto do serviço.
COSTA et al. (2008) afirmam que a contratação de tal serviço possibilita a obtenção de
um insumo customizado de acordo com as necessidades do processo produtivo do laboratório,
que é obtido mediante o acompanhamento da sua fabricação e a garantia contratual da
responsabilidade do fabricante pela correção de qualquer não-conformidade, seja em que fase
vier a ser verificada.
A Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas
Especialidades (ABIFINA) considera esse tipo de parceria fundamental:
“Trata-se de um procedimento fundamental para a garantia da qualidade dos medicamentos, além de possibilitar a customização do princípio ativo ao parque produtivo do laboratório oficial. Isso é exigido pela Anvisa para registro de genéricos, mas impossível para um Laboratório Oficial se o princípio ativo for tratado como “commodity”, ou seja, depender de licitações anuais pelo “menor preço”. Certo que
55
esse grau de integração entre indústria farmacêutica (contratante/ beneficiária do serviço) e indústria farmoquímica (contratada/ prestadora do serviço) apenas é possível quando a segunda possui unidade fabril em território nacional, sem a qual estaria impedido o acompanhamento técnico da produção e o rápido retorno para a correção de qualquer não-conformidade.” (ABIFINA, 2009)
COSTA et al. (2008) relacionam os seguintes benefícios da obtenção do IFA
customizado, mediante contratação de serviço de uma farmoquímica nacional, com
consequente utilização do poder de compra do Estado:
• ganhos de eficiência advindos do cumprimento de prazos, com melhor
planejamento da área de produção.
• drástica redução de retrabalhos/reprocessos durante o processamento, pela
melhoria da eficiência e pelo ganho de rendimento industrial.
• garantia da qualidade do medicamento produzido.
• eventuais avanços ou melhorias tecnológicas podem ser implantados no curso
da fabricação, sem que se configure mudança no escopo da licitação, que é de
serviço de produção e não compra de um bem previamente dado.
Seguindo o mesmo direcionamento, a Portaria nº 3.031, de 16 de dezembro de 2008,
dispõe sobre os critérios a serem considerados pelos laboratórios oficiais de produção de
medicamentos em suas licitações para a aquisição de insumos farmacêuticos ativos. (BRASIL,
2008a)
Esta portaria estabelece que os laboratórios oficiais devem adquirir os IFA, em suas
licitações, preferencialmente de fabricantes instalados no país, considerando o grau de
verticalização da produção apresentado pelos fornecedores.
A referida portaria afirma ainda que:
“A observância dessa norma ora instituída deverá constituir-se em critério discriminante positivo e deverá estar compulsoriamente presente nas análises de projetos de compras e investimentos realizados pelo Ministério da Saúde junto aos Laboratórios Oficiais de produção de medicamentos.”
Estas portarias foram criadas com o objetivo de garantir a estratégica fabricação
doméstica de medicamentos essenciais à saúde da população, através da adoção de
preferência, nas licitações dos laboratórios públicos, à aquisição de princípios ativos fabricados
no Brasil. Buscando, assim, utilizar o poder de compra do Estado para fomentar as indústrias
farmoquímicas domésticas, além de disponibilizar para os laboratórios oficiais IFA mais
adaptados à sua produção, com potencial repercussão sobre a qualidade do processo
produtivo.
O Lançamento da PITCE em 2004 marca a retomada de políticas para o
desenvolvimento competitivo da indústria brasileira. Este movimento teve continuidade com o
lançamento, em maio de 2008, da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), que substituiu
56
a PITCE, atuando com maior abrangência, buscando um aprofundamento das ações já
iniciadas. (BRASIL, 2009f).
A PDP tem como objetivo central “dar sustentabilidade ao atual ciclo de expansão”,
sendo fortemente articulada com o Programa Mais Saúde. A PDP manteve o foco estratégico
no desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde, dando atenção para o adensamento da
cadeia produtiva, o fortalecimento das empresas nacionais e dos laboratórios oficiais, utilizando
como um dos instrumentos o poder de compra governamental. (BRASIL, 2009f).
Para MARQUES e HASENCLEVER (2006) “uma política de saúde pública que não
privilegie a oferta nacional estará sempre sujeita a risco de desabastecimento em períodos em
que a demanda mundial esteja aquecida”. Desta forma, o incentivo à produção interna de
medicamentos e insumos farmacêuticos é um imperativo de defesa da saúde pública e de
segurança nacional, sendo fundamental para a sustentabilidade das políticas do governo na
área da saúde e para garantia do acesso da população brasileira aos medicamentos
essenciais.
III.3 Parcerias entre Laboratórios Oficiais e Empresas Farmoquímicas
A publicação das Portarias MS nº 3.031/08 (BRASIL, 2008a) e Interministerial nº 128/08
(BRASIL, 2008), deixam claro o direcionamento do Governo no intuito de dar preferência, na
licitação dos laboratórios públicos, à aquisição de IFA fabricados no Brasil, em um esforço de
utilizar o poder de compra para o desenvolvimento deste setor estratégico.
Tal direcionamento é sustentado pelo aumento dos gastos públicos na área da saúde,
que cresceram de 3,3% para 3,5% do PIB entre 2005 e 2007, conforme demonstrado no
relatório Contas-Satélite de Saúde do IBGE (IBGE, 2009) e reforçado pela necessidade de
diminuir o alto déficit comercial no setor de insumos farmacêuticos e medicamentos.
A balança comercial do setor de insumos farmacêuticos atingiu US$ 1,68 bilhão
negativo em 2008, duas vezes maior que 2005. Porém, um pior desempenho foi apresentado
no segmento de medicamentos, com déficit de US$ 3,06 bilhões. (ABQUIF, 2009).
No intuito de contribuir para a melhoria deste quadro e direcionar o desenvolvimento de
novos medicamentos para o atendimento do SUS, o Ministério da Saúde publicou em 16 de
maio de 2008 a Portaria nº 978, que fornece uma lista de produtos estratégicos. (BRASIL,
2008b).
Esta lista tem o propósito de direcionar o mercado farmacêutico nacional para a
fabricação destes produtos estratégicos para o Sistema Único de Saúde. Neste sentido, o
Ministério da Saúde tem articulado parcerias entre laboratórios oficiais e empresas
farmoquímicas, contando também com a participação de alguns laboratórios privados.
Assim, foram divulgados em maio de 2009 os primeiros produtos da Portaria nº 978/08
que serão desenvolvidos por meio destas parcerias, conforme apresentado na Tabela III.1.
57
Tabela III.1 – Parcerias entre laboratórios oficiais e empresas privadas. (Fonte: BRASIL, 2009c).
Indústrias Farmoquímicas
Produtos Indicação
Terapêutica
FARMANGUINHOS
Globe Tenofovir Antirretroviral
Chemo (Argentina) Budesonida; Formoterol+budesonida Tratamento de asma
Lupin (Índia)
Canamicina; Ciclocerina; Etionamida; Etambutol+Isoniazida+ Pirazinamida+
Rifampicina (4 em 1)
Tuberculostático
Stragen Pharma (Suíça) + Biolab + Libbs
Ciproterona + Etinilestradiol; Gestodeno + Etinilestradiol; Levonorgestel + Etinilestradiol;
Desogestrel; Etinilestradiol Contraceptivo
HEMOBRAS
Cristália Fator VII-a recombinante Hemofilia
LQFEx
Roche + Nortec Micofenolato (mofetila); Micofenolato (sódico) Imunossupressor
LAQFA
Libbs Tacrolimo Imunossupressor
FUNED
Nortec Química+Blanver: Tenofovir
Atorvastatina
Antirretroviral
Redução de colesterol
não indicado Salbutamol Tratamento de asma
LAFEPE + NUPLAM
Cristália Clozapina; Olanzapina; Quetiapina Antipsicóticos
INSTITUTO VITAL BRASIL
Laborvita/Mappel Rivastigmina Tratamento de Alzheimer
LFM
Nortec + Blanver Raloxifeno Osteoporose
Cristália Sevelamer Insuficiência Renal
Globe Quimica+LaborVita Leflunamida Imunossupressor
Globe Quimica + LaborVita Ziprasidona Antipsicótico
Entre os laboratórios públicos apresentados na Tabela III.1, apenas a Hemobrás ainda
não está operando. Trata-se de uma fábrica de hemoderivados localizada em Goiânia,
município do norte de Pernambuco, que possui previsão de inauguração para 2010. (BRASIL,
2010b).
A interação entre os laboratórios oficiais e as indústrias farmoquímicas nacionais, visa o
fortalecimento do Complexo Industrial da Saúde. Os primeiros mobilizam-se para atender ao
maior numero possível de produtos constante da listagem estratégica divulgada pela Portaria
58
nº 978/08, enquanto que os segundos, seguros da demanda gerada, comprometem-se a
nacionalizar a produção dos IFA.
Dos 27 medicamentos que estão contemplados nesta fase inicial, destaca-se o fato de
não haver nenhum produto do componente básico da assistência farmacêutica, o que revela
um direcionamento da produção pública para produtos de maior valor agregado.
Neste sentido, estão presentes 12 medicamentos do Grupo 1 do componente
especializado da assistência farmacêutica, que contempla medicamentos que representam
elevado impacto financeiro. VIDEIRA (2008) relata um aumento de 252% nos gastos
governamentais com os medicamentos deste componente, no período de 2003 a 2007.
Destaca-se ainda a presença de 4 medicamentos pertencentes ao componente
estratégico, que são utilizados para tratamento da tuberculose. Atualmente os medicamentos
para tratamento desta doença são produzidos exclusivamente pelos laboratórios oficiais
(DALENOGARE, 2009).
Acredita-se que estas parcerias fornecerão uma economia anual de R$ 130 milhões nos
próximos cinco anos (BRASIL, 2009e). Estas medidas são um esforço em direção a uma
cadeia produtiva verticalmente integrada, estrategicamente necessária para a sustentabilidade
das políticas de saúde do Estado.
59
Capítulo IV – Gestão da Cadeia de Suprimentos
Considerações Iniciais
Neste capítulo apresenta-se o conceito de cadeia de suprimento (seção IV.1),
necessário para compreender todas as etapas requeridas para que um produto ou serviço
esteja à disposição do consumidor, inclusive os medicamentos.
A gestão de todas estas etapas é uma atividade complexa conhecida como
gerenciamento da cadeia de suprimentos (seção IV.2), que lida com o relacionamento ao longo
da cadeia e se utiliza da modelagem (seção IV.3) como uma ferramenta de representação e
análise crítica para propor melhorias.
São apresentados os aspectos singulares da gestão da cadeia de suprimentos na área
farmacêutica (seção IV.4), e são descritos novas fronteiras para a cadeia de suprimentos dos
laboratórios oficiais, dentro das perspectivas de Responsabilidade Social Corporativa, Teoria
dos Stakeholders, Sustentabilidade e Avaliação do Ciclo de Vida.
IV.1 Cadeia de Suprimentos
Para que um produto ou serviço seja criado, elaborado e colocado ao alcance do
consumidor final, uma série de atividades diferenciadas e complementares são requeridas,
desde a extração dos insumos básicos, que serão beneficiados e convertidos em determinados
produtos finais, até a distribuição destes nos pontos de vendas.
O conceito de cadeia de suprimentos, no campo da gestão empresarial, abrange o
acompanhamento e estudo das interfaces das empresas, ou seja, todos os entrantes (inputs)
de materiais de uma empresa, num movimento longitudinal que vai desde os fornecedores dos
fornecedores, até os clientes dos clientes.
A Figura IV.1 apresenta uma visão geral que, segundo HARLAND (1996), está
associada aos diferentes níveis de análises que vem sendo utilizado pelas pesquisas
envolvendo o tema cadeia de suprimentos.
Figura IV.1 - Níveis de pesquisa em gestão da cadeia de suprimentos. (Fonte: HARLAND, 1996).
60
Neste contexto, SLACK et al. (2008) afirmam que “nenhuma operação produtiva, ou
parte dela, existe isoladamente. Todas as operações fazem parte de uma rede maior,
interconectada com outras operações”. As decisões dentro desta rede devem iniciar com a
definição dos objetivos estratégicos da organização, para então decidir como administrar a
localização de cada atividade produtiva e a sua capacidade geral dentro da rede. Estes autores
consideram que a administração da produção deve incluir esta perspectiva de rede de
suprimentos por três razões principais:
• Ajuda a empresa a compreender como pode competir mais efetivamente
• Ajuda a identificar ligações entre nós especialmente significativas na rede
• Ajuda a empresa a focalizar uma perspectiva de longo prazo na rede
Os autores afirmam ainda que esta rede inclui fornecedores e clientes que têm contato
direto (rede imediata de fornecimento), podendo abranger os fornecedores dos fornecedores e
os clientes dos clientes, em uma perspectiva mais ampla (rede total de suprimentos). Esta
perspectiva de rede designa todas as unidades produtivas que se relacionam para prover o
suprimento de bens e serviços até o cliente final. Em grandes organizações, pode haver vários
ramos de unidades produtivas ligadas, passando pela rede. Estes ramos são normalmente
denominados de cadeia de suprimentos (SLACK et al., 2008), e correspondem ao nível 3 da
representação proposta por HARLAND (1996).
O conceito de cadeia de suprimentos, segundo BALLOU (2006), “abrange todas as
atividades relacionadas com o fluxo e transformação de mercadorias desde o estágio da
matéria-prima (extração) até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação”. A
idéia de que na cadeia de suprimentos existe um fluxo de informação, além do fluxo de bens
materiais é compartilhada por SLACK et al. (2008).
Estes autores divergem, no entanto, quando abordam o conceito de logística. BALLOU
(2006) iguala os conceitos de cadeia de suprimentos com a logística, como segue na citação
abaixo.
“A Logística/Cadeia de Suprimentos é um conjunto de atividades funcionais (transportes, controle de estoques, etc.) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo qual matérias-primas vão sendo convertidas em produtos acabados, aos quais agrega valor ao consumidor.” (BALLOU, 2006).
A descrição acima que BALLOU (2006) adota sobre a função da cadeia de suprimentos
é a mesma da logística. Segundo o autor essa semelhança se dá pela mesma orientação que
as duas formas têm em “gerir os fluxos de produtos e serviços de maneira eficaz e eficiente.”
Já para SLACK et al. (2008), a logística abrange os canais de distribuição de bens
produzidos, até os clientes finais. Esse movimento é apenas parte da gestão da cadeia de
suprimentos, que tem um conceito mais amplo, englobando desde a retirada da matéria-prima,
passando pelos fornecedores de segunda e primeira camada, a atividade produtiva e por fim a
distribuição, a cargo da logística, até os clientes finais.
61
TAN (2001) também inclui as atividades de extração de matéria-prima, e acrescenta a
reciclagem de produtos, quando aplicável, conforme esquematizado na Figura IV.2.
Figura IV.2 - Atividades em uma cadeia de suprimentos. (Fonte: TAN, 2001).
Por vezes, existem dúvidas sobre a correlação de temas que envolvem a cadeia de
suprimentos, tais como: gestão de compras e suprimentos, gestão da distribuição física,
logística, gestão de materiais e gestão da cadeia de suprimentos. SLACK et al. (2008),
fornecem uma representação (Figura IV.2) que ajuda a visualizar a abrangência de cada um
destes temas.
Figura IV.3 - Alguns termos utilizados para descrever a gestão de partes da cadeia de suprimentos.
(Fonte: SLACK et al., 2008).
62
Desta forma, distinguem-se claramente dois lados, dentro da perspectiva de operação
em cadeia: o lado da demanda e o lado do suprimento.
No lado do suprimento a gestão de compras lida com a interface da operação com os
mercados de suprimento. Enquanto que do lado da demanda, a gestão da distribuição física
trata das atividades de suprimento imediato aos consumidores. Estes dois conceitos atuam na
cadeia de suprimentos imediata, sendo que a gestão do fluxo de materiais e informações neste
nível é contemplada pela gestão de materiais. (SLACK et al., 2008).
Os autores afirmam que o termo logística é usado, algumas vezes, como análogo a
gestão da distribuição física. Porém, mais recentemente, tem sido usado para descrever esta
gestão além do consumidor imediato, indo até o consumidor final.
Todas essas atividades e características componentes de uma cadeia de suprimentos,
associadas à existência de várias empresas interagindo em cada estágio, deixam claro a
complexidade desse arranjo e a importância de sua gestão.
IV.2 Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos
Quando um consumidor decide fazer uma compra, ele dispara uma ação que percorrerá
toda a cadeia de suprimentos. O gerenciamento destas atividades pode aumentar a eficiência
da cadeia como um todo, o que permite a manutenção do estoque somente onde é necessário,
identificando gargalos, balanceando capacidade e coordenando um fluxo suave de materiais.
A gestão desta cadeia é definida por SLACK et al. (2008) como “a gestão da
interconexão das empresas que se relacionam por meio de ligações a montante e a jusante
entre os diferentes processos, que produzem valor na forma de produtos e serviços para o
consumidor final.”
A definição do Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP) para
gestão da cadeia de suprimentos (suppy chain management) apresenta-se um pouco mais
detalhada:
“Supply Chain Management abrange o planejamento e gerenciamento de todas as atividades envolvidas em sourcing (fonte de fornecimento) e procurement (procura), conversão e todas as atividades de gestão logística. Deve também ser considerado a coordenação e colaboração com os parceiros do canal, que podem ser fornecedores, intermediários, prestadores de serviços terceirizados e clientes. Em essência, Supply Chain Management integra o gerenciamento do suprimento e da demanda dentro e através das empresas.” (CSCMP, 2010).
Um dos principais avanços da cadeia de suprimentos nos últimos anos tem sido o
aumento da disposição das organizações de comprar produtos e serviços de outros países, em
busca da redução dos custos totais. A despeito de todas as vantagens oriundas deste processo
de globalização, SLACK et al. (2008) levantam alguns problemas, destacando-se o fato de que
nem sempre é possível investigar fornecedores a longa distância. Estas empresas podem,
inadvertidamente, desenvolver relacionamentos com fornecedores cuja prática de trabalho seja
muito diferente de sua própria postura ética, além de dificultar a realização de auditorias, que
63
podem auxiliar na garantia da qualidade do material a ser adquirido. Outro ponto levantado
pelos autores é o aumento do risco de atrasos e retenções em comparação com fornecedores
locais. Deve-se considerar, ainda, a possibilidade de um aumento do impacto ambiental, dado
o maior consumo de combustíveis.
Fica evidente que, por envolver um fluxo constante de produtos, serviços e informações
entre estágios, a cadeia de suprimentos tem um caráter dinâmico, demonstrado por
FORRESTER (1961), nos anos 60, ao comprovar que tal caráter pode causar erros, inexatidão
e volatilidade, e que esses problemas são crescentes para empresas mais a jusante da cadeia
de suprimentos.
O efeito Forrester não é causado somente por erros e distorções. De fato, a principal
causa é um desejo racional e perfeitamente compreensível, de cada um dos diferentes elos na
cadeia de suprimentos, de gerenciar suas taxas de produção e níveis de estoque de maneira
independente. (SLACK et al., 2008).
FINE (1998) apresenta uma visão mais dinâmica acerca da cadeia de suprimentos. O
autor argumenta que as vantagens competitivas advindas de um projeto eficiente de cadeia de
suprimentos vão paulatinamente deixando de sê-las, e isso ocorre cada vez mais rapidamente.
Portanto, e com base nisto, argumenta ser importante que as empresas continuamente façam
reavaliações sobre o seu futuro, e ainda busquem avaliar e entender como as mudanças em
relação às condições ambientais nos mercados e setores onde atuam, irão futuramente
interferir ou não, no desenho e no respectivo desempenho de sua cadeia de suprimentos.
As dinâmicas das mudanças que ocorrem nas indústrias têm influenciado o design, a
operação e os objetivos da cadeia de suprimentos, aumentando a ênfase em: aumento dos
níveis de serviço ao cliente, redução do tempo de ciclo, aumento da qualidade dos produtos e
serviços, redução de custo, fluxos de processos e tecnologia da informação integrados e
flexibilização da customização dos produtos para atender às necessidades dos clientes.
(DONG e CHEN, 2001).
TUMMALA et al. (2006) conduziram um estudo de caso para identificar importantes
fatores que são necessários para a implementação da gestão da cadeia de suprimentos em
uma organização. Os autores identificaram a flexibilidade como um dos fatores mais
importantes, destacando-se também: redução dos custos de operação, aumento da
comunicação entre os elos da cadeia, melhoria do inventário, prazos de entrega e satisfação
dos clientes.
FANTAZY et al. (2009) afirmam que flexibilidade na cadeia de suprimentos representa
um potencial significativo de aumento da eficiência da organização.
A questão da dinâmica e da flexibilidade exigidos na cadeia de suprimentos, pode ser
melhor entendida com a visão, dentro dos estudos organizacionais, da teoria da contingência
estrutural. Segundo DONALDSON (2007):
64
“A hipótese central da teoria da contingência estrutural é a de que as tarefas de baixa incerteza são executadas mais eficazmente por meio de uma hierarquia centralizada, pois isso é mais simples, rápido e permite uma coordenação estrita mais barata. À medida que a incerteza na tarefa aumenta, por meio de inovação ou outro fator similar, a hierarquia precisa perder um pouco do controle e ser coberta por estruturas comunicativas e participativas.”
Com base neste conceito, MARTINS E FILHO (1999) colocam em relevo a relação entre
a estrutura organizacional e a dinâmica do ambiente externo à organização, a partir de
variáveis tais como tecnologia, mercado e pessoas. Desta forma:
“a proposição defendida é de que há uma dinâmica organizacional em função do ambiente externo: na medida em que há variações na tecnologia (inovação), mercados (expansão, diversificação) e pessoas (cultura); varia a estrutura, de tal forma que a organização possa se manter capaz de responder às demandas do ambiente e, por conseguinte, sustentar sua sobrevivência.”
A teoria contingencial sugere um padrão adaptativo entre a organização e seu meio.
Segundo esta visão, as organizações seriam variáveis dependentes do meio onde atuam e, na
medida em que o meio se tornasse crescentemente instável, a estrutural organizacional
apontaria para um padrão de organização e gestão interna mais flexível, de modo que as
rápidas e imprevisíveis mudanças ambientais pudessem ser respondidas. Organizações que
não estão sujeitas a fortes pressões ou instabilidades ambientais, poderiam operar segundo
um padrão de organização mais rígido, baseado em regras, estruturas e procedimentos
estáveis. (DONALDSON, 2007; MARTINS e FILHO, 1999).
Toda essa dinâmica levanta a necessidade de melhorar o seu desempenho, para isso,
SLACK et al. (2008), propõe algumas características que auxiliam na melhoria da cadeia de
suprimentos, são eles: informações compartilhadas, alinhamento de canal e eficiência
operacional.
Neste sentido, SLACK et al. (2008) defendem que as informações devem ser
transmitidas através da cadeia de modo que todas as operações possam monitorar a demanda
verdadeira, livre de distorções. Afirmam ainda que o alinhamento de canal pressupõe ajuste da
programação, movimentos de material, níveis de estoque, preço e outras estratégias de vendas
de modo a alinhar todas as operações da cadeia, harmonizando os sistemas e métodos do
processo decisório do planejamento e controle através da cadeia.
Por fim, eficiência operacional pode ser traduzida nos esforços que cada operação na
cadeia pode fazer para reduzir sua própria complexidade, reduzindo os custos de fazer negócio
com outras operações. O efeito cumulativo dessas atividades individuais é simplificar a
travessia de toda a cadeia.
65
IV.2.1 Tipos de relacionamento em cadeias de suprimentos
Do ponto de vista das operações individuais dentro da cadeia de suprimentos, uma das
principais questões é como elas devem administrar seus relacionamentos com seus
fornecedores e consumidores imediatos. Neste sentido, SLACK et al. (2008), defendem que: “o
comportamento de toda a cadeia de suprimentos é, afinal de contas, constituído de
relacionamentos que são formados entre pares individuais da cadeia.”
O gerenciamento destes relacionamentos tem correlação com o conceito de
governança, através do qual os gestores procuram balancear os interesses dos clientes,
fornecedores, funcionários, comunidades e todos os stakeholders.
Estes relacionamentos, segundo os autores, “são algumas vezes descritos em termos
de fluxos entre as operações envolvidas.” Assim, são fornecidos, na Figura IV.4, os principais
elementos de troca em diferentes tipos de relacionamento entre os elos da cadeia de
suprimentos.
Fornecedor
Recursos produtivosBens e serviçosInformação
Dinheiro e participaçãoControle e relatórios
Cliente
Fornecedor
Especificação de projetoPlanos de médio e longo prazos
Bens e serviçosConhecimento e investimento
Cliente
Fornecedor
Comprometimento de capacidade
Especificação de projetoPrevusão de demanda
Ordens abertas e programas de entrega
Cliente
FornecedorBens e serviços
Pedidos e documentaçãoCliente
Tipo de relacionamento Elementos de troca Exemplos típicos
Integração vertical
Relacionamento de parceria
Relacionamento de mercado de longo prazo
Relacionamento de mercado de curto prazo
Empresas multi-divisionaisp. ex.: alimento e química
Empresas co-fabricantes, joint-venture.p. ex.: automotivas
Uma ou duas fontes de fornecimento preferencial.p. ex.: eletrônica de defesa
Pedidos spot.p. ex.: papelaria
Figura IV.4 - Elementos de troca em diferentes tipos de relacionamento. (Fonte: SLACK et al., 2008).
Existem diferentes maneiras pelas quais os relacionamentos da cadeia de suprimentos
podem ser desenvolvidos, onde pode-se destacar: integração vertical, relacionamentos
tradicionais de mercado (curta duração), parcerias, terceirização, redução da base de
66
fornecedores, focalização e “Just in time”. (HARLAND, 1996; SLACK et al., 2008). Nesta seção
serão abordados os três primeiros tipo de relacionamento.
Estes relacionamentos acontecem entre dois extremos do ponto de vista de arranjos
institucionais, onde de um lado está o mercado aberto e no outro extremo a empresa integrada
verticalmente. (HARLAND, 1996).
A integração vertical trata de quanto da cadeia de suprimentos uma empresa deve
possuir. SLACK et al. (2008) afirmam que “a decisão de integração vertical é geralmente
caracterizada como decisão de ‘fazer ou comprar’ ”. Desta forma, uma organização ao decidir
comprar um determinado produto, está implicitamente decidindo por não produzi-lo.
SLACK et al. (2008) defendem que o principal critério utilizado para a decisão de fazer
ou comprar é financeiro. Entretanto, algumas indústrias farmacêuticas decidem por uma maior
integração vertical, dominando a produção dos insumos farmacêuticos ativos, uma vez que a
customização destes insumos é fundamental para garantir a qualidade do processo produtivo,
como discutido no capítulo II, além de muitos estarem sob proteção patentária.
O oposto do desenvolvimento interno é a aquisição segundo os relacionamentos
tradicionais de fornecimento de mercado, que buscam o melhor fornecedor cada vez que é
necessário comprar, constituindo, geralmente, um relacionamento de curto prazo. SLACK et al.
(2008) elencam como vantagens deste tipo de relacionamento: concorrência entre os
fornecedores com a perspectiva de obter o melhor valor; a flexibilidade inerente em
fornecimentos terceirizados, podendo alterar o número e o tipo de fornecedores de acordo com
a demanda; as inovações podem ser exploradas independentemente de onde se originam,
“podendo ser adquiridas de forma mais barata e rápida do que seriam se a própria empresa
estivesse tentando inovar, elas podem ajudar as operações a concentrar atenção nas
atividades centrais.”
Da mesma forma, estes autores listam as principais desvantagens dos relacionamentos
tradicionais de mercado: pode haver incertezas de mercado em relação ao pedido, uma vez
que é difícil manter o controle sobre a maneira como aquele pedido será cumprido; escolher de
quem comprar consome tempo e esforço; existem riscos estratégicos em subcontratar
atividades de outras empresas, considerando que a confiança demasiada em terceirização
pode esvaziar a empresa, deixando-a sem capacidades internas que possam ser exploradas
em seu mercado.
SLACK et al. (2008) afirmam, ainda, que no setor público, as compras são baseadas em
contratos de curto prazo, uma vez que existe a necessidade de provar que o dinheiro público
está sendo usado da forma mais idônea possível. A despeito deste quadro, os autores afirmam
que:
“esse tipo de relacionamento de curto prazo, orientado para preço, pode ter um lado negativo em termos de apoio constante e confiabilidade. Isso pode significar que a decisão de comprar ‘pelo menor valor’ pode, na verdade, envolver, com o tempo, custo total maior para a empresa compradora.”
67
O último tipo de relacionamento que será abordado nesta seção é o fornecimento em
parceria, que em cadeia de suprimentos é, algumas vezes, visto como um tipo intermediário de
relacionamento dentro de um espectro abrangendo da integração vertical até o puro
relacionamento de mercado. (HARLAND, 1996; SLACK et al., 2008).
Parceria pode ser definida como uma forma de relacionamento entre duas organizações
independentes, caracterizadas por um compromisso de longo prazo baseado em confiança
mútua e alto nível de interdependência, envolvendo compartilhamento de metas compatíveis,
de informação, de riscos e de recompensas, e gerando uma vantagem competitiva que resulta
em um desempenho melhor do que seria alcançado pelas empresas individualmente. (LENKE
et al., 2003).
No centro do conceito de parcerias está a questão da proximidade do relacionamento.
SLACK et al. (2008) relacionam os fatores que influenciam o grau deste relacionamento:
• Compartilhar sucesso: Uma atitude de compartilhar sucesso significa que ambos
os parceiros trabalham juntos de modo a aumentar o volume total de benefício
conjunto que receberão.
• Expectativas de longo prazo: relacionamentos de parceria implicam
comprometimentos de prazo relativamente longo, mas não necessariamente de
relacionamentos permanentes.
• Múltiplos pontos de contato: a comunicação entre parceiros não se dá somente
por canais formais, mas pode ocorrer entre muitos indivíduos e ambas as
empresas.
• Aprendizagem conjunta: os parceiros em um relacionamento estão
comprometidos em aprender com a experiência e as percepções de cada um
sobre as outras operações dentro da cadeia.
• Poucos relacionamentos: embora os relacionamentos de parcerias não
impliquem necessariamente compras de uma única fonte, existe
comprometimento da parte dos parceiros em limitar o número de consumidores
e fornecedores com quem eles negociam. É difícil manter relacionamentos
próximos com muitos parceiros diferentes de comércio.
• Coordenação conjunta das atividades: devido ao fato de haver menos
relacionamentos, torna-se possível coordenar as atividades como o fluxo de
materiais ou serviços, pagamento e assim por diante.
• Transparência de informações: A troca aberta e eficiente de informações é vista
como elemento-chave em parcerias porque ajuda a construir confiança entre
parceiros.
68
• Resolução conjunta dos problemas: Embora as parcerias nem sempre se
desenvolvam suavemente, abordar os problemas em conjunto pode aumentar a
proximidade com o tempo.
• Confiança: Significa a disposição de um parceiro de relacionar-se com o outro
tendo o entendimento de que o relacionamento será benéfico para ambos,
mesmo que isso não possa ser garantido. É tida como o elemento-chave em
parcerias de sucesso, mas também, de longe, o elemento mais difícil de ser
desenvolvido.
Existem estudos que propõem modelos para a avaliação de parcerias em cadeias de
suprimentos. Neste sentido, MOHR e SPEKMAN (1994) propuseram um modelo baseado em
duas premissas: parcerias contêm um conjunto de características comportamentais que as
distingue dos relacionamentos tradicionais e parcerias de sucesso apresentam estas
características com mais intensidade. O modelo foi testado empiricamente sob a ótica da
percepção do distribuidor, no contexto da parceria fabricante-distribuidor na indústria de
computadores. A análise dos resultados indicou que as variáveis significativas para prever o
sucesso da parceria são: coordenação, comprometimento, confiança, qualidade da
comunicação, compartilhamento de informação, participação, solução conjunta de problemas e
evitar o uso de táticas agressivas na gestão de conflitos.
MONCZKA et al. (1998) desenvolveram um estudo baseado em uma adaptação do
modelo de MOHR e SPEKMAN (1994) e coletaram dados entre mais de 200 empresas
representando uma grande gama de indústrias, focando na relação com o fornecedor, sob a
ótica do fabricante. Os resultados obtidos quanto às variáveis significativas para prever o
sucesso da parceria foram consistentes com aqueles de MOHR e SPEKMAN (1994). Assim,
estes dados sugerem que este modelo pode ser usado para avaliar as parcerias por toda a
cadeia de suprimentos.
IV.3 Modelagem da Cadeia de Suprimentos
O conceito de cadeia de suprimentos é um modelo, adotado como forma de descrever e
explicar a realidade complexa em que existem e atuam os agentes sociais, particularmente,
empresas responsáveis pela produção de determina do conjunto de bens e serviços. Todo
modelo, por definição, consiste de uma redução ou simplificação do objeto ou fenômeno que se
deseja representar. Segundo MIN e ZHOU (2002), nenhum modelo pode capturar todos os
aspectos dos processos de uma cadeia de suprimentos. Porém, são informações essenciais
para ajudar na visualização e compreensão, além de auxiliar na resolução de problemas.
(HUANG et al., 2009).
No caso particular das cadeias de suprimentos, dada as características de
espacialidade e de territorialidade que lhe são próprias, pode-se pensar, para sua
69
representação, no suporte do conceito de espaço, oriundo da Geografia. Milton Santos define o
espaço (objeto da Geografia) como “um conjunto indissociável de sistemas de objetos e
sistemas de ações” (SANTOS, 2008). Este autor afirma que:
“Considerar o espaço como esse conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, assim, como estamos propondo, permite a um só tempo, trabalhar o resultado conjunto de categorias susceptíveis de um tratamento analítico que, através de suas características próprias, dê conta da multiplicidade e da diversidade de situações e de processos.”
Revelando, assim, a complexidade das interações entre os diversos agentes envolvidos
por todos os canais da cadeia de suprimentos. BEUREN (1998) afirma que:
“a partir da escolha de um grupo de variáveis e uma especificação de suas inter-relações, projetadas para representar um processo ou sistema real, total ou parcialmente, um modelo é a descrição do funcionamento de um sistema, representando uma construção em particular, utilizando-se da teoria, a qual lhe serve como suporte conceitual.”
DONG e CHEN (2001) afirmam que em resposta às frequentes mudanças operacionais
e organizacionais nos processos de negócios da cadeia de suprimentos, uma empresa
necessita impor adaptações em áreas relevantes. Por este motivo, os autores justificam que os
modelos devem ser construídos e utilizados para verificar e corrigir eventuais problemas.
Segundo SCHEER (1998) a utilização de modelos para a descrição de fenômenos
empresariais pode servir para:
• obter uma maior compreensão da empresa
• adquirir e registrar conhecimento para uso posterior
• racionalizar e garantir o fluxo de informações
• projetar e especificar uma parte da empresa
• analisar aspectos específicos da empresa
• simular o funcionamento da empresa
• auxiliar a tomada de decisões sobre operações e a organização da empresa
• auxiliar o desenvolvimento e implantação de soluções de forma integrada
Em geral, pode-se definir como sendo objetivos da modelagem (VERNADAT,1996):
• prover um melhor entendimento e uma representação comum da empresa
• dar suporte a projetos de estruturação e mudanças dentro da empresa
• gerar modelos para controlar, coordenar e monitorar as operações da empresa
Os modelos possibilitam o entendimento do objeto de interesse e viabilizam uma série
de atividades, desde uma simples padronização de procedimentos a uma análise mais
detalhada para o planejamento de futuras melhorias.
70
ANDRADE (2002) apresenta um modelo para representação e análise de cadeias de
suprimentos baseado no mapeamento do fluxo de valor, que, segundo o autor, pode ser
definido da seguinte forma:
“O Mapeamento do Fluxo de Valor é uma técnica de modelagem voltada para a representação de ambientes de manufatura. O grande diferencial desta técnica está na capacidade de representar simultaneamente o fluxo de materiais e informações dentro de uma empresa, utilizando um conjunto específico de ícones para representação dos processos produtivos e dos sistemas de controle de produção. Um fluxo de valor compreende todas as ações, que agregam valor ou não, necessárias para produzir um produto, desde a matéria-prima ao produto final.”
Entre as vantagens desta técnica, o autor destaca:
• permite uma visão ampla de todo o fluxo, e não dos processos isoladamente
• auxilia a identificação dos desperdícios considerados pela produção enxuta
• mostra simultaneamente a relação entre os fluxos de materiais e informações
• fornece uma linguagem simples e comum para tratar os processos de
manufatura
• torna as decisões mais visíveis, permitindo uma discussão prévia das possíveis
alternativas de melhoria
• forma a base de um plano de ações
DONG e CHEN (2001) apresentam uma metodologia para representação e análise de
cadeia de suprimentos utilizando Redes de Petri. Esta técnica foi criada por Carl Adam Petri,
em seus estudos para tese de doutorado, em 1968, mas a primeira utilização oficial do termo
“Rede de Petri”, foi em 1975, em uma convenção do MIT – Massachusetts Institute of
Technology. (MARRANGUELLO, 2005).
Segundo FRANCES (2003), a Rede de Petri “é uma técnica de modelagem, que
permite a representação de sistemas” e segundo MARRANGUELLO (2005), pode ser utilizada,
entre outras coisas, para a avaliação de desempenho e para a representação de sistemas de
produção.
SLACK et al. (2008) fornecem uma representação baseada na perspectiva de rede de
operações, semelhante a apresentada na Figura IV.2. Esta representação fornece uma rica
visualização de todas as etapas envolvidas, tanto do lado da demanda como do fornecimento,
subdividindo-as em diferentes camadas. A Figura IV.5, traz uma representação da rede de
operações para um shopping center.
71
Figura IV.5 - Rede de operações para um shopping center. (Fonte: SLACK et al., 2008).
Nota-se claramente na Figura IV.5, que esta rede de operações é formada por vários
ramos (cadeias de suprimentos), conforme definido por SLACK et al. (2008). Considerando que
os laboratórios farmacêuticos desenvolvem um conjunto de operações que formam uma rede e
que este trabalho aborda a dinâmica de um destes ramos, o que envolve os insumos
farmacêuticos ativos, optou-se por adaptar a representação proposta por SLACK et al. (2008)
para a modelagem da cadeia de suprimentos do laboratório oficial estudado.
IV.4 Cadeia de Suprimentos Farmacêutica
A indústria farmacêutica pode ser definida como um complexo de processos, operações
e organizações envolvidas na descoberta, desenvolvimento e fabricação de fármacos e
medicamentos (SHAH, 2004). SUNDARAMOORTHY e KARINI (2004) dividem a produção
farmacêutica em dois níveis: primário e secundário. O nível primário envolve a produção dos
insumos farmacêuticos ativos e dos adjuvantes farmacotécnicos, enquanto que a produção
secundária concentra-se na formulação e produção dos medicamentos, além da distribuição
aos consumidores.
Estes autores, de maneira similar à proposta de FRENKEL et al. (1978), dividem ainda
a cadeia de suprimentos farmacêutica em quatro camadas (Figura IV.6). A primeira camada é
formada pelas indústrias químicas de base que fornecem as matérias-primas básicas para a
produção de insumos farmacêuticos ativos, podendo ainda fornecer intermediários químicos de
síntese[5] ou o próprio IFA.
5 Intermediários químicos de síntese são produtos fabricados através de sínteses químicas, normalmente a partir da petroquímica básica ou, mais recentemente, via processos biotecnológicos a partir de matérias-primas da química orgânica básica, seja de origem petroquímica, seja da biomassa. A partir dos intermediários de síntese são produzidos os intermediários de uso, ou princípios ativos utilizados na fabricação de especialidades - medicamentos e defensivos agrícolas ou animais, bem como as demais especialidades finais da química fina - produtos colocados no mercado consumidor, como os cosméticos. Uma característica do intermediário de síntese é que o mesmo produto pode ser utilizado em diversos setores da indústria química. (ABIFINA, 2010a).
72
A segunda camada é formada pelas empresas do nível primário de produção, que
fornecem insumos para as indústrias da terceira camada, estas responsáveis pela produção
dos medicamentos. Por fim, a quarta camada inclui os clientes como distribuidoras, farmácias e
drogarias, hospitais etc.
SHAH (2004) afirma que historicamente as indústrias farmacêuticas têm dado mais
atenção aos processos de descobrimento de novos fármacos, vendas e marketing (os
extremos da cadeia de suprimentos), mas agora têm voltado a sua atenção para a otimização
da cadeia de suprimentos como forma de agregar valor.
Esta se apresenta sobremaneira complexa, além dos problemas habituais de estrutura,
conduta e desempenho, comuns a todas as cadeias de suprimentos. AHMAD et al. (2009)
lembram que, em relação à indústria farmacêutica, é preciso levar em conta a elevada taxa de
mudança de tecnologia, a importância da proteção de patentes, o potencial de poder de
mercado e de preço de produtos inovadores e estratégias competitivas.
Figura IV.6 – Típica cadeia de suprimentos farmacêutica. (Fonte: SUNDARAMOORTHY e KARINI,
2004).
O crescente aumento dos gastos governamentais com medicamentos, conforme
apresentado no capítulo I, em parte devido ao envelhecimento populacional, tem aumentado as
medidas tomadas sobre o mercado, como controle de preços e incentivo ao uso de produtos
genéricos, sempre que possível.
Dado o enorme potencial para efeitos adversos à saúde, a indústria está sujeita a uma
regulação muito intensa. Esta começa a partir dos processos utilizados para avaliar a
73
segurança e eficácia dos compostos químicos, até os detalhes dos processos, das instalações
e operações nas fábricas. Os processos de regulamentação tendem a ser lentos e caros, estes
dois efeitos em geral são absorvidos pela indústria. (SHAH, 2004).
Para que um cidadão brasileiro tenha acesso aos medicamentos de que precisa, uma
série de operações é requerida e diversas cadeias se relacionam, fornecendo os insumos
necessários para a produção deste produto essencial. Assim, uma típica rede de suprimentos
da indústria farmacêutica brasileira pode ser representada de acordo com a Figura IV.7. Esta
figura foi elaborada a partir do modelo desenvolvido pelo Centro de Excelência em Logística e
Cadeias de Abastecimento da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e apresentado por
MARADEI JR. (2008).
Indústrias Químicas
Indústrias Farmoquímicas
Indústrias Farmacêuticas
(matriz e subsidiárias)
Indústrias Farmoquímicas
Distribuidoras de Insumos
Farmacêuticos
Gráficas e Fabricantes de Embalagem
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Outras Indústrias
Farmacêuticas
Centro de Distribuição de Redes de Drogarias
Distribuidores
Centrais de Compras Privadas
Centrais de Compras Públicas
Drogarias de Rede
Drogarias Independentes
Drogaria Associadas
Hospitais e Clínicas Privadas
Estebelecimentos Públicos de
Saúde
IS
IFA
MG
IFA+AF
Médicos
Pacientes
IS IS
MED+ MS
MED + MS
MED+ MS
MED+ MS
AG
MED + AG
AG
MED+ AG
MED+ AG
Exterior
IFA+AF
MED – MedicamentosIFA – Insumos Farmacêuticos AtivosIS - Intermediários de SínteseMS – Medicamentos Semi-acabados (BULK)MG – Cartuchos, Bulas e Material de Embalagem em GeralAF – Adjuvantes FarmacotécnicosAG – Amostra Grátis
Indústrias Químicas
IS
IFA
Figura IV.7 - Típica rede de suprimentos de uma indústria farmacêutica brasileira. (Fonte: Adaptado de
MARADEI JR., 2008).
As características do mercado farmacêutico brasileiro, apresentadas no Capítulo I
ajudam a entender o cenário da rede de suprimentos apresentada pela Figura IV.7. Esta
representação é centrada na produção das indústrias farmacêuticas, e envolve o cenário atual
74
da produção de medicamentos no Brasil, podendo ser entendida como uma linha de montagem
de medicamentos a partir de seus insumos básicos: insumos farmacêuticos ativos, adjuvantes
farmacotécnicos e materiais de embalagem, provenientes de indústrias instalados no País e no
exterior.
Um ponto importante apresentado anteriormente diz respeito à integração desta cadeia,
que nas grandes indústrias multinacionais encontra-se totalmente integrada e verticalizada
(KÜPERS et al., 2008). A realidade brasileira é diferente. As empresas, em geral, dominam
apenas as etapas de produção e distribuição, sendo dependentes do fornecimento de insumos
farmacêuticos, que, devido ao incipiente mercado farmoquímico nacional, são em geral
provenientes de outros países.
A integração vertical propicia uma customização dos insumos adquiridos pelo
laboratório que é fundamental para a garantia da qualidade do processo produtivo. Porém, isto
também pode ser obtido por meio de parcerias com empresas do setor farmoquímico e uma
qualificação rigorosa de fornecedores.
Em relação ao lado da demanda, o número e a diversidade de clientes atendidos pelos
laboratórios privados são consideravelmente elevados, o que reflete a complexidade do setor,
principalmente considerando-se a essencialidade do produto e a urgência em determinados
casos. Isto exige da indústria farmacêutica uma capacidade de fornecimento elevada (alto nível
de segurança), para que a população não fique descoberta, pois a ausência de um produto no
mercado pode acarretar sérias consequências. (LAWSON, 2009).
Outro ponto interessante, que exige desta indústria uma alta flexibilidade, são os fatores
que podem causar flutuações bruscas na demanda. KÜPERS et al. (2008) relacionam os
seguintes fatores:
• A expiração da patente acompanhada da disponibilidade do produto genérico
• A aprovação de um novo produto mais eficiente
• A mudança no comportamento do consumidor, causada por alguma reportagem
que relate efeitos colaterais sérios
• A proibição de um produto que leve ao aumento súbito da demanda de outro
produto
Pode-se ainda acrescentar o aparecimento de algum surto epidêmico, que gere um
aumento de demanda súbito por algum medicamento, como no caso da Influenza A subtipo
H1N1, que elevou sobremaneira a procura pelo medicamento Tamiflu®.
A despeito deste cenário, existem medicamentos utilizados em doenças crônicas que
possuem uma demanda relativamente constante, com pequenas flutuações uniformes.
(KÜPERS et al., 2008).
Assim, a gestão da cadeia de suprimentos neste setor é fundamental para a garantia da
qualidade do produto que será disponibilizado nas prateleiras. Garantia esta que depende de
75
cuidados em todos os elos da cadeia. Essa necessidade de garantir a segurança, eficácia e
efetividade dos medicamentos confere a este setor uma enorme carga regulatória, que impacta
diretamente na gestão da cadeia.
IV.4.1 Cadeia de suprimento dos laboratórios farmacêuticos oficiais
O Brasil possui um parque de laboratórios farmacêuticos públicos que é considerado
pela Política Nacional de Medicamentos como um verdadeiro patrimônio nacional (BRASIL,
1998), além de possuir um papel estratégico para a sustentação das políticas de assistência
farmacêutica do Estado, contribuindo para o acesso da população aos medicamentos.
A cadeia de suprimentos dos laboratórios públicos possui características próprias, como
por exemplo, a necessidade de seguir as diretrizes da Lei das Licitações e a dependência de
concurso público para a contratação.
Outro ponto interessante diz respeito aos consumidores da cadeia imediata de
suprimentos, que em geral, são estabelecimentos de saúde pertencentes ao SUS. Estes
laboratórios não disponibilizam seus produtos para a venda em farmácias e drogarias.
Dentre os laboratórios oficiais, existem três pertencentes às forças armadas, o que
confere às suas cadeias de suprimentos características atípicas, uma vez que estão sujeitos a
atividades consideradas estratégicas para o País. O Laboratório Farmacêutico da Marinha, por
exemplo, possui uma orientação de auxiliar na nacionalização progressiva dos IFA, visando à
maior independência possível na produção de medicamentos, principalmente daqueles que
possam ser solicitados em maiores quantidades em uma situação de conflito, questão
fundamental do ponto de vista da segurança nacional. (MB, 2006).
Desta forma, segundo o conceito de redes produtivas exposto por SLACK et al. (2008),
a rede de suprimentos de um laboratório público pode ser representada, de maneira
simplificada, conforme a Figura IV.8.
76
Fabricantes de IFA
Fabricantes de Adjuvantes
Farmacotécnicos
Fabricantes de Materiais de Embalagem
Fabricantes de Equipamentos
Outros Insumos Necessários
Laboratório
Farmacêutico
Público
Estabelecimentos de Saúde
Pacientes
Fornecedores de Primeira Camada
Consumidores de Primeira Camada
Consumidores de Segunda Camada
Figura IV.8 - Típica rede de suprimentos de um laboratório farmacêutico oficial.
Dentre as cadeias de suprimento que compõem esta rede, destacam-se as
organizações e operações envolvidas para o suprimento dos insumos farmacêuticos ativos,
que são os responsáveis pela atividade biológica do medicamento. Esta cadeia pode ser
representada, de forma simplificada, na Figura IV.9.
Figura IV.9 - Cadeia de suprimento dos insumos farmacêuticos ativos.
A representação proposta para a cadeia de suprimentos do laboratório estudado,
enquadra-se no nível 3 (cadeia externa) da classificação proposta por HARLAND (1996), uma
vez que foram considerados apenas os insumos farmacêuticos ativos.
IV.4.2 Novas Fronteiras para a Cadeia de Suprimento dos Laboratórios Oficiais
O modelo conceitual de Cadeia de Suprimentos usado como referência para o
desenvolvimento desta dissertação sofre, como todos os modelos, os efeitos da simplificação e
da redução em relação ao objeto real. No caso do LFM e dos laboratórios oficiais, a dinâmica
da sociedade em sua complexidade natural produz efeitos e significados que escapam,
77
algumas vezes, ao escopo da representação pretendida, não por sua importância ou
relevância, mas sim, pelas características da representação. A limitação aos insumos
farmacêuticos ativos, em detrimento dos demais insumos utilizados pelo LFM, serve como
exemplo desta questão.
Para transcender essas limitações estruturais, é conveniente buscar outros conceitos ou
referências teóricas que possam ser agregadas ao modelo de referência, sem violar os limites
da consistência e da coerência da representação inicial. Considerando-se o conceito de
governança e as relações entre os diversos atores, por exemplo, pode-se pensar na teoria de
stakeholders como forma de criticar o recorte inicial adotado e incluir os diversos atores que
interagem com o laboratório estudado.
No contexto dessa representação mais ampla, a preocupação com o meio-ambiente,
historicamente presente em várias formas de regulamentação, deve figurar como pano de
fundo em todas as decisões tomadas ao longo da cadeia de suprimentos.
Desta forma, essas dimensões podem influenciar a arquitetura da rede e as
representações escolhidas para estudá-la e fazê-la funcionar, e por isso serão expostas
brevemente nas seções abaixo.
IV.4.2.1 Responsabilidade social corporativa e a teoria dos stakeholders
A expansão da consciência coletiva com relação ao meio ambiente e à complexidade
das atuais demandas ambientais que a sociedade repassa às organizações induz a um novo
posicionamento de todos os atores sociais. As empresas, na contemporaniedade, precisam
atrelar seus objetivos financeiros e econômicos às questões relacionadas com a cidadania,
ética nos negócios e preservação do meio ambiente. Aos olhos da sociedade, a conduta
socialmente relevante vem sendo percebida como decisiva para definir prognósticos de
sucesso ou fracasso empresarial. (COSTA e CARVALHO, 2005).
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tem como característica abranger várias
dimensões do relacionamento ético que uma empresa deve ter com os diversos grupos de
interesse na sociedade. Estes grupos de interesse, também conhecidos como stakeholders,
representam qualquer público que afeta a empresa ou por ela é afetado em seus objetivos
organizacionais (FREEMAN, 1984 apud LYARA et al., 2009). Essa abordagem leva a crer que
a legitimidade que os stakeholders vêm assumindo nesta nova concepção de relacionamento é
um dos pilares para o entendimento da RSC. (LYARA et al., 2009).
Os principais objetivos nas pesquisas de stakeholder têm sido identificar quem são os
stakeholders da empresa e determinar quais tipos de influência eles exercem, baseado no
argumento de que isso é essencial para a sobrevivência organizacional. (MITCHELL, AGLE e
WOOD, 1997).
Dessa forma, MITCHELL, AGLE e WOOD (1997) assumiram, em estudo sobre a teoria
de stakeholders, que as várias classes de stakeholders devem ser identificadas com base na
78
possessão atribuída a um ou à combinação desses atributos: poder, legitimidade e urgência. A
partir dessa definição, foram identificados sete tipos de stakeholders, indicando que as
entidades que não possuíssem nenhum dos três atributos não seriam consideradas
stakeholders e, por isso, não teriam relevância na administração da organização.
Segundo MARTINS e FILHO (1999) a grande contribuição da teoria dos stakeholders
para a teoria organizacional é:
“[...] permitir um tratamento mais abrangente sobre os múltiplos campos de racionalidade envolvidos na trama organizacional. Uma ampliação deste campo de visão é especialmente útil porque há uma grande quantidade de abordagens de gestão reducionistas, focadas no interesse do acionista/investidor (teoria da firma, por exemplo) ou focadas no interesse do cliente (gestão estratégica da qualidade, por exemplo).”
O perigo de uma abordagem reducionista é maior nas organizações públicas por
imperar “visões ortodoxas que se colocam na perspectiva predominante de stakeholders
referenciados ao Estado.” (MARTINS e FILHO, 1999).
Conhecer as defasagens entre o que os membros da empresa consideram como
essencial, o que a empresa projeta e como os stakeholders externos percebem esses
atributos, fornece elementos para que a empresa defina estratégias mais eficazes de
posicionamento e relacionamento, construindo imagens mais coerentes e consistentes e uma
reputação mais forte. (ALMEIDA e MUNIZ, 2005).
Neste trabalho foram identificados alguns stakeholders que exercem uma pressão viva
sobre a rede e a organização alterando seus fluxos. Esta teoria pode contribuir para o
entendimento da tensão entre as políticas públicas, a obsolescência da legislação, as
demandas sociais etc., como a tecitura da complexidade da rede estudada.
Desta forma, torna-se necessário o desenvolvimento de estudos que auxiliem na
identificação dos stakeholders dos laboratórios oficiais, por representarem instituições públicas
com atividade fim de produção, o que desperta o interesse de muitos agentes, sendo a
priorização proposta por MITCHELL, AGLE e WOOD (1997) uma ferramenta muito interessante
para a realização deste tipo de estudo.
IV.4.2.2 Sustentabilidade
A sociedade contemporânea tem demonstrado uma grande inquietação com o
desempenho da ação humana frente às necessidades de recuperação, conservação e
preservação de recursos naturais vinculados à garantia da qualidade de vida no planeta.
A defesa dos interesses organizacionais e pessoais, com acentuada desconsideração
de grupos afetados e dos impactos ambientais causados, tem sido apontada como uma
característica central na maneira como a sociedade está estruturada, sem a devida atenção às
ameaças relacionadas ao esgotamento de recursos naturais e às condições de vida no planeta.
79
Este quadro representa um desafio significativo às formas tradicionais de pensar sobre as
atividades sociais e industriais, demandando reflexão. (EGRI et al., 2007).
Neste sentido, os setores econômicos devem atentar para este novo paradigma
“reorientando a produção de bens materiais e imateriais”, segundo uma visão de ecologia
ampla, qualquer que seja a perspectiva de sustentabilidade adotada, com vista à própria
sobrevivência das organizações que os compõem. O quadro de referência conceitual usado
com mais frequência, para desenvolvimento do conceito de sustentabilidade, adota a visão de
gestão do desempenho integrada em três dimensões: econômica, social e ambiental, tendo,
como alvo principal, a garantia de recursos naturais para atendimento das necessidades das
futuras gerações.
É perceptível que a geração de resíduos industriais (matéria-prima, água, energia) tem
acarretado não só danos ao meio ambiente, mas também custos para as empresas, o que se
pode considerar um desperdício de dinheiro e de materiais, desgaste de equipamentos, tempo
perdido de empregados, custos de armazenagem etc. Assim sendo, existe a necessidade de
repensar os processos produtivos atuais, inserindo conceitos e artefatos envolvendo os temas
que norteiam o pensamento sustentável, tais como: produção mais limpa, ecodesign,
ecoeficiência, indicadores ambientais, dentre outros (SONNEMANN et al. 2004). Todos estes
temas devem estar articulados sob a égide de novos valores humanitários desenvolvidos na
crítica da relação natureza-sociedade.
A preocupação em oferecer produtos com o menor impacto ambiental possível e o
compromisso com a melhoria contínua do desempenho ambiental, devem figurar como
objetivos estratégicos das organizações, face à demanda atual da sociedade. No setor
farmacêutico isso não é diferente, merecendo maior atenção por conta da natureza química
dos produtos e dos altos gastos de insumos e energia para manter os processos produtivos
dentro dos padrões de Boas Práticas, como por exemplo, nos rigorosos processos de limpeza.
Outro fator que corrobora neste sentido é o crescente número de estudos nos Estados
Unidos e na Europa acerca da presença de resíduos farmacêutico no ambiente, especialmente
os IFA. (VELAGALETI e BURNS, 2007; MUSSON e TOWN SEND, 2009; KHETAN e COLLINS,
2007; DOERR-MACEWEN e HAIGHT, 2006; DAUGHTON, 2003).
Na concepção das Boas Práticas de Fabricação não existe ainda uma visão mais ampla
que direcione a empresa à sustentabilidade, a preocupação se restringe aos impactos
ambientais, mas é parcial. A sustentabilidade entendida como o desempenho integrado dentro
das dimensões econômica, social e ambiental, tende a pressionar a cadeia, a legislação e os
stakeholders para uma nova arquitetura de relações e de processos em direção à manutenção
das condições ambientais necessárias para o atendimento das futuras gerações.
Neste sentido, medidas devem ser tomadas ao longo da cadeia de suprimentos para
diminuir o impacto ambiental dos produtos farmacêuticos. VELAGALETI e BURNS (2007)
80
sugerem que as indústrias farmacêuticas passem a adotar atividades que diminuam o impacto
ambiental como: a logística reversa, garantindo o destino correto dos produtos vencidos ou
impróprios para o consumo; diminuição das perdas durante o processo produtivo e utilização
de insumos de menor impacto ambiental, que possam sofrer degradação química (hidrólise,
fotólise) ou biológica para facilitar sua eliminação quando presentes no ambiente.
LARSSON e FICK (2009) afirmam que o aumento da transparência ao longo da cadeia
de suprimentos farmacêutica é uma medida importante para reduzir a poluição na fabricação
de medicamentos. Desta forma, o compromisso das organizações com o desempenho
ambiental e os seus esforços despendidos em direção à sustentabilidade merecem ser
transparentes e públicos, para que a sociedade possa acompanhar a sua evolução. Tais
informações são geralmente expostas na forma de relatórios de sustentabilidade, que são auto-
declarações que vão além das Boas Práticas de Fabricação
O relatório de sustentabilidade é resultado de um processo que visa identificar,
mensurar, divulgar e prestar contas sobre as ações das organizações com vistas à
sustentabilidade. Por meio do seu relatório, as organizações e todos os seus públicos têm em
mãos um instrumento que possibilita dialogar e implantar um processo de melhoria contínua do
desempenho rumo ao desenvolvimento sustentável. Esta dinâmica introduz novas camadas na
rede em que se insere a cadeia de suprimentos, aumentando o acompanhamento e a
influência dos stakeholders no esforço organizacional para diminuir os impactos ambientais dos
produtos e processos.
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização não-governamental internacional,
com sede em Amsterdã, na Holanda, que elaborou o modelo para relatórios de
sustentabilidade mais usado no mundo atualmente. O conjunto de princípios, protocolos e
indicadores desenvolvido pela GRI, deve tornar possível gerir, comparar e comunicar o
desempenho das organizações nas dimensões social, ambiental e econômica. Mais de 1000
empresas no mundo adotam o seu modelo hoje, incluindo um número crescente de empresas
brasileiras. (GRI, 2010).
Após análise nos endereços eletrônicos das 50 principais empresas farmacêuticas
atuantes no Brasil, detentoras de aproximadamente 90% do mercado nacional (IPT, 2008),
observou-se que apenas 06 empresas disponibilizaram os relatórios de gestão do ano de 2008.
Destas, apenas uma apresentou um relatório de sustentabilidade, sendo esta uma empresa
multinacional (GRI, 2010). Não foram encontrados relatórios de sustentabilidade entre os
laboratórios oficiais.
Em se tratando de indústrias públicas, considerando-se o preceito constitucional da
publicidade, é necessário, não apenas investir na busca da gestão ambiental que reduza
impactos de produtos e processos, como também, divulgar as ações e os resultados
produzidos, como forma de prestar contas à sociedade.
81
IV.4.2.3 Avaliação do ciclo de vida
A necessidade de diminuição dos impactos ambientais negativos dos produtos e
processos tem aumentado a responsabilidade das empresas pelos seus produtos, como se
pode perceber na própria proposta do Plano Nacional de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos
em tramitação no congresso. (BRASIL, 2007f).
Considerando uma perspectiva ampla do conceito de saúde, que não envolva apenas a
ausência de doenças, mas contemple um bem-estar geral, percebe-se que a preocupação com
a qualidade do meio ambiente é um assunto relevante no contexto do setor de saúde.
Neste sentido, o referido setor deve atentar para este novo paradigma reorientando a
produção de bens dentro de uma perspectiva de sustentabilidade, com vistas à própria
sobrevivência das organizações que o compõem. O quadro de referência conceitual usado com
mais frequência, para desenvolvimento do conceito de sustentabilidade, adota a visão de
gestão do desempenho integrada em três dimensões: econômica, social e ambiental, tendo,
como alvo principal, a garantia de recursos naturais para atendimento das necessidades das
futuras geraçoes.
Tomando os medicamentos como referencial de produto deste setor, pode-se perceber
o potencial de depreciação ambiental da sua produção, ao considerar as características
químicas dos produtos e insumos utilizados nos processos produtivos. Porém, o impacto
ambiental negativo dos medicamentos não se resume aos processos que ocorrem dentro das
indústrias farmacêuticas, mas são dependentes de todas as etapas à montante e à jusante da
cadeia de suprimentos. Neste sentido, deve-se considerar que um trabalho de avaliação dos
impactos ambientais com consequente formulação de estratégias para a sua diminuição, deve
contemplar uma perspectiva de ciclo de vida.
Entende-se como ciclo de vida todas as etapas e processos envolvidos desde a
extração das matérias-primas, passando pela produção, uso e disposição, conforme
apresentado na Figura V.11.
82
Figura IV.10 - Principais estágios do ciclo de vida de um produto. (Fonte: ALMEIDA e GIANNETTI,
2006).
É, nesse contexto, que se destaca a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV),
que busca uma “compilação e avaliação das entradas, das saídas e dos impactos ambientais
potenciais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida” (NBR ISO 14.040). A ACV
também permite identificar quais estágios do ciclo de vida têm contribuição mais significativa
para impacto ambiental do processo ou produto estudado. (COLTRO, 2007).
As informações coletadas, as interpretações sugeridas e os resultados encontrados em
uma ACV podem ser úteis para tomadas de decisão, seleção de indicadores ambientais
relevantes, avaliação de desempenho de projetos ou processos e para o planejamento
estratégico. A ACV ajuda a identificar oportunidades de melhoramentos dos aspectos
ambientais de uma empresa, reduzindo os resíduos poluentes e os desperdícios de materiais e
energia, conservando os recursos naturais e tornando a produção mais limpa, ao tempo em
que se tem oportunidade de refletir e aprofundar na compreensão de conceitos relacionados à
sustentabilidade em múltiplas perspectivas do desempenho.
Partindo de uma perspectiva ampla fornecida pela ACV, os impactos ambientais dos
medicamentos não dependem apenas das etapas que ocorrem dentro das indústrias
farmacêuticas, sendo influenciadas por etapas antes e após a sua produção. Assim, o conceito
de Gestão da Cadeia de Suprimentos deve ser encarado sob este novo prisma, uma vez que
para conhecer a verdadeira contribuição de um produto para a depreciação ambiental, faz-se
necessária a compreensão do fluxo de materiais e energia por toda a rede.
A ACV fornece subsídios para o conhecimento e o gerenciamento destes impactos
ambientais negativos ao longo da cadeia de suprimentos, contribuindo assim para o
83
desenvolvimento de estratégias que auxiliem na diminuição da carga de depreciação
ambiental, dentro de uma perspectiva de melhoria contínua.
Assim, esta preocupação deve ser considerada por todo o setor farmacêutico, e assume
uma conotação diferenciada nos laboratórios oficiais produtores de medicamentos, que por
serem indústrias públicas devem primar pelo cuidado do maior bem público de todos, o meio
ambiente.
84
Capítulo V - Resultados e Discussão
Considerações Iniciais
Neste capítulo, inicialmente, são apresentadas algumas características gerais do
laboratório estudado (seção V.1), que, por ser um laboratório farmacêutico militar, apresenta
aspectos singulares em relação aos demais laboratórios públicos não-militares. Como
referência, trabalha-se o cenário composto a partir dos dados históricos da organização no
período compreendido entre 2006 e 2008 (seção V.2). Para a análise proposta, adota-se a
subdivisão desses dados em três blocos: Fornecedores, Processo Produtivo e Clientes. Uma
vez estabelecida a representação da cadeia de suprimentos pretendida, e analisado o seu
funcionamento, procura-se mapear as mudanças em curso, fruto de políticas públicas e
investimentos na modernização do parque produtivo (seção V.3).
Os dados obtidos foram trabalhados no software Microsoft Excel® 2007. A avaliação
estatística realizada nesse programa consistiu na determinação de frequência e média. As
figuras foram obtidas com o auxílio do software Microsoft Visio® 2007.
V.1 Ambiente Empírico: Laboratório Farmacêutico da Marinha
O laboratório pesquisado é de médio porte, segundo a classificação de porte de
empresas utilizada pela ANVISA (BRASIL, 2001). Está localizado na cidade do Rio de Janeiro,
atua há mais de 100 anos e, recentemente, recebeu investimentos federais para modernização
do seu parque produtivo. Possui capacidade para produção de medicamentos líquidos, semi-
sólidos e sólidos, sendo que a linha de sólidos foi responsável por aproximadamente 90% da
produção no período estudado. Tem como principais clientes o Sistema de Saúde da Marinha,
o Ministério da Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde.
V.1.1 Histórico
O Laboratório Farmacêutico da Marinha foi criado com o nome de Laboratório
Pharmacêutico e Gabinete de Análises, pelo Decreto n° 6.233, de 14 de novembro de 1906.
Passou a ser chamado de Laboratório e Depósito de Material Sanitário Naval, em 1926, e teve,
novamente, sua denominação alterada para Laboratório Farmacêutico Naval em 1934. Após
reestruturação da sua organização e atividades, em 1958, passou a denominar-se Laboratório
Farmacêutico da Marinha (LFM).
Atualmente faz parte da Diretoria de Saúde da Marinha (DSM), responsável pelo
Sistema de Saúde da Marinha (SSM) e subordinada à Diretoria Geral de Pessoal da Marinha
(DGPM), que é ligada diretamente ao Comando da Marinha, conforme demonstrado no
85
Organograma da Marinha do Brasil (MB, 2009). Pela sua estrutura hierárquica, o LFM
enquadra-se no grupo dos quatro laboratórios oficiais classificados como federais [6].
Com investimentos do Ministério da Saúde, o LFM iniciou em 2003, a construção de um
parque fabril mais moderno. A inauguração ocorreu em novembro de 2006, na ocasião da
comemoração do seu centenário.
Segundo o relatório de empresas com Certificado de Boas Práticas de Fabricação
(CBPF), dos anos de 2008 e 2009, divulgado pela ANVISA, existem quatro laboratórios com
esta certificação. O Laboratório Farmacêutico da Marinha faz parte desta relação, pois
conquistou no ano de 2009 o CBPF para todas as suas linhas de produção, por meio da
Resolução RE nº 3514/09, conforme apresentado na Tabela V.1.
Tabela V.1 - Laboratórios oficiais com CBPF. (Fonte: ANVISA, 2009).
Laboratório Oficial UF Resolução DOU
FURP – Fundação para o Remédio Popular SP RE nº443 16/02/2009
LAFEPE – Lab. Farmacêutico do Estado de Pernambuco PE RE nº 261 02/02/2009
LIFAL – Lab. Industrial Farmacêutico de Alagoas AL RE nº 1149 02/04/2009
LFM – Lab. Farmacêutico da Marinha RJ RE nº 3514 17/08/2009
V.2 Mapeamento da Cadeia de Suprimentos do LFM
V.2.1 Características
Na constituição da cadeia de suprimentos do LFM está presente o conceito de valor
estratégico, tomado no sentido próprio das organizações militares, o que determina
características peculiares, distintas das demais cadeias estabelecidas com outros tipos de
laboratórios farmacêuticos.
Neste sentido, a Gestão da Cadeia de Suprimentos nesta instituição deve proporcionar
“um nível adequado de estoque e produção, que garanta, em situação de normalidade ou de
crise político-estratégica, o fluxo contínuo do abastecimento de medicamentos, com ênfase no
apoio logístico às Operações Navais.” (MB, 2006), além de sua missão principal que é o
fornecimento de medicamentos ao Sistema de Saúde da Marinha.
Assim, embora os laboratórios públicos possuam a missão de produzir medicamentos
para atender a demanda do SUS, sob a orientação do Ministério da Saúde, os laboratórios
militares, além daquela outra, cumprem a missão, oficializada em regulamento interno, de
suprir cada força singular com suas produções, podendo, quando solicitado, atender a
demanda do SUS.
6 São eles: Laboratório Farmacêutico da Marinha, Laboratório Químico Farmacêutico da Aeronáutica, Laboratório Químico Farmacêutico do Exército e Farmanguinhos.
86
Neste contexto, o Laboratório Farmacêutico da Marinha tem como propósito contribuir
para a eficácia do Sistema de Saúde da Marinha, através da produção e distribuição de
medicamentos, atendendo às exigências dos órgãos regulatórios de vigilância sanitária. (MB,
2008).
Para atender à função de produção, o LFM necessita adquirir uma série de matérias-
primas entre as quais pode-se destacar os Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), os Adjuvantes
Farmacotécnicos (AF) e os Materiais de Embalagem apropriados. Todos estes insumos
possuem um papel importante para a garantia da qualidade do produto final.
Por serem responsáveis pelo efeito farmacológico e representarem o cerne da inovação
nas indústrias farmacêuticas (BASTOS, 2006), os IFA merecem maior atenção nessa análise.
Por esses motivos, em relação aos insumos, neste trabalho optou-se pelo foco na análise dos
IFA.
Desta forma, de acordo com os dados dos anos 2006 a 2008, a cadeia de suprimentos
deste laboratório oficial pode ser representada como demonstrado na Figura V.1, seguindo o
modelo apresentado por SLACK et al. (2008).
Figura V.1 - Representação da cadeia de suprimentos.
As simbologias da Figura V.1 respeitam a seguinte convenção: Os retângulos
simbolizam canais individuais da rede, as setas indicam o sentido do fluxo de materiais, os
retângulos verticais delimitam cada camada da cadeia de suprimentos. As abreviações são
relativas aos seguintes termos: IFA – Insumo Farmacêutico Ativo; CNE – Comissão Naval no
Exterior; MED – Medicamento; LFM – Laboratório Farmacêutico da Marinha; Outros LO –
Outros Laboratórios Oficiais; MB – Marinha do Brasil; MS – Ministério da Saúde; SMS –
Secretarias Municipais de Saúde.
Como relatado anteriormente, este estudo possui limitações próprias de uma
representação que visa simplificar uma realidade. Além das limitações relatadas, para a
obtenção do modelo apresentado na Figura V.1, considerou-se que:
87
• Os medicamentos distribuídos para outros laboratórios oficiais passam a tramitar
dentro de suas cadeias de suprimentos, que podem ser similares à exposta
neste trabalho, resultando no possível atendimento a pacientes do SUS. Porém,
este desdobramento não foi representado na Figura V.1, por não estar ligada
diretamente ao LFM.
• Os estabelecimentos de saúde, representados como consumidores de segunda
camada, são qualquer local ou ambiente físico destinado à prestação de
serviços de saúde à população, no âmbito do SUS, em regime de internação
e/ou não internação, que possua autorização para dispensação de
medicamentos. Os dados disponíveis não permitiram discriminar os fluxos para
os diferentes tipos de estabelecimentos, de forma que optou-se por generalizar
todos os tipos no canal “estabelecimentos de saúde”.
• Os consumidores de terceira camada representam os pacientes usuários do
SUS, excluindo-se os militares atendidos pelo SSM. Estes estão incluídos em
“MB”, dentro dos consumidores de primeira camada.
É importante salientar que esta representação situa-se no contexto da administração
pública, uma vez que o laboratório estudado pertence à Marinha do Brasil, que é um órgão
público de administração direta da União e sujeito ao processo licitatório, além da contratação
de pessoal depender de concurso publico. Estes fatos dificultam a gestão dos processos
internos, em especial a gestão da produção, que, conforme discutido no Capítulo II fica
prejudicada pela presença de insumos com alta variabilidade adquiridos pelo processo
licitatório.
Outro fator importante diz respeito à presença de uma Comissão Orientadora para
Pesquisa e Produção de Medicamentos (COPPM) da Marinha do Brasil, que estabelece
normas e procedimentos para orientar a pesquisa e a produção de medicamentos nesta
instituição (MB, 2006). Esta comissão chama a atenção, através da norma DGPM-403, sobre a
necessidade de nacionalização progressiva dos IFA, visando a maior independência possível
na produção de medicamentos, principalmente daqueles que possam ser solicitados em
maiores quantidades em uma situação de conflito, questão fundamental do ponto de vista da
segurança nacional. Esta norma atribui ao LFM a missão de contribuir neste processo.
VIDEIRA (2008) lembra que, na Guerra das Malvinas, foi negado o fornecimento de
remédios pelos grandes laboratórios internacionais, sediados na Europa e nos Estados Unidos,
às Forças Argentinas, a pedido do Reino Unido.
Fatos como estes, materializam o sentido de valor estratégico e evidenciam sua
importância na concepção e análise de cenários para a Cadeia de Suprimentos do LFM. Essa
cadeia conta, ainda, com as Comissões Navais no Exterior (CNE). Trata-se de unidades da
Marinha do Brasil que contribuem para o apoio logístico das Forças Navais e Organizações
88
Militares em atividades de obtenção e tráfego de carga. Estas comissões atuam em uma área
geográfica previamente definida, sendo a Comissão Naval Brasileira em Washington (CNBW)
responsável pelas Américas, Antártica, Japão, China e Coréia, e a Comissão Naval Brasileira
na Europa (CNBE), por toda a Europa, África, Oceania e Ásia (exceto Japão, China e Coréia).
As CNE no que diz respeito às suas licitações e contratações administrativas estão
sujeitas, segundo a Secretaria-Geral da Marinha (SGM), às peculiaridades do País em que
estiverem lotadas, devendo, entretanto, conduzir seus procedimentos de acordo com os
princípios básicos da licitação. (MB, 2008a).
A norma SGM-102, que orienta as licitações, acordos e atos administrativos na Marinha
do Brasil, procura uniformizar os procedimentos licitatórios nas CNE, de acordo com
recomendações do Tribunal de Contas da União. Assim, as CNE devem adotar a modalidade
Convite, independente do valor do bem, obra ou serviço a ser adquirido/contratado. (MB,
2008a).
Estas comissões têm assumido um papel muito importante na aquisição de insumos
farmacêuticos ativos para o LFM. Inclusive, identificou-se, no período estudado, a compra de
IFA para outros laboratórios oficiais utilizando este mecanismo.
V.2.2 Fornecedores
Após análise no banco de dados da instituição, observou-se que, no período de 2006 a
2008, os IFA adquiridos foram provenientes exclusivamente de distribuidores nacionais e das
Comissões Navais no Exterior, conforme apresentado na Figura V.2
Figura V.2 - Fornecedores de IFA.
Com relação às compras mediadas pelas CNE, observou-se que foram efetuadas
diretamente com o fabricante ou distribuidores estrangeiros. A presença das CNE na cadeia de
89
suprimentos do laboratório estudado possibilita algumas situações particulares, que não são
encontradas nos demais laboratórios públicos não-militares:
• Possibilidade de negociar diretamente com os fabricantes estrangeiros dos IFA
• Maior facilidade para a realização de auditorias na planta produtora, o que
auxilia na garantia da qualidade do IFA, com reflexo no processo produtivo
• Facilidade logística para acompanhar a produção e entrega do pedido
• Suporte logístico para aquisição de IFA e outros materiais de interesse
Não foram encontrados registros da aquisição de IFA diretamente de farmoquímicas
nacionais. A pequena participação destas foi mediada por distribuidores de insumos
farmacêuticos instalados no País, que são submetidos a uma regulamentação específica da
ANVISA (RDC nº 204/06) para fracionar e distribuir os insumos adquiridos de fabricantes
nacionais ou estrangeiros.
O quadro de forte prevalência de IFA importados no mercado brasileiro, apresentado no
Capítulo II, foi observado neste laboratório, onde os insumos estrangeiros representaram
aproximadamente 99% do total, sendo originados predominantemente da China e da Índia,
conforme observado na Figura V.3
Figura V.3 - Origem dos IFA.
Na Tabela V.2 evidencia-se a prevalência das origens chinesa e indiana dos insumos
que abastecem o mercado nacional. Os preços praticados por estes países são
consideravelmente menores, como por exemplo, no caso da Ranitidina, um insumo
farmacêutico ativo utilizado para a produção de medicamentos para o tratamento da úlcera,
mais de 240% menor do que o preço praticado pela Espanha. Para montagem desta tabela,
pesquisou-se a base de dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), particularmente,
os dados relativos à quantidade e valor do produto importado, no período de 2006 a 2008,
90
visando ao cálculo do custo de 1 Kg, para fins de comparação. Vale ressaltar que este insumo
não é fabricado no Brasil.
Tabela V.2 - Dados relativos à importação de IFA. (Fonte: SECEX).
País de Origem Peso (Kg) US$ FOB US$ FOB/Kg
RANITIDINA
China 198.200 2.606.562 13,15
Índia 115.974 2.026.500 17,47
Espanha 7.000 318.000 45,43
Cingapura 2.402 683.026 284,36
Irlanda 117 33.279 284,44
Estes preços menores podem ser explicados pela economia de grande escala e pelas
diferenças tributárias ou de subsídios, além dos custos associados ao gerenciamento do meio-
ambiente, saúde e segurança serem menores nestes países. (COSTA et al., 2008).
A Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica (ABIQUIF) publica anualmente um
INDEX com a relação de todas as empresas farmoquímicas nacionais e seus produtos. Assim,
vale ressaltar que, no período considerado neste estudo, dos 29 diferentes IFA importados
para utilização no processo produtivo do laboratório estudado, 10 (34%) são produzidos por
fabricante nacional, segundo o INDEX de 2009 e destes, apenas um foi adquirido de fabricante
local via distribuidor nacional.
Esta excessiva dependência externa nesse setor também pode ser encontrada na
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, onde dos 342 IFA presentes, apenas 79
(23,1%) são produzidos no Brasil.
No período estudado, observou-se que houve a reprovação de sete lotes de quatro
diferentes IFA provenientes de distribuidores nacionais, que correspondem a 4% dos lotes de
IFA adquiridos entre 2006 e 2008. Destes, cinco eram oriundos da China e dois da Índia.
Sendo a causa mais comum a não adequação aos parâmetros do processo produtivo. Houve
ainda duas reprovações relacionadas ao tipo de produto, que era diferente do solicitado.
Dentre as dificuldades levantadas pela literatura para se trabalhar com distribuidores ou
fabricantes estrangeiros, enfatiza-se a dificuldade de realização de auditoria para qualificação
do fornecedor, acompanhamento da produção e demora na troca de qualquer insumo, o que
pode acarretar no atraso da produção. (OLIVEIRA et al., 2006; MARQUES e HASENCLEVER,
2006; MACHADO e MELO, 2007; PIMENTA et al., 2009).
Outros fatos que colaboram para a manutenção deste quadro são: a Lei das Licitações
(Lei nº 8.666/93), que favorece a compra dos IFA mais baratos, o fragilizado parque nacional
91
de produção de IFA e a ausência, até então, de políticas que direcionem o poder de compra do
Estado para o desenvolvimento deste setor.
Observou-se, ainda, que o laboratório estudado distribuiu alguns medicamentos que
não foram fabricados, mas adquiridos de outros fabricantes para atendimento, principalmente,
do Sistema de Saúde da Marinha. Estes representaram apenas 1% do faturamento no período
estudado. A aquisição de produtos acabados por laboratórios oficiais também foi observado por
MELO (2005), e são, geralmente, provenientes de outros laboratórios oficiais ou de
distribuidores nacionais.
V.2.3 Processo produtivo
A evolução do número de unidades farmacêuticas produzidas entre os anos de 2004 a
2008, pode ser observada na Figura V.4. Os dados foram normalizados, utilizando como base
o ano de 2004.
Figura V.4 - Evolução das unidades farmacêuticas produzidos no período de 2004 a 2008. Índice Base:
2004 = 100%.
Por conta do processo de adequação aos requisitos das Boas Praticas de Fabricação, o
laboratório estudado teve a produção diminuída no período de 2006 a 2008, pois houve a
necessidade de realizar obras estruturais e diversos procedimentos de validação de processos
e qualificação de equipamentos. Além disso, no ano de 2008 em que a produção diminuiu 65%
em comparação com o ano de 2004, observou-se que 31% do total produzido, foram relativos a
Lotes Piloto, que não podem ser comercializados.
Ao longo de sua história os laboratórios oficiais orientaram a sua produção para o
atendimento à demanda da RENAME. Este direcionamento da produção pública nacional foi
defendida pela CPI de Medicamentos (BRASIL, 2000a). Assim, o laboratório estudado produz,
92
primordialmente, produtos constantes desta listagem essencial, que, no período estudado,
corresponderam a aproximadamente 80% das vendas.
Analisando a produção do LFM a partir da divisão de componentes de financiamento da
assistência farmacêutica, identifica-se a predominância dos medicamentos pertencentes ao
componente básico, responsáveis por 89% das unidades farmacêuticas vendidas, o que
representou 73% do valor faturado, enquanto que os medicamentos estratégicos foram
responsáveis por 9% das unidades farmacêuticas e representaram aproximadamente 26% do
faturamento.
Houve uma pequena quantidade de produtos, correspondente a 2% das unidades
farmacêuticas e aproximadamente 1% do faturamento, que não se enquadraram nessa
classificação.
Vale ressaltar que o crescente aumento dos gastos do governo com medicamentos dos
programas estratégicos e de dispensação em caráter excepcional, na ordem de 124% e 252%
respectivamente, entre os anos de 2003 a 2007 (VIDEIRA, 2009), possibilitam aos laboratórios
oficiais aumentar a sua participação na produção e fornecimento destes produtos. Esse
direcionamento foi explicitado na Portaria nº 978/08 (BRASIL, 2008b), e tem sido
operacionalizado através das parcerias que estão sendo firmadas entre os laboratórios oficiais
e as indústrias farmoquímicas.
V.2.3.1 Não-conformidades
Durante o processo de produção de comprimidos, todas as etapas são registradas
detalhadamente na Ficha de Produção, inclusive as não-conformidades apresentadas durante
cada etapa do processo. No intuito de conhecer quais as não-conformidades mais recorrentes,
foi realizado um estudo documental retrospectivo a partir do ano de 2007, no qual houve a
inauguração do novo parque produtivo, até o ano de 2008.
Inicialmente procedeu-se com a ordenação de todas as não-conformidades dos lotes de
comprimidos produzidos neste período, relatadas no banco de dados da instituição (Tabela
V.3). Um primeiro tratamento foi realizado com a aplicação da análise de Pareto, que permitiu
selecionar as não-conformidades responsáveis por 86,4% dos problemas relatados, são elas:
Peso médio fora do especificado (28,3%), comprimidos com manchas pretas (27,7%),
comprimidos com dureza fora da especificação (15,2%), comprimido laminado/lascado (7,9%)
e comprimidos com dissolução baixa (7,3%).
Os dados da análise de Pareto podem ser mais bem observados com o auxílio da
Figura V.5, onde as não-conformidades estão identificadas pelos seus respectivos códigos,
presentes na Tabela V.3.
93
Tabela V.3 – Ocorrência de não-conformidades nos lotes produzidos entre 2007 e 2008.
Cód. Não-conformidade Nº Lotes Total
Cumulativo % % Cumulativa
A Peso médio ou individual fora do especificado 54 54 28,3% 28,3%
B Comprimidos com manchas pretas 53 107 27,7% 56,0%
C Comprimidos com dureza fora da especificação 29 136 15,2% 71,2%
D Comprimido laminado/lascado 15 151 7,9% 79,1%
E Comprimidos com dissolução baixa 14 165 7,3% 86,4%
F Problema no revestimento do comprimido 7 172 3,7% 90,1%
G Comprimidos com manchas/irregulares/com fissuras/rugosos 6 178 3,1% 93,2%
H Adesão dos comprimidos ao punção 4 182 2,1% 95,3%
I Produto com friabilidade alta (acima do especificado) 3 185 1,6% 96,9%
J Constatação de equipamento com problema 3 188 1,6% 98,4%
K Comprimidos com problemas de desintegração 2 190 1,0% 99,5%
L Pó com fluxo ruim 1 191 0,5% 100%
Figura V.5 – Gráfico de Pareto das não-conformidades nos lotes produzidos entre 2007 e 2008.
As não-conformidades selecionadas foram submetidas como modo de falha para a
análise através da ferramenta FMEA (Failure Modes and Effects Analysis), originando valores
de RPN específicos que determinaram a prioridade para a resolução dos problemas.
A aplicação da FMEA resultou em uma priorização das principais não-conformidades
(Tabela V.4), onde pôde-se observar que todos os modos de falha levantados no estudo têm
alguma correlação com a qualidade da matéria-prima.
94
Tabela V.4 - Aplicação da FMEA (produção de comprimidos)
Processo Função Tipo de Falha Efeito da Falha Causa da Falha Formas de Controle Atuais S O D RPN Ações Recomendadas
Pro
duçã
o d
e M
edic
amen
tos
Sól
idos
Obt
ençã
o d
o c
ompr
imid
o d
entr
o d
as e
spec
ifica
ções
Peso médio ou individual fora do especificado
Peso fora das especificações, impactando nas propriedades físicas, no rendimento e na etapa de blistagem.
Desajustes do maquinário, problemas de fluxo e adesão do granulado às punções e matrizes.
Controle dos pesos durante o processo, qualificação e calibração dos equipamentos.
8 6 2 96
Criação de especificações rígidas e detalhadas para a aquisição de matérias-primas. Qualificação de fornecedores.
Comprimidos com manchas pretas
Comprometimento do aspecto, impossibilitando a comercialização.
Má qualidade da matéria-prima e desajustes nos maquinários.
Qualificação, manutenção preventiva e validação da limpeza dos maquinários. 7 5 3 105
Criação de especificações rígidas e detalhadas para a aquisição de matérias-primas. Qualificação de fornecedores.
Comprimidos com dureza fora da especificação
Redução do rendimento do processo, dificuldades na blistagem e revestimento. Alteração dos testes de dissolução e de friabilidade.
Matéria-prima com granulometria não usual, desajustes no maquinário e excesso de secagem do granulado.
Controle de secagem e avaliação da uniformidade do granulado; Qualificação e manutenção preventiva dos maquinários.
8 5 2 80
Criação de especificações rígidas e detalhadas para a aquisição de matérias-primas. Qualificação de fornecedores.
Comprimido laminado/lascado
Diminuição do rendimento do processo e aumento do custo de descarte.
Alta velocidade de compressão, mistura excessiva, umidade elevada, matéria-prima com especificações não usuais.
Limpeza e manutenção preventiva do maquinário, controle de umidade do ambiente e granulado.
6 5 4 120
Criação de especificações rígidas e detalhadas para a aquisição de matérias-primas. Qualificação de fornecedores.
Comprimidos com dissolução baixa
Alteração da biodisponibilidade do produto com possível consequências no efeito terapêutico.
Matéria-prima com granulometria não usual e/ou apresentando problemas de dissolução.
Testes de dissolução no início da compressão e aquisição de equipamentos que permitirão um maior controle durante o processo.
9 5 4 180
Criação de especificações rígidas e detalhadas para a aquisição de matérias-primas. Qualificação de fornecedores.
95
Observou-se que os insumos farmacêuticos ativos envolvidos na produção dos lotes
que apresentaram não-conformidades eram provenientes, principalmente, da China conforme
apresentado pela Figura V.6. Sendo este País o principal fornecedor no período estudado.
Figura V.6 - Origem dos IFA que apresentaram não-conformidades.
As falha relacionados ao peso médio ou individual fora do especificado, comprimidos
com manchas pretas, comprimidos com dureza fora da especificação e comprimidos
lascados/laminados também podem estar relacionados ao processo realizado na etapa anterior
ou até mesmo aos equipamentos que podem não estar em condições ideais de funcionamento.
Desta forma, vale ressaltar que não é possível afirmar que os IFA são os responsáveis
pelas não-conformidades encontradas, embora os problemas relatados possuam correlação
com a qualidade dos IFA, sendo este um importante ponto a ser priorizado para a melhoria da
qualidade do processo produtivo, confirmando o que foi relatado no estudo de MACHADO e
MELO (2007).
Este estudo foi publicado nos anais do V Encontro Mineiro de Engenharia de Produção
(EMEPRO), realizado em 2009, com o título: “Aplicação de FMEA na análise de não-
conformidades no processo de fabricação de medicamentos sólidos em um laboratório
farmacêutico oficial.”
V.2.4 Clientes
Como mencionado anteriormente, o LFM possui a missão de atender ao Sistema de
Saúde da Marinha e ao Ministério da Saúde, quando solicitado. No entanto, observou-se que o
MS é o principal cliente deste laboratório, junto com as Secretarias Municipais de Saúde
(SMS). Assim, o atendimento à demanda do SUS tem sido o principal impulsionador da
produção.
96
Pode-se identificar o atendimento a outros clientes, como: outros laboratórios oficiais,
outros órgãos públicos (Ex. Corpo de Bombeiros e Universidades) e instituições filantrópicas,
cuja participação foi muito modesta. Desta forma, a Figura V.7 apresenta a evolução da
participação dos principais clientes no faturamento durante o período de estudo:
Figura V.7 - Evolução da composição do faturamento (2006/2008).
Pode-se observar que no ano de 2008 houve um aumento no percentual de
participação dos Municípios, enquanto que o atendimento ao Ministério da Saúde recuou. Por
conta deste período atípico na produção, proporcionado pelo processo de adequação às Boas
Práticas de Produção, não é possível afirma, com base na Figura V.7, que há uma tendência
de aumento da participação dos municípios no faturamento deste laboratório. Porém, dado o
fato de 89% dos produtos vendidos, neste período, serem pertencentes ao componente básico
da assistência farmacêutica, que está sob a responsabilidade dos municípios, existe a
possibilidade do aumento da importância destes clientes para o laboratório estudado.
Segundo o IBGE, no ano de 2005, a extensão territorial brasileira estava
administrativamente dividida em 5.564 municípios, que apresentavam “uma grande diversidade
de recursos naturais, de variações climáticas e de situações econômicas, sociais e políticas”.
(IBGE, 2007a). Este quadro gera a necessidade de maior atenção com os municípios clientes,
uma vez que as dificuldades financeiras e as mudanças de governo podem representar um
risco de inadimplência.
Deve-se considerar que a possibilidade de aumento da diversificação dos clientes pode
acarretar uma maior segurança financeira, porém esta diversidade configura um quadro
desafiador para os laboratórios oficiais, considerando a estrutura administrativa limitada pela
falta de flexibilidade e agilidade gerenciais, diagnosticada em estudos anteriores
(HASENCLEVER et al., 2008), que dificulta o atendimento de demandas variadas.
97
Dentro deste contexto, uma demanda flutuante pode influenciar o planejamento da
produção e acarretar em subatendimento das necessidades do SUS, em relação ao potencial
da produção pública, ou em excesso de produção, sem a garantia de venda, o que pode
implicar no vencimento de produtos, representando um desperdício de dinheiro público, além
de gerar passivos ambientais.
Esse quadro aponta para a necessidade de novas abordagens por parte dos
laboratórios oficiais, como marketing, propaganda, estudos de previsão de demanda e uma boa
gestão dos processos internos que possibilite uma rápida resposta aos clientes. O laboratório
estudado tem investido na modernização do seu sistema de gestão, no intuito de atender
melhor a estas novas demandas. Além de desenvolver parcerias com Intuições Federais de
Ensino Superior (IFES), buscando o desenvolvimento de melhorias e a determinação de
indicadores de desempenho na produção, incluindo indicadores ambientais dentro da
perspectiva de Avaliação do Ciclo de Vida.
Alternativamente, o poder de compra do Estado pode ser usado para impulsionar a
produção pública de medicamentos, tendo como exemplo, o recente acordo assinado entre a
FURP e a prefeitura de Londrina, no Paraná, para atendimento de 60% dos medicamentos
dispensados pelo município (FURP, 2009). Alternativamente, para assegurar um aumento de
demanda ao parque público de produção de medicamentos, pode-se explorar as possibilidades
oferecidas pelos consórcios entre municípios.
V.2.4.1 Distribuição geográfica
Em relação à distribuição geográfica, os medicamentos fornecidos por este laboratório,
no período estudado, destinaram-se principalmente para o estado do Rio de Janeiro (35,96%)
e o Distrito Federal (52,49%). Os 11,55% restantes ficaram divididos entre os estados
presentes na Figura V.8.
Figura V.8 - Estados atendidos pelo LFM.
98
As entregas para o Distrito Federal referem-se aos pedidos do Ministério da Saúde, que
são distribuídos por todo o País para atenderem aos programas do Governo.
Observou-se que o principal produto adquirido pelos clientes foi o Captopril 25mg, com
18,8% de participação no faturamento do laboratório estudado, seguido da Pirazinamida
500mg com 12,1%, conforme apresentado na Tabela V.5.
Tabela V.5 - Participação dos principais medicamentos no faturamento.
Produto Apresentação %Faturamento
Captopril Comprimidos de 25mg 18,8
Pirazinamida Comprimidos de 500mg 12,1
Prednisona Comprimidos de 20mg 6,9
Salbutamol Comprimidos de 2mg 4,6
Besilato de Anlodipino Comprimidos de 5mg 4,2
Diclofenaco de Potássio Comprimidos de 50mg 4,2
Ofloxacino Comprimidos de 400mg 4,0
De 47 produtos com 69 apresentações, produzidos e vendidos no período estudado,
observou-se que a participação sobre o faturamento apresentou uma razoável concentração.
Os sete principais produtos foram responsáveis por 54,8%. Este laboratório tem buscado a
ampliação do número de medicamentos oferecidos à sociedade, sendo uma das formas
encontradas, as parcerias com empresas farmoquímicas nacionais.
V.2.5 Diagrama de Sankey
O diagrama de Sankey[7] fornece uma visão geral dos fluxos de massas, energia e
custos envolvidos em um processo. Trata-se de um fluxograma direcional onde a largura das
setas é proporcional à quantidade de fluxo.
Os dados analisados permitem visualizar o fluxo de materiais (insumos farmacêuticos e
medicamentos) que percorrem a cadeia de suprimentos do laboratório estudado, como pode
ser observado na Figura V.9.
7 Foi usado pela primeira vez no século dezenove pelo engenheiro irlandês Matthew Henry Phineas Riall Sankey, para fornecer uma rápida representação do fluxo de energia da cadeia da geração de energia mecânica a partir da gasolina. (EVANS, 2007).
99
Figura V.9 - Diagrama de Sankey do fluxo de materiais ao longo da cadeia de suprimentos do LFM entre
os anos de 2006 e 2008.
Esta representação gráfica oferece uma rápida visualização dos fluxos de materiais
apresentados anteriormente. Pode-se notar que o fluxo principal dos insumos farmacêuticos
ativos é proveniente de farmoquímicas estrangeiras e chega ao laboratório estudado,
principalmente via distribuidoras nacionais, embora as Comissões Navais no Exterior também
desempenhem um papel significativo. Do mesmo modo, fica clara a pequena participação das
farmoquímicas nacionais nesse fluxo.
O fluxo de medicamentos produzidos pelo LFM destina-se, principalmente, para atender
às demandas das Secretarias Municipais de Saúde e do Ministério da Saúde, que estão
direcionadas para o atendimento aos pacientes usuários do SUS.
V.3 Novas Perspectivas para a Cadeia de Suprimentos do Laboratório Oficial
Estudado
Com base no novo movimento nacional para o desenvolvimento do Complexo Industrial
da Saúde, oficializado nas legislações publicadas em 2008 e 2009, com especial atenção para
o setor de farmoquímicos e a produção pública de medicamentos, o laboratório estudado
começa a vislumbrar novas relações através de sua cadeia de suprimentos, principalmente
após os louros colhidos dos investimentos no parque produtivo, materializado na conquista da
certificação de Boas Práticas de Fabricação.
A possibilidade de surgimento de novos fluxos na cadeia de suprimentos deste
laboratório, bem com o fortalecimento de fluxos já existentes será comentada nas subseções
abaixo.
Inicialmente, será explorado o papel do Estado de fomentar o parque farmoquímico
nacional através do poder de compra dos laboratórios oficiais (subseção V.3.1), seguido pela
estratégica de formação de parcerias com esses produtores de insumos farmacêuticos
100
(subseção V.3.2), no intuito de aumentar a diversidade de medicamentos disponibilizada para a
população através da produção dos laboratórios oficiais.
A conquista da certificação de boas práticas possibilita a realização de serviços para
outras indústrias farmacêuticas (subseção V.3.3), o que pode ser uma importante fonte de
demanda que se agrega ao mercado de genéricos (subseção V.3.4), que apresenta uma
importância crescente no cenário nacional.
V.3.1 Fomento do parque nacional de produção de IFA
A Política Industrial, Tecnológica e do Comércio Exterior tem como propósito a
utilização dos laboratórios públicos para criar mercado para os fornecedores domésticos de
IFA. Porém, este propósito encontra a barreira da Lei nº 8.666, que não admite o
estabelecimento de preferência à produção nacional.
COSTA et al. (2008) defendem a existência de um direcionamento do uso do poder de
compra do Estado para o desenvolvimento do setor farmoquímico, através da contratação do
serviço de fornecimento de IFA por empresas nacionais, conforme definido na Portaria IM nº
128/08.
A aproximação do relacionamento dos laboratórios oficiais com as empresas
farmoquímicas nacionais, além de gerar demanda para estas, possibilita a obtenção de IFA
mais customizados, com potencial reflexo na diminuição das não-conformidades dos processos
produtivos dos laboratórios oficiais. Outras vantagens podem ser relacionadas como:
possibilidade de auditar e acompanhar a produção do insumo, além da facilidade e maior
rapidez para resolver problemas, inclusive a troca do insumo.
No caso do laboratório estudado, existe uma preocupação em contribuir para o
desenvolvimento deste setor, incentivada pela Comissão Orientadora para Pesquisa e
Produção de Medicamentos, através da norma DGPM-403, por acreditar ser esse
desenvolvimento, estratégico para o País.
Assim, embora no período estudado, não tenha sido observada a presença da compra
direta das empresas farmoquímicas, este pode ser uma tendência futura que altere os fluxos
representados atualmente na cadeia de suprimentos do LFM.
V.3.2 Formação de parcerias com empresas farmoquímicas
Conforme apresentado no Capítulo III, existem algumas parcerias que estão sendo
criadas entre laboratórios oficiais e indústrias farmoquímicas, no esforço para o
desenvolvimento nacional totalmente verticalizado de novos medicamentos. Na Tabela V.6,
está a relação dos produtos que estão sendo desenvolvidos pelo laboratório alvo deste estudo,
e suas respectivas indústrias farmoquímicas parceiras.
101
Tabela V.6 - Parcerias do LFM com empresas farmoquímicas.
Produtos Indicação Terapêutica Indústrias Farmoquímicas
Raloxifeno Osteoporose Nortec + Blanver
Sevelamer Insuficiência Renal Cristália
Leflunamida Imunossupressor Núcleo de Pesquisas Aplicadas + LaborVita
Ziprasidona Antipsicótico Núcleo de Pesquisas Aplicadas + LaborVita
Estes novos produtos ainda estão em fase de desenvolvimento, portanto não foi
possível saber qual será o impacto na demanda ou no faturamento deste laboratório. Porém,
estes medicamentos fazem parte do Grupo 1 do componente especializado da assistência
farmacêutica, que contempla medicamentos que representam elevado impacto financeiro
(BRASIL, 2009b).
Estas parcerias, que também envolvem outros laboratórios oficiais, além de utilizarem o
poder de compra destes em benefício das indústrias farmoquímicas nacionais, são estratégicas
para o País, na medida em que propiciam a disponibilização de novos medicamentos para a
população brasileira, por meio do Sistema Único de Saúde.
Assim, as parcerias contribuem, de uma maneira geral, para o fortalecimento do
relacionamento com as indústrias farmoquímicas nacionais e para a viabilidade das políticas de
saúde do governo, pressionadas pelo aumento crescente dos gastos com medicamentos,
conforme demonstrado pelo IBGE (2009).
V.3.3 Terceirização da produção
A terceirização do processo produtivo de medicamentos é um procedimento corriqueiro
na indústria farmacêutica, tanto pública como privada (COSTA et al., 2008), sendo
regulamentada no território nacional pela resolução RDC nº 25/2007 (BRASIL, 2007b) da
ANVISA. Conforme discutido no Capítulo I, uma das principais exigências desta norma diz
respeito à necessidade das partes possuírem o Certificado de Boas Práticas de Fabricação.
A recente modernização do parque produtivo, com a aquisição de novos equipamentos,
aliada à conquista desta certificação, levanta a possibilidade do LFM prestar este tipo de
serviço para outras indústrias farmacêuticas, inclusive privadas. O mesmo pode ocorrer com
outros laboratórios oficiais.
V.3.4 O mercado de genéricos
Praticamente todos os produtos produzidos por laboratórios oficiais são registrados na
ANVISA como Medicamentos Similares, a exceção do registro de dois medicamentos
genéricos. Um deles relativo ao Efavirenz de Farmanguinhos, que foi o primeiro medicamento
produzido pelas novas parcerias com as indústrias farmoquímicas.
102
A grande dificuldade que os laboratórios oficiais enfrentam para registrar um
medicamento genérico diz respeito à limitação de apenas três fornecedores de insumos
farmacêuticos ativos, impossível de ser praticada considerando-se a Lei das Licitações.
A possibilidade de parcerias com o setor farmoquímico, ou de contratação de serviço
como previsto na portaria IM 128/08, levanta a possibilidade dos laboratórios oficiais
produzirem este tipo de medicamento.
V.3.5 Representação
Com base nos conceitos e possibilidades expostos anteriormente, pode-se representar
dois novos fluxos potenciais na cadeia de suprimentos do laboratório estudado, representados
por setas pontilhadas. (Figura V.10).
Terce
irização
Figura V.10 - Representação de novas relações emergentes.
O primeiro diz respeito à aquisição de insumos farmacêuticos ativos diretamente de
farmoquímicas nacionais, como fruto do movimento de fortalecimento do parque farmoquímico
nacional. Este fluxo envolve a possibilidade de disponibilização de novos medicamentos para a
população brasileira, através das parcerias firmadas deste laboratório com empresas
farmoquímicas, bem como a possibilidade de produção de medicamentos genéricos, fruto do
direcionamento do poder de compra do Estado para fomento deste setor, proposto na forma de
contratação de serviço.
A conquista da certificação de BPF abriu caminho para um potencial fluxo nesta
representação, relativo à realização de serviços de terceirização de etapas de produção, tanto
para laboratórios oficiais como privados.
103
Conclusões e Perspectivas Futuras
Conclusões
A cadeia de suprimentos na área farmacêutica salienta feições próprias, determinadas
pela natureza dos produtos, já que os medicamentos possuem características diferenciadas,
dada a sua direta correlação com a saúde humana. Em se tratando dos laboratórios oficiais
esta cadeia adquire conotações diferenciadas, por se tratar de um setor público vinculado ao
SUS. A singularidade aumenta quando se considera o ambiente empírico deste trabalho, o
Laboratório Farmacêutico da Marinha, que é uma organização militar.
Desta forma, a cadeia de suprimentos do LFM possui características próprias, pois está
comprometida com atividades consideradas estratégicas para o País, o que a torna atípica em
relação às cadeias de suprimentos dos laboratórios privados, que privilegiam o fator
competitividade. A norma interna DGPM-403 exemplifica esta característica ao versar sobre a
necessidade do LFM auxiliar na nacionalização progressiva dos IFA, visando à maior
independência possível na produção de medicamentos, principalmente daqueles que possam
ser solicitados em maiores quantidades em uma situação de conflito.
A preocupação deste laboratório em encontrar mecanismos para atender este
direcionamento, como forma de contribuir para o fortalecimento do parque farmoquímico
nacional foi observada neste trabalho.
Assim, a representação ora proposta da cadeia de suprimentos de um laboratório
farmacêutico público e militar, teve o objetivo de proporcionar uma reflexão que contribua para
o desenvolvimento do setor e a melhoria da gestão da produção, bem como auxiliar em
planejamentos estratégicos futuros. Além disso, a pesquisa também buscou representar
algumas mudanças em curso neste laboratório, fruto de políticas públicas e investimentos no
parque produtivo.
Para tal propósito foi utilizado um banco de dados contendo informações relativas aos
fluxos de entrada e saída de materiais no período de 2006 a 2008, considerando os insumos
adquiridos, a produção e a venda neste período.
Os dados coletados permitiram desenvolver uma representação da cadeia de
suprimentos deste laboratório, que utilizou como base o modelo proposto por SLACK et al.
(2008). Esta representação, do ponto de vista ontológico, visa simplificar uma realidade a partir
de um conjunto de regras e formalismos previamente definidos.
Tal representação possui as suas limitações, dentre as quais pode-se destacar a
consideração apenas dos insumos farmacêuticos ativos, dentre todos os insumos utilizados
pelo laboratório e o processo de adequação aos requisitos de Boas Práticas de Produção, que
gerou um período anormal de produção entre os anos de 2006 e 2008.
Dentre as características singulares da cadeia de suprimentos deste laboratório, que
por ser militar possui um papel fundamental na segurança e soberania nacionais na área
104
farmacêutica, pode-se destacar a presença da Comissão Orientadora para Pesquisa e
Produção de Medicamentos (COPPM) da Marinha do Brasil e das Comissões Navais no
Exterior. Estes exercem um papel importante no planejamento e nas operações a montante da
cadeia de suprimentos. As CNE foram responsáveis por aproximadamente 43% dos IFA
adquiridos e representam uma importante ligação com as empresas farmoquímicas
estrangeiras.
Os dados obtidos nesta pesquisa refletem a excessiva dependência externa de IFA e a
fraca participação das empresas farmoquímicas nacionais no fornecimento para o laboratório
estudado. Observou-se que 99% destes insumos foram provenientes de outros países, com
prevalência dos IFA provenientes da China (87,5%) e Índia (10,9%).
Como observado por outros autores (MARQUES e HASENCLEVER, 2006; COSTA et
al., 2008), este quadro pode ter sido originado pelo processo de compra pública, que privilegia
os produtos com menor preço.
Observou-se, ainda, que todos os IFA reprovados, durante o período estudado,
possuíam a origem asiática e que aproximadamente 80% dos insumos ativos presentes nos
lotes que apresentaram alguma não-conformidade no período de 2007 a 2008 eram originados
da China.
Desta forma, é fundamental a adoção de especificações rigorosas que ajudem a obter
insumos mais adequados aos processos produtivos, bem como a adoção de ferramentas que
auxiliem na identificação da correlação da qualidade deste IFA adquirido com as não-
conformidades do processo produtivo.
Neste sentido, utilizou-se a ferramenta FMEA para análise das não-conformidades nos
processos produtivos dos lotes fabricados entre os anos de 2007 e 2008. Com a utilização da
FMEA mostrou-se que as não-conformidades relatadas tinham correlação com a qualidade dos
IFA e que a priorização para o tratamento das não-conformidades nem sempre deverá levar
em consideração apenas a maior frequência das falhas, confirmando a conclusão de
MACHADO e MELO (2007), de que a priorização para a prevenção e resolução dos problemas
também deve considerar fatores como ocorrência, severidade e grau de detecção.
Verificou-se que a aplicação, em caráter prospectivo, de uma proposta de utilização da
FMEA à melhoria de processos de fabricação do laboratório farmacêutico oficial estudado, se
mostrou pertinente e promissora.
Identificou-se que o Ministério da Saúde foi o principal cliente deste laboratório no
período estudado, seguido pelos municípios. Porém, no ano de 2008, houve um aumento da
participação percentual dos municípios com diminuição do atendimento ao MS. Embora a
produção deste ano tenha sido reduzida por conta da adequação aos requisitos de Boas
Práticas de Fabricação, acredita-se que o processo de descentralização da assistência
farmacêutica básica tenha exercido alguma influência.
105
Desta forma com a descentralização da assistência farmacêutica básica, observou-se
uma tendência ao aumento da participação dos municípios no faturamento deste laboratório,
uma vez que os medicamentos pertencentes ao componente básico foram responsáveis pela
venda de 89% das unidades farmacêuticas, o que representou 73% do valor faturado,
enquanto que os medicamentos estratégicos foram responsáveis por 9% das unidades
farmacêuticas, representaram aproximadamente 26% do faturamento.
Destaca-se que os quatro produtos que o Laboratório Farmacêutico da Marinha está
desenvolvendo dentro das parcerias com empresas farmoquímicas fazem parte do Grupo 1 do
componente especializado da assistência farmacêutica, que contemplam medicamentos que
representam elevado impacto financeiro, revelando um direcionamento para a produção de
medicamentos com maior valor agregado.
Verificou-se que o diagrama de Sankey forneceu uma representação gráfica bastante
interessante para a visualização do fluxo de materiais ao longo da cadeia de suprimentos
estudada.
O novo direcionamento político dado ao setor com vistas à utilização do poder de
compra através da contratação de serviços para o fornecimento de IFA e a formação de
parcerias para o desenvolvimento de novos produtos, juntamente com os investimentos do MS
nos laboratórios oficiais, que permitiram a conquista do CBPF, possibilitou a identificação de
dois fluxos potenciais na cadeia de suprimentos deste laboratório.
O primeiro diz respeito à aquisição de insumos farmacêuticos ativos diretamente de
farmoquímicas brasileiras, como fruto do movimento de fortalecimento do parque farmoquímico
nacional, através da utilização do poder de compra do Estado. Este fluxo envolve, ainda, as
parcerias com as empresas farmoquímicas.
O segundo é possibilitado pela conquista da certificação de BPF, que habilita o
laboratório a realizar serviços de terceirização de etapas de produção, tanto para laboratórios
oficiais como privados.
A possibilidade de parcerias com o setor farmoquímico, ou de contratação de serviço
para fornecimento de IFA, como prevista na portaria IM nº 128/08, levanta a possibilidade dos
laboratórios oficiais registrarem medicamentos como genéricos.
A partir do exposto, tem-se que a pesquisa atingiu o seu objetivo de apresentar uma
representação da cadeia de suprimento do laboratório farmacêutico estudado e de analisar as
principais relações dentro desta cadeia. Tal representação pode ser aplicada a outros
laboratórios oficiais, desde que sejam consideradas as adaptações necessárias para atender
às singularidades de cada laboratório.
A essencialidade do medicamento, expressa a importância de temas como a gestão da
cadeia de suprimentos e a necessidade de uma cultura de melhoria contínua. A preocupação
do LFM em oferecer para a sociedade brasileira, através do SUS, medicamentos seguros,
106
eficazes e de qualidade, ao menor custo possível, tem levado os gestores a procurarem
melhorar o desempenho deste laboratório.
É nesse contexto que está inserida a parceria com o CEFET/RJ, na busca pelo
desenvolvimento de melhorias e determinação de indicadores de desempenho na produção,
dentro de uma perspectiva de Avaliação do Ciclo de Vida. Isto reforça a importância desta
pesquisa que desenvolveu uma representação da cadeia de suprimentos como forma de
proporcionar uma reflexão que contribua com este esforço.
Este trabalho serve como um parâmetro importante para projetos que visem
modificações na estrutura e na gestão de cadeias de suprimentos, facilitando o processo
cognitivo, de tomada de decisão, além da formulação de políticas públicas.
Sugestões para Trabalhos Futuros
Dada a importância das organizações adquirirem uma conduta socialmente relevante,
que, necessariamente, deve incluir os diversos grupos de interesse na sociedade, é
imprescindível identificar quem são os stakeholders da empresa e determinar quais tipos de
influência que eles exercem.
No contexto dos laboratórios farmacêuticos oficiais, por se tratar de uma organização
pública, este tipo de estudo ganha uma conotação diferenciada dado o perigo de uma visão
reducionista com predominância dos stakeholders referenciados ao Estado, como afirmado por
MARTINS e FILHO (1999).
Assim, como sugestão de pesquisas futuras, pode-se propor um estudo de identificação
e priorização dos stakeholders dos laboratórios farmacêuticos oficiais, por acreditar ser
relevante para a definição de objetivos estratégicos e para a tomada de decisão no contexto da
cadeia de suprimentos.
Visto que as influências dos diversos grupos de interesse da sociedade repercutem
fortemente sobre as organizações e suas cadeias de suprimentos, e que esta sociedade tem
aumentado a sua preocupação com o desempenho da ação humana frente às necessidades
de recuperação, conservação e preservação de recursos naturais vinculados à garantia da
qualidade de vida no planeta, torna-se fundamental incorporar princípios da sustentabilidade no
processo produtivo e ao longo da cadeia de suprimentos.
Desta forma devem ser desenvolvidos estudos no sentido de diminuir o impacto
ambiental dos produtos e processos dos laboratórios oficiais, dentro de uma perspectiva de
ciclo de vida, considerando assim, toda a cadeia de suprimentos. Tais estudos devem apontar
para a definição de indicadores de desempenho que auxiliem no monitoramento e na tomada
de decisão, e podem ter como base a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida, normatizada
pelas ISO 14.040 e ISO 14.044.
Atendendo ao princípio constitucional da publicidade, estes esforços devem ser
transparentes e divulgados para a sociedade, o que pode ser feito na forma de um relatório de
107
sustentabilidade. Assim, recomenda-se, como parte destes estudos, o desenvolvimento de tais
relatórios, cujo modelo da GRI é o mais usado mundialmente.
Recomendam-se, ainda, estudos futuros que avaliem as parcerias firmadas entre os
laboratórios oficiais e as empresas farmoquímicas, podendo-se utilizar a metodologia proposta
por MOHR e SPEKMAN (1994), no intuito de conhecer as características destas parcerias e
assim, determinar se podem ser consideradas parcerias de sucesso. Além disso, tais estudos
devem analisar o impacto destas parcerias no SUS e nas empresas envolvidas.
Da mesma forma, recomenda-se avaliar a efetividade das medidas que incentivam o
uso do poder de compra do governo e o seu impacto no setor farmoquímico e na cadeia de
suprimentos dos laboratórios oficiais. Por conta do período considerado neste estudo, não foi
possível obter tais informações.
Por fim, recomenda-se a realização de estudos de previsão de demanda como forma de
conhecer melhor a demanda dos clientes e, assim, contribuir para o planejamento estratégico
deste laboratório.
108
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Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 maio 2008b.
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farmacêuticos ativos (IFA) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 nov.
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financiamento da assistência farmacêutica na atenção básica. Diário Oficial da União, Brasília,
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Anexo I
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 128, DE 29 DE MAIO DE 2008
Estabelece Diretrizes para a Contratação Pública de Medicamentos e Fármacos pelo Sistema Único de Saúde.
OS MINISTROS DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, DA SAÚDE,
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA E DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, no
uso de suas atribuições, e tendo em vista o disposto no artigo 87, parágrafo único, inciso II, da
Constituição da República Federativa do Brasil e considerando:
O caráter essencial dos farmoquímicos e biofármacos como insumos para a fabricação de
medicamentos e garantia da saúde e da vida;
A necessidade de incentivar o complexo industrial farmacêutico do país, tendo em vista o seu
caráter estratégico para a assistência à saúde, de modo a fomentar a inovação tecnológica, a melhoria
da competitividade do setor, e recuperar a capacidade tecnológica e a capacitação profissional para a
fabricação de medicamentos e fármacos;
A importância de se buscar soberania tecnológica e garantir a segurança nacional, aplicando os
instrumentos criados pela Lei de Inovação Tecnológica - Lei nº 10.973/04, em especial os artigos 19, 20,
24, 25, que inclui o inciso XXV no art. 24 da Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993 e o art. 27, inciso IV,
deste mesmo diploma, que permite o tratamento preferencial na aquisição de bens e serviços pelo Poder
Público, às empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia no País;
A necessidade de dar maior eficiência à produção pública de medicamentos na busca de ampliar
o acesso da população a medicamentos;
A necessidade de orientação estratégica da contratação pública de fármacos, visando a torná-la
mais eficiente pela garantia, otimização e customização de todas as etapas do processo industrial de
produção dos farmoquímicos e biofármacos, como Insumos Farmacêuticos Ativos - IFA - com a
consequente agregação de valor na logística, no planejamento e na técnica de produção de
medicamentos, a fim de alcançar, com eficiência e efetividade, a economicidade e vantajosidade
previstas na Lei nº 8.666 de 1993, resolvem:
Art. 1º Estabelecer diretrizes para a contratação de fármacos e medicamentos pelos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Único de Saúde.
Seção I - Dos Medicamentos
Art. 2º A fim de garantir o pleno atendimento de todas as exigências sanitárias nacionais nas
aquisições de medicamentos acabados por entidades da Administração Pública Direta ou Indireta, serão
preferenciais as licitações de âmbito nacional.
§ 1º Nas aquisições de medicamentos acabados, deverá estar prevista no instrumento
convocatório a exigência de apresentação do certificado de registro do produto e do certificado de boas
práticas de fabricação do produtor, emitidos pela ANVISA, bem como declaração do produtor, sujeita à
comprovação, referente à origem do produto acabado e do insumo farmacêutico ativo que o compõe.
§ 2º As aquisições de medicamento acabado patenteado no Brasil e não produzido em território
brasileiro, após o terceiro ano de validade da patente, apenas poderão ocorrer quando a autoridade
120
sanitária federal o considere imprescindível e seja demonstrado impedimento justificável à sua produção
no país, observado o art. 68, inciso I, § 10 e § 5º, inciso II, da Lei nº 9.279 de 1996.
Art. 3º Quando houver outro local de fabricação ou a terceirização das etapas iniciais de
produção de medicamentos, contratados por Laboratórios Oficiais de produção de medicamentos, os
instrumentos convocatórios e contratuais deverão estabelecer que as empresas contratadas somente
poderão adquirir insumos farmacêuticos ativos de empresas pré-qualificadas pela contratante.
Parágrafo único. As empresas pré-qualificadas de que trata o caput deverão ser divulgadas no
sítio eletrônico oficial da instituição.
Seção II - Dos Fármacos
Art. 4º Em razão da singularidade, natureza e relevância da produção de medicamentos, os
Laboratórios Oficiais de produção de medicamentos, em suas licitações, deverão, sempre que possível,
contratar o serviço de customização e produção de fármacos.
§ 1º Para a contratação de que trata o caput, o edital deverá prever:
I - a exigência de que a empresa a ser contratada possua unidade fabril em território nacional,
sob pena de desclassificação; e
II -o direito da contratante de promover o acompanhamento e a inspeção direta dos processos
contratados, da garantia da qualidade, da rastreabilidade, da customização e da otimização de todo o
processo de produção e do produto objeto do serviço.
§ 2º O serviço de customização e produção de farmoquímico de que trata o caput é de natureza
continuada, aplicando-se o disposto no art. 57, inciso II, da Lei nº 8.666, de 1993.
§ 3º As licitações de farmoquímicos que, excepcionalmente, por impossibilidade ou
inconveniência técnica ou econômica, não se realizarem na forma prevista no caput, e que venham a
permitir a participação de licitantes estrangeiros, deverão prever em seus editais e instrumentos
contratuais os meios para assegurar a garantia da qualidade do produto, em momento anterior à sua
internalização no país, além de mecanismos de proteção à entidade contratante nas situações de não
atendimento às especificações do edital, tais como:
I - entrega do material em parcelas, sempre que possível, com a previsão de pagamento apenas
após a verificação da conformidade do produto contratado, contando-se da data da aprovação final do
produto o prazo de até 30 (trinta) dias disposto no art. 40, inciso XIV da Lei nº 8.666, de 1993;
II - direito da entidade contratante de rejeitar o recebimento do objeto ou de glosar o valor
correspondente aos custos com o seu reprocessamento, no caso do material fornecido não atender às
especificações do edital;
III - exigência de seguro como condição para o pagamento, conforme prevê o art. 40, inciso XIV,
alínea e, XIV da Lei nº 8.666, de 1993, quando a conformidade do farmoquímico adquirido, em razão de
sua natureza, só puder ser verificada no momento da produção do medicamento;
IV - exigência de garantia, conforme dispõe o art. 56 inciso XIV, da Lei nº 8.666, de 1993, e a
determinação de que esta poderá ser utilizada para cobrir os custos com o reprocessamento do material
quando este apresentar não conformidade às especificações do edital, sem prejuízo de eventual
reparação de dano em relação ao valor que exceder a garantia; e
121
V - exigência de garantia técnica do material contratado, prevista em edital, com prazo
determinado, que manterá sua vigência, mesmo que a não conformidade do fármaco seja verificada
após o pagamento e já na fase de produção do medicamento.
Seção III - Das Disposições Finais
Art. 5º Nas licitações internacionais para aquisição de fármacos e medicamentos deverá ser
observado o princípio da isonomia tributária, conforme definido no Art. 42, § 4º, da Lei nº 8.666, de 1993,
considerando no preço do produto proveniente do estrangeiro, para efeito de julgamento das propostas:
I - todos os tributos que incidem em toda a cadeia produtiva e que oneram o preço final dos
produtos fabricados no país, descontando-se os tributos pagos com a internalização e comercialização
do bem, quando for o caso; ou
II - todos os tributos federais, estaduais e municipais incidentes sobre a importação,
comercialização, ainda que tenha sido concedida imunidade ou isenção ao órgão ou entidade
contratante; e
III - os custos com frete, seguro e desembaraço aduaneiro, bem como custos de transporte
doméstico até o local indicado pelo licitante, quando for o caso.
Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
PAULO BERNARDO SILVA
Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
Ministro de Estado da Saúde
SÉRGIO MACHADO REZENDE
Ministro de Estado de Ciência e Tecnologia
MIGUEL JORGE
Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
122
Anexo II
PORTARIA Nº 978, DE 16 DE MAIO DE 2008
Dispõe sobre a lista de produtos estratégicos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, com a finalidade de colaborar com o desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde e institui a Comissão para Revisão e Atualização da referida lista.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso da atribuição que lhe confere o art. 87, parágrafo
único, inciso II, da Constituição, e
Considerando o disposto no art. 170 da Constituição Federal, que dispõe sobre ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tendo por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social;
Considerando o disposto no art. 197 da Constituição Federal, que dispõe sobre a
regulamentação das ações e serviços de saúde;
Considerando que a balança comercial da indústria brasileira de saúde mostra-se frágil e
dependente, sem competitividade internacional expressiva, contribuindo para a vulnerabilidade da
política social, com alto grau de impacto sanitário e orçamentário para o Sistema Único de Saúde (SUS);
Considerando que as atividades de assistência farmacêutica, imunização e assistência médica,
incluindo diagnóstico, entre outros, devem ter garantido o abastecimento independentemente das
oscilações do mercado internacional;
Considerando que o Complexo Industrial da Saúde desempenha papel central no
direcionamento das políticas que impactam o desenvolvimento econômico e social brasileiro;
Considerando que a indústria brasileira de saúde apresenta grande potencial de
desenvolvimento, razão pela qual é beneficiada como setor estratégico da Política Industrial, Tecnológica
e de Comércio Exterior (PITCE); e
Considerando o Termo de Cooperação e Assistência Técnica assinado entre o Ministério da
Saúde e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 5 de dezembro de
2007, conforme publicação do Diário Oficial da União nº 235, Seção 3, com o objetivo de implantar
ações, programas e estudos com vistas ao desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde no
território brasileiro, no qual o Ministério da Saúde assume como obrigação a indicação de lista de
produtos estratégicos para subsidiar o BNDES no apoio às operações de participação nos resultados do
projeto, conforme estabelecido em seu Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial
da saúde (PROFARMA), resolve:
Art. 1º - Estabelecer a lista de produtos estratégicos, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS), com a finalidade de colaborar com o desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde,
conforme o Anexo a esta Portaria.
§ 1º Ocorrerá a revisão e atualização da lista de produtos estratégicos a cada 2 (dois) anos, a
contar da data da publicação desta Portaria.
§ 2º Excepcionalmente, e a critério do Ministro da Saúde, poderão ser realizadas revisões e
atualizações da lista de produtos estratégicos a qualquer tempo.
123
§ 3º A lista de produtos estratégicos, bem como suas revisões e atualizações, será divulgada no
sítio eletrônico da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde.
Art. 2º - Instituir a Comissão para Revisão e Atualização da lista de produtos estratégicos no
âmbito da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde.
Art. 3º - A Comissão para Revisão e Atualização da lista de produtos estratégicos será integrada
por representantes, titular e suplente, especialistas nas áreas do Complexo Industrial da Saúde dos
seguintes órgãos do Ministério da Saúde:
I - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos;
II - Secretaria de Atenção à Saúde;
III - Secretaria de Vigilância em Saúde; e
IV - Secretaria-Executiva.
§ 1º Caberá ao Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da
Saúde, presidir a Comissão para Revisão e Atualização da lista de produtos estratégicos e designar os
membros que a comporão.
§ 2º Os membros da Comissão, titulares e suplentes, serão indicados pelos respectivos órgãos.
Art. 4º - A Comissão poderá convidar profissionais de outros órgãos e entidades vinculadas ao
Ministério da Saúde, ou pessoas do setor público e privado que atuem profissionalmente em atividades
relacionadas ao tema desta Portaria, sempre que entenda necessária a sua colaboração para o pleno
alcance dos seus objetivos.
Art. 5º - Os membros da Comissão não receberão nenhuma gratificação para seu exercício,
sendo considerado de relevante interesse público.
Art. 6º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
ANEXO
FARMOQUÍMICOS e/ou MEDICAMENTOS
Ritonavir Nevirapina Indinavir Didanosina Tenofovir Saquinavir Saquinavir Mesilato Pirazinamida Isoniazida Cloroquina Mefloquina Primaquina Nifurtimox Benzonidazol Ribavirina Somatotrofina Insulina humana
124
Calcitonina Hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH) Somatostatina Gonadotrofina coriônica (HCG) e sérica (PMSG) Hormônio folículo estimulante humano (FSH) Fator de crescimento insulina dependente (IGF-I) Glucagon Filgrastima Glucocerebrosidase Artesumato Etambutol Rifampicina Olanzapina Etionamina Enfuvertida Micofenolatos Estatinas Tacrolimo Betainterferon Ciclosporinas Octreodida Lamivudina Zidovudina Lopinavir Efavirenz Sirolimo Rivastignina Sevelamer Ziprazidona Quetiapina Glatiramer Leflunomida Raloxifeno Atazanavir Toxina Butolínica Outros Anticorpos monoclonais Fumarato de Formoterol Bedesonida Clozapina Ziprasidona Fármacos/medicamentos antiretrovirais Novas biomoléculas e fármacos, por rota biotecnológica, para doenças virais, negligenciadas* e
neoplasias. Antibióticos, Antifúngicos e antitumorais por rota biotecnológica. VACINAS E SOROS Vacinas Soros HEMODERIVADO Hemoderivados DIAGNÓSTICOS Dispositivos diagnósticos, prognósticos e ferramentas terapêuticas para doenças virais,
negligenciadas* e neoplasias. EQUIPAMENTOS E MATERIAIS DE USO EM SAÚDE Aparelho de Anestesia, com suporte (carrinho)
125
Aparelho de Ultra Som Diagnóstico Aparelho de Mamografia Aparelho de Endoscopia, em suas mais variadas aplicações Aparelho de RX: (Móvel e Fixo) e Odontológico Cateteres eletrofisiológicos Cateteres Angiográficos de uso em radiologia Marcapasso Implantáveis Cardioversor/Desfibrilador Indutores, bainhas e agulhas para estudos e procedimentos eletrofisiológicos Stents: sem fármacos e com fármacos Desfibrilador Externo Automático - DEA Eletrocardiógrafos: portáteis ou de mesa Equipamentos de Hemodiálise e acessórios Freezer/Conservador de Amostras, Sangue, Vacinas Endopróteses vasculares Filtro de veia cava Oxímetro de Pulso: portátil ou de mesa Monitoração: monitores cardíacos e Monitores Multiparâmetros Ventilador Pulmonar Implantes Ortopédicos Equipamentos para diagnóstico in vitro e in vivo Sensores de Oximetria e Capnografia Receptores/detectores digitais para geração de imagem (Radiologia Digital) Equipamentos para avaliação da qualidade de imagens médicas e equipamentos p/ testes e
avaliação da segurança e desempenho de equipamentos eletromédicos, conforme especificações das normas da série ABNT NBR IEC 60601.
* Para os efeitos desta Portaria, são consideradas doenças negligenciadas: Hanseníase,
Leishmaniose tegumentar americana, Leishmaniose visceral (calazar), Esquistossomose, Malária,
Tuberculose, Chagas, Dengue, Filariose e Tracoma.
126
Anexo III
PORTARIA Nº 3.031, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2008
Dispõe sobre critérios a serem considerados pelos Laboratórios Oficiais de produção de medicamentos em suas licitações para aquisição de matéria-prima
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II
do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e
Considerando que, para se alcançar, com eficiência e efetividade, a economicidade e a
vantagem previstas na Lei nº 8.666, de 1993, existe a necessidade do estabelecimento de orientações
estratégicas para contratação pública de fármacos e medicamentos no âmbito do Sistema Único de
Saúde - SUS, visando torná-la mais eficiente pela garantia, otimização e customização das etapas do
processo industrial de produção no País;
Considerando a importância de se buscar soberania tecnológica e garantir a segurança nacional,
aplicando os instrumentos criados pela Lei de Inovação Tecnológica -Lei nº 10.973, de 2004, em
especial os arts. 19, 20, 24, 25, que permite o tratamento preferencial na aquisição de bens e serviços
pelo Poder Público, às empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia no País;
Considerando que o Complexo Industrial da Saúde foi designado como Programa Mobilizador
em área estratégica, no âmbito da Política de Desenvolvimento Produtivo -PDP, tendo como meta
principal a redução do déficit comercial do setor de saúde, que, para ser alcançada, necessita da adoção
de diretrizes que permitam o fortalecimento da indústria nacional de farmoquímicos e medicamentos, no
aumento de sua capacidade produtiva, no aumento de sua capacidade inovadora e no alargamento de
seus mercados para além das fronteiras nacionais;
Considerando as diretrizes do Programa Mais Saúde, em particular no eixo que trata do
Complexo Industrial da Saúde;
Considerando a necessidade de fortalecimento do setor produtivo oficial de medicamentos na
ocupação de nichos de mercado não ocupados pelo setor privado, bem como em seu papel de regulador
do mercado farmacêutico público nacional; e
Considerando as disposições da Portaria Interministerial MPOG/MS/MCT/MDIC nº 128, de 30 de
maio de 2008, que estabelece diretrizes para a contratação pública de medicamentos e Fármacos pelo
Sistema Único de Saúde, em particular em seu art. 4º , que trata de critérios de licitação para
contratação de serviço de customização e produção de fármacos pelos Laboratórios Oficiais de
produção de medicamentos, resolve:
Art. 1º Estabelecer que os Laboratórios Oficiais de produção de medicamentos, em suas
licitações, devam dar preferência à aquisição dos ingredientes farmacêuticos ativos necessários à sua
linha de produção de empresas que produzam essas matérias-primas no País.
Art. 2º Quando houver mais de um fornecedor que atenda às condições estabelecidas pelo artigo
1º desta Portaria, os laboratórios, oficiais de produção de medicamentos deverão levar em conta, no
processo licitatório, o grau de verticalização da produção no País, apresentado pelos fornecedores.
127
Art. 3º A observância dessa norma ora instituída deverá constituir-se em critério discriminante
positivo e deverá estar compulsoriamente presente nas análises de projetos de compras e investimentos
realizados pelo Ministério da Saúde junto aos Laboratórios Oficiais de produção de medicamentos.
Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
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